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Título: Prostitution is the World’s Oldest Profession (And we’re Professional).

Autora: Lully .
E-mail: lully.jones.wentz@hotmail.com
Ship: Ryan & Brendon; David & Pierre; Gabe & William; Jon Walker e Spencer
Smith; Tyson & Nick, Gerard & Frank, Nate & Alex.
POV: Primeira Pessoa.
Fandom: The Young Veins, Panic! at the Disco, Simple Plan, Cobra Starship,
The All-American Rejects, My Chemical Romance, The Academy Is…
Censura: R.
Gênero: Slash, Drama, Tragédia, Angst, Romance.
Status: Concluída.
Capítulos: Sete contos.
Outras Fics: Sim.
Moderadora que autorizou: xx.
Beta-reader: Lully.
Disclaimer: Nada aconteceu, é.
Teaser: xx.
Capa: xx.
Notas: A fanfic é um molde antigo das minhas fanfics, que tinha sido esquecido
num canto qualquer dos meus cadernos, implorando para que eu desse uma
chance a uma história com mais plots que o meu previsto, dentro de um só.
Então, espero que eles te façam muito felizes, como eu me senti feliz em
escrever algo que eu planejava há, pelo menos, três anos. Sei que Nick/Tyson
não é um ship muito conhecido, mas como a fic é feita em pequenos contos –
ou seja, uma pequena coleção de pequenas one-shots – talvez valha a pena
arriscar. A fanfic se passa toda dentro de um cabaré e em Salt Lake City,
porque é uma das cidades que eu mais amo em todo o país americano.
Justamente por ter seus laços fortemente ligados à sua religião – mórmon –
que vem desde sua fundação e por ter montanhas belas e frias, eu escolhi a
cidade por esse contraste bastante entre a pureza religiosa e a impureza da
prostituição. Os povs variam de ship para ship, mas continuam sempre em
primeira pessoa, porque eu estava completamente saudosa de escrever em
primeira pessoa. Enfim, era tudo o que eu tinha para dizer de algo tão
importante e especial para mim.

01.Feels like I’m Falling in Love Alone.

POV do Beckett.

Havia um tempo que eu estava morando sozinho naquela cidade


adorável, mas eu era do tipo que era rejeitado por aquela sociedade
conservadora e, em sua maioria, mórmon por causa do lugar onde eu
trabalhava. Embora eu não fosse do cast de prostituição, como meu pai era
acostumado a me dizer “aquilo era um antro de perdião”. Principalmente
porque lá todo o cast de acompanhantes era masculino e quem estava lá afim
de diversão eram apenas <i>homens</i>. Claro que eu dizia ao meu pai que
estava na hora de mudar a visão; a final, os anos sessenta eram
revolucionários.

Eu trabalho em um cabaré em Salt Lake City que era bem afastado da


cidade, nas montanhas do mesmo. Um cabaré encantado, onde tudo o que
quiser e o que quiser poderia ser feito, bastava apenas ter uma boa condição
financeira. Muitos gostavam daquele lugar pelo sigilo que ele continha e porque
ali não tinha mais regras – além de sigilo e nomes falsos -, não existia mais
sociedade. Tudo ali era para a diversão de quem freqüentasse, mas eu só
queria ser feliz e ter uma vidinha normal. Eu só havia aceitado ser garçom –
quase sem roupa alguma, na verdade, e coberto por um avental, boxer e
gravata borboleta – num lugar como aquele porque pagavam bem. Muito bem e
eu precisava cuidar do meu pai que estava cada dia mais doente. Os médicos
não sabiam exatamente o que ele tinha, mas estava em fase terminal. Ele
precisava dos aparelhos.

Nesse dia em especial, eu fui para o trabalho meio sem vontade -


porque por mais que ele não tivesse sido um cara perfeito na infância, ainda
era meu pai – e suspirei baixo quando vi o homem por quem daria minha vida
entrando pela porta dos funcionários. Ele era alto, tinha olhos escuros e
cabelos crespos. Embora longe do padrão <i>americano</i> de beleza, ele me
deixava maluco com um simples olhar. Seu jeito latino – porque eu soube por
fontes não muito confiáveis que ele era migrante ilegal e por isso estava
trabalhando em um lugar tão baixo – me atraía como nenhuma outra pessoa
fosse capaz de fazê-lo.

“Hola, William.” Sorriu.

“Oi, Gabriel.” Tentei pronunciar seu nome em espanhol, como ele gostava.
Gabe era meu melhor amigo, meu companheiro inseparável, o único que sabia
o quanto eu lutava para manter meu pai vivo. Meu sorriso era fraco, porque seu
sorriso tirava qualquer possibilidade que o meu tinha de brilhar e eu também
não tinha muitos motivos para sorrir, cada dia que passava eu tinha menos
motivos ainda. “Como se sente hoje?”

“Seu sorriso forçado não ajuda a melhorar meu dia ruim.” Gabe brincou, me
dando um beijinho em meu rosto. Senti as bochechas ficarem vermelhas e o
coração disparar com um toque simples e tão <i>amistoso</i> como aquele. Eu
não tinha mais lugar para amar meu melhor amigo, mas cada dia que passava,
eu conseguia fazê-lo ainda mais. “E como você se sente hoje? Me diz por que
fazer tanta força pra me dar um sorriso?”

“Meu pai...” Abaixei o rosto e dei um suspiro. “Ele está cada dia pior.”

“Sinto muito.” Saporta segurou-me vagarosamente pela cintura e encaixou-me


em seus braços. Escondi o rosto em seu peito e fiquei um tempo – curto –
ouvindo o bater do coração agitado do latino, mas David – o canadense que
cuidava da chapelaria – entrou naquele lugar para avisar que estava na hora
de todos estarem a postos. As portas se abririam. Era a hora do show e eu não
estava com muita vontade de forçar mais sorrisos e ouvir cantadas baratas de
homens bêbados. Foi Gabe quem me soltou – porque eu não fiz questão
nenhuma de sair dali – e me ajudo a colocar a roupa de trabalho. Por mais
amigos que fôssemos, eu nunca tive coragem – ou audácia – de perguntar o
que ele faria se amasse um garoto como eu o amo, mas não acho que ele faça
a linha do homem preconceituoso, já que trabalhava em um lugar como
<i>esse</i>. “Força, viu?”

Murmurei qualquer balela em concordância e juntos nós fomos aos


nossos postos. Eu com a missão de servir as mesas daquele lugar enquanto
Gabe brincava com copos e bebidas atrás de um balcão. Sempre sorridente,
sempre dançando e com excelente humor. Vez ou outra o latino percebia meu
olhar ou minha falta de vontade de servir as pessoas naquele dia, mas bastava
uma piscadela para eu me derreter e voltar a ter um pouco mais de motivo para
sobreviver ao mundo a minha volta. Aquele dia em especial, as horas pareciam
lentas demais e por melhores que os dançarinos – tendo seus nomes
verdadeiros: Gerard, Brendon e Tyson – naquele momento, nem eles fizeram
com que eu esquecesse as palavras do médico. Nem mesmo Gabe conseguira
me fazer com que eu esquecesse completamente do médico, do meu pai.

De repente, David fez um sinal para que eu fosse até a chapelaria.


Caminhei o mais rápido que pude, sentindo vários olhares se voltarem para as
minhas costas e não mais para o meu traseiro como era a maioria das vezes
quando os garçons passavam pelas mesas. Eu sabia do que se tratava, mas
ao mesmo tempo eu não estava com tanta sede de saber, porque era o meu
pai, o homem que eu admirava e que me trouxe para Salt Lake City e para
conhecer alguém que mudaria meu modo de pensar, que mudaria a minha vida
para todo sempre. Eu conheci Gabriel num momento feliz, sem saber que era
ele que seria o amor da minha vida.

Senti os olhos de Gabe em minhas costas, mas de repente nem mesmo


o olhar dele se tornou tão importante que o motivo que fui chamado na
chapelaria. David, acompanhado pelo segurança – que sempre o deixava com
a pior cara do mundo – não tinha um sorriso nos lábios como era costumeiro e
ordenado por nossos chefes. Debrucei no balcão da chapelaria, encarando os
casacos dos tantos homens bonitos e outros nem tanto. Eu mantive o silêncio e
senti o outro canadense, Pierre, me abraçar por trás, sem nenhuma maldade e
provocando uma reação de aversão em David.

“Eu acabei de receber uma notícia ruim.” O menino abaixou os olhos,


encarando seus sapatos. Meu olhar ainda estava perdido nos casacos bonitos.
“Eu realmente sinto muito.”

“É sobre o meu pai?” Perguntei baixinho, fraco, quase sem vontade nenhuma
de receber uma resposta que confirmasse minhas suspeitas. Pierre fazia uma
pequena caricia em minha cintura, reparando o menor de nós três sacudir a
cabeça em concordância. Embora fosse uma notícia triste e uma forma terrível
de me deixar chateado – ainda que sem intenção -, mas David conseguia ser
admiravelmente doce. Tão doce que eu não conseguia ficar bravo com ele, em
nenhum momento sequer e nem mesmo por um segundo. “O que houve?”
“Avisaram do hospital que o seu pai... bem, ele teve complicações no pulmão e,
infelizmente, ele não resistiu.” David se balançava nervosamente, sem me
olhar nos olhos e despencando por meus. Meu coração disparava e apertava
ao mesmo tempo, porque eu não esperava que fosse tão rápido, que não
desse tempo de eu me despedir, ou simplesmente dizer que sairia desse
emprego que ele odiava, porque Salt Lake era linda e podia ter algo bem
melhor para um cara inteligente como eu. “Eu sinto muito.”

“Eu também sinto.” Pierre falou baixinho e eu assenti, como se dissesse que
havia entendido o que ele havia entendido o que o garoto quis dizer e o abraço
de Pierre foi se desfazendo quando eu mas precisei, quando eu realmente
achei que desabaria como as minhas lágrimas que não queriam mais ficar
retidas em meus olhos. Poderia odiar Bouvier naquele momento, mas fiquei
agradecido quando seu abraço foi substituído por Gabe Saporta e seu carinho.
Era realmente tudo o que eu precisava agora.

“Nick mandou que eu te levasse para casa e cuidasse de você hoje.” Gabe me
disse baixinho, dentro do meu ouvido e me deixou um beijo doce em meu
rosto, sem dizer uma palavra sequer sobre sentir muito. Talvez porque ele
soubesse que essa formalidade toda me soava sem sentido na grande maioria
das vezes. Algumas palavras de consolo vindas de alguém que você ama
valem muito mais que apenas um ‘sinto muito’ da mesma pessoa.

