Curso de Formação

em TERAPIA COGNITIVO-
COMPORTAMENTAL
infantojuvenil
Regulação emocional com
crianças e adolescentes
REGULAÇÃO EMOCIONAL COM CRIANÇAS E
ADOLESCENTES
As emoções têm sido alvo frequente de
interesse e estudos em diversas áreas do conheci-
mento científico. Elas surgem como processos
centrais no funcionamento humano, desempenhan-
do papel importante como organizadoras do desen-
volvimento cerebral e em diversos domínios do
funcionamento psicológico e social.
As pessoas são constantemente confronta-
das com situações nas quais alguma emoção se
encontra presente, por isso, torna se relevante
aprender a lidar com elas e adquirir hábitos emocio-
nais saudáveis.
Desde muito tempo, a regulação emocional
(RE) ocupa lugar importante na investigação sobre
emoções, tendo sido abordada nos estudos de
Darwin (1872), segundo os quais certas formas de
expressão emocional se baseiam em seus aspectos
funcionais e regulatórios. Na psicologia, o tema foi
investigado sob diferentes perspectivas, como nos
estudos sobre a teoria tridimensional das emoções
de Wundt (1863), no campo da psicanálise (FREUD,
1946) e nas pesquisas sobre estresse e coping
(LAZARUS, 1996). Mais recentemente, a RE foi
proposta como uma das habilidades relacionadas à
inteligência emocional (IE).
Nas últimas décadas, a investigação sobre
RE tem-se constituído em uma área de investigação
científica pelo notável reconhecimento de sua
importância ao desenvolvimento dos aspectos
saudáveis do ser humano. Ela é definida como a
administração das emoções para promover o
crescimento emocional e intelectual, tornando se
essencial para manter o equilíbrio do sujeito,
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permitir relações adaptadas e promover a saúde
mental.
Portanto, a RE se refere à capacidade de
tolerar reações emocionais agradáveis ou
desagradáveis, compreendendo as sem
exageros ou diminuição de sua importância, e
aprendendo a controlá las ou descarregá-las
apropriadamente.
Esse processo acontece somente a partir
do reconhecimento do humor e da abertura aos
sentimentos, pois só assim as emoções final-
mente podem ser compreendidas e, então, sepa-
radas conscientemente do comportamento.
O sistema familiar é um sistema com
grande importância para o desenvolvimento da
capacidade de RE. Uma relação positiva da díade
mãe/bebê - mãe/filho adolescente funciona como
um fator protetor ao desenvolvimento da capaci-
dade e ao uso de estratégias adequadas de RE.
Em contraste, quando as mães respondem de
forma desadequada ou inválida às emoções dos
seus filhos, estes apresentam, com maior frequên-
cia, comportamentos e estratégias desadequados
no que concerne à RE.
Estudos científicos mostram que mesmo
que o indivíduo não tenha aprendido em seu
núcleo base, que é o familiar, a lidar com suas
emoções, é possível através de técnicas bem
estruturadas, adaptadas a cada caso, aprender a
lidar com as emoções de maneira saudável. Esta
apostila tem por finalidade apresentar algumas
dessas técnicas embasadas na terapia cogniti-
vo-comportamental, adaptadas para que crianças
e adolescentes aprendam a regular suas
emoções.
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INTELIGÊNCIA EMOCIONAL
A inteligência emocional é um dos aspectos
importantes a serem desenvolvidos na vida de uma
pessoa. Possuir inteligência emocional ajuda nas
relações com os demais e consigo mesmo, melhora
a aprendizagem, facilita a resolução de problemas e
favorece o bem-estar pessoal e social.
A inteligência emocional é formada por um
conjunto de competências relacionadas à capaci-
dade de administrar, de forma adequada, as
próprias emoções e também as alheias. Para pos-
suir inteligência emocional é necessário colocar em
prática esse conjunto de competências. São elas:
Consciência emocional: Capacidade de
estar consciente das próprias emoções e das
emoções dos outros.
Adequação emocional: Capacidade para
controlar as emoções de forma apropriada.
Autonomia emocional: Capacidade para
gerar, em si mesmo, as emoções apropriadas em
um momento determinado. Isso inclui autoestima,
atitude positiva diante da vida e responsabilidade.
Habilidades socioemocionais: Capaci-
dade para manter boas relações com os outros.
Habilidades para a vida e o bem-estar
emocional: Comportamentos apropriados
responsáveis para confrontar aquilo que nos acon-
tece, o que permite organizar nossa vida de forma
