Você está na página 1de 7

1

CBI of Miami
DIREITOS AUTORAIS

Esse material está protegido por leis de direitos autorais. Todos os direitos
sobre ele estão reservados.
Você não tem permissão para vender, distribuir gratuitamente, ou copiar
e reproduzir integral ou parcialmente esse conteúdo em sites, blogs, jornais ou
quaisquer veículos de distribuição e mídia.
Qualquer tipo de violação dos direitos autorais estará sujeito a ações
legais.

2
CBI of Miami
Técnicas Cognitivas em Terapia Cognitivo Comportamental com
Crianças e Adolescentes
Veruska Santos

As técnicas cognitivas são utilizadas para descobrirmos e modificarmos


os pensamentos automáticos desadaptativos que são uma parte importante da
TCC. Entendemos que existem padrões de pensamentos distintos nos diferentes
transtornos psiquiátricos e que ao modificarmos esses pensamentos reduzimos
significativamente os sintomas. (WRIGHT et al., 2008)
Nesse processo o primeiro passo é ajudarmos os pacientes a identificar
os pensamentos para depois modificá-los para uma forma mais realista e
adaptativa.
Dentre as técnicas para identificar os pensamentos automáticos
destacamos: reconhecimento das mudanças de humor; psicoeducação;
descoberta guiada; registro de pensamentos; exercícios de imagens mentais;
exercícios de role play e uso de questionários. E dentre as técnicas para
modificarmos os pensamentos automáticos ressaltamos: questionamento
socrático; uso de registros de mudança de pensamento; geração de alternativas
racionais; identificação de erros cognitivos; exame de evidências;
descatastrofização; reatribuição; ensaio cognitivo e uso de cartões de
enfrentamento.
O reconhecimento da mudança de humor é básico e importante para o
paciente pois é a mudança de humor que orientará o paciente a fazer seus
registros de pensamentos diários disfuncionais. Geralmente pensamentos
automáticos são carregados de resposta emocional, por isso, provocam
mudança de humor e os pacientes precisam estar atentos a isso.
Na psicoeducação, o terapeuta deve explicar alguns componentes
principais da TCC e sobre o modelo cognitivo acrescentando ideias específicas
para os pacientes, leituras e outros recursos educativos. Essas explicações
funcionam melhor se seguirem o fluxo da identificação da mudança de humor ou
se estiverem associadas aos pensamentos que foram discutidos ou descobertos

3
CBI of Miami
durante a sessão. Evite ser didático demais e parecer uma miniaula, lembre-se
do caráter colaborativo que pode e deve acontecer aqui também.
A descoberta guiada para identificarmos pensamentos automáticos é
conduzida pelo terapeuta que faz questionamentos que estimulam e emoção
lembrando aos pacientes que quando a emoção surge é bom sinal para
pensarmos em pensamentos automáticos. É importante ser específico a uma
situação específica e que possa ser lembrada e que essa situação seja recente
e não no passado distante. Evite pular de tópico e mantenha-se em um alinha
de questionamento e um tópico. Aprofunde, explore e pergunte que outros
pensamentos você teve na situação? Vamos tentar nos aprofundar um pouco
mais nisso, ok? Seja empático para entender e imaginar-se na mesma situação.
O Registro de pensamentos é a técnica cognitiva mais utilizada em TCC.
De acordo com muitos autores, somente o fato de ver os pensamentos
registrados em um papel já provoca alguma mudança nas cognições
desadaptativas. O registro pode ser feito logo no início da terapia e em todas as
fases da mesma e pode ser simples apenas com 3 colunas de registro como
situação, pensamento e emoções ou mais elaborado com colunas de erros
cognitivos e respostas alternativas.
A técnica de imagem mental é utilizada quando o paciente apresenta
dificuldade de identificar seus pensamentos automáticos e o terapeuta ajuda o
paciente a recriar na imaginação, abrindo uma tela mental, situações importantes
para entrar em contato com pensamentos e sentimentos que surgiram nessas
situações que o paciente não conseguiu se dar conta. O terapeuta deve
direcionar e usar estímulos sensoriais para recriar a situação. O tom de voz deve
ser incentivador e acolhedor demonstrando segurança e deve explorar o que o
levou para essa situação? O que passava em sua mente enquanto estava ali?
Como estava se sentindo antes da interação começar? O terapeuta deve
fazer perguntas que estimulem a lembrança da situação: Quem estava lá? Como
a outra pessoa apareceu? Como era o lugar? Você se lembra de algum cheiro
ou som? O que você estava vestindo? O que mais consegue se lembrar do
ambiente antes da interação? Conforme o ambiente for sendo descrito o
terapeuta deve fazer perguntas que intensifiquem a imagem e ajude o paciente
a aprofundar mais e acessar os pensamentos automáticos.
4
CBI of Miami
O role-play é uma técnica onde o terapeuta representa o papel de uma
pessoa na vida do paciente como o pai, um amigo, um irmão com o objetivo de
trazer à tona pensamentos automáticos. É importante preservar a relação
terapêutica, portanto, se seu paciente não conseguir entender que você apenas
representa um papel e continua dando apoio a ele, não escolha essa técnica. É
melhor fazer role plays relacionados a situações específicas e preocupações do
aqui e agora e não questões relacionais de longo tempo.
O questionamento socrático é uma técnica muito usada para modificarmos
pensamentos automáticos e é baseado num método criado por Sócrates que
usava uma série de perguntas provocativas para questionar as suposições
subjetivas das pessoas. O objetivo desta técnica é expor as cognições a um
exame lógico produzindo evidências que as conteste e propor uma alternativa
mais racional. De acordo com Edelman (2014) podemos utilizar várias perguntas
socráticas para questionar cognições irracionais:
1) Quais os fatos e quais as minhas percepções subjetivas?
2) Que evidências apoiam minhas percepções?
3) Que evidências contradizem minhas percepções?
4) Estou cometendo algumas distorções de pensamento?
5) Existe outra forma de perceber essa situação?

