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OtimoQual é o papel da regulação emocional no TEA?

Postado por Autismo em Dia em 26/jan/2024 - 2 Comentários

A regulação emocional é um assunto que vem sendo bastante estudado nos últimos
anos. E relacionar esse tema com autismo é fundamental, já que pessoas no espectro
costumam ter dificuldades ligadas a respostas emocionais que envolvem um déficit na
forma de perceber o entorno e de interagir com o outro.

Uma das definições de regulação emocional é a habilidade de aprendermos a lidar com


as emoções, levando em conta sua intensidade e a resposta que vamos ter quando for
ativada uma determinada emoção.

E essa habilidade de lidar com cada uma é o que vai fazer que a gente consiga interagir
de forma saudável com as pessoas e o meio, com reflexos na forma que iremos nos
sentir nessa interação.

Porém, cada pessoa tem o seu processo de regulação emocional. No geral, conseguimos
avaliar bem o contexto para alinhar como vamos expressar nossas emoções. No entanto,
pessoas autistas apresentam um prejuízo na maneira de regular suas emoções.

Ao longo do texto, iremos entender quais intervenções podem ajudar no processo de


amadurecimento emocional.

Regulação emocional e autismo


Fonte: Envato/ LightFieldStudios

Índice

Regulação emocional e autismo


Os mecanismos mais comuns que podem contribuir para a baixa resposta emocional no
TEA podem estar presentes em outras condições clínicas. Por exemplo: excitação
fisiológica, grau de afeto negativo e positivo, alterações na amígdala e no córtex pré-
frontal.
Já outros mecanismos podem ser próprios do autismo, tal como as diferenças na forma
de perceber e processar informações, questões cognitivas (rigidez, por exemplo), menos
comportamentos direcionados a objetos e mais emoções desorganizadas.¹

Quanto maior for a desregulação emocional, maior será a emissão de comportamentos


repetitivos. Isso porque esses comportamentos têm a função de regular as emoções.

Portanto, os comportamentos repetitivos são importantes aliados, mas é necessário que


se desenvolvam outras habilidades para aumentar o repertório de comportamentos que
irão auxiliar no processo de aprendizado para melhorar a regulação emocional.

Terapias e intervenções
As terapias mais recomendadas para desenvolver essas habilidades são: a terapia
comportamental com ABA para crianças, já para jovens e adultos, recomenda-se a
terapia cognitivo-comportamental. Também recomenda-se terapia ocupacional para
alguns casos.

Terapia ABA: auxilia no desenvolvimento de comportamentos para melhorar a


comunicação e consequentemente ajuda no processo de interação com as pessoas;
Terapia cognitivo-comportamental: através da relação terapeuta – paciente e utilizando
técnicas da TCC, jovens e adultos podem aprender sobre como funcionam as suas
emoções e pensamentos, de fato, a fim de desenvolver uma forma mais adequada de
comunicar o que precisa, que seja mais funcional;
Terapia ocupacional: essa modalidade de terapia tem um papel importante no
desenvolvimento da regulação emocional, já que utiliza técnicas para trabalhar aspectos
relacionados às atividades da vida diária, atividades da vida escolar e vai ensinar
brincadeiras importantes para ajudar a criança no dia a dia com situações básicas do
cotidiano.

Fonte: Envato/Powerofphotos

A Atividade Física como recurso


Outra alternativa que vem ganhando cada vez mais foco é atividade física. Os exercícios
regulares podem ajudar a melhorar alguns aspectos motores e emocionais de pessoas
autistas. ²

Para muitos autistas, certas atividades podem ser incômodas do ponto de vista social,
principalmente quando elas são praticadas em grupo. Nesses casos, é possível encontrar
alternativas que possam ser praticadas em uma única pessoa.

No entanto, há um desafio igualmente limitante que é quando a criança tem alguma


comorbidade relacionada às questões motoras, como déficits no equilíbrio ou na
coordenação de movimentos. Imagine o quão complicado deve ser o dia a dia de uma
criança que não consegue realizar uma atividade básica como: segurar uma colher,
amarrar os cadarços ou andar de bicicleta e ainda não conseguir verbalizar sua
necessidade.