Devagar, Gabe me conduziu até o carro dele – dizendo que Nick


providenciaria que o meu carro fosse levado para casa – e devagar começou a
me conduzir pelo estacionamento até as vagas mais longínquas que eram
destinadas aos funcionários e eu apenas cuidava de esconder meu rosto no
peito de Gabe e sentia meu coração temer qualquer coisa a partir daquele
momento, porque eu estava sem alguém que, embora me repreendesse por eu
escolher uma profissão dentro de um antro de mistério e perdição, mas era o
único emprego da cidade que pagava aquele salário mais a gorjeta gorda de
todo final de semana. Encostei-me no carro dele e olhei bem dentro dos seus
olhos, buscando ali algum conforto, algum meio de sobrevida, alguma chance
de achar algum sentimento além do convencional carinho, mas não sabia
exatamente se era eu quem estava muito vulnerável ou se realmente tinha algo
além do usual carinho que ele sempre me demonstrava e, por incrível que
pareça, eu encontrei algo muito maior que a pena, muito maior que a
compaixão.

“Obrigado por tudo, Gabanti.” Falei baixinho, com os braços cruzados em frente
do peito, abaixando momentaneamente os olhos. Ao contrário do que eu
pensei, Gabriel segurou meu rosto com tanta doçura que eu poderia sentir
minha sanidade se evadir por meus poros. Estava perto do inverno e as
montanhas de Salt Lake City eram muito frias e por isso meu queixo começou
a bater, provocando um ruído pequeno mais incômodo. As mãos geladas do
barman a minha frente foram retiradas do meu rosto e colocadas em seu
casaco, que foi logo foi retirado de seu corpo magro – e não menos provocante
– e colocado sobre meus ombros. “Obrigado por cuidar de mim quando eu
mais precisei.”
“Não precisa agradecer, Bilvy.” Seus lábios vieram de encontro à minha
bochecha, mas logo deslizaram até o canto dos meus lábios. Ele estava sendo
completamente cuidadoso ao me abraçar e ao manter seu rosto ali, perto do
meu. Me obrigando a fechar os olhos para curtir a sensação fria que vinha do
vento junto com o leve sabor quente latino vindo daqueles lábios. Por muito
pouco não virei meu rosto, roubando-lhe um beijo, mas minhas bochechas já
denunciavam minha meninice.

Devagar, ele arrastou seus quentes lábios até os meus e tentou começar
um beijo, mas fomos interrompidos por uma grande lanterna. Eu cheguei a
engolir um palavrão baixo, porque eu esperei – muito – por aqueles lábios, mas
ao ouvir o desligar da sirene policial me virei aos pouquinhos para ver porque a
polícia queria exatamente. Fixei meu olhar no senhor alto que vinha em nossa
direção, acompanhado de mais dois e este gritou, apontando uma arma para a
cabeça de Gabe, dizendo:

“Gabriel Eduardo Saporta, você está preso por imigração legal. Mantenha as
suas mãos aonde eu possa ver e nada acontecerá com você.”

E então, meu mundo realmente tinha caído mais uma vez debaixo dos
meus pés. O chão que já era quase inexistente, faltou completamente quando
Gabe levantou as mãos e juntou nossos lábios lentamente, apertando seus
olhos com tanta força, como se fosse a última vez que ele fosse me ver. O
resto do meu coração fora destroçado com aquela situação toda e aquele beijo
foi como um pedido mudo para que eu continuasse a viver, mas o latino não
notou que eu não tinha mais motivos para continuar. Quero dizer, eu até tinha,
mas não havia condições de eu deixar minha irmã, Courteney, e minha mãe ao
vento para viver aquele amor que eu tanto desejei.

A sensação do beijo estava correta. Nunca mais o veria.

Fim do POV do Beckett.

02. Words are all I have to take your heart away.

POV do David.

Um dia depois da morte do pai de William Beckett e da insensibilidade


de Pierre Bouvier – que convenhamos foi ridícula – ele estava lá, trabalhando
com os olhos feridos e eu não pude sequer me aproximar dele para perguntar
onde estava Gabriel e porque uma tristeza excessiva, mas voltando ao meu
ponto. Bouvier, naquele dia, estava de folga e eu finalmente poderia ter um
pouquinho de paz e tranqüilidade. O movimento da chapelaria sempre era
bastante fraco e eu costumava brincar dali o que tinha por trás das máscaras.
Os castanhos eram sempre aqueles com quem eu perdia maior parte do meu
tempo. Eu estava naquele lugar por trabalho, mas também porque eu fazia
parte <i>daquele</i> público. Eu havia me assumido gay há alguns anos, mas
tinha sofrido muitas coisas dos meus pais, dos meus ex-amigos, mas o que eu
menos aturei foi o homem que eu amei, por quem eu me rebelei, me tratando
como lixo uns meses depois. Era bastante estranho, mas agora, por ele, eu
prefiro manter uma certa distância e ao mesmo tempo o quero perto, porque
ainda o amo. Amo e quero odiá-lo o máximo que eu conseguir, mas a verdade
era que eu não conseguia não estar perto. Talvez esse fosse o motivo maior de
eu continuar num cabaré recebendo metade do salário – está certo que o
salário era bem menos que o que eu poderia ganhar com minha formação em
advocacia – que eu tinha potencial para adquirir. O Canadá havia ficado para
trás, mas apenas um canadense me fazia feliz. Um canadense castanho.

Era folga de Pierre – pro meu azar ou sorte –, mas ele estava no cabaré,
mas como freqüentador, como cliente. Estava sentado no bar tomando um gole
de um whisky que parecia excelente, já que ele levantou-o pra mim com um
sorriso beirando ao sacana no canto do lábio. Pelo que eu percebi, ele estava
ali para me provocar, para tirar o resto da minha sanidade. Ali, de longe, eu o vi
dançar com vários dos nossos acompanhantes sexuais e sempre – por mais
incrível que pareça – estava com aqueles malditos olhos fitos pra mim. Eu
sabia que era para me provocar e ele estava conseguindo. Estava conseguindo
muito facilmente. Torci os lábios de forma infantil e ao mesmo tempo raivosa e
ajeitei a máscara obrigatória e parte integrante do maldito uniforme e neguei
com a cabeça. Ele sabia, perfeitamente bem, que estava conseguindo provar
que ele sempre esteve certo nos milhões de conversas que tivemos antes de
chegar a este lugar baixo e da cidade adorável de Salt Lake. Eu o amava ainda
e ele também me correspondia. Era bastante duro admitir, visando o fato de
que quando eu fui expulso de casa, Pierre me abandonou ao vento e veio
<i>sozinho</i> tentar a sorte em SLC.

Ele sempre diz que eu deveria ser mais flexível e que toda história tem
seus dois lados. Eu deveria parar e ouvir a sua versão, seu motivo para a
mudança repentina para um lugar adorável, mas com um quê conservador que
nunca suportaríamos. A verdade era que por sermos o único estabelecimento
com serviços de acompanhantes sexuais <i>homens</i> para <i>homens</i> -
embora os dançarinos que tiravam suas roupas (e nem todos faziam
programas) usavam pseudônimos femininos, ainda eram apenas homens -,
tínhamos lucros altíssimos. Quando mais novo eu não conseguia ver quem eu
amava trabalhando em um lugar como este sem vender seu corpo. Eu estava
enganado e Pierre me provara isso. Naquele momento, Pierre se divertia para
me mostrar que eu era hipócrita o suficiente para não assumir o quanto seu ato
estava me machucando e ao mesmo tempo, meus olhos me condenavam
tremendamente. De provinciano canadense com ideais românticos, eu virei o
chapeleiro – que não suporta mais a comparação ridícula com o personagem
do livro ridículo – de um cabaré gay.

Fiz um gesto com a cabeça para que ele viesse até onde eu estava, com
discrição, para eu não perder meu emprego, mas eu parecia estar falando com
uma porta, porque sequer questão de disfarçar ele veio. Seus passos meio
cambaleantes disparavam meu coração nervoso e, ao mesmo tempo,
apaixonado. Conheço bem meu ex-namorado e sei que bêbado Bouvier não
costuma responder por seus atos e muito menos se lembrar deles – na
verdade, eu sempre achei que ele era um grande mentiroso nesse quesito. Ele
veio até mim, passando descaradamente pela porta da chapelaria – o que me
causou irritação e, com isso, soltar um palavrão baixinho enquanto o segurança
do cabaré – conhecido por Pierre – apenas dava uma gargalhada baixa e
cruzava os braços frente ao peito.

“Pra que me trouxe aqui?” Perguntou.

“O que raio você tava fazendo lá?” Perguntei torcendo os lábios e imitando sua
pose de machão. Batia o pé nervosamente no chão e Bouvier passou os olhos
por todo o meu corpo, como se eu fosse do cast de prostituição, como todo
cliente fazia com o homem que contratava para ir para a cama. “Eu não estou à
venda.” Respondi ao seu olhar, ainda sem desfazer a pose durona.

“Sabia que você está estonteante?” Falou, dando pequenos passos em minha
direção. Eu levantei a sobrancelha em um perfeito arco, segurando uma
pequena risada – porque, a final, por onde quer que ele olhe tinha homens
muito mais bonitos que eu naquele lugar.

“Sabia que você está bêbado?”

“Qual a diferença que isso faz?” Ele quebrou quase toda a distância entre nós e
me segurou pela cintura. Eu não tive como fugir de ficar tão perto daquele jeito
de um antigo amor, de um amor que ainda mexia comigo de uma maneira
muito ruim, mas ao mesmo tempo era <i>esse antigo amor</i> que me deixava
sem ar da forma que eu estava agora. “Você sabe que eu sempre te amei e
não é de hoje. Você sabe que eu vim primeiro pra América para conseguir uma
forma de ter dinheiro para você e eu sermos felizes aqui, sem pensar no nosso
passado.”

“Muito conveniente você dizer tudo isso bêbado, né?” Girei os olhos, tentando
afastá-lo de mim, mas foi vão, porque meu coração não queria que ele se
afastasse, meu corpo se sentia protegido em um lugar onde se cultuava o sexo
sem pretensão, e a felicidade acima da vida alheia. “Amanhã você vai
simplesmente esquecer-se de tudo o que você tá dizendo e tudo vai voltar ao
normal...”

“Eu nunca quis ferir você, essa é que é a verdade.” Comentou o castanho,
dando um beijinho no topo da sua cabeça. “Eu tive mesmo que fugir do
Canadá, tive que sair da sua vida e vir trabalhar num lugar aqui, mas confesse
que me julgou errado por causa de eu ter aceitado trabalhar como segurança
em uma boate gay.”

“Mas hoje em dia eu cresci, Pierre.” Expliquei. “E eu não vou cometer os


mesmos erros. Não vou cair na sua conversinha de bêbado, para amanhã ser
tratado como um lixo. Porque você sempre faz isso e eu estou cansado de ficar
me arrastando por vossa senhoria.”

“Eu também cresci.” Pierre levantou meus olhos e me roubou um beijo rápido,
um beijo que eu não pude evitar, porque foi surpreendente, eu não pude
desviar, mas ele recebeu um soco fraco em seu ombro como resposta, como
se eu deixasse claro que eu não tinha gostado de sua atitude. Ele deu uma
risada baixinha, quase que despreocupada e doce, tão doce que eu quase não
o reconheci, porque o Pierre Bouvier que eu conheci no Canadá era grosso e
não sabia fazer com que os sentimentos fluíssem muito mais que os fluídos
corporais responsáveis por um bom sexo. “E eu queria que você me desse
uma segunda chance de provar que eu posso ter mudado, muito. Que um
pouco da moralidade de Salt Lake pode ter mudado completamente minha vida
e minha forma de pensar, Dave.”

