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LIDANDO COM A ANSIEDADE

Herbety Fernandes
Psicólogo 06 - 131314

A frase "Estou ansioso" o "Estou ansiosa" é rotineira e mostra um estado de


espírito onde estamos preocupados com algo ou na expectativa de algo. A
ansiedade por si só não é algo ruim, na verdade, faz parte de nossa sobrevivência,
pois na ansiedade de ter o que comer e se proteger do frio, o ser humano
desenvolveu métodos de caça e roupas para diferentes climas. Como, então, definir
ansiedade?
Ansiedade é uma emoção que gera certo desconforto no organismo, variando
de intensidade e forma dependendo da situação e da pessoa. Um sentimento vago
de apreensão e medo quanto a alguma situação relacionada a um futuro incerto.
Esta descrição até aqui é de uma ansiedade que está dentro do esperado, dentro do
que acontece quando temos uma entrevista de emprego, quando estamos lidando
com alguma doença na família, preocupação sobre as finanças e etc. Quando ela se
torna um problema de saúde?
Quando as preocupações se tornam muito fortes a ponto de nos sentirmos
impotentes, buscando sem pausa por meio de pensamentos freqüentes resolver
problemas que nem sabemos qual problema que é, e este ciclo vicioso nos leva a
perder o sono, sentir sintomas físicos como fossemos ter um mal súbito e uma
sensação de impotência a ponto de nos sentir incapacitados, podemos suspeitar
então, que nossa ansiedade está afetando nossa saúde física e psicológica.
Falarmos sobre a ansiedade nos leva a diversos caminhos, já que as formas
de ela surgir e as razões pelas quais surge são várias. Vamos analisar a ansiedade
nas seguintes formas:

