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TEORIA E CONCEITOS

Características de ambientes invalidantes

Um ambiente invalidante é aquele no qual a comunicação de experiências


privadas é encontrada em repostas erradas, inapropriadas, assim como extremas. Em
outras palavras, a expressão “experiências privadas” não é validada; ao contrário, é
punida e ou usada de modo trivial. A experiência de emoções doloridas, bem como os
fatores que, para algumas pessoas, parecem casualmente relacionadas à alta ansiedade,
são desconsiderados.

As interpretações do próprio comportamento do indivíduo, incluindo a


experiência relacionadas às suas intenções e motivações, associadas ao o seu
comportamento, são descartadas.

A invalidação tem duas características principais. Primeiro, ela mostra que o


indivíduo está errado em suas afirmações e na análise de suas próprias experiências,
particularmente quanto à sua visão do que está provocando as suas emoções, crenças e
ações. Segundo, ele atribui as suas próprias experiências a caracteríticas socialmente
não aceitáveis ou a traços de personalidade. O ambiente pode passar a seguinte ideia: o
que o indivíduo sente é contrário ao que ele diz (“Você está zangado, mas não admite
isto”), e em relação aos seus gostos e as preferências, isto acontece da mesma forma (da
mesma maneira que no provérbio: “Quando a pessoa diz ‘não’, ela quer dizer ‘sim’), ou
quando a pessoa diz que fez algo, mas isto não é verdade. As expressões negativas
emocionais podem ser atribuídas a determinados traços, como, por exemplo, uma reação
desmedida, grande sensibilidade, paranoia, uma visão distorcida dos fatos e falha ao ser
adotada uma atitude positiva em relação à vida. Os comportamentos que provocam
consequências indesejáveis, assim como dolorosas para as outras pessoas, podem ser
atribuídos à hostilidade e manipulação. A falha ou qualquer desvio de sucesso, definido
como social, é tido como o resultado de falta de motivação, de disciplina, de não serem
suficientes as suas tentativas ou algo semelhante. Expressões emocionais positivas,
crenças e planos de ação podem também ser invalidados de forma semelhante por falta
de discriminação, ingenuidade, idealização nuito além do normal or da imaturidade. Em
qualquer caso, as experiências pessoais dos indivíduos não são vistas como respostas
válidas para os eventos.
Os ambientes, emocionalmente invalidantes são, no geral, intolerantes com a
demonstração de afetos negativos, pelo menos, quando estas não são acompanhadas por
eventos públicos que deem suporte para elas. A atitude comunicada é semelhante à
seguinte: “Você pode, sozinho, colocar-se para cima”, esto quer dizer que qualquer
pessoa que tentar com vontade e força pode conseguir. As habilidades individuais e a
capacidade de atingir os objetivos são altamente valorizadas, pelo menos no controle
emocional da expressão, assim como no limitar as demandas do ambiente. Os membros
invalidantes desses ambientes são muito enérgiocs em promover o seu ponto de vista e
provocar a frustação comunicada de forma expressiva quando alguém é inabil em
compactuar com um ponto de vista semelhante. Um grande valor está atrelado ao estar
feliz ou, pelo menos, ao sorrir na frente do adversário, ao se acreditar na capacidade de
alguém em atingir qualquer objetivo ou, pelo menos, na atitude de nunca perder a
esperança, e, mais do que tudo, do poder de se ter uma “atitude mental positiva” para a
resolução de qualquer problema. Se houver falha nessas expectativas, haverá a
desaprovação, a crítica e as tentativas, por parte dos outros, de trazerem ou forçarem
uma mudança de atitude. As exigências que uma pessoa pode colocar nesses ambientes
são geralmente limitadas.

Esse padrão é muito semelhante ao da chanada “alta expressão trasmitida”,


encontrada em famílias depressivas e esquizofrênicas, com altos índices de recaída
(LEFFE; VAUGHN, 1985). O trabalho com emoção expressa sugere que este tipo de
constelação familiar pode ter uma grande influênncia no que diz respeito à
vulnerabilidade do indivíduo. “A emoção expressa”, nessa literatura, refere-se à crítica e
a um envolvimento exacerbado. A ideia aqui inclui também esses aspectos, mas, além
disso, ressalta o não reconhecimento do estado real do indivíduo. A consequência disso
é que os comportamentos dos outros, incluindo os dos cuidadores, no ambiente dos
indivíduos, não são apenas invalidantes para as experiências individuais, mas também
não respondem às necessidades do indivíduo.

Alguns exemplos clínicos podem fornecer uma noção melhor do que eu quero
dizer aqui. Durante uma sessão familiar, com uma mulher com distúrbio de
personalidade borderline que tinha um histórico de alcoolismo e frequentes tentativas
de suicído, o seu filho comentou que ele não entendia por que ela não conseguia
enfrentar problemas asism como ele, o seu irmão e o seu pai. Um número significativo
de pacientes, no meu projeto de pesquisa, foi dissuadido de ir ao psicoterapeuta pelos
seus pais. Uma paciente de 18 anos que fora hospitalizada diversas vezes tinha um
histórico de várias tentativas de ferir a si mesma, ela era hiperativa e disléxica e estava
envolvida com drogas. Os seus pais diziam a ela, com frequencia, depois de suas
sessões de terapia, que ela não precisaria ir mais às sessões e que ela poderia adquirir
força por ela mesmo, se ela quisesse. “Falar sobre problemas pode fazer com que eles
fiquem piores”, disse o seu pai. A outro paciente foi dito que, se ela chorasse, quando se
machucasse ao cair, a sua mão daria a ela uma boa razão para chorar: se ela continasse
chorando, a sua mãe bateria nela.