Outra técnica muito utilizada para modificarmos pensamentos


automáticos é o reconhecimento de erros/distorções cognitivas. Os erros
cognitivos são distorções que o paciente faz da realidade e que levam ele a
conclusões distorcidas e perpetuam pensamentos automáticos distorcidos.
Explicar sobre os tipos de erros cognitivos é importante. Isso pode ser
feito através de leituras em livros, por exemplo, no livro a mente vencendo o
humor, ou através de material que o terapeuta produzirá com as definições e
exemplos para o paciente pensar sobre seus erros cognitivos e reestruturá-los.
Dentre os erros cognitivos destacamos: pensamento preto e branco ou tudo ou
nada (ver tudo de forma polarizada- bom ou ruim- ignorando o meio termo),
generalização (tirar conclusões negativas sobre nós mesmos, outras pessoas e
situações da vida, baseados em indícios limitados), personalização (atribuir
caráter pessoal a tudo que nos acontece), filtragem (os pensamentos negativos
5
CBI of Miami
sobre si mesmo, os outros e o mundo distorcem o modo como percebemos
muitas situações), tirar conclusões precipitadas (estão pensando), acusar e pôr
a culpa nos outros (acusar e condenar as pessoa pelos próprios erros), rotular
(colocar rótulos em si mesmo e nos outros), prever catástrofes (prever desastres
iminentes...e se?), comparar (comparar com outras pessoas status, sucesso,
valor pessoal). Os nomes mudam de acordo com os autores, mas o
entendimento é o mesmo de que devemos identificar as distorções e corrigi-las.
Isso pode ser feito durante a sessão e solicitado como tarefa de casa.
O exame de evidências também é muito usado para questionarmos e
modificarmos pensamentos automáticos. Elaboramos uma lista das evidências
a favor e contra a validade de um pensamento automático e avaliamos e
geramos novas evidências para trabalharmos modificando o pensamento para
que esteja consistente com as evidências descobertas.
Exemplo: Pensamento Automático: Meu amigo não é mais meu amigo,
não gosta de mim.

EVIDÊNCIAS A FAVOR EVIDÊNCIAS CONTRA


TEMOS BRINCAMOS POUCO BRINCAMOS MENOS, MAS AINDA
BRINCAMOS
NÃO CONVERSAMOS MAIS TANTO SOMOS AMIGOS DESDE A
SOBRE TUDO ALFABETIZAÇÃO
ELE PREFERE BRINCAR E AINDA CONVERSAMOS SOBRE
CONVERSAR COM OUTRAS VIDEO GAME E SOBRE A ESCOLA
PESSOAS
ELE SEMPRE ME CONVIDA PARA
OS ANIVERSÁRIOS
SEMPRE SE MOSTRA AMIGO
QUANDO PRECISO

Pensamento Alternativo: É provável que tenhamos diminuído o convívio,


mas continuamos amigos. Talvez se eu me aproximar e conversar mais com ele
recuperemos a convivência.

6
CBI of Miami
A descatastrofização é quando o terapeuta tenta fazer o paciente ver que
suas crenças estão distorcidas pelas previsões de catástrofes e faz o paciente
ver o pior cenário para ajudá-lo a descatastrofizar. O terapeuta pergunta: Qual é
a pior coisa que poderia acontecer se isso for verdade? O que há de terrível em
não ter o que dizer? Você conseguiria aguentar isso por 15 minutos? Em
comparação a outras coisas como ter uma doença séria, como é se sentir
ansioso em relação a isso? O objetivo com as perguntas é ajudar o paciente a
desenvolver a confiança de que eles conseguem enfrentar situações por mais
temidas que sejam.
No ensaio cognitivo o paciente ensaia seus pensamentos e
comportamentos a uma situação estressante. O terapeuta solicita ao paciente
que pense sobre a situação; identifique pensamentos automáticos e
comportamentos; modifique os pensamentos através de uma técnica cognitiva;
ensaie o modo mais adaptativo de pensar e de se comportar; siga em frente
colocando em prática. O treino aumenta a chance de sucesso e de atingirem
seus objetivos.
Os cartões de enfrentamento são lembretes produzidos em terapia para
lembrar aos pacientes instruções que gostariam de dar a si mesmos para ajudá-
los a enfrentar situações estressantes. Os cartões de enfrentamento podem ter
dicas de intervenções, crenças que o paciente deve se lembrar ou imagens/fotos
que sejam importantes para os pacientes e devem ser levados na carteira e
usados em situações gatilho ou estressante para gerar respostas alternativas.

Referências Bibliográficas

EDELMAN, S. Basta pensar diferente. São Paulo: Ed Fundamento. (2014).

GREENBERGER E PADESKY. A mente vencendo o humor. Porto Alegre: Ed


Artmed. (2016)

WRIGHT, J.H; Basco, M & Thase, ME. Aprendendo a terapia Cognitivo


Conportamental:um guia ilustrado. Porto Alegre: Artmed. (2008).

7
CBI of Miami

Você também pode gostar