 Ataques de Pânico e Agorafobia


 Ansiedade Social
 Ansiedade Generalizada
 Transtorno Obsessivo Compulsivo
 Transtorno de Estresse Pós-Traumático
Para ficar bem definido, quando falarmos de ansiedade aqui, estaremos nos
referindo à ansiedade inadequada, uma ansiedade que prejudica o sujeito e o meio
em que vive.
ATAQUES DE PÂNICO E AGORAFOBIA
A experiência de quem passa por um ataque de pânico é aterrorizadora! São
sintomas da ansiedade muito mais acelerados, onde o sensação é de que você está
sendo ameaçado por uma morte iminente ou que irá enlouquecer. Sensações
corpóreas como taquicardia, falta de ar, tremores, suor, tonteiras, vertigens,
formigamento, etc., tomam conta do corpo levando a pessoa a uma desesperadora
procura em se proteger e se salvar.
Por ser uma experiência terrível, caso se repita ao longo do tempo, pode levar
a um outro problema. Pessoas que passam por diversos ataques de pânico
desenvolvem o que é chamado de "Ansiedade Antecipatória", que por si só é
desagradável, com sintomas desconfortáveis de uma ansiedade exacerbada. Isto
acontece por que a pessoa não quer mais ter os ataques e vasculha sua rotina diária
atrás de sinais de que o pânico pode estar a caminho, e toda esta preocupação em
se esquivar de ter sintomas de um ataque de pânico faz a pessoa desenvolver a
Agorafobia, ou seja, a pessoa é tomada por um medo de estar em determinados
lugares ou situações onde possa desencadear o pânico ou para evitar a sensação
de aprisionamento e constrangimento.
NEUROPSICOLOGIA DO ATAQUE DE PÂNICO E AGORAFOBIA
Ataques de pânico são modulados pela atividade noradrenérgica central, que
de forma resumida e superficial, é uma atividade envolvendo o aumento da
contração do coração e aumento da capacidade de alerta e atenção. Quem libera a
noradrenalina no organismo é o chamado Lócus Cerúleo (LC) que está localizado na
ponte dorsal do tronco encefálico e está ligado ao hipocampo.
Outro sistema envolvido nas respostas de defesa do organismo é a
serotonina, onde liberada pelo núcleo dorsal da Rafe, que é localizada na linha
média do tronco encefálico, e vai até a amígdala, região do sistema límbico, que a
grosso modo é responsável pela ativação emocional do organismo, onde a
serotonina agirá num papel ansiogênico.
Por ficar hiperfocada em seus sintomas e sensações o sujeito interpreta os
sinais de sua ansiedade natural como sinais de um iminente ataque de pânico, é
como se o medo dispara-se o medo. Assim, a própria atividade fisiológica se torna
um gatilho para a resposta do organismo convertida em pânico. É necessário não
fazer interpretações catastróficas erradas de suas condições corporais.
TRATANDO O TRANSTORNO DE PÂNICO
Além do tratamento medicamentoso, o sujeito precisa ter a noção de como
seus pensamentos tem sido tempestade em copo d'água. Para isso seguimos 3
passos básicos:
1 - Reestruturação cognitiva através de reconhecimento dos pensamentos
distorcidos e pela contestação da veracidade de suas interpretações.
EXEMPLO - O sujeito sente o coração batendo mais forte. Ao invés de pensar que
terá um ataque do coração, ele "coloca os pés no chão" e lembra que não tem
problemas cardíacos, exames estão em ordem, que talvez o coração não bateu mais
forte, foi na verdade ele que prestou atenção na batida.
2 - Treino em relaxamento ou respiração diafragmática para manejar os
efeitos autonômicos da ansiedade. A respiração é essencial, onde além de o
oxigênio fluir mais livremente, o sujeito controlar a respiração lhe dá certa sensação
de controle da situação.
3 - Exposição gradual ás situações agorafóbicas que induzem ou iniciam
ataques de pânico. O sujeito pode ir experimentando lugares com poucas pessoas
até os com maior fluxo, sempre aos poucos e percebendo que os perigos são
poucos e muitas vezes controláveis.
Para alcançar estes três pontos utilizamos a psicoeducação, manejo e da
ansiedade e reestruturação existencial. Na psicoeducação a pessoa é informada
sobre como será a terapia, como funciona sua cognição, fisiologia e a psicologia
diante do medo, pânico e a esquiva na agorafobia.
Na parte do manejo, a pessoa adquire habilidades de manusear sua
ansiedade e medo. Percebe que não é uma morte iminente aquilo que está sentindo,
mas apenas um desconforto que pode ser controlado por atividade distratoras, como
por exemplo, escrever, pintar, cantar, etc., ou seja, tudo aquilo que distraia, e a
respiração auxiliará também na melhora do desconforto. Para prevenir os ataques
de pânico, a pessoa pode se dedicar ao S.PA.E.C, onde listará Sensações,
Pensamentos Automáticos, Emoções e Comportamentos, podendo desta forma
compreender o que pode estar disparando suas ansiedades.
A revisão da vida continua, a pessoa precisa reduzir aspectos que podem
estar mantendo suas ansiedade e deixando aquecido o ataque de pânico, como
fosse acontecer a qualquer momento. De forma sincera e transparente consigo
mesma, a pessoa colocará em cheque 3 crenças:
1 - Preciso ser amado;
2 - Preciso ser perfeito;
3 - As coisas tem que ser do jeito que eu gostaria.
Conseguindo flexibilidade destas crenças, o sujeito será capaz de projetar
esta mesma flexibilidade em outros campos na vida, inclusive em seus medos. Se
você não tem a ansiedade de necessariamente ser amado, perfeito e mandar nas
situações, verá que as ansiedades sobre estes assuntos deixarão sua mente muito
mais leve.
As pesquisas indicam que pessoas agorafóbicas possuem deficiência nas
habilidades sociais, mais especificamente quanto a assertividade. Por isso, como
parte do tratamento, o sujeito irá aprender a se afirmar nas relações sociais sem ser
autoritário, a pedir o que deseja do outro e a dizer não.
ANSIEDADE SOCIAL
Ansiedade social é aquela que surge quando a pessoa está com contato