Consequências de ambientes invalidantes

As consequências dos ambientes invalidantes são as que serão apresentadas a


seguir. Primeiro, a falhar na validação da expressão emocional um ambiente invalidante
não ensina a criança a label (classificar, rotular) as suas experiências privadas, incluindo
as emoções, de uma maneira normativa, em sua comunicade social, para as mesmas ou
experiências semelhantes. À criança não é ensinado o modular da emoção despertada.
Já que os problemas da criança emocionalmente vulnerável não são reconhecidos,
poucos esforços são realizados na tentativa de resolvê-los. É dito à criança para que ela
controle as suas emoções, ao invés de ensiná-la, exatamente, como fazer isto. Esta
situação se asselha à da criança que não tem pernas, na qual é dito a ela para caminhar,
porém sem dar a ela recursos, como pernas mecânicas, para que ela possa realizar esta
atividade. A não aceitação e a simplificação, de forma execissa, dos problemas originais
tornam impossíveis o tipo de atenção, de suporte e de treino adequado, dos quais um
indivíduo necessita. Portanto, a criança não aprende adequadamente a classificar
(definir) e a controlar as suas reações.

Segundo, ao simplificar-se excessivamente a facilidade para se solucionar


problemas que ocorrem na vida das pessoas, o ambiente não ensina a criança a tolerar as
ansiedades e a formar objetivos realistas, assim como expectativas.

Terceiro, em um ambiente invalidante, mostras emocionais extremas e/ou


problemas extremos são geralmente necessários para que se provoque um ambiente de
resposta que possa auxilar o indivíduo. Logo, as contingências sociais favorecem ao
desenvolvimento de reações emocionais extremas. Devido ao erro de punir as
comunicações de emoções negativas e, intermitentemente, reforçar as demonstrações de
emoções escalonadas e extremas, o ambiente ensina a criança a oscilar entre a inibição
emocional e, por outro lado, a apresentar estados emocionais extremos.

Finalmente, um tipo de ambiente assim não ensina a criança, quando deve


confiar em sua própria resposta emocional e cognitiva, como reflexos de interpretações
válidas do indivíduo e de eventos situacionais. Ao contrário, o ambiente invalidante
ensina a criança a ativamente invalidar as suas próprias experiências, assim como a
procurar pistas sobre como pensar, sentir e agir. A habilidade de uma pessoa em confiar
em si mesma, pelo menos de uma forma pequena, é muito importante; ela, no mínimo,
tem que dar crédito a suas decisões e não pôr em cheque a si mesma. Assim, a
invalidação é, com frequência, experienciada como algo desagradável. As pessoas que
são invalidadas geralmente irão deixar o ambiente invalidante, vão tentar mudar o seu
comportamento a ponto de satisfazer as expectativas do ambiente e tentar provar a si
próprias que elas são válidas e, consequentemente, reduzir a invalidação do ambiente. O
dilema borderline ocorre quando o indivíduo não pode deixar o ambiente e não tem
sucesso em trasformar tanto o ambiente quanto o seu próprio comportamento para ir ao
encontro das exigências do mesmo.

Parece que este tipo de ambiente pode formar um adulto com problema de
personalidade dependente, ao invés do BPB. Suspeita-se que isto teria maiores chances
de ocorrer com uma criança menos emocionalmente vulnerável. No entanto, com uma
criança do tipo emocionalmente intensa, a informação invalidante, provocada pelo
ambiente, está sempre competindo com uma mensagem igualmente intensa das
respostas emocionais da criança “Você pode estar me dizendo que o que você fez não é
um ato de amor, mas os meus sentimentos que estão feridos, o terror e ódio me dizem
que isto não está relacionado a sentimentos de amor. Você pode estar querendo me dizer
que eu posso fazer isto; e que isto não significa um grande problema, mas o meu pânico
está me dizendo que eu não posso, e é isto”.

O indivíduo vulnerável e invalidante está amarrado de forma semelhante àquele


que tem sobrepeso em nossa sociedade. A cultura (incluindo anúncios diários de
redução de peso na TV e no rádio) e a família, composta por pessoas magras,
constantemente, dizerm à pessoa obesa que perder peso é fácil e, para fazer isto, basta
apenas um pouco de força de vontade. O peso do corpo, acima do ideal, de acordo com
nossa cultura, dá sinais de gula, preguiça e indisciplina. Muitas dietas, passar muita
fome , esforços hercúleos para se manter magro/a; e um corpo que readquire peso, com
uma simples caloria, diz outra coisa. Como a pessoa com excesso de peso responde a
esta dupla mensagem? Geralmente, por um lado, há alternância entre fazer dieta e uma
extrema disciplina, e, por outro, o desistir, o relaxar e o recusar-se a fazer dieta. A
síndrome do yo-yo, entre aqueles que fazem dieta, é semelhante à oscilação emocional
entre os indivíduos bordeline. Nenhum tipo de informação pode ser ignorado.