“Não me chama assim.” Reclamei, me afastando dele com certa dificuldade.


Bouvier se encostou no balcão da chapelaria e ficou olhando para mim, para
como eu ia me comportar, como se eu fosse o seu objeto de estudo, mas
naquele momento eu só consegui suspirar aliviado por ter me afastado
completamente dele. “E, por favor, vá embora daqui. Pare de tentar chamar
minha atenção, porque você não vai conseguir. Pára de ser mesquinho e me
deixa viver a vida que <i>você</i> tirou de mim no Canadá. Deixa eu me
interessar por outros caras e ter a possibilidade de ser feliz para sempre. Eu
ainda sou romântico, mas eu não te incluo mais no meu projeto de felicidade,
meu caro.”

“Essa é a última vez que eu vou pedir você para ficar comigo de uma vez por
todas.” Falou Pierre, segurando em meu ombro com uma doçura que eu não
conhecia. Uma doçura que atrairia a qualquer um a sua volta, mas eu estava a
um passo à frente daquele homem, conhecia seus truques e suas artimanhas
para ter comigo um pouco mais de sexo casual e bêbado. Eu gostava de ter
alguém para eu me entregar completamente durante um ato sexual ou mesmo
durante um beijo. Era por isso que eu mentia ser tímido para os donos do
cabaré, era por isso que eu não participava dos meninos – com nomes de
meninas – que dançavam para divertir aqueles que pagavam por esse tipo de
diversão. Era por isso que nenhum dos homens que freqüentava um lugar
como <i>aquele</i> não me atraía. Porque grandes amores não surgiriam para
mim em homens que não têm o mesmo pensamento que eu. Talvez seja essa
minha maior diferença com Bouvier e o maior motivo de tudo ter dado errado.
“Qual sua última palavra, David?”

“Eu não sou um deles, se é o que pensa.” Encolhi os ombros. “Não estou a
venda.”

“Eu não pagaria por sexo com meu grande amor.” Pierre me soltou
completamente e começou a dar passos para trás. Pela primeira vez, em
muitos anos, percebi que aquele homem estava me deixando ser feliz sozinho
e em paz. Sumiria para sempre da minha vida como eu pedia para ele fazer
cada vez que – sempre bêbado – se aproximava. Realizei meu sonho, mas
meu coração não estava nada feliz comigo, ele fazia questão de bater bem
comprimido em meu peito, devagar, para me mostrar que até mesmo pessoas
como <i>eu</i> que sempre agem com o coração podem errar. “Até nunca
mais, David.”

“Espera.” Falei baixinho, percebendo-o parar no meio do caminho.


“O que você quer?” Perguntou ele, copiando meu tom baixo e fraco, sem me
olhar nos olhos. Pierre era o ser humano mais orgulhoso que eu conheci. O ser
humano que só conseguia me implorar por volta, me mostrar que estava numa
pior, quando estava muito bêbado, ao ponto de no dia seguinte me ferir com
todas as orgulhosas palavras que ele escondia e guardava para mim.

“Eu queria um beijo de despedida.”

“Eu não estou à venda.” Explicou antes de sair da chapelaria e indo para fora
do cabaré. Acompanhei-o com os olhos e demorei a entender porque ele
copiou minhas palavras, mas depois de destrinchar o significado da frase
compreendi que ele não estaria à minha vontade ou minha disposição. Aquilo
machucou um bocado, mas não mais que eu pensei que o faria. Chamei um
dos meus ajudantes – que era novato – e pedi que cuidasse de tudo ali, que
sorrisse sempre e tratasse todo mundo bem que eu realmente precisaria sair.
Eu precisava dizer tudo o que estava entalado, agora que ele não tinha mais
pretensão de se arrastar por mim.

Eu corri. Corri o máximo que pude para alcançar Pierre Bouvier – porque
eu tive que sair pela porta dos funcionários, nos fundos e ele saiu pela porta da
clientela, já que hoje era isso que ele era: cliente. Ele andava em direção ao
seu carro e parecia não me ouvir gritar seu nome pelo estacionamento – culpei
a música que era alta mesmo lá dentro. Porém meu coração insistia pra eu
soltar tudo àquilo que guardava em mim e insistia para que eu apressasse
meus passos. Parecia que algo muito ruim aconteceria com Pierre e eu não
poderia dizer tudo o que eu queria para ele. E naquele momento eu descobri
que um coração apaixonado não erra e por mais feminino que isso soe. As
pessoas pressentem o gélido da maldade muito próximo aos seus corações
quando algo está para acontecer com alguém muito importante.

Então ouvi quando um bêbado acelerou seu carro atrás de mim. Eu


consegui desviar por estar sóbrio e ser rápido o suficiente, mas Pierre não
conseguiu prestar muito atenção no barulho abafado pela música. O álcool
demasiado forte o ensurdeceu e foi nessa hora que todo o meu ser só pôde
gritar uma coisa:

<b>“Pieeeeeeeerre!” </b> Ele parou e o carro, o maldito carro, acelerou e


passou por cima dele. Pierre deu algumas giradas no ar antes de cair no chão.
Eu sempre quis que ele sumisse da minha vida para sempre, sempre desejei
que me deixasse esquecê-lo em paz, mas naquele momento tudo o que eu
queria – e fiz – era poder acudi-lo de alguma forma. Fui até ele e coloquei sua
cabeça em meu colo antes de medir pesarosamente sua pulsação. Ele ainda
estava vivo, mas sagrava pela boca. Sua cabeça tinha quicado algumas vezes
no chão e suas duas pernas estavam quebradas, torcidas para lados opostos.
<b>“Um médico! Por favor, algué--”</b> Ele levantou o dedo cheio de sangue
e pôs nos meus lábios, impedindo que eu continuasse com meus pedidos de
socorro.

“Oi, Dave.” Sorriu fraco, sem deixar aquela expressão de dor sair de seu rosto.
Com minhas mãos em sua cabeça, tentava pressionar algum dos ferimentos
para estancar o sangue, mas não adiantava. Parecia que tudo era muito inútil
por mais que eu tentasse fazer aquele sangue parar, menos eu conseguia. “Me
desculpa.”

“Shh, não fala nada, <i>meu amor</i>” Ele sorriu mais uma vez, esforçando-se
para fazê-lo. Eu não fiz mais que retribuir o sorriso e recuperar algo que havia
pedido, mas me havia sido negado. Me abaixei até Bouvier e ajuntei nossos
lábios de forma doce, longa, deixando algumas lágrimas salgarem nosso beijo.

As mãos dele que estavam em meu rosto despencaram e eu desabei, também.


Não havia mais sinal do carro que havia batido tão violentamente contra o
Pierre e embora eu o tenha beijado aquilo não o traria mais de volta. Não
adiantaria eu dizer que o deixaria ir, porque cenas como essa não lhe sai da
cabeça com tanta facilidade. Eu chorei agora porque tive que me separar dele.
Para sempre.

Fim do POV do David.

03. I’m just setting a trap and I’m not pulling for ya.

POV do Brendon.

“E para a sua diversão, voltem seus olhos para o palco! A grande Loise vai
dançar para a gente. Dance, Loise, mostre pra gente teu segredo!”

A música começou a tocar e eu esperei os primeiros dez segundos da


mesma para entrar no palco. Eu adorava o alvoroço causado quando eu
entrava naquele recinto, adorava quando todos os olhares se voltavam para
mim. Quando eu sentia o homem mais desejado de toda a terra. E eu
realmente era, mas havia apenas um olhar que eu queria arrebatar, mas o
dono desse olhar não era um dos tantos que estendiam o dinheiro para que eu
pegasse e me sentisse satisfeito com tudo aquilo, mas o que me satisfazia
eram os olhares e <i>ele</i>, os demasiados drinks que ele tomava em cada
roupa que caía do meu corpo. Eu confesso que o amava, o amava mais do que
era necessário, mais do que eu podia e muito mais do que eu conseguia amar
alguém.

Abaixei-me sedutoramente até para pegar o dinheiro oferecido por um


dos homens que estava perto do meu palco. Aproximei meu ouvido dos lábios
daquele homem que me deu o número de um dos quartos. Sorri malicioso e
assenti, deixando um beijinho no canto dos lábios dele. Mantinha o meu olhar
no homem que eu chamava de meu, e de novo ele pediu mais um drink. De
longe eu podia ver o quão estava ferido, mas ao mesmo tempo tinha uma
determinação que eu quase não reconhecia. Desci do palco – e não era algo
que costumava fazer – e fui até aquele castanho mascarado, que tinha os
olhos fixados em mim de uma forma que não tinha como ignorar. Aquilo me
deixava meio nostálgico, mas ao mesmo tempo eu gostava daquilo tudo. Parei
na frente dele, quase sem nenhuma roupa, rebolando para ele. O homem tirou
umas notas do bolso – notas grandes, porque sabia que me atraíam – e
enrolou-as devagar. Ele prendeu as notas nos seus dentes, indicando que se
eu as quisesse, pegasse daquela forma um pouco mais suja que o usual dele.
Deixei um beijinho no canto dos lábios dele e peguei as notas com a boca,
como ele queria que eu fizesse, mas ao contrário de mim, ele fechou os olhos
para curtir nossa proximidade. Eu gostava daquele jeito <i>delicado e
feminino</i>, mesmo que ele fosse um homem muito interessante.

Eu conheço os olhos – de quem agora eu me afastava, grudando o


dinheiro na cueca enquanto dançava para o resto dos clientes e me encantava
com seus elogios e com os toques, a final muitos me apertavam enquanto
colocavam dinheiro em mim – do homem que eu amava mais que minha vida,
eu conheço seu rosto sem aquela maldita máscara que impede que o mundo
conheça a delicadeza e beleza de seu rosto. Eu conhecia o gosto doce
daqueles lábios cor de salmão e eu conhecia bem suas atitudes. O único
problema é que ele conseguiu pegar o <i>Brendon</i> para ele e não a Loise.
Certos dias era impossível separar o ser humano apaixonado do personagem
fútil e desprendido que os homens amam. Só um conhecia meu nome, meus
anseios, meus sonhos, minha origem. Coisas que nenhum empregado estava
autorizado a contar à ninguém e - na verdade, eu não estava autorizado a me
envolver daquela forma – se contasse teria graves conseqüências. Eu estava
literalmente nas mãos macias dele. Esperei por um número de quarto que não
veio; ele sabe que eu largaria qualquer cliente para ser eu mesmo.

