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FACULDADE HERRERO

JANETE LUZIA BEDINARSKI; LIRIA RAQUEL DRULA; ROBERTO CARLOS


ZIMANSKY; VITOR MARCELO GEVAERD DO NASCIMENTO

REFLEXÕES ACERCA DO TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO NA


INFÂNCIA

Curitiba
2018
Janete Luzia Bedinarski; Liria Raquel Drula; Roberto Carlos Zimansky; Vitor Marcelo
Gevaerd Do Nascimento

REFLEXÕES ACERCA DO TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO NA


INFÂNCIA

Artigo, apresentado ao curso de


Psicologia da Faculdade Herrero,
como parte das exigências bimestrais
da disciplina de Projeto
Interdisciplinar.
Orientador: Profº Alfredo Hauer Jr.

CURITIBA
2018
Sumário

Introdução.............................................................................................................................................3
Como reconhecer os sintomas do transtorno em crianças?.........................................................4
O transtorno compulsivo em crianças se manifesta do mesmo modo que em adultos?...........4
Quais são os sintomas mais comuns observados nessa faixa etária?........................................5
Como é possível na criança diferenciar um comportamento normal de sintomas obsessivo
compulsivo?.........................................................................................................................................6
Rituais normais ao longo da vida......................................................................................................6
Superstições.........................................................................................................................................7
Crianças muito supersticiosas têm mais risco de desenvolver transtorno obsessivo
compulsivo?.........................................................................................................................................7
Quando os rituais ou “manias” se transformam em sintomas?.....................................................7
É possível prevenir o transtorno obsessivo compulsivo? Quando se deve procurar
tratamento?..........................................................................................................................................8
Como se faz o tratamento obsessivo compulsivo em crianças e adolescentes?.......................8
Artigo sobre a investigação do TOC na infância.............................................................................9
Considerações Finais........................................................................................................................11
Referências Bibliográficas................................................................................................................12
Introdução

O transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) predomina em torno de 2% da


população em geral ao longo da vida, e a estimativa é que cerca de metade desses
pacientes tenham tido alguns dos sintomas na infância ou adolescência. Até a
década de 1980, quase não se ouvia falar em TOC na infância. Em 1989 que o
Instituto Nacional de Saúde Mental (NIMH), nos Estados Unidos, divulgou o primeiro
estudo sobre crianças e adolescentes com TOC. O NIMH comprovou uma taxa
anual de TOC em volta de 0,7%. Ao mesmo tempo outro estudo nos Estados Unidos
obteve taxas maiores, com 3% para o TOC e 19% para os sintomas obsessivo-
compulsivos. Apesar dos estudos mostrarem que o TOC em crianças e
adolescentes é constante, é difícil dar um diagnóstico certo do transtorno na
infância, sendo que toda criança pode sofrer de ansiedade e medos. Alguns
sintomas obsessivo-compulsivos costumam ser normais na infância, devendo ser
considerado patológico apenas quando tomam tempo, causam sofrimento e
interferem no dia a dia. A criança pode reconhecer ou não seus sintomas excessivos
e/ou sem sentido. Quando reconhece às vezes esconde por medo ou vergonha.
Crianças menores dificilmente tem noção de que os sintomas são exagerados ou
não. Quando se identifica um comportamento obsessivo, não somente os adultos,
mas também os adolescentes e crianças demoram buscar ajuda.
Neste trabalho serão exploradas
algumas facetas do TOC, e para tanto será utilizada a metodologia de perguntas e
respostas. Além disso, ao final do trabalho será explanado a respeito de um artigo
que estuda uma maneira de tratamento para o transtorno obsessivo compulsivo.

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Como reconhecer os sintomas do transtorno em crianças?

Os sintomas muitas vezes são difíceis de ser percebidos. As crianças


normalmente são caladas, tímidas, perfeccionistas, com tendência a se isolar
evitando contatos com outras pessoas. Também é comum alterações do
comportamento, como dificuldade no convívio com a família e colegas, medo,
dificuldade de concentração, insegurança, mudança nos hábitos como gastando
mais tempo no banho, escovando os dentes, lavando as mãos por várias vezes e
outras características. O que deve ser muito bem observado é que se estas
mudanças de hábito começam a ser praticada com frequência, demandando de um
tempo excessivo e causando sofrimento na criança.

O transtorno compulsivo em crianças se manifesta do mesmo modo que em


adultos?

