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Copyright © 2019, Manuh Costa

Capa: Greyce Kelly


Diagramação: Greyce Kelly
Revisão: Greyce Kelly

Dados internacionais de catalogação (CIP)


Costa, Manuh
1ª Minas Gerais, 2019
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1.Literatura Brasileira. 1. Titulo.

É proibida a reprodução total e parcial desta obra, de qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico,
mecânico, inclusive por meio de processos xerográficos, incluindo ainda o uso da internet, sem permissão de
seu editor (Lei 9.610 de 19/02/1998).
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação do autor qualquer semelhança com acontecimentos reais é mera coincidência.
Todos os direitos desta edição reservado pelo autor.
—Boa coluna Faith...
—Obrigada Jessie.
Jessie sorri para mim me dando aquela forcinha, mas sei que no fundo ela
só faz isso para que eu não me sinta desestimulada, para que eu não desista. Entro
em minha sala, fecho a porta e parece que a minha cabeça vai explodir, acabo de
sair de uma reunião infernal com o redator chefe.
Blade—que tipo de mãe coloca o nome de um vampiro numa criança?—
O'nneal reuniu todos os redatores do jornal para uma reunião revolucionária... O
motivo? Acho que ele não tinha o que fazer ou a mulher dele dormiu de jeans,
simplesmente insultou todo mundo, e resumindo nos chamou de incompetentes,
disse que se não quisermos nossos cargos havia pessoas lá fora que queriam.
Ok, eu preciso do emprego, mas não obrigada, não preciso me sujeitar a
certos tidos de coisas para ter um emprego.
Claro, é o The New York Jornal de Nova York, e acho que se um dia
mamãe tivesse a capacidade de ouvir a força dos meus pensamentos ela me
mataria, mas enfim, como posso continuar trabalhando aqui sob estresse?
Às vezes eu olho para minha vida e me sinto a frustração em pessoa... É
como olhar para uma música dá Lana Del Rey ou dá Lykke Li...
Respiro fundo e vou pegando as minhas coisas, é muito ruim sentir como
se às vezes não fôssemos suficientemente boa para as outras pessoas, como se
nosso esforço não fosse o bastante ou como se nada estivesse sendo dentro do
possível o que podemos dar para alguém... É assim que venho me sentindo desde
que entrei no Jornal.
Blade—o redator Vampiro—chamou meu trabalho de medíocre e de baixo
escalão, ele me expôs dá pior forma diante de uma porção de pessoas que já tem
motivos o suficiente para me criticar todos os dias, eu não sabia se me sentia pior
ou conformada, por que ele fez isso com basicamente todos os principais
redatores do jornal.
Ainda me pergunto como nos dias de hoje, coisas assim acontecem todos
os dias com funcionários numa empresa tão grande, como pessoas arrogantes
como Blade se mantém em cargos de liderança, tudo o que ele disse foi tão
desumano, tão hostil, tão grosseiro.
Posso passar o resto dá minha tarde tentando encontrar nomes para xingar
aquele vampiro sangue suga desgraçado, mas não conseguirei encontrar nenhum
aos pés dele.
Acho que o The Jornal não faz questão de mim mesmo, acho que vou ter
que procurar emprego num outro lugar, aqui já deu o que tinha de dar para mim.
Estou cansada desse emprego medíocre.
Estou cansada de estar num lugar cercada por pessoas
supérfluas.
Fecho minha bolsa e saio dá sala, passo pela mesa dá Jessie, mas não
respondo a sua despedida, ela é minha assistente a alguns meses, não tenho nada
contra, mas não estou conseguindo sorrir, nem disfarçar minha raiva.
Logo entro no elevador e me vejo cercada de homens de terno, eles me
espremem como se eu não existisse e isso é péssimo, horrível, uma droga, ao
menos se eu fosse invisível não me sentiria tão minimizada.
Consigo respirar quando bato o meu crachá na catraca e saio daqui, vou
deixando a frustração para trás enquanto me afasto dá empresa, eu já passei por
muitos altos e baixos no The Jornal, mas depois que o Blade assumiu o cargo
venho francamente me decepcionando mais e mais.
Sou adepta a críticas, mas não tolero a falta de ética que vem desse homem
e acho que realmente o meu problema com ele é esse, eu não sei fingir que gosto
dele, que tolero ele, enquanto todos o adulavam quando acabou a reunião eu
simplesmente saí de sua sala.
Ele é insuportável.
Blade não quer que eu aborde temas sobre problemas femininos na minha
coluna, ele não quer que eu fale sobre mulheres comuns, ele não quer que eu fale
sobre mulheres grávidas, ele quer que eu fale sobre modelos, tendências, jovens e
monte uma coluna com uma estrutura totalmente voltada para um público que eu
não estou disposta a agradar.
Meu celular toca logo que entro no metrô, é a Brenda.
—Já chegou em casa?
E pela voz ela não está bem... De novo.
—Não, aconteceu algo?
—Bob rompeu comigo!
Ela está com a voz chorosa e só uma vez na vida eu gostaria de poder dizer
um grande "Dá um tempo Brenda, de novo esse merda", mas sei que não posso,
Brenda tem depressão, coisas assim só a colocam ainda mais para baixo.
—Estou indo para casa.
—Nos vemos lá então... Vou levar sorvete.
—Tá, beijo.
Ela desliga, e fico me perguntando como alguém consegue se permitir
passar por algo tão humilhante e cansativo, o relacionamento de Brenda com Bob
dura desde que a faculdade acabou, isso já faz sete anos, eles dois já terminaram
e romperam tantas vezes que eu francamente perdi as contas, acho que as vezes a
Brenda se sujeita demais a certos tipos de coisas que cansam muito mais do que
anos de casamento.
O que não aconteceu comigo e nunca acontecerá é claro.
Por isso eu vivo só, é tão bom ser só, os únicos problemas nos quais eu me
preocupo é com o Beans—meu gato desobediente—e as minhas contas, e é claro,
meu peso.
A parte mais detestável de tudo é perceber que a Brenda não tem amor
próprio, ok eu não tenho nenhum pouco, mas ela ultrapassa os limites de toda a
falta de amor do mundo sempre que se sujeita voltar para o Bob, sempre que
permite que ele volte para sua vida, será que ela não entende que esse
relacionamento acabou há anos?
Ok, ele é lindo, ok ele é bem de situação, ok a família dele adora ela e vice
e versa e eles tem uma história, mas eles não se amam, estão muito mais juntos
pelas aparências e comodismo do que por algum tipo de vínculo maior que os
prenda, e desde que ela começou com a depressão tudo tem estado muito difícil
para ambos, Brenda é dessas que fazem escândalo por tudo e qualquer motivo e
que logo em seguida ficam chorando, também não é santa, mas o Bob... Se ela
soubesse das traições dele—ou levasse em conta—com certeza não ficaria tão
arrasada com os términos de seu relacionamento.
Ela chama de Relacionamento, eu Chamo isso de doença.
Tem alguma praga maior do que amar e não ser amado? Do que querer
alguém e a pessoa se quer te notar? Do que querer alguém que tem namorado?
Venho tentando entender à mente doentia de todas as pessoas que me
cercam, mamãe e papai são outros, já passaram por tantas crises que não posso
chamar aquilo de relacionamento e sim de "No Limite", eles sobrevivem um com
as sobras do amor do outro, ou coisa assim, vivem brigando feito cobras e quando
aparece alguém ficam fingindo que se gostam.
São excelentes pais, mas quanto ao casamento um para o outro deixam a
dever, às vezes eu acho que mamãe inclusive me culpa por não ter ido a
faculdade, afinal de contas ela engravidou de mim no colegial, e papai nunca
conseguiu matar essa frustração que ela sentiu quando logo após me ter,
engravidou do Vee, e logo depois do Logan e logo em seguida do William.
Eles têm trinta anos de casados, nós quatro, casa própria e vivem
tranquilamente na Carolina Do Norte, meus irmãos são casados, apenas eu sou
solteira... Antes não apenas por opção, mas digamos assim que hoje vivo bem
dentro do que tenho isso se tornou para mim um estilo de vida, prefiro assim.
Entro no meu prédio, sorrio para o porteiro Grant, depois subo direto para
o meu apartamento, logo que entro Beans vem para o meio das minhas pernas
miando, o egoísta sempre faz isso quando chego, mas se engana quem acha que
faz isso por gostar de mim.
—Deveria ter adotado um cachorro.
Ele vêm numa felicidade, o Beans vem atrás dá ração.
Ele mia, é um gato preto de olhos chamativos e grandes, não é muito
gordo, achei o Beans quando estava voltando do trabalho há dois anos, e apesar
de ser um gato bagunceiro e desobediente ele tem sido meu grande e maior amigo
desde então.
Beans rola no chão dá sala enquanto deixo minhas coisas no sofá
parecendo querer chamar atenção, eu o olho tentando afastar a impaciência na
qual me meti hoje à tarde depois dá reunião na bat caverna com Blade, o vampiro
sangue suga.
—Hoje não Beans.
Depois vou para cozinha e pego no armário o enlatado, abro a latinha de
ração e coloco em seu cantinho, Beans é tão esperto que vem correndo e mal
parece me dar atenção—na verdade ele não me dá atenção nunca, só quando quer
alguma coisa em troca—depois eu troco sua água abro as persianas dá janela dá
cozinha, suspiro olhando pras janelas fechadas no apartamento ao lado.
A senhora Roberts morreu há alguns meses desde então desocuparam seu
apartamento, desde então não vejo essas cortinas abrirem mais, eu moro no
Quens, é um bom bairro, desde que terminei a faculdade me mudei para cá e esse
tem sido meu lar por um bom tempo.
Sinto falta dá velhinha que fazia chá todas as manhãs e acenava para mim,
foi triste quando soube que ela morreu, infelizmente parece que os parentes não
quiseram nem divulgar onde era o enterro dela, gente estranha, claro, não era uma
amiga profunda dá senhora Roberts, mas eu achava ela uma simpatia de pessoa,
nos conhecíamos de vista, mas eu queria muito dar um último adeus para ela.
Coloco a chaleira para esquentar e vou para o meu quarto tirando os
casacos, o par de sapatilhas, essa época do ano é um pouco fria, troco o jeans por
uma calça de pijama e a camiseta social por uma blusa comum, solto meus
cabelos do coque e me jogo na cama.
Às vezes, só às vezes dá vontade de sumir, de sair explodindo cabeças
alheias por ai... Será que se eu explodisse a cabeça do Blade eu seria presa?
Estou muito tentada...
Acho que o The Jornal para mim já deu, eu não sei se conseguirei seguir as
diretrizes do Redator Chefe, eu não posso me sentir bem falando sobre assuntos
que nada tem a ver comigo, por que não posso falar de mulheres comuns? Sobre
culinária? Sobre relacionamentos? Eu sou tão boa falando sobre essas coisas!
Prendo meus cabelos num coque de todo jeito e abro a janela do meu
quarto, olho para o movimento na rua e volto para cozinha, ligo o som, seleciono
a música que quero no home theater, infelizmente a MTV morreu há uns doze
anos atrás e tenho que me conformar com Pen drives, mas até gosto.
Foster The People Pumped up Kicks soa na minha sala e tento relaxar.
Depois do dia de hoje ainda ter que tolerar a choração dá Brenda? Será que
eu consigo?
—Deus, por favor... Por favor... Me leva antes dá meia noite se ela
começar a falar do dia das flores.
Isso foi há cinco anos, ela não para de repetir sobre esse dia, quando Bob a
levou para o Central Parque e comprou um buquê de flores para ela... Tem
também aquele dia do sorvete quando ele dividiu o sorvete com ela e eles ficaram
por horas falando dos futuros bebês deles... Como se ele quisesse mesmo ter
filhos com ela?
Beans já está no sofá confortavelmente deitado, vou para geladeira e pego
os ingredientes para um sanduiche, depois vou para pia e começo a lavar a
garrafa, pegar os ingredientes do café no balcão, abaixo e me ergo, nesse instante,
assim do nada, eu vejo alguém parado diante dá janela dá senhora Roberts.
Dou um pulo e quase derrubo o pote do café, meu coração dispara e eu fico
parada olhando através dá janela um cara que está parado olhando fixamente para
rua.
Ele está com os cabelos úmidos e usa uma camisa branca, na verdade não é
bem um cara, é um rapaz, tem olhos expressivos de cor castanhos escuros,
sobrancelhas escuras, e precisa fazer a barba.
Lindo!
—Fafa!
O Berro dá Brenda pode ser ouvido até quinhentos metros de distância, e
assim, imediatamente o rapaz olha na direção dá minha janela, quando seu olhar
me encontra meu coração se acelera ainda mais.
Imediatamente puxo a cortina dá janela e a fecho, depois balanço a cabeça
saindo do transe, Brenda vem com cara de choro, o nariz e os olhos
avermelhados, eu a abraço nesse instante.
Parece que o apartamento dá senhora Roberts acaba de ser ocupado.
Pior do que ver a Brenda chorando é ouvir ela cantando sucessos dá
Witney Huston enquanto curte a Bad.
É por essas e por outras que eu não tenho relacionamentos.
Não, obrigada.
Fico tentando entender como funciona todo esse processo na cabeça dela,
algo bem como: Vai e volta, volta sofre e vai, depois termina tudo e sofre, daí do
nada volta de novo e fingem que nada aconteceu.
Poxa, será que não cansa?
Brenda não entende que as coisas entre ela e Bob já acabaram há anos? Na
verdade nem deveriam ter começado depois do primeiro término. As pessoas tem
uma mania incrível de persistir em coisas desse tipo, e o mais engraçado é que
elas são as que mais nos aconselham mudar, porém elas não mudam.
—Você precisa de um namorado Faith.
Estamos deitadas no tapete dá sala, minha cabeça ao lado dá dela, porém
deitadas de lados opostos, olhamos para o teto, Brenda funga e chora cantando
essa música horrível dá Lara Fabian... Bem, não era tão horrível quando eu
também ouvia ela, mas isso foi a anos atrás.
—Para ficar como você?
—Para ser mais feliz do que eu.
Sempre adorei o otimismo de Brenda, eu também sou otimista... Às vezes.
—Brenda o que você vê no Bob?
—De verdade? O Pênis dele, é enorme!
Reviro os olhos.
—Ele me ama, ele só não percebeu o meu valor ainda.
—Como você gosta de se enganar!
—Vai ficar me julgando?
—Não estou julgando Brenda, só estou dizendo que...
—Que eu sou uma burra que vive insistindo nisso, que eu sou tola por
acreditar que o Bob vai um dia enfim perceber o meu valor.
Sempre somos muito sinceras uma com a outra.
—Eu não disse isso.
Brenda levanta e me ergo, ela está furiosa, os picos de humor dela pioram
às vezes do nada.
—Como esperar apoio de você não é mesmo? Você é a pessoa mais mal-
amada que eu conheço em toda a minha vida!
Sei que a magoo, mas estou bem estressada e cansada também, não queria
ter que ver Brenda voltando com Bob e passando por todo o processo doloroso de
término, por que eu sei que é isso que vai acontecer mais para frente.
—Brenda nada se resolve assim.
—Só contava com um pouco de apoio.
—Mais apoio? Brenda ele está te usando há anos...
—Se for para ficar me julgando prefiro ir embora.
—Então pode ir!
—Dá para entender por que o seu noivo te abandonou Faith, você é muito
amarga.
Depois que diz isso ela pega o casaco e a bolsa e sai do meu apartamento
pisando forte, suspiro.
—Você nunca entenderá por que ele me abandonou no altar Faith.
Falo isso para o nada, Beans se esgueira e vem deitar em meu colo, olho
envolta e respiro fundo sem permitir que isso me atinja, eu o deixo num canto e
decido tomar um banho.
Já faz um tempo que eu aprendi a lidar com isso, e quando vim para Nova
York eu decidi que não permitiria que o meu passado me atingisse ou que isso me
limitasse de alguma forma.
Tive um noivo que também foi o meu namorado por todo o colegial, na
verdade ele era meu melhor amigo de infância, foi alguém a quem eu dediquei
todos os meus dias, desde os onze anos de idade até os dezenove, alguém que me
conheceu por completo e quem amei profundamente.
Mas tudo acabou quando no dia mais importante dá minha vida essa
pessoa decidiu que eu não era tão boa assim para ele, ou ao menos foi isso o que
deu a entender quando dias depois do nosso casamento frustrado soube que ele
estava com outra garota.
Timmy ainda tentou me procurar um tempo depois para conversarmos,
mas nem mesmo em consideração a nossa amizade eu conseguia querer vê-lo,
estava destruída depois de tudo.
Acho que o pior em olhar para traz e ver o que vivemos é lembrar de que
um dia cheguei mesmo a acreditar que alguém me amava do jeitinho que eu sou,
coisa que nunca aconteceu, ou foi ao menos o que eu concluí com o abandono.
Entro no chuveiro ouvindo Demi Lovato, Stone Cold.
Tudo não passou de uma grande mentira, algo que Timmy fez para não me
decepcionar, e mal sabe ele, que com esse ato impensável eu fiquei destruída.
Partir dá Carolina do Norte foi algo necessário para que eu sarasse, sentia muita
vergonha de nossas famílias, tinha vergonha de mim mesma por conta de tudo, e
como a cidade onde morávamos era pequena eu cansei de ser o assunto, foi um
momento dá minha vida que eu deixei para traz.
Claro que hoje ainda sofro um pouco em lembrar de tudo, mas decidi que
não permitiria que isso me machucasse ainda mais com o passar do tempo, em
alguns sentidos conseguir realmente me superar, mas em outros...
Não foi fácil chegar aqui, não é fácil me manter aqui.
Eu sei o que eu passei ao ser abandonada num altar pelo homem que mais
amei na vida, e isso não foi minha culpa, se ser gorda era um defeito que Timmy
não havia enxergado em mim antes do casamento o que posso fazer? É minha
culpa por ele não me aceitar?
Pior nem foi isso, foi ouvir dá boca dá minha mãe algo que me deixou no
chão, coisas horríveis que a mãe de Timmy disse ao meu respeito após o
cancelamento do casamento, foi quando eu decidi deixar a casa dos meus pais e
fazer faculdade.
Graças a Deus fiz isso.
Saio do banho e logo ouço o som dá campainha, reviro os olhos enquanto
me seco, eu já até imagino a cara de tédio que ela vai fazer quando eu abrir a
porta. Coloco uma blusa nadador e um short jeans qualquer, vou secando os
cabelos enquanto escuto mais uma vez o som dá campainha.
Abro a porta abrindo a boca para reclamar, mas bem diante de mim está
uma figura muito diferente de Brenda, meu coração dispara com o susto e fico
olhando fixamente para o vizinho, surpresa por ele ser um pouco mais alto que
eu.
—Oi!
Deus, ele é um adolescente!
—Oi.—digo e tento sorrir.
—Meu gás acabou, você poderia me emprestar água quente?
Dá vontade de rir em pensar que a pouco fiquei tão impressionada com a
beleza desse rapaz, quantos anos deve ter? Dezoito? Dezessete? Bonito, com
certeza. mas porém muito jovem, pelo ou menos uns oito anos mais jovem que
eu.
— Claro. Você mudou para o apartamento do prédio ao lado.
—Era dá minha avó, ela morreu há alguns meses.
—Senhora Roberts.
—Sim.
—Tá, quer entrar?
—Eu trouxe uma garrafa.
Não sabia que ela tinha netos, não netos tão jovens e bonitos, mas apenas
sorrio e pego a garrafa dá mão dele, abro a porta para que ele entre, ele passa por
mim e olha envolta, me sinto grata por tudo estar limpo e no lugar.
—Não demora muito.
—Eles suspenderam o gás por que ninguém estava morando lá, mas acho
que até a noite tudo funcionará, você se chama...
—Faith.
Ele parece ser desses jovens bem articulados e tal, apesar de eu perceber
em seu olha um tipo de timidez ou coisa assim.
—Meu nome é Cameron.
—Bom.
Vamos para cozinha, Cameron é curioso, ele usa uma calça de moletom e
uma camiseta branca de malha fria, os cabelos úmidos estão penteados para traz,
me sinto um pouco nervosa com o jeito como ele fica me olhando.
—Você é casada?
—Por quê?
—Ouvi o som de mais alguém falando.
—Não, obrigada.
Encho a chaleira de coloco no fogão.
Cameron fica me olhando de uma forma muito curiosa, imagino que talvez
ele não more sozinho no apartamento do prédio ao lado. Indico a cadeira dá mesa
dá cozinha e ele se senta.
—Seus pais também se mudaram com você?
—Eu não tenho pais.
Poxa.
Ele também não tem cara de quem gosta de ficar respondendo a perguntas,
cruzo os braços e espero a água ferver em silêncio, o neto dá senhora Roberts
parece ser bem misterioso, já chegou cheio de marra, mas não me importo muito
com isso.
—Tem filhos?
Gosta de perguntar, mas não gosta de responder não é mesmo jovenzinho?
Me viro para ele e franzo a testa.
—Eu não tenho filhos.
—Isso foi rude!
—Da mesma forma que foi rude ao me responder sobre os seus pais.
—Soei rude? Eu não tenho pais! Meus pais morreram a anos, minha avó
era a minha única parente.
Nossa.
Cada revelação me deixa ainda mais intrigada, eu nem sabia que a senhora
Roberts tinha netos, claro, os parentes velaram o corpo, mas concluí que eram
filhos dela.
—Sua mãe era filha dela?
—Meu pai, mas ele morreu num acidente de carro.
—Entendo.
—E você?
—Eu o que?
—Não tem pais?
—Tenho.
Curioso.
—E... Irmãos?
—Vários, infelizmente.
—Minha mãe estava grávida quando morreu.
Isso é muito frio e muito triste.
—Que pena.
—É, realmente.
Cameron deve ser desses rapazes super populares dá faculdade, ele é meio
frio, seu semblante não exprime nenhum tipo de alteração enquanto fala e sua voz
é baixa e meio hostil, ele tem atributos físicos muito fortes, os olhos, o rosto, ele
é absolutamente lindo de rosto, mais magro, porém não é franzino, ombros largos
e braços compridos, tem cara de que faz algum exercício, mas sua beleza é algo
muito natural.
A água ferve e coloco na garrafa, depois eu a estendo para Cameron, ele se
ergue e aceita a garrafa em silêncio.
—Obrigado Faith.
—De nada.
Não estou muito bem para receber ninguém, mas não sou mal educada, eu
o acompanho até a porta.
—No que precisar...
Antes que eu termine a frase ele vira as costas e sai andando, suspiro.
—Estamos aqui.—completo, mas estou falando sozinha.
Cameron partiu.
Mal educado.
—Faith.
—Sim?
—Blade quer te ver.
Que ótimo.
Já comecei o dia bem.
Respiro fundo e levanto, sigo Lilith em silêncio, ela é a nossa colunista de
culinária, é uma mulher magra e alta, mas com um gosto super fino para roupas e
sapatos, algo que preciso admitir é claro nas mulheres que me cercam é que são e
estão sempre bem vestidas, nada de tênis, nada de jeans nem camisetes, tudo o
que elas usam são sapatos caros, calças ou saias sociais, blusas de seda entre
outras e tendências, isso me faz sentir-me deslocada, porque na maioria das vezes
é a minha forma de me vestir, eu gosto de ser prática por que pego muito metrô,
não tenho carro, então andar de sapatos altos—que já é um sacrifício para mim
em qualquer época do ano—e roupas apertadas—que me deixam espremida me
fazem desistir de ser como elas.
Eu na verdade nem em mil anos serei, nem quero ser como elas.
Acho que cada um tem o direito de ser o que quer, eu inclusive de ser uma
derrotada sem uma melhor amiga depressiva e com um gato egoísta, ah e não
vamos esquecer de vizinho adolescente rebelde.
Entramos na sala de Blade, ele está sentado em sua mesa, em suas costas
um mural de diplomas e certificados, que é alguém competente eu sempre soube,
bonito também, deve ter seus quarenta anos no máximo, moreno, olhos azuis,
lábios finos e mais alto, porte atlético, é o Blade é bem bonito, o que não
combina com sua beleza aqui é a arrogância estampada em seu olhar, o ego
estufado em seu peito, o a prepotência vazada em seu sorriso.
Ele também é casado pelo o que eu soube com o decorrer dá semana,
parece que com uma mulher bem importante de uma revista de moda, mas eu não
procurei saber muito de Blade, não quis, estava bem chateada com os meus
problemas pessoais, minha vida pessoal já é uma droga, acrescentar os dizeres e
exigências dele todos os dias na minha coluna tem sido suportável.
Não quero que isso tudo vire um inferno.
—Bom dia senhorita Silver.
Lilith fecha a porta.
Pensei que a reunião seria apenas entre eu e ele, mas pelo visto ela também
participará.
—Sente-se.
—Sim senhor, bom dia.
Faz cinco dias que esse cara assumiu e me cobre de exigências via e-mail
eu inclusive não sei muitas vezes como lidar com sua personalidade, não gosto de
pessoas autoritárias, apesar de eu ser bem assim, coisa que herdei de papai, ele é
super autoritário e mandão, mamãe já é aquela mulher bem omissa, sensível
demais, acho que os dois são dois polos.
Me sento na cadeira diante de sua mesa, Lilith na cadeira ao lado dá
minha, ela cruza suas belas e longas pernas, é, ela é bem chique, uma mulher
branca e ruiva, eu já não sou tão branca e o meu cabelo é castanho mais claro, e o
azul que ela tem nos olhos, acredito que eu jamais terei, também não gosto muito
de me maquiar.
—Eu te chamei aqui por que observo que a sua coluna não está se
adequando as minhas exigências.
Engulo o suspiro na garganta, não tem como agradar mesmo, eu não posso
falar de garotas magras e tendências numa coluna sobre mulheres num geral.
—Por isso a partir de hoje você irá para coluna de culinária, Lili vai
assumir no seu lugar.
Olho para Lilith, ela já sabia disso, vejo pela forma que ela o fita, tem um
brilho de vitória e alegria em seu olhar.
—Alguma coisa que queira me dizer?
—O senhor sabe que eu não entendo de culinária certo?
É difícil falar com Blade, depois dá nossa “DR” no primeiro dia em que ele
me expôs para o pessoal a alguns dias atrás eu tenho levado ele com a barriga,
tenho tentado atender as suas exigências mas não consigo escrever algo que não
condiz com o que o trabalho em si exerce.
Agora ele quer que eu fale de culinária? Eu só como fora, eu só sei fazer
café, salada e bife malpassado, e tem vezes que o meu bife até queima.
—Bem, terá que se adequar—ele fala com deboche no olhar.—Você deve
saber, seu corpinho não se tornou assim atoa certo?
O Que?
—Lilith entende de moda e tendências, ela é uma mulher ligada na
atualidade e entende a posição dá mulher na sociedade.
—Espera—peço sem fôlego.—O senhor vai me colocar na coluna de
culinária... Acho que ouvi errado.
—não ouviu não, você é gorda, se é gorda deve saber muito bem cozinhar,
e naturalmente come em abundância.
Lilith dá uma risadinha baixa, quando me viro para ela fico chocada diante
deste absurdo, o meu corpo todo recebe esta resposta como se levasse dezenas de
socos, então ergo meu olhar e meu sangue esquenta nas veias.
—Não!—digo e nego com a cabeça.—Eu não serei colunista de culinária.
—Não ficará na coluna dá mulher Faith...
—Claro que não.
—Claro que vai.
Me levanto, e detenho a vontade que sinto de avançar para cima desse
babaca.
—Tudo bem, eu passo no Rh e peço as minhas contas, boa sorte Lilith, e
com licença.
—Tem certeza de que não quer ficar na coluna de culinária?
—Tenho, procure alguém magra, e espere que em breve o meu advogado
irá procurá-lo para um papo bem legal sobre assédio moral Blade.
O semblante de Blade muda.
—Eu só estava brincando.
—Pois que fique com sua soberba e preconceito, eu estudei muito para ser
colunista de moda nessa empresa, o senhor não sabe o que é falar sobre uma
mulher, tão pouco Lilith, ela vai arruinar a sua coluna.
—Sua coluna é sem ênfase e sem graça.
—Nem todas as mulheres do mundo se importam com roupas e sapatos.
—Mas nem todas elas são garotas acima do peso e depressivas, seus textos
sobre amor parecem textos feitos para meninas de quinze anos que querem um
namorado.
—Tudo bem, muito obrigada pela crítica construtiva, com licença.
—Vamos Faith... Eu posso...
Enquanto me afasto escuto ele chamando, mas finjo que não ouvi.
Ao sair dá sala de Blade, choro um pouco, nunca pensei que passaria por
algo assim na minha vida, não novamente.

