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Transtorno Obsessivo Compulsivo – TOC
Veruska Santos

O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é um transtorno que se


caracteriza pela presença de obsessões e/ou compulsões que consomem tempo
ou interferem de forma significativa no dia a dia do indivíduo afetando seu
trabalho, sua vida social e familiar trazendo prejuízo considerável e sofrimento
(Cordioli, 2008).
No DSM 5 o TOC deixou o grupo dos transtornos de ansiedade e ganhou
uma classificação distinta como TOC e Transtornos Relacionados. Os
transtornos relacionados são:

• Transtorno dismórfico corporal

• Transtorno de acumulação

• Tricotilomania

• Transtorno de escoriação (skin picking)

Critérios Diagnósticos do TOC no DSM-5

A – Presença de obsessões, compulsões ou ambas. Obsessões são definidas


por 1 e 2:

1. Pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que, em algum


momento durante a perturbação, são experimentados como intrusivos e
indesejados e que, na maioria dos indivíduos, causam acentuada ansiedade ou
sofrimento.

2. O indivíduo tenta ignorar ou suprimir tais pensamentos, impulsos ou imagens,


ou neutralizá-los com algum outro pensamento ou ação.

Compulsões são definidas por 1 e 2:

1. Comportamentos repetitivos (p. ex., lavar as mãos, organizar, verificar) ou atos


mentais (p.ex., orar, contar ou repetir palavras em silêncio) que o indivíduo se

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sente compelido a executar em resposta a uma obsessão ou de acordo com
regras que devem ser rigidamente aplicadas.

2. Os comportamentos ou os atos mentais visam a prevenir ou reduzir a


ansiedade e o sofrimento ou evitar algum evento ou situação temida; entretanto,
esses comportamentos ou atos mentais não têm uma conexão realista com o
que visam neutralizar ou evitar ou são claramente excessivos.

B – As obsessões ou compulsões consomem tempo (p. ex., tomam mais de uma


hora por dia) ou causam desconforto clinicamente significativo ou prejuízo no
funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do
indivíduo.

C – Os sintomas obsessivo-compulsivos não se devem aos efeitos fisiológicos


de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou a outra condição
médica.

D – A perturbação não é mais vem explicada pelos sintomas de outro transtorno


mental (p. ex., preocupações excessivas como no TAG; preocupação com a
aparência, como no transtorno dismórfico corporal; dificuldade de descartar ou
de se desfazer de pertences, como no transtorno de acumulação; arrancar os
cabelos, como na tricotilomania [transtorno de arrancar os cabelos]; beliscar a
pele, como no transtorno da escoriação [skin picking]; estereotipias, como no
transtorno de movimento estereotipado; comportamento alimentar ritualizado,
como nos transtornos alimentares; preocupação com substâncias ou jogo, como
nos transtornos relacionados a substâncias ou e transtornos aditivos;
preocupação com ter uma doença, como no transtorno de ansiedade de doença;
impulsos ou fantasias sexuais, como nos transtornos parafílicos; impulsos, como
nos transtornos disruptivos, de controle de impulsos e da conduta; ruminações
de culpa, como no transtorno depressivo maior; inserção de pensamento ou
preocupações delirantes, como nos transtornos do espectro da esquizofrenia e
outros transtornos psicóticos; ou padrões repetitivos de comportamento, como
no transtorno do espectro autista).

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Especificar se: com insight bom ou razoável; com insight pobre ou com insight
ausente.
Especificar se: Relacionado a tique: O indivíduo tem história atual ou passada
de um transtorno de Tique (DSM-5).
De acordo com Cordiolli (2008) as obsessões no TOC apresentam as
seguintes características: 1) são intrusivas e invadem a mente contra a vontade
do indivíduo, são difíceis de controlar ou de afastar, especialmente quando muito
graves, são indesejadas e são desagradáveis, causam desconforto, ansiedade
ou medo e se referem a temas como perigo, ameaça ou desastre, e não a
situações prazerosas. 2) As obsessões provocam resistência: induzem o
indivíduo a lutar contra tentar afastar, ignorar, suprimir ou neutralizar, geralmente
sem sucesso. E 3) são egodistônicas: seu conteúdo é indesejado e provoca
desprazer, medo e angústia e pode, ainda, ser estranho ao indivíduo,
contrariando seus valores morais ou seus desejos.
Cordiolli (2008) ressalta alguma compulsões comuns como: lavar as mãos
repetidas vezes para proteger-se de germes ou contaminação; verificações para
afastar dúvidas e incerteza; contar, repetir palavras ou frases, relembrar
repetidamente uma cena; fazer certas coisas um determinado número de vezes
(p. ex., pentear o cabelo diversas vezes para o mesmo lado) para evitar alguma
falha ou desgraça; alinhar os objetos para que fiquem na posição “certa”;
acumular ou armazenar objetos sem utilidade e não conseguir descartá-los;
repetições diversas: tocar, olhar fixamente, bater de leve, raspar, estalar os
dedos ou as articulações, sentar e levantar, entrar e sair de um filme no cinema
ou peça no teatro.
Alguns exemplos de evitações para Cordiolli (2008) são: 1) objetos:
corrimãos, botão do elevador, interruptores, mouse, teclado de computadores,
telefones públicos, dinheiro, toalhas e lençóis de hotel, lixeira; 2) locais ou
situações: banheiros públicos, hospitais, clínicas, cemitérios, bancos de ônibus
ou de praças públicas; 3) pessoas: cumprimentar, olhar, chegar perto ou tocar
certas pessoas (“aidéticas”, que tenham algum ferimento ou curativo aparente,
homossexuais).

