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Instituto de Estudos e Desenvolvimento Humano Superah

Curso de Psicanálise Clínica


Trabalho de conclusão de Curso

TRANSTORNO DISSOCIATIVO DE IDENTIDADE – TDI.

Márcio David Santos Silva

Santos/Sp

2023
SUMÁRIO

1. Sumário...................................................................................................................... 1
2. Introdução.................................................................................................................. 2
3. Desenvolvimento....................................................................................................... 3
3.1 Causas do problema............................................................................................. 5
3.2 Sintomas.............................................................................................................. 6
3.3 Diagnóstico.......................................................................................................... 8
3.4 Prognóstico.......................................................................................................... 9
3.5 Tratamento......................................................................................................... 10
3.6 Um caso real de Transtorno Dissociativo de Personalidade..............................13
3.7 Implicações Forenses.......................................................................................... 16
4. Conclusões finais...................................................................................................... 19
5. Bibliografia............................................................................................................... 21
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho objetivou investigar a prevalência do Transtorno Dissociativo de
Identidade (TDI).

A saúde mental de uma criança ou adulto é sempre motivo para preocupação, tendo em
vista que a capacidade mental exerce influência na vida da pessoa e de quem está ao seu lado.
Dentre as várias situações que podem surgir neste aspecto da saúde humana, existe uma que
demonstra aquilo que especialistas chamam de sintomas neurológicos funcionais ou
dissociativos.

Eles podem ser considerados como sintomas neurológicos que o indivíduo tem e que são
gerados por emoções fortes ou por distúrbios psiquiátricos, não tendo causa orgânica. Os
sintomas não são resultado de infecção, tumor e nenhuma doença em si, mas por instabilidade
emocional.

Os pais podem reparar que muitas dessas características aparecem na infância. As


crianças, quando ansiosas, podem ter dor na barriga, dor na cabeça; sensação de enforcamento,
diarreia, náuseas. Tudo isso é causado por uma insegurança excessiva e uma angústia vinda de
uma expectativa.

Vale ressaltar que esses sintomas são reais e devem ser levadas a sério. Além disso, tais
sintomas também podem dar ao indivíduo sensação de formigamento, tremores, mão gelada;
indisposição intestinal (como se fosse vir uma crise de diarreia); sensação de tontura; enfim,
tudo isso é característica dos sintomas neurológicos funcionais ou dissociativos.

Todos nós já ouvimos falar, pelo menos uma vez na vida, sobre pessoas que vivem com
dupla personalidade. A dramaturgia e o cinema já retrataram esses casos, sendo o mais recente
mostrado no sucesso hollywoodiano ‘Fragmentado’, em que o protagonista transita entre 23
personalidades diferentes, alternado quimicamente. O problema é que essa variação existe na
vida real e é conhecido por Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI).

Este trabalho irá falar sobre os conceitos, tipos e subtipos deste transtorno de
personalidade, que afeta muitos indivíduos no mundo e ainda é desconhecido por algumas
pessoas, dentro de sua desorganização emocional.

Vou explicitar também, como são feitos os diagnósticos, tratamentos que envolvem este
transtorno e um caso verídico sobre o mesmo.
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2. DESENVOLVIMENTO

Conceito sobre homossexualidade.


A personalidade humana não é construída de forma integrada como muitas pessoas
pensam, necessitando de várias partes para isso. Contudo, nem sempre esses pedaços se juntam
como deveriam e isso pode interferir diretamente na forma como alguém se comporta.

Anteriormente conhecido como transtorno de múltiplas personalidades, o transtorno


dissociativo de identidade é um quadro onde existem duas ou mais personalidades. Com isso,
se conclui que várias identidades convivem em uma só mente, dividindo o espaço onde deveria
ter apenas uma.

Por conta dessa alternância de personalidades, uma pessoa se mostra incapaz de se


recordar do seu dia por completo. Dessa forma, atividades simples, como conversar com
alguém, se lembrar de algo e até seu nome ficam difíceis de fazerem. Em geral, quem tem o
transtorno não tem plena consciência de que isso acontece.

O transtorno dissociativo de personalidade, em geral, é provocado por alguma ruptura na


psique do indivíduo. Dessa forma, o paciente se valerá de tratamentos regressivos a fim de
identificar a causa específica. É necessário que seja feito um diagnóstico por completo, a fim
de evitar a confusão com outros problemas de saúde.

Os Transtornos Dissociativos listados na atual versão do DSM-5 incluem Transtorno


Dissociativo de Identidade, Amnésia Dissociativa e Transtorno de
Despersonalização/Desrealização, além de outras duas categorias para transtornos dissociativos
especificados ou sem outras especificações.

O Transtorno Dissociativo de Identidade passou por uma extensa revisão. O Critério


incluiu o que pode ser descrito em algumas culturas como uma experiência de possessão, além
da presença de sintomas neurológicos funcionais.

O grau observável das diferentes identidades varia. Elas tendem a ser mais evidentes
quando as pessoas estão sob estresse extremo. O que é conhecido por uma identidade pode ou
não ser conhecido por outra; i.e., uma identidade pode ter amnésia para eventos vividos por
outras identidades. Algumas identidades parecem conhecer e interagir com outras em um
mundo interno complexo, e algumas identidades interagem mais do que outras.