Variedades em relação ao Sexismo: Experiências Prototípicas Invalidantes

A prevalência do BPV entre as mulheres requer que nós examinemos o possível


papel do sexismo nessa etiologia. Certamente, o sexismo é uma fonte importante de
invalidação para todas as mulheres em nossa cultura; mas, com certeza, todas não se
tornam bordeline. Nem todas que apresentam temperamentos vulneráveis e se tornam
borderline, embora todas estejam expostas ao sexismo de uma forma ou de outra. Eu
suspeito que a influência do sexismo na etiologia do BPV depende de outras
características da criança vulnerável, assim como das circunstâncias do sexismo na
família na qual aquela é criada.

Abuso sexual: A mais extrema forma de sexismo é, de fato, o abuso sexual. O


risco do abuso sexual é duas ou três vezes maior para mulheres do que para homens
(FINKELHOR, 1979). A prevalência do abuso sexual infantil nas histórias das mulheres
com o BPV simplesmente não pode ser ignorada, por ser este um fator importante na
etiologia deste distúrbio. De doze pacientes bordeline hospitalizados, acessados por
Stone (1981), 9, ou seja 75%, relataram uma história de incesto. O abuso sexual na
infância foi relatado por 86% dos pacientes borderline internados, comparados aos 34%
dos pacientes psiquiátricos internados no estudo de Bryer, Nelson, Miller e Krol (1987).
Entre os pacientes borderlines não internados, de 67% a 76% relataram abuso sexual
(HERMAN; PERRY; VAN DER KOLK, 1989; WAGNER; LINHAN; WASSON,
1989), em contraste à taxa de 26% dos que estavam entre os pacientes não borderline
(HERMAN, et. al.,1989). Ogata, Silk, Goodrich, Lohr e Westen (1989) verificaram que
71% dos pacientes borderline relataram histórias de abuso sexual, comparados aos 22%
da maioria dos pacientes depressivos do grupo controle.

Embora, nos dados epidemiológicos, as meninas não apresentem risco maior de


sofrerem abuso do que os meninos, um estudo constatou que os índices de relatos acerca
de abuso sexual na infância eram maiores entre os pacientes borderline (71%) do que
entre os que os não borderline (38%) (HERMAN, et. al, 1989). Além disso, há uma
associação positiva entre abuso físico e sexual (WESTEN; LUDOLPH; MISLE;
RUFFIN; BLOCK, 1990), sugerindo que aqueles que têm risco de sofrerem abuso
sexual também o estão para o abuso físico. Bryer et. al. (1987), entretanto, verificaram
que, ao passo que o abuso sexual em tenra idade prevê a diagnose do BPD, a
combinação entre o abuso sexual e físico, não. Ogata et al. (1989) igualmente relataram
índices semelhantes para o abuso físico em pacientes borderline e depressivos. Portanto,
pode-se dizer que o abuso sexual, em contraste com outros tipos de abuso, está
unicamente associado ao BPD. Mais pesquisas são necessárias aqui, para que fiquem
claras essas relações.

Um ligação muito semelhante foi encontrada entre abuso sexual na infância e


comportamentos suicidas (incluindo os para-suicidas). As vítimas desse abuso
apresentam índices mais elevados de tentativas de suicídio subsequentes do que as não
vítimas (EDWALL, HOFFMANN; HARRISON, 1989; HERMAN; HIRSCHMAN,
1981; BRIERE; RUNTS, 1986; BRIERE, 1988), e mais de 55% dessas vítimas
apresentam tentativas de suicídio. Também, mulheres abusadas sexualmente são mais
propensas a apresentarem um comportamento de para-suicído sério (WAGNER, et
al.,1989). Bryer et al. (1989) verificaram que o abuso na infãncia (tanto o físico quanto
o sexual) pode prever o comportamento de suicídio do adulto. Indivíduos, com ideia
fixa de suicídio assim como os para-suicidas, são três vezes mais propensos a terem sido
abusados na infância do que os pacientes que não apresentam este comportamento.

Embora isto seja visto como um estressor social, o abuso na criança pode ter
uma papel menos óbvio, como, por exemplo, uma causa de vulnerabilidade psicológica
quanto ao não equilíbrio psicologico. O abuso pode não ser apenas patogênico para os
indivíduos com temperamentos vulneráveis, mas também “criar” vulnerabilidade
emocional, por alterar o sistema nervoso central. Shearer, Peters, Quaytman e Ogden
(1990) propõem que o trauma perpétuo (perpetual trauma) pode psicologicamente
alterar o sistema límbico. Dessa forma, o estresse crônico e severo pode causar efeitos
adversos permanentes (que estejam sempre prontos a se manifestarem), como a
sensibilidade emocional e outros fatores referentes ao temperamento.

O abuso sexual, da forma como ele ocorre em nossa cultura, é talvez um dos
exemplos mais claros da invalidação extrema durante a infãncia. Em um cenário de um
caso típico de abuso sexual, à vítima é dito que a molestação e a relação sexual
(intercourse) não são problemas – que tudo está OK!, mas que ela não deve contar nada
a ninguém sobre o fato. O abuso é raramente sabido pelos outros membros da família, e,
se a criança falar sobre o fato, ela corre o risco de que não se acredite no que ela está
relatando, bem como poderá ser considerada culpada (TASAY; WAGNER, 1978). É
difícil imaginar uma exeperiência mais invalidante para uma criança do que esta. De
forma semelhante, o abuso físico está comumente apresentado à criança como um ato de
amor ou, por outro lado, tornado algo normal pelo adulto que abusa. Alguns
especialistas têm sugerido que o segredo, no qual se mantém o abuso, pode ser o fator
que mais se relaciona ao BPD subsequente. Jacobson e Herald (1990) relataram que,
dos 18 pacientes psiquiátricos internos com histórias graves de abuso sexual na infãncia,
44% nunca revelaram a experiência para ninguém. Sentimentos de vergonha são
comuns entre as vítimas de abuso sexual (EDWALL, et al.,1989) e podem ser levados
em conta para que o abuso não seja revelado. Não podemos excluir o componente
invalidante do abuso sexual como colaborador para o BPD.