Disse um Curto tchau para Jessie.


Passei no RH e pedi demissão.
As meninas pareciam não acreditar, mas fiquei calada enquanto elas
passavam o pedido para o sistema formalmente, depois disse que voltaria no dia
seguinte para buscar as minhas coisas e vim para casa.
No caminho só queria chorar, por que em minha mente vinham todas as
coisas que passei e me sujeitei para entrar no The Jornal, passei muitas
dificuldades emocionais e financeiras para alguém chegar e me chamar de gorda
na cara dura, e pior, me remanejar para um outro setor pelo simples fato de
vincular a minha imagem ao setor.
Isso mexeu comigo, e está me machucando lentamente.
Me tranquei em meu apartamento desde que cheguei, tomei um banho e
com a ducha as lágrimas foram caindo porque com elas me virem lembranças nas
quais tento banir dá minha vida para sempre, mas elas não vão, elas se
instauraram dentro de mim e vão deixando as feridas abertas, elas nunca
cicatrizam.
Me peguei lembrando do dia do casamento, o pior dia dá minha vida, o dia
em que fiquei plantada num altar esperando pelo cara no qual confiei todos os
meus planos de vida, alguém a quem entreguei meu corpo e meu coração
verdadeiramente, no qual confiei e amei desde sempre, e chorei muito por conta
disso.
Fechava os olhos e me lembrava do eu vestido, dos convidados nos
bancos, dá igreja decorada, dos meus pais me olhando na expectativa e de toda a
felicidade que eu mantinha dentro de mim quando cheguei ao lugar para o dia
mais feliz dá minha vida, e em seguida de ver todos os convidados indo embora,
papai tentando achar Timmy e mamãe tentando me consolar enquanto eu não
conseguia aceitar a dura realidade: ele não iria.
Não foi a pior vergonha dá minha vida, foi a pior dor que sofri em minha
vida.
Meu maior sonho sempre foi me casar de branco, ter minha família
presente e poder ter alguém ao meu lado que me desse um lar estável e bebês,
muitos bebês, eu sempre quis filhos, um cachorro, essas coisas, acabei jogando
meu buquê de noiva no lixo, queimando meu vestido de noiva e doando toda a
comida dá festa para alguns moradores de rua dá minha cidade.
Fiquei meses isolada em casa, reclusa, não tinha uma forma de melhorar e
sair de toda mágoa, meus pais tinham vergonha dos vizinhos, a família de Timmy
não sabia onde enfiar a cara, principalmente seus pais, pois crescemos juntos e as
duas famílias se conheciam a anos.
Depois disso saber através de outras pessoas que ele me largou por que eu
era acima do peso foi o maior golpe de todos, senti-me humilhada, ultrajada, e só
me restou partir, por que ficar ali suportando uma vida de abandono e fofocas
estava me matando.
E eu estou convicta desde que parti, que cada dia mais as pessoas nunca
irão me aceitar pelo meu tamanho e peso, já me sentia distante no meu cargo,
pois sou a única redatora—ou era—gordinha de todo o jornal, não tem muitas
garotas como eu lá, agora o chefe deixa bem claro isso, é algo que me machuca
profundamente.
Acho que preciso de um chá.
Levanto e coloco uma blusa quente, depois vou me arrastando até a
cozinha, meu nariz está avermelhado e meus olhos inchados, agora que chorei
posso enfim ficar em paz comigo mesma, já é quase 16:00 horas, o dia passou
bem rápido depois que saí do jornal.
Abro as minhas persianas e fungo enquanto coloco a chaleira no fogo.
As coisas na minha vida não têm sido fáceis, fico me lembrando do que a
Brenda falou, parece que quando estamos mal, vamos juntando tudo e ficando
ainda piores por aquilo.
Eu não sou mal-amada, eu não sou amarga, ele só me largou porque eu sou
gorda.
Simples, uma droga de uma gorda inútil.
—hei!
Dou um pulo, olho para o lado e vejo Cameron inclinado sob sua janela,
ele usa uma camisa preta e os cabelos estão bagunçados, fico por alguns
segundos fitando-o e depois desvio o olhar para baixo.
—O que foi Faith?
—Nada.
Me aproximo dá janela e puxo para dentro, passo a tranca, olho para
Cameron mais uma vez e puxo o cordão das persianas.
—Hoje não garoto rebelde—digo baixinho.—Hoje não!
—Ah, é você.
Pensei que fosse Brenda, liguei para ela mais cedo, ela não atendeu—ainda
com orgulho ferido—, mas pensei que entenderia o recado e viria para nós
conversamos, ao invés disso, Cameron Adolescente Rebelde está diante de mim,
ele segura sacolas plásticas que cheiram a gordura.
—Eu comprei Mc’Ds.
—Eu não quero.
—Tem certeza?
—O que você quer garoto?
—Você não parece bem.
Suspiro.
—Olha, vai para o seu apartamento ouvir rock tá bem? Me deixa em paz!
Cameron me encara tão sério que fico até meio sem graça.
—Para sua informação eu tenho 25 anos, obrigado, e a segunda coisa que
você precisa saber sobre mim é que eu não ouço rock.
—Mentir é feio...
—Eu não estou mentindo.
Franzo a testa e não acredito.
—Posso te mostrar meus documentos.
—Não... Obrigada.
—Faith você não está bem.
—Você não tem nada a ver com isso moleque.
—Eu não sou um moleque!
Agora ele se irritou.
Fico calada vendo-o entrar no meu apartamento como se fosse algo bem
comum, me chateio, mas prefiro não discutir, estou péssima mesmo. Ele vai para
sala e Beans vai todo falso se enroscando nos pés dele.
—Gosta de gatos—ele comenta e se senta no sofá.—Meu cachorro morreu
quando eu tinha seis anos.
Será que todo mundo que está perto de você morre?
—Eu só tenho o Beans—fecho a porta.—Por que está fazendo isto?
—Estava com fome, pensei em vir aqui e comer com você.
E eu chorando por conta dá minha gordura sem fim, vem alguém e quer me
alimentar.
Que ironia.
—Eu não gosto de ter amigos.
—Eu tinha uma amiga.
—O que houve?
—É difícil explicar.
E é muito mais difícil compreender por que eu e Brenda brigamos tanto
por conta do Bob, eu não sei por que eu não me conformo que o fim dos dias dela
serão correndo atrás dele sem amor próprio num mar de depressão, claro, não sou
a rainha dá autoestima nem do amor própri,o mas eu não me sujeito a algo assim
pelo amor de ninguém, não mesmo.
Me aproximo dos meus sofás e me sento no sofá de frente para ele,
Cameron puxa o centro e coloca as sacolas lá, ele parece ser muito prático, deve
ser, apesar de ser fechado ele é bem desses que não fazem cerimônia para agir.
Não sinto fome, tomei meu chá mais cedo e voltei para cama, já anoiteceu,
nem havia pensado em comer qualquer coisa que fosse, eu só quero ficar quieta e
tentar analisar todas as chances dessa dor maldita passar.
—O namorado rompeu com você?
—Tem certeza que quer a minha companhia? Eu não estou bem.
—E o que foi?
—Engraçado que você vem aqui me faz perguntas, é super rude e me deixa
falando sozinha e eu não sei nada ao seu respeito.
—Sabe o que deve saber, eu não sou um grande mistério, já terminei a
faculdade e atualmente vivo uma vida de merda num apartamento herdado por
uma avó que nunca quis saber de mim.
Poxa.
Tento me recompor, Cameron está abrindo as sacolas, ele me estende uma
caixinha com fritas e a outra com o sanduíche, aceito ainda que não esteja com
fome.
—Odeio essa cidade.
—Não é daqui?
—Não, eu morava na Espanha.
—Sério?
—Aham, eu prefiro a Europa, é mais limpo.
Acho que posso acreditar em algumas coisas que Cameron fala, ele não
parece mentir nesse momento, mas sobre a idade não acredito, 25? Ele tem cara
de 17!
—Você é engraçada Faith, sempre que acorda de manhã fica olhando para
geladeira um tempão.
Fico sem graça.
—Espião.
—Você quem deixa as persianas abertas.
Não sabia que ele ainda lembrava dá minha existência, a semana foi bem
corrida e a minha rotina não incluiu pensar no neto dá falecida vizinha.
—Vou deixar fechadas de hoje em diante.
Cameron dá de ombros e morde seu sanduíche.
Ele indica os dois copos de refrigerantes, suspiro e deixo meu sanduíche de
lado e como uma batata, tem gosto de nada, acho que chorei tanto que isso afetou
meu olfato e paladar, mas também talvez seja por que estou totalmente sem
vontade de comer.
—Então, dizia... Sua ex-amiga.
—Ela tem um namorado e tal é uma estória complicada.
—Você não gosta dele?
—Ninguém gosta dele.
—Ele é um cara legal.
—Bem isso, mas com ela, ele é um ogro.
Suspiro, Cameron me analisa em silêncio, isso é constrangedor.
—O que foi?
—Nada.
—Ah.
—Come o sanduíche Faith, comprei para você.
—Obrigada, mas estou sem fome.
—Por quê?
Suspiro, que diferença vai fazer se eu contar ou não para esse adolescente
sobre tudo o que aconteceu hoje?
—Eu me demiti dá empresa onde eu trabalho.
—Sério?
—Sim.
Não sei por que surpresa.
—Por quê?
—porque o novo redator chefe me chamou de gorda e quer me mudar de
setor.
Cameron olha para o sanduíche e vai parando de mastigar rápido, logo em
seguida ele levanta.
—Onde você trabalha?
—Num jornal.
—Que jornal?
—The Jornal e lá...
—Tá bem, tchau.
E vai se afastando assim como se isso fosse à coisa mais natural do mundo,
mais uma vez me vejo sozinha e Cameron indo embora me deixando no vácuo.
—Obrigada—digo depois que ele sai pela porta dá sala, como uma batata.
—Pelo lanche.
Não tenho medo do que as pessoas pensam de mim, mas é estranho entrar
na empresa e perceber de repente que todos me olham e cochicham, tenho certeza
que até o porteiro sabe alguma coisa sobre o meu pedido de demissão.
Só vim buscar as minhas coisas, porque para coluna de culinária é que eu
não vou, eu até sei cozinhar, mas francamente, para ser colunista em algo assim a
pessoa tem que ser muito bom, tem que conhecer e dominar os assuntos, e de
comida, bem, digamos que eu e ela temos sérios problemas nos últimos anos, ou
desde que eu completei dez anos e comecei a crescer e crescer, não só de
tamanho mas também de largura.
Sinto-me mal em ter que sair do jornal sob essas circunstâncias, mas é o
que vai ser, eu só sei falar sobre assuntos relacionados a mulheres, apenas isso,
TPM, amor, relacionamentos, opiniões, tudo isso eu sei, agora sobre pratos
refinados, se quer imagino como seja o preparo.
Acho que a Brenda voltou com o traste, ela me mandou uma mensagem
com corações no final desejando um discreto bom dia, aqueles emojis com
olhinhos de coração e corações coloridos claramente dizem: Transei ontem. E eu
até imagino que ela possivelmente me visitará dando pulos de alegria.
Não me importo também, espero que ele termine com ela mais dez vezes, e
que ela sofra mais onze vezes para aprender, parece que não aprende, e duvido
que aprenda através do amor, Brenda é igual àquelas mulheres que apanham do
marido todo dia, mas que se alguém entrar no meio, ela bate é na pessoa e não no
marido.
Estou impaciente, cheia.
Que me chamem de mal-amada hoje, por que hoje eu estou péssima, tive
que pedir demissão do meu emprego, logo terei que procurar outro, tenho contas
a pagar e mais contas chegando, não consigo fingir que estou bem depois de
ontem, ser chamada de gorda pelo meu chefe me deixou depressiva e apática.
Eu sei que sou gorda, mas não preciso de ninguém falando isso para mim
nesse e em nenhum outro momento dá minha vida.
Vou procurar um bom advogado, Blade vai me pagar por ter me chamado
de gorda, aquele superficial filho de uma...
—Hei Faith.
Dou um pulo, Jessie se aproxima dá minha mesa, não havia visto ela
depois que cheguei no jornal, ela me dá um sorriso gentil, suspiro.
—Tudo bem?
—Sim Jessie, só vim buscar as minhas coisas.
—Ah, então é verdade? Você se demitiu?
—É.
Estou colocando as minhas coisinhas numa caixa, Jessie faz cara de choro,
bem, não trabalhamos tanto tempo assim juntas, mas sei que estamos
acostumadas uma com a outra, me estico abrindo os braços e Jessie me abraça
emocionada.
—Blade pediu que assim que chegasse fosse a sala dele.
—Eu não tenho o que conversar com ele.
—Talvez seja algo importante.
—Nada vindo daquele idiota é importante.
Pego mais algumas coisas e me despeço de Jessie, saio dá minha antiga
sala levando minha caixinha com objetos pessoais e uns porta-retratos que eu
tenho dá minha família, ok, vivem na desunião e na briga, mas meus pais são
bons pais dentro do possível.
Atravesso o departamento e está me olhando, cochichando ao meu
respeito, mas antes que eu alcance o elevador vejo a figura familiar se
aproximando ligeiramente, e quando as portas do elevador se abrem, Blade está
diante de mim com cara de quem veio correndo depressa até aqui.
—Bom dia Faith.
—Bom dia, só vim pegar as minhas coisas.
—Precisamos conversar.
—Eu não tenho nada a conversar com o senhor, o meu advogado entrará
em contato.
—Podemos ir até a minha sala?
—Não!
—Por favor, Faith preciso que venha a minha sala.
Agora ele parece nervoso.
Viro a cara e giro para esquerda, só quero ver o que esse imbecil tem a
falar e vou embora, com certeza vai insistir para que eu vá para o setor de
culinária coisa que eu não quero, Blade me segue até sua sala e entramos, ele
fecha a porta e indica a cadeira diante de sua mesa.
—Eu pedi que cancelassem sua demissão, pode ficar no seu setor.
Franzo a testa bem mais que chocada.
—Acho que não foi só por isso...
—Me desculpe Faith por ter te chamado de gorda, realmente esta não é a
minha intenção.
Meu Deus, te fizeram lavagem cerebral?
—Você pode voltar para sua sala e continuar na sua coluna feminina no
jornal, eu te darei um aumento também.
Que?
—Para compensar o fato de eu tê-la ofendido—Blade está apressado.—
Não quero um processo nas costas.
Ah, ficou com medo.
—Eu não quero mais trabalhar no The Jornal—falo apenas neutra.—Não
sirvo para trabalhar aqui.
—Foi um grande mal entendido.
—Ainda sim, não sei se quero voltar.
—eT dou esta semana de folga ok? Pense com cuidado.
Me levanto.
—Eu vou pensar.
Saio dá sala de Blade levando as minhas coisas, mal acredito no que acabei
de ouvir do meu chefe ou quase ex-chefe, mas ele que não pense que irei facilitar
assim.

—Ah, você de novo!