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Ao longo das últimas décadas, tornou-se cada vez mais claro que o TDI
é caracterizado por muito mais do que os “alters”. Pessoas com TDI
rotineiramente exibem uma gama variada de sintomas dissociativos. Em outras
palavras, TDI é mais do que um transtorno de identidades múltiplas; é um
transtorno dissociativo complexo e crônico (DELL, 2009, p. 392).

Em um pequeno estudo comunitário nos EUA, a prevalência de 12 meses do transtorno


de identidade dissociativa foi 1,5%, com homens e mulheres afetados quase
proporcionalmente. O transtorno pode começar em qualquer idade, desde cedo na infância até
a velhice.

Transtorno dissociativo de identidade tem as seguintes formas:

 Possessão
 Não possessão
Na forma de possessão, as identidades geralmente se manifestam como se fossem
um agente externo, normalmente um ser ou espírito sobrenatural (mas às vezes outra pessoa),
que assumiu o controle da pessoa, fazendo com que a ela fale e aja de uma maneira muito
diferente. Nesses casos, as diferentes identidades são muito evidentes (prontamente notadas
pelos outros). Em muitas culturas, estados de possessão semelhantes é parte normal da prática
cultural ou espiritual e não são considerados transtorno dissociativo de identidade. A forma de
possessão que ocorre no transtorno dissociativo de identidade difere pelo fato de que a
identidade alternativa é indesejada e ocorre involuntariamente, causa muita aflição e
deficiência e se manifesta em tempos e lugares que violam as normas culturais e/ou religiosas.

Formas de não possessão tendem a ser menos evidentes. As pessoas podem sentir
uma alteração súbita na forma como veem o self, talvez sentindo como se fossem
observadores de sua própria fala, emoções e ações, em vez de o agente. Muitos também têm
amnésia dissociativa recorrente.
3.1 Causas do problema.

Como visto, o transtorno dissociativo de identidade é resultado de algum trauma de vida


em seu passado. Durante a infância, esse ente pode ter experimentado algum evento que tenha
causado estresse opressivo. Isso acaba por abalar a sua psique em construção, de modo que não
consiga integrá-la de forma saudável.

Graças a esse traumatismo e outras experiências ruins, se cria um selo à unificação desse
canal. A morte de um parente próximo, por exemplo, impacta negativamente em alguém que
está crescendo. Ademais, doenças graves que exigiram recuperação cansativa e abusos também
colaboram ao surgimento do transtorno.

Cabe ressaltar que quanto mais um lar é estruturado, mais favorece ao crescimento desse
jovem. Isso porque permite que os pequenos nutram uma compreensão complexa, mas coesa
de si mesmos e dos demais. Aos que permanecem em estado emocional segregado, podem
fugir da realidade, se refugiando nas próprias mentes. Transtorno dissociativo de identidade
geralmente ocorre em pessoas que experimentaram trauma ou estresse opressivo durante a
infância.

As crianças não nascem com um sentido de identidade unificada; ele se desenvolve de


várias fontes e experiências. Em crianças oprimidas, muitas partes do que deveria ter sido
integrado permanecem separadas. Abuso crônico e grave (físico, sexual ou emocional) e
negligência durante a infância são quase sempre relatados e documentados em pacientes com
transtorno dissociativo de identidade (nos EUA, Canadá e Europa cerca de 90% dos
pacientes). Alguns pacientes não foram abusados, mas passaram por perda importante precoce
(como a morte de um dos pais), doenças graves ou outros eventos estressores graves.

Em contraste com a maioria das crianças que desenvolvem uma compreensão complexa
e coesa de si mesmas e dos outros, crianças gravemente maltratadas podem passar por fases
em que diferentes percepções e emoções são deixadas segregadas. Ao longo do tempo, essas
crianças podem desenvolver capacidade de escapar dos maus-tratos “se distanciando”—ou
seja, se desconectando de seus ambientes físicos adversos—ou buscando refúgio em suas
próprias mentes. Cada fase do desenvolvimento ou experiência traumática pode ser utilizada
para gerar uma identidade diferente.

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Em testes padronizados, as pessoas com esse transtorno têm classificação alta para
suscetibilidade à hipnose e dissociação (a capacidade de desatrelar memórias, percepções ou
identidades da consciência).

3.2 Sintomas.

Diversos sintomas são característicos do transtorno dissociativo de identidade.

a) Identidades múltiplas

Na forma de possessão, as identidades múltiplas são facilmente visíveis para os


familiares e colaboradores. Pacientes falam e agem de uma forma obviamente diferente, como
se outra pessoa ou ser assumisse. A nova identidade pode ser aquela da outra pessoa (muitas
vezes alguém que morreu, talvez de forma dramática) ou aquela de um espírito sobrenatural
(muitas vezes demônio ou deus), que pode exigir punição pelas ações passadas.