No entanto, devemos enxergar a insistência na atividade física como uma busca por
soluções. A prática dessas atividades contribui, sem dúvida, para o desenvolvimento
motor. Logo, irá tornar a rotina da criança mais fácil em alguns aspectos, deixando ela
menos suscetível a uma crise de desregulação emocional.

Em 2020, foi publicada uma pesquisa com 27 crianças de 8 a 12 anos direcionada para
um grupo de intervenção com exercícios (15 crianças) ou um grupo de controle (12
crianças), no Journal of Autism and Developmental Disorders. O grupo de intervenção
recebeu aula de corrida por 12 semanas. Os pais das crianças preencheram a lista de
verificação de regulação emocional e a lista de verificação de comportamento infantil
pré e pós – intervenção. O grupo da intervenção demonstrou melhora significativa na
regulação emocional e redução de problemas comportamentais.²

Fonte: Envato/NomadSoul1

Por que desenvolver a regulação emocional?


O fato é que, quanto maior for a dificuldade com as emoções, maiores serão os
prejuízos.
Uma pessoa desregulada emocionalmente vai ter dificuldade em melhorar aspectos
relacionados à atenção, comunicação, resolução de problemas e nas habilidades sociais.

Indo ainda mais fundo no problema, a regulação emocional está por trás de problemas
emocionais mais graves. Uma pessoa que não trata esse aspecto pode ter prejuízos para
si que também impactam as pessoas mais próximas. Estamos falando, na prática, de
quadros graves de agressividade, ansiedade, depressão e até ideação suicida.

Portanto, as terapias para autismo exercem uma importância que vai além do que está
sendo diretamente trabalhado. Por isso, não deixe de procurar ajuda profissional em
qualquer sinal de alerta no desenvolvimento do seu filho. Quanto antes iniciarem
investigações e as intervenções, melhores serão os resultados para a vida da pessoa.

Como trabalhar em casa a habilidade de regulação emocional?


Falamos da importância de investir em terapias direcionadas para desenvolver a
capacidade de um indivíduo regular suas próprias emoções. Mas o que mais pode ser
feito em casa, no dia a dia, que vai ser efetivo e pode beneficiar toda a família?

Existem atividades muito simples que trabalham atenção, foco, interação e melhoram
questões sensoriais, são elas:

Atividades com tinta: o contato com as cores e a possibilidade de criar desenhos e


formas, ajuda a aliviar tensão;
Garrafas e brinquedos sensoriais: o uso de materiais com textura, cores ou formas pode
ajudar a desenvolver os sentidos, melhorando dificuldades sensoriais. Criar brinquedos
com objetos que você tenha em casa, como garrafas com pedrinhas e corante, é simples,
lúdico e benéfico.
Brincadeiras funcionais: utilizar brincadeiras que auxiliam em dificuldades motoras, de
concentração ou de interação ajuda na aquisição de repertório que vai se estender para
outros ambientes, evitando possível crises de desregulação emocional.
***

Todos estamos propensos às questões emocionais, mas muitos autistas não desenvolvem
os mecanismos de defesa da mesma maneira que pessoas neurotípicas. Os cuidados
acima dependem de atenção, alerta, empatia e ajuda profissional. Por isso, este artigo
precisa chegar em mais pessoas. Compartilhe os aprendizados com seus amigos e
familiares e, depois, continue navegando em nosso Blog. Aproveite para acessar nossos
materiais gratuitos para download e siga o Autismo em Dia nas redes sociais.

Referências

1- Science Direct – Acesso em 12/07/2023

2- Springer – Acesso em 12/07/2023

“O Autismo em Dia não se responsabiliza pelo conteúdo, opiniões e comentários dos


frequentadores do portal. O Autismo em Dia repudia qualquer forma de manifestação
com conteúdo discriminatório ou preconceituoso.”

2 respostas para “Qual é o papel da regulação emocional no TEA?”