Inibição dos Pais às Crianças. As tendências dos pais em imitar comportamentos


emocionalmente expressivos constituem um fator importante no desenvolvimento
emocional ótimo (MALATESTA; HAVILAND, 1982). A falha na imitação ou uma
imitação incongruente – o primeiro falha na validação e o segundo é a invalidação –
estão relacionadas a um desenvolvimento considerado menos ótimo. É interessante
observar as diferenças de gênero na incidência do BPD, ou seja, que as mães tendem a
mostrar respostas mais efetivas ao sorriso dos filhos do que das filhas, bem como imitar
mais as expressões dos filhos do que das filhas (MALATESTA; HAVILAND, 1982).

Dependência e Independência: Ideais (Modelos) Culturais de Invalidação (ou


Impossibilidade) para Mulheres. Os dados da pesquisa confirmam grandes diferenças
entre os estilos de relações interpessoais de homens e mulheres. Flaherty e Richman
(1989) têm revisto muitos dados nas áreas do comportamento dos primatas e a sua
evolução, estudos estes de desenvolvimento, de paternidade, de suporte social do adulto
e de saúde mental. Eles concluíram que vários experimentos de socialização, que
começam na infãncia, conferem à mulher uma maior conexão com a afetividade e a
percepção na esfera das relações interpessoais do que ao homem. A relação entre o
receber o suporte social dos outros e o bem estar pessoal, assim como, por outro lado, a
relação entre a angústia, reforçada socialmente, as queixas somáticas, a depressão e a
ansiedade são sentimentos percebidos em maior número nas mulheres do que nos
homens. Em outras palavras, ao passo que o grau de suporte social recebido não está
intimamente relacionado à função emocional entre os homens, está altamente
correlacionado ao bem-estar emocional entre as mulheres. Em particular, Flaherty e
Richman (1979) verificaram que o componente do suporte social está mais
correlacionado, de maneira estreita, ao bem-estar entre as mulhres. Ao revisarmos a
pesquisa relacionada à afirmação e às mulheres, Kelly Egan e eu concluímos que o
comportamento das mulheres em grupos ou díades (conjunto de dois) é consistente com
a ênfase na preservação dos relacionamentos mais do que no atingir objetivos, na
solução de problemas or na persuasão de pessoas (LINEHAN; EGAN, 1979).

Dada a prevalência da ligação interpessoal e do suporte social como fatores


importantes (na realidade, crucial), ou seja, dimensões para que as mulheres sejam bem
ajustadas, poderia ser feito o seguinte questionamento: O que ocorre com as mulheres,
às quais não é dado o suporte social de que precisam ou a elas é ensinado que sua
necessidade para o suporte social não é saudável? Essas situações parecem existir.
Quase sem exceção, a independência interpessoal para ambos, homens e mulheres, é
exaltada como um ideal para o comportamento “saudável”. As características femininas,
tais como a dependência interpessoal e o contar com as outras pessoas – como é notado
acima, estão positivamente relacionadas com a saúde mental das mulheres – e são
percebidas como mentalmente “não saudáveis” (WIDIGER; SETTLE, 1987).
Valorizamos tanto a independência que aparentmente não podemos conceber a
possibilidade de que uma pessoa tenha muita independência. Por exemplo, embora haja
uma “trasntorno de personalidade dependente” no DSM-IV, não há na “transtorno de
personalidade independente”.

Essa ênfase na independência individual, como um comportamento normativo, é


observada na cultura ocidental (MILLER, 1984; ver SAMPSON, 1977 para a revisão
desta literatura). De fato, pode-se concluir que o comportamento normativo feminino,
pelo menos quanto às relações interpessoais, vai de encontro aos valores atuais da
cultura ocidental. Não se admira que muitas mulheres experienciem conflitos no que se
refere a questões de dependência e independência. De fato, há “uma pobreza na
correspondência” (poorness of fit) entre o estilo interpessoal das mulheres e a
socialização do ociente, assim como os valores para o comportamento dos adultos. É
interessante verificar, no entanto, que a patologia é colocada no ombro das mulheres em
conflito e não na sociedade que parece estar ficando cada vez mais longe da valorização
da comunidade e da dependência interpessoal.

A feminilidade e o preconceito. O sexismo pode ser um problema especial para as


meninas, cujos talentos são valorizados nos homens, mas, no geral, ignorados ou
invalidados nas mulheres. Por exemplo, habilidade mecânica, sucesso nos esportes,
interesse por matemática e ciências, assim como por lógica, o pensamento orientado
para a elaboração de tarefas é mais valorizado nos homens do que nas mulheres.
Qualquer sentimento de orgulho ou de conquista pode facilmente ser invalidado nas
mulheres com estas características. Uma situação ainda pior é aquela na qual esses
talentos, valorizados nos homens, não combinam com os talentos e os interesses
valorizados nas mulheres (por exemplo, o interesse em parecer atrativa, tarefas
direcionadas para atividades de casa). Em uma situação assim, a menina não é
recompensada por estes talentos que possui e, além disso, é punida por emitir “um
comportamento não feminino” ou falhar ao trasmitir “comportamentos femininos”.
Quando os comportamentos da criança estão atrelados às características do
temperamento, ela terá problemas futuros. Por exemplo, gentileza, suavidade, afeição,
ser receptivo as outras pessoas, empatia, aquele/a que gosta de cuidar e apaziguar e
outras características semelhantes são altamente valorizadas e relacionadas à
feminilidade (WIDIGER; SETLLE, 1987; FLAHERTY; RICHMAN, 1989); entretanto,
estas não são características associadas com um temperamento difícil.