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As neutralizações são atos físicos visíveis ou atos mentais cuja função é
neutralizar pensamentos, impulsos ou imagens. Para Cordiolli (2008) alguns
exemplos de neutralizações são: tentar interromper ou afastar pensamentos ou
palavras indesejáveis; procurar se distrair; tentar convencer a si mesmo de que
o pensamento não é verdadeiro; anular um pensamento, imagem ou palavra
“ruins” com um pensamento imagem ou palavra “bons”; argumentar consigo
mesmo; justificar-se ou buscar compensações; repassar diálogos mentalmente
para ter certeza; repassar cenas, sequência de fatos, diálogos, recriminações
(ruminações); tentar obter garantias com as outras pessoas de que não cometeu
um erro ou de que fez a coisa certa; e perguntar.
Estudos de imagens mostram que pessoas com TOC apresentam
atividade cerebral diferente das outras pessoas nas seguintes direções:
comunicação prejudicada entre o córtex órbito frontal (OFC), o núcleo caudado
e o tálamo. O tálamo se torna hiperativo e envia sinais de preocupação
“intermináveis”. Isso explica por que o cérebro do paciente com TOC está
constantemente enxergando o mundo com a lente “do perigo iminente” e, justifica
o fato de um paciente obsessivo-compulsivo precisar repetir ações como verificar
se a porta está fechada (ebook Secad).
A prevalência do TOC é aproximadamente de 2,5% da população em
geral. E de acordo com Miguel et al., 2008, mais de 50% dos pacientes com TOC
tiveram o início dos sintomas na Infância. O TOC acomete intenso sofrimento às
crianças, pois atividades simples do dia a dia, como comer, tomar banho, se
vestir e participar de brincadeiras podem tornar-se muito complexas e difíceis,
fazendo com que a criança sinta vergonha e defectiva ao notar que é diferente
em relação às outras crianças. (Cordiolli, 2008).
Pesquisas mostram que a TCC é muito utilizada para o tratamento do
TOC e que a associação entre Inibidores da Recaptura de Serotonina (ISR) +
Exposição e Prevenção de Resposta (EPR) é melhor que tanto ISR como EPR
sozinhos.
A TCC inicia o tratamento do TOC com a psicoeducação das obsessões
e compulsões e do curso do transtorno e do tratamento. É importante que o
paciente consiga diferenciar e registar em automonitorias, suas obsessões e

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compulsões. As automonitorias podem ser de situações, duração e outras que
consiga oferecer para o paciente o perfil do seu transtorno.
Após a psicoeducação da fisiologia do medo e da ansiedade, o trabalho
cognitivo como erros cognitivos, teste de realidade (confrontar as crenças
disfuncionais), reestruturação e o treinamento em fazer o oposto do que o TOC
nos diz e o treinamento em respiração será fundamental para preparar o paciente
para a exposição e prevenção de respostas.

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A terapia de exposição e prevenção de respostas (EPR) envolve organizar
as exposições para o paciente enfrentar seus medos usando o entendimento
cognitivo e o treinamento em respiração. Na exposição o paciente é colocado
em contato com os objetos ou situações temidas a fim de provocar níveis
crescentes de ansiedade.
Na prevenção de resposta o paciente é estimulado a não iniciar o ritual ou
outras estratégias de redução de ansiedade em resposta ao desconforto gerado
pela exposição a situação temida. O objetivo da EPR é promover a Habituação
que alcançamos quando reduzimos a ansiedade através da manutenção da
exposição.
A exposição inicia-se com itens de baixa intensidade na escala de
hierarquia dos sintomas. A exposição pode ser inicialmente imaginária ou virtual
para depois ser ao vivo.
Na Prevenção de resposta o paciente é encorajado a resistir aos rituais,
treinado para avaliar o nível de ansiedade em intervalos frequentes de acordo
com a escala SUDS, o paciente precisa continuar a exposição até os níveis de
ansiedade diminuir até menos de 50% do pico e repetir o exercício de exposição
quantas vezes for possível na sessão e fora da sessão.
As 10 etapas da Exposição e Prevenção de Respostas proposta por
Cordiolli (2008) são:

1. Comece os exercícios pelas compulsões ou evitações;


2. Comece pelos exercícios mais fáceis;
3. Escolha apenas uma tarefa por semana;
4. Faça o exercício até a aflição desaparecer;
5. Repita os exercícios o maior número de vezes possível;
6. Identifique as situações – gatilho e programe os exercícios com
antecedência;
7. Faça alguns exercícios na sessão;
8. Lembre-se que a aflição é passageira;
9. Use lembretes;
10. Seja generoso consigo mesmo.

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Importante psicoeducar a família para que a mesma não reforce o TOC e
forneça reasseguramento para o paciente fazendo mudanças na organização da
casa, assumindo responsabilidades que seriam do paciente ou mudando hábitos
de ir a lugares, fazer coisas e encontrar pessoas por conta do TOC do familiar.
A prevenção de recaídas envolve identificar as situações gatilho e aplicar
tudo que o paciente aprendeu em relação ao manejo do TOC.

Referências Bibliográficas

CORDIOLI, A. V. 2008. Vencendo o transtorno obsessivo-compulsivo.


Porto Alegre, Artmed, 240 p.

MIGUEL, E.; FERRÃO, Y.; ROSÁRIO, M.C.; et al. The Brazilian research
consortium on obsessive-compulsive spectrum disorders: recruitment,
assessment instruments, methods for the development of multicenter
collaborative studies and preliminary results. Revista Brasileira de
Psiquiatria, 30:185-196. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-44462008000300003

Manejo Terapêutico para portadores de TOC – SECAD – Sistema de


Educação Continuada a Distância. Disponível em: www.secad.com.br

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