Na forma de não possessão, as diferentes identidades muitas vezes não são tão
evidentes para os observadores. Em vez disso, pacientes experimentam sentimentos de
despersonalização; i. e., eles se sentem irreais, removidos de seu próprio self e desconectados
de seus processos físicos e mentais. Os pacientes dizem que se sentem como um observador de
suas vidas, como se estivessem em um filme sobre o qual não têm nenhum controle (perda da
entidade pessoal). Eles podem achar que seus corpos têm uma sensação diferente (p. ex., como
a de uma criança pequena ou alguém do sexo oposto) e não pertencem a eles. Eles podem ter
pensamentos repentinos, impulsos e emoções que parecem não pertencer a eles e que podem
se manifestar como múltiplos fluxos de pensamento confuso ou como vozes. Algumas
manifestações podem ser notadas pelos observadores. Por exemplo, atitudes, opiniões e
preferências dos pacientes (p. ex., em relação a alimentos, roupas ou interesses) podem mudar
subitamente, então mudar de volta. Pessoas com transtorno de identidade dissociativa também
sentem que suas atividades cotidianas são invadidas quando há uma alternância nas
identidades ou interferência por um estado de identidade no funcionamento do outro. Por
exemplo,
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no trabalho, uma identidade irritada pode repentinamente gritar com um colega ou
chefe.

A fim de procurar um tratamento adequado, é preciso se atentar aos sintomas do


transtorno dissociativo de identidade. O problema deixa marcas bem

características no indivíduo, ainda que ele mesmo não consiga vê-las. Sendo assim, quem
está próximo precisa se atentar a como esse age, observando:

b) Comportamento diferente e alternado


Durante nossa vida, construímos uma determinada identidade, que abriga toda a nossa
essência. Entretanto, alguém com mais de uma personalidade alterna o seu comportamento
com frequência. É como se outra pessoa assumisse seu corpo e sua mente, fazendo com que
esta socialize de forma incomum. Muda da água para o vinho com facilidade.

c) Despersonalização
É como se ela pudesse se ver desconectado do seu próprio corpo. Sentem-se irreais,
expectadores de suas próprias vidas e ações. Além disso, há o surgimento de impulsos que
parecem não pertencer a essa pessoa, o que inclui sentimentos e pensamentos. Uma sensação
de invasão toma conta, já que as personalidades agem subitamente.

d) Amnésia
Por causa da alternância entre personalidades, esse indivíduo tem lacunas de memória
durante o seu dia. Com isso, pode não se lembrar de determinadas conversas ou atividades
feitas durante o dia. Esse tipo de reação é facilmente percebido por quem interage com ele,
visto que são pela ausência de memória completa.

e) Outros sintomas
Além de ouvir vozes, pacientes com transtorno dissociativo de identidade podem ter
alucinações visuais, táteis, olfativas e gustativas. Dessa forma, os pacientes podem ser
diagnosticados erroneamente como psicóticos. Mas esses sintomas alucinatórios diferem das
alucinações típicas dos transtornos psicóticos,
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como esquizofrenia. Pacientes com transtorno dissociativo de identidade sentem esses
sintomas como se viessem de uma identidade alternativa (p. ex., como se uma outra pessoa
quisesse chorar com seus próprios olhos, ouvir a voz de uma identidade alternativa criticando-
os).

Depressão, ansiedade, abuso de drogas, autolesão, automutilação, crises não epilépticas


e comportamento suicida são comuns, assim como disfunção sexual.

Mudanças de identidade e barreiras amnésicas entre elas quase sempre resultam em vida
caótica. Geralmente, os pacientes tentam ocultar ou minimizar seus sintomas e os efeitos que
têm sobre os outros.

3.3 Diagnóstico.
O diagnóstico é constituído de ideias fundamentais para o desenvolvimento do trabalho
médico, as quais são baseadas em fenômenos que ocorrem com a pessoa e que são agrupados e
classificados conforme especificidades. Porém, como tais agrupamentos se dão por traços ou
sinais que guardam alguma semelhança entre si, muitas vezes patologias podem ser
confundidas em seu diagnóstico. Isso ocorre com a esquizofrenia e com o Transtorno
Dissociativo de Identidade (TDI), por exemplo, cujos sinais têm alguma semelhança.
Historicamente, as desordens dissociativas têm sido confundidas com a esquizofrenia,
inclusive em seus aspectos conceituais. Isso porque os sintomas de primeira ordem descritos
por Schneider – inserção do pensamento, percepção delirante, alucinações auditivas, dentre
outros – não são patognomônicos da esquizofrenia, mas também característicos do TDI,

anteriormente denominado “personalidade múltipla”.

Ainda que seja característica, não é tão fácil identificar por completo o transtorno
dissociativo de identidade nas pessoas. Isso porque determinado sinais acabam se confundindo
com outras doenças, levando a um diagnóstico incompleto sem conhecimento adequado. Em
geral, especialistas mais experientes se guiam por:

a. Mais de uma personalidade


Sendo o sinal mais observado, os psicoterapeutas observarão se o indivíduo carrega mais
de uma personalidade. A sua identidade deveria ser integrada e ser resumir a
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apenas uma, totalizando o seu self. Assim que duas ou mais personalidades entram em
conflito, um descontrole inerente se dá início.