saudável e equilibrada, facilitando experiências de
satisfação e bem-estar.
É importante compreender que adquirir
essas habilidades não é uma tarefa fácil. É
necessário treinamento e muita prática!
Mas como ajudar crianças e adolescentes a
desenvolverem essas habilidades? Para se chegar a
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tal finalidade é necessário adentrar em seu “uni-
verso” e utilizar-se de suas linguagens. A lingua-
gem da criança, por exemplo, é o brincar. É
através do lúdico que conseguimos acessá-las; já
os adolescentes têm um pensamento mais con-
creto, formal e racional, estão ávidos por conheci-
mento bem-embasado, que responda, de forma
satisfatória, a seus questionamentos, por tanto,
recursos mais cognitivos e racionais são os mais
indicados. No anexo I desta apostila, você encon-
trará sugestões de materiais que podem ajudar a
estruturar de forma prática esse processo.
Os pais desempenham um papel primordi-
al nesse processo de ajudar os filhos a terem
inteligência emocional. Porém o que se constata é
que se os filhos não possuem inteligência emocio-
nal, isso significa que os pais também não a pos-
suem, portanto, é necessário ensiná-los a ter
essas habilidades para que possam ajudar os
filhos nesse processo. O Treinamento de pais é
uma técnica da TCC que pode ser usada para esta
finalidade.
Os pais devem ser conscientizados de que
para ajudar os filhos a possuírem IE é necessário
estarem dispostos a investir muito tempo! Uma
observação simples, um comentário ou uma
e "bronca" não é o suficiente. Necessita-se de
paciência, repetição, insistência e treinamento
diário.
ESTRATÉGIAS DE REGULAÇÃO EMOCIONAL
COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Como ajudar crianças e adolescentes a
regularem suas emoções?
O primeiro passo é psicoeducá-los
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sobre o que são emoções e quais as suas
funções na nossa vida. Na atualidade, as pessoas
têm uma ideia disseminada de que as emoções não
devem ser sentidas. Retira-se o foco da emoção e
coloca-se ele em outras coisas como comida,
álcool, droga, eletrônicos, jogos, celular, TV, etc. Por
conseguinte, é necessário ensiná-los que é normal,
às vezes, sentirem-se tristes, zangados ou assusta-
dos. Com uma maior tolerância em relação aos
sentimentos mais dolorosos, as crianças e os ado-
lescentes tornam-se mais livres para desfrutar de
seu mundo, sentir confiança nas suas capacidades
e ser felizes.
Entender o que gerou essa emoção. Uma
boa estratégia para se chegar a esta finalidade é a
utilização do diário das emoções. Que se trata de
um caderno que o paciente ficará com ele a semana
toda para registrar o momento exato no qual sentiu
determinada emoção e que evento antecessor
provocou aquela emoção.
Escolher uma estratégia de regulação.
Pode-se incluir técnicas de respiração diafrag-
mática, relaxamento muscular, reavaliação dos
pensamentos, ressignificação da situação,
mindfulness, autoinstrução (na apostila de técni-
cas e intervenções cognitivas e comportamentais,
encontra-se a descrição dessas técnicas, bem
como sugestões de aplicação). Casos mais difíceis
de serem enfrentados devem ser levados para a
sessão de terapia, na qual terapeuta e paciente
elaboram estratégias de enfrentamento.
Oficina das emoções. Objetiva-se desper-
tar as crianças e os adolescentes para suas próprias
emoções, incentivando-os a identificarem e admin-
istrarem seus sentimentos e facilitando a forma
como compreendem e lidam com eles. O terapeuta
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facilitador da oficina forma um grupo de, geral-
mente, no mínimo cinco crianças e desenvolve
com estas diversas atividades lúdicas interativas
que trabalhem o reconhecimento das principais
emoções como alegria, tristeza, raiva, medo, etc.,
bem como estratégias para saber lidar com elas.
Treinamento de pais. Como já citado, é
primordial que os pais saibam regular suas
emoções para que os filhos obtenham sucesso
nessa tarefa. Isso porque os filhos aprendem vendo
o exemplo dos pais, como estes lidam com suas
próprias emoções. Se os pais estão tristes, chatea-
dos e com raiva e decidem beber, mexer no celular,
ver TV, o filho tende a fazer igual. Depois, quando o
filho pergunta ao pai se está bem, e ele diz que não
é nada, ele aprende que as emoções não são
bem-vindas, que precisam ser abafadas.
Da mesma forma, se os pais tentam minimi-