Estudos apontam que o TOC se trata de um transtorno onde é percebida


algumas divergências em relação à idade dos portadores dele. É comprovado
cientificamente que existe diferença na classificação do TOC de acordo com a idade
e o sexo do indivíduo. Já em crianças com TOC, os meninos de menos idade são os
mais afetados, e em idade maiores os números entre homens e mulheres
praticamente se igualam, sendo um pouco maior entre as mulheres.
Em média 20% das crianças que fizeram parte de uma pesquisa do National
Institute of Mental Health (NIMH), desenvolveram tiques. Quando uma criança
apresenta diversos tiques nos movimentos corporais ou na fala por em média um
ano, ela pode ser diagnosticada com Síndrome de Tourette (ST). Na maioria dos
casos, há um histórico familiar, provavelmente o pai, ou a mãe, ou irmão (ã), que
seja parente de primeiro grau possui algum sintoma relacionado ao TOC ou ST. Os
estudos têm comprovado que quanto antes se observar os sintomas, maior a chance
de um outro integrante da família aparecer com os sintomas do TOC e ou ST.
O número de crianças e adolescentes com pensamentos
obsessivos são bem maiores do que em adultos. Isso talvez explique o porquê de
alguns rituais compulsivos são evidentes na infância. São frequentes as compulsões

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nesta etapa da vida como alivio de algum mal-estar, ansiedade entre outros, sem
relação com o medo referente a ela.

Quais são os sintomas mais comuns observados nessa faixa etária?

Deve-se destacar a importância de que cada paciente tem sua própria


história. O TOC normalmente apresenta, a princípio, apenas uma obsessão e/ou
compulsão, e somente depois o surgimento dos outros sintomas, podendo ser agudo
ou gradual, com tendência de modificação no decorrer da doença, que na maioria
das vezes é crônica e inconstante, sem um parâmetro determinante de sua
evolução. Como crenças mentais, as obsessões geralmente aparecem de
alguma substância interior produzida pela mente, bem como palavras, pensamentos,
medos, preocupações e outros. Existe uma grande variação de obsessões e
compulsões na infância e adolescência. O TOC possui suas variações, podendo ser
individual ou combinada. Abaixo segue algumas destas variações:

Contaminação – O paciente está sempre apreensivo, por medo de contágio


dele e de outras pessoas, por germes, bactérias, sujeiras, secreções corporais,
poluentes ambientais ou animais.

Limpeza e Lavagem – O paciente se torna obsessivo em excesso na limpeza


e higiene corporal, como lavagem das mãos ou outras partes do corpo e ou de
objetos, mas só percebe sua obsessão quando surgem irritações, rachaduras ou
sangramentos na pele. O indivíduo evitar contato com elementos que supostamente
possa contaminá-lo, fazendo uso de luvas, ou exigindo que alguém da família lhe de
banho.

Simetria, ordenação e arranjo – O paciente é exigente em relação à ordem e


simetria de coisas e objetos. Tudo deve estar alinhado ou pareado, suas tarefas
devem ser executadas de forma precisa. Caso a ordem se perca, isso causará
sensações de desconforto, mal estar ou ansiedade.

Agressão – O paciente tem medo de se machucar ou machucar outras


pessoas. Podem acontecer alucinações de violência, acidentes terríveis,

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assassinatos, falar coisas obscenas, palavrões ou insultos involuntários, medo de
fazer coisas impulsivamente e outros.

Verificação – Verificar várias vezes portas, janelas, fechaduras, fogão.


Conferir se não se machucou ou machucou alguém, se nada de grave aconteceu, se
não cometeu erros.

Acumulação ou colecionismo – O indivíduo costuma acumular objetos


desnecessários, na maioria das vezes sem valor. Acumula coisas acreditando que
poderá ser útil em algum momento de sua vida e costuma olhar várias vezes para se
certificar de que nada sumiu do lugar.

Compulsões tic-like – Parecido com toques, mas feitos com o propósito de


minimizar a ansiedade, o desconforto, medo ou preocupação, normalmente causado
por uma obsessão. É o tique dentro do TOC.

Como é possível na criança diferenciar um comportamento normal de


sintomas obsessivo compulsivo?

Há a dificuldade em identificar os sintomas do TOC versus comportamentos


repetitivos ligados ao desenvolvimento da criança.