social, e conforme aumenta a formalidade, maior será a ansiedade. Para ressaltar
mais uma vez, a ansiedade em situações sociais é completamente natural. Aqui
estaremos sempre tratando de uma ansiedade exacerbada.
Dentro desta ansiedade encontramos medos do indivíduo em agir de forma a
demonstrar sua insegurança e acabar a situação sendo humilhante e embaraçosa.
Os pensamentos negativos e uma autoavaliação crítica demais, o medo da
rejeição, preocupação excessiva com o que as pessoas estão pensando, a baixa
autoestima e a dificuldade em ser assertivo causarão grande dificuldade nas
habilidades sociais, potencializando a ansiedade social.
A dificuldade em se controlar vai além dos pensamentos. Somos uma coisa
só, corpo e mente, então enquanto os pensamentos estão acelerados, o organismo
reage com taquicardia, suor, tremor, espasmos musculares, onde isto alimenta os
medos e os medos alimentam esta reação. A pessoa com tal ansiedade social evita
contatos sociais por tamanho sofrimento e quando os enfrenta, o desgaste
emocional a faz nunca mais querer voltar a tal situação.
Quando falamos de prejuízos na ansiedade social, não podemos pensar
somente em situação sociais como festas, confraternizações ou passeios. Na
verdade é mais grave do que perder lazeres com pessoas amadas. Uma pessoa
ansiosa socialmente tem dificuldade em se manter empregado, e quando
empregado sofre constantemente para trabalhar em equipe. Caso perca o emprego,
arrumar outro envolve interagir, ser avaliado e conhecer uma nova equipe, ou seja, o
sofrimento é constante e até mesmo leva a pessoa a faltar no trabalho para se
esquivar deste elemento aversivo.
A autoestima tem relação direta com o controle da ansiedade social, como
que a regulando. Estar em grupo vai além do que simplesmente ter amigos ou ser
descolado. Como humanos que nem sempre tivemos acesso a tecnologia e técnicas
de sobrevivência, estar em grupos desde o início da humanidade fazia parte de se
manter vivo. Por isso, muitas vezes a sensação de estar sozinho pode ser aversiva.
A relação da autoestima e estar em grupo está no fato de que se sua
autoestima está baixa, você se sentirá inadequado, envergonhado e interações
sociais serão uma ameaça ao seu bem estar. Assim, a autoestima é um mecanismo
de defesa e sobrevivência, no sentido de que ela te levará a buscar contatos e fazer
manutenção de suas conexões sociais, ela é um fator de proteção contra a
exclusão.
FATORES NEUROBIOLÓGICOS
A ansiedade social tem fator genético, mas como todo transtorno, o ambiente
exerce influência para que este se desenvolva. Quanto ao mecanismo, pessoas
ansiosas socialmente tem grande ativação da amígdala cortical, responsável pro
disparar emoções, e ativação da ínsula, que uma de suas funções é dar significado
ou "sabor" ao que é sentido. Como assim? Digamos que você está em grupo e
alguém te olha nos olhos. Este olhar será identificado pela amígdala como uma
ameaça, e então ínsula avaliará se é um olhar amigável, ameaçador ou
simplesmente um olhar.
Um outro mecanismo está no campo fisiológico, onde aparecem a dopamina
e serotonina, onde disfunção destas vias levam a comportamentos agressivos e
disparadores de ansiedade. Uma prova disso é que quando ingerimos álcool pode
ser que fica mais fácil a interação social, e isto se deve ao aumento da transmissão
do ácido gama-aminobutírico, ou GABA, que tem a função de inibir o funcionamento
cerebral como um todo. Este é o motivo do aparente relaxamento que a bebida
alcoólica pode causar.
TERAPIA
O gatilho para a ansiedade social é a preocupação em causar uma boa
impressão favorável nas pessoas, mas se sentir inseguro para isso. Sendo assim,
percebe-se 4 motivos de as pessoas com ansiedade social se desapegarem de seus
medos:
1 - Atenção autofocada e a construção de uma impressão de si mesmos
como objeto social. Sua atenção se dirige para uma auto-observação detalhada que
aumenta a ansiedade, pois provavelmente está focado em seus defeitos, e geram
assim uma imagem negativa de si próprio e acreditam que outras pessoas pensam o
mesmo. Lembre-se: você não está na mente das outras pessoas para saber o que
pensam.
2- A influência dos comportamentos de segurança na manutenção das
crenças negativas e de ansiedade. Pelo medo de sofrer nas relações sociais, a
pessoa evita contatos e assim não sofre disto, ou seja, parece ter sido bem sucedida
e está confortável em não se expor a uma interação social. Este comportamento
manterá a ansiedade e o distanciamento social, onde a pessoa não sofrerá a tensão
de um contato com outras pessoas, mas também não sentirá prazeres que poderiam
lhe fazer e até mesmo combater sua ansiedade social.
3 - O efeito do comportamento dos ansiosos sociais sobre o comportamento
das outras pessoas. A preocupação em se monitorar e controlar a própria ansiedade
causa a impressão de o sujeito com ansiedade social ser pouco amigável durante a
interação, causando assim, distanciamento social das outras pessoas, já que não se
sentem atraídas em ter contato com alguém que parece estar pouco interessado na
interação.
4 - Os processamentos antecipatórios e pós-eventos. Ao pensarem sobre a
situação social que irão enfrentar, sentem-se muito ansiosos, já que lembram de
falhas passadas, deixando sua autoimagem negativa, e desta forma predeterminam
que quaisquer outras interações sociais serão um fracasso. Incorporando um papel
de legista, as pessoas com ansiedade social conduzem uma avaliação "pós-morte"
do evento e analisa detalhadamente cada coisa do evento, e por seu viés de
pensamento ser voltado para os defeitos, a situação é avaliada muito mais negativa
do que realmente foi.
TRATAMENTO
No tratamento da ansiedade social busca-se a diminuição dos seguintes
fatores:

 Ansiedade antecipatória e dos sintomas fisiológicos de ansiedade


 Cognições de autoavaliação negativa e da suposta avaliação negativa pelos
outros
 Evitações sociais
 Limitações e prejuízos do paciente
 Tratamento das comorbidades

Algo importante a ser trabalhado na ansiedade social é como a pessoa pode


utilizar as habilidades sociais como fator protetivo para controle de seus sintomas.
Para isso, existe o Treinamento em Habilidades Sociais, que de forma geral, incluem
quatro componentes:

1. Psicoeducativo; visa informas as pessoas sobre a natureza da ansiedade e


dos temores sociais e o modelo cognitivo da ansiedade social.
2. Treinamento: ensina e refina habilidades sociais do indivíduo e proporciona a
prática das interações sociais, além de focar nos componentes cognitivos das
habilidades sociais.
3. Exposição: Consiste em expor ao vivo ou na imaginação, o sujeito à
situações ansiogênicas.
4. Tarefas de casa: Programa-se atividades entre sessões para a
generalização dos comportamentos aprendidos ao cotidiano de cada um.
TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA
A ansiedade natural é adaptativa e importante para manter a vida, mas
quando está em sua forma generalizada, as preocupações são excessivas e difíceis
de controlar relacionadas à diversas situações do dia a dia. Tais preocupações em
pessoas com ansiedade generalizada são intensas e difíceis de controlar, afetando
diretamente a qualidade de vida.
Segundo a OMS os sintomas comuns desta ansiedade são: Nervosismo
persistente, tremores, tensão muscular, transpiração, sensação de vazio na cabeça,
palpitações, tonturas e desconforto gastrintestinal.
As preocupações são intensas sobre pequenos detalhes do cotidiano ou com
coisas que dificilmente aconteceriam, como por exemplo, aqui no Brasil alguém
estar muito preocupado com terremotos.
TEORIA BIOLÓGICA DO TRANSTORNO
Há uma excitação crônica, estruturas associadas como amígdala, locus
coruleus, córtex pré-frontal direito, anormalidades nos transmissores de
serotonina ,ácido gama-aminobutírico e hormônio liberador de corticotrofina, e tudo
isto que vimos aqui deixa o organismo com um maior vulnerabilidade biológica para
a ansiedade generalizada. Podemos afirmar que mesmo tendo um carga genética, a
ansiedade social é mantida pelos próprios pensamentos e medos do indivíduo.
MODELO COGNITIVO COMPORTAMENTAL DA ANSIEDADE GANERALIZADA
Crenças negativas sobre a incerteza de modo geral, leva a pessoa a
interpretar situações ambíguas como ameaçadoras, já que tais crenças a fazer ver
as coisas de forma distorcida. Perceba a seguir itens de um modele de uma
preocupação crônica:

 Intolerância à incerteza - Indivíduos com alto nível de intolerância à incerteza


acreditam que ela impede uma pessoa de viver confortavelmente e ter uma
vida plena, consideram terrível estarem incertos sobre seu futuro e saber
quais situações devem ser evitadas. Pessoas com ansiedade social ficam
presas em analisar cada detalhe dos acontecimentos através dos
pensamentos "e Se..."
 Preocupação - Dois tipo de preocupação. 1 Eventos internos e externos não
cognitivos, como por exemplo a saúde de um familiar, segurança própria,
perder o emprego, etc. Já o tipo 2 de preocupação consiste em avaliar
negativamente o próprio ato de se preocupar, ficando preocupação em cima
de preocupação, e este pensar se torna perigoso.
 Crenças sobre preocupação - Falsa impressão de controle, porque na
verdade pensar sobre os problemas faz apenas você remoer preocupações.
As crenças envolvida são semelhantes aos exemplos a seguir: "Preocupando-
me ajudo a evitar surpresas desagradáveis", "A preocupação ajuda a
encontrar soluções", "Preocupando-me evito que coisas ruins aconteçam".
Estas crenças são mantidas por não acontecer coisas desagradáveis
enquanto a pessoa tem esses pensamentos, mas não acontecer nada não
passa de coincidência.
 Orientação Disfuncional para problemas - O processo de solução de
problemas pode ser dividido em duas etapas. A primeira é a orientação para o
problema,envolve a percepção de si como um agente para solução do
problema e a percepção do problema propriamente dito, assim como também,
as expectativas quanto a sua solução. A segunda etapa envolve a habilidade
de solucionar o problema, definir qual o problema, pensar nas alternativas,
escolher a solução, implementar a solução, etc. Pessoas com ansiedade
generalizada tem boa habilidade de solucionar problemas, mas sua
orientação em solucionar os problemas é disfuncional.
 Evitação Cognitiva - São estratégias utilizadas pela pessoa para se afastar de
estímulos cognitivos e emocionais aversivos. Acontece uma desconexão
entre a pessoa e suas emoções, pois entram menos em contato com
experiências afetivas em geral, evitam sentir as emoções ou o foco constante
nos pensamentos as fazem não perceber suas flutuações afetivas. Pode até
parecer saudável evitas os pensamentos e emoções desagradáveis, mas isto
impossibilita que aconteça ressignificações necessárias de acontecimentos
da vida para um melhor equilíbrio emocional.