Para a menina que é punida por apresentar características que não condizem com
o ideal para mulheres, preconizado pela cultura, a vida pode ser particularmente difícil
quando ela tem irmãos (meninos) que não são punidos por terem comportamentos
idênticos, bem como irmãs que se esforcem por atingir os ideais femininos. A injustiça
não pode ser esquecida nessas situações. O ambiente exterior à casa contribui pouco,
nesse caso, para melhorar o problema, já que os mesmos valores são cultivados na
cultura. Seria difícil imaginar que uma criança não crescesse acreditando que haveria
algo de errado com ela.

Em minha clínica, percebemos que esta situação parece ser comum nos
pacientes borderline. Ficamos impressinados com o número de pacientes que são
talentosos em áreas altamente valorizadas nos homens, mas pouco, em mulheres. O
nosso grupo de terapia com pacientes borderline é composto inteiramente por mulhres,
e o tópico frequente das discussões é a dificuldade que as pacientas experienciam
quando crianças, visto os seus interesses e talentos parecerem mais masculinos do que
femininos. Outra exeperiência comum que tem crescido nas famílias é a valorização
mais dos meninos do que das meninas ou, pelo menos, aquelas dão a eles mais espaço
para agir, privilégios e menos punição para os comportamentos que fazem as meninas
sofrerem. Embora o sexismo seja apenas um fato, a sua relação com o BPD, como fora
descrito aqui, é claramente especulativa. Precisamos, assim, de mais dados de pesquisa
para este ponto.

Tipos de famílias invalidantes

Meus colegas e eu temos observado que há três tipos de famílias invalidantes


entre os pacientes em nossas clínicas: a “caótica”, a “perfeita” e a menos comum que é a
“típica”.

Famílias Caóticas. Na família “caótica”, há muitos problemas sérios com


abusos, financeiros ou pais que estão fora de casa por um grande período de tempo; em
qualquer um dos casos, pouca tempo e atenção são dados às crianças. Por exemplo, os
pais de uma das minhas pacientes passavam quase todas as tardes e noites em um bar.
As crianças chegavam em casa, depois da escola, e encontravam a casa vazia e tinham
que se alimentar e se organizarem sozinhas à noite. No geral, elas tinham que ir à casa
dos avós para jantar. Quando os pais chegavam em casa, eles eram instáveis; o pai
estava sempre bêbado, e eles poderiam tolerar apenas algumas das exigências das
crianças. As necessidades das crianças em um tipo de família assim são desconsideradas
e, consequentemente, invalidadas. Millon (1987ª) sugere que o crescimento desse tipo
de famíla, ou seja, a caótica, pode ser o responsável pelo aumento do BPD.

Famílias Perfeitas. Na família “perfeita”, os pais, por uma razão ou outra, não
podem tolerar que os seus filhos mostrem emoções negativas. Um tipo de postura assim
pode ser o resultado de alguns fatores, incluindo outras exigências na vida dos pais (por
exemplo, um grande número de crianças na família ou trabalhos estressantes),
inabilidade em tolerar afeto negativo, quando estão centrados neles próprios ou nos
medos ingênuos de estragar uma criança com temperamento difícil. De acordo com a
minha experiência, quando se pergunta diretamento aos membros desse tipo de família
acerca de seus sentimentos em relação ao membro familiar borderline, eles expressam
um sentimento de entendimento (simpatia). Entretanto, isto não é verdadeiro, esses
membros, no geral, expressam consistentes atitudes invalidantes – por exemplo, ao
mostrarem surpresa pelo fato de o indivíduo borderline não conseguir controlar os seus
sentimentos. “Um membro dessa famíla sugeriu que o problema de sua filha poderia ser
resolvido se ela rezasse mais”.

Famílias Típicas. Quando, pela primeira vez, observei o estilo de ambiente


invalidante, eu o chamei de “a síndrome do estilo americano”, já que ele é prevalente na
cultura americana. Entretanto, quando eu dei uma palestra na Alemanha, os meus
colegas alemães me disseram que esta poderia ser chamada de “síndrome do estilo
alemão”. É possível que este seja um produto da cultura ocidental. Alguns teóricos que
estudam a emoção têm comentado sobre a tendência, nas sociedades ocidentais, de dar
ênfase ao controle cognitivo emocional e de focar no atingir os seus objetivos como
critério para um indivíduo de sucesso. O self (ou si-mesmo ou ainda identidade)
individual na cultura ocidental é definido por limites precisos entre o self e os outros.
Em culturas que têm este tipo de visão, é sabido que o comportamento de pessoas
adultas é mais controlado por forças internas do que externas. “O controle do self , nesse
contexto, refere-se à habilidade de as pessoas controlarem o seu próprio
comportamento, ao utilizarem pistas internas e alguns recursos. Ao definir-se de forma
diferente – por exemplo, para definir o self em relação aos outros ou para ser alguém
dependente do ambiente (field dependent) – ele/ela é considerado como alguém imaturo
e com características patológicas ou, pelo menos, aquele que é contrário à boa saúde e
ao funcionamento da sociedade de maneira tranquila (smooth) (PERLOFF, 1987).
(Ainda que essa concepção do self do indivíduo esteja na cultura ocidental, ela não é
universal: nem entre culturas nem na cultura ocidental propriamente).