Ao contrário do que se pode pensar, eu gostava do que fazia. Eu


gostava de ter um milhão de homens que jamais conheceriam meu rosto – ou o
rosto de qualquer presente – leiloando uma noite comigo. Eu não tinha sonhos
de abandonar o que eu fazia, eu nunca tive sonhos de deixar aquele cabaré e
ser feliz casado com o homem que eu amava. O homem que fazia tudo ser
diferente em minha vida, quando estava na cama comigo. Eu nunca desejei
ser outra coisa senão dançarino de um cabaré luxuoso. Era um tanto quanto
estranho, mas esse assédio me mantinha vivo.

Quando o show acabou e eu estava completamente nu – tendo apenas


a máscara no rosto e todo dinheiro estava posto no bolso da calça que usava
antes – eu saí do placo, dando uma última olhada para o rosto do homem que
eu amava e fui para bastidores, colocar uma nova Loise para encontrar o
homem que me solicitou. Eu o amava mais que tudo na minha vida, mas
precisava me deitar com outros para manter meu padrão de vida que minha
família gostava. Outro capítulo importante é da minha família, talvez a mais
conservadora e chata de todo o cast do cabaré. Eu era de Las Vegas, a cidade
da perdição e pecado, mas meus pais são mórmons e não há lugar melhor no
mundo para se viver que Salt Lake para isso, quando se pertence a essa
religião. Eu fui expulso de casa na praça do templo, um dos lugares mais
importantes e visados na cidade. Eu fui expulso de casa sem direito a nada,
sequer ao meu sobrenome. Aquilo doeu mais que tudo em minha vida e olha
que eu tinha perdido muita coisa tendo essa escolha, mas nada doeu mais.
[n/a: http://ohswingthefocus.tumblr.com/post/5218103592]

Eu olhava para o camarim e procurava alguma coisa que pudesse


favorecer minha personagem. Eu estava apenas de cueca e SLC, naquela
época, estava fria. Muito fria. Ouvi baterem na porta do camarim, mas nem
liguei. Deveria ser alguém do staff, então preferi fingir que não ouvi alguém
bater e continuar minha produção. Suspirei fraco quando percebi que minha
técnica não havia dado certo e abri a porta, encontrando com o homem que eu
amava na porta. Não contive o meu sorriso quando ele me puxou para um beijo
e eu o puxei para dentro do meu camarim, prendendo-o contra a porta de
forma violenta e necessitada. Eu precisava daquele renovo, precisava da
adrenalina de fazer algo completamente proibido e ao mesmo tempo me
entregar ao dono dos lábios mais doces do mundo, sem me importar em ter
que montar um personagem para agradá-lo. Eu o agradava por ser apenas o
mórmon que foi expulso de casa por ser homossexual e dançar sensualmente
para entreter homens.

Pode soar hipócrita – e na verdade é – mas minha família me aceita


relativamente bem, hoje em dia. Anos se passaram e esse emprego me deu
excelentes oportunidades de subir na vida, de conseguir coisas que ninguém
conseguiria se tivesse um trabalho mais honesto e mais limpo. Hoje em dia eu
sustento meus pais e dou tudo o que meus sobrinhos querem, embora não os
conheça. Não é hipócrita da minha família?

“Boa noite, Ryan.” Sorri ao final do beijo.

“Boa noite, Loise. Ótimo show, como sempre.” Ryan Respondeu, tirando minha
máscara aos pouquinhos. Eu sorri para ele, deixando que o mesmo fizesse o
que bem entendesse. Era isso que o encantava, essa minha submissão
repentina que ele sabia só era para ele. “Boa noite, Brendon, meu amor.”

Meu amor. Como eu ansiava por ouvir aquelas doces palavras dele.
Como eu ansiava por tudo o que acontecia comigo após as apresentações. Eu
parecia tão imaturo e inexperiente toda vez que ele vinha ao meu camarim e
me deixava o número de um quarto. Eu não era infeliz com outros caras, eu
gostava de ter o mundo esperando por mim e outros números de quartos
esperando por mim, mas era com ele que eu me sentia completo e realizado.
Era sendo romântico e fingindo sonhar ao lado dele com família e filhos que eu
me sentia completamente encantado. Eu realmente queria todos aqueles
sonhos, todos aqueles planos, mas quando eu ficasse um pouco mais velho e
não pudesse mais me sentir tão desejado. Um ponto para almejar e alguém
que me desse motivos para eu ser acorrentado a alguém era o que me
motivava a guardar o <i>Brendon</i> para esse momento e entregar a
<i>Loise</i> a quem mais me pagar.

“Quer ir pra Downtown*?” Ryan me perguntou baixinho, distribuindo alguns


beijinhos por meu pescoço, arrepiando-me completamente com o que ele fazia.
“A gente pode jantar algum lugar e ir lá pra casa, conversar, tomar vinho...”

“E fazer amor também?” Apertei-o, sorrindo maliciosamente. Ryan girou os


olhos, mas assentiu com a cabeça. Às vezes eu acho que o meu desempenho
sexual quando eu sou eu mesmo é muito inferior quando eu encarno minha
personagem, porque Ryan era o único que não gostava de quando eu falava
de sexo e das coisas que ele me fazia sentir no meio do ato, sensações que
por mais que eu tivesse um milhão de homens em um milhão de outras vidas
eu não conseguiria chegar a ter de novo, com outro. Ryan era meu dilema,
meu martírio, meu carma e o amor da minha vida. Eu não resistia a nada que
vinha dele. Até mesmo as flores que todos os dias chegavam ao meu camarim,
que vinham dele, me lembravam o quanto eu era feliz e completo.

“Por que você sempre tem que tocar nesse assunto, hm?”

“Por que você fica tão triste quando toco nesse assunto?” O soltei
vagarosamente, pegando de volta a máscara que ainda estava com ele. Meu
sorriso se desfez enquanto eu me trocava em sua frente. Não era a primeira
vez que ele me desapontava, que a gente caía na mesma pergunta, não era a
primeira vez que eu ia do céu para o inferno em segundos. “Você não me quer
na sua cama, <i>meu amor</i>?”

“N-não é isso, hunf.” Ele girou os olhos e passou as mãos pelos pseudo-
cachinhos, irritadinho. “Eu só queria que isso acontecesse de uma forma mais
romântica e não que viesse antes de tudo como sempre é.”

“A verdade é que você não gosta de mim, Ryan.”

“Nós estamos namorando, B.” Mordeu o cantinho do lábio e me abraçou por


trás. Eu já havia me trocado e colocava a máscara, olhando para o homem que
me abraçava através do espelho.

“Você nomeou assim, sabendo que eu nunca seria de um só.” Recuei, agora já
montado como Loise, olhando fixamente em seus olhos castanho-esverdeados
que me enlouqueciam. Eu poderia tirar todo aquele preparo se ele dissesse
que queria <i>fazer amor</i> comigo. “Você sabe que eu estou em suas mãos,
sabe também que com você é diferente. Você me ensinou a te amar muito
mais que eu queria ou poderia te amar e isso é perigoso pra mim. Conhece
esse lugar pelos olhos do cliente e não conhece o staff, os donos. Você não
sabe o que tem por trás da Loise.”

“Eu só queria que escolhesse a mim e não essa personagem.” Suspirou, me


soltando completamente. A tristeza estava dentro dos olhos dele, como nunca
esteve antes. Ao mesmo tempo, compartilhando com aquela tristeza, os
ciúmes também apareciam com ele, mostrando que aquela conversa não
acabaria muito bem. Eu abaixei a cabeça, pensando no que ia dizer que
amenizaria aquela dor que eu causava nele diariamente, mas ao oposto do que
eu pensei, Ryan tremia ao segurar uma Colt que eu não podia distinguir que
data era, mas era uma arma maravilhosa. “E você vai escolher hoje, eu cansei
de dividir você...”

“Eu sou livre, Ross, não me leve a mal.” Suspirei, andando vagarosamente até
meu amor, na tentativa de que ele entendesse que eu o amava, mas eu
precisava continuar vivendo da forma que me completava, que me fazia feliz.
Eu estava alguns passos a frente do meu tempo. “Eu te amo, mas eu deixo
você ir se não suporta mais me dividir. Justamente por você me deixar livre, por
me amar como me ama é que eu <i>sempre</i> caio por você e em seus
braços. Não me peça pra escolher entre a Loise e você, por favor. Vocês me
completam.”

“Você já fez sua escolha, Urie.” Andei até Ryan e apoiei sua arma em meu
coração. Se ele fosse mesmo capaz de atirar em mim, que atirasse naquela
hora que eu pretendia beijá-lo para que todo o sentimento que eu tinha
guardado por ele, fosse emitido. Que ele sentisse que aquilo era muito mais
que sexo. Que ele era o amor da minha vida. Segurei seu rosto e o tomei em
um beijo que foi correspondido e fui pegando a arma dele, mas Ross não era
tão desligado quanto eu planejei que fosse, e ele atirou.

Apertei meus olhos esperando sentir à queimação da bala, mas a Colt


caiu no chão, e o chão do meu camarim foi se manchando de vermelho. Ryan
caiu sobre mim, completamente morto. Eu havia matado o único homem que
um dia se importou com quem estava por trás da máscara da Loise, que se
importou em fazer comigo uma família. O único homem que todas as noites
estava na minha mente enquanto a minha personagem estava na cama com
outros. Minha liberdade perdeu o sentido, meu coração se destroçava e por
trás da máscara que eu suava. Sentei-me no chão, com o corpo de Ryan
aninhado em meus braços. Nunca pensei que em meio a uma poça tão grande
de sangue e a um amor tão maravilhoso quanto o nosso pudesse haver um fim
tão trágico. Não tinha forças para chamar a segurança, para me ajudar com o
corpo de Ryan. Não tinha coragem de levantar dali, trocar de roupa e ir ao
número indicado. Pra quê? Até o sentido dos aplausos se perdera naquele
momento.

Puxei a arma para mim e contei as balas. Sorri ao perceber que ainda
restava uma. Eu havia matado um ser humano cheio de sonhos. Eu havia
matado por ser egoísta e queria ser aceito de uma forma desleal. Ao puxar o
gatilho em minha cabeça decidi que nunca mais pertenceria a outro homem.
Nem Loise e nem eu. Brendon Boyd Urie.

Fim do POV do Urie.

04. But if I ever get it right you’ll miss me, sorely.

POV do Jon.

Era estranho viver a minha vida daquela forma. Trabalhar e morar na


mesma rua que alguém tão ridículo quanto Spencer Smith era. Eu não
trabalhava para o cabaré, nem mesmo como profissão menos ‘imunda’. Eu era
apenas freqüentador daquele lugar, porque tinha um ambiente agradável,
porque tinha muitos homens semi-nus prontos para lhe atender e porque tinha
um homem que tirava meus pés do chão com um olhar. Um olhar azul capaz
de me matar só com o seu aproximar. Eu não sabia quem era aquele homem
dono de um olhar tão expressivo, de um corpo que me deixava maluco, embora
não fizesse o tipo cheio de curvas, mas a maciez de sua pele superava tudo.
Eu o amava desesperadamente. Tão desesperadamente que minha mulher
reclamava da minha falta de atenção.
Era engraçado porque eu tinha a impressão nítida que eu o conhecia de
algum lugar. Eu tinha a impressão que ele estava presente no meu dia a dia e
havia decidido que hoje eu o conheceria. Eu retiraria sua máscara antes de
estar com ele na cama. Por mais que, naquele lugar, tudo era apenas por
diversão, agora eu já estava pensando em deixar tudo o que eu tinha
conseguido com minha esposa por ele. Se você me perguntar, eu deixo claro
que eu não sou gay. Talvez eu seja dos poucos aqui que não seja gay, eu sou
bissexual apenas, sinto atração física por minha esposa, mas eu sou um
homem que não se deve prender. Eu dependo de minha liberdade para voltar
para casa.