Nível de sofrimento

Além desses sintomas, é observado como esse ente segue a sua vida comum ou o mais
perto dela. Por meio de questionários e avaliações, se verificará o quanto a sua vida pessoal e
laboral está prejudicada. Ao invés de dedicar a uma vida comum e relaxada, se ele se ocupa no
conflito existente em sua mente.

b. Lacunas na memória
Por conta da sua dualidade mental, muitas vezes a memória também se fragmenta. Com
isso, alguém com esse transtorno tem dificuldades em reunir toda a sua vivência. Ele começa a
perder a memória de eventos que acontecem de forma comum em sua rotina. Isso inclui
conversas, dados pessoais e até eventos marcantes de sua vida.

O primeiro passo para um bom tratamento é o diagnóstico correto em relação ao


transtorno, que pode ser bastante controverso entre os especialistas. O TDI se confunde com
muitos outros transtornos psicológicos, como a esquizofrenia, bipolaridade e transtorno de
personalidade borderline, mas a questão central é a aceitação de sua existência nos manuais
psiquiátricos ao redor do mundo. Alguns especialistas acreditam que o transtorno não passa de
uma fantasia, fingimento dos pacientes. No entanto, pesquisas com imagens de ressonância
magnética mostram o contrário.

Em seguida, o tratamento é feito com terapia, confiança e aceitação. Um especialista em


TDI pode levar vários meses para ajudar um paciente. Para começar, é necessária a criação de
um laço forte com um terapeuta que poderá ajudar o paciente a conversar com suas diferentes
partes e respeitá-las, pois quando as barreiras entre as partes começaram a cair, há uma
sobrecarga.

3.4 Prognóstico.
O comprometimento no transtorno dissociativo de identidade varia significativamente.
Pode ser mínimo em pacientes altamente eficientes; nesses
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pacientes, relacionamentos (p. ex., com filhos, cônjuge ou amigos) podem ser
prejudicados mais do que o funcionamento ocupacional. Com tratamento, o funcionamento
relacional, social e ocupacional pode melhorar, mas alguns pacientes respondem muito
lentamente ao tratamento e pode ser necessário tratamento de suporte a longo prazo.

Os sintomas flutuam espontaneamente, mas o transtorno dissociativo de identidade não


se resolve de forma espontânea. Os pacientes podem ser divididos em grupos com base nos
seus sintomas:
 Os sintomas são principalmente dissociativos e pós-traumáticos. Esses pacientes
costumam funcionar bem e se recuperam completamente com o tratamento.
 Os sintomas dissociativos estão combinados com sintomas proeminentes de outros
transtornos, tais como transtornos de personalidade, de humor, alimentares e abuso
de substância. Esses pacientes melhoram lentamente e o tratamento pode ter menos
sucesso ou ser mais longo e motivado principalmente por crises.
 Os pacientes não apenas têm sintomas mais graves de transtornos mentais
coexistentes, como também podem permanecer profundamente ligados
emocionalmente aos seus abusadores. Esses pacientes podem ser um desafio para o
tratamento, quase sempre precisando de tratamentos mais longos que, em geral,
visam ajudar a controlar os sintomas, mais que a obter reintegração.

3.5 Tratamento.

Ainda que seja delicado, o tratamento do transtorno dissociativo de identidade é possível.


O mesmo atua de forma conjunta, de modo a integrar a mente com o corpo. Assim, o uso de
medicamentos configura o trabalho na parte física, bem como os efeitos na mente. A
depressão, ansiedade e os impulsos são controlados por isso.

De forma conjunta, a psicoterapia serve para intervir e condicionar o seu comportamento


a um ritmo saudável. Assim que o paciente for estabilizado, será

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feito um estudo de cada personalidade integrada ali. A ideia é descobrir como elas
surgiram e fazer com que passem a colaborar entre si e reduzam os sintomas.

Já que cada caso varia bastante, alguns necessitam de internação enquanto outros podem
fazer acompanhamento de forma livre. Independente de qual seja, é preciso ter em mente que o
tratamento não pode ser interrompido. A partir do momento em que as causas da dissociação
forem identificadas, o trabalho de junção não pode parar.

O tratamento da despersonalização/desrealização deve abordar todos os estresses


associados ao início do transtorno, assim como estressores anteriores (p. ex., abuso ou
negligência na infância) que possam ter predisposto os pacientes ao posterior início da
despersonalização e/ou desrealização.

Várias psicoterapias (p. ex., psicoterapia psicodinâmica, terapia cognitivo-


comportamental) têm sucesso em alguns pacientes:
 Técnicas cognitivas podem ajudar a bloquear pensamentos obsessivos sobre
o estado irreal de ser.
 Técnicas comportamentais podem ajudar os pacientes a se engajarem em
tarefas que os distraiam da despersonalização/desrealização.
 Técnicas de grounding usam os 5 sentidos (p. ex., tocar uma música alta ou
segurar um pedaço de gelo na mão) para ajudar os pacientes a se sentirem mais
conectados com eles mesmos e com o mundo e sentirem-se mais reais no momento.
 A terapia psicodinâmica ajuda os pacientes a lidar com sentimentos
negativos, conflitos subjacentes ou experiências que tornam certos afetos
intoleráveis para o self e que, dessa forma, são dissociados.
 Rastrear momento a momento e rotular o afeto e a dissociação nas
sessões de terapia funcionam bem para alguns pacientes.