Franklin disse:
11/02/2024 às 17:35
Excelente artigo! Tenho o autismo nível 1 como uma das partes de quem sou. Tenho
minhas lutas emocionais. O que me ajuda a regular as emoções são:

* Leitura da Bíblia e oração


* Interagir com amigos, irmãos e irmãs da Igreja
* Exercícios físicos
*Artes (desenhos, pinturas, esculturas, escrita, etc.)
*Técnicas aprendidas da Terapia Cognitivo comportamental como questionamento
socrático
* Conversar com pessoas amadas

Responder
Autismo em Dia disse:
26/02/2024 às 17:13
Olá, Franklin… que bom que gostou do nosso texto. Continue fazendo o que te ajuda a

regular as emoções, esse é o caminho 💙

Responder
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Agressividade no comportamento autista: e então, como lidar?
Agressividade no comportamento autista: e então, como lidar?
Postado por Autismo em Dia em 19/jun/2020 - 146 Comentários

Irritação, gritos, birras intensas e agressividade. Se você é pai, mãe ou convive de perto
com alguém que faça parte do TEA, sabe que esse que isso é bastante comum no
comportamento autista. Essas crises, muitas vezes, chegam a tal ponto que a
agressividade é voltada para si mesmo, ou seja, a própria criança vive os prejuízos da
violência.

Além disso, a família pode sofrer dentro e fora de casa. Essas crises, quando em
público, acentuam a probabilidade de que a resposta da sociedade seja negativa, afinal,
ainda existe muita desinformação sobre o assunto.
Nosso artigo de hoje vem informar como e porque esse comportamento acontece com
muitas crianças autistas. Afinal, ocorre com todos dentro do transtorno? É contornável?

Que motivos podem estar por trás disso? Continue com a gente e saiba as respostas 🙂

Agressividade no comportamento autista: e então, como lidar?


Fonte: Envato – twenty20photos

Índice

Comportamento agressivo de um autista: de onde vem?


Existem alguns fatores no autismo que estão intimamente ligados à agressividade: a
dificuldade na verbalização das ideias, inflexibilidade, rigidez e dificuldade de
adaptação a mudanças, muita demanda social e e a alta sensibilidade a cores, sons,
cheiros, etc. A agressividade pode começar quando a criança sente tantas coisas e tudo
que ela consegue transmitir em gestos ou palavras lhe parece insuficiente. Assim
também são as questões da sensibilidade, muitas vezes afetada pelas mudanças no
ambiente que, para uma pessoa neurotípica, podem passar despercebidas. ¹

Estudos norte-americanos apontaram que a incidência do comportamento agressivo


atinge, pelo menos 1 em cada 4 crianças autistas. Também as mesmas pesquisas
indicaram que crianças com baixo quociente de inteligência estão mais propensas a
terem as crises nervosas. ²

É importante consultar médicos, terapeutas, psicólogos e outros especialistas para


entender a fundo o que vem ocorrendo com aquela criança ou adolescente. Assim, você
poderá oferecer tratamento e alívio a essa característica no comportamento autista.

Agressividade no comportamento autista: e então, como lidar?


Fonte: Envato – Wavebreakmedia

O que fazer em caso de agressividade? ³


Você provavelmente não poderá controlar quando essas crises vão acontecer, o que é
possível é tentar identificar fatores que são gatilhos para as crises de ansiedade, porém
quando a
agressividade é inevitável, é totalmente possível gerenciar o comportamento agressivo
quando ele ocorrer. E aqui vão algumas sugestões:

Antes de tudo, mantenha a calma


As explosões acontecem porque o autista está com dificuldade de autorregulação das
emoções, sem que ele consiga se expressar de uma forma que funcione para as duas
partes. Sabendo controlar os suas próprias emoções, você impede que o seu nervosismo
seja somado à situação, o que só piora o momento.