TÉCNICAS PARA TRATAMENTOS DO TRANSTORNO DE ANSIEDADE


GENERALIZADA
A terapia cognitivo comportamental está repleta de atividades e técnicas
capazes de auxiliar a pessoa a conseguir seu equilíbrio emocional e psicológico.
Para o caso de ansiedade social, os Registros de Automonitoramento ajudam o
sujeito a classificar suas preocupações reais com solução, preocupações reais sem
solução e preocupações que são apenas hipóteses.
Para os problemas reais e com solução, a técnica Solução de Problemas é
aplicada, e por meio dela o sujeito define o problema e formula os objetivos da
resolução de problemas, gera soluções alternativas, avalia pós e contras de cada
solução encontrada, escolhe a solução, implementa a solução e avalia sua
efetividade.
Uma outra técnica é a Análise Custo-Benefício em manter determinada
preocupação ou comportamento, analisar até está colaborando para o seu
desenvolvimento ou apenas te fazendo cair em um limbo de preocupações.
TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO
Caracterizado pela presença de obsessões e compulsões que consomem o
tempo de forma significativa nas rotinas diárias do indivíduo, no trabalho, no
ambiente familiar e social. Os sintomas do TOC são diversificados: contaminação e
lavagem, simetria, verificações de ordem, pensamentos indesejáveis geralmente
sobre sexo e religião.
O modelo comportamental para o TOC entende que um elemento neutro
ligado a um elemento que não se refere a nada especificamente, com o tempo
ganham atributos um ao outro. Pareceu confuso não é mesmo? É bem simples:
vamos usar rachadura como estímulo neutro, ou seja, por si só não faz a pessoa
sentir nada, e vamos usar também um estímulo incondicionado, ou seja, que não foi
direcionado nem levado a nada. Caso a pessoa fique fissurada num ciclo de
pensamento sobre rachaduras e quedas de edifícios, com o tempo a rachadura
ficará diretamente ligada ao medo de que onde ela estiver o edifício cairá.
Não pára por aí. Após a assimilação de rachadura e queda iminente do
prédio, o medo leva a pessoa a comportamentos para se proteger, e aplicado no
nosso exemplo, poderia ser a pessoa se esquivar de entrar em prédios ou ter pavor
só de estar dentro deles.
O modelo cognitivo é de que intrusões cognitivas indesejáveis, ou seja,
pensamentos desagradáveis e impulsos que invadem nossa consciência se tornam
inteiramente inaceitáveis, mas o fato de ter pensado faz o sujeito achar que tem
chance de fazer este algo que ele repugna tanto. Por exemplo: numa situação de
nervoso o sujeito pode pensar em matar a outra pessoa. Para uma pessoa com
TOC, a obsessão em pensar que ela seria capaz de fazer isso a leva a compulsões
para que deixe de pensar neste assunto tão repugnante para ela. Como vimos, os
pensamentos intrusivos podem ser de diferentes temáticas, e a pessoa utiliza das
compulsões para sentir um pseudo controle da situação e para se abstrair destes
pensamentos, porém, ao mesmo tempo, isto atrapalha a perceber que seus
pensamentos não são reais.
Este comportamento é mantido mais uma vez pela coincidência, onde a
ausência da consequência temida após a compulsão reforça a crença de que a
pessoa necessita fazer o ritual para remover a ameaça e que foi o ritual que impediu
o desfecho temido.
As crenças influenciam a vida de todos, pois direcionam os caminhos que a
pessoa seguirá. No caso do TOC, crenças disfuncionais diante de pensamentos
intrusivos fazem a pessoa ter cada mais dificuldades em controlar aquilo que pensa
e faz. Algumas crenças:

 Responsabilidade Exagerada
 Importância Exagerada em pensamentos
 Importância demasiada em controlar pensamentos
 Exacerbação do Risco
 Intolerância à incerteza
 Perfeccionismo