Nem sei por que esperei que fosse a Brenda, ela está me surpreendendo
dessa vez, ela sempre volta arrependida no dia seguinte, acho que dessa vez ela
está querendo dar um tempo no nosso relacionamento. Cameron entra no meu
apartamento com dois cafés em copos de papel, ele usa uma calça de moletom
folgada e uma camisa comprida, os cabelos estão úmidos, e o tênis, não
esqueçamos de seu all star preto que deixa ele com cara de adolescente rebelde.
—Não foi para o trabalho?
—Fui buscar as minhas coisas, mas o meu chefe me chamou para uma
conversa muito estranha.
Ele vai para o sofá, suspiro, eu nem sei por que me chateio, essa criança
solitária vem, me ouve e vai embora me deixando sozinha sempre, deixo a porta
encostada para o caso dele ir embora mais rápido, Cameron é imprevisível.
Tomei um banho a pouco, coloquei uma blusa folgada e uma calça de malha,
ainda estou até com a toalha nos cabelos, não me importo muito.
—Te trouxe café.
Para o Beans é que não vai ser.
O falso já está se esfregando nas pernas do visitante rebelde feito cobra no
cio, me sento no sofá de frente para ele e aceito o café, está quente e tem um
cheiro muito bom.
—Ele te chamou de gorda de novo?
—Não, ele me pediu desculpas e quer me dar um aumento, me pediu para
ficar, acho que está com medo de um processo ou escândalo.
—E o que decidiu?
—Você é muito interessado na minha vida.
—É, você é a minha vizinha estranha que fica olhando para geladeira.
—Eu preciso escolher a coisa mais nutritiva para comer ora—reclamo
carrancuda e bebo um pouco de café.—E você?
—Nada demais, como sempre ovos e torrada, café, ou algum chá quente—
Cameron me olha com atenção.—E o que você decidiu mesmo?
—O que acha que eu decidi?
—Ficar?
—E perder a chance de processar um jornal daquele tamanho?
—Talvez...
—Não defenda ele—corto de imediato.—Blade é um grande arrogante.
—Blade?—repete Cameron com deboche.—Como o vampiro?
—O próprio.
Ele sorri e fica bem mais bonito quando sorri, desvio o olhar sem
conseguir acreditar que estou achando o sorriso de um menino bonito, isso chega
a ser um tipo de pedofilia, agora além de Gorda quase desempregada sou uma
pedófila.
Que legal!
—A mãe desse cara teve depressão pós parto?—Questiona Cameron num
tom divertido.
Rio, ainda que não queira por que é engraçado.
—Sério? Que tipo de pessoa coloca um nome desses em uma criança?
Parece nome de vilão.
—Fico imaginando como seria quando ele era pequeno na hora dá
chamada na escola.—respondo e bebo um pouco mais de café.
Cameron ri, sua risada é contagiante e bonita, desvio o olhar para baixo.
—Bem legal aposto—Cameron fala e levanta.—Eu já vou Faith, tchau.
—Tchau.
Cameron sorri e se afasta levando consigo seu copo de café, não o
acompanho até a porta, bebo o café e me vejo sorrindo.
—Ao menos se despediu dessa vez.
Cameron Desapareceu por quatro dias.
Não que eu esteja preocupada nem nada, mas acho que sua ausência me
deixa um pouco mais vazia do que sou, deve ser por que ele não gosta de contato
com ninguém, ele é desses caras bem antissociais, concluí que ele também não
curte visita, a dois dias fui a seu apartamento com dois cafés e ele não abriu a
porta para mim, ouvia barulho dentro do apartamento, uns barulhos bem
suspeitos, gemidos femininos ou algo assim, mas depois de tocar duas vezes
entendi que ele não queria me receber.
Claro, fiquei um pouco decepcionada no dia, porém deixei isso de lado e
joguei o café fora, ali vi que as visitas de meu novo vizinho adolescente invasor
haviam acabado, claro, até por que alguém como Cameron na flor dá idade
jamais iria deixar de ficar com alguma namorada para vir me atender, senti-me
constrangida.
As persianas estão baixas há dois dias, percebi no segundo dia após eu
desaparecimento—e logo após chegar de seu apartamento e ter ouvido aqueles
gemidos—que não queria que Cameron ficasse me espiando, e nem quero.
Aproveitei esses dias para pensar, colocar meu apartamento em ordem e
pensar no que fazer em relação ao Jornal, ainda não decidi, não sinto-me
preocupada em relação a nada, telefonei para alguns escritórios de advocacia e
marquei com três, tenho horários alternados amanhã para falar sobre o caso com
três advogados bons dá cidade.
Não tenho medo de processar o jornal e nem de Blade, mas também fico
pensando no quanto isso pode impactar a minha vida pois se eu sair de lá e
processar o jornal eu terei muita dificuldade em achar emprego em algum outro
lugar.
Brenda me manda mensagens, ela viajou com Bob para Espanha, é, ele tem
dinheiro, eles vivem uma vida assim de ricos e famosos quando estão fazendo as
pazes, os pais de Brenda são bem de situação, o que eu acho que colabora um
pouco para o fato dela ser mimada, Bob é empresário então ele vive muito bem,
como ela não trabalha—sim, ela não trabalha aos 27 anos—ele basicamente a
mantém junto com os pais dela, Brenda é formada em artes mas não exerce, e
raramente quando faz alguma exposição ela consegue vender suas obras como
água, tem pais influentes na cidade, o único problema dela talvez seja isso, ela é
mimada, os pais alimentam isso nela e não a deixam se virar, então ela é bem
dependente tanto deles quanto de Bob.
Além dá dependência emocional sem limites é claro.
Passei à tarde de hoje dormindo, andei um pouco deprimida por esses dias,
claro, as ofensas do meu chefe abriram as feridas e expuseram de uma forma
dolorosa tudo o que eu sempre senti em relação a mim mesma, os medos, o jeito
como me olho, porque não dá para ser gorda e cem por cento feliz, ao menos eu
não.
Além de tudo fiquei me lembrando do dia do meu quase casamento e de
tudo o que passei para chegar aqui, que direito as pessoas têm de me julgar por eu
ser gordinha? Elas passam pelo o que eu passei? Elas vivem o que eu vivi? Se
elas soubessem que eu não como em excesso ainda sim arrumariam motivos para
me julgar e me criticar.
Porque ser gordo não é bonito, ser gordo não é legal, ser gordo é doentio e
feio.
Tinha muito medo do meu peso há alguns anos atrás, eu estava tentando
enterrar os antigos fantasmas, claro, no Jornal tem mulheres magras e lindas, a
pressão para ser magra lá é enorme como em qualquer outro lugar ondo se
trabalha cercada de mulheres vaidosas, jornalistas, colunistas, todas por farem
parte de uma mídia mais expositora querem sempre estar "lindas", contudo nunca
me descriminaram por isso, foi a primeira vez que alguém foi tão indiscreto e
sutil ao se referir ao meu peso.
Sempre noto que algumas pessoas me olham diferente, mas ignoro, aprendi
a filtrar bastante, claro, por que eu sou mais alta e mais gorda, quem não olharia?
Eu chamo a atenção ainda que não queira, porém todos são bem discretos, se
falam do meu peso eu não sei, tão pouco do meu tamanho, contudo Blade falou e
isso só aumenta dentro de mim as incertezas sobre retornar ao jornal e encontrar
um ambiente no qual possa me adoecer.
103 este é o meu peso, 1.80 e está é a minha altura.
Quadris largos, seios enormes, coxas compridas e grossas demais, culotes,
barriguinha caindo para fora do jeans e para fechar com chave de ouro, uma
bunda gigantesca cheia de celulites e estrias.
Comecei a ter estrias nas pernas com doze anos de idade, aos quatorze já
tinha muitas nos seios e dos lados das coxas, na barriga, claro, engordei mais
depois que tive depressão, naquela época eu tomei antidepressivos mais fortes,
então tudo para mim foi um pouco mais conturbado.
Beans se enrosca no meio das minhas pernas em meio a minha meditação,
coloquei uma musiquinha indiana e acendi uns incensos, faço isso e alongamento
para tentar relaxar um pouco, olho para ele com um olho apenas e faço uma
careta, Beans mia e sei que chegou sua hora de comer, sorrio erguendo-o e abraço
ele com carinho.
—Seu espertão.
Ele mia, sorrio e o coloco no chão, me levanto e escuto o som dá
campainha, coloco sua ração e vou abrir a porta, logo de cara me surpreendo ao
ver o desaparecido bem diante de mim, ele usa uma calça de malha folgada e uma
camisa preta de malha fina, tênis e uma touca dessas que estão na moda, segura
dois café nas mãos.
—Oi Faith? Posso entrar?
—Não!—respondo bem espontânea.
Cameron pisca meio confuso.
—Trouxe café.
—Não me diga.
—O que foi?
—Nada, só não acho legal que fique vindo aqui.
—Bem—Cameron sorri e me sinto idiota de novo sem saber porque.—
Acabei de chegar de viagem...
Ah, mentiroso.
—Olha, se você não quer ser meu amigo eu até entendo, também não curto
ter muitos amigos, mas não precisa mentir para mim.
—Mentir?—repete com uma cara de confuso.
—É, eu fui no seu apartamento a alguns dias e toquei a campainha várias
vezes, você não foi atender.
—Mas eu viajei... Acho que você foi lá no dia em que eu estava com a
Louise...
Ele vai falando o nome dela bem devagar como se chegasse a uma
conclusão, ergo o polegar em sinal afirmativo, depois aceno dando um tchau e
fecho a porta logo em seguida.
—Faith—Cameron chama do outro lado.—Não é o que você está
pensando.
E isso não é dá minha conta.
—Hei, vamos conversar melhor sobre isso ok?
—Esquece—respondo recostada a porta, sinto-me uma boba.
Foi só um café no qual eu não tomei com meu vizinho adolescente idiota, e
daí que ele estava com a namorada dele?
—Eu viajei, fiquei dois dias fora, Louise é a minha preparadora física.
—Claro, claro e eu sou a Rainha dá Inglaterra.
—Você não vai abrir?
—Não.
—Pois então eu vou tomar café aqui.
—Não se esqueça de ir embora em menos de três minutos depois que
começar a tomar o café.
—Eu não curto me envolver demais com as pessoas.
Soa meio vazio, suspiro, fico impaciente comigo mesma por tudo, eu nem
sei por que fiquei tão magoada ou coisa assim, acho que é por que eu estava
começando a acreditar que éramos uma espécie de amigos ou algo assim, sem a
Brenda por perto fico um pouco carente, ela está sempre aqui ou eu em seu
apartamento e tal, é tolice.
Giro a maçaneta e Cameron me olha de cima abaixo em silêncio,
espantado, ergo a mão mostrando o espaço para que ele entre, ele sorri e me
estende um café, aceito e deixo a porta encostada, ele vai para o meu sofá.
—Cheiro de defunto, música estranha... Tá mal hein?
—Cuida dá sua preparadora—ordeno chateada—aquele café custou cinco
dólares.
—Nossa, calma—pede ele sem graça.—Te compenso depois.
—Sei.
Não engoli essa, mesmo não sendo dá minha conta.
—E ai? Já voltou para o jornal?
—Ainda tenho mais dois dias para pensar.
Bebo um pouco do café e me sento no sofá diante do dele, Cameron me
olha um pouco sério.
—Você fechou as persianas!
—Percebeu?
—Cheguei a pouco e pensei: cadê a minha vizinha viciada em geladeiras?
Tento sorrir.
Eu sei que é uma brincadeira e não quero levar para o lado pessoal, bebo
um pouco de café e ficamos em silêncio nos olhando, uso uma calça de malha e
blusa comprida, meus cabelos estão presos num coque de qualquer jeito, me sinto
desajustada perto dele.
—Você não vai embora?—pergunto incerta.
—Quer que eu vá embora?
—Você sempre vai.
—É, é menos complicado quando eu vou embora, não gosto de ter amigos.
—Quero ser assim quando eu crescer.
—Assim... Sozinho?
—Eu já sou sozinha.
—E a amiga legal?
—Ela foi para Espanha!
—Sério?
—Com o Bob, espero que ele termine logo com ela mais uma vez para ela
voltar correndo me pedindo desculpas.
Ele ri a beça com isso, não tenho peso na consciência, nenhum pouco.
—Você é muito mal-amada.
—É legal ser mal-amada, ao menos não vivo de expectativa frustrada como
ela vive, prefere acreditar numa mentira do que na verdade.
—Infelizmente as pessoas ainda são assim, só nos resta respeitar não é
mesmo?
Poxa que maduro para alguém tão... Jovem.
—É.
—Você é muito bonita Faith.
Sorrio com a gentileza repentina.
—Tá perdoado.
Fico esperando que ele levante e vá embora a qualquer momento, porém
Cameron fica me olhando em seu silêncio infinito, me encara tanto que fico
constrangida, isso vai me deixando inquieta.
—Acho que... Essa é a hora em que você vai... Embora?
—Hoje eu quero ficar.
Que?
—Faça valer a minha presença Faith, que tal uma pizza?
—Bem eu não acho...
—Coloque um filme para vermos juntos, podemos jantar pizza depois.
Não respondo, e mal acredito no que ele acabou de falar, porém apenas
concordo e me levanto, vou até a tv, Cameron quer assistir um filme comigo e
pedir pizza, isso só pode ser algum tipo de sonho louco com o meu vizinho
adolescente.

—E então? Qual é a sua estória triste?


A curiosidade de Cameron me deixa às vezes fascinada, ele sempre quer
saber mais e mais sobre mim, mas quando se trata dele tudo o que encontro são
respostas evasivas, ele muda de assunto, ele é um poço de mistério, mas não ligo.
Estamos vendo "Uma Linda Mulher", pedi uma pizza e coloquei o
refrigerante em copos, a pouco a pizza chegou e estamos no sofá comendo e
vendo o filme que já está na metade, não sou o melhor exemplo de modernidade,
amo clássicos, não tem jeito, Cameron até agora me fez perguntas sobre o
trabalho e Brenda, algumas respondi, outras desviei o assunto, não posso sair por
ai contando a vida de todo mundo para ele, nem a minha.
—Não tenho nenhuma estória para contar.
—Você é mal-amada demais para não ter uma estória triste Faith.
—O gato morreu curioso.
Ele sorri, morde a pizza, ele parece ser tão educado para comer, diferente
de mim que não tenho o menor jeito, não faço muita cerimônia, tento não
cometer extravagâncias, mas é complicado, ser gorda para mim é um fardo bem
pesado em todos os sentidos.
Acho que vou comer só dois pedaços, é muito calórico.
—Isso significa que você me acha um gato Faith?
Reviro os olhos, hoje ele veio todo soltinho, não ligo muito, claro que ele é
lindo, mas ele não precisa saber que eu penso isso ao seu respeito, não mesmo.
—Brincadeiras a parte eu estou um pouco empolgado.
—Bom.
Vou fingir que não tenho interesse, assim ele não fica com medo de falar de
sua vida certo? Se bem, que grande mistério poderia rondar um jovem rapaz
como ele?
—Tenho um trabalho legal para fazer na Itália.
—Bom.
—Tinha pensado—Cameron bebe um pouco de seu refrigerante.—Tipo se
você não gostaria de viajar comigo, caso saia do jornal mesmo, vou para Itália em
duas semanas.
Sorrio e nego com a cabeça, que ideia mais absurda!
—E o que eu faria na Itália?
—Pode vir comigo para... Passear.
—Passear—repito nem sei por que surpresa.—Por que eu iria para Itália
com um garoto que tem idade para ser meu sobrinho?
—Faith, poderia parar com essas insinuações? Estou ficando incomodado,
se você quiser a minha amizade vai ter que me aceitar assim, eu acho que sou
mais novo que você uns dois anos.
—Tenho 28 já.
—Bem, só três anos.
Ainda não acredito, mas sei que se eu insistir ele ficará bravo.
—É que eu pareço mais novo mesmo, porém, eu não sou tão jovem.
—Entendo.
Estou constrangida mesmo assim, Cameron sorri e nega com a cabeça.
—Não acredita não é mesmo?
—Bem, não sei o que pensar, você é muito fechado.
—Aprendi a ser assim com algumas situações na minha vida—ele está
mais fechado agora.—Já sofri muito.
—Bom—digo e encolho os ombros—Eu também já sofri muito na vida.
—Aprender e superar!
Bem maduro para um adolescente rebelde de toca e all star.
—É.
—Você não sentiu a minha falta Faith?
—Você quer saber para alimentar o seu ego?
Cameron sorri, mas agora um pouco triste.
—Para sentir que alguém se importa comigo, eu não tenho família.
Não estou gostando dessa pessoalidade, pois é muito triste.
Talvez seja por isso que ele não se abre com as pessoas, por que é só e acha
que se aproximar das pessoas talvez o machuque ou coisa assim, a adolescência é
uma fase bem difícil, eu bem sei disso.
—Bem, talvez.
—Já é um começo.
—É, para uma vizinha que gosta de ficar olhando para geladeira e tal.
Mordo minha fatia de pizza, Cameron está sorrindo, às vezes quando ele
sorri os olhos dele se estreitam de forma tão única, poucas pessoas conseguem
sorrir assim, ao menos as que me lembro.
—Você não tem medo dá solidão Faith?
—É melhor estar só às vezes sabe?
—Eu sou só desde que nasci.
Coitado.
—é por isso que eu não sou de ter amigos, descobri que a minha avó havia
morrido e vim para cuidar do apartamento dela, me apegar a algumas coisas dela,
mas não consigo, ela me mandou para um internato quando eu era pequeno, na
Inglaterra.
—Sério?—incrédula bebo um pouco de refrigerante.
—Sim, eu a visitava muito quando pequeno, mas depois eu fui crescendo e
percebi que ela meio que me culpava pela morte dá minha mãe, quando eu soube
que ela morreu me senti meio estranho sabe.
—Imagino, nunca pensei que a senhora Roberts fosse montada na grana.
—Ela não era, ela gastou a minha poupança para arcar com os colégios
onde eu estive e a faculdade.
—Ah.
Cameron se ergue e retira do bolso um celular, um par de fones e uma
carteira, depois ele a vasculha e rapidamente retira de lá uma habilitação, me
estende.
—Para você não ficar fazendo essa cara de "não acredito" sempre que me
referir a minha idade.
Pego a carteira e verifico, a foto está imaculada, tem um jovem sério de
olhos castanhos chamativos e grandes nela, logo embaixo o nome completo dele,
Cameron Roberts Morgan, este é o nome dele, e logo ao lado tem a data de
nascimento 13 de Julho de 1992. Mordo a pizza novamente, Cameron pega a
habilitação dá minha mão, mastigo a força ainda sem acreditar no que acabei de
ler em seu documento.
—Sou formado em letras, me formei há três anos.
—Legal.
—E você?
—Também sou formada em letras.
E isso é uma grande coincidência.
—Não exerço, eu fiz a minha especialização em línguas, ajuda muito na
minha profissão.
A cada revelação vou ficando mais e mais completamente surpresa.
—Mesmo?—tento soar desinteressada a todo momento.—E qual é a sua
profissão?
—Eu sou modelo.
—Faith?
—Ah, legal.
Não sei nem o que falar.
Desvio o olhar para tv, Cameron se ergue e vem para o mesmo sofá que o
meu, ele se senta bem próximo a mim, fico envergonhada, mal acredito no que
ele acabou de falar, Modelo? Sério?
—Trabalho nessa área há alguns seis anos, desde que eu estava na
faculdade, dá para ganhar um dinheiro legal e tal.
—Legal, e você é modelo de que?—pigarreio tentando parecer natural.
—Faço campanhas publicitárias e trabalho em passarelas.
—Ah.
Ele desfia.
Meu Deus, meu vizinho é um modelo que desfila numa passarela.
—Bizarro?
Eu o fito e quero rir, porque parece que ele tira sarro disso, depois acabo
rindo também, Cameron pega outro pedaço de pizza e começa a comer, dou de
ombros.
—Como é a vida nas passarelas?
—Cercada de julgamentos, uma vida complexa e pessoas falsas, e no
jornal?
Isso é melhor do que ter silêncio, ainda que duvide de tudo sei que posso
confiar em Cameron, se ele está se abrindo comigo e falando a verdade é por que
quer ser meu amigo... Ou apenas colega, um vizinho em busca de alguém para
conversar talvez.
—Bem algo como julgamentos desnecessários e pressão.
—Eu também tenho que lidar com pressão sempre.
—Imagino que sim, mas aposto que deve ser legal viajar o mundo.
—Um pouco, por isso moro na Europa.
—Bom, é uma excelente oportunidade de conhecer muitos lugares né?
—Sim, já viajei o mundo em campanhas publicitárias e desfiles.
—Legal.
Bebo um vasto gole de refrigerante, é mais como engolir isso em silêncio
sem fazer algum comentário um pouco preconceituoso, eu jamais iria imaginar
que um modelo fosse meu vizinho, mas também que dei muitos julgamentos a
Cameron por não conhecê-lo tão bem quando ele se mudou, isso não foi
exatamente minha culpa, ele só não me deu abertura para pensar em relação a sua
pessoa de um jeito diferente.
—Algumas pessoas acham uma profissão bem medíocre.
Eu acho uma profissão medíocre.
—Não cabe a mim te julgar por isso—digo sincera, mesmo que soe
hipócrita.—Você sabe o que é melhor para você.
—Minha avó virou as costas para mim depois que soube, ela nunca aceitou
o fato de que eu queria ser modelo, na última vez que a liguei ela mandou eu ir
caçar um trabalho de verdade.
—A senhora Roberts era tão gentil.
—Ela não era ruim, ela apenas me odiava.
—Dá para entender, você é chato.
Ele ri mais relaxado, acho que não estou aqui para lavar roupa de ninguém,
ainda que julgue algo que é automático de todo ser humano, a impressão que
tenho é de que Cameron talvez só queira um pouco dá atenção de alguém.
—Eu sou legal, só não estou passando por uma boa fase, é difícil pensar
que não tem mais ninguém dá minha família vivo para me odiar e tal.
—Não fique assim jovem, sempre terá uma vizinha viciada em olhar para
geladeiras pela manhã.
Passo a mão no meio de suas costas, Cameron nega com a cabeça e ri, bato
com o ombro no braço dele.
—Eu deixo você ser meu amigo se me pagar um café amanhã.
—Ok.