zar a emoção do filho que está com raiva, por
exemplo, com um “larga de bobagem, isso não é
nada”, não ajudam a solucionar o ímpeto da
emoção. Perder um brinquedo pode não ter grande
valor econômico, mas tem o valor afetivo. Se eu
digo que isso não é nada, estou minimizando a
emoção da criança. Ou dizer a um adolescente que
acaba de terminar um relacionamento amoroso
que isso não tem importância, de igual modo, não
ajudará a superar a situação de maneira saudável.
É necessário ensinar os pais o processo
ideal para ajudar seus filhos a lidarem com suas
emoções de forma a gerarem comportamentos
saudáveis. Ensiná-los a validar a emoção dos
filhos, perguntar o que estão sentindo, porque
estão sentindo-se de determinada maneira e deixar
claro que podem contar com sua ajuda. Num
segundo momento, parte-se para a resolução de
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problemas, identificando o que pode ser feito diante
da situação que gerou a emoção em questão. O
processo é o mesmo em qualquer idade. Para os
pequenos, os pais devem assinalar ao filho que ele
está sentindo uma emoção, nomear essa emoção,
indicar o que provavelmente gerou essa emoção e
fazer alguma coisa em relação a isso.
Quando a criança cresce, questiona-se o
que ela está sentindo e o que pode ser feito para
lidar com isso, apresentando posicionamentos
como “E se fizer isso, o que vai acontecer?”. Com o
passar do tempo, busca-se da criança ou do ado-
lescente a possibilidade de solução, ao mesmo
tempo que se acolhe, demonstra-se presença. À
medida que ele pensa em estratégia de solução,
debate-se com ele sobre as possibilidades que
devem ser aplicadas.
APRENDENDO A LIDAR COM:
Cada emoção requer o emprego de difer-
entes estratégias de regulação ou de enfrentamen-
to. Esta seção da apostila elenca estratégias para
ajudar crianças e adolescentes a lidarem com três
das emoções citadas como sendo as mais difíceis
para eles enfrentarem.
Tristeza - têm sido empregadas estratégias,
tais como reestruturação cognitiva, execução de
atividades de lazer, atividades sociais e esportivas.
Raiva - as estratégias usadas são:
distração, autoverbalizações, assertividade,
mudança de pensamento, relaxamento muscular,
afastar-se da situação, entre outras.
Medo - as estratégias estão relacionadas
aos comportamentos de solicitação de ajuda, à
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identificação da origem do medo e à avaliação de
sua veracidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CABRAL, L.M. Regulação e Reconhecimento de
Emoções e Estratégias de Coping: Num estudo
comparativo entre adolescentes acolhidos e
não acolhidos, Lisboa: ISCTE, 2012.
CAMINHA, R. M.; CAMINHA, M. G. Meu Caderno
de Terapia. Nova Hamburgo: Sinopsy, 2016.
CASTRO, A. M. F. M. et al. Validade discrimi-
nante entre regulação emocional e resiliência.
2017. DOI: 10.15689/AP.2017.1602.15. Disponível
em: <http://pepsic.bvsalud.org/pd-
f/avp/v16n2/v16n2a16.pdf>.
GROP. Atividades para o desenvolvimento da
Inteligência Emocional nas Crianças. Jandi-
ra-SP: Ciranda Cultural, 2016
LEAHY, R. L. Regulação emocional em psico-
terapia: um guia para o terapeuta cogniti-
vo-comportamental. Porto Alegre: Artmed, 2013.
PIMENTA, P. Raiva em crianças e adolescentes:
estratégias de regulação. Santa Maria-RS:
UFMS, 2019. Disponível em: <https://ww-
w.ufms.br/raiva-em-criancas-e-adolescentes-es-
trategias-de-regulacao/>.
Autora: Yara Figueirôa, Psicóloga (CRP 02/21114),
terapeuta cognitivo-comportamental,
pós-graduanda em Transtorno do Espectro Autista
(TEA) pelo Child Behavior Institute of Miami.
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ANEXO I - SUGESTÕES DE MATERIAIS PARA TRABALHAR AS COMPETÊNCIAS DA INTELIGÊNCIA
EMOCIONAL COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

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ANEXO II - PARA QUE SERVE CADA EMOÇÃO?

ALEGRIA: para reforçar AMOR: para nos proteger, nos

nossas amizades e alianças incentivar e manter nossos
sociais laços com quem amamos e
gostamos.

MEDO: para preservar a vida. TRISTEZA: para repensarmos

Sem ele correríamos muitos a nossa vida e nossas
riscos. atitudes.

RAIVA: para nos protegermos NOJO: para evitarmos

contra as pessoas que nos contaminação e nos
fazem mal. diferenciar de outras pessoas
das quais não gostamos das
atitudes.

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