Curso de Formação

em TERAPIA COGNITIVO-
COMPORTAMENTAL
infantojuvenil
Mindfulness com crianças
e adolescentes
MINDFULNESS COM CRIANÇAS
ADOLESCENTES
Vivemos em um mundo onde adultos,
adolescentes e crianças estão sobrecarregados por
exigências de multitarefas atencionais. Precisamos
fazer, de modo rápido e eficaz, milhões de coisas ao
mesmo tempo! Mesmo crianças pequenas são
exigidas a gerenciarem seu tempo na escola e em
casa. Quando livres, sobrecarregam cada vez mais,
grande parte de sua capacidade atencional em
frente a TVs, computadores ou smartphones.
A infância que muitos de nós conhecemos,
livre e lúdica, infelizmente, está se perdendo em
todos os lugares do mundo, dando espaço para o
estresse e o conflito nas vidas de nossas crianças e
nossos adolescentes.
Com tantas demandas atencionais para
solucionar as questões do “mundo exterior”, é difícil
estarmos atentos a respeito de nós mesmos. E
nossas crianças e nossos adolescentes? Será que
estão tendo tempo para olharem para dentro de si?
Será que têm energia, tempo, disposição e
estímulos para isso?
Ao analisar as grades curriculares das
escolas, vemos que as crianças e os adolescentes
depositam sua atenção no desenvolvimento de
cálculos, na história de seu país, na aquisição de
uma língua estrangeira e, no seu tempo livre, em
casa, ficam debruçados sobre smartphones e
tablets. Percebe-se que eles estão, em todos os
setores da vida, sempre, com a atenção voltada
para coisas relacionadas ao “mundo de fora”. E isso
é preocupante porque a nossa saúde mental
depende da nossa capacidade de aprender a lidar
efetivamente com o “mundo de dentro”
comportalmente.com.br | @comportalmente
E pensamentos, emoções e comportamentos.
A parte essencial da constituição dos seres
humanos está sendo deixada de lado em todos os
âmbitos das atividades que são oferecidas para as
crianças e os adolescentes, eis um dos motivos
pelos quais os consultórios estão lotados de
crianças e adolescentes com problemas
emocionais. Mas, então, qual seria a forma de
resolver esse problema? A abordagem
Mindfulness tem-se apresentado como uma
possível solução para esses problemas.
MAS, AFINAL, O QUE É MINDFULNESS?
A prática de mindfulness passou a fazer
parte da medicina comportamental a partir dos
programas de redução de estresse de Kabat-Zinn
(1982). O conceito, cuja origem está nas práticas
orientais de meditação, logo despertou, no início
dos anos de 1990, o interesse de clínicos fora da
área da medicina comportamental e tomou de
assalto as terapias comportamentais
contextualistas, como a Terapia de Aceitação e
Compromisso (ACT), por exemplo.
Mindfulness é uma palavra de origem
inglesa e que está relacionada aos conceitos de
consciência e atenção.
Nosso cérebro está sempre ávido por
novas informações sobre o ambiente, bem como
sobre nós mesmos. Mas passamos, também, por
momentos nos quais estamos profundamente
conscientes de algo, desde uma sensação
corporal até uma reflexão sobre a vida; isso é
mindfulness, uma forma específica de atenção
plena – concentração no momento atual,
‒ intencional e sem julgamento. Concentrar-se no
1
momento atual, estar em contato com o presente e Permitir-se conhecer e compreender a si mesmos
não estar envolvido com lembranças ou com com maior profundidade e realismo,
pensamentos sobre o futuro. Considerando que as desenvolvendo compaixão com as próprias
pessoas funcionam muito num modo de piloto dificuldades e características pessoais.
automático, a intenção da prática de mindfulness A partir desses aspectos gerais, diversos
seria exatamente dirigir a atenção plena para a ação mecanismos se desdobram, tais como a
no momento atual. autorregulação, flexibilidade emocional,
Esse estado mental de estar presente e comportamental e cognitiva, clareza de valores,
atento ao aqui e agora pode ser treinado e exposição e desidentificação.
desenvolvido tanto por adultos quanto por crianças
e adolescentes. MINDFULNESS PARA CRIANÇAS E
Atualmente, diversas abordagens ADOLESCENTES
terapêuticas utilizam mindfulness como base tanto As práticas de mindfulness têm como
para o tratamento de psicopatologias quanto para a objetivo trabalhar, a partir do treinamento da
promoção de bem-estar e qualidade de vida, todas atenção, as habilidades de autoconhecimento e
desenvolvidas, inicialmente, para adultos; como regulação emocional, contribuindo para redução
exemplo, temos a Terapia Dialética do estresse e para o desenvolvimento de melhores
Comportamental (DBT) e a Terapia de Aceitação e estratégias de enfretamento de problemas.
Compromisso (ACT). Abordagens com adaptações Mediante observação e aceitação dos eventos que
para crianças podemos citar a Mindfulness-Based surgem no momento presente, os participantes
Cognitive Therapy for Children (MBCT-C). trabalham a observação de si mesmos e de suas
O treinamento é baseado em técnicas de reações, sentimentos e pensamentos.
modulação de foco da atenção e mudanças em Essas práticas envolvem sentar em silêncio
formas rígidas de se relacionar com si mesmo. com a atenção centrada nas sensações físicas, na
Essas técnicas ensinam as pessoas a, respiração ou nos sons, em caminhadas
gradualmente, generalizarem essas habilidades focalizadas nas sensações envolvidas, técnicas de
para o dia a dia, desenvolvendo uma melhor body scanning (prestar atenção às sensações em
capacidade de lidar com as próprias emoções, com cada uma das partes do corpo sistematicamente),
o estresse e com comportamentos mal-adaptativos. entre outras.
A orientação para a experiência trata das Quando pensamos em utilizar mindfulness
atitudes de abertura e aceitação que devem com adolescentes, a prática que já é vivenciada
acompanhar todo o treinamento de mindfulness. com os adultos pode ser muito bem aplicada, mas
Observar a si mesmo sem julgamentos, fuga ou quando pensamos em trabalhar com crianças,
apego a sentimentos, tanto positivos quanto precisamos levar em conta pontos específicos do
negativos, permite que o indivíduo passe a lidar desenvolvimento que podem interferir nas
com situações diárias de formas menos reativas. aplicações das técnicas.