Vários fármacos foram utilizados, mas nenhum claramente demonstrou eficácia.


Entretanto, alguns pacientes são aparentemente ajudados por inibidores de recaptura de
serotonina, lamotrigina, antagonistas opioides, ansiolíticos e estimulantes. Contudo, esses
fármacos podem funcionar predominantemente tendo como alvo outros transtornos mentais (p.
ex., ansiedade, depressão) que estão muitas vezes associados ou são precipitados pela
despersonalização e desrealização.

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 Para recuperar a memória, um ambiente que forneça apoio e, algumas vezes, hipnose
ou um estado semi-hipnótico induzido por farmaco.
 Psicoterapia para lidar com questões associadas às memórias recuperadas dos
eventos estressantes ou traumáticos

Se a perda da memória ocorrer por período muito curto, o tratamento de suporte da


amnésia dissociativa é geralmente adequado, sobretudo, se os pacientes não tiverem
necessidade aparente de recuperar a memória de algum evento doloroso. O tratamento para
perda de memória mais grave começa com a criação de um ambiente seguro e que ofereça
suporte. Essa medida isolada resulta quase sempre em recuperação gradual das memórias
esquecidas. Quando isso não acontece ou quando a necessidade de recuperar a memória é
urgente, questionar os pacientes em hipnose ou, raramente, em estado semi-hipnótico induzido
por fármaco (barbitúrico ou benzodiazepínico) pode ter sucesso. Tais estratégias devem ser
utilizadas delicadamente, pois as circunstâncias traumáticas que estimularam a perda de
memória provavelmente serão recuperadas e podem ser muito sofridas.

O entrevistador precisa ser cuidadoso ao expressar as questões para não sugerir a


existência de um evento e correr o risco de criar uma memória falsa. Pacientes que sofreram
abuso, sobretudo durante a infância, provavelmente esperam que os terapeutas explorem ou
abusem deles e imponham memórias desconfortáveis, em vez de ajudá-los a lembrar memórias
reais (transferência traumática).

A precisão de memórias recuperadas com essas estratégias só pode ser determinada com
corroboração externa. Entretanto, independente do grau de precisão histórica, preencher essa
lacuna, o máximo possível, com frequência é útil terapeuticamente para restaurar a
continuidade da identidade e noção do eu do paciente, além de criar uma narrativa coerente de
vida.

Uma vez que a amnésia for preenchida, o tratamento ajuda com o seguinte:

 Dar sentido ao trauma ou conflito subjacente


 Resolver problemas associados ao episódio amnésico
 Ajudar o paciente a seguir em frente com sua vida
Se os pacientes experimentaram fuga dissociativa, psicoterapia, às vezes combinada com
hipnose ou entrevistas facilitadas por fármacos, pode ser usada para tentar restaurar a
memória; esses esforços muitas vezes são mal sucedidos. Apesar disso, um psiquiatra pode
ajudar os pacientes a explorar como eles lidam

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com os tipos de situações, conflitos e emoções que precipitaram a fuga e, assim,
desenvolver respostas melhores a esses eventos e ajudar a prevenir a recorrência das fugas.

3.5 Um caso real de Transtorno Dissociativo de Personalidade.

A britânica Melanie Goodwin, de 64 anos, tinha uma vida normal, apesar de não se
lembrar de nenhuma memória de sua infância e parte de sua adolescência. Porém, desde os
seus 40 anos de idade, após uma tragédia familiar, as coisas mudaram e aos poucos, Melanie
descobriu dentro de si diferentes personalidades, de suas diferentes fases da vida a partir dos
três anos de idade, segundo informações da rede britânica BBC.

Melanie sofre do mesmo transtorno mental de Kevin, personagem principal do filme


‘Fragmentado’, do diretor M. Night Shyamalan, lançado este ano. Ambos foram
diagnosticados com transtorno dissociativo de identidade (TDI), também conhecido como
transtorno de múltiplas personalidades, em que memórias, comportamentos, atitudes e a
própria percepção de idade podem alternar de uma hora para outra.

A diferença é que enquanto Kevin é apenas um personagem que vive com 23


personalidades em seu corpo – muitas delas extremamente agressivas -, Melanie é casada, tem
filhos e trabalho e “nove partes adultas diferentes”.

“Nós [forma como ela se refere a suas diferentes personalidades] tínhamos várias partes
adultas. No desenvolvimento deveria haver uma transferência, mas como não crescemos
naturalmente, adaptamos a nós mesmos. No fim, havia nove partes adultas diferentes, cada
uma administrando um estágio de nossa vida adulta sem abusos.”, contou à BBC.

Felizmente, hoje, com apoio psiquiátrico e de seu marido, ela aprendeu a viver e a
conviver com suas múltiplas personalidades.

A. MÚLTIPLAS PERSONALIDADES
Porém, chegar nesse estágio harmônico não foi fácil. A descoberta das diferentes
personalidades trouxe à sua consciência não só as lembranças perdidas, mas também memórias
de abuso que havia sofrido na infância, o primeiro com apenas três anos de idade, e na
adolescência – o último foi aos 16 anos. “Eu não tenho

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provas. Eu tenho que aceitar o que eu acredito que aconteceu, a minha realidade.”, disse.