Me viro para frente, Cameron rapidamente se inclina e me beija a


bochecha, é tão rápido que sinto um pequeno estalo queimar minha bochecha,
não respondo, ainda que sinta minhas bochechas vermelhas, tenho certeza de que
tenho um novo amigo a partir de hoje, ou mais ou menos isso.
Acordo.
Cameron está dormindo no outro sofá de costas para mim, estou um pouco
aérea, ficou muito tarde para ele ir embora, acabei pegando alguns cobertores e
trouxe para ele e outros para mim, travesseiros, depois dá pizza comemos pudim
e vimos mais filmes, estávamos vendo Os meninos Perdidos quando adormeci,
lutava contra o sono, ainda que me sentisse ligeiramente segura em tê-lo no sofá
ao lado.
O que é estranho por que não faço amigos com frequência e nem confio em
ninguém.
Mas até gosto do Cameron, ao menos uma vez desde que nos conhecemos
ele falou dele, de sua infância, de sua vida e de algumas coisas pelas quais
passou, ainda que eu saiba que não deva confiar nenhum pouco em alguém que
mal conheço, acho que posso confiar um pouquinho nele.
Fico quieta me lembrando de seu "convite" para viagem, do que ele falou
sobre os pais e a avó, analiso seus cabelos escuros mais compridos e seu corpo
estendido no meu sofá, ele talvez seja um pouco mais alto que eu, mas não muito,
os ombros são largos, ele é mais magro mesmo, mas não demais, o corpo dele é
relativamente magro, e acho que é isso o que o torna mais jovem aos olhos de
qualquer um.
Me ergo sem fazer barulho, mas de repente Cameron se vira para mim e me
olha sonolento, estou sem graça mesmo, ele sorri, Beans se aproxima e ele se
senta no sofá.
—Bom dia Faith.
—Bom dia.
Cameron deixa os cobertores de lado, Beans se esfrega em suas pernas e
ele sorri, erguendo meu gato entre os dedos, fico observando o sorriso pequeno
do meu vizinho ex-adolescente e super-modelo logo pela manhã, absoluta e
totalmente lindo.
—Ele é um bom gato.
—Beans é egoísta, não se engane.
—Não liga para ela Beans, ela é mal-amada.
—Com orgulho.
Levanto, solto meus cabelos do coque enquanto vou para cozinha, eles
caem na altura dá minha cintura, não sou muito de frescura apesar de me sentir
frequentemente envergonhada perto de Cameron, ele é jovem, bonito e uma
caixinha de surpresas, mas não deixa de ser homem, acho que estou confusa com
a forma na qual me sinto em relação a ele, por que antes ignorava Cameron por
achar que ele era jovem demais para estar na minha presença ou considerar ele—
sim, esse pensamento é totalmente atrasado—e bem, ele ainda é mais novo que
eu, mas não tanto.
—Seus cabelos são bem cumpridos.
—É, eu acho que logo que eu fizer trinta vou cortar, mas eu gosto do meu
cabelo.
—É bonito.
—Puxei mais a minha mãe, meu pai é negro e careca.
—Sério?
—Você acha que uma garota branca teria um traseiro desse tamanho?
Cameron ri, abro a geladeira e fico olhando para dentro dela e analisando o
que farei para o meu café, nem sempre tenho muito tempo, por isso costumo
acordar mais cedo para fazer meu café.
—Viu?
Olho para Cameron, ele está ao meu lado com Beans no braço.
—O que?
—É tão legal a sensação de te ver fazendo isso de perto que o meu coração
fica até disparando.
Reviro os olhos, ele ri a beça com isso, pego os ovos e a vasilha com peito
de peru e queijo, pão de forma integral, acho que é só, fecho a geladeira com o pé
e levo tudo para pedra dá cozinha.
—Você não me deu o meu beijo de bom dia Faith.
—Eu estou começando e me arrepender de ter deixado você dormir no sofá
em vez de deixá-lo dormir nos papelões do Beans.
—Acho que deveria se acostumar com a minha presença.
Ele lava as mãos neste instante, nego com a cabeça depois vou até a pia e
pego o sabão líquido, fico ao seu lado enquanto lavo as minhas mãos, Cameron
segura as minhas mãos e me olha bem sério agora.
—Você não vai ficar me evitando né?
—Por que faria isso?
Cameron se inclina e me dá um selinho, o beijo é quente e breve, pisco
indo um pouco para traz, mas depois fico olhando para ele com os olhos
arregalados.
—Porque eu quero muito ficar com você Faith.
Que?
—Hei, calma, não fica me olhando com essa cara de apavorada.
—Você está mesmo bem?—pergunto nervosa.—Não faz mais isso está
bem?
—Eu quero ficar com você.
—Você enlouqueceu.
—Sabia que diria isso, você não me leva a sério.
—Claro, você é um estranho, mal nos conhecemos, acho que está abusando
dá minha hospitalidade.
—Eu não tenho paciência nem frescura, eu quero ficar com você.
—Ficar?
—É, ficar, você nunca ficou com ninguém.
—O que é isso? Algum tipo de nome para desequilibrados mentais terem
algum tipo de caso?
—Eu não sou desequilibrado, como você é ignorante.
Ele ficou ofendido, mas a levar em consideração que acabou de me beijar
como queria que eu reagisse?
—Olha, acho que você está confundindo as coisas.
—Eu não estou confundindo nada, você quem é extremamente
ultrapassada, parece que nem sabe perceber quando um cara está afim de você.
Rio contrariada e me afasto.
—E você é um "cara" que está "afim" de mim.
—Não pode Faith?
—Não!
Estou berrando de tão nervosa, me tremo com o rumo dá conversa, saio dá
cozinha pisando forte, seco as minhas mãos na minha blusa e vou para o rumo dá
porta dá sala, coloco a mão na maçaneta e Cameron coloca a mão em cima dá
minha.
—Por favor, não faz isso Faith, eu estou muito nervoso, desculpe.
—Acho que você está confundindo tudo.
—Me interesso por você.
—Você está confuso, melhor ir para o seu apartamento e pensar sobre essa
loucura.
—Por que é loucura?
Não respondo.
Cameron dá um passo rápido e me beija a boca com força, me assusto, mas
não me movo, meu coração fica pulando absurdamente, sua língua se enfia na
minha boca e arfo tentando repelir as sensações, ele me puxa para seu corpo e
explora a minha boca com intensidade, respiro com dificuldade quando ele se
afasta.
—Você quer ficar comigo?
Estou tonta.
—Melhor você ir—digo tentando respirar, me afasto.—Depois nos falamos
está bem?
Seu olhar se torna triste, Cameron faz que sim com a cabeça e sai do meu
apartamento ligeiramente, tranco a porta logo que ele sai, me encosto na porta e
toco os meus lábios, arfante e inquieta.
—O que foi isso?
Depois que pergunto quase num fio de voz tenho a resposta, apenas para
mim:
Cameron Roberts.

—Faith... Abre a porta!