Rituais normais ao longo da vida

Aos 2 anos a criança já apresenta seus rituais de forma compulsiva, como


cumprir com seus horários (rotina), assistir diversas vezes o mesmo filme, ouvir
histórias antes de dormir, também tomar banho com os mesmos brinquedos etc.
Iniciando 6 anos através de brincadeiras em grupo é que as crianças apresentam os
seus rituais, através de regras nas brincadeiras, coleções de figurinhas, papel de
carta, bonecas, carrinhos etc. A adolescência é marcada por rituais que garantem a
sua participação social nos grupos. Os rituais se apresentam na forma de se vesti,
hobbies, estilos de músicas etc. Já adulto há ligação com o período da paixão. Os
rituais sem apresentam através dos pensamentos frequente na pessoa amada, a
necessidade de atenção e ações ligadas aos interesses de outros. Aqui pode ocorrer
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características obsessiva-compulsivas ligadas a gestação, ligadas a saúde / bem-
estar do bebê. Observa-se que os rituais estão presentes ao longo da vida do ser
humano.

Superstições

Estão em todas as culturas e praticada por quase todas as idades. Estão


geralmente ligadas ao que pode acontecer de bom ou de ruim. Nas crianças se
apresentam com o deixar a porta do guarda roupa aberta ou um chinelo virado. No
adulto está ligado ao uso de amuletos, uso de uma roupa que lhe trouxe sorte um
dia.

Crianças muito supersticiosas têm mais risco de desenvolver transtorno


obsessivo compulsivo?

Quase não há estudos que comprovam esta ligação, mas nesses poucos
estudos há um de uma pesquisadora norte-americana, que comparou crianças com
TOC com as que não tem, e o resultado mostrou que os dois grupos não
apresentavam diferença no desenvolvimento dos rituais e superstições. Mostrou
também que as crianças com TOC sabiam diferencias duas obsessões de seus
rituais e superstições. 

Quando os rituais ou “manias” se transformam em sintomas?

Importa reconhecer que comportamentos repetitivos, que são normais,


quando se tornam patológicos. Observar, estar atendo e pronto a ajudar esta
criança. A ritualidade não é algo anormal, mas ao ponto de prejudicar fisicamente
e/ou emocionalmente uma criança com a sua frequência deve ser observado com
criticidade. Deve-se observar algumas características do obsessivo-compulsivos
como: A frequência dos sintomas (ocorrência e duração); Quanto incômodo,

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ansiedade e desconforto causam (sintomas); A interferência que causa em seu
cotidiano (atrapalha a vida da criança); As características dos comportamentos
repetitivos; Quantidade de tempo que a criança gasta com suas obsessões.
É necessário observar a duração dos sintomas e a interferência com as
obsessões na rotina da criança. Se os sintomas persistirem em pelo menos uma
hora ao dia, o diagnóstico do TOC pode ser considerado.

É possível prevenir o transtorno obsessivo compulsivo? Quando se deve


procurar tratamento?

Dado que o TOC é tido como um transtorno heterogêneo, ou seja, apresenta


causas genéticas e ambientais, pode-se afirmar que há como prevenir, ou melhor,
como amenizar os sintomas de modo que seja muito mais confortável a vivência do
paciente.
Para que seja possível agir de maneira precavida, é necessário averiguar se a
criança em questão tem parentes de primeiro grau que apresentam transtorno de
ansiedade. Além disso, outra pista que pode indicar que a criança apresenta uma
disposição ao transtorno é o comportamento inibido, o qual significa que o indivíduo
demonstra muita dificuldade para lidar com mudanças de rotina. É importante
destacar que quanto antes for realizado o tratamento, mais eficaz será para a
criança.

Como se faz o tratamento obsessivo compulsivo em crianças e adolescentes?

Primeiramente é importante entender que o TOC se trata de um transtorno


crônico, sendo assim, será necessário realizar um tratamento muito longo. Em
segundo lugar é importante ser realizada uma avaliação familiar do paciente e sua
família, mapeando, assim, o ambiente em que ele vive. Após essa avaliação é
possível definir o plano de tratamento dessa criança, e então decidir se esse
tratamento será auxiliado pela farmacologia ou não.
Um dos principais vilões do TOC é a acomodação familiar. Esse
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termo se dá para o comportamento dos componentes da família ao adaptar a rotina
e os afazeres de modo que acaba reforçando as obsessões da criança. Para que
esse movimento acabe, é necessária a chamada psicoeducação. Esse é o termo
usado para definir a situação em que a família recebe orientações para lidar com os
sintomas da criança paciente.