Lembre-se que seu filho ou filha, que normalmente já tem dificuldade de entender o que
você diz, terá esse discernimento prejudicado em função dos prejuízos de controle
inibitório e autorregulação. Nesse caso, seja objetivo e utilize frases curtas. Por
exemplo: em vez de dizer “filho, fique quieto e sente-se”, diga apenas “sente-se”.

Por segurança, leve a criança para longe de um espaço que ofereça perigo, como
prateleiras cheias de objetos ou locais com vidro. Também será preciso que as pessoas
que estejam por perto se afastem do caminho. Se você possui um lugar na casa que
naturalmente seja ligado à paz e à tranquilidade, leve a criança ou adolescente para lá.

Cuidado com o uso da força física


Tanto para crianças autistas quanto para crianças neurotípicas, o uso da força física
pelos pais é um assunto que gera controvérsias. Mas os especialistas alertam que isso
pode gerar ainda mais ansiedade no autista. A indicação é que é sempre preferível que
você, como responsável, utilize de formas positivas de conter a explosão. Experimente,
talvez, ficar abraçado(a) à criança por um período maior.

Ensine a comunicação alternativa ¹


Uma das formas de ensinar ao autista que a agressão – seja em si, nas coisas ou nos
outros – não é a melhor forma de transmitir uma ideia é usar uma forma de
comunicação alternativa. Há vários exemplos: de pulseiras iconográficas a sistemas de
trocas de imagens, passando até por aplicativos de celular. Gostou da ideia? Então
conheça mais sobre o assunto clicando aqui.
A comunicação alternativa é uma estratégia de longo prazo, mas que pode trazer muitos
benefícios não apenas para impedir a agressividade como para melhorar o desempenho
do autista como um todo.

Agressividade no comportamento autista: e então, como lidar?


Fonte: Envato – valeriygoncharukphoto

Comportamento autista: 4 estágios terapêuticos para contornar a agressividade 4


Se identificada a agressividade dentro do comportamento de um autista, você pode
trabalhar em conjunto com os médicos e terapeutas do seu filho(a) em uma abordagem
de 4 etapas. Esses 4 estágios ajudam a combater não apenas a agressividade, como
outras reações problemáticas derivadas do autismo. São elas:

Identificação
Entendimento
Gerenciamento
Prevenção
Na identificação, é interessante fazer anotações sobre o tipo de agressividade que a
criança apresenta e em que ocasiões ela é provocada. Isso vai ajudar a caracterizar a
agressividade dentro de um formato específico.

Na fase do entendimento, os especialistas devem usar ferramentas de avaliação


comportamental funcional. Isso vai auxiliar na descoberta dos porquês de aquele autista
se comportar de tal forma. Será que a criança está tentando informar que não gosta do
que lhe é oferecido? Será que está sentindo que suas tarefas são muito complexas? A
criança quer algo que não pode ter? Identificar a comunicação por trás das atitudes
nervosas é o primeiro passo para adequar o comportamento, de forma que isso atenda às
necessidades do indivíduo.

Busque, também, se há respostas que possam estar além do comportamento, como


distúrbios de sono e transtornos de saúde mental.

Gerenciamento e prevenção
Para a fase do gerenciamento, é preciso traçar um plano de ação baseado nas
informações coletadas nas duas fases anteriores. O método ABA (análise do
comportamento aplicada), por exemplo, é um dos mais utilizados por terapeutas para
ensinar à criança uma comunicação não agressiva.

Para os casos em que o ABA não funcionar, será necessário avaliar se há comorbidades
associadas ao comportamento autista. Essas comorbidades podem ser diversas, como
hiperatividade, TOD (Transtorno desafiador de oposição), enxaqueca e várias outras.
Você pode saber mais sobre o assunto nesse link.

Há também medicamentos bastante eficazes que, combinados com as terapias, podem


reduzir a irritabilidade de quem está no transtorno do espectro autista.

Por fim, para a prevenção, é necessário uma ação em conjunto com pais, médicos,
professores e demais envolvidos na vida do autista. Intervenção que recebe o nome de
psicoeducação. Todos precisam colaborar para construir ambientes calmos, previsíveis e
recompensadores. Como já comentamos em outro texto por aqui, não se apaga fogo
com fogo.