B. TRAUMAS NA INFÂNCIA
Hoje, Melanie é tratada no Centro Pottergate para Dissociação e Trauma, em Norwich,
no Reino Unido. Remy Aquarone, psicoterapeuta administrador do centro, disse à BBC que na
maioria dos casos diagnosticados de TDI existe um histórico de abuso infantil, muitas vezes
iniciado antes dos cinco anos.

A criança, ao tentar lidar com essas experiências traumáticas tão cedo, divide-se em
partes. Uma parte lida com o abuso e as consequências emocionais e físicas e outra continuam
a lidar com a existência cotidiana, permitindo que ela siga em frente.

Essas partes podem ser inúmeras, dependendo dos diferentes cenários.

“Ela está usando sua cognição inconsciente para adaptar sua maneira de pensar e seu
comportamento para conseguir se manter segura. O trauma pode congelar você no tempo. E
porque o trauma continua com o passar dos anos, há vários pequenos congelamentos
acontecendo por toda parte.”, explicou Aquarone.

C. LIGAÇÕES AFETIVAS
No entanto, nem todas as pessoas que passam por abusos na infância desenvolvem o
transtorno. Segundo o especialistas, fatores como a ausência de ligação

afetiva normal e saudável durante a infância pode desencadear o distúrbio. Na psicologia,


essa ligação é o laço formado entre uma criança e um cuidador, que a apoia emocionalmente e
ajuda educa-la. Quando as crianças desenvolvem laços seguros, conseguem lidar melhor com a
vida de uma forma geral.

“Suas relações tendem a ser mais tranquilas. Elas tendem a ganhar mais dinheiro, ser
mais apreciadas e reconhecidas pelos outros e se meter menos em brigas. Elas também tendem
a experienciar a vida com mais tranquilidade, então é mais agradável para elas”, disse Wendy
Johnson, professora de psicologia da Universidade de Edimburgo.

Por outro lado, sem essa laço, a criança cresce sem referências e precisa se defender
sozinha. Para Melanie, é exatamente isso que falta para as pessoas com TDI. “O que não
tivemos quando criança é um pai ou mãe metaforicamente segurando você e o ajudando a
aprender como lidar consigo mesmo.”
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D. FALTA DE ESTABILIDADE
“Na verdade, nossos ambientes tendem a ter mais estabilidade, o que contribui à
consistência que tendemos a demonstrar”, explicou Wendy. Se as influências externas mudam,
até mesmo na vida adulta, nós também mudamos. Perder o emprego ou ter filhos são grandes
mudanças que surpreendem nossos comportamentos. Por isso os questionamentos de
identidade entre os jovens, no início da vida adulta, é algo tão discutido.

Essa estabilidade não é presente na vida de quem vive com identidades dissociativas,
portanto, suas personalidades podem mudar dramaticamente. Melanie tem uma parte anoréxica
e uma parte que já tentou suicídio duas vezes, quando as barreiras das personalidades não
pareciam suportar a dor. Sua parte de três anos de idade se assusta facilmente com coisas que
trazem de voltalembranças de seus traumas, como um cheiro ou o andar de um homem. Nesses
casos, ela congela ou até mesmo se esconde. Por outro lado, sua parte de 16 anos pode até
flertar.

E. MEMÓRIAS APAGADAS
Algumas pessoas com o transtorno podem se sentir perdidas no tempo, como se
estivessem sempre pulando dias ou até mesmo semanas. “Algumas pessoas desenvolvem casos
[extraconjugais]. Bem, não são exatamente casos porque elas não tinham ideia de que eram
casadas”, explicou Melanie. “Você nasce e tem uma linha do tempo com toda sua vida. Se
você ficar fragmentado, você não tem mais essa linha.”

De acordo com Aquarone, muitos pacientes se sentem superficiais em relação às


emoções e ao passado. “De certa forma elas são, porque a essência de quem você é fica presa
do lado de dentro”, disse ele. “Eu posso me referir a um comportamento que tinha quando
adolescente, por exemplo, para ter uma visão mais ampla de mim mesmo. O preço da
dissociação é que não há como lembrar como as coisas eram antes.” Psicólogos costumavam
pensar que a nostalgia, o uso da memória para lembrar bons tempos no passado, era negativa e
prejudicial. Agora, devido a esse dilema, existem estudos que apontam o oposto.
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F. DESCOBERTA
Melanie suspeitou que pudesse ter o transtorno lendo o livro The Flock (“O Bando”, em
tradução livre), de Joan Frances Casey. Assim como Casey, ela tinha diferentes partes
emergindo em si. Ela então conversou sobre o assunto com seu marido, com quem era casada
há mais de 20 anos.

“Surpreendentemente, ele achou que fazia sentido e contou-lhe que uma vez havia
perguntado se ela queria café e Melanie disse ‘Sim, adoraria um café”. No dia seguinte ele
perguntaria ‘Você quer um café?’ e ela respondeu “Você sabe que eu não bebo café, sou
alérgica a café!”.