Artigo sobre a investigação do TOC na infância

Para aprofundar os estudos sobre TOC foram explorados alguns artigos que
discutem tratamentos para esse transtorno. Será brevemente relatado nesta seção o
artigo O Tratamento do Transtorno Obsessivo-Compulsivo Baseado na Família em
Crianças Pequenas1. Artigo que faz parte de uma coleção de vários estudos sobre o
assunto. Esse compilado de estudo é denominado de O Estudo Pediátrico de
Tratamento de Transtorno Obsessivo-Compulsivo Em Crianças Pequenas (POTS Jr)
– Um Ensaio Clínico Randomizado2
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) foi estabelecida como eficaz para
transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) entre crianças mais velhas e adolescentes,
porém para crianças pequenas ainda não havia avaliação suficiente.
O objetivo do estudo foi constatar a eficácia da Terapia Cognitivo-
Comportamental Baseado na Família (TCC-BF) versus a eficácia do Tratamento de
Relaxamento Baseado na Família (TR-BF) em crianças de 5 a 8 anos de idade.
Foi realizado um estudo clínico randomizado de 14 semanas (Estudo de
Tratamento Pediátrico de Transtorno Obsessivo-Compulsivo para Crianças
Pequenas [POTS Jr]¹) em 3 centros médicos acadêmicos entre 2006 e 2011,
envolvendo 127 crianças pequenas, pacientes pediátricos ambulatoriais de 5 a 8
anos de idade, que receberam um diagnóstico primário de TOC e uma pontuação
total de 16 ou mais da escala do teste Yale-Brown Obsessive Compulsive Scale 3. As
crianças deste estudo foram divididas aleatoriamente e designadas à 14 semanas
de TCC-BF ou RT-BF. Alguns estudos prévios descobriram que as melhoras dos
sintomas do TOC precederam a melhora da funcionalidade, outras não. Nesta idade
de 5 a 8 anos, talvez o impacto sobre a funcionalidade demore mais para ser

1
Tradução nossa. Título original: Family-Based Treatment of Early Childhood Obsessive-Compulsive Disorder.
2
Tradução nossa. Título original: The Pediatric Obsessive-Compulsive Disorder Treatment Study for Young
Children (POTS Jr) – A Randomized Clinical Trial
3
Yale-Brown Obsessive Compulsive Scale (questionário padrão para identificar a possibilidade do TOC).
9
observado, porque a criança gradualmente aborda as situações de uma forma mais
clara somente após um sintoma significativo.
Apesar de poucas crianças do estudo utilizarem
medicação psicotrópica, constatou que as crianças com TOC de início precoce, são
realmente capazes de beneficiar de uma abordagem de tratamento que é
exclusivamente adaptada às suas necessidades de desenvolvimento e contexto
familiar. O tratamento de relaxamento baseado na família é eficaz, tolerável e
aceitável para as crianças e suas famílias, e parece ser viável para implementar sem
a farmacoterapia intensa. Porém a Terapia Cognitivo-Comportamental se mostrou
muito mais eficaz no tratamento, possibilitando com o ou sem o uso de medicação
psicotrópica, um tratamento assertivo e com uma resposta mais rápida.
Houve evidências de que a TCC no
TOC pediátrico também é eficaz em crianças pequenas de 5 a 8 anos. Com o apoio
dos pais, as crianças pequenas com TOC que passam por TCC podem obter
ganhos significativos. Mas o suporte / apoio dos pais é indispensável para o
tratamento efetivo do TOC. A meta é a diminuição da cronicidade e a morbilidade
desta doença debilitante. Uma abordagem “observe e espere” não resolve o
problema do TOC e sim uma abordagem que intervenha diretamente no problema.
Há a necessidade de disseminar esses modelos de tratamento além dos centros
médicos acadêmicos, para ambientes clínicos como consultórios pediátricos e
clínicas comunitárias, locais onde as crianças pequenas se apresentam para
tratamento.

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Considerações Finais

Para concluir pode-se afirmar que o Transtorno Obsessivo Compulsivo é um


transtorno muito complexo, e com grade necessidade de estudo, já que não existe
um vasto número de pesquisas em relação a ele no Brasil.
O grande vilão do TOC é o preconceito, qual faz com que as pessoas olhem
com maus olhos para as obsessões, medos, ansiedade, tiques, que estão presentes
no cotidiano dos pacientes. Quando maior se estabelece o preconceito, mais
dificuldades são encontradas no caminho do tratamento, fazendo com que ele se
atrase, e assim prejudique a vida da criança.
Quanto mais rápido se iniciar o tratamento, maiores as chances do TOC ser
amenizado, fazendo com que a criança tenha mais qualidade de vida e estabeleça
as fases de seu desenvolvimento de maneira mais natural e saudável possível.

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Referências Bibliográficas

CORDIOLI Aristides V. TOC Manual de terapia cognitivo-comportamental para o


transtorno obsessivo-compulsivo. 2004

TORRES Albina R., SHAVITT Roseli G., Miguel Eurípedes C. Medos, Dúvidas e
Manias. 2000

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