Ele não desiste.
Já é a terceira vez hoje, qual será o problema de Cameron? Será que ele
não entendeu que eu não quero nada com ele? Ainda ontem expulsei ele daqui,
sentia-me culpada e estranha depois daquele beijo, e tirei o resto do dia para me
assombrar com as lembranças do beijo de Cameron, ainda que eu não quisesse,
fiquei muito nervosa logo de manhã, com o decorrer do dia tentei me ocupar
enquanto organizava a casa, contudo só me vinha a mente a tentativa frustrada de
Cameron tentar alguma coisa comigo.
Não me senti ofendida, mas sim culpada, e nem sei por que, chego à
conclusão de que talvez seja pela idade dele, sua aparência, beijar ele foi tão...
estranho! Há anos não beijo ninguém, muitos anos, tantos que nem sei mais como
se faz, porém isso não vem ao caso.
Escutei os chamados de Cameron hoje cedo e ignorei, logo um pouco
depois disso ele estava novamente chamando, tocando a campainha de novo e
batendo na porta, esta é a terceira vez em menos de três horas que ele vem, a
vontade que tenho é de avisar para o porteiro para que não deixe ele entrar, e me
arrependo de ter permitido que ele entrasse dentro do meu apartamento.
Isso não pode ser, será que ele não entende? O que passa pela cabeça
dele? Ele quer algo impossível!
Mas pelo visto não vai desistir.
—Faith abre a porta, por favor.
Não dou resposta, penso em ligar na portaria, mas desisto logo em seguida,
eu sempre fui de resolver todos os problemas que tive na vida, e não faço ideia do
"porquê" de eu não conseguir encará-lo de frente, mesmo constrangida sei que
sou capaz de estabelecer limites quando quero.
O problema não é esse, o problema é que o beijo dele mexeu comigo, e não
consigo parar de pensar nisso, de me sentir culpada por que de alguma forma esse
rapaz se sentiu no direito de fazer aquilo de um jeito verdadeiro e espontâneo, e
tenho muito medo disso.
—Faith, por favor, vamos conversar.
Respiro fundo.
Estou evitando, mas vejo logo que não vai adiantar, me aproximo dá porta
mais que decidida, e dá vontade de sair correndo quando abro a tranca, minhas
mãos tremem e soam, e estou superestressada com tudo isso, no entanto sei que
se adiar só vou piorar tudo.
Abro a porta e diante de mim tem um jovem rapaz que me fita, olhos seus
olhos castanhos parecem mais claros, ele usa o mesmo jeans de ontem e um
moletom cinza, um tênis vermelho meio velho e boné, Cameron Roberts Evans
me encara bastante sério, meus braços parecem gelatinas, e o meu coração fica
disparando rapidamente.
—Posso entrar?—questiona e percebo sua irritação.
—Não—cruzo os braços.—Fala o que quer e vai embora.
—Você sabe o que eu quero—Cameron diz secamente.—Vai ficar fingindo
que nada aconteceu?
—Não—repito nervosa.—E eu já disse que não quero "ficar" com você.
—Posso ao menos saber por que?—pergunta em seu tom absolutamente
irritado.
—Eu não posso não querer ficar com as pessoas...
—É por conta dá minha idade, eu sei que você tem medo...
—Cameron eu mal te conheço—berro irritada.—Pelo amor de Deus, para
com isso!
—Acho que podemos nos conhecer—responde também nervoso.—Eu
quero ficar com você.
—Acontece que eu não "fico" com ninguém Cameron—retruco.—Você
pode ir caçar diversão com alguma garota dá sua idade porque eu não sou...
—Espera—fala me interrompendo.—Você acha que eu te quero por
diversão? Eu sou homem!
Odeio olhar para ele e vê-lo falando isso assim com tanta autoridade, me
acostumei a pensar nele como alguém bem jovem, depois como meu vizinho
solitário, é estranho olhar para ele de forma diferente, pois construí uma
impressão a respeito dele que se fixou em minha mente.
Um Preconceito.
—Entende isso Faith, eu não sou um moleque, se você aceitar ficar comigo
podemos ter algo mais sério.
—Que ideia mais absurda—reclamo chateada.—Será que você não
entende? Eu-não-quero-nada-com-você!
—Não ligo.—fala e dá de ombros, e assim do nada vem na minha direção.
Recuo, mas Cameron se antecipa e entra no meu apartamento, ele fecha a
porta logo em seguida, fica bem próximo de mim me olhando como se estivesse
muito decepcionado comigo, me sinto mal com seu olhar por que sinto que de
alguma forma minha rejeição o machuca, mesmo que seja cedo para tirar tais
conclusões.
—Vou pedir algo para nós comermos juntos—Cameron determina com
firmeza.—Eu posso ao menos ficar aqui com você?
—Como você é dramático—me afasto mas me sinto mal em ter que tratá-lo
assim.
É preciso.
Eu não vou me magoar de novo, prometi para mim mesma que nunca mais
permitiria que ninguém me ferisse de nenhuma forma, não quero me machucar
por conta de um rapaz que possivelmente está se equivocando em muitas coisas
ao meu respeito.
—Gosto de estar com você, você me faz sorrir.
Nossa.
Vou para cozinha, Beans vai se enroscando nas pernas de Cameron, ele
vem atrás de mim, nunca me disseram algo assim, no mínimo que sou amarga e
meu humor é negro como a peste, mas não que eu faço as pessoas sorrirem.
—Eu só fiquei nervoso e acabei me precipitando, acho que te assustei.
—Que bom que sabe.
—Queria muito te beijar.
—Para beijar uma mulher você tem que pedir Cameron, não se beija uma
mulher a força.
—Posso te beijar agora?
Eu o fito de soslaio, faço uma cara, ele sorri meio de lado parecendo bobo,
acho que quer aliviar a tensão entre nós dois, ele não quer brigar, bem, eu
também não, mas acho que ontem ele foi longe demais, não despertou em mim
apenas um sentimento de arrependimento, mas me deixou confusa.
—Não sou bom nessas horas—Cameron ergue Beans no colo.—Tive uma
namorada por alguns meses, mas não rolou, ela queria coisas que eu não poderia
oferecer.
—Casamento?—decido não brigar.
—Na verdade eu quem queria casar, ela queria aproveitar as passarelas—
argumenta fazendo carinho na cabeça de Beans.—E você?
—Ninguém em especial—coloco café em duas canecas e indico uma delas
para ele.—Você comeu alguma coisa ontem?
—Não, nem consegui dormir.
—Nem eu.
Só ficava pensando no beijo, parecia que sentia seus lábios nos meus, não
comi direito e a cama ontem parecia dura feito uma tábua, não dormi nenhum
pouco bem.
—Você não deveria ter me beijado.
—Queria muito te beijar desde que eu te conheci.
—E você fala assim na minha cara?
Estou boquiaberta.
—Qual é o seu problema?
—Bem Faith, eu estou sendo sincero, eu já disse que não sou de meias
palavras, quando quero algo eu sou bem transparente.
—Já deu para ver.
—Sério que você não percebeu que eu estou interessado em você?
Nem me passou pela cabeça.
Pego a minha caneca e vou para sala, me sento no sofá e ligo a tv, Cameron
se senta ao meu lado com Beans no colo, ele trouxe consigo a outra caneca de
café, eu o encaro um tanto irritada.
—Ai vai ficar em cima de mim agora?
—Bem, eu ainda não estou em cima de você Faith, gosto de estar perto de
você.
—A parte que não se encaixa está ai, você mal me conhece.
—Ninguém nunca conhece ninguém profundamente, você pode viver anos
e anos com alguém e ainda sim não saberá quem é a pessoa de fato.
—Que profundo.
—Para de fingir que não gosta de mim Faith, eu sei que você gosta, você
só está sendo orgulhosa.
—Não é orgulho.
—Então o que é?
Medo.
—Nada.
Cameron se inclina e fico vendo-o me dar um selinho, não tenho reação
quando ele se aproxima demais, fico dura, sua boca é quente e apenas rápida, o
beijinho faz um estalo.
—Estamos ficando Faith.
Me viro para frente e não lhe dou ouvidos, amanhã eu não vou abrir a porta
para ele, não importa o que ele faça ou fale, eu não vou ceder nem ser mais um
capricho em suas mãos.
Não mesmo.
—Gostou dá comida?
—Aham.
Cameron pediu comida chinesa, confesso que não sou muito fã, mas esta
comida estava uma delícia, não sei se também pela fome, não consegui comer
nada ontem, nem hoje.
—Você ainda está chateada Faith?
—Bem, não tanto.
Acho que me assustei muito ontem, ele de fato me pegou de surpresa, foi
algo bem de repente.
—Não precisa fica magoada comigo, acima de tudo estamos começando a
nos conhecer, eu sou meio desajeitado às vezes.
—É irônico que eu queira rir disso? Você é modelo!
—Ser modelo é o meu trabalho, eu não trago isso para o lado pessoal, eu
sou muito introspectivo.
—Não posso entender como alguém que vive na frente de uma porção de
gente consegue ser isolado, é tipo isso?
—Mais ou menos, sou muito na minha.
—Sou muito solitária.
Reconheço isso porque é a verdade, eu amo estar só, apesar de sentir um
pouco dá falta dos meus pais eu aprecio bastante o silêncio do meu lar quando
estou em casa.
—Eu também, mas acho que você ainda tem sua família não é verdade?
—Mais ou menos, me afastei bastante dos meus pais quando vim para cá.
Odiava me sentir um tipo de vergonha para os meus pais.
—Entendo.
Ele estende a mão e cobre a mim, analiso a mão magra e grande dele, é
branca, tem dedos mais longos, unhas perfeitinhas, palmas avermelhadas e a mão
é lisa e fina, acho que até mais que a minha.
—Eu posso te beijar?
Reviro os olhos, Cameron segura meu queixo e o ergue forçando-me a fitá-
lo, nossos olhos estão fixos um no outro, ele tem olhos castanhos mais claros e
vivos, diferentes dos meus que são escuros que chamam pouca atenção, tenho
olhos grandes, e cílios longos.
—Posso?
—Cameron, isso é errado.
—Por que é errado que eu goste de você Faith? Quero muito ficar com
você.
—Acho que está se equivocando.
—Não estou.
Suspiro, seguro sua mão com a minha e Cameron se inclina, não me afasto,
e recebo seu beijo, faz um bocado de ano que não sei bem o que é isso, imagino
que tenha ficado louca quando sua boca se move com a minha num beijo lento e
gostoso, sinto como se estivesse cometendo um tipo de pecado estranho e forte,
pois há anos não sei o que é beijar um homem, tão pouco alguém tão... Jovem.
Cameron toca as minhas faces enquanto explora a minha boca, meu
estômago se esquenta e a língua dele busca a minha boca com mais urgência, me
arrepio dos pés a cabeça e me afasto sem ar, seus olhos me fitam surpresos e sua
boca está vermelha como a minha, úmida pelo beijo, me sinto envergonhada.
Ele toca a minha face com o polegar enquanto seus dedos se enfiam nos
meus cabelos atrás dá orelha, respira também mais rápido, tão desejoso, seus
olhos me analisam e me dá mais um selinho, depois ele sorri, devagar, e meu
coração se acelera mais com isso.
—Viu? Não te arrancou pedaço algum.
Faço que sim e me ergo, começo a recolher as caixinhas vazias e as
sacolas, os guardanapos, Cameron começa a me ajudar, ele fica me olhando e
minhas bochechas ficam quentes. Vamos para cozinha e jogamos tudo no lixo em
silêncio, vou para pia dá cozinha e ele me segura a mão depois me puxa, estou
tão sem reação que novamente o sentimento de inutilidade se apossa de mim, mas
quando nossas bocas se encontram eu o correspondo em silêncio novamente,
beijá-lo é muito bom, beijar um homem depois de tanto tempo é ótimo, não sei,
tenho certeza que enlouqueci.
Cameron toca a minha cintura e suas mãos sobem pelas minhas costas
tocando-as com necessidade, minhas mãos apertam seus ombros e nossas línguas
se tocam rapidamente, busco a dele e ele a minha língua.
—Sua boca é tão gostosa Faith.
A sua também.
—Obrigada.
—Você beija superbem.
Coro, ele ri e se afasta um pouco, o sorriso lindo nos lábios cor de carmim
dele.
—Não vai me mandar ir embora certo?
—Estou muito tentada.
—Vamos ficar bem, ver tv e ficarmos juntos tudo bem?
—Cameron...
—Deixa as coisas acontecerem está bem?
—Tenho outra escolha?
—Nenhuma.
Cameron se inclina e não hesita quando me beija, droga.
Cameron segura minha mão enquanto me beija, faz tanto tempo que não
me permito beijar ninguém, ter algum tipo de contato com alguém, apenas os
beijos dele me enchem de sensações boas pelo corpo, há tanto tempo não deixo
que alguém me toque, que me beije, há tanto tempo não me sinto bem ao lado de
alguém, é algo muito repentino e bom, mesmo que eu saiba que não possa, não
deva e não tenha que ficar com Cameron.
Enquanto o meu bom senso falar: afaste-se. O lado inconsequente que eu
nunca tive grita: beija ele!
Pareço uma adolescente louca enquanto nos beijamos, ele toca a minha
mão e sua mão sobe pelo meu pulso, toca o meu braço, e sua mão sobe pelo meu
braço até o meu ombro, ele tem mãos suaves e lisas, diria quase delicadas, seu
toque me causa arrepios bons, enquanto sua boca me provoca com lentidão. Sua
outra mão toca meu pescoço com cuidado e se enfia na minha nuca fazendo uma
pequena massagem no meu couro cabeludo deixando-os ouriçados.
Cameron deixa os meus lábios e toca a minha bochecha com as costas das
mãos, com tanto carinho que me sinto enternecida, é inevitável olhar para ele e
não me sentir estranha, pois ele parece tão mais jovem do que eu, também é rapaz
muito bonito, sua beleza é diferente de tudo o que já vi, é complicado dizer para
eu mesma que ele não é um adolescente, que ele é três anos mais novo que eu.
—Me deixa dormir aqui com você Faith?—pergunta e se afasta um pouco.
—Não.—é automático.
—Por que não?
—Porque não é... Certo.
A última palavra sai à força, Cameron me fita tão sério que tenho receio do
que ele vai falar, mas ao invés de falar ele suspira e continua a me olhar em
silêncio, abaixo à cabeça desviando o olhar, Cameron ergue o meu rosto, sinto
vontade de chorar, começo a pensar que isso tudo é um grande erro, viemos para
o sofá e começamos a nos beijar, como se eu fosse assim uma adolescente boba,
pela primeira vez sem medo das consequências de um beijo.
—Não me olha assim Faith, para com isso, somos adultos...
—Isso não pode continuar ok?
—Por que não?
—Para começar você é o meu vizinho, em segundo lugar mal nos
conhecemos...
—Vai vir com essa desculpa de novo? Eu quero te conhecer Faith, eu
quero muito ficar com você.
—Eu não quero “ficar”, eu não estou pronta para isso.
—Você gosta de namorar?
—Não namoro ninguém há anos Cameron, eu não nasci para isso.
—Por que não?
—É complicado.
As lágrimas começam a cair, sinto-me idiota, talvez ele esteja mexendo
muito mais comigo do que deveria, eu sei que está, me sinto atormentada de
pensar nisso, porque sei que não vai acabar bem, nada acaba bem para mim, eu
não nasci para ter um “final feliz”, eu nasci para ficar só, apenas número um,
aprendi com o tempo que nem sempre querer algo significa que será seu, por
mais clichê que seja ou pareça.
—Quer ser minha namorada?
Eu o fito, acho que é algo que começo a admirar nele, Cameron não tem
medo de se arriscar, coisa que não me falta, medo, ele parece ser desses que
encaram tudo de frente, que não faz mistério ou rodeios.
—Eu topo—ele fala antes que eu responda.—Acho que nós dois
combinamos bastante Faith, eu venho te ver sempre ou pode me acompanhar em
minhas viagens, o que acha?
—Você não tem noção das coisas não é mesmo?
—Olha, no momento só me sinto um merda que fica arrastando o rabo no
chão por uma mulher teimosa e orgulhosa então se isso é ser sem noção sim, eu
sou.
—Você não entendeu a minha posição quanto a isso?
—Entendi, entendi que parece que você tem medo de se entregar ao que
sente por mim, você gosta de mim Faith, eu sei que sim, você tem receio disso
atoa.
—Não é bem isso.
—Então o que é?
Suspiro, Cameron toca meus lábios com o polegar e me rouba um selinho.
—Diga Faith, o que é?
—Não é tão fácil Cameron.
—Por que não?
—Não estou pronta para falar com você sobre isso nesse momento dá
minha vida.
Cameron me analisa com cuidado.
—Tá bem—concorda ele.—, mas eu não vou me afastar de você Faith.
—Eu não posso continuar a “ficar” com você, será que não entende?
—Entendo que queira me afastar, mas eu quero ficar com você e não estou
disposto a me afastar.
O pior é ver a convicção estampada nos olhos dele e saber que Cameron
não irá partir, que ele não irá embora, mas até quando ele pretende permanecer na
minha vida? E se eu me entregar de verdade e sofrer? Pior, sair mais machucada
do que eu fiquei dá última vez?
—Não precisa ter medo Faith!
Ele é tão sincero, tão espontâneo, jovem... Alguém jovem como ele merece
uma garota jovem e com uma vida pela frente, alguém que não tem seu coração
coberto de traumas e mágoas do passado, uma moça jovem e linda como ele, não
eu.
Eu não sirvo para ninguém.
—Melhor você... ir...
—Para com isso Faith—pede ele em tom de suplica.—Você não percebe
que eu te adoro? Eu quero ficar com você, o que eu preciso fazer para que pare
com isso?
Quando olho para Cameron é como se... É como se eu visse a mim mesma
quando me apaixonei pelo cara que mais fez merda na minha vida, a pessoa que
mais amei a na qual mais me feriu em toda a minha existência, e isso machuca,
porque sei que nunca corresponderei a esse rapaz dá forma que se deve
corresponder.
Simplesmente não sou a garota certa para ele... Quer dizer, não sou mais
uma garota, eu sou uma mulher, e ele apenas um jovem rapaz que ao que vejo, se
apegou a uma mulher que nunca poderá corresponder as suas expectativas.
—acho melhor você ir—crio coragem.—Isso acaba agora Cameron, você
vai para sua casa está bem...
Mas antes que eu complete a frase, Cameron coloca a mão na minha boca,
paro de falar imediatamente, seus olhos castanhos claros me fitam e posso sentir
sua dor, uma dor que desponta coberta de mágoa, eu não gostaria que as coisas
fossem assim, mas sei, que isso não dará certo, preciso resolver essa situação, dar
um basta... Ele terá que aceitar.
—Já disse para parar—avisa com a voz sufocada.—Eu gosto de você
assim Faith, eu me sinto muito bem com o seu corpo, na verdade me sinto muito
atraído por você...
Sinto que as minhas bochechas queimam.
—Eu não me importo—ele me dá um sorriso, mas vacila—por favor,
poderia aceitar ser minha namorada?
Não!
—Eu não me importo—repete baixinho.—Eu gosto de você assim, é por
isso que você não quer ficar comigo? Eu gosto do fato de você ser gordinha, te
acho muito bonita Faith.
Sinto vontade de chorar.
Cameron tira a mão dos meus lábios e nega com a cabeça, depois se vira
para frente e enfia as mãos nos cabelos totalmente desolado, frustrado.
—Eu não quero voltar para aquele apartamento e sentir como se a minha
vida não tivesse sentido Faith, não quero mais ficar sozinho.
—Não tem que ficar com alguém só por que se sente só.
—Queria que fosse tão fácil assim, fala isso por que sempre foi rodeada
por pessoas que a amaram e gostam de você, eu sempre fui sozinho.
—Quer estar comigo para não ficar só Cameron, está confundindo tudo!
É ruim concluir isso, mesmo que tenha vontade de expulsá-lo dá minha
vida.
—Não estou—afirma convicto.—Sabe quando você olha para alguém e
pensa: Achei!
Quero rir, mais enternecida que nunca.
—Talvez já tenha se sentido assim com outras garotas dá sua idade...
—Para de falar como se fosse uma velha, Faith eu não sou uma criança, eu
sou um homem.
Olho para ele com muito cuidado.
Cameron olha para baixo e depois me fita de repente.
—Com essa cara de menino de 17?
—Faith!
Agora ele está bravo.
E o mais engraçado é que me dá vontade de dar umas apertadas nas
bochechas dele, simplesmente Cameron é jovem demais, bonito demais, ele é o
sonho de qualquer adolescente com os hormônios a flor dá pele, e não sei se esse
sonho está realmente ao meu alcance.
O que as pessoas pensariam? Ririam de mim... Bem como riram quando eu
fui abandonada no altar, me achariam ridícula por estar namorando um rapaz
fisicamente bem mais jovem e bonito que eu, não chego nem a me comparar a ele
por que somos totalmente desproporcionais.
—Você complica tudo Faith.—Cameron fala pouco amigável.
—Talvez atrapalhasse seu trabalho.—tento achar argumentos.
—Ninguém tem a ver com a minha vida pessoal, já disse que eu não
misturo a minha vida pessoal com trabalho—argumenta.—Não precisa ter medo
quanto a nada, sou bem responsável nas minhas escolhas.
—não...
—Para—fala meio alto e dou um pulo.—Deus, chega, chega dessa palavra,
eu irei ficar Faith, ficarei na sua vida por um bom tempo!
E se inclina depois me beija com força, sou pega por essa vontade louca de
beijá-lo também, eu o correspondo sentindo que meu coração se acelera todo, e o
meu estômago fica dando voltas intensas, sinto-me num parque de diversões.
Cameron explora a minha boca com intensidade e cada pelinho do meu
corpo se arrepia enquanto o beijo também com desespero, minhas mãos sobem
até seu pescoço e as dele descem até minha cintura, ele me puxa com força, vou
para frente e suas mãos se enfiam dentro dá minha blusa, seus dedos tocam meus
quadris e sinto-me quente, eu o afasto com rapidez e me levanto tentando puxar o
fôlego.
O que foi isso? Preciso me abanar.
—Você não quer?
Deus!
—Cameron—arfo nervosa.—Poxa, calma!
Tento respirar, ele faz que sim com a cabeça e coça a nuca tentando
respirar fundo.
—Ok, vamos devagar, só estou um pouco... Descontrolado.
—Percebe-se.
Cameron se aproxima e não consigo me mover, suas mãos pousam em
meus quadris e ele me puxa para um abraço, sinto-me inadequada enquanto o
abraço, envergonhada até, e não sei por que.
Cameron mexe comigo, esse é o problema.
—Eu quero ficar com você Faith, muito mesmo, eu gosto tanto de você.
—Você mal me conhece.
—Não importa, o pouco que conheço já é o suficiente.
Mexe tanto que fico confusa e desnorteada.
Ele me fita, mas não me larga, me beija de leve.
—Aceita namorar comigo Faith!
Olho para baixo e arfo incerta, sei que estou ficando louca mesmo, deve
ser.
—Prometo que vou pensar.
—Pense com cuidado está bem?
—Pensarei!
Meu celular começa a vibrar em cima do sofá dá sala.
Cameron se ergue, ele está vendo tv enquanto preparo o jantar, é meio
estranho ter mais alguém por perto, ao menos uma presença masculina, mas ao
mesmo tempo, prefiro que ele esteja aqui, estou um mar de confusão depois que
ele me pediu em namoro.
Ainda que não seja uma possibilidade para mim, nada além de uma
hipótese, estou tão... Indecisa.
Preferi deixar isso de lado, dei a desculpa de que tinha que fazer o jantar e
deixei ele vendo tv, Cameron está me dando umas olhadas estranhas desde então,
mas estou na minha, ou tento estar.
Me aproximo mas ele se antecipa e pega o meu celular, olha para o visor e
depois se aproxima.
—Brenda.
—Ah, pode deixar ai então.
Sabia que ela iria aparecer em algum momento, essa falsa.
Criei apatia por Brenda também, tem umas épocas do ano que ela se
supera, e desde a última briga que tivemos eu e ela não nos falamos, ela que fique
com aquele otário, eu não irei mais aconselhá-la, tem gente que prefere se
enganar, e já passou dá hora dela aprender.
—A amiga problema?
—Essa mesma.
Cameron me analisa em silêncio depois deixa o celular sob a mesa que
serve de centro, volto para cozinha quando sinto um abraço apertado, seus braços
me envolvem e me espremem, não posso negar que me sinto feliz com isso,
mesmo que tente matar os traços de felicidade dentro de mim, ele mexe com cada
pedacinho dentro das minhas entranhas.
O mais estranho é que eu nunca me senti assim em relação a ninguém, nem
mesmo ao meu ex-noivo, Diferente de Cameron ele mexia com coisas muito mais
valiosas, meu coração, por isso não me senti pronta para voltar a me relacionar
com ninguém.
—Cameron...
—Vem ficar um pouco na sala comigo?
—Ainda não terminei de fazer o jantar.
—Poderíamos ter pedido algo para nós dois.
Assim eu não ficaria longe das suas garras, se bem que agora não estou tão
diferente disso.
—Prefiro cozinhar mesmo.
—E ficar olhando para geladeira feito zumbi.
Ele cismou com isso.
Sorrio, porque confesso que é engraçado.
Cameron me beija o pescoço e fecho os olhos, desejo me afastar, mas não
consigo, é muito difícil estar perto de alguém que pede atenção e carinho, quando
se não tem algo assim também, nem que seja apenas pela carência, também me
sinto frágil as vezes pois não sou de ferro.
—Quero te namorar um pouco mais.
—Passamos o dia todo quase fazendo isso.
—Passei o dia todo tentando me aproximar Faith, mas você não deixa.
—Não é tão fácil.
—Você só sabe dar essas desculpas sem nexo e não fala logo o por que.
Me sinto constrangida, Cameron fica diante de mim e segura as minhas
faces, não sei o que falar, como falar, devo?
—Eu não me importo com o seu passado seja ele qual for.
—Cameron nem sempre podemos ter o que queremos.
—Eu sei disso mais que qualquer pessoa Faith, eu nunca tive uma vida na