Mãe de autista contendo a agressividade do filho


Fonte: Arquivo pessoal cedido por Eloá Alves – Imagem real de um momento em que
Eloá Alves acalma o filho após uma crise de agressividade.

Dominando a fúria no comportamento autista: a luta real de uma mãe


Aqui no site, já contamos a história surpreendente de Eloá Alves, que é mãe de autista e
uma mulher que apoia outras famílias com muito mais do que uma história. Eloá viveu
momentos intensos em que as crises nervosas de seu filho, Paulo Antônio, 8 anos,
tiraram toda a energia da relação entre mãe e filho.

Agora, a convidamos para contar, em detalhes, como ela vem superando essa
dificuldade:

“O que me ajudou muito foi o instinto de mãe, de conhecer o meu filho. Eu precisei
aprender a validar as emoções dele. E quando você tem inteligência emocional, começa
a validar essas emoções. Fazendo isso, você começa a entender o que fazer como cada
uma das emoções. Ajudou muito, também, conhecer a terapia ABA, que é a análise do
comportamento aplicada. Quando comecei a comparar o que ele apresentava de
comportamento tanto antes como durante a crise, eu já podia prever como agir quando
acontecesse de novo.

Fora de casa, por exemplo, eu sempre tento fazer coisas que possam prevenir a explosão
e dosar melhor esse lado difícil do comportamento do meu filho autista. Se sei que
vamos num lugar que vai ser agitado, com muitas informações e que vai provocar nele
uma sobrecarga sensorial, vou acompanhada, se for uma presença inevitável no local,
claro. Também faço todo o preparo emocional do Paulo Antônio para a ocasião.

Acontecendo uma crise no local, eu preciso saber, estrategicamente, como sair dali. Por
isso, sempre bato nessa tecla com as pessoas e pelas minhas redes sociais. É preciso
respeitar as vagas de estacionamento preferenciais, que geralmente ficam perto das
saídas, ou se virem um carro adesivado indicando que ali tem um autista. O Paulo
Antônio está crescendo, não é mais tão fácil colocá-lo no carro como quando ele tinha
cinco anos. “

‘Eu entendo a sua dor’


Eloá conta, ainda, sobre as vezes em que a crise nervosa de seu filho ocorrem dentro de
casa, local onde mais se aflora o comportamento autista.

“Agora, com o isolamento social, devido à pandemia, tem acontecido frequentemente


dele ele ter as crises. Nesses momentos, eu paro com ele e busco entender as emoções.
Eu digo a ele que entendo o que ele quer, mas que não posso dar. Ele quer muito sair, ir
à biblioteca, que é um local em que ele ama estar, quer ir ao parque. Isso deixa ele muito
agitado, e ele tem direito de sentir isso. Mas eu tenho adotado a estratégia do silêncio.

Uma coisa que funciona bastante aqui em casa, também, é levá-lo para o banho, isso o
acalma bastante. Às vezes ele se morde, chuta, mas o tempo em baixo d’água vai agindo
pra deixar ele mais calmo. Quando eu vejo que é seguro, eu entro na água e fico
abraçada em silêncio com ele. É uma forma de mostrar que eu entendo e também sinto a
dor dele.”
Irritação, gritaria e agressividade. A frase que abre esse texto serve, também, para
lembrar a todos que isso não define um autista. Cabe a todos o respeito e a
compreensão. E cabe também promover o acesso à informação para que mais pessoas
saibam que a agressividade é passageira e tem

https://www.autismoemdia. elato real de enfrentamento de uma crise de desregulação


Era meados de novembro, o dia estava com a temperatura perfeita, nem muito quente e
nem muito frio. Depois de uma breve chuva, o céu se mostrou lindo, num tom de azul
maravilhoso salpicado por poucas nuvens brancas como algodão.