Hoje, Melanie sabe que a parte de 16 anos não consegue beber café, mas ela ama café.
No entanto, ao contrário de outras pessoas com TDI, ela sente que há uma parte dominante
com uma idade compatível com a de seu corpo.

G. CONVIVÊNCIA
Durante os dez anos que se passou depois de suas identidades emergirem, Melanie
acreditava ser impossível administrar qualquer coisa além do básico em sua vida.

Com o tempo, ela aprendeu a ouvir suas vozes e as histórias que tinham a contar.
“Aprendemos a compartilhar essa vida em comum entre nós”. Agora, ela dirige a associação
First Person Plural (Primeira Pessoa do Plural, em tradução livre), onde conversam com
psicólogos, psiquiatras e cuidadores, com o objetivo de divulgar mais informações sobre o
TDI.

Recentemente, com a participação de Aquarone e do Centro Pottergate para Dissociação


e Trauma, a associação organizou a primeira conferência

sobre tratamentos para dissociações relacionadas a traumas, com médicos e voluntários


do Reino Unido. Um dos principais desafios é que um especialista em TDI pode levar vários
meses para ajudar um paciente e, geralmente, isso está apenas disponível no sistema privado de
saúde.

3.6 Implicações Forenses.

Os modelos do trauma e da fantasia, entretanto, não possuem apenas uma utilidade


teórica. Enquanto conjuntos de hipóteses a serem testados empiricamente, os dois modelos
fornecem pouca preocupação para além das indagações dos pesquisadores. Mas o fato é que
muitos clínicos são treinados em uma dessas duas
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abordagens. Decisões tomadas em psicoterapia e em outros contextos, como o contexto
jurídico e criminal, frequentemente se baseiam em um dos dois modelos, revelando, assim,
suas implicações práticas. São muitos os casos na literatura psiquiátrica e psicológica de
pessoas que cometeram algum tipo de violência a outrem alegando depois amnésia dissociativa
para o evento ocorrido ou a ação de uma personalidade alternativa (em algumas culturas, ou
dependendo do referencial religioso do indivíduo, tal personalidade pode ser descrita como o
demônio ou outro ser espiritual/sobrenatural). Também se observam casos em que pessoas se
dizem vítimas de abuso sexual ou físico após terem sido submetidas a hipnose ou outro
procedimento que teria revelado uma memória reprimida do evento, casos esses que
geralmente culminam na acusação de alguém como tendo sido o(a) perpetrador(a) do abuso.
Scott (2015, p. 116) também observa que: O diagnóstico de TDI tem sido normalmente usado
para questionar a competência do julgamento em duas situações: (1) o réu não pode controlar
suas personalidades e, portanto, seu comportamento é imprevisível e prejudica sua capacidade
de participar do processo do julgamento ou de testemunhar; e / ou (2) a personalidade do
acusado que esteve envolvida no suposto crime não está presente de forma consistente ou não
se lembra do crime, prejudicando a capacidade do indivíduo de ajudar na sua própria defesa
Scott (2015) comenta que uma avaliação rigorosa do quadro clínico deve ser realizada antes de
se chegar a uma conclusão acerca do diagnóstico de TDI. Há muitas situações em que a
alegação de uma divisão da identidade/personalidade é mais bem explicada pelas crenças
culturais do indivíduo e não pela presença de um transtorno mental. Assim, “se forem
apresentadas alegações de TDI, o examinador forense deve revisar cuidadosamente não apenas
a alegação, mas provar que os sintomas causam sofrimento ou prejuízo clinicamente
significativo. A avaliação de fingimento será particularmente relevante para esse diagnóstico”
(SCOTT, 2015, p. 117). Scott observa, ainda, que há grande variação na maneira como os
tribunais nos Estados Unidos avaliam a responsabilidade criminal em casos de pessoas com
alegações de TDI, não havendo consenso entre os estados. Mas alguns critérios de ordem geral
podem auxiliar na avaliação de simulação dos sintomas. Scott afirma que indivíduos que
fingem um diagnóstico de TDI relatam sintomas bem conhecidos, como perda de memória,
embora não relatem sintomas menos comuns, como depressão. Além disso, o DSM-5 indica
que

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indivíduos que fingem TDI parecem gostar de ter o distúrbio, em forte contraste com o
fato de que o transtorno implica em sofrimento e prejuízo clinicamente significativos. Por fim,
o indivíduo que sofre de TDI frequentemente apresenta variações de identidade extremadas
(por exemplo, personalidades muito boazinhas versus muito más), às vezes com perda de
memória fingida, como um meio de obter um objetivo específico (por exemplo, evitar punições
criminais). Como em todo fingimento, estabelecer se há (e qual é) o incentivo externo é
fundamental (SCOTT, 2015). Os psicólogos forenses se deparam por vezes com a tarefa de
educar o juiz, o júri ou advogados sobre a evidência científica a respeito dos sintomas de
transtornos mentais – podendo-se incluir aqui os transtornos dissociativos – de modo a auxiliar
na tomada de decisões em processos criminais. Nesse sentido, em um ensaio de duas partes,
Brand et al. (2017a, 2017b) fornecem informações e conselhos a especialistas em transtornos
dissociativos sobre como avaliar os sintomas de TDI e sua relação com abusos de que o réu
seja acusado, por exemplo. Os autores defendem a importância de se investigar um histórico de
traumas na infância e ao longo da vida da vítima, bem como seu histórico de sintomas e
episódios dissociativos. Salientam também a importância de se reconhecer a dificuldade que
algumas pessoas possuem de assumir que tenham sofrido abusos ou que sejam portadoras de
um transtorno. Defendem que a falta de informações por parte do juiz ou do júri podem levar a
decisões equivocadas, baseadas no estereótipo de que a vítima esteja inventando uma doença
quando, na verdade, seu quadro é real e pode ser diagnosticado por um especialista.