qual quis, mas aprendi a entender isso, e se hoje eu cheguei aqui foi por causa das
decisões que as pessoas tomaram para minha vida, bom ou ruim eu aprendi
muitas coisas, ainda que não as quisesse.
Meu Deus, que profundo.
—Você está sendo muito preconceituosa ao me julgar pela minha
aparência, eu não sou um garoto fútil e vazio como você pensa, eu cresci sozinho
e tenho bastante experiência de vida.
—Eu não quis dizer isso.
Ainda que pense exatamente assim, o que me deixa mais envergonhada.
—Eu posso te mostrar quem eu sou se você me permitir.
—Mas até alguns dias atrás você vivia fugindo de mim.
—Eu sou meio... Problemático quanto a me relacionar, não te disse que sou
meio introvertido? Me senti meio inseguro de me aproximar de você.
Não consigo entender.
—Mas não consigo ficar muito longe Faith, essa é a verdade, eu meio que
tentei me afastar de você, porque já imaginava que você fosse se afastar de mim.
—Sério?
—Sim, bem sério.
—Sem ao menos me conhecer?
—Você mora só e tem um gato!
Sua sinceridade me contraria, mas me faz sorrir.
—O Beans está ouvindo isso.
—Eu sei, é que você parece tão ou mais solitária que eu.
—Você ainda não me conhece nem a metade.
—Pretendo conhecer.
Reviro os olhos.
—Talvez não sobreviva.
—Quero pagar o preço.
—Muito clichê.
—Eu posso ser o que eu quiser Faith, shiuu.
Rio, e ele se aproveita disso, me beija, não recuo, porque cada vez parece
mais impossível me afastar, acho que é...
Cameron me serve mais um copo de suco, mastigo minha salada vendo-o
mastigar o brócolis cozido, fiz legumes cozidos com batata recheada com frango
no forno, demorou um pouco, enquanto esperávamos ele me arrastou para sala e
ficamos vendo tv juntos, meio que estava aérea, Cameron é muito carinhoso,
ficamos sentados no sofá, sua mão segurando a minha e seu braço envolta de
mim, senti-me protegida e bem, na verdade me sinto assim perto dele.
—Então, o que fizeram com você Faith?
Eu o encaro sem graça, não estou pronta para falar disso com ele, nunca
estive pronta para falar sobre isso com ninguém além dá Brenda, mesmo que eu
tenha feito questão em cada um desses anos de me afastar de cada pessoa que
tentou se aproximar de mim em todos os sentidos.
Principalmente no jornal, mais pessoas como amigos que eu mantive
distância, não consigo confiar tanto nas pessoas quanto queria depois de tudo o
que houve com o meu noivado, ou melhor, quase casamento.
—Precisa que alguém tenha feito algo?
Ele sorri, de uma forma provocativa e tímida.
—Todos somos motivados por algo, eu sei que algum idiota te feriu.
Nossa.
Quanta maturidade para alguém tão... Jovem.
Quanto mais conheço Cameron mais quebro a minha cara, ele é jovem,
mas de ingênuo e bobo não tem nada, pelo visto fala bem sério quando se refere
ao fato de ser mais maduro em alguns sentidos.
—Se não for por conta de outro cara provavelmente é por conta de um
trauma de infância.
—E se não for por nenhum desses motivos?
—Você é mal-amada.
Rio, ele fatia sua batata muito calmamente, acho que é bem isso mesmo
apesar de todos os pesares.
—Sabe aquele tipo de garota que não é legal nem cheia de amigas?
—Isso não é motivo para ser mal-amada.
—Se recusar a namorar com seu vizinho mais novo e super-modelo
significa ser mal-amada Cameron?
—Tipo isso.
Quem fala “tipo” nos dias de hoje?
—O problema das pessoas Cameron talvez seja esse—digo tentando
mudar o rumo do assunto.—Elas tentam encontrar respostas para tudo.
—É necessário, é dá natureza do ser humano Faith, sem respostas não tem
como ser feliz.
—É, de fato.
Tenho que concordar.
—Acho que você está querendo dizer é: o problema das pessoas é que elas
tentam encontrar nas outras a felicidade é isso?
Exatamente.
Ele parece tão sério agora.
—É uma pena que tenhamos que nos decepcionar com as outras para
perceber que a felicidade é um caminho a ser encontrado sozinho.
Começo a gostar de conversar com Cameron sobre esse assunto, de fato ele
me surpreende a cada segundo.
—Foi assim com a sua ex-namorada?
—Digamos que tínhamos objetivos de vida diferentes.
—Então não foi pela ausência de amor que terminaram?
—Não há amor que resista a distância Faith, principalmente se essa pessoa
não tem os meus objetivos de vida.
—E quais os seus objetivos de vida?
—Me casar, ter filhos, fazer uma pós em filosofia.
Fico boquiaberta.
Ele fatia mais um pedaço de batata e leva a boca muito tranquilamente,
acho que ouvi errado só pode.
—Sério? Eu adoro filosofia!
Ele sorri e limpa os cantinhos dá boca, é muito difícil ver alguém sendo
sexy enquanto sorri assim, mas ao mesmo tempo muito espontâneo.
—Você é engraçada.
—É sério.
—Quanto aos filhos e marido...
—Bem, eu acho que não nasci para casar—confesso.—, mas continue a
difamar sua ex, por que ela não tinha os mesmos planos?
—Ela quer ser modelo e depois investir nos projetos que ela tem na África,
ela é filantropa.
Poxa vida.
—E isso não é bom?—estou admirada confesso.
Cameron namorou uma modelo que gosta de ajudar as pessoas e se
separou dela por conta disso!
—Sim, muito bom, e me pareceu egoísta pedir para ficar na vida dela,
terminamos há alguns meses, mas somos amigos, ela e eu mantemos contato, no
momento ela está na Grécia em um desfile.
—Ela é legal?
—Sim, muito, mas não era para ser.
—Terminaram se amando então.
—Eu acho que não havia tanto amor, porque se fosse assim teríamos nos
esforçado mais, foi mais para “não é o momento certo para ficarmos juntos”, e
cada um seguiu sua vida.
—Deve ser difícil Cameron.
—E o seu ex?
Suspiro, analiso as possibilidades, ele poderia usar isso para me ferir?
Afinal de contas, já passou, não me parece tão justo ou errado não contar para ele
sobre tudo o que houve, ainda que doa, e eu saiba que irei me arrepender pelo
resto dá vida por conta disso, Cameron merece saber a verdade, nem que como
amigo.
—Eu já fui noiva mas não deu certo—falo sincera.—Ele me deixou.
—Por...
—No dia do nosso casamento, ele me deixou no altar.
Cameron para de mastigar e fica me olhando fixamente, meu coração fica
disparando, odiaria que ele me olhasse com pena, mas ele só está surpreso demais
com tudo. Ficamos calados nos fitando, meu corpo todo fica duro na cadeira e
leva pelo ou menos uns minutos até eu conseguir me mover de novo, olho para o
meu prato e sinto minhas bochechas muito quentes, percebo que não é pela
vergonha em si e sim por algumas lágrimas, pois ele é a primeira pessoa em anos
na qual consigo falar sobre isso exceto por Brenda.
—Faith...
—Eu estou bem, apenas... Apenas aconteceu.
—Não pensei que fosse algo assim.
—Ninguém imagina...
—Sim, de fato, o que esse cara fez foi uma covardia.
Cameron, ao contrário do que eu pensei, não sente pena de mim, ele parece
muito mais que preocupado.
—Então é por isso que tem medo de namorar comigo Faith?
—Não exatamente, não tem somente a ver com isso.
—Você não precisa ter medo.
Faço que sim com a cabeça e seco as minhas faces, tento sorrir, Cameron
se ergue, e me sinto sufocada com a ideia dele ir embora por conta disso, então
ele pega seu prato e dá a volta na minha pequena mesa, se senta ao meu lado e
me dá um beijinho leve na bochecha.
—Tudo bem—fala ele calmamente.—Existem muitos idiotas na face dá
terra Faith.
—É verdade—sorrio cativada.—Muitos mesmo.
E volto a comer.
Não falamos mais, prefiro assim, ainda não estou tão pronta quanto pensei.
—Vem dormir comigo?
—Cameron!
Estou vermelha.
Ele sorri enquanto seca a louça, não pedi, de uma forma simples ele pegou
o pano de pratos e começou a secar a louça enquanto vim lavando.
—É meio antiquado dá sua parte—Cameron reclama com um sorriso lindo
nos lábios.—Estamos namorando.
—Eu ainda não disse que aceitava—protesto enxaguando outro prato.—
Você é tão teimoso.
—Não vejo mal algum em que você e eu tenhamos uma vida sexual ativa...
—Meu Deus! Para!
Ele adora me deixar sem jeito, deve ser, minhas bochechas ficam ainda
mais vermelhas, Cameron fala as coisas como se fossem muito normais, coisa
que não estou acostumada.
—Ok—fala ele sem graça.—Então vou reformular a minha frase, Faith eu
não vejo problema em você e eu namorarmos e transarmos... De... Vez enquanto.
—Não, imagina!—exclamo horrorizada.—Isso não é algo que se fala no
mesmo dia que se pede uma mulher em namoro.
—Eu conversava com a minha ex abertamente sobre qualquer coisa, eu
não gosto de ficar enrolando, assim você sabe as minhas intenções.
—De me levar para cama.
—É, o que tem de errado nisso?
—Cameron faz apenas alguns dias que nos conhecemos, vai com calma.
—Eu estou indo com calma, eu quero dormir com você.
—Cameron!
Ele sorri como se não desse a mínima, como se fosse algo banal, deve ser,
deve ser desses caras que saem ficando com meio mundo de mulher, é bonito,
jovem, porque não seria?
—Não entendo para que tanta formalidade, somos adultos Faith.
—Justamente, eu não sou uma irresponsável que sai por ai fazendo essas...
Coisas.
—Que coisas? Você não é uma mulher livre?
—Sou.
—Desde que sei esse apartamento é seu, você é maior e vacinada, o que
tem eu dormir com você? Ninguém saberá!
—Eu saberei.
Cameron sorri tranquilo.
—você é muito exagerada.
—Eu?
—É, você torna uma coisa banal em algo super valorizado demais.
—Deve ser comum para você sair por ai ficando com qualquer uma.
—Bem, eu só penso que você não precisa pensar dessa forma, é meio
machista não é verdade?
—É um conceito meu Cameron, é o meu corpo, justamente por isso, eu
determino quando e com quem devo dormir, e não vou levantar nenhuma
bandeira sobre machismo ou feminismo para defender os meus motivos de ser
assim.
—Bem, seus conceitos são fundados numa sociedade machista.
—O fato de eu fazer ou não sexo com alguém não quer dizer que eu sou
machista, está falando isso porque quer dormir comigo.
—Dormir e fazer sexo são coisas bem diferentes.
—Definitivamente dormir é bem melhor do que fazer sexo.
Ele ri, volto a lavar os pratos, Cameron encosta ao meu lado na pia e fica
olhando fixamente para torneira, coloca o pano de pratos no ombro.
—O que pensa sobre sexo antes do casamento Faith?
—Essa é a maneira mais estranha de perguntar a uma mulher se ela é
virgem.
—Você não é certo?
Não consigo olhar para ele, estou lavando os pratos, dividida entre
continuar a falar e não, envergonhada e constrangida com as perguntas e
insinuações dele.
—Haveria algum problema se eu não fosse?—respondo com outra
pergunta.
—Nenhum—Cameron fala com naturalidade depois me olha com cuidado.
—Você não é?
—Cameron!
—Faith!
—Por que você é tão impossível?
—Quero poder te falar algo, mas antes preciso que me fale sobre você.
Estou surpresa.
—Isso pode ser muito constrangedor para mim Faith—Cameron coça a
testa.—Eu não gostaria de dividir com você se você não dividisse comigo
também.
—Se eu não for você ficaria muito decepcionado?
—Não.
—Eu nem sei por que estou falando sobre isso com você Cameron.
—Bem, estamos juntos.
—Até o dia em que você perceber que isso tudo é um grande equívoco e
decidir ir embora dá minha casa.
—Eu não vou fazer isso, eu gosto de estar com você.
—Por enquanto.
—Sempre foi pessimista?
—Existe uma enorme diferença entre pessimismo e realismo.
—e você é realista? Proibindo um cara de se aproximar de você só porque
seu ex te magoou?
—Uma coisa não tem a ver com a outra.
—Então me deixa te mostrar que eu não sou como esse imbecil.
—Não estou te impedindo de mostrar nada, para começar eu apenas disse
que iria pensar na sua proposta, e se tentei te afastar, é porque mal te conheço e
nem meu amigo você não tentou ser, já chegou invadindo a minha vida.
—Como você é... –Cameron parece pensar numa palavra bem elaborada,
quero muito rir.—Astuta!
—Eu funciono melhor sob pressão.—respondo e acabamos rindo.
—Acho que esse cara deveria estar cego—ele continua a secar a louça e
vai colocando sob a mesa.—Quer dizer, você é super engraçada, inteligente.
—Infelizmente hoje os homens preferem muito mais uma mulher por seus
atributos físicos do que pela sua inteligência e humor negro.
—Bem, eu te acho muito bonita.
—De rosto, eu sei, é comum que me achem linda de rosto.
—Acho seu corpo fantástico Faith.
—Não me queira ver nua.
Cameron pisca e lentamente me olha, e seu olhar não esconde uma ponta
de... Sacanagem.
Meu Deus!
—Eu não disse nada—se defende quando lhe lanço um olhar zangado.—
Você quem falou!
—Mas pensou.
—Mas é claro, porque não pensaria?
—Porque eu sou gorda?
—Sério? Eu nem havia notado!
Me zango e vejo que Cameron se irrita também.
Desligo a torneira e seco as mãos no meu avental, mas bem antes que me
afaste, Cameron se aproxima e vou andando para traz até me encostar na pia, seu
olhar se torna duro, intenso demais, e sinto um pouco de medo.
—Claro que eu sei que você é gordinha Faith mas não acho que deva usar
isso como subterfúgio para me afastar, eu te disse que te acho linda, e não
adiantaria se fosse só de rosto, porque nunca me atraí pela beleza exterior de
ninguém, então sendo “feia” ou não para o resto do mundo, desde que eu
gostasse de você, o resto do mundo poderia achar ruim, pois para mim você é
linda desse jeito.
Silêncio.
—Existe um motivo para as pessoas não gostarem de pessoas de tamanho
GG Faith, e esse motivo começa quando uma pessoa GG não se aceita e se
minimiza, eu odiaria me imaginar ao lado de alguém sem amor próprio, espero
que você mude esse conceito que tem sobre si própria.
—Eu fui abandonada no altar por causa disso—digo.—Como quer que eu
esqueça se me olho todos os dias no espelho e vejo o motivo do meu abandono
diante de mim?
Agora ele fica em silêncio.
—É muito fácil se referir a beleza quando se é aceito de alguma forma por
uma maioria Cameron, quer falar como adulto? Eu falo como adulta, pois não
vem sendo muito fácil para mim nos últimos 28 anos, com minha família me
falando para mudar, meus amigos dá escola e agora no meu emprego, meu patrão
me chamando de gorda na minha cara, e pior, meu próprio noivo me abandonar
no altar diante de toda a minha família pelo simples fato de que eu sou gorda e
ele não estava disposto a conviver comigo daquela forma.
—Eu não sou ele.
—Você também não é a pessoa mais indicada para me falar sobre esse
assunto, já se olhou no espelho?
Cameron me analisa e segura as minhas faces entre as mãos, depois se
inclina e me beija.
Quando nossos lábios se tocam me sinto mais calma, um choque bom
percorre meu corpo e sinto-me bem em correspondê-lo, ele enfia as mãos na
minha nuca e sua boca continua a beijar a minha com carinho, lentidão, minhas
mãos sobem para o seus ombros e desejo tocá-lo também.
Ele me puxa colando nossos corpos e eu o enlaço pelo pescoço, suas mãos
se enfiam dentro dá minha blusa e tocam livremente minhas costas.
—Me leva para sua cama—pede entre o beijo.—Não pensa no amanhã
Faith, vive o hoje comigo.
—Isso é uma loucura—minha voz parece um sussurro no apartamento.—
Eu não posso te levar para minha cama.
—Eu quero—diz baixinho.—Por favor, Faith me deixa ser parte dá sua
vida.
—Ainda é cedo.
Ele me aperta e me beija com mais força, sinto que derreto toda entre seus
braços.
—Eu quero ser seu—ele se afasta um pouco.—Te quero Faith.
—E se não der certo?
—Ao menos nos dê a chance de tentar.
—Você não me acharia estranha?
—Não.
Abaixo o olhar e me desvencilho dos seus braços, me decido.
—Eu vou tomar um banho, use o banheiro dá sala.
—Vai me deixar... Dormir com você?
Ele está vulnerável.
—Só dormir.
Depois que determino me afasto vendo-o sorrir cheio de esperança, lhe dou
as costas e vou para o meu quarto tocando os lábios.
—Só dormir!
Preciso repetir para eu mesma, não posso fazer besteira.
—Hoje não.
Cameron disse que preferia ir ao apartamento dele buscar algumas roupas,
tomar banho, não me importei, e confesso que pensei em lhe pedir que não
voltasse, mas sabia que se eu pedisse ele acabaria se magoando com aquilo, então
quando ele bateu na porta do meu banheiro avisando que iria eu apenas disse um
“ok”, e ouvi seus passos se afastando para longe.
Tomei um banho lento e quente, tentei pensar em dezenas de desculpas
para dar logo que ele chegasse, mas nenhuma me veio a mente, nada me deixa
mais confusa do que ter Cameron por perto, ele é difícil e teimoso, e ao mesmo
tempo carinhoso e atencioso comigo, e saber que ele tem interesse em mim e que
realmente gosta de mim o suficiente para querer namorar comigo faz com que me
sinta inesperadamente lisonjeada.
Enrolei o máximo que podia no banheiro, sequei os cabelos mais devagar,
coloquei meu pijama e fiquei me olhando no espelho por minutos que me
entediaram.
Eu gostaria muito de ser essas mulheres alto confiantes que se olham no
espelho e se sentem lindas, mas infelizmente na vida real bem longe dessa
maioria que eu vejo em revistas, jornais e até mesmo no meu dia a dia, eu só
consigo me sentir uma completa obesa.
Para que tenho que mentir?
Claro, não é sempre, mas têm sido decepcionante as vezes que me olho no
espelho e me vejo ocupando boa parte dele, parece que tudo em mim só cresce e
cresce, meus seios são enormes, meus quadris largos, a minha bunda parece ser
formada por dois melões grandes, e os meus braços são mais roliços, quando eu
olho pras minhas cochas me sinto como uma daquelas aves de natal, sou alta e
isso não é nenhum pouco vantajoso para alguém que veste uma numeração acima
de 50.
Me lembro que Brenda vive falando algo do tipo: “Ah Faith, mas ser
acima de 50 não é ser gorda”.
Só se for no mundo encantado de garotas 36 como ela.
Brenda é alvo de constante inveja de todas as pessoas que nos rodeiam, as
colegas de trabalho dela, as duas irmãs invejosas dela, as primas dela, sem falar
que quando ela chega a algum lugar usando os vestidos que ganha dos pais dela,
todo mundo para, enquanto eu, mal consigo encontrar um vestido para usar.
É tão complexo ser diferente dos outros.
Ser diferente não é tão legal como pregam nos livros, a menina gordinha
que cresceu cercada de pais que mal sabiam como lidar com a perda de seu irmão
gêmeo...
Me encho de suspiros agora olhando para a parede de meu quarto, as vezes
sinto como se realmente faltasse algo na minha vida, eu soube que tinha um
gêmeo quando fiz cinco anos, mamãe comentou comigo que carregava dois bebês
em sua barriga mas que infelizmente um nasceu morto e só eu sobrevivi, a
enfermeira disse para ela que o menino morreu algumas horas depois após o
parto.
Me senti culpada por bastante tempo dá minha vida, e não entendia porque
eu havia ficado viva e meu gêmeo não, seu nome? Mamãe não quis colocar, ele
tem um túmulo junto do memorial dá família na Carolina do Norte, eu vou lá em
meus aniversários para levar flores.
Poucas pessoas sabem realmente disso, eu prefiro não comentar porque me
sinto um pouco atingida, não sei, acho que se eu tivesse o meu gêmeo vivo, com
certeza não me sentiria tão vazia, dizem que sentimos tudo o que o gêmeo sente,
bem, eu senti tudo o que ele não teve oportunidade de sentir, apenas o vazio, a
sensação de não ter nada no qual deveria buscar ou lutar.
Acho que por isso me apeguei tanto a Timmy, eu não tinha amigos
verdadeiros, sempre fui mais isolada, e ele foi meu único amigo durante toda a
minha infância, aquele tipo de amigo que te vê tomando banho pelada até os dez
anos, e que quando você começa a criar seios ele fica caçoando de você.
Timmy foi esse amigo.
Depois ele foi meu namorado.
E depois me pediu em casamento.
Então desistiu.
E eu decidi que não lutaria por mais nada além de uma pequena chance de
ser feliz longe dele e de toda vergonha que representei para minha família.
Hoje meus pais tem um casamento que é mais de aparência, onde papai
tenta manter todos juntos e mamãe não consegue se quer ser forte o suficiente
para saber lidar com ele, meus irmãos se casaram e seguiram seus caminhos, e
eu, eu sou alguém que leva uma vida sem graça longe deles por vergonha do que
se tornou.
Sou mais próxima do meu pai, pois ele sempre foi mais carinhoso comigo,
sentir que mamãe meio que era fria comigo pela morte do meu irmão me deixou
um pouco magoada com ela com o passar dos anos, mesmo que ela nunca tenha
dito isso sei que ela acha que ele morreu por minha culpa, afinal de contas, eu
estou aqui para contar a estória e ele não.
Ele se foi...
—Faith.
Dou um pulo, Cameron se senta ao meu lado na cama, ele carrega Beans,
usa uma calça de malha fina, mas está sem camisa.
Desnecessário!
Desvio o olhar.
Ele tem uma tatuagem na parte traseira do braço direito.
—A água não esquentou, você demorou—fala ele como sempre muito
tranquilo.—Acabei voltando e tomando banho aqui.
—Eu tive que secar o meu cabelo—não estou mentindo também.—Está
tentando me seduzir?
—Funcionou?
Eu o encaro, ele sorri muito calmo, ele solta Beans no chão.
—O que é isso no seu braço? Uma folha de maconha?
—É, eu achei legal.
—Que tipo de pessoa tatua uma folha de maconha embaixo do braço?
—Tem inveja dá minha tatu.
Começo a rir, depois fico diante dele e puxo o cos dá minha calça de
pijama, exibo a tatuagem que fiz a alguns anos no canto direito do quadril.
—Antes de eu ter engordado quase vinte quilos, eu fiz isso.
—Uma cereja!
—A fruta do pecado.
Cameron ri com a minha insinuação, me sento na cama e depois caio para
traz, ele deita ao meu lado e ficamos olhando para o teto em silêncio.
—Eu fiz chocolate quente—ele diz depois de alguns instantes de silêncio.
—Meio amargo.
—Bom—falo quieta.—, mas... É sério?
—Não é uma folha de maconha, é um trevo dá sorte, mas o tatuador me
sacaneou ok?
Gargalho, Cameron ri como se não ligasse, ele não parece desses que se
importam muito com as coisas, ele é diferente de mim, sou meio estressada
sempre, ele não, é desses que não estão nem ai—literalmente—para nada.
—Tinha 18, pensei: vou fazer uma loucura e fui ao tatuador, nunca mais eu
bebi na minha vida.
—Já era modelo nessa época?
—Sim, e você? Como fez a cerejinha sua... Pecaminosa?
Ele me faz rir... E isso é tão... Bom!
—Eu tinha acabado de entrar na faculdade, Brenda fez o nome do
namorado demoníaco dela na bunda, e eu a cerejinha pecaminosa aqui.
—Sério?—Cameron apoia a cabeça embaixo do braço e olha para o lado.
—Sim.
Eu o fito, ele não tem se quer um pelo no peito, e muito pouco pelo nas
axilas, mas na região do abdome tem uns pelinhos que descem por um caminho
suspeito, desvio o olhar, ele tem o corpo bem definido, não é malhado demais,
mas também não é só magro.
—Ela deve gostar mesmo dele—Cameron me dá um pequeno sorriso.—Eu
não sei se faria isso por uma namorada.
—Brenda sempre foi impulsiva, ela vive tudo com muita intensidade, isso
é legal, mas tem momentos que se torna muito difícil, tudo tem uma proporção.
—Eu já fui muito impulsivo.
—Como, por exemplo...
—Pedir a minha ex em casamento numa festa surpresa.
Arregalo os olhos.
Ele ri e nega com a cabeça, volta a olhar para o teto.
—Eu sou muito trouxa, você não tem noção.
—Cameron, de todas as pessoas que eu conheço acredite, você é uma das
mais espertas, você conseguiu entrar no meu apartamento, sabe quantas pessoas
já tentaram fazer isso?
Ele ri a beça, acho tão lindas as covinhas que ele tem nos cantos dá boca.
—Eu uso a ousadia nas proporções certas Faith.
—Percebe-se jovem.
Rimos um pouco mais, gosto de conversar com ele definitivamente.
—Ao menos ela aceitou e vivemos o que tínhamos que viver, não deu
certo, e aqui estou eu, com a minha nova namorada.
—Como diz a minha avó, sonhar não paga.
Cameron fica de lado e estende a mão, toca a minha face, pega o meu
travesseiro e apoia a cabeça.
—Teve uma coisa que a morte dá minha família me ensinou Faith.
—O que?
—Que não devemos perder tempo com coisas banais, que temos que
aproveitar cada segundo ao lado de quem gostamos, desde então eu tento ficar ao
lado de quem gosto, vou aos lugares que quero, comemoro com os meus amigos
cada segundo.
—Você vai amar a Brenda então, porque quando não está deprimida
chorando na minha cabeça ela está viajando com o dinheiro dos pais dela e
“curtindo” a vida.
—Eu prefiro pensar que é o melhor que posso fazer por mim e quem está
ao meu redor.
—Ser um super-modelo com uma tatu de folha de maconha que adora
viajar e curtir a vida!
—Por que esse preconceito com super modelos? Eu tenho um coração.
Volto a rir, ele também, depois se aconchega e me abraça procurando meus