Um ponto chave aqui deve ser levado em conta. Dentro de alguns limites, um
estilo cognitivo invalidante não é prejudicial para todas as pessoas ou em todos os
contextos. As estratégias de controle emocional por determinada família podem ser até
úteis às vezes para a pessoa que se enquadra, em seu temperamento, a este tipo de estilo
e que pode aprender ter esta atitude e o controle emocional. Por exemplo, a pesquisa,
realizada por Miller e seus colaboradores (EFRAN; CHORNEY; ASCHER; LUKENS,
1981; LAMPING; MOLINARO; STEVENSON, 1985; MILLER, 1979; MILLER;
MANAGAN, 1983; PHIPPS; ZINN, 1986), indica que os indivíduos que tendem a ser
psicologicamente “embotados” (pessoas que têm dificuldade em perceber as coisas)
tratam sinais relavantes, quando se veem frente a eventos potencialmente adversos,
mostrando baixo e pouco estímulo psicológico, subjetivo e comportamental, menos do
que os indivíduos que tendem a monitorar ou a reagirem a estes sinais. Knussen e
Cunningham (1988) reavaliaram a pesquisa e verificaram que existe a crença no seu
próprio controle de comportamento, no que diz respeito aos resultados negativos, ao
invés de a culpa recair sobre as outras pessoas (uma crença comum na família
invalidante), e aquela está relacionada a resultados mais favoráveis futuros em muitas
áreas. Portanto, o controle cognitivo da emoção pode ser positivo em determinadas
circunstâncias. Na realidade, essa abordagem colocou estradas de ferro nos Estados
Unidos, construiu a bomba, nos levou à escola e colocou edifícios nas grandes cidades!

O único problema aqui é que essa abordagem “apenas funciona quando ela
funciona”. Ou seja, falar às pessoas que têm a capacidade de regularem o controle de
suas emoções é mais fácil do de dizer isto para um indivíduo que não tem esta
habilidade. Por exemplo, uma mãe com a qual eu estava trabalhando tinha uma filha de
14 anos que apresentava um temperamento “difícil” e uma filha com 5 anos, com um
temperamento mais “fácil”de lidar. A filha mais velha tinha dificuldades em controlar a
raiva, principalmente quando a sua irmã menor a provocava. Eu estava tentando ensinar
à mãe dela como validar as reações emocionais de sua filha. Depois que a irmã menor
derrubou a irmã de 14 no chão, esta gritou com a sua irmã e saiu correndo da sala,
deixando a sua irmã menor chorando. A mãe disse muito satisfeita que tinha validado as
emoções de sua filha mais velha dizendo o seguinte: “Mary, eu não posso entender por
que você ficou brava. Mas, no futuro, você tem que controlar as suas explosões”. Era
difícil para a mãe da menina perceber que ela tinha invalidado as dificuldades de sua
filha em controlar as suas emoções. Nos casos de pessoas reativas emocionalmente e
vulneráveis, ambientes invalidantes simplificam em demasia os problemas dessas
pessoas. O que outras pessoas têm sucesso ao realizar – controlar emoções, a expressão
emocional – os indivíduos borderline podem saír vitoriosos em apenas
esporadicamente.

Distúrbio Emocional e Ambientes Invalidantes: Um Ciclo Vicioso Transacional

Uma análise transacional sugere que um sistema pode originalmente ser


constituído por uma criança pouco vulnerável em uma família um pouco invalidante,
mas este pode, muitas vezes, evoluir para uma na qual o indivíduo e o ambiente familiar
passem a ser altamente sensíveis, vulneráveis e invalidantes uns com os outros. Chess e
Tomas (1986) descreveram várias maneiras pelas quais uma criança temperamental,
tímida, com problemas de atenção e insistente pode dominar, ameaçar e desorganizar os
pais cuidadosos. Paterson (1976; PATERSON; STOUTHAMER-LOEBER, 1984)
também escreveu bastante sobre os comportamentos interativos da criança e da família
que levam a padrões de comportamento mutuamente coercitivos de todos aqueles que
partcipam do sistema. Com frequência, as crianças e os seus cuidadores formam e
reforçam comportamentos extremos e coercivos entre eles. Alternadamente, esses
comportamentos coercivos depois potencializam o sistema invalidante e coercivo,
levando a mais, e não pouco, a comportamentos disfuncionais no sistema inteiro. É
preciso lembrar a citação da Bíblia “ ... para aquele que tem, será dado mais; para aquele
que não tem, mesmo que pense que tem, dele será tirado” (Lucas 8:18; a Bíblia de
Jerusalém, 1996).