Já havíamos almoçado e depois assistido um filme divertido em casa mesmo quando


decidi que era uma boa ideia irmos andando até o shopping. Além de não precisarmos
nos preocupar com o estacionamento, poderíamos curtir o clima agradável. A
caminhada seria curta: 15 minutinhos conversando, rindo e observando as coisas e logo
estaríamos lá. O que poderia dar errado, certo?

Bastaram 4 minutos de caminhada para eu perceber como estava enganada…. Assim


que saímos de nossa rua e entramos na avenida que levava ao shopping, passamos por
uma árvore linda, repleta de flores amarelas. O vento fez cair dela algumas gotas de
água que provavelmente estavam em suas folhas desde quando a chuva caiu pela
manhã.

Uma dessas gotas “decidiu” pousar no rosto do meu filho. Não seria nada demais para a
maioria das pessoas, mas esse acontecimento banal gerou um desconforto imenso no
meu filho. Ele me perguntou o que era aquela água que havia caído nele. Eu,
despreocupadamente, respondi que era uma gotinha da chuva que havia caído mais
cedo.

Mas ele simplesmente não conseguia entender como podia cair nele uma gota de chuva
sem que estivesse chovendo naquele momento. As perguntas se tornaram insistentes e
repetitivas e nada que eu falasse fazia sentido para ele. Logo já estava gritando, batendo,
chorando e se jogando no chão.

Eu estava confusa: como uma gota d´água pode causar um distúrbio tão grande? Tentei
pegar meu filho no colo, o que não é nada fácil quando se trata de um garotão de 9 anos.
Ainda mais quando assume a força de um adulto quando em crise de desregulação, e o
levei aos trancos e barrancos até um local seguro. Eu temia não conseguir segurá-lo
adequadamente e ele correr para o meio da rua. Também temia os olhares de
desaprovação dos demais pedestres juntamente com seus comentários maldosos.

Por experiência própria, sei que alguns dos expectadores não se contentam apenas em
olhar e julgar. Eles querem se meter e dar palpites para resolver a situação. Já ouvi
muito: “isso é falta de tapa”; “na minha época isso não acontecia”; “a mãe está
maltratando a criança”; “é pura falta de pulso”;“que moleque mais sem educação”; esse
mundo está perdido”; “vou chamar o Conselho Tutelar”; e por aí vai.

Tem gente que tenta, ainda por cima, colocar a mão na criança em crise ou falar com
ela, o sempre foi uma péssima ideia. Pois no meu caso, isso sempre deixava meu filho
ainda mais descontrolado.

Por tudo isso, sempre que possível, tento me abrigar num local em que me sinta mais
protegida e já aviso rapidamente que meu filho tem autismo. Também falo que está em
crise de desregulação e que logo deve passar. Já vi pessoas que carregam pequenos
cartões com informações sobre a situação, mas nunca fiz isso pois sempre achei que
fosse esquecer de entregar na hora em que o auê se instalasse.

Bom, não sei quanto tempo a crise durou. Para mim pareceu uns 30 ou 40 minutos mas
sei que nossa percepção de tempo fica prejudicada durante momentos de tensão como
esse…O que eu sei com certeza é que, até que tudo voltasse ao normal, tentei conter
meu filho para que ele não machucasse a si próprio ou a mim, embora eu tenha falhado
nesse último ponto.

Minha bolsa foi arremessada para longe, me descabelei, mas mantive a calma e repetia
de tempos em tempos para ele respirar fundo junto comigo. Dizia com a voz calma que
tudo iria ficar bem até que ele foi relaxando, a tensão se foi e a crise passou.

O engraçado é que depois de tudo isso, continuamos andando e conversando até


shopping. Meu filho estava cansado (muitas vezes ele chega a dormir depois de uma
crise de desregulação), mas foi capaz de dizer que não entendia como a gota havia caído
nele e só, como se nada demais tivesse ocorrido.

A crise de desregulação sempre me intrigou: como alguém que está sendo totalmente
racional em um momento, pode ser o oposto no segundo seguinte? Mas, se pensarmos
bem, isso acontece o tempo todo com pessoas que agem impulsivamente quando
movidas pela raiva ou pelo medo, não é mesmo?

