Você está na página 1de 6

Saúde Mental 

13/01/2020

TOD, Autismo e TDAH : 5 formas de reconhecer os transtornos

Chegamos em 2020! Junto com o ano novo, embarcamos também na campanha


janeiro branco, dedicada a ampliar o diálogo sobre educação emocional e saúde
mental. No artigo de hoje falaremos sobre 3 transtornos da mente que causam
alterações de ordem intelectual, social e emocional: o TOD (transtorno opositivo
desafiador), o Autismo (transtorno do espectro autista) e o TDAH (transtorno de déficit
de atenção com hiperatividade).

Embora sejam transtornos diferentes em vários aspectos, as 3 patologias possuem


alguns sintomas em comum. Por isso vamos confrontar suas semelhanças e trazer
algumas informações que podem ser úteis na hora de reconhecer e diferenciar as
condições.

Para começar, vamos trazer as definições de cada uma delas. Acompanhe conosco:

1 – Conheça os transtornos: TOD, Autismo e TDAH

TOD – Transtorno Opositivo Desafiador: O TOD é um tipo de transtorno de conduta


identificado por um comportamento provocador, desobediente ou perturbador, e
não acompanhado de comportamentos delituosos ou de condutas agressivas ou
dissociais graves. ¹

Autismo – Transtorno do espectro autista: O Autismo é uma condição que


causa prejuízos no desenvolvimento neurológico e no padrão de
comportamento, que impactam principalmente na interação social e nas
habilidades de comunicação. Essas alterações também podem gerar padrões
repetitivos e interesses restritos pronunciados. ²

TDAH – O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH): É um


transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e
frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Ele se caracteriza por
sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade. ³

2 – Descubra o que os distúrbios têm em comum

 Os três distúrbios geralmente apresentam os primeiros sintomas ainda na


infância;
 Tanto o TOD quanto o Autismo e o TDAH podem causar comportamentos
inadequados em relação a si mesmos ou as outras pessoas com as quais
essas crianças se relacionam;
 Os transtornos geralmente trazem algum tipo de agitação fora do padrão;
 É possível que as crianças diagnosticadas com qualquer um dos transtornos
tenham dificuldades para se adaptar aos ambientes e fazer amizades;
 É comum que os comportamentos atípicos dessas crianças sejam confundidos
com falta de educação;
 No caso do Autismo e TDAH é comum que haja dificuldade para se concentrar
em uma tarefa.

3 – Avalie as comorbidades entre TOD, o Autismo e o TDAH

Comorbidade é como a medicina define o aparecimento de duas ou mais


condições de saúde ao mesmo tempo. Entre esses três distúrbios, por exemplo,
é muito comum que  TOD e o TDAH apareçam juntos, ou seja, não é raro que uma
mesma pessoa conviva com os dois distúrbios. Estima-se que isso aconteça em pelo
menos 50% dos casos.

As crianças que possuem esta comorbidade, apresentam problemas comportamentais


persistentes em sala de aula, e como consequência disso acabam indo mal na escola,
o que também favorece o desenvolvimento de comportamentos antissociais ainda
mais extremos. 4

As dificuldades encontradas para avaliar as comorbidades

No caso do autismo, é importante prestar atenção no fato de que o espectro é


bastante amplo, por exemplo, os autistas considerados severos são aqueles que
não falam e que precisam de apoio para realizar as atividades mais básicas do dia-a-
dia como se vestir, se alimentar e fazer a higiene pessoal. As pessoas com esse grau
de comprometimento frequentemente apresentam também algum nível de
deficiência intelectual, entre 60 e 70% dos casos. 2,4

No outro extremo do espectro estão os autistas de alto funcionamento,


anteriormente chamados de Asperges, esses autistas não têm deficiências mentais, e
alguns deles inclusive possuem inteligência acima da média (cerca de 10%),
podendo se destacar em suas áreas de interesse.

Entre estes dois extremos estão os autistas moderados, que necessitam de alguma
assistência para funcionar na sociedade, mas não tem prejuízos intelectuais tão
graves. 2,4

Mas porque entramos nessa questão? Acontece que, quando há um quadro de


deficiência intelectual (como em alguns autistas severos) o diagnóstico de outras
condições associadas se torna mais difícil.