TERAPIA DO TOC
É preciso encontrar e compreender o início de tudo, quando se iniciaram os
sintomas obsessivos compulsivos, se foram desencadeados por fatores externos,
quais ruminações cognitivas estão envolvidas no desenvolvimento dos sintomas
obsessivos compulsivos. Com o decorrer das sessões compreende-se os tipos de
compulsões, quais os rituais envolvidos no alívio, qual a relação com os
pensamentos obsessivos, quais pensamentos automáticos surgem e baseado em
quais crenças disfuncionais.
Quando a compreensão estiver clara, psicólogo e cliente trabalharão na
técnica de Exposição e Prevenção de Resposta (EPR), e paralelamente na
correção de crenças distorcidas. Esta etapa do processo terapêutico vai na
contramão do que a pessoa está habituada a fazer para aliviar seus pensamentos.
Os PENSAMENTOS INDESEJÁVEIS que são evitados pela pessoa serão
"PERMITIDOS", ou seja, serão evocados intencionalmente. Já os
COMPORTAMENTOS COMPUSLIVOS que são manifestos para alívio das
obsessões, serão "PROIBIDOS". Desta forma a pessoa perceberá a desconexão
entre seus comportamentos compulsivos e suas obsessões.
Outra técnica de grande valor é o Diário de Sintomas Obsessivos
Compulsivos, onde o objetivo é a pessoa identificar ao longo do dia, ver quais
horários, situações e locais nos quais a mente é invadida pelas obsessões e há a
necessidade de executar algum comportamento compulsivo. Esta técnica é de valor
pois podemos compreender os gatilhos envolvidos nas obsessões e a pessoa
desenvolve o hábito de monitorar seus pensamentos, já que por muito tempo, os
pensamentos da pessoa com TOC foram automáticos e fora de controle.
TRANSTORNO DO ESTRESSE PÓS TRAUMÁTICO
O desenvolvimento de estresse pós traumático vem de fatores como
gravidade, duração e proximidade da exposição da pessoa ao evento traumático. A
falta de apoio social é um fator de risco para o desenvolvimento deste transtorno, já
que sem suporte, a pessoa se sente só, sem saber onde se apegar.
NEUROBIOLOGIA DO ESTERSSE PÓS TRAUMÁTICO
Pensamento intrusivos, pesadelos e flashbacks são sintomas perturbadores
recorrentes do Transtorno de Estresse Pós Traumático, e marcam a falha da
memorização traumática no sujeito, mantendo assim o transtorno. As partes do
cérebro envolvidas no processamento nas memórias de medo são a amígdala,
córtex pré frontal e hipocampo. Lembrando que a amígdala é responsável pelo alerta
de perigo e impulso das emoções como o medo; o córtex pré-frontal é fundamental
para nosso censo crítico, raciocínio, atenção e etc. O hipocampo está relacionado
com nossas memórias.
Como seria esta circuitaria no estresse pós traumático? O choque causado
frente a algo que lembre o evento traumático, leva o córtex pré-frontal a ter sua
ativação baixada, ou seja, raciocinar que aquilo estimulo ali não tem relação com o
que você passou, fica difícil. A amígdala procura pistas sensoriais de coisas
relacionadas ao seu trauma, enquanto o hipocampo guarda as recordações do que
foi vivido. Para haver um controle dos medos disparados pela amígdala, o córtex
pré-frontal precisa ser estimulado a analisar friamente o presente e o ambiente onde
você está, e conseqüentemente influenciar o hipocampo a armazenar novas
memórias, onde as coisas tem ocorrido bem. Por mais que as memórias do evento
traumático permaneçam, elas perderão sua intensidade e influência para com o
sujeito. Córtex Pré-Frontal e Hipocampo reestruturados conseguem controlar de
forma mais efetiva a amígdala, e assim, conseqüentemente, o pavor no estresse pós
traumático ficará cada vez mais sob controle.
EXEMPLO - Digamos que você foi vítima de um acidente de carro, e após
isso, sempre que escuta uma freada ou entra em um carro, sua mente já te
transporta para as mesmas sensações de quando sofreu o acidente. Perguntas para
reflexão ajudam a cognição a digerir melhor a situação que já passou:

 As freadas que tenho escutado, tiveram um acidente como conseqüência?


 Quantas vezes entrei em um carro e foi tudo bem?
 Sempre que houver um acidente de carro, será muito grave?

Dois tipos de memória estão envolvidos após um evento traumático. O


sistema VAM (Memória Acessível Verbalmente) refere-se às memórias do trauma
orais ou narradas de forma escrita, são requeridas como qualquer outra memória. Já
a memória SAM (Memória Acessível Situacionalmente) contém informações obtidas
por um nível baixo do processamento perceptivo, como sinais e sons brevemente
apreendidos no momento do evento traumático. Os controles da memória SAM não
de difícil controle por não sabermos ao certo o que está nele e nem controlar quando
seremos expostos a sinais semelhantes ao dia que sofremos a adversidade.
Para que estas memórias deixem de ter tamanha influência no sujeito, é
preciso fazer uma manobra de exposição aos conteúdos das memórias, sejam de
forma escrita ou verbal, com o objetivo de "calejar" aquela memória para que não
afete mais de forma tão impactante o sujeito.
Pessoa com Transtorno de Estresse Pós Traumático tem dificuldade em
discriminar sinais de segurança com os de insegurança, e seus pensamentos são
dominados pela percepção de perigo. O medo é uma rede na memória que inclui 3
tipos de informações acerca:

 do estímulo temido - coisas que podem levar sua integridade física a correr
perigo, como algum animal feroz, uma pessoa agressiva, veículo em alta
velocidade, etc.
 das respostas verbais, fisiológicas e comportamentais - no medo falamos
aceleradamente ou chegamos até mesmo a gritar. Nosso corpo aumenta os
batimentos cardíacos, aumenta nosso suor e freqüência respiratória, nos
levando a fugir, tremer ou ficar com músculos tensionados.
 dos significados destes estímulos - qual perigo o estímulo trará.

Quando estamos diante de um perigo real esse programa é acionado e


sentimos medo enquanto o estímulo ameaçador estiver presente. No medo
patológico, ou seja, aquele não-saudável, possui conteúdos irreais, associações
entre estímulos não perigosos e resposta de luta e evitação, interpretações
distorcidas e o medo é destrutivamente intenso.
TRATAMENTO DO ESTRESSE PÓS TRAUMÁTICO
Inicia-se com a Psicoeducação, onde o psicólogo explica o que é o
transtorno, como ele afeta o organismo e como se mantém. Pessoas que passam
por traumas e tem dificuldade de se recuperar, por vezes se sentem sozinhas e
incompetentes, e saber que outra pessoa passam pelas mesmas dificuldades que
ela a faz se sentir bem e sobrevivente.
Partimos então para a Reestruturação Cognitiva, onde os passos são:
Identificar os pensamentos automáticos e crenças disfuncionais existentes já antes
do trauma e que influenciam a percepção deste.
Auxiliar a pessoa a corrigir crenças distorcidas para reduzir a ansiedade e
outras emoções disfuncionais. Crenças e pensamentos comuns a um estresse pós
traumático:
 Ansiedade - "Aquele homem vai me assaltar".
 Culpa - "Eu poderia ter feito algo para evitar o que aconteceu".
 Raiva - "Porque isto aconteceu comigo?"
 Tristeza / Desesperança - "Nunca mais serei a mesma pessoa".

Reescrever e ressignificar estas situações auxilia sua cognição a perceber


que as coisas podem ser vistas de uma outra forma.
A Técnica de Exposição visa expor a pessoa para ativar as memórias
traumáticas e modificar os aspectos patológicos. Por exemplo: uma pessoa com
estresse pós traumático após ataque de um cachorro feroz é exposta a cachorros
por vídeo, fotos, pelúcias até animais de pequeno porte e dóceis, aumentando o
contato com outros cachorros progressivamente. Desta forma, a pessoa indicará
para sua cognição que sim, há um perigo, mas não são todos os cachorros um
perigo real para sua integridade física.
A Exposição Imaginária requer que a pessoa com o transtorno relembre o
trauma em sua imaginação por período prolongado. Este exercício é gravado a cada
sessão e a pessoa o escute diariamente entre as sessões.
A Respiração Controlada é um exercício simples mas de grande valor, pois
as pessoas respiram superficialmente quando estão ansiosas, levando a um
desequilíbrio entre oxigênio e gás carbônico no organismo. Sendo assim, a
respiração adequada fará a que a oxigenação do organismo seja mais fluída e
eficiente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebemos que quando falamos em ansiedade não estamos falando de uma
simples sensação. Muita coisa acontece em nosso organismo, além dos motivos,
intensidade e formas de ansiedade variarem de pessoa para pessoa e de problema
para problema. É necessário colocarmos nossos pensamentos para fora da mente,
escrevendo ou falando, para que assim possamos enxergá-lo da forma mais real
possível e traçarmos estratégias para combatê-los e controlá-los.

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