Sintomas de uma crise de desregulação em autistas


Crianças (e também adolescentes e adultos) com autismo podem ter crises de
desregulação envolvendo:

Gritos,
Choros,
Enjoos,
Mal estar,
Tremores,
Xingamentos
Objetos voando pelos ares, por exemplo.
Em inglês essas crises são chamadas de “meltdown”, que significa literalmente
derretimento. O nome é bem apropriado porque durante a crise ocorre o colapso de toda
(ou quase toda) capacidade de autorregulação e autogerenciamento.

É como se o piloto do avião saísse da cabine e um piloto automático programado apenas


para se defender e sobreviver assumisse o comando da aeronave. Sem a capacidade de
julgamento e discernimento do piloto, esse piloto automático passa a tomar decisões
sem qualquer base racional, voltadas puramente para a defesa ou o ataque. Por esse
motivo, conversas ou sermões raramente surtem efeito.

Para entender melhor essas crises e saber como agir, comecei a estudar e descobri essa
curva. Com ela entendi porque minhas chances de sucesso na intervenção diminuem ao
mesmo tempo em que a curva escala até o seu pico.¹

Crise de desregulação em crianças com autismo


Fonte: Supera Farma/Autismo em Dia

1 – Rotina e dia a dia


Observe a base do gráfico. O número 1 representa a rotina e os acontecimentos normais
do dia a dia, por isso, eles ficam abaixo da linha verde. É justamente aqui onde temos o
maior poder de ação e onde novas habilidades podem e devem ser ensinadas. Qualquer
habilidade de autorregulação deve ser treinada nesses momento para que possa ser
efetiva nos momentos de crise. Construir um relacionamento positivo é algo
fundamental e que funciona como um amortecedor para as situações de estresse. É um
porto seguro quando tudo vai pelos ares.

2 – Sinais precoces de stress


Avançando um pouco na leitura do gráfico, encontramos o número 2 – sinais precoces
de stress, esse momento é marcado pelo aumento das estereotipias, alteração no tom de
voz, maior sensibilidade aos estímulos sensoriais, mais introspecção ou isolamento,
aumento da necessidade de controle, etc. Por isso, é o momento ideal para redirecionar a
atenção para longe do que está causando o stresse.

3 – A crise está em seu ápice


O ponto alto da crise pode incluir comportamentos como por exemplo: morder, bater,
jogar coisas, xingar, chorar e etc. As possibilidades de ação ficam muito reduzidas, por
isso, esse não é o momento ideal para pedir explicações, explicar, aumentar demandas
ou dar sermão. Seja uma presença calma, proteja a pessoa em crise e outras pessoas e
objetos que possam estar em risco e aguarde a poeira abaixar.

4 – Controle da crise
Uma hora ou outra, a crise vai se dissipando, veja que ali no gráfico o momento da
queda está representado pelo número 4. Embora as coisas possam estar mais calmas
nesse momento, resista a tentação de conversar sobre a crise que acaba de acontecer. A
pessoa pode estar se sentindo muito ansiosa e esgotada.

Na ilustração você também vai observar uma curva mais discreta e moderada,
representada pela cor rosa. Essa é a curva do cuidador, que também vai passar por
momentos de apreensão seguidas de um pico de estress. Que aos poucos também deverá
ir diminuindo. O cuidador também precisa estar muito atento às suas emoções e reações,
pois o seu instinto vai ser de entrar no modo “luta ou fuga”, assim como a pessoa que
está em crise.

Importante lembrar que na hora da crise, pouca coisa surte efeito, por isso, o tempo me
mostrou que coisas que funcionam muito bem numa crise, podem não funcionar em
outra. A convivência com outros autistas e seus familiares também me fez ver que os
gatilhos para crises são muito pessoais e o que causa crises em um pode muito bem
motivo de risos em outro. Assim, aprendi que o que se pode fazer quando a crise se
instalou é manter a calma, respirar fundo e garantir a segurança e o bem estar de quem
está em crise até que tudo volte ao normal.

