Você está na página 1de 5

16) HUMANISMO NO TRATAMENTO DO TRANSTORNO BIPOLAR

Daniella Cristina Sampaio Dias (Tel - 85 998563679)


Dhynne Kelley Lima de Menezes
Carlos Rogers

PERGUNTAS NORTEADORAS

1. O que é psicopatologia fenomenológica?

2. Como o TB é entendido nessa perspectiva?

3. Como o paciente bipolar dá significado ao tempo vivido nas oscilações de humor?

4. Qual a diferença entre depressão e melancolia?

5. Como ocorre o processo terapêutico de acordo com a Abordagem Centrada na


Pessoa?

INTRODUÇÃO

No ​transtorno bipolar (TB)​, a recuperação e manutenção da qualidade de vida é


de extrema importância. Um dos empecilhos à essa tarefa pode ser lidar com a aceitação
da existência do transtorno, fato que demanda um trabalho com o paciente. Assim, o
processo de psicoterapia mostra-se de extrema relevância para o tratamento do TB
(JUSTO & CALIL, 2004). Dito isto, este capítulo será composto por algumas
interpretações da psicopatologia fenomenológica e por algumas contribuições da
abordagem centrada na pessoa (ACP)​ para o tratamento do TB.

● PSICOPATOLOGIA FENOMENOLÓGICA
A fenomenologia, como um novo método de fazer filosofia, é uma proposta de
Edmund Husserl (1859-1938), que pretendia com ela, realizar uma mudança, ao sair das
especulações metafísicas abstratas para a experiência vivida e concreta (MOREIRA,
2010).
A partir da fenomenologia surgiu a Psicopatologia Fenomenológica que teve início
no ano de 1920​, com os trabalhos de teóricos como ​Eugène Minkowski (1885-1972) e
Ludwig Binswanger (1881-1966) ​(MOREIRA, 2013).
Foi com a adaptação de ambas teorias discutidas inicialmente que a ​psicoterapia
humanista-fenomenológica ​surgiu, como uma derivação da convergência do
pensamento humanista em psicologia, por Carl Rogers, e da psicopatologia
fenomenológica com seus principais autores: ​Binswanger, Strauss, Kimura, Minkowski,
Tellenbach e Tatossian, ​entre outros. ​A clínica humanista-fenomenológica objetiva a
investigação e compreensão dos significados do mundo vivido, incluindo a experiência
psicopatológica tal como vivenciada (MOREIRA, 2009).
● TRANSTORNO BIPOLAR NA PERSPECTIVA DA PSICOPATOLOGIA
FENOMENOLÓGICA
- Temporalidade na fase maníaca e na melancólica
A temporalidade é uma ​categoria fenomenológica​, considerada uma das bases
estruturantes da situação de ser sujeito. Esta constitui a gênese do ​Transtorno Bipolar
(TB) que é marcado por episódios de alternância de extremos que, mesmo de pólos
opostos, possuem forte associação. O tempo atravessa toda a experiência bipolar, seja
no momento em que o sujeito está atravessando a melancolia, seja quando ele está no
período de mania (MOREIRA & BLOC, 2012).
O ​tempo vivido ​possui um significado alterado nas oscilações de humor
características do TB, denominadas ​fase maníaca e ​fase melancólica. ​Na fase
melancólica é como se o paciente parasse no tempo (o que “passou” rege a vida), não
conseguindo projetar-se no ​devir​, já na mania o sujeito vive demasiadamente o presente
como um “agora eufórico e sem foco”. Estas duas formas de experiência temporal
patológica, do sofrimento bipolar, compõem essencialmente um mesmo mundo vivido
(MOREIRA & BLOC, 2012).
A bipolaridade, para a psicopatologia fenomenológica, é um lapso na constituição do
tempo vivido. Na mania, por exemplo, ​este encontra-se comprometido pela forma
exagerada de viver o agora. Não tendo interação com o outro, interação de ouvir ou
dialogar, não há um encontro, como descrito por ​Martin ​Buber​. Segundo Buber, nossa
existência é marcada por alternâncias entre atitudes ​eu-tu​, ​eu-isso e seus
desdobramentos. No TB, encontra-se uma atitude eu-isso, onde as situações são
experienciadas de forma objetiva (LUCZINSKI & ANCONA-LOPEZ, 2010). Na melancolia,
o paciente encontra-se preso nas experiências vividas, fazendo sentir uma tristeza que é
reacional ao momento vivenciado por ele (MOREIRA & BLOC, 2012).
- Melancolia e depressão
É importante diferenciar ​melancolia e ​depressão​, pois, mesmo que se aproximem
em termos de sintomatologia, há uma necessária distinção em termos fenomenológicos.
Na depressão, o sujeito possui uma espécie de ​identificação com a tristeza fazendo
muitas vezes com que ele entenda que o seu viver não tem mais sentido. Já na
melancolia, a tristeza é caracterizada pelo fato de o sujeito não-poder ser, não poder
vivenciar aquilo que ele gosta, fazendo com que ele fique “preso” aos papéis sociais
(MOREIRA & BLOC, 2012).