lábios num beijo leve.
—Pense no lado positivo Faith.
—Tem um lado positivo?
—Você terá alguém para cozinhar para você e cuidar do Beans nas horas
vagas.
Rio, ele me beija e consegue novamente me fazer esquecer de tudo,
inclusive dos obstáculos que podem nos distanciar, pelo contrário, nunca me senti
tão próxima de alguém.
—Faith?
—Desculpe, eu precisei ir ao banheiro.
Me enfio embaixo dos cobertores, Cameron se aconchega e me abraça, não
estou acostumada a dividir a minha cama com ninguém, consegui dormir depois
que tomamos o chocolate quente, Cameron é um pouco carente demais, ele gosta
de fazer carinho, na verdade nunca estive com ninguém tão carinhoso em toda a
minha vida, confesso que gosto muito disso, acabei dormindo sentindo um toque
suave na cabeça, acordei agora sentindo vontade de fazer xixi, não queria acordá-
lo, mas pelo visto, não consegui atingir meu objetivo.
Acho que está quase amanhecendo, dá para ver entre as frechas dá cortina.
—Poderia ser minha conchinha agora?
—Ok.
Ele se vira na cama e me aconchego abraçando-o por traz, gosto de estar
com Cameron, seria uma mentira se eu dissesse que não, ele é tudo o que nenhum
homem conseguiu ser na minha vida, se bem que a lista não é grande, só tive um
namorado, que já foi bem traumatizante ter um, foi o suficiente para eu entender
que nunca nenhum homem me amaria por eu mesma ou o suficiente para ficar
comigo por conta dá minha aparência.
Claro, isso já passou, mas Timmy nunca foi assim dos mais carinhosos,
não sei se é porque estou a tanto tempo sozinha e sem alguém, mas são esses
pequenos gestos do Cameron que me fazem querer ele cada vez mais por perto.
—Você é tão fofinha.
Sorrio, e milhares de coisas me passam pela cabeça, mas não coisas ruins,
ele está ressonando, suas pernas encolhidas e as minhas juntas das dele, nossos
corpos colados e meu braço envolta do corpo dele, ele segura a minha mão e
acaricia suavemente, seu corpo é quente e macio, toco seu peito nesse momento.
—Parece uma ursinha dessas que compramos em parques.
—Não me diga.
—É bom te abraçar, e também é bom ser abraçado por você minha fofinha.
Meu Deus, a que ponto eu cheguei dá minha vida? Sendo chamada de
ursinha fofinha pelo meu vizinho quase namorado supermodelo mais jovem!
Rio tentando não fazer barulho, e acho um pouco infantil dá parte dele me
colocar esses apelidos, faz com que eu me sinta uma adolescente que dorme pela
primeira vez com seu namorado do colegial.
—Não?—Cameron pergunta sonolento.—Então minha gordinha?
—Ainda não—coloco um pequeno beijo em seu ombro.—Dorme, é o
melhor que você faz.
—Eu vou me lembrar disso quando acordar—responde ele me fazendo rir
de novo.—Minha Fa, o que acha hein?
—Cameron nem estamos namorando ainda para trocarmos apelidos.
—Todo casal faz isso.
—Não responda por mim.
—Não há uma vez se quer que você não fique na defensiva enquanto
conversamos?
—Eu estou explicando o meu ponto de vista.
—Ou tentando me dar sermão.
Fico sem graça.
Ele se vira para mim e se apoia no cotovelo, liga o abajur e quero rir,
parece tonto de sono, os olhos semicerrados e o semblante totalmente relaxado.
—Isso não tem graça.
—Vai dormir Cameron.
—Quero que você deixe de ser indiferente a mim.
—Eu não estou sendo indiferente.
—Não?
—Até beijei seu ombro ora, te faço carinho, te abraço, o que mais quer de
mim?
—Faith você tem medo de me tocar.
Isso não é totalmente verdade.
—Só não sei como ser diferente, não sou boa com essas coisas.
—Não é boa em me tocar ou tem medo de me tocar e gostar?
Os Dois.
—Eu não acredito que você está discutindo comigo a essa hora dá manhã
Cameron.
—Estou.
Suspiro tentando ter paciência.
—Eu sei que você não é assim Faith, você se esconde por traz dá dor, sei
que sim.
—Você não sabe quem eu sou.
—Então me deixe conhecer você como realmente é.
—Não quero me machucar.
—Eu não vou te machucar.
Respiro fundo bem mais que chateada.
—Sabe, eu quero mais Faith, quero algo sério.
—É, costuma ser assim no começo, até você acordar um dia e perceber que
a pessoa com quem está não é certa para você, seu casamento ser à base do
comodismo e discussões ou então desistir de viver com a pessoa e sair difamando
ela por seus defeitos para o resto do mundo.
—Nem todos os relacionamentos são assim, eu não sou como ele.
Pior é que quando alguém nos machuca nunca conseguimos confiar em
mais ninguém o suficiente para permitir que a pessoa chegue perto demais, é
quase um milagre que eu tenha deixado ele entrar na minha vida.
—Só estou te pedindo uma chance.
—Você pede demais, para começar nem deveria estar aqui.
—Por que não?
—Cameron estamos indo rápido demais.
—Pois eu digo que estamos indo muito devagar.
—Eu não posso me entregar de cara a você.
—Estou pedindo para entrar na sua vida Faith, a entrega vem com o tempo.
Ele é tão... Astuto, bem mais que eu, tem resposta para tudo.
—Os homens costumam ser assim, eles pedem para entrar, mas na hora de
sair não dão nem notícias.
—Para de me comparar aos outros homens, eu não sou como eles.
—Realmente, nenhum outro esteve na minha cama, tão pouco entrou na
minha vida dessa forma, tudo para você é tão simples que me assusto, se fosse
outra pessoa não teria deixado que ficasse.
—Poxa, mas essa mulher então iria ser uma insensível, e eu sei que você
não é assim, você se esconde por traz dessa crosta de mulher durona e fechada.
—É casco.
—Ah.
Me deito de costas, Cameron se ergue sacodindo a cabeça, depois com os
olhos bem abertos vem para cima de mim, viro a cara, me irritei, sua insistência
me chateia demais, ele deveria saber ao menos respeitar o que eu quero no
momento, ao invés disso fica debatendo comigo sobre minha forma de ser, até
onde sei estou na defensiva, mas meu jeito de ser é esse, e eu não devo ser
recriminada por isso.
—Quando gostamos dá pessoa aceitamos ela dá forma que ela é Cameron,
eu não disse o que você deve ser ou como deve agir.
—Desculpe, não foi a minha intenção.
Ele se deita sobre meu corpo e me aperta, oprimo a vontade de chorar, eu
sei que não sou fácil mesmo, que às vezes sou insuportável, mas prefiro ser assim
do que fingir que sou algo que nunca fui nem nunca vou ser, claro, já fui doce em
muitos momentos dá minha vida, mas logo vi que não havia nascido para aquilo,
porque pessoas assim sofrem muito e eu estava cansada de sofrer.
—Mas gosto de você com casca e tudo Faith.
Não dá para ficar mais que três minutos brava com ele.
—Seu... Seu... Seu...
—Fala—pede ele de mansinho e começa a beijar meu pescoço.
Me encho de arrepios.
—Já fez amor de manhã cedo?—pergunta ele baixinho.
—Cameron...
Estou sussurrando.
—Quero fazer amor com você Faith, eu quero muito.
—Eu não posso fazer isso.
Ele se ergue e me beija até roubar o meu fôlego, correspondo, nesse
momento me sinto profanada ou algo assim, meu corpo todo esquenta enquanto
me vejo tocando suas costas, minhas mãos sobem e descem deslizando pela pele
suave e alva, nossas bocas se devoram com intensidade.
—Não vou te machucar está bem?
—Cameron o acordo não foi esse.
—Regras foram feitas para serem quebradas.
—Cameron...
—Faith, por favor.
—Eu não posso.
Enquanto falamos nos beijamos fervorosamente, eu não consigo parar de
beijá-lo, minha mente fervilha e ficar tocando ele não ajuda em nenhum sentido.
Ah Deus...
—Te quero—sussurra e morde meu queixo—me deixa te provar.
—Tentação do caralho!
Não consigo mais.
Juro que tentei juro, mas não consigo.
Empurro ele pelos ombros e Cameron cai deitado na cama.
Vou para cima dele e o beijo sem um pingo de paciência, todo o meu corpo
se arrepia lentamente com nossos beijos, suas mãos começam a desabotoar a
blusa do meu pijama, eu o fito arfante.
—Olha, vamos combinar uma coisa, eu não sou virgem tá bem?—reclamo
e subo em cima dele.—Eu já fiquei nua para o meu ex noivo e...
—Eu também—Cameron está apressado.
—já ficou nu para sua ex-noiva?—me sinto tola.—Ah é claro, vocês dois...
—Eu sou virgem Faith—Cameron fala e puxa a minha blusa para baixo.—
E chega de falar está bem?
Arregalo os olhos, ele me puxa para baixo e me beija, estou incrédula.
—Cameron, isso não vai ter volta.
—Eu sei, quero perder com você.
—Tem certeza?
—Sim.
—Você... Tem camisinha?
—sim, na minha mochila, eu vou buscar.
—ta bem.
Me sinto uma louca.
Eu sou louca.
Cameron me dá um sorriso feliz e me beija uma última vez, saio de cima
dele e ele pula para fora dá cama de pressa, eu não sei como explicar para ele
como tudo aconteceu entre eu e Timmy, mas sei que esse não é o momento certo
para falar sobre isso.
Melhor deixar como está.
Ele não vai desistir, ele enfiou na cabeça que quer ficar comigo, e eu já
estou no meu limite, não consigo mais resistir, nem que eu tente, por que devo
negar? Eu também o quero, muito mais do que ele pensa.
Estou nervosa, bastante nervosa, vou ao banheiro, tento aliviar a tensão
que se espelha pelo meu corpo quando ouço o som dos passos apressados, sinto-
me dura.
—Faith—escuto ele chamar do outro lado dá porta.
—Sim?
—Que sabor você quer? Tem morango e chocolate.
Não é de rir, mas acabo sorrindo.
—A que você quiser ora.
—Morango.
—Tá.
—Vem logo.
—Eu já estou indo.
Esse é o pior e mais ferrado erro que cometerei na minha vida.
Agora, além de jovem, bonito, ele também é virgem?
Por que eu Deus?
Respiro fundo e faço uma rápida higiene, depois que me seco coloco a
calcinha e abro a porta sentindo como se cada perna minha pesasse uma tonelada.
Fecho a porta atrás de mim vendo-o sentado na cama, ele se cobriu até a altura
dos quadris, parece meio ansioso, mas sorri para mim logo que eu o fito.
—Não precisa ter medo—Cameron fala.—Vem.
—Cameron isso é...
—É o que eu quero, vem.
Ele tem firmeza na voz nesse momento, só não estou mais envergonhada
porque sei que o quarto é meio escuro e ele não vê a celulite nem as estiras nas
minhas pernas. Me aproximo dá cama e me sento ao seu lado enfiando as pernas
dentro dos cobertores, Cameron se aproxima e me beija com carinho.
—Você é muito especial para mim Faith.
—Não consigo te entender, mal nos conhecemos.
Ele não responde, volta a me beijar, minhas mãos se enfiam em seus
cabelos e ainda que tenha receio por tudo isso eu também o beijo dá mesma
forma, ele me fita e puxa a blusa do meu pijama para baixo, eu o tiro e Cameron
olha pros meus seios, o sutiã que uso é simples.
Se inclina e começa a beijar meus seios com cuidado, fecho os olhos me
apoiando as mãos, sua boca me provoca mais e mais arrepios por toda a pele, os
beijos fazem pequenos estalos, e ele vai descendo pela minha barriga até meu
umbigo, depois ele se ergue e me toma os lábios com força.
Me sinto presa.
Me inclino para traz e vou puxando a calcinha para baixo, Me deito e tiro a
calcinha com os pés, ele vem para cima de mim e quando nossos corpos se tocam
perco o ar por alguns instantes, sinto um frio estranho no estômago.
—Tudo bem—ele fala baixinho.—Eu vou devagar está bem?
—Tá.
Estou tão cheia de ternura não devo, mas droga, é como me sinto em
relação a ele. Toco sua face com carinho e ele se abaixa se apoiando nas mãos,
nos beijamos com lentidão, e estou muito longe de estar nervosa, acho que estou
mesmo ansiosa.
Ele separa as minhas pernas com as dele e se inclina para baixo, percebo
seu nervosismo, eu o beijo nesse momento, e ele se coloca dentro de mim com
uma lentidão pacífica, meu corpo sobe enquanto ele entra, e sinto um certo...
Incomodo.
—Está doendo?
—Um pouco.
—É normal que doa?
—Às vezes sim, calma.
—Não quero te machucar.
—Eu sei que não.
Eu o beijo, eu também não quero que Cameron saiba de nada agora.
Não tenho muita certeza de nada, eu estou confusa sobre uma dezena de
coisas, mas ainda sim persisto em continuar a errar por causa dele...
Ganho outro beijo e ele se move devagar como se eu fosse algo muito
frágil, toco seus ombros e ele beija o meu pescoço fazendo bem devagar,
enquanto me penetra me cobre de beijos, ignoro cada centelha de dor dentro de
mim, e o correspondo toco suas costas e os lados de seu corpo, ele abre o meu
sutiã e beija os meus seios com tanto cuidado e zelo que faz com que me sinta
meio vilã por estar lhe tomando algo tão precioso, mesmo que esteja lhe dando
algo muito precioso em troca também, ou mais ou menos isso.
—Você está me apertando muito—fala enquanto se move.—É difícil
segurar.
—Basta que segure.—respondo tocando sua face.
Ele sorri e entra de vez, gemo alto porque dói muito, sinto algo fazendo um
barulho estranho de mim, depois Cameron para de sorrir assim do nada e começa
a me encarar mais sério.
—Faith...
—O que foi?
—Disse que não era virgem.
—Eu não sou completamente virgem.
Ele me aperta a coxa e continua a se mover lentamente de dentro para fora,
fecho os olhos tentando relaxar, sua boca desce para os meus seios e me sinto
quente novamente, ele os toca enquanto sua boca os suga com calma.
Sua respiração se torna mais acelerada e a minha também, não falamos
nada, meu corpo se enche de expectativa apesar dá dor, toco suas costas e minhas
mãos descem para sua bunda, abro mais as pernas recebendo-o abertamente.
Beijo seu pescoço e seu peito ouvindo seus gemidos baixos.
Quando nossas bocas se encontram ele segura meu quadril puxando-o para
seu ritmo, começo a me mover com ele, meus quadris sobem e descem numa
dança estranha e vagarosa, às vezes não consigo encontrar seus quadris e acabo
sorrindo com a boca na dele vendo traços de seu sorriso.
Meu corpo abandona a tensão e se enche de fagulhas gostosas que me
enchem de sensações boas, sorrio com a leve sensação de prazer, minhas unhas
estão cravando nas costas dele enquanto eu o ouço gemer mais alto, ele acelera.
Toco sua bunda e a aperto levemente excitada, Cameron me preenche
agora sem barreira alguma e suga meus seios com mais força, ele parece um
bicho que foi solto e quer muito alcançar sua presa.
—Faith...
Cameron me beija com força, eu o correspondo e me uma porta se fecha
dentro de mim, ela deve permanecer trancada, não posso me dar ao luxo de me
apaixonar por ele, não nesse momento, ainda que lhe entregue o corpo o coração
é algo muito complicado.
É o melhor que posso fazer por nós dois.
—Não acha que deveria ter me dito?
—Você não entenderia.
Ele beija a minha mão.
Estamos cobertos de suor, Cameron mantém nossas mãos unidas, os dedos
entrelaçados, esta deitado com a cabeça em minha barriga, estou ainda sem ar,
nossa primeira experiência foi... Boa. Senti dor, mas senti um pouco de prazer,
coisa que já experimentei a alguns anos, e não foi tão ruim, ele demorou bastante,
para uma primeira vez foi até bem, eu acho.
O que posso falar? Foi bom para mim também.
—Por que não?
—Quer mesmo falar sobre isso nesse momento?
—Eu sei que você vai me falar que era virgem Faith, e que perdemos
nossas virgindades juntos.
—Eu era virgem Cameron.
—Obrigado por confirmar as minhas suspeitas.
Reviro os olhos, ele se ergue e me beija depois fica me fitando em silêncio.
—Sério você não vai me falar Faith?
—Não quero te magoar.
—Não?
Eu não sei por que ele você faz essa cara de bobo alegre.
—Não!
—Então me explique porque mentiu para mim sobre sua virgindade.
—Eu tinha relações sexuais com o meu ex-namorado, mas não incluíam
penetração.
—Ah.
—Foi assim com a sua ex?
—Não, eu fiz voto de castidade com dezesseis anos no colégio onde
estudava, por isso nunca tive relações... Até hoje.
—Hummm...
Não me sinto a pessoa certa para ter pego isso de você, mesmo que
também tenha lhe dado algo valioso em troca, o fato é que talvez eu não tenha
sido a mulher certa para te roubar isso...
—Eu gostei muito—Cameron me beija a face.—Você é só minha não é?
—Possessivo, teimoso, controlador... Insistente...
—Não se esqueça de moleque vizinho de 17 anos.
—Ah é mesmo, vizinho moleque de 17 anos.
Ele sorri, algo lindo.
—Você não vai responder?
—Por enquanto eu só sou a sua vizinha zumbi mal caráter.
—Acabamos de perder a virgindade juntos Faith, poderia ser um pouco
mais original?
Pigarreio.
—Ah! Cameron meu amor, estou tão feliz que tenha sido com você.—faço
uma voz fina bizarra.
Ele gargalha, me cobre de beijos, prefiro que ele não perceba a verdade por
traz das minhas palavras, estaria mais enrascada do que já estou.
Perdida.
—Bom dia.
E sinto um abraço apertado, ele beija o meu ombro e o meu pescoço, e
mais uma vez me espreme, dormi feito uma pedra, ao mesmo tempo que saio do
sonho, uma realidade estranha me toma e fico parada recebendo os beijos
carinhosos de Cameron, seu toque, seus gestos carinhosos.
Isso me deixa tão feliz que mal sei explicar como me sinto direito.
Acho que é carência deve ser, pois nunca tive alguém assim tão carinhoso
comigo por perto.
Também tenho um pouco de receio, já parece meio tarde.
Me sinto ridícula, eu tenho certeza que a minha cara está inchada, os meus
cabelos estão arrepiados, e eu também não sou o maior exemplo de beleza
enrolada nesses cobertores, pelo contrário, me viro puxando os cobertores até a
altura do meu pescoço e o fito, Cameron parece tão contido, mas seus olhos
brilham muito, seus cabelos estão bagunçados, mas ele está nu embaixo dos
cobertores assim como eu.
Ele segura a minha face e me beija na boca devagar, não posso negar o que
sinto pelo Cameron, por mais que eu tente afastar isso seja lá o que for de mim,
toco seu ombro e ele me puxa querendo que eu suba em seu corpo, mas travo, me
afasto um pouco, estou sem fôlego, é isso, estou terrivelmente atraída por
Cameron Morgan.
—Bom dia Cameron.
Ele me dá um pequeno sorriso, toca a minha face novamente com tanto
carinho que me derreto toda.
—Quer que eu prepare o seu café?
—Eu posso preparar o nosso café.—respondo e tento sorrir.
—Tá bem.—ele me puxa para um abraço.
O gesto é coberto de ternura, carinho, eu diria até gratidão.
—Você é linda—fala baixinho.—Linda.
—Obrigada.
Eu sei que não é verdade.
Eu sei que talvez quando ele sair pela porta dá sala, tudo isso vai acabar.
E eu gostaria muito, muito mesmo que tudo isso fosse algo muito além de
apenas uma primeira vez para ele, mas sei que não será assim, eu sei que não.
—Te adoro—ele fala baixinho.—Minha mulher, só minha né Faith?
—Isso não combina com você.—respondo a força, minha garganta se
fecha.
O que eu estou fazendo com esse garoto Meu Deus?
—Eu não me importo se não combina Faith, eu gosto de você, já disse, por
favor, não destrói o que nós estamos tendo agora tá bem?—pede.—Eu já disse
que não vou embora Faith.
Faço que sim com a cabeça, sinto vontade de chorar porque parece que cai
num abismo profundo ao me envolver com ele, eu sei que isso não vai dar certo,
sei que provavelmente sairei ferida disso tudo, mas ainda sim não quero me
afastar dele.
—Você é minha mulher agora.
Reviro os olhos, Cameron segura as minhas faces, meus olhos estão
cobertos por lágrimas, meu coração se contrai com a forma como ele me olha.
—Não fica agindo como se fosse normal Cameron, você sabe que não é
normal, eu não sou normal, eu não deveria ter feito isso com você.
—Não?—pergunta e vejo mágoa em seu olhar.—, mas essa escolha não era
sua Faith, era minha escolha, eu queria e eu ainda quero muito ficar com você.
—Isso não vai dar certo!
—Vai sim.
Abaixo o olhar, ele novamente ergue minha cabeça, eu o fito e as lágrimas
começam a cair lentamente.
—Eu não vou desistir de você Faith, você tem que parar de ser pessimista
tá bem?
Não respondo.
Cameron me beija de leve e me abraça novamente.
—Vou preparar o nosso café—ele diz.—Toma um banho tá bem?
—Eu faço isso...
—Não Faith, para de ser teimosa, me deixa cuidar um pouco de você? Eu
sei fazer café e posso muito bem ir comprar alguma coisa para comermos, eu não
demoro está bem?
—Eu insisto, preparo o café, tem cereal, leite e biscoitos, também posso
fazer ovos, bacon, eu cuido disso.
Cameron me encara meio chateado, mas sinto que não posso fazer nada
para mudar isso, não estou arrependida nem infeliz, é só a minha consciência me
atormentando.
—Está bem—concorda.—Então vem tomar um banho comigo?
—Nua? Não mesmo!
Ele me encara meio chocado, seus braços sobem e se cruzam, e ele fica
carrancudo me analisando.
—Vai sim tomar banho comigo, isso não é um pedido, é uma exigência,
que besteira Faith.
—Eu não gosto de ficar pelada perto de ninguém.
—Amor, eu vi seu corpo todo enquanto você dormia.
Vou ficando terrivelmente vermelha, mais pelo “amor” do que por ele ter
me visto pelada em si.
—Você é a minha mulher Faith, conheço seu corpo, adoro seu corpo, não
teime sim?
—Não gosto disso Cameron Morgan.
Sai mais como uma reclamação, me levanto e saio dá cama me enrolando
no cobertor.
—Hoje será um longo dia não é mesmo meu amor?
Ignoro a pergunta.
Mas quando entro no banheiro estou sorrindo.
—Está ótimo.
—Obrigada.
Cameron enfia uma garfada de ovos com bacon na boca e logo em seguida
mais uma, mastiga rápido, ele está faminto.
Confesso que estou um pouco sem graça.
Depois do nosso pequeno “Bom Dia” Frustrado, Cameron saiu, me enfiei
no meu chuveiro e fiquei meia hora pensando em todas as chances possíveis de
tudo isso dar certo, não posso dizer que estou arrependida, não totalmente estou,
mas não estou, tudo causa uma imensa confusão dentro dá minha cabeça, e eu
ainda não sei como me sentir em relação a isso.
Ele saiu, e quando voltou eu percebi que trouxe uma outra mochila,
Cameron começou a recolher a pequena baderna que deixamos na sala durante
esses dias enquanto eu preparava o café, não consegui dizer nada, nunca vivi uma
situação tão constrangedora em minha vida.
Às vezes eu olho para ele e fico me lembrando do que fizemos ontem, do
jeito que ele me beijou, que ele me tocou, de como conversamos sobre tudo por
horas a respeito de algumas coisas bobas, e de como depois ele adormeceu
agarrado a mim.
Sentia-me bem, apesar de tudo muito bem.
Melhor do que venho me sentindo há anos, lembro nitidamente do carinho
estampado em seu olhar quando fizemos amor, ele teve tanto cuidado comigo que
me senti protegida, cuidada, alguém do qual uma outra pessoa é capaz de gostar
de verdade.
Mas ao mesmo tempo me senti envergonhada por meu corpo, por ter me
exposto, e por ter permitido que ele me visse como sou pois sei que eu talvez—
com certeza—seja muito diferente das mulheres que o cercam, de sua ex-
namorada.
Claro que nada se resume em fazer sexo sem compromisso na minha vida,
eu só tive um namorado e ele me conhecia muito mais profundamente do que
qualquer outra pessoa na face dá terra, eu estava disposta a me casar com ele,
pois éramos íntimos, nos conhecíamos desde crianças, agora com Cameron não
sei.
Foi como se eu atropelasse todos os meus receios para estar com ele, e por
um instante de minha vida, comecei a acreditar de novo que alguém poderia
gostar de mim suficientemente para querer estar na minha vida, para me desejar,
para ver em mim uma mulher que nenhum outro homem quer ver, algo muito
além dá aparência.
Contudo acordei, e me senti ridícula por estar numa cama com alguém
mais novo, mais bonito, mais atraente e tão diferente de mim quanto água e
azeite, bem como incapaz de se misturar a mim, e agora estou incerta quanto a
um punhado de coisas.
Eu só não sei em que parte disso tudo eu consigo separar Cameron dá
minha vida, porque sinceramente isso está sendo bem difícil já sem toda essa
coisa de “perder a virgindade juntos”, agora que fizemos sexo, parece
impossível mantê-lo longe, eu sei que ele não vai, ele é teimoso, e pior é que não
sei se quero que ele vá.
—Come Faith.
—Ah, tá.
Não estou com apetite, Cameron puxa a cadeira para perto de mim e passa
o braço envolta dá minha cintura, repousa a cabeça em meu ombro, meu coração
vai ficando quentinho como nunca, coisa que oprimo, pois não quero me
comprometer, mas cada vez mais esse garoto está conseguindo invadir cada
pedacinho de mim com seu jeito de ser.
—Trouxe uns filmes para assistirmos—Cameron fala e bebe um pouco de
café.—Hum, acho que temos que ir no supermercado.
—Eu vou fazer compras esse fim de semana.—explico.
—Então, foi o que eu disse, para irmos ao supermercado.
Reviro os olhos, Cameron segura a minha face e faz com que eu o fite.
—Eu estou falando sério Faith, estou aqui há dias, sei que dou despesa.
—Você está falando como se fosse morar aqui.