Ao entrar pelo tão conhecido recinto, fui direto ao balcão de madeira e


procurei por Gabe – havia um período de tempo que eu não aparecia por aqui,
alguns problemas pessoais me impediam -, mas não achei, então fiz um sinal
para o barman que estava por ali. Debrucei no balcão e pedi o whisky para o
barman e um tempo depois eu estava assistindo às apresentações das moças.

“Hey. Cadê o barman latino?” Falei pro barman que sorriu para mim.

“Ele saiu.” Encolheu os ombros, me servindo de mais um pouco de whisky. “É


uma pena, porque dizem que ele era excelente.”

“Ele era, hunf.” Pisquei. “Mas e Loise? Gostava das apresentações dele.”

“Ele é só uma lenda desse lugar... Dizem que ele foi morto no camarim por um
amor.” Girou os olhos e eu sorri. “Mas é bom saber que Loise existiu. Porque
eu ouço funcionários mais antigos reverenciá-lo e lamentar sua morte.”

“Me faz um favor?” Pedi após assentir por suas palavras. “Me prepara, em
outro copo, uma dose dupla de gin com bastante gelo?” Levantei uma nota
maior e as sobrancelhas do homem foram ao seu ponto máximo. Eu havia visto
o loiro dos meus sonhos passando por mim – e parecia nem ter me notado – e
eu precisava dar um jeito de chamar a atenção dele.

“Sim, senhor.” Embora apreensivo, ele preparou o que eu pedi. Por minha vez,
peguei um guardanapo e escrevi uma mensagem carinhosa, assinando com o
nome falso que adotei para estar ali, já que eu não podia usar meu nome ou
qualquer coisa que fizesse menção a ele. Quando o drink ficou pronto, puxei
um garçom semi nu pelo avental e entreguei a bebida, o bilhete e apontei para
quem era. E o garçom fez o que eu pedi, recebendo de mim uma gorjeta
relativamente gorda.

Levantei meu copo simbolizando um brinde à distância quando ele me


olhou de sua mesa. Fez um sinal para que eu me aproximasse dele e eu fui a
sua direção. Senti meu coração querer sair pela boca, e ao mesmo tempo,
saltava por tanta felicidade. Eu amava o simples fato de poder curtir um pouco
mais de sua presença e poder passar a noite ao seu lado. Coloquei meu copo
em cima da mesa e me sentei em sua frente. Me inclinei, roubando um beijo
rápido e superficial, que finalizou em um sorriso. Nós nos relacionávamos a
algum tempo, já. Nos amando feito dois adolescentes inconseqüentes e ao
mesmo tempo como dois adultos que éramos. No meu caso, adulto e casado.

“Acertei na bebida?” Perguntei.

“Você sempre acerta.” Respondeu, apertando minha mão.

“Você já quer ir pro quarto?” O louro negou com a cabeça e eu terminei minha
dose de whisky. “Eu to sem a chave de nenhum, mesmo.” E expliquei.

“Uh, eu também não.” Confessou. “Mas a gente podia diversificar e fazer no


meu carro. O que acha?”

“Gostei da proposta.” Ri baixinho, dando-lhe um beijo na mão. Só naquele dia


que eu reparei que tinha uma aliança ali. Torci os lábios para ele, meio
brincalhão, meio verdadeiro, mordendo-o ali fortinho para mostrar minha
indignação. “Essa mocinha de ouro não estava aqui antes...”

“Essa mocinha de ouro significa o mesmo que a tua.” Ele mordeu o canto dos
lábios e eu ergui a sobrancelha. “Que a gente tem vida do lado de fora dessas
quatro paredes, meu caro.”

Assenti com a cabeça meio sem vontade. Eu não gostava nada da idéia
de ser apenas a diversão e dividi-lo com outras pessoas. Mesmo que eu não
saiba quem ele é fora daqui, eu não conheço ninguém que ame outra pessoa
que goste de dividi-lo com outra. Percebendo minha tristeza repentina, ele veio
até mim e sentou-se em meu colo. Distribuiu com os lábios doces alguns
carinhos por meu rosto e pescoço, não resisti ou revidei em momento nenhum,
ele me levava a loucura, me comandando da forma que quisesse. Trocamos
um beijo apaixonado por ali mesmo – eram tantos casais por ali trocando
beijos, e fazendo outras coisas a publico que nós dois não seria nenhum
problema. Então eu abri os olhos e vi aqueles olhos azuis me amando com
tanta devoção, me olhando de uma forma que minha esposa nunca conseguiu
e eu só consegui sorrir feito um idiota, porque era exatamente assim que eu
ficava ao seu lado.

“Vamos agora pro carro?” Pedi baixinho.

“Vamos sim.” Assentiu, se levantando do meu colo. Enlaçou minha calça pelo
passador quando eu me levantei e foi me puxando para fora. Ele parecia
ansioso, até mais ansioso que costumava ficar perto de mim, parecia que hoje
ele reservava algo que eu não estava acostumado, algo que mudaria minha
vida para sempre.

O loiro que era mais alto que eu, prendeu-me na porta do carro com
força. Segurava meus dois braços com um só quase que possessivamente,
sem deixar de ser doce. Ergui os olhos por seus ombros, tentando saber se eu
poderia me entregar completamente ali mesmo pra ele, mas eu já estava
fazendo muito mais que isso, eu já estava deixando que uma de suas mãos
desfazia minha máscara. Foi nessa hora que meu coração disparou, porque
algo me dizia que ele não ia gostar. Eu o amava, e talvez devesse dizer que
não me importaria com quem estava embaixo daquela máscara. Eu
simplesmente amava-o além do sexo, mas sua reação foi muito pior do que eu
esperava.

“Ah, não...” Me soltar foi sua primeira ação, seguido de um olhar atordoado,
confuso. “Jonathan Walker, merda! Merda, merda, merda!”

“Q-qual o problema?” Franzi o cenho, suspirando fraco. “E como você sabe o


meu nome? Nós conversamos muito, mas você nunca teve uma reação assim,
comigo. Você disse que me amava.”

“Como eu posso amar alguém detestável como você, Walker?”

“Oh, meu Deus!” A pronuncia do meu sobrenome me fez entender de quem se


tratava. Puxei-o pra mim pelo casaco, e puxei sua máscara, confirmando
minhas suspeitas. “Spencer Smith, o nojento que me incomoda todo santo dia.
Que não aceita perder para mim.”

“Você é o plagiador aqui, Walker.” Girou os olhos.

“Essa briga não vai nos levar a lugar nenhum, Spencer Smith. Nós tivemos
momentos excelentes, juntos. Uma máscara não pode mudar todo nosso
relacionamento de antes, não é?”

“Claro que pode, seu idiota!” Ele bateu no carro, me assustando um pouco. “eu
tava traindo minha noiva com o pior cara do universo! Um cara casado, que
pajeia minhas idéias, que faz tudo pra minha vida ser um inferno e o pior de
tudo é que você consegue.” Spencer suspirou fraco. “A gente tem que acabar
de uma vez por todas com isso, hunf.”

“Eu não vou deixar isso acabar assim.” Girei os olhos também, chocando
nossos lábios uma última vez, mas Spencer me esnobou. Negou meus lábios.
Pela primeira vez na minha vida eu me sentia infeliz, mas eu não conseguia
pensar em mais nada que não ser em como manter aquele homem ao meu
lado, a final, eu estava querendo largar tudo por amor. E conforme eu não
conseguia mais enxergar nada além de estar perdendo o homem que eu o
amava desesperadamente e o queria comigo. “Eu te amo.”

“Mas eu não quero mais você, Walker.”

“Tudo bem, Smith.” Suspirei e acabei dando uma joelhada nas partes baixas,
fazendo-o cair. Eu o amava, mas não queria que ele pertencesse a mais
ninguém e depois dessa loucura toda. Enquanto ele ainda estava no chão,
continuei a bater e descontar toda a minha raiva naquele homem. Não só por
parte do meu fracasso profissional, mas também porque eu, de repente, fui
descartado.

Confesso que Spencer reagiu algumas vezes. Eu levei algumas fortes


pancadas no rosto, mas eu levei a melhor. Spencer Smith era maior que eu,
mas eu estava muito mais furioso com ele por ter sido descartado, por ele ter
me reduzido a uma máscara que eu o derrubei outras vezes com muito mais
força, muito mais violento que a primeira vez. Quanto mais os minutos
passavam, mais eu deixava me levar pela fúria até que consegui escutar
apenas um gemido mais alongado e um pedido para que eu parasse.

Só então eu olhei diretamente para os olhos azuis dele, agora feridos


por meus golpes. Ele estava quase que em coma quando eu me abaixei até ele
e limpei o sangue do seu rosto carinhosamente. Só naquela hora eu pude
perceber que eu estava matando o meu grande amor no sentido literal. Claro
que eu poderia apelar num tribunal, dizendo que fora um ato passional, mas eu
não queria bem aquilo. Eu não queria que ele sofresse daquela forma, mas
apenas que entendesse que agora pertencia a mim e que a máscara só
escondia nossos rostos e não nossos sentimentos.

“Você podia ter evitado tudo isso.” Falei, enroscando carinhosamente minhas
mãos em seus cabelos. Spencer forçou um sorriso doloroso, colocando a
cabeça em meu colo – com minha ajuda – com muita dificuldade. Eu
correspondi ao sorriso com um tímido, forçado, por causa de toda aquela
situação.

“E você poderia ter sido um pouco mais sensato.” Ele rebateu fraco, falhando
nas palavras. “Eu vou morrer te odiando.”

“Você está morrendo por não assumir que me ama, é diferente.” Encolhi os
ombros, mantendo uma carícia quase imperceptível nos cabelos dourados de
Spencer. “Eu não queria isso, mas já que vai acontecer, eu vou aprender a
viver sem tudo o que você causa em mim.”

“Se...” Foi então sua maior falha, seguida do expelir de um bocado de sangue
em sua roupa. Eu nunca havia deixado ninguém daquela maneira, nunca havia
perdido a cabeça daquela forma e feito tudo aquilo com uma pessoa
relativamente maior do que eu; dizem que a fúria faz-nos crescer muito mais
que qualquer outro sentimento. “Fosse sensato, <i>Jon</i> e me deixasse ir, eu
voltaria correndo pra você.”

