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UM TEXTO PARA UMA AVÓ QUE

NÃO É MINHA.
26 de dezembro de 2016

Existe uma senhora que não é minha avó biológica, porém, durante algum tempo , me
amou como se fosse. Chamarei essa senhora de Dona Maria.

Há pouco mais de um ano D. Maria não faz parte da minha vida no plano físico, mas
isso não me impede de amá- la e admirá- la.

Sei pouco sobre a vida de D. Maria, mas não tem problema, o fato de eu não saber
muito sobre sua infância não muda o quero escrever para ela nesse texto.

Sei que D. Maria começou a trabalhar ainda na infância, no interior do Brasil e era
extremamente pobre. Não sei o que ocorreu no meio do caminho, mas a jovem Maria se
casou logo com seu Mario. Eles passaram por muita dificuldade financeira para criar
seus filhos. Antes fosse só dinheiro, o problema.

Seu Mario tem a idade de D. Maria, porém, aparenta ter uns 20 anos a menos. Seu
Mario sempre trabalhou fora e , infelizmente, traía Dona Maria com mulheres mais
novas.

Os filhos descobriram. Dona Maria, em pedaços, o perdoou.

Vieram os netos, os queridos e amados netos! D. Maria cuidava deles com muito amor e
carinho, mas cuidava de um em especial, Marcos. Marcos tinha tudo para ser um cara
gente boa, até foi um pouco, mas Marcos me apunhalou pelas costas diversas vezes,
assim como seu Mario apunhalou D. Maria.

Bem , o foco desse texto não é o Marcos e muito menos suas atitudes, mas sim, D.
Maria e um relacionamento bosta, que ela comcerteza não merece.

Ano passado, D. Maria e seu marido, completaram 50 anos de casado. 50 anos de


pequenos maus-tratos psicológicos e algumas traições. Tudo foi festa, uma festa grande
e bonita, que emocionou a todos.

No final, uma frase de D. Maria cortou meu coração e martela minha cabeça até hoje…

Ela virou para seu marido ( e para todos qu lá estavam) e disse ” Mas eu não mereço
tudo isso, é muito para mim!”

Por dentro, eu gritava com ela: ” VÓ, A SENHORA MERECE MUITO MAIS !
MERECE UM CARA QUE TE RESPEITE , QUE NÃO SEJA UM FOLGADO ( sim,
como quase todos os homens de ” antigamente “, seu Mario via TV enquanto D. Maria
fazia todos os afazeres de casa), QUE NÃO GRITE COM A SENHORA E QUE TE
AME MUITO!!”

Eu não conseguia entender COMO aquela mulher maravilhosa ( em todos os sentidos da


palavra ) viveu 50 anos num relacionamento BOSTA e quando, finalmente, recebeu
uma surpresinha, verbalizou NÃO SER MERECEDORA DE TAMANHA COISA
BOA!!!!! Eu não entendia mesmo.

Certa vez, Marcos, seu neto, ficou bravo comigo por um motivo aleatório e acabou
gritando comigo no meio da rua. Não sei porque esse assunto veio à tona na casa da Vó
Maria, mas ela virou pra mim em um tom muito sério e disse: “Não deixa ele gritar
com você.”

Eu entendi o recado, mesmo não compreendendo PORQUE DIABOS DONA MARIA


AGUENTOU TANTO TEMPO O QUE ELA ME PEDIA PARA NÃO AGUENTAR!

Minha vida foi acontecendo, uma parte dela ao lado do seu neto e , apesar de eu ser
cerca de 50 e poucos anos mais nova do que D. Maria , me vi passando pelo mesmo que
ela passou: Um relacionamento desrespeitoso, no qual eu ainda insistia e acreditava.

Meu relacionamento com Marcos terminou, com um grande par de chifres na minha
cabeça , só para constar. Eu nunca mais veria D. Maria e isso me machucava mais do
que ter me separado ( ou livrado de seu neto.)

Mesmo assim, os recados de D. Maria chegaram até mim: ” Fala pra Fernanda não
voltar com ele e nem perdoá- lo, ela merece coisa melhor.”

Digito isso com lágrimas nos olhos, porque eu entendi o recado. D. Maria não quer que
eu passe pelo que ela passou, não quer que eu aguente o que ela aguentou .

Ah, vó Maria, hoje, depois do maremoto de acontecimentos, gostaria de te agradecer do


fundo do meu coração. Sei que a senhora não me esquece, assim como não esqueço a
senhora.

Tudo acontece por um acaso, ninguém passa por nossa vida apenas por passar e eu sou
grata pela breve passagem de D. Maria em minha vida e seus ensinamentos.

Honrarei a senhora e a mim mesma, eu não preciso de um relacionamento bosta.

Como já disse, talvez eu nunca mais veja D. Maria pessoalmente, mas sinto nossos
corações unidos por algum motivo que eu não sei explicar. Isso basta, para mim.

Não posso mudar o que aconteceu com D. Maria, mas posso mudar o que acontecerá
comigo.

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