O diagnóstico de TOD, por exemplo somente será possível em pessoas com


deficiência intelectual, quando o comportamento opositor for maior do que o
observado em crianças da mesma idade, gênero e grau de deficiência
intelectual. ¹

Por outro lado, no caso dos autistas de grau leve, fica mais fácil identificar os sintomas
de outras patologias. Inclusive, como autismo e o TDAH compartilham genes, 70% dos
autistas leves também costumam ter o transtorno de déficit de atenção e
hiperatividade (TDAH).
4 – Aprenda a identificar o Autismo e o TDAH

Embora seja relativamente comum que pessoas com autismo leve tenha TDAH  nem
todos os autistas tem TDAH. E principalmente, a maioria dos TDAHS não têm
autismo.

As diferenças são muito sutis e o médico precisa estar muito atento para que consiga
perceber nuances, principalmente nos casos mais “graves” de TDAH e mais “leves” de
autismo.

Esse menino não para quieto, esse menino não dá sossego, esse menino tem TDAH.
Será? Ou esse menino é um autista que tem transtorno sensorial e fica muito agitado
em função disso? Também pode ser o caso de um autista que foi retirado da rotina, e
por isso entrou em crise, e apresentou sintomas similares àqueles da hiperatividade. 5

Principais diferenças entre o autismo e o TDAH 5

Vamos conhecer algumas das principais diferenças entre essas condições:

Foco e organização

 O autista se apega a rituais para estabelecer uma organização que tem


dificuldade de preservar.
 O TDAH é mais impulsivo, energético, não para.
 O autista consegue manter o hiperfoco, se concentrar, não presta atenção mais
em nada, mas quando o assunto é o hiperfoco, ele tem um bom nível de
concentração.
 O TDAH tem dificuldade de concentração, qualquer que seja o assunto.

Regras

Tanto o autista quanto o TDAH parece que não seguem regras e ousam para além
delas, mas, por motivos diferentes:

 O autista desconhece a regra, então as infringe sem saber que está


infringindo. Quando ele conhece a regra, fica mais fácil se controlar e não
infringir mais a regra.
 No caso do TDAH, ele conhece a regra, mas é impulsivo. Não é por
maldade, é uma característica neurológica da pessoa. Ele quer descobrir, que
mexer.

Socialização

Outra questão que é que ambos são vistos como pessoas diferentes em termos
sociais, com dificuldade de fazer amigos, e isso mais uma vez acontece por motivos
diferentes.

 O autista é visto como esquisito, desajeitado, que não gosta de companhia;


 O TDAH é visto como mais impulsivo, irritante, perturbador.

Inquietação
O TDAH frequentemente é julgado como aquele menino que “não tem limites”. São
aqueles casos em que a mãe não consegue que essas crianças parem quietas.

 O autista, ao entrar em crise, externa um conflito, qualquer que seja a


inadequação que está acontecendo com ele.
 O TDAH, normalmente, expressa contrariedade quando não está gostando. Ele
expressa isso muito mais do que o autista leve, com expressões faciais
mais evidentes.

Atenção ao mundo exterior

Quando chama o autista, ele parece que não ouve e a mesma coisa ocorre com o
TDAH, mas, mais uma vez, por motivos diferentes:

 O autista geralmente está centrado naquilo que está chamando a atenção


dele por muito tempo, diferentemente do TDAH.
 O TDAH não ouve porque ele está olhando tudo, está prestando atenção em
tudo, o que, aliás, é outra característica.

A pessoa com TDAH começa a fazer uma coisa e logo se desconcentra e começa a
fazer outra, e os fatores externos influenciam muito nessa pessoa. Essa questão de
começo, meio e fim traz muitas diferenças, muitas dúvidas, é por isso que o
diagnóstico é fantástico, você vai se descobrindo.

5 – Conheça as diferenças entre “birra” e TOD 6

É natural que as crianças demonstrem comportamentos de oposição de vez em


quando, afinal, a infância traz consigo todo um universo de descobertas. A criança
está conhecendo a si mesma, entrando em contato com suas emoções ao mesmo
tempo em que descobre o mundo a sua volta. Esse é o momento em que ela se
depara com as regras e os limites da convivência social.