“Não voltaria.” Neguei com a cabeça ajuntando nossos lábios. “Você me odeia,
Smith. O que nós construímos aqui vai morrer aqui, com você.”

“O bom... é que com minha morte você vai passar o resto da sua vida
sofrendo.” E sorriu com um quê quase imperceptível de vitória. Eu abaixei os
olhos e fiquei remoendo aquela frase. Porque após um suspiro mais alongado
e um gemido doloroso maior, e nada mais foi dito. Até porque nada mais tinha
que ser dito.

Deitei-me no chão ao lado dele e coloquei minha cabeça em seu peito,


até seu coração parar de bater. A última frase dele era uma profecia. A última
frase dele seria concretizada em minha vida. Eu o matei. Matei o único homem
que apenas precisava de um pouco de tempo para aceitar que amava seu rival.
Talvez a sensatez que eu não tive o vingaria em mim dia após dia e eu sabia
perfeitamente que essa vingança era muito mais que merecida. Era justiça.

Eu faria questão de sofrer enquanto eu vivesse por não ter dado o tempo
que Smith precisou para aceitar que me amava.

Fim do POV do Jon.

05. And takes a moment to assess the sins he’s paid for.

POV do Nick.

Todas as noites da minha vida eu passei aqui, vendo garotos


talentosíssimos tirando suas roupas para pagantes que eles não conheciam os
rostos. Um amigo e eu idealizamos cada parte dessa casa de shows, desde o
lugar que mais necessitava da mesma até como o atendimento seria. E
mesmo com o grande sucesso que isso se tornou, eu transformei minha vida
em um inferno e por mais que eu quisesse mudar todas as coisas que me
aconteceram, eu não poderia. Eu simplesmente não poderia desfazer tudo o
que foi feito.

Ao contrário dos demais empregados, eu estava acima de tudo, apenas


observando as coisas acontecerem. Eu havia posto uma grande janela para
poder observar o bom funcionamento de tudo por aqui, mas ao mesmo tempo,
eu queria ver o homem dos meus sonhos se apresentando. Loise era fabulosa
dançando, eu havia acertado em cheio ao selecioná-la para meu corpo de
dança. O mesmo com Juliet. Eu era um homem de muita sorte em ter um
elenco de dançarinos dispostos a vender seus corpos para me enriquecer e ao
mesmo tempo, disporem de uma pequena fortuna. Não é em todo lugar por aí
que se pagava tão bem por um programa, prezando acima de tudo pela
integridade e sigilo necessário. Porém havia um no corpo de dança que fazia
todo meu corpo perder os sentidos com uma de suas graças. Por mais ridículo
que seja aquele homem me mantinha preso a ele por seu sexo, por sua dança
e por seu jeito debochado de ser. Seu nome artístico; Carlie, mas para pessoas
como eu, Tyson. Tyson Jay Ritter.

Nunca senti absolutamente nada por ninguém como eu me sentia com


Tyson, quando ele estava perto. Quando ele entrava na minha sala, aqui
mesmo na administração do cabaré, ele a enchia de vida, me fazia estremecer.
Não precisava dizer uma palavra sequer, apenas o seu sorriso tirava toda a
maldade do meu dia e o transformava na melhor das manhãs. Tyson conseguia
fazer com que todos os meus problemas se diluíssem em um deboche ou
outro, em uma risada ou outra. Quando ele vinha até mim pra dizer que eu
estava <i>gostoso</i> com a gravata, mas poderia ficar ainda mais se eu
afrouxasse o nó da minha gravata e desfizesse a pose séria. Ele era
maravilhoso quando queria, mas sabia infernizar com o mesmo sorriso e sem
mudar a expressão divertida. O mesmo sorriso que mostrava o quanto meu
amado estava feliz era exatamente o mesmo que mostrava o quanto ele estava
triste. Apenas quem o conhecesse muito bem diferenciava seu jeito de vida do
disfarce.

Eu parava tudo o que eu estava fazendo para vê-lo dançar. Parava tudo
o que estava fazendo para que ele me provocasse de onde estava. Porque ele
sabia muito bem que eu era seu principal expectador. Sabia que eu não tinha
ciúmes das danças e que sabia muito bem diferenciar o <i>meu</i> Ritter da
Carlie, mas eu havia feito besteira e enquanto ele tirava as peças de sua roupa,
uma a uma, sedutoramente, recebendo dinheiro pela maravilhosa performance,
ou mesmo roubando as bebidas dos seus clientes, eu me perguntava como
faria para aquele homem maravilhoso de olhos claros saber que em nossa
última briga eu acabei transando com uma garota e ela é uma mórmon. Ou
seja, a partir desse momento, estou oficialmente noivado com ela. Eu vou me
casar e terei que largar o negócio com Alexandro e vou ser pai. Como dizer
para ele que todos os nossos sonhos se esgotaram completamente? Os meus
se acabaram em fim.

O lugar que eu ocupava na vida de Tyson era bastante invejado, porque


todas as noites de sua vida, ele estava em um palco, mostrando o quanto
poderia ser atraente, sedutor e encantador. Eu não tinha ciúmes, porque fora
eu mesmo quem o levou por esse caminho e ao mesmo tempo eu foi quem
destruí seus sonhos; ele queria dançar em Las Vegas, onde tudo é mais fácil,
mas confirmo que ele não ganharia metade do dinheiro que ele ganha comigo.
Ritter era um homem fabuloso visto de perto, conhecendo e decifrando seus
sorrisos, e era por isso que eu estava vivendo cheio de culpa que me destrói
aos poucos. Eu teria que contar, simplesmente o deixaria tão decepcionado
que ele mal conseguiria reagir, e se ele reagisse, seria algo muito ruim.

Sai da minha sala e fui até um dos seguranças, pedindo a ele que não
deixasse Tyson ir para um quarto, porque eu precisava falar com ele. O homem
assentiu e o meu amado chegar. Suspirei, andando de um lado para o outro
antes de servir uma dose reforçada de gin – um que eu havia deixado ali para
ocasiões estressantes. Tyson era o único que não batia para entrar, mas era
sempre o mais sorridente de todos os que entravam por ali. Administrar um
lugar daquele não era fácil.

“Psiiu.” Sorriu, colocando a cabeça dentro da sala. Fiz um sinal com a mão
para que ele entrasse e o servi de bebida também – embora Tyson sempre
teve um gosto duvidoso em questão de bebidas. Ele adorava cerveja, e eu
sempre preferi as destiladas. Quando o servi, a sobrancelha dele formou-se um
arco, como se me perguntasse algo. “Eu já cheguei, Nickolas.”

Fui até ele – sabendo que depois que contasse eu não poderia mais
fazer isso – e choquei nossos lábios repentinamente. Tyson acabou dando um
passo pra trás num primeiro momento, mas logo me abraçou fortinho e
correspondeu ao meu toque desesperado. Quando acabamos o beijo, lá estava
meu amado com aquele sorriso confortador que tinha um misto de deboche
com satisfação.

“Eu não sabia que você tinha saudades.” Falou, brincalhão.


“Você não sabe da missa, um terço.” Apertei-o com força e ele correspondeu
meu abraço e minhas expectativas, a final, eu sabia muito bem que poderia
contar com o abraço dele enquanto o mesmo não soubesse do que realmente
se tratava.

“Então pode começar a rezar essa missa toda pra mim.” Debochou, dando-me
um beijinho no topo da cabeça. Soltei-o, voltando pra minha dose de gin,
enquanto me preparava para tudo o que pudesse acontecer.

“Eu engravidei uma garota.” Soltei de forma repentina, virando a bebida de uma
forma rápida, como se aquilo fosse recompensa por eu ter finalmente contado.

“E eu sou São Tyson, o santo protetor dos strippers indefesos.” Levantou a


sobrancelha, me fazendo repetir o seu gesto. Acho que foi nessa hora que ele
entendeu que eu realmente não estava brincando. E foi então que estendi meu
dedo para ele que viu a aliança que tinha em meu dedo. “Mas que merda é
essa, Nick?”

“Eu vou me casar com ela, Ty.”

“Porra!” Explanou, irritado. “Não é por nada não, Wheeler, mas eu to aqui por
você e olha o que faz comigo. Quando foi isso, hm?”

“Na nossa última briga.”

Tyson abaixou a cabeça, em silêncio. Talvez sua expressão – aquele


mesmo sorriso beirando ao deboche intencional, como se nada o importasse,
como se não houvesse coração dentro daquele corpo desejado por muitos –
quisesse dizer justamente o oposto do que demonstrava. Devagar, me arrastei
até ele e abracei seu pescoço.

“Tem um prêmio de consolação...”

“Eu quero você, Nick, não o prêmio de consolação.” Tyson fez um carinho em
minha mão e me olhou. “Mas deixe-me analisar se vale a pena trocar você por
esse prêmio de consolação...”

“É minha parte no cabaré.” Falei dentro do seu ouvido. “Não vou conseguir vir
aqui todo dia e não poder mais ter você.”

“E você vai sustentar seu filho com vento?” Ritter me afastou de forma brusca.
“Se você me chamou pra vir aqui, beber essa coisa que você chama de
destilada pra me pedir que te deixe casar, eu faço o que você quer, só não se
iluda achando que eu vou aceitar cuidar disso tudo só porque você quer me
consolar com algo que não é consolo. Nunca foi.”

Tentei falar, mas Tyson foi para fora da sala. Um milhão de coisas
haviam se passado em minha mente e o mais doloroso é que por mais bronca
que ele estivesse me dando, por mais triste que ele poderia soar, o sorriso que
eu tanto amei ainda estava em seus lábios. Escrevi um pequeno bilhete. Eu
estava disposto a não me entregar a ninguém. Meu suporte e a única pessoa
que me amou, mesmo eu sendo um cafetão, fora ele. A única pessoa que me
olhou um pouco mais doce quando eu era só um poço de sonhos incertos.

Peguei meu carro e fui para uma estação de esqui nas montanhas de
Downtown*. Não era muito longe dali, eu queria por minha cabeça no lugar,
mas começou a chover. Trovejava fortemente e o sorriso debochado de meu
amado não me saía da cabeça e o que era para ser apenas pôr uma cabeça no
lugar, virou um acidente de carro. Ao tentar desviar de um caminhão, acabei
derrapando com o carro e capotando com o mesmo montanha a baixo. Pude
sentir muitos dos meus ossos se quebrando com o bater da lataria no chão,
mas o que me deixou mais triste e doloroso foi a última imagem que me veio à
mente antes de encontrar-me com a eternidade. A última imagem que tive em
mente foi ter encontrado o paraíso no sorriso triste do <i>meu</i> Tyson.

Fim do POV do Nick.

06.There’s nothing worse than knowing how it ends.

POV do Alex.

Quando se é dono de um lugar como um cabaré renomado, conhecido


por ser sigiloso e harmonioso, você tem que burlar algumas leis para que tudo
o que acontece aqui, fique apenas aqui. Era como se eu trouxesse um pedaço
do ditado de Las Vegas se fizesse naquele lugar. Engraçado, estávamos
presentes numa das cidades mais conservadoras e difícieis, mas ao mesmo
tempo éramos muito bem freqüentados. Talvez o que imperasse em Salt Lake
fosse a hipocrisia.