Apoio do cuidador e autorregulação


O que faz realmente a diferença é agir antes que a crise se instale, identificando quando
as coisas estão indo por um caminho difícil, mas antes que esteja tudo perdido. Às vezes
a escalada é tão repentina, que pouco ou quase nada é possível ser feito para evitar o
colapso, no entanto, em outros momentos, é possível agir e isso faz toda a diferença do
mundo.

Tudo isso tem a ver com o funcionamento do Sistema Nervoso Autônomo, que é quem
comanda as ações fundamentais e espontâneas do corpo humano como, por exemplo, a
respiração, digestão, temperatura e frequência cardíaca. O Sistema Nervoso Autônomo
depende do funcionamento sincronizado de dois outros sistemas: o Sistema Simpático e
o Sistema Parassimpático.

Quando tudo está bem, este último entra em ação nos levando a ficarmos calmos, com
os batimentos cardíacos mais lentos e a respiração tranquila e calma. Por outro lado,
quando nos vemos diante de uma situação de perigo (seja ele real ou imaginário),
ativamos nosso sistema de defesa que é responsável por preparar nosso corpo para luta
ou fuga.

Nesses momentos, o Sistema Simpático assume o comando disparando os batimentos


cardíacos, pois age acelerando a respiração, secando a saliva, a dificultando a
deglutição, dilatando a pupila e bombeando adrenalina na corrente sanguínea.

Não é de se espantar que tudo fique mais complicado nesses momentos, né? Com esse
nível de tensão, a comunicação e a aprendizagem ficam momentaneamente prejudicadas
ou mesmo impedidas, motivo pelo qual, qualquer tentativa de se ensinar algo, dar um
sermão ou aumentar as demandas pode ser encarada como uma agressão ou uma
confrontação, o que não ajuda a crise a passar de forma mais rápida.

Assim, apenas quando o Sistema Parassimpático voltar a assumir o comando, ficamos


calmos e abertos à comunicação. Por isso, investir em ações que acalmam como
respiração profunda ou usar um pote da calma são fundamentais nesses momentos
difíceis. ²

Esse ponto deixa bem clara a diferença entre uma crise de desregulação e uma mera
birra. A birra se encerra assim que a criança consegue o que quer, ou seja, todo choro e
aparente descontrole cessam quando o objetivo é alcançado. O mesmo não ocorre na
crise de desregulação. Não se trata de se conseguir o que se quer e sim ser capaz de
acalmar um corpo que entrou no estado de luta ou fuga, que acha que precisa se
defender ou fugir e cuja cognição está prejudicada.

Autismo: enfrentanto uma crise de desregulação


Fonte: Envato – monkeybusiness

Como não se apaga fogo com fogo, a função de pais, avós, tios, professores, terapeutas
e demais cuidadores é manter a calma nos momentos de uma crise de desregulação para
que a criança, adolescente ou adulto em crise possa também se acalmar o mais breve
possível. Nunca conseguiremos controlar como agem e o que pensam os expectadores
de uma crise de desregulação, mas nossas ações e reações estão sob nosso comando e é
justamente nelas que devemos focar.

Colaborou com esse artigo: Cristiane Carvalho, mãe de autista e empresária idealizadora
do Teraplay

Aproveitamos a conexão emocional desse assunto para indicar um e-book dedicado a


acolher as necessidades dos cuidadores de autistas. Baixe o e-book “Descobrindo o
Universo Azul” e depois conta pra gente o que achou!

Descobrindo o infinito azul

Referências bibliográficas e dados de acesso


1 – Asperger Syndrome and difficult moments – Practical solutions form tantrums, rage
and meltdowns – Brenda Smith Myles & Jack Southwick – 2ª edição – 2005 – página
26
2 – Aprenda Bio

“O Autismo em Dia não se responsabiliza pelo conteúdo, opiniões e comentários dos


frequentadores do portal. O Autismo em Dia repudia qualquer forma de manifestação
com conteúdo discriminatório ou preconceituoso.”com.br/

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