2
comportalmente.com.br | @comportalmente
 A simples repetição do treinamento da
forma como é feita com os adultos e adolescentes,
se aplicada com crianças, está fadada ao fracasso,
tendo em vista que seu tempo de foco atencional
em detrimento de seu desenvolvimento é muito
curto e suas habilidades de raciocínio abstrato
também não estão bem desenvolvidas. Técnicas
aplicadas com crianças precisam estar em
coerência com esses aspectos específicos das
suas faixas etárias.
Para atingir o objetivo esperado é preciso
adaptar as técnicas de mindfulness, programando,
por exemplo, períodos menores de meditação
sentada e com maior frequência de repetição,
utilizar metáforas e explicações práticas para
facilitar a compreensão e estabelecer mais foco em
observação sensorial em vez de reflexões abstratas.
Práticas de atenção na respiração
costumam ser difíceis para crianças, visto que se
distraem facilmente e cansam-se rapidamente da
tarefa. Uma boa forma de começar a aplicação da
técnica é utilizar-se de sons, usando, desse modo, o
que antes seria um fator de distração como um
objetivo de foco.
É importante engajar a criança na tarefa,
respeitando sempre o seu ritmo e seu limite.
Usando, ainda, o exemplo da utilização dos sons
para aplicação das técnicas, pode-se pedir à
criança que anote quantos sons diferentes
consegue ouvir em determinado período de tempo
ou tocar um sino e pedir que levante a mão quando
não estiver mais ouvindo o som. Essas estratégias
fazem com que a criança mantenha seu interesse e,
por consequência, sua atenção na tarefa que está
sendo realizada.
comportalmente.com.br | @comportalmente
Para auxiliar as crianças a entenderem o conceito
de mindfulness, existe uma metáfora do pote de
purpurina. Pode-se montar um pote, com a
criança, utilizando diferentes cores de purpurina
para representar as emoções. Com a ajuda de
histórias do dia a dia, a criança vai colocando
purpurina no pote de vidro com água a cada
emoção que ela identifica ter vivenciado naquela
situação. Ao final da história, o pote é fechado e
chacoalhado, demonstrando como nossas
emoções podem tomar conta de nós no nosso
cotidiano. Mas, quando deixamos nossa mente se
aquietar e observamos o que acontece, toda a
purpurina desce para o fundo e é possível ver mais
claramente através da água.
É importante destacar o papel da
compreensão das próprias emoções no trabalho
com crianças e adolescentes. Uma forma de
trabalhar para tal compreensão é ilustrá-las como
visitantes que estão de passagem e logo se vão.
Essa metáfora os ajuda a entender que eles não
podem evitar que as emoções apareçam, contudo
podem escolher como vão lidar com elas e
escolher se vão ou se ficam.
Verifique, no Anexo I, ao final desta apostila,
exemplos de materiais que podem ser usados na
prática clínica com crianças e adolescentes, para
aplicação da técnica de mindfulness.
3
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAMINHA, R. M. et al. A prática Cognitiva na

infância e adolescência. Novo Hamburgo:
Sinopsy, 2017.

FRIARY, V. Mindulness para crianças: estratégias

da Terapia Cognitiva Baseada em Mindfulness
(MBCT) – manual ilustrativo para pais,
educadores, psicólogos e psiquiatras. Novo
Hamburgo: Sinopsys, 2018.

VANDENBERGHE, L.; SOUSA, A. C. A. de.

Mindfulness nas terapias cognitivas e
comportamentais. Rev. Bras.Ter. Cogn., Rio de
Janeiro, v. 2, n. 1, p. 35-44, jun. 2006. Disponível
em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_ar
ttext&pid=S1808-56872006000100004&lng=pt&nr
m=iso>. Acesso em: 22 dez. 2019.

Autora: Yara Figueirôa, Psicóloga (CRP 02/21114),

terapeuta cognitivo-comportamental,
pós-graduanda em Transtorno do Espectro Autista
(TEA) pelo Child Behavior Institute of Miami.

4
comportalmente.com.br | @comportalmente
ANEXO I

RECURSOS PSICOTERÁPICOS PARA SEREM

UTILIZADOS COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES
NA PRÁTICA DE MINDFULNESS

5
comportalmente.com.br | @comportalmente