Já havia algumas noites que um homem me chamava atenção mais do


que deveria. Mais até do que eu queria que ele me chamasse. Percebia que
todas as noites ele olhava todo o meu mundo com um cuidado quase que
invejado. Ele não bebia nem uma gota de álcool e observava tudo, tentando me
dizer que tudo estava divertido. Mas eu conhecia muito bem o lugar que eu
trabalhava e conhecia ainda mais os freqüentadores. Nenhum homem me
chamava atenção, exceto aquele. Nenhum homem ia para aquele lugar e não
acabava em um dos quartos ou dentro de seus próprios carros com outros
homens. Todas as noites ele entrava sóbrio e saía sóbrio. Sóbrio e sozinho.

Chamei meu segurança pelo interfone e este veio o mais rápido que ele
pôde. Comentei com quem eu queria conversar e mandei que ele o chamasse,
sem que falasse de quem se tratava e porquê. O homem saiu atrás daquele
que eu queria conversar, para saber se minhas suspeitas estavam certas e se
elas realmente estivessem certas, eu saberia muito bem como me portar diante
daquele homem. Nick, meu sócio, estava fora a alguns dias e ele era muito
mais forte que eu em tomadas de decisões como aquela. Eu não costumava
agir com crueldade, mas naquele momento era necessário.
“Retire a máscara.” Exigi e o homem arregalou os olhos. Meu segurança
fechou a porta atrás de si após meu agradecimento singelo vindo de um sorriso
completamente torto, mas sincero. Voltei logo para minha pose de durão, como
uma forma de me deixar um pouco mais amedrontado que ele parecia.

“Não é proibido tirar a máscara aqui?” Percebi sua sobrancelha elevar-se aos
poucos e eu tive que conter uma risada. “Responda.”

“Não quando eu peço.” Falei, torcendo os lábios infantilmente. “Você não está
me vendo com máscaras está?”

Minha vez de arquear a sobrancelha e impor alguma coisa. Sentei-me


na minha cadeira confortável, olhando bem para o homem em minha frente,
quase que com um pouco de deboche. Eu não era debochado com ninguém,
nunca fui, mas naquele momento eu senti vontade de encarar um personagem
para cair na tentação daquele homem. Devagar, ele desamarrou a máscara e
eu não contive o sorriso. Seus olhos iam se reabrindo a medida que seu dono
os levantava, mostrando-me uma beleza que eu jamais tinha visto. Foi então
que as bochechas dele coraram de leve, talvez ao sentir meu olhar, o que
deixou aquele ser ainda mais adorável.

“Pronto.” Falou baixinho.

“Qual seu nome?” Perguntei.

“Se eu disser, quebrarei outra regra.” Respondeu, encolhendo os ombros.

“Eu sou o <i>dono</i> disso aqui, senhor.” Falei um pouco mais firme. “Eu não
me importo se nessas quatro paredes o senhor quebre alguma das minhas
regras, ainda mais se eu estou <i>ordenando</i>.”

“Nathan.” Respondeu receoso. “Nathan Novarro.”

Eu não sabia se <i>Nathan Novarro</i> era seu nome real, ou o nome


que usara para entrar. Não me importava. Apenas assenti com a cabeça, e fiz
um gesto para que ele se sentasse em uma das cadeiras postas à frente da
mesa, que conseqüentemente, era à minha frente. Tímido, e ainda receoso ao
descumprir as regras tão bem impostas. Talvez ele escondesse um pouco mais
do que quisesse me dizer.

“Sabe, <i>Nate</i>, eu tenho te observado daqui há alguns dias.” Expliquei,


olhando-o com um pouco de compaixão e ao mesmo tempo, sabendo que
minha atitude seria a mais correta possível para aquele momento em especial,
se minhas suspeitas se confirmassem a respeito dele. “E você entra e sai
daqui, <i>sozinho</i> e sóbrio.”

“Qual o problema nisso?” Perguntou, encolhendo os ombros na defensiva.

“Homens e mais homens vêm aqui para se divertir. Há muitos anos. E você é o
primeiro que entra e sai <i>sozinho e sóbrio</i>.” Respondi, quase que num
tom de acusação, que o fez ajeitar-se na cadeira de forma incômoda. “E sabe o
que eu acho que o senhor é, Nathan?”

“Hmmm?” Arrastou, sorrindo com o canto dos lábios.

“Polícia.” Falei. “Policial em serviço. Porque essa <i>corja</i> é a única que


não bebe e não <i>fode</i> em serviço, sabe?”

“E se eu realmente for?” Levantou a sobrancelha novamente e eu formei um


sorrisinho sacana para o homem, me inclinando na mesa até ele. Apenas para
deixar um pouco mais claro, embora seria um desperdício com a humanidade o
que aconteceria.

“O senhor está em sérios problemas.” E encolhi os ombros. “Polícia não é bem


vinda aqui, Nathan. Estar com outros homens não é nenhum crime, mas o tipo
de diversão que essa casa promete infringe a lei, várias vezes. O tipo de
diversão que o senhor vê no palco é criminosa, regida à mãos de ferro.”

“O senhor está me confessando que os meninos que estão lá embaixo são


escravos sexuais?” Nathan mordeu o lábio e eu apenas assenti. “Eles parecem
felizes ao fazer o que fazem. Não me soam como escravizados, privados de
seu direito de ir e vir por Salt Lake. Aqui é tudo muito bem preservado.”

“Eu estou confessando exatamente isso.” Sorri. “Uma pena que o senhor não
seja um padre.”

“Posso mandar você rezar alguma coisa, se é esse seu problema.” Encolheu
os ombros e eu arqueei a sobrancelha, como se o desafiasse para uma batalha
que eu já sabia quem seria o perdedor. E não importava muito quem era o
perdedor, só que eu não seria eu. “Agora não eu não posso ir?”

“Não.” Neguei com a cabeça. “Qual é seu real interesse nesse lugar?”
Perguntei em meio a um suspiro baixinho, enquanto me sentava ao seu lado,
na cadeira de visitas. Eu não podia dar alguma chance de fuga ao homem que
parecia dar lugar a um sentimento mais incomodado com a minha repentina
proximidade.

“Tem ocorrido muitas mortes aqui.” Relatou o que me era óbvio. “As famílias
querem solução para elas, principalmente a família de Urie.”

“Urie?” Franzi o cenho. Havia muitos anos que eu não ouvia aquele
sobrenome, por isso demorei um pouco para ligá-lo ao rosto de Loise. O que
era engraçado, Loise havia me dito que tinha sido repudiada por toda sua
família conservadora e mórmon quando sua opção sexual fora revelada,
quando chegou a levar um namorado qualquer – que provavelmente não sabia
de seu trabalho sujo aqui – queriam sua cabeça. É estranho, de repente, ter
algo tão... acolhedor vindo de uma família que o lançou fora sem muita
piedade. Acabei rindo, quando toda essa história do <i>Urie</i> me voltou à
mente.
“Por que tanta estranheza?” Ele ergueu a sobrancelha, vendo-o completamente
tenso. Arrastei a cadeira vagarosamente até ficar muito mais próximo a ele,
sem deixar de ter aquele jeito relaxado que o deixava ainda mais tenso e
tímido. Nate me acompanhava com os olhos com tanto cuidado que vez ou
outra eu chegava a duvidar de minha escolha. Se Nick não aparecesse, o que
eu faria para tocar um lugar como aquele? “Garotos de programa também têm
família.”

“Oh, claro.” Ri baixinho, em tom de deboche. “Não me respondeu ainda,


Nathan. O que te faz ir e voltar desse lugar sem beber nada ou possuir
alguém?”

“Eu falei sobre as mortes.” Suspirou e ergui a sobrancelha. “Acha mesmo que
tem mais algo que me prende aqui, senhor...?”

“Suarez.” Respondi meio rápido. “E sim. Acredito que sim.”

O olhar de Nate levantou-se ao meu de forma vagarosa. Ele virou-se


completamente para mim e bruscamente juntou nossos lábios. Eu não sei
exatamente o que aconteceu depois. Eu demorei um bocado para raciocinar
qualquer coisa e, quem dirá, reagir ao beijo, mas aos poucos eu fui fazendo
isso. Entreabri os lábios e deixei que ele curtisse bastante o beijo, como eu o
fazia. Eu só o tinha visto de longe, por alguns dias, e confesso que eu havia
desejado aquele beijo ao longo dos meus dias. Nate segurava meu rosto com
uma doçura que eu não era acostumado a ter, não era sequer acostumado a
ver.

“É o senhor que me prende aqui.” Falou ao nos separar. Achei um bocado


estranho as palavras do homem, mas meu ego – eu confesso – ficou bem
confortável com aquelas palavras. “O vidro de sua janela permite que, de lá de
baixo, eu consigo ver tudo o que faz aqui em cima...”

Eu não dei muito ouvido ao que ele estava falando, a final, consegui me
lembrar que existem policiais que eram treinados para mentir. Eu
provavelmente nunca descobriria se Nathan estava falando a verdade, eu
nunca descobriria, sequer, se o nome dele era mesmo o que havia me dito. Eu
não iria mais me importar com ele para poder conseguir fazer o que me era
necessário.

“Por que eu?” Perguntei baixinho. “Com tantos lá em baixo, você deseja o que
não é acessível ao seu toque.”

“Touché.” Apenas respondeu, enquanto eu o sentava em meu colo, bem


devagar. Acariciei seus cabelos e voltei a beijá-lo. Nem uma outra pessoa
havia chegado tão perto do que ele estava fazendo comigo, meu coração
estava à mercê daquela sensação; uma sensação que eu não queria ter,
porque ele era o homem errado pra mim.

Abaixei vagarosamente a mão até seu pescoço. Devagar, comecei a


apertá-lo. No início, carinhoso, meigo, deixando que Nate relaxasse e confiasse
o suficiente para que seu pescoço tombasse para trás, e em seguida eu
graduava os apertões, até que eu ar começava a faltar. Até que ele arranhava
meus braços com força, pedindo por sua vida. Confesso que daquele homem
em minha mente: enquanto o fôlego eu escutei-o balbuciar algumas coisas e
entre elas, algo que soou como “Eu amei você.” mas isso é uma daquelas
coisas que vão me atormentar pelo resto da minha vida, mas agora não estava
na hora de me arrepender. Tudo estava feito. Liguei pro segurança e antes de
sair da minha sala para dar uma volta, disse ao homem.

“Livre-se do corpo.” Suspirei. “Era policial, você sabe o que fazer.”

Fim do POV do Alex.

07. Hey, kid, take the stage and deliver.

Pov do Gerard.