Justamente por isso, muitas vezes é difícil distinguir o que é um desafio natural da
educação do que possa ser um transtorno. Nesse caso, é preciso perceber a
gravidade dos comportamentos inadequados e a permanência dos sintomas.

Um dos grandes marcadores do distúrbio é que o comportamento da criança destoa


muito do comportamento observado em outras crianças da mesma idade e nível de
desenvolvimento.

Por exemplo, comportamentos de “birra” geralmente surgem quando a criança tem


entre 3 e 4 anos, pois ainda não sabe lidar muito bem com suas frustrações. Ela
geralmente está com fome, cansada, estressada ou chateada e não tem maturidade
ainda para lidar com estas questões. Mas a medida em que a criança cresce, estes
sintomas tendem a diminuir e desaparecer com o tempo, o que não acontece
nas crianças que apresentam o transtorno opositivo desafiador.
Sintomas do Transtorno Opositivo Desafiador

Alguns sinais de alerta incluem:

 Teimosia exagerada;
 Resistência a cumprir com as regras e combinados;
 A criança incomoda e perturba as pessoas de propósito, sem que haja uma
necessidade não atendida muito clara que motive o comportamento.

Diagnóstico do TOD

A intervenção e tratamento precoce do TOD são fundamentais para melhorar o


comportamento e a qualidade de vida da criança com este transtorno, além
de prevenir que evolua para um Transtorno de Conduta.

Para o diagnóstico de TOD, pelo menos quatro das características abaixo deverão


estar presentes:

 Perde a paciência com frequência;


 Constantemente discute com adultos;
 Sempre desafia ou se recusa ativamente a obedecer às solicitações ou regras
dos adultos;
 Perturba as pessoas de forma proposital;
 Costuma responsabilizar os outros por seus erros ou mau comportamento;
 É comum que se aborreça sem motivos;
 Frequentemente mostra-se enraivecido e ressentido;
 É rancoroso ou vingativo em várias situações.

A Importância do tratamento

Quando o TOD não é tratado, pode evoluir para transtornos mais graves, como o
transtorno de conduta e o transtorno de personalidade antissocial (sociopatia). 4

Por isso é muito importante investigar os sintomas, buscar ajuda médica e iniciar o
tratamento o quanto antes. O tratamento pode incluir a psicoterapia numa abordagem
comportamental, que busca melhorar as habilidades de resolução de problemas, de
comunicação e controle de impulso, e a psicoterapia familiar, que promove mudanças
dentro do ambiente doméstico, e visa melhorar também as habilidades de
comunicação e as interações familiares. O médico poderá preescrever alguma
medicação, especialmente com o intuito de regular as emoções e também no
caso perceber outros transtornos associados. 6

Nem todo comportamento difícil é um distúrbio mental


Embora sempre seja muito importante investigar um quadro onde os pais possam
desconfiar de um possível transtorno, vale ressaltar que nem todo comportamento
inadequado que se opõe as regras e desafia os adultos é sinal de algum distúrbio.

Algumas vezes, os pais necessitam de ajuda para estabelecer limites. Embora


representem uma figura de autoridade para os filhos, isso não significa que eles
deverão desempenhar somente funções de punição.

Por isso, é importante regras firmes e claras, mas flexíveis o bastante para permitir
experimentação e escolha, promovendo um ambiente onde a criança sinta-se
respeitada e acolhida. É muito importante ouvir as necessidades da criança. Isso
trará a liberdade na medida certa para um processo de crescimento saudável e
de construção de sua individualidade. 4

Para aqueles que convivem com crianças com comportamentos inadequados que não
estão sob sua tutela, a mensagem é: empatia. Antes de julgar qualquer pessoa, pense
que pode existir algo que não seja só falta de limites ou de educação. Ofereça escuta
aos pais, pois se você se incomoda em pouco tempo de convivência, pode imaginar o
quanto lidar com uma criança assim pode ser desgastante e frustrante. Apoie, acalme
e se sentir a vontade compartilhe esse conteúdo!

Para ajudar nesse exercício, indicamos uma visita ao Autismo em Dia, que traz muitas
discussões sobre o tema e muitas histórias reais de autistas, pais, mães, irmãos e
cuidadores!

Colaborou neste artigo:


Dr. Michel Haddad
CRM-SP 145096 / Especialidade: Psiquiatria

Referências Bibliográficas e datas 

Você também pode gostar