Para os autores, é essencial discutir os aspectos neurológicos do TDI e, por conseguinte,


seus danos à saúde e à vida social da vítima, com ênfase no prognóstico desses casos e nos
custos advindos do tratamento de um quadro geralmente crônico como é o TDI. Por outro lado,
reconhecem que a mídia e as narrativas fictícias em livros e filmes sobre múltiplas
personalidades tendem a perpetuar falsas concepções acerca do TDI, como a ideia de que os
portadores do transtorno seriam violentos e antissociais ou que os sintomas são evidentes e
intensos, quando, na verdade, os episódios de violência seriam infrequentes e, em muitos
casos, os sintomas do transtorno seriam sutis ou mesmo imperceptíveis a um observador
externo.

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3. 4.0 CONCLUSÕES FINAIS.

Para quem convive com alguém que tem o transtorno dissociativo de identidade a rotina
nunca é fácil. Não há como saber com quem você está interagindo no momento e o clima
imprevisível assusta bastante. Todavia, é justamente essa pessoa que ajudará na reabilitação do
ente a uma vida saudável.

Caso alguém que conheça demonstre sinais ou tenha declaradamente o problema, oferte
apoio durante o tratamento. Sua intervenção, ainda que mínima, pode trazer resultados que
elevarão a proposta inicial da psicoterapia. Mesmo que

esse não se cure por completo do problema, terá mais controle de si e da qualidade de
vida que leva.

A proposição de que a dissociação é causada por experiências traumáticas (geralmente


ocorridas em tenra infância) tornou-se lugar comum entre os especialistas no tratamento dos
transtornos dissociativos e constitui uma convicção difícil de ser abalada. De nossa parte,
entendemos que a controvérsia em torno do tema é mais benéfica do que prejudicial,
justamente pelo fato de impedir o esgotamento do assunto em estereótipos equivocados. A
subjetividade e o comportamento humanos são complexos demais para permitirem
causalidades simplórias e unilaterais, e o debate sobre as origens da dissociação deve se manter
dinâmico, de modo a fazer jus a essa complexidade. Não se pode negar que exista alguma
relação entre dissociação e trauma.

Cabe finalizar salientando a importância de que todas as hipóteses disponíveis sejam


levadas em conta. Sintomas dissociativos podem ser influenciados por uma série de fatores
além das experiências traumáticas, como transtornos do sono e uso de substâncias. Como
vimos, muitos autores da área sugerem que o TDI não se caracterizaria tanto pela divisão
objetiva da personalidade em subpersonalidades mais ou menos completas, mas pela crença do
indivíduo de que ele/ela é mais de uma pessoa, crença essa reforçada por uma série de
sintomas dissociativos, como sintomas de despersonalização, falhas de memória e alucinações,
bem como pelo contexto cultural e grupos de referência. Isso não significa negar, por outro
lado, que tais experiências causem sofrimento. Também não significa que sejam resultado
exclusivamente de engodo e simulação. O fato de serem formatadas culturalmente não nega
seu impacto na vida das pessoas, mas nos deixa alertas, por outro lado, à

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possibilidade de que concepções populares acerca do TDI, fomentadas pela mídia e pelo
mundo do entretenimento, não correspondam sempre à maneira como esses casos se
apresentarão e podem até mesmo influenciar negativamente a confiabilidade da avaliação
clínica ou forense.
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4. 6. BIBLIOGRAFIA

American Psychiatry Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental disorders -


DSM-5. 5th. ed. Washington: American Psychiatric Association, 2013.

DSM-IV-TRTM - Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Trad. Cláudia


Dornelles; - 4.ed. rev. - Porto Alegre: Artmed,2002.

Link: https://www.psicanaliseclinica.com/transtorno-dissociativo-de-identidade/

Link: http://clinicasocial.com.br/plus/modulos/noticias/ler.php?cdnoticia=50

1. Johnson JG, Cohen P, Kasen S, Brook JS: Dissociative disorders among adults in the community,
impaired functioning, and axis I and II comorbidity. J Psychiatr Res 40 (2):131–140, 2006.

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders,
fifth edition (DSM-5). Washington, DC: American Psychiatric Publishing.

Link https://www.msdmanuals.com/pt/casa/dist%C3%BArbios-de-sa%C3%BAde-mental/transtornos-
dissociativos/transtorno-dissociativo-de-identidade

Link:http://www.psiqweb.med.br/site/DefaultLimpo.aspx?area=ES/VerClassificacoes&idZClassificaco
es=214

Link http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbtcc/v16n1/v16n1a07.pdf
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