Eu gostava da glória. Gostava dos aplausos que vinham de todos os


lados. Era assim que eu realmente gostava de viver. Não importava quanto
tempo eu tivesse que dançar, quantas peças de roupa eu tinha que tirar em
cada apresentação. Eu gostava, principalmente, de ostentar um homem em
particular na platéia. Um homem que não era meu, um homem que nunca seria
meu de fato, já que toda vez que ele vinha ali, era fácil sair bêbado e com
outro homem que eu não sabia quem era. Em seu dedo, uma aliança grande,
imponente, que me chamava e que deveria ter o meu nome gravado nela.

Mas esse último era só uma questão de tempo. Hoje eu estava me


arrumando para que ele percebesse que eu não ia sair daquele palco, sem que
eu tivesse a resposta que eu queria. Até que ele esteja tão entregue a mim que
não consiga fazer mais nada que pensar em mim e no meu corpo. Terminei de
fazer a maquiagem – que não era algo tão feminino assim – e ajeitei o terno
preto. </i>Juliet</i> iria entrar no palco e iria com um objetivo.

Juiliet era tão provocativa quanto Loise. Tão aclamada quanto ela, tão
desejada quanto! Seu corpo fazia todos aqueles homens irem ao delírio,
porque ela sabia como os manipular, como se eles fossem – e na verdade
eram – seus brinquedinhos. Não havia – em teoria – envolvimento emocional.
Nada mais além do sexo bom e da cena de um palco que mexeria com a
cabeça de muitos.

“Hey!” Carlie bateu na minha porta. Por incrível que pareça, ele estava meio
que no controle do lugar. Eu nunca achei ruim, a final, ele era um companheiro
de strip excelente. Ele <i>era</i> excelente. Espero que Alexandro consiga
sustentar isso aqui sozinho, porque os homens não merecem ficar sem Carlie.
Até eu gostava do trabalho dele, na realidade. Eu me espelhava nele por
milhares de vezes ao criar minhas apresentações. “Tá na hora.”

“Muito obrigado.” Sorri com o cantinho dos lábios, descendo da mesma. O


camarim estava cheio de flores para mim e nenhuma delas pertencia quem eu
queria. Eu vivia por ele e eu sabia que ele vivia por mim, mas negava. Negava
porque era casado, porque tinha filhos. Levantei meus olhos para o homem
magro parado na porta. “Gostou?”

“Falta brilho.” Encolheu os ombros. “Esse terno preto básico tá muito estranho.”

“Tem gente que fantasia com homens de negócios certinhos que se soltam ao
som de uma música agitada.” Encolhi os ombros.e ele repetiu meu gesto.
Acabei rindo baixo, enquanto seguia com ele pra perto do palco. Ritter
gentilmente colocou gliter em meus olhos e eu aceitei a gentileza, antes de eu
ser anunciado. “Foi com base nisso que eu criei esse número.”

Fiz meu show da forma que eu era pago para fazer. Uma a uma, as
peças de roupa caíam de meu corpo com charme e malícia, mas na platéia,
quem eu mais queria tirar do sério, fingia não me olhar – ou se mantinha
apático à minha apresentação. Era doloroso demais para mim, perceber
aqueles olhos buscando muito mais que meu corpo.

Eu perdi as contas de quantas vezes tentei provocar alguma reação


nele, mesmo que fosse alguma minúscula, além do levantar e abaixar da
cerveja que bebia. De longe, eu conseguia sentir o cheiro da bebida, o gosto da
mesma em meus lábios. De longe, eu sentia um arrepio corroer minha espinha,
quando imaginava o outro homem ao seu lado refazendo meus toques, meus
passos, em um homem delicado. Em alguém que era meu. Muito meu.

Quando acabei a apresentação, desci do palco e fui até aquele baixinho


que encarava o copo de cerveja vazio, como uma criança que queria mostrar
para seus pais como tinha tomado todo o seu leitinho. Ri baixo da minha
própria comparação, enquanto enroscava a gravata em seu pescoço e o
puxava pra mim. Todo o salão estava em silêncio naquele momento e só havia
um feixe de luz jogado em nós. Meu pequeno negou com a cabeça.

“Eu não vou.” Falou ele.

“Uuuuh.” Respondeu a platéia, indignada com a rejeição. Alguns me pediram


pra desistir, mas eu tinha algo em mente. Não podia desistir daquilo e ao invés
de soltá-lo, apertei a gravata com mais força e disse baixinho em seu ouvido.

“Você não tem escolha, <i>amor</i>.” Sedutor era tudo o que eu decidi ser
naquele momento. Já havia me exibido ao máximo para ele, mas meu cliente
mais precioso não me queria por algum motivo. Eu já não estava me
importando. Não hoje e talvez nunca mais me importasse.

Faria coisas movido por um sentimento que se fundia entre o lógico e o


absurdo, mas eu só queria que ele entendesse que por mais que eu fosse
relativamente sujo – e isso me lembrava muito de Loise e o seu amado, de
como ela gostava de se apresentar e tinha que se dividir entre aquilo que
consideravam sujo com um amor puro – mas meus sentimentos eram reais e
palpáveis. Eu o queria, não importava o preço que ele pagaria por isso.
Podem me chamar de ciumento, de revolucionário. Eu fui o primeiro e não serei
o único a isso. Esse é meu conto, é minhas regras. Eu sustentava uma vida
boa e mansa, cuidava de meu irmão com a dança e ainda me deliciava com os
olhos <i>dele</i> a me olhar.

A maioria das vezes, eu recebia os números dos quarós e escolhia para qual ir.
Naquele dia, eu o levei para o primeiro quarto vazio que consegui achar, depois
de bater em tantos outros estragando sua noite. O pequeno estava sendo
puxado por mim como se estivesse em uma coleira, andava contra a vontade e
com um bico contrariado. Eu me sentia satisfeito pela submissão revoltada. Eu
me sentia feliz com a falta de vontade, embora gostasse da glória, do
agressivo, do que me era jogado aos pés.

“O que quer de mim?” Perguntou o baixinho, indignado.

“O seu prazer.” Revelei. “E o meu próprio.”

“Mas eu já lhe disse.” Reforçou, enquanto eu o joguei contra a porta do quarto,


já do lado de dentro. “Eu não o quero. Amo minha esposa, amo meus filhos.
Não quero o seu prazer”

“Todos me querem e você não é a exceção.” Reclamei mimado, dando uma


mordida forte em seu queixo. “Pra que vem aqui, afinal, senão para ver - e
pagar – pelos shows?”

“A bebida, os garçons...” Ele suspirou. “Existem alguns freqüentadores


interessantes. Agora o <i>quase feminino</i> não me atrai e você peca
demasiadamente nisso. Você é delicadamente vulgar. Ridiculamente feminino.
Não o quero, já lhe disse.”

“Eu realmente não me importo.” Falei baixinho em seu ouvido. “Eu escolhi
você. Não gosta de esposas? Eu posso ser perfeita para suas necessidades.”

Nessa hora comecei a abrir-lhe a camisa de linho fino, mas este me


parou pelo caminho. Seus olhos voltaram-se para os meus, como se em
silêncio pedisse para que eu não continuasse, mas ao invés disso, rasguei a
peça de roupa, falando-lhe sedutoramente das vantagens de ser sua esposa.

“Você nem sabe o meu nome, senhor.”

“Eu não me importo.”

Talvez ele não tenha percebido o quão longe eu queria chegar. Segurei-o com
força pelo queixo e comecei a morder gentilmente seus lábios, até que seus
pedidos para me deter se tornassem pequenos gemidos satisfeitos. Talvez ele
nunca tivesse aproveitado as vantagens de um quase feminino.

“...seu ego me irrita.” Disse o pequeno e eu dei uma risada baixa. “Sua
promiscuidade me enoja.”
“Mas está indo pra cama comigo.” Falei, abaixando sua calça num puxão. Eu
estava semi-nu e talvez ele tivesse percebido minhas intenções reais. “E eu
não sou bom com rejeições. Não as aceito bem.”

O pequeno então arregalou os olhos e livrou-se de meus braços. Bateu


na porta feito um desesperado e, como estava trancada e a chave comigo, ele
não conseguiu abri-la. Imitei gemidos inebriados, para que quem passasse por
ali – e que Deus, como passava gente naqueles corredores – achassem que os
gritos eram frutos de um sexo selvagem, puro e grotesco. Aos poucos, os
murros foram parando e minha imitação foi contemplada com sua atenção.

“Mas o que é que você está fazendo?” Perguntou. “Vai dormir comigo contra
minha vontade?”

“Se você não for meu, querido, não será de mais ninguém.”

Em todos os quartos, tínhamos um mecanismo de defesa. Na parte


debaixo da cama, deixávamos sempre um punhal bem afiado. Eu sabia que era
loucura, mas não suportava mais dividi-lo, sabendo que ele não se importava
em me dividir. Ele não me quis em nenhum momento. Eu dei todo o meu corpo
em apresentações maravilhosas por <i>ele</i> e este nunca me quis. Nunca.
Eu segurei o punhal, fui em direção do menino.

“Me diz seu nome, delicinha.” Perguntei, com o punhal apontado pra ele.

“Você disse que não o importava com isso.” Falou, meio apavorado.

“Eu quero saber agora.” Avisei. “Diga-me. Qual o seu nome?”

“F-Frank Iero.” Falou falho e eu sorri, assentindo. Era um belo nome. Frank
tentou uma fuga. Bateu na porta enquanto capturou meus lábios e eu tão
tolamente caí, mas cravei a faca de corte afiado em suas costas e em meus
lábios Frank gemeu dolorido.

“Por favor, eu quero viver.” Avisou ele. Era tarde demais.

Fiz questão que vagarosamente o punhal corresse sua garganta e sujasse


minha pele branca com a cor vermelha. Eu vi a vida de Frank escapando pela
pequena abertura que fiz – pequena, mas profunda – em seu pescoço. O
gemido se enfraqueceu e o corpo amoleceu.

Eu perdi o pequeno, mas ele também não seria de mais ninguém. Li o nome de
quem estava em sua aliança e decidi não contar a ninguém. Frank fora o
homem que eu amei e o que me rejeitou. Frank teve o final que mereceu e este
conto acaba com minha vitória.

Não sei precisar se isso era amor, se isso foi amor, mas Frank e seus gemidos
– sejam eles quais forem – nunca mais sairiam de mim ou de minha mente.

Fim do Pov do Gerard.


*: Downtown é quase uma cidade dentro da própria Salt Lake City. Um dos
maiores bairros da cidade que contém de tudo um pouco, excelentes
restaurantes, bares, etc., etc. o bairro é citado pelo panic! na Kaleidoscope
Eyes. “kaleidoscope eyes sparkle at the world, my emerald city downtown girl”.
Downtown também é famosa por suas estações de esqui.

*: estação de esqui de downtown, as montanhas são mais ou menos como


essa.
http://saltlakecityvacation.net/wp-content/images/2f913_salt_lake_city_ski_resor
ts_5399486461_bd136c2816.jpg só pra lembrar que eu deixei escapar,
Brobecks tem uma música chamada Downtown, também referente a esse
bairro de Salt Lake.

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