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CRENÇAS CENTRAIS E DISTORÇÕES: TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL

COM ADOLESCENTES

O objetivo deste texto é demonstrar algumas formas de trabalhar na clínica, com


adolescentes, a identificação das crenças centrais e das distorções cognitivas, bem como
apresentar recursos/técnicas para promover a flexibilização. O trabalho inicia-se com a
psicoeducação sobre o modelo cognitivo (situação, pensamento, emoção e comportamento)
e a tríade cognitiva (como me vejo, como vejo o outro e como vejo o meu futuro), após isso,
psicoeduca-se sobre o que são as crenças centrais, como são formadas e como
relacionam-se com a vida do paciente. Para essa explicação pode-se usar a metáfora da
árvore como recurso para ajudar na compreensão do paciente. As crenças centrais podem
ser comparadas com as raízes da árvore, são rígidas e bem fixadas, são formadas de
acordo com as vivências desde o nascimento, pelos fatores ambientais, genéticos e
temperamentais, elas moldam a forma de pensar. Para Psicoeducar sobre quais sãos as
crenças centrais (Desamparo, Desamor e Desvalor), tem o jogo das crenças da editora
Sinopsys, mas o terapeuta também pode confeccionar cartões explicando sobre as crenças
e entregar ao paciente para que ele possa ler e ver com qual ou quais mais se identifica. Ao
identificar a(s) crença(s), o registro de pensamento disfuncional (RPD), deverá ser dado
como tarefa de casa. Por meio do registro, terapeuta e paciente relacionam os
pensamentos anotados, e socraticamente os submetem a uma avaliação, buscando
evidências a favor e contra, vantagens e desvantagens, se existem novas perspectivas para
pensar a situação e se posicionar. Com este exercício, a flexibilização cognitiva está sendo
promovida. Caso o paciente tenha dificuldade em cumprir com a tarefa de casa ou
identificar seus pensamentos em sessão, o terapeuta pode levar uma lista de pensamentos
que remetem às crenças e promover o jogo verdade ou mentira. O terapeuta fala uma frase
sobre o paciente e ele precisa responder verdade ou mentira, ou, não acredito de jeito
nenhum, acredito um pouco ou acredito muito, depois inverte e assim sucessivamente.
Com esse jogo é possível também identificar as crenças por meio dos pensamentos que o
paciente aponta como seu. Alguns exemplos de frase são: Coisas ruins me acontecem;
Ninguém me ama ou se importa comigo; É mais importante colocar os desejos e as ideias
dos outros antes dos meus; As outras pessoas são melhores do que eu; As pessoas ficarão
com raiva ou aborrecidas se eu disser as coisas que realmente quero dizer; Eu não devo
mostrar os meus sentimentos para os outros; É importante que meus pais se envolvam em
tudo o que faço; Eu sou um fracasso. Outra forma de identificar as crenças centrais é
através da técnica seta descendente.

O terapeuta identifica um pensamento chave que ele suspeita ser diretamente derivado de
uma crença, e pergunta ao paciente o significado desse pensamento para ele. Acreditando
que este pensamento seja verdadeiro, o que isto significa ou diz a seu respeito, a respeito
do outro e do mundo? Segue fazendo estas perguntas até ele revelar uma ou mais crenças.
Para o trabalho de flexibilização aplicam-se os passos descritos anteriormente de
contestação e busca de evidências.

O trabalho para identificar e flexibilizar as distorções cognitivas, passa pelos mesmos


princípios. Psicoeduca-se sobre o que são as distorções e depois, por meio dos
pensamentos, identificam-se os erros cognitivos e consequentemente promove a
contestação e levantamento de evidências para chegar a um pensamento mais adaptado.
Na psicoedução o terapeuta explica que as distorções cognitivas são formas de pensar
distorcidas da realidade, padronizadas pelos eventos da vida e que geram grande
sofrimento para si próprio e/ou para os outros com quem convive. São expressas em
pensamentos automáticos disfuncionais, sendo um processamento de informações
emocionais equivocado, onde nossos esquemas mal adaptativos distorcem a realidade para
que esta se torne condizente com nossas crenças centrais de desamparo, desamor e
desvalorização. Na sequência, oferece uma lista contendo as distorções e lê com o
paciente, o pedindo para dizer quais aparecem com frequência, quase não aparecem e
nunca aparecem. É feito a anotação dessa relação e um dos objetivos é que o terapeuta na
sessão, ao identificar na fala do paciente uma distorção, sinalizar perguntando por exemplo:
Pedro, observou o pensamento que você acabou de trazer? Consegue identificar alguma
das distorções cognitivas que vimos? Caso o paciente não lembre, o terapeuta oferece a
lista, ou os cartões com as distorções para ele ler e tentar identificar a sua distorção. Feito
isso, será realizado o exame e contestação das distorções cognitivas, avaliando o grau da
crença/pensamento, perguntando como poderia provar que o pensamento está certo e se
ele é testável. Uma outra opção para psicoeducar e identificar as distorções ou erros
cognitivos é pelo canal Minuto Psíquico no Youtube, eles têm um vídeo abordando o
assunto. Os adolescentes aderem muito bem a esse recurso, o qual inclusive pode ser dado
como tarefa de casa para ser assistido e auxiliar no preenchimento do RPD de quatro
colunas, que solicita a anotação da distorção que cometeu, para que num próximo momento
seja contestada e dê uma resposta mais adaptativa. Nos atendimentos com adolescentes,
quando a reestruturação cognitiva formal, como foi mostrada, se mostrar difícil, partimos da
resolução de problemas para acessarmos as crenças centrais e as distorções, mas esse
assunto abordaremos em breve. Aguardem!!

Um grande abraço,

Ana Paula Moreira

CRP 06/105482

Psicóloga – Crianças e Adolescentes

Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental

Contato: 12-99231-3125

Dicas de leitura:
• Circe Salcides Petersen, Ricardo Wainer e colaboradores. Terapias cognitivo
–comportamentais para crianças e adolescentes: ciência e arte. Porto Alegre: Artmed, 2011;

• Judith S. Beck. Terapia cognitivo – comportamental. Teoria e Prática. Porto Alegre:


Artmed;

• NEUFELD, C. B. (Org.). Terapia cognitivo-comportamental para adolescentes: uma


perspectiva transdiagnóstica e desenvolvimental. Porto Alegre: Artmed, 2017;

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