Não se discute que a criança, emocionalmente vulnerável, desencadeia, em seu


ambiente, muitas demandas. Pais e outros cuidadores têm que ser mais vigilantes, mais
pacientes, mais compreensivos e flexíveis e mais dispostos a colocar os seus próprios
desejos para a criança de forma a esperarem quando estes superarem as capadicades das
crianças. Infelizmente, o que acontece frequentemente é que a resposta da criança
quanto à invalidação realmente reforça o comportamento invalidante da família. Falar à
criança que o seu comportamento é “idiota” ou indevido pode fazer com que a criança
para de ter este tipo de comportamento. Muitas pessoas, incluindo aqueles com
vulnerabilidade emocional, recuam e parecem sentir-se melhor quando as suas emoções
são salientadas. A invalidação é negativa e, então, inibe o comportamento que a segue.

O ambiente “de controle”, descrito por Chess e Thomas (1986), é uma variação
ou outro exemplo extremo do ambiente invalidante relatado aqui. O ambiente
controlador constantemente molda o comportamento da criança, mais de acordo com as
preferências e as conveniências da família do que das as necessidades atuais e futuras da
criança. Nessa situação, certamente, a validação do comportamento da criança como ele
se apresenta não é levado em conta. Quando a criança se torna madura, as tentativas
dela de ter poder são inevitáveis, mas, no ambiente, não raras vezes, procura-se acalmá-
la e deixar de lado a questão e, outras vezes, há um controle realizado de forma rígida.
Dependendo do temperamento da criança, o resultado final do ato de acalmá-la é o de
torná-la uma tirana (autoritária), ou com uma passividade negativa ou pode ocorrer de
ela apresentar ambas as características. A forma como isso se desenvolve é descrita
repetidamente em manuais para os pais.

Na essência, o erro na família é duplo. Primeiro, os cuidadores cometem um erro


na formação da criança. Ou seja, eles esperam outros comportamentos, diferentes do
que a criança é capaz de emitir. Por exemplo, por um lado, a punição excessiva e o
oferecer um modelo insuficiente, assim como, por outro lado, a instrução, o
treinamento, a liderança e o reforço a seguir. Esse tipo de modelo cria um ambiente
negativo para a criança, no qual o que seria necessário não ocorre e a punição se torna
inevitável. Como resultado, o comportamento negativo emocional da criança fica pior,
incluindo os comportamentos expressivos que estão associados à emoção. Esses
comportamentos acabam terminando em punião, geralmente por desencadear
consequências negativas para os cuidadores que não conseguem se controlar.

Aqui também os cuidadores cometem o segundo erro: eles reforçam o valor


funcional dos comportamentos expressivos extremos e extinguem o valor funcional dos
comportamentos expressivos moderados. Esta forma de acalamar (apaziguar), depois de
demonstrações emocionais extremas, pode, de forma indesejável, criar modelos de
comportamento associados ao BPD no adulto. Quando o ato de acalmar, realizado por
outras pessoas não ocorre ou acontece de forma imprevisível, a não evitação de
condições adversas imita o paradigma aprendido, ou seja, de que não se tem mais
salvação: é esperado que os comportamentos passivos e irrecuperáveis aumentem. Se os
comportamentos passivos e irrecuperáveis forem também punidos em outras situações,
a pessoa se depara com um dilema indesejável e, provavelemente, ficará vacilando entre
comportamentos expressivos emocionalmente extremos assim como comportamentos
passivos e sem recuperação, igualmente extremos.

Desequilíbrio (distúrbio) emocional e comportamentos borderline

Muito pouco no comportamento humano não é afetado pelo aflorar da emoção e


pelos estados de humor. Esse fenômeno diverso como conceitos do self, das atribuições
do self , da percepação do controle, o aprendizado de habilidades e performances, os
modelos de recompensa própria (do self ou autorecompensa) e a demora na gratificação
é afetado pelos estados emocionais (ver IZARD; KAGAN; ZAJONC; 1984; GARBER;
DODGE; 1991, para revisão). Esta tese sugere que a maioria dos comportamentos
borderline são considerados tanto tentativas por parte do indivíduo de expressar
emoções intensas ou são resultados de desequilíbrio (distúrbio) emocional. O
desequilíbrio (distúrbio) emocional é de forma dupla o problema que o indivíduo está
tentando resolver e o motivo de problemas subsequentes. A relação entre os padrões de
comportamento borderline e o desequilíbrio emocional é descrita na Figura 2.2: ela
mostra a relação entre o desequilíbrio emocional e os padrões de comportamento, de
acordo com a teoria biosocial.

Tabela: Disfunção no controle da emoção – Ambiente invalidante –


Vunerabilidade emocional (Instabilidade emocional): instabilidade de comportamento,
interpessoal, do self e cognitiva.

Desequilíbrio emocional e comportamentos impulsivos

Comportamentos suicidas, assim como outros impulsivos e disfuncionais, são


geralmente considerados comportamentos de soluções inapropriadas para o problema do
excessivo, incontrolável e profundo sentimento de dor. O suicídio, certamente, é a
última forma de mudar o estado afetivo de alguém (nós acreditamos nisso). Outros
comportamentos menos letais (como os parasuicidas) podem também ser efetivos. A
overdose, por exemplo, leva a grandes perídos de sono; porém, o dormir, por outro lado,
tem uma influência importante na regulagem da vulnerabilidade emocional. Cortar ou
queimar o corpo parecem ter propriedades importantes no regular a emoção. O
mecanismo aqui parece não estar claro, mas é comum ouvir, nos relatos dos indivíduos
borderline, que, agindo dessa forma, há uma considerável diminuição na ansiedade e
uma variedade de outros estados emocionais negativos intensos ocorrem depois de
terem se cortados (LEINBENLUFT; GARDNER; COWDRY, 1987).