● PROCESSO PSICOTERAPÊUTICO NO TB
- Abordagem Centrada na Pessoa (ACP)

Dentro da Psicologia Humanista, a ACP é caracterizada como uma das correntes de


terceira força (BEZERRA & BEZERRA, 2012). ​No campo da ACP, com as contribuições
de ​Carl Rogers​, há uma preocupação com o homem e o seu desenvolvimento,
demonstrando, em seus estudos, uma capacidade de ​regulação organísmica ​que levaria
ao crescimento. Assim, mesmo nos transtornos psicopatológicos mais graves, como o TB,
essa perspectiva se encontra presente, apesar de os indivíduos estarem desorganizados
de forma mais intensa. Deve-se considerar, porém, que mesmo essa tendência ao
crescimento sendo inata a todos os organismos, é necessário que ela seja estimulada
para uma mudança terapêutica significativa no paciente (SOUZA, CALLOU & MOREIRA,
2013).
Na ACP, considera-se que, para ocorrer uma relação terapeuta-cliente que
potencialize a mudança, são necessárias três atitudes por parte do terapeuta:
compreensão empática, o olhar positivo incondicional e a ​congruência ​(SANTOS,
2004). O terapeuta, sendo uma companhia verdadeira, pode possibilitar que o paciente
mergulhe no próprio processo, não estando sozinho. Assim, deve haver um acolhimento
das experiências, com atenção, compreendendo e contribuindo para além delas
(LUCZINSKI & ANCONA-LOPEZ, 2010). Dessa forma, é necessário proporcionar um
espaço e ambiente livres para o paciente com TB dialogar sua própria história, retomando
assim a narrativa de suas vivências (GOMES & ​LAFER, 2007).

RESPOSTAS
1. Psicopatologia fenomenológica é uma forma de estudo dos transtornos que surgiu,
particularmente, com a contribuição da fenomenologia de Husserl.
2. O TB é entendido como uma alteração no tempo vivido, em suas oscilações de
humor, tendo a fase melancólica e a fase maníaca.
3. Na fase melancólica o passado rege a vida do paciente, não conseguindo
projetar-se no devir, já na mania o sujeito vive demasiadamente o presente.
4. Na depressão, o paciente entende que o seu viver não tem mais sentido. Já na
melancolia, existe a impotência de um não-poder ser, não poder vivenciar aquilo
que gostaria.
5. O processo terapêutico deve ocorrer em um espaço e ambiente livres para o
paciente com TB dialogar sua própria história, retomando assim a narrativa de suas
vivências.

REFERÊNCIAS

1. JUSTO LP, CALIL HM. Intervenções psicossociais no transtorno bipolar. Rev. Psiq.
Clín. 2004; 31(2): 91-99.

2. MOREIRA V. Possíveis contribuições de Husserl e Heidegger para a clínica


fenomenológica.​ ​Psicol. estud. 2010; 15(4): 723-731.

3. MOREIRA V. Uma perspectiva histórica da psicopatologia fenomenológica. ​Fenomenol.


e Psicol. 2013; 1(1).

4. MOREIRA V. Da empatia à compreensão do lebenswelt (mundo vivido) na psicoterapia


humanista-fenomenológica. Rev. Latinoam. Psicopat. Fund. 2009; 12(1): 59-70.
5. MOREIRA V, BLOC L. Fenomenologia do tempo vivido no transtorno bipolar. Psic.:
Teor. e Pesq. 2012; 28(4): 443-450.

6. LUCZINSKI GF, ANCONA-LOPEZ, M. A psicologia fenomenológica e a filosofia de


Buber: o encontro na clínica.​ ​Estud. psicol. 2010; 27(1): 75-82.

7. BEZERRA MES, BEZERRA EN. Aspectos humanistas, existenciais e fenomenológicos


presentes na abordagem centrada na pessoa.​ ​Rev. NUFEN. 2012; 4(2): 21-36.

8. SOUZA CP, CALLOU VT, MOREIRA V. A questão da psicopatologia na perspectiva da


abordagem centrada na pessoa: diálogos com Arthur Tatossian. ​Rev. abordagem gestalt.
2013; 19(2): 189-197.

9. ​SANTOS C. B. Abordagem Centrada na Pessoa - Relação Terapêutica e Processo de


Mudança. Revista Psi. Logos. 2004; 1(2).

10. ​GOMES BC, LAFER B. Psicoterapia em grupo de pacientes com transtorno afetivo
bipolar. Rev Psiq Clín. 2007; 34: 84-9.

Você também pode gostar