O comportamento suicida, incluindo as ameaças de suicídio e o parasuicídio,


pode também ser muito produtivo para que sejam aflorados comportamentos de ajuda
do ambiente – ajuda esta que pode ser efetiva na redução da dor emocional. Em muitas
circunstâncias, de fato, o comportamento é a única forma pela qual o indivíduo pode
fazer com que outras pessoas prestem atenção nelas e tentem diminuir a sua dor. Por
exemplo, o comportamento suicida é a forma mais efetiva para um indivíduo não
psicótico de ser aceito em uma unidade de psiquiatria de pacientes internados. Muitos
terapeutas dizem que os seus pacientes podem e devem lhes telefonar se sentirem que
vão se suicidar. A equipe, em uma unidade psiquiátrica, com pacientes internos em
minha área, relatava um dos nossos pacientes dizia que a pessoa encarregada teria que
voltar, já que aquela tinha uma voz que a comandava, dizendo-lhe para cometer um
suicídio. Na nossa população clínica de mulheres borderline com características
parasuicidas, a maioria relatou que última possibilidade de chamar a atenção para a
transforamação do ambiente é o comportamento parasuicida.

Infelizmente, o caráter instrumental das ameaças do suicida e do parasuicida é


frequentemente o mais saliente para os terapeutas e os teóricos que trabalham com
indivíduos borderline. Portanto, as tentativas de suicídio e outros comportamentos que
têm a intenção de se automutilarem (ou se machucarem) são sempre referidos como
“manipuladores”. A base desta ideia está na sensação dos terapeutas de se sentirem
manipulados. Como eu havia discutido no Capítulo 1, entretanto, é um erro lógico dizer
que, se um comportamento tem um resultado particular, o ator, dessa forma, usou este
comportamento para trazer à tona o pretendido efeito. A visão do comportamento
suicida como manipulador, na ausência de uma avaliação da real intenção do
comportamento, pode trazer efeitos extremamente deletérios. Essa questão é discutida
futuramente no Capítulo 15, no qual eu descrevo as estratégias de tratamento para os
comportamentos suicidas.

Desequilíbrio Emocional e Distúrbio de Identidade

Geralmente, as pessoas formam a identidade do self por meio de suas próprias


observações acerca de si próprias e da reação dos outros em relação a elas. A
consistência emocional e a previsibilidade, no decorrer do tempo, assim como situações
semelhantes, são prerequisitos para o desenvolvimento dessa identidade. Todas as
emoções envolvem algum elemento de preferência de uma abordagem de evitação. Um
noção de identidade, entre outras coisas, é o contingente na preferência ou no gostar de
algo de forma consistente. Por exemplo, uma pessoa que gosta de estar sempre
desenhando e pintanto pode desenvolver uma imagem de si própria que inclui aspectos
da identidade de um artista. Outras pessoas, quando a observam, também podem reagir
à pessoa como uma artista, futuramente desenvolvendo a imagem dela. Classificações
emocionais imprevisíveis, contudo, levam a um comportamento imprevisível e a uma
inconsistência cognitiva, portanto um conceito estável do self ou do senso de identidade
não se desenvolvem.

Uma tendência dos pacientes borderline de inibir ou tentar inibir repostas


emocionais pode também contribuir para a ausência de um senso forte de identidade. A
apatia, associada à inibição do afeto, é experienciada como um sentimento de vazio,
posteriormente contribuindo para uma ideia do self inadequada (algumas vezes de
completa ausência). De forma parecida, se o senso (o sentir) de um indivíduo sobre
eventos não é “correto” ou “correto” de forma imprevisível – e a situação na família
invalidante – pode-se esperar, assim, que aquele desenvolva uma grande dependência
em relação a outros. Essa dependência, especialmente quando se trada de preferências,
ideias e opiniões, simplesmente, aumentam os problemas em relação á identidade e,
forma-se, portanto, um ciclo vicioso que começa novamente.

Desequilíbrio Emocional e Caos Interpessoal

Relações interpressoais efetivas são bastante benéficas tanto para o senso do self
estável quanto e a capacidade para a espontaneidade na expressão emocional. Relações
bem sucedidas também requerem a capacidade de regular as próprias emoções de
maneiras apropriadas, de controle do comportamento impulsivo e de tolerância a
estímulos que produzem dor em determinado grau. Sem essas capacidades, é
compreensível que indivíduos borderline desenvolvam relações caóticas. Dificuldades
como a raiva e com a expressão da mesma, em particular, impedem a manutenção de
relações estáveis.

Além disso, como eu discuto no Capítulo 3, a combinação de vulnerabilidade


emocional com um ambiente invalidante leva ao desenvolvimento de expressões de
emoção negativas mais intensas e persistentes. Essencialmente, o ambiente invalidante,
no geral, deposita no indivíduo uma agenda de reforço intermitente, na qual as
expressões de sentimentos intensos negativos ou de pedidos de ajuda são
esporadicamente reforçados. Observa-se que, em uma agenda como esta, cria-se um
comportamento persistente. Quando as pessoas estão, no momento, envolvidas com
pessoas borderline, elas também caem na armadilha de acalmá-la – às vezes desistindo
e reforçando expressões emocionalmente negativas em alto grau e intensidade e, em
outras circunstâncias, não fazem isto – eles estão, dessa forma, recriando condições para
a pessoa aprender comportamentos destrutivos de relacionamento.

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