Cameron toca meu queixo com o polegar e me arrepio toda com o pequeno
sorriso que surge em seus lábios.
—Eu vou.
—Eu não disse que aceitava.
—Eu acho que agora nem precisa mais de resposta, já estamos juntos, você
só precisa entender isso.
—Porque dormimos juntos?
—Porque você tirou a minha virgindade.
Isso é tão absurdo que me dá vontade de rir, ainda que eu esteja contrariada
com essa resposta.
—É mesmo? E você não tirou a minha?
—Viu? Nosso motivo para ficar juntos.
—Você é muito engraçado.
Estou sendo debochada, mas isso não surte efeito, Cameron me ignora
completamente, me dá um selinho repentino.
—Eu decidi que não vou discutir isso com você, quer ver algum filme ou
não?
—Eu preciso limpar o meu apartamento e ir no Jornal.
—Ah, pensei que houvesse resolvido.
—Ainda não, eu irei lá para falar que prefiro a minha demissão.
Cameron me olha meio surpreso.
—Vai se demitir?
—Tecnicamente fui demitida, ou você se esqueceu que o novo Editor
Chefe me chamou de gorda e me tirou a minha coluna?
—Ah, tá bem, então vamos resolver isso...
—Não, espera, você não vai comigo Cameron!
—Claro que vou, eu sou seu namorado...
—Cameron é o meu emprego.
Ele se espanta com a minha resposta.
—E daí? Eu vou só te acompanhar.
—A resposta é não!
Ele me encara visivelmente irritado.
—Porque não?
—Cameron, você não entende que eu não quero que nos vejam juntos?
Agora seus olhos aderem a uma mágoa profunda, me arrependo do que
acabei de falar.
—Tem vergonha de mim?
Tenho vergonha de mim mesma.
—Não.
Mas não consigo falar a verdade por completo, isso tudo já é bem
complicado.
—Então não vejo motivo para eu não ir—replica.
—É o meu emprego, eu tenho que resolver isso sozinha, você tem que
saber separar as coisas.
Cameron me analisa, meu coração fica apertado com o jeito como ele me
olha, sinto que o magoei muito sem medir a proporção real das minhas palavras.
—Ok—ele levanta.—Vou ver tv, posso?
—Cameron...
Mas ele se afasta e sei que não importa o que eu diga agora, ele continuará
triste pelo o que eu disse. Suspiro engolindo a vontade de chorar, nunca me senti
tão sensível, vou ao meu quarto, me troco, não permito que as lágrimas caiam,
depois que pego minha bolsa volto para sala, ele já tirou a mesa do café e assiste
tv, o rosto fechado, duro sei que está bravo.
—Eu já vou Cameron, tem...
—Como é mesmo o nome do seu patrão?
—Blade...
—Tchau Faith, até mais tarde.
Suspiro, me aproximo do sofá e beijo sua cabeça, nem sei por quê.
—Se cuida.
—Tá.
Ele está muito bravo.
De toda forma não posso levá-lo, é um assunto dá empresa, mas quando
saio do meu apartamento estou chorando.
Não sei se foi azar, se foi o destino, mas Blade não estava no jornal.
Passei na mesa de Jessie e ela pareceu bem mais que surpresa em me ver,
eu estava determinada em me demitir hoje, ou melhor, acatar a primeira decisão
de Blade uma vez que ele não me deu escolha, mas o patife não estava lá, Jessie
tentou localiza-lo mas nem cheiro dele na empresa.
Não conversamos muito, me sentia constrangida com a forma como ela me
olhava, como os outros funcionários ficavam me espiando, parecia que todo
mundo sabia de algo que eu não sabia, me senti paranoica e avisei que voltaria
amanhã para conversar com Blade.
Não estou preocupada também.
Eu só ficava lembrando do Cameron, de tudo o que fizemos ontem, dá
discussão que provoquei hoje cedo, eu não queria magoá-lo, fiquei com remoço,
e não sabia o que fazer e como fazer para me desculpar, então passei numa
floricultura e comprei esse pequeno buquê de flores para dar para ele.
Não sei bem se ele vai gostar, mas não o conheço tão profundamente para
poder lhe dar algum presente caro, não acho legal a ideia de namorar Cameron,
ainda nem aceitei e já estou a indecisão em pessoa, mas a volta para casa me
ajudou a pensar muito.
Estou no elevador agora subindo para o meu apartamento, já é quase noite,
sai tarde de casa, também passei na padaria aqui perto, comprei pão para comer
com sopa.
Só queria que ele entendesse que as coisas não são tão fáceis para mim,
não tenho tido pessoas enfiadas na minha vida ultimamente além dá Brenda e que
não sei como lidar com tudo, eu também não sou boa em me abrir e não sou um
exemplo de garota delicada e carinhosa, eu não sou nada disso.
Não me sinto merecedora dele, nem de seus sentimentos, de nada, é muito
ruim ser vazia assim, mas é como eu tenho sido, e sair do buraco do dia para
noite não é tão fácil quanto parece, na verdade tem sido a coisa mais difícil desde
que ele entro na minha casa, na minha vida.
Gosto do Cameron e não sei como lidar com isso.
Adoro Cameron, mas não sei como aceitar isso.
Quero o Cameron, mas não consigo ser suficientemente forte para admitir
isso.
Tenho medo de me machucar, de entrar de novo em depressão e de no final
das contas tudo isso não passar de uma mera diversão para ele, às pessoas
costumam se entregar muito facilmente a relacionamentos, mas eu não sou assim,
não depois de ter sido largada num altar com um buquê de flores e anos e anos de
sonhos perdidos, trocados por uma outra mulher e novos sonhos.
Queria tê-lo conhecido em uma outra época dá minha vida assim eu não
estaria desse jeito, tão medrosa, tão incerta e confusa.
Respiro fundo antes de entrar no meu apartamento, olho para o pequeno
buquê de lírios azuis, depois entro, e fico totalmente surpresa em sentir o cheiro
de desinfetante, floral...
—Ah, você chegou.
Cameron está na minha cozinha usando avental, luvas, e todo o meu
apartamento está extremamente limpo e organizado, também sinto um cheiro
gostoso de canela e café. Ele coloca a placa sob as grades do fogão e se
aproxima, engulo a seco, ele está descalço e usa uma calça de moletom e uma
camisa folgada de cor preta, Cameron sorri logo que me fita.
—oi.
Não sei o que dizer, fico nervosa, não acredito que ele limpou o meu
apartamento.
—Eu comprei para você—digo e lhe estendo o buquê de lírios.
As sobrancelhas escuras se erguem e ele pega o buquê, depois lentamente
sorri tão contente que parece ter acabado de ganhar na loto.
—Obrigado—diz e se inclina, me dá um selinho.—Vem, fiz biscoitos, a
primeira placa queimou, mas a segunda deu certo.
—Limpou o apartamento?
Beans nem se dá ao trabalho de sair do sofá, a tv está ligada no NATGEO,
Cameron se afasta para o rumo dá cozinha e tira as luvas olhando para o buquê
todo feliz, não pensei que ele fosse ficar tão feliz em ganhar flores, isso é a coisa
mais brega que um rapaz dá idade dele poderia querer ganhar de alguma
namorada... Namorada!
—Eu também fiz compras, seu apartamento é pequeno, não é difícil de
limpar, só aspirei e passei um pano rápido, lavei o banheiro e coloquei as nossas
roupas para lavar, e como foi com Blade?
—Ele não estava lá—digo desanimada.—Pensei em fazer uma sopa para o
nosso jantar.
—Te ajudo com os legumes, comprei bastante fruta e verdura para semana
—Cameron coloca as flores num vaso com água.—São muito bonitas Faith,
obrigado mesmo.
—De nada—estou sem graça.—Obrigada por limpar a casa, fico te
devendo essa.
—Eu não quero mais brigar—ele cruza os braços e se encosta na pedra dá
pia.—Poderia não falar mais coisas como as que disse mais cedo?
—Não vou mais falar, me desculpa...
—Não importa está bem?—pergunta e se aproxima.—Sei que estava
estressada, eu entendo seus medos Faith, sei que sofreu muito com seu ex, mas eu
sou outra pessoa e viveremos um relacionamento diferente do seu anterior está
bem?
—Eu não sei se quero um relacionamento Cameron, eu não sei se estou
pronta.
—Sei que gosta de mim.
—Gosto muito Cameron.
Ele fica em silêncio, parece que tiro um peso imenso do meu peito,
ficamos nos olhando por alguns instantes.
—Estou apaixonado por você Faith, quero ao menos que me deixe ficar
por perto.
—Não quero me machucar.
—Eu não vou te machucar.
—Também não sei se quero que as outras pessoas saibam, não por você,
mas por mim. Eu aceito ser sua namorada, mas com a condição de que você vai
me dar um tempo para assimilar tudo e vai manter nosso relacionamento em
segredo está bem?
Seus olhos me analisam, ele parece tentar entender algo ou coisa assim,
mas passa rápido, ouvi-lo falar que está apaixonado por mim faz com que meu
coração fique saltando com força no peito.
—Está bem.
Cameron se inclina e eu o abraço com força, ganho um abraço bem forte.
—Tudo será diferente Faith.
—Espero que sim.
—Estava ótimo Faith, você é excelente cozinheira.
—Na verdade não sou tão boa, sou péssima na cozinha, costumo comer
mais comida congelada.
—Não é muito saudável.
—É, mas não andava tendo tempo, a Coluna me tomava a maioria do meu
dia, sempre trazia pesquisas para casa.
—Não entendi porque esse tal Blade tirou você dá coluna.
Suspiro.
Cameron se ergue e começa a tirar os pratos sujos, fiz ensopado, antes
disso provei uns biscoitinhos, estavam doces e bons, Cameron me ajudou a fatiar
os legumes e verduras, estava engajada ao seu lado cozinhando, logo em seguida
vimos um pouco de tv enquanto ficava pronto, acho que faz tanto tempo que eu
não namoro que havia esquecido de fato o quanto é bom estar com alguém as
vezes, estou pensando em todas as chances é claro, de dar certo e de não dar
certo, mas ao menos uma vez na vida, depois de tudo o que passei, estou vendo
os lados positivos de ter um namorado.
Mesmo que ele não seja nada como eu pensei que seria, Cameron é calado
e na dele, mas ele é carinhoso e atencioso comigo, ele também organizou e
limpou meu apartamento coisa que nem a Brenda sob base de tortura fez alguma
vez para mim, não que me refira a ele como um amigo mas, poxa! Isso foi muito
legal.
—Ele acha que as minhas colunas são sem graça e que eu só falo de
garotas gordas depressivas.
—Isso não é muito o seu tipo.
Sorrio, nego com a cabeça e começo a guardar o pão que sobrou num pote.
—É que as vezes acho injusto que colunas femininas falem só de moda e
relativamente homens, ou coisas de “como conquistar seu homem em dez
passos”, “o esmalte perfeito para sua unha” “como conquistar o boy em dez
dias”, ou coisas como “vista 38 em menos de um mês”—suspiro um pouco triste
—como se fosse fácil emagrecer de forma saudável fazendo essas coisas, ou
como se todas as mulheres do mundo só se importassem com isso.
—E você escreve sobre o que?
—Bem, família, filhos, relacionamentos, mas eu gosto muito de colocar
nas minhas colunas algo que fale mais sobre a forma como cada uma de nós nos
sentimos em relação ao mundo, a cobrança que a mulher sente na sociedade,
mulheres de verdade não se importam com esmalte e essas coisas...
—Tenho que discordar, acho que é fundamental que a mulher esteja bem
vestida e arrumada, tipo, para ela se sentir bem e com a auto estima lá em cima.
—E isso é muito fácil num mundo imaginário com uma sociedade perfeita
né? Porque na prática mulheres trabalham para fora, tem filhos, cuidam dá casa,
do marido, e ainda tem que arrumar tempo para ficar menstruada.
—Eca, você fica menstruada?
Reviro os olhos, ele me faz rir, Cameron tem um lado que percebo ser
muito bem-humorado, tipo moleque, um rapaz despreocupado, bem como ele
realmente deve ser, jovem.
—Acho que não importa o que digam sobre você, desde que você se ame e
goste dá sua aparência nada a sua volta mudará.—ele dá de ombros com
simplicidade.
—É assim no seu mundo?—pergunto e começo a guarda o restante do
ensopado em outras vasilhas.—Quer dizer, você é bonito né? Sua profissão
depende disso, você precisa se achar bonito muito além do que é para se sentir
bem consigo mesmo?
—Claro Faith, todos precisamos de amor próprio, eu gosto de me sentir
confortável, na maioria das vezes me visto muito bem, gosto de cortar o cabelo e
fazer a barba.
—Que barba?
—Essa barba!
Ele toca o rosto liso, rio a beça, Cameron coloca a avental e começa a lavar
a louça suja, é difícil lidar com uma cena tão fofa... Meu namorado mais novo
usando meu avental cor de rosa, ele está descalço, os cabelos bagunçados.
—Se você não se achar bonita eu te acho bonita por nós dois ok?
—Você está todo soltinho.
—Claro, amansei a fera.
—Ah é, namorados.
—É, eu ganhei flores também.
—Sabe uma coisa curiosa sobre eles? O moço dá banca disse que quando
você dá lírios para uma pessoa você a desafia a ficar na sua vida ou coisa assim.
—“Eu te desafio a me amar” esse é o significado de dar lírios a alguém.
Minhas bochechas queimam.
—Nunca me deram flores só para constar, mas eu já dei flores para minha
ex-namorada.
—Lírios.
—Bem isso.
Cameron fala umas gírias engraçadas, mas não me importo.
—Mas foi a minha avó que me falou sobre lírios, ela dizia que meu avô
dava muitos para ela, ela me disse que um dia quando eu crescesse deveria dar
lírios à mulher que eu amasse.
—Você amou muito a sua ex?
—Sim, mas acabou, não era mesmo para ser, hoje somos amigos.
—Pelo ou menos não é rancoroso como eu.
—E o seu ex?
—Não nos falamos desde que ele me deixou plantada na igreja, mas acho
que foi melhor assim.
—Ele nunca pediu perdão?
—Não.
—Quando eu vejo esse tipo de cara eu fico pensando no quão ele é idiota,
e me pergunto que tipo de mulher se envolveria com um cara desse sabendo que
ele fez isso com outra mulher.
Olho para Cameron, ele está intrigado, guardo as vasilhas no congelador e
volto para perto dá pia, fico atrás dele e o abraço por traz, não quero falar disso.
—Obrigada por não ter ficado tão bravo comigo Cameron.
—Eu não curto ficar bravo, fico frustrado.
—Quer que eu faça um café?
—Não é bom à noite, fico sem sono, que tal vermos um filme?
—Tá.
—Acho que exagerei de manhã, só queria estar perto de você.
—Sinto muito, é que era meu trabalho, tenho que separar as coisas.
—Eu compreendi isso.
—É que quando eu saí você estava com uma cara...
—Estava decepcionado, queria muito que você deixasse eu ir, para o caso
dele te falar alguma coisa.
—Nem foi preciso, ele não estava lá.
—De toda forma quero estar com você sempre!
Cameron quer estar comigo sempre, suspiro e o aperto.
Aperto ele novamente, e ele não sabe o quanto é bom e fantástico ouvir
isso de alguém, algo verdadeiro e sincero.
—Vou cuidar de você Faith.
—Posso tomar banho com você?
Ele já entra no banheiro tirando a camisa, desvio o olhar e concordo com
um breve assentir de cabeça, pensei que ele tomaria banho no apartamento dele,
vimos um filme juntos, mas já é bem tarde dá noite, avisei para ele que viria
tomar banho, ele não disse nada, mas não sinto como se houvesse um clima
pesado entre nós dois.
Estamos mais leves depois que conversamos.
—Não precisa ficar com vergonha.—ele fala me olhando de cima abaixo.
—Aham.
Mas não é tão fácil quanto parece, estou usando apenas calcinha e sutiã,
não esperava que ele entrasse assim no banheiro, já deveria ter concluído que
Cameron é um invasor. Ele se aproxima e me puxa pelo braço, suas mãos tocam
minhas costas quando nossos corpos se tocam, me arrepio toda.
—Você não tem que ter vergonha de mim Faith, eu adoro seu corpo.
—É que eu não ando ficando pelada na frente de ninguém com frequência.
—Eu não me importo que fique pelada perto de mim, não mesmo.
Sorrio, toco sua face e analiso os traços finos de sua face, a sobrancelha
perfeitinha, o nariz, a boca dele, Cameron parece ter sido desenhado, sua beleza é
realmente incomum, talvez seja por isso que ele trabalhe nessa área, eu sei que é
algo fundamental.
—Não fique me olhando assim Faith.
—Como?
Estou espantada com sua exigência repentina.
—Como se eu fosse melhor que você, eu não sou, você é uma mulher
linda, tem que parar de pensar que seu peso atrapalha sua beleza.
Não vejo beleza alguma em mim.
—É muito gentil dá sua parte—digo e me desvencilho de seus braços.—,
mas infelizmente não é isso o que as outras pessoas dizem ou pensam Cameron.
—E a opinião deles é mais importante que a minha? Que a sua própria
opinião?—questiona um tanto sério.—Eu sou seu namorado agora Faith, acho
que seria legal se você fosse mais vaidosa e se cuidasse mais, se aceitasse...
—Está exigindo isso de mim?—pergunto meio chocada.—Só porque
estamos juntos não quer dizer que eu vou ser o que você quer que eu seja.
—Não quis insinuar isso—responde na defensiva.—Apenas quero que se
sinta bem e que se cuide mais, você não se cuida, por isso fica se inferiorizando.
—Não me cuido?—franzo a testa.—Se cuidar para você é viver num salão
fazendo a unha e o cabelo? Isso é tão superficial!
Ele fica calado.
—Bem Cameron, eu não sou como essas garotas como você sai, sou uma
mulher de verdade com muitos problemas, um deles é o meu peso, é muito fácil
me mandar mudar e ter vaidade quando se quer passou por tudo o que passei.
—Apenas quero que você enxergue a sua beleza, que se sinta bonita, para
isso precisa se cuidar, se amar mais.
—É muito fácil falar sobre amor próprio quando se é bonito.
—Eu não me baseio no que as outras pessoas falam.
—Isso é bem contraditório já que você vive dá sua aparência.
Cameron abaixa a cabeça e nega.
—Eu só quis dizer que parece que você não gosta dá sua aparência, que
talvez se você cuidar mais dela, possa melhorar e ser mais confiante.
Estou calada depois disso, ele me fita e percebo que o magoei mais uma
vez, detesto isso.
—Tenho a impressão de que você fica arrumando motivos para eu me
afastar de você sabe, você é muito complicada Faith.
—Eu não disse que não era, esse é um dos motivos pelos quais eu não me
envolvo com ninguém, eu sou muito difícil.
—Ninguém deve pagar o preço pelo seu noivado não ter dado certo.
—Eu sei disso mas não é só isso Cameron, eu tenho problemas de auto
estima, eu sou complexada com meu peso—desabafo.—Isso não é tão fácil
quanto parece, eu tive depressão um tempo dá minha vida, e estive tão
machucada durante todo esse tempo que eu tenho muito medo de me envolver
com as pessoas.
—Você tem medo que eu te machuque, mas não sabe o quanto me
machuca com esse medo Faith, quero mergulhar de cabeça no nosso
relacionamento, eu quero algo de verdade, quero algo bem maior que um caso,
você tem que estar disposta a pensar em mim como namorado e não como um
insolente.
—Mas você é um insolente.
Ele me dá um pequeno sorriso.
—Mesmo assim—continua.—Insisto que pare de querer me afastar.
—Eu já sou grossa e antissocial por natureza, pode perguntar para qualquer
pessoa que me conhece, eu sempre fui assim, não é só com você, é o meu jeito.
—Eu acho que poderia ao menos tentar não me expulsar dá sua vida assim
sempre.
—Não é intencional, eu só tenho muito medo de me machucar.
—Não quero te perder para o seu medo Faith, você é a pessoa com quem
gosto de estar.
—Você também é com quem eu gosto de estar, é só que eu não sei ser
diferente, você já confiou muito em alguém e esse alguém te feriu? Te
minimizou? Te fez sentir nojo de si própria pela sua aparência?
—Não.
Cameron segura a minha mão e me puxa, nos abraçamos com força, e isso
me acalma um pouco, não queria estar falando com ele sobre isso logo assim de
cara, mas Cameron está sendo sincero, transparente e maduro comigo, não é justo
que lhe esconda a forma como me sinto mais.
—Talvez eu possa te mostrar o quanto eu sou diferente Faith, você precisa
aprender a confiar em mim.
—Eu sei que não é sua culpa Cameron, mas as coisas levam tempo.
—Sei disso, mas precisa entender que para que eu mostre para você quem
eu sou de verdade você precisa me permitir estar perto de você.
—Me senti muito humilhada, a forma como tudo aconteceu sabe? Depois
disso eu me tranquei no meu mundo, me dediquei à faculdade e ao meu emprego.
—Eu posso entender, esse cara não é um homem de verdade.
Ele se afasta um pouco e me dá um selinho, logo começa a sair do
banheiro.
—vou tomar banho no meu apartamento, volto em vinte minutos está bem?
Meu coração vai ficando pequeno, mal acredito que ele realmente esteja
fazendo isso por mim.
—Me espera na cama.
—Está bem.
Me abraça e ele sorri meio de lado.
—Não demoro.
—Tá, estarei esperando.
Cameron pega a camisa e sai do banheiro, me sinto tocada com seu gesto e
acredito que talvez as coisas deem certo em minha vida.
—Ao menos dessa vez em algum sentido.
Acordo sentindo uns beijinhos no pescoço e não me espanto com a
escuridão no meu quarto, meu coração começa a bater forte quando ele enfia a
mão dentro dá minha blusa e apalpa meu seio, ainda que eu esteja de sutiã sinto-
me muito bem com seu toque.
Me viro e deito de costas, Cameron me beija e me sinto um pouco nervosa,
toco seu ombro e minha mão desce para suas costas, sua boca se torna faminta,
ele puxa a minha calça para baixo e eu o ajudo a tirar juntamente com a calcinha.
Me sinto uma pequena safada.
—Qual sabor você quer?
—Qualquer um.
—Chocolate!
Sorrio enternecida, acho que nunca pensei que alguém fosse gostar tanto
assim de mim, do jeito que eu sou, mesmo com o meu peso, mesmo com meus
defeitos, tão pouco que alguém me desejasse e me tratasse com tanto carinho,
cuidado...
Me deito depois que tiro a blusa, toco suas costas na escuridão do meu
quarto, ele está colocando a camisinha, depois de alguns instantes ele vem para
cima de mim, puxo os cobertores e nos beijamos.
Eu sei que uma parte de mim nunca conseguirá encarar as coisas com tanta
naturalidade, mas essa outra parte se aflora cada dia mais quando Cameron está
por perto, ele me beija infinitamente o pescoço e desce para os meus seios, vou
ficando ansiosa.
Ele puxa as alcinhas do meu sutiã para baixo e abre o feixe frontal dá peça,
depois me beija e fico com calor, toco suas costas, ele puxa a minha perna e bem
devagar me penetra, minha mão se enfia em seus cabelos e meu corpo sobe com
o seu enquanto sinto-me invadida por ele.
—Isso é bom.—sussurro entre nosso beijo.
—Sim, muito bom.—devolve baixinho.
Ele sorri e nosso beijo continua, seu corpo se move devagar, me faz subir e
descer em seu ritmo, toco sua face e ele se ergue fazendo tão... Gostoso.
Aperto os olhos e abro a outra perna permitindo que entre e saia com mais
facilidade.
—Te adoro—fala baixinho.—Te adoro Faith.
Me apoio nos cotovelos e eu o beijo com carinho, não quero que sinta que
não é especial para mim, essa é a nossa segunda vez, e eu gosto, gosto muito de
estar com ele, de fazer amor com ele, apesar de tudo descubro com ele esse lado
mais gostoso do namoro.
—Quando eu acordar amanhã não seja grossa.
—Eu não serei.
Fecho os olhos e me entrego aos seus beijos, ao seu toque, a Cameron,
simplesmente sinto que o coração está preso.
—Você é tão quentinha e apertada.
Isso sai mais como um gemido baixo, meus quadris se movem devagar
com os dele, sua boca desce para os meus seios e Cameron fica ajoelhado
enquanto se move, ele segura meus seios com vontade e sua boca beija os
biquinhos com zelo, gemo, a sensação se espalha pelo meu corpo como fogo,
muito rápida e dispersamente.
Meu corpo todo começa a reagir a seus toques, me sinto quente nesse
instante com seus beijos, seu toque, ele não tem muita experiência nem eu, bem,
acho que não tanta quanto alguma outra mulher dá minha idade, mas eu o toco,
eu o beijo, quero tanto me sentir mulher em seus braços, uma mulher que nunca
fui, uma mulher de verdade.
Ele puxa a perna a minha perna e me deito, Cameron começa a traçar
beijos carinhosos no meu pé, seus movimentos são lentos e gostosos, sua outra
mão toca meu seio, afundo a cabeça no travesseiro e continuo a me mover
devagar com ele, os pequenos beijinhos me excitam muito.
—Está doendo?
—Não pare.
Toco seu peito, e seu abdome, seguro seu quadril com força ele começa a
fazer mais rápido, se inclina e se apoia nas mãos, nos beijamos, sua língua é
quente e úmida, explora minha boca com intensidade.
Me sinto quente. Meu corpo todo se enche de uma ansiedade densa, meus
seios se tornam mais sensíveis e meu centro vai ainda mais, a sensação de
quentura toma todas as partes do meu corpo e é, muito diferente das sensações dá
nossa primeira vez, não sinto tanto incomodo nem dor, sinto um pouco mais de
prazer.
Arfo sentindo como se dentro de mim algo queimasse, meu ponto mais
sensível começa a latejar, aperto seus ombros e ele me beija me preenchendo com
mais força, Cameron morde meu ombro com tanta força que me machuca, ele
geme alto e os reflexos de seu prazer tão intensos dentro de mim, meus pés
queimam e meu quadril estremece.
Ele entra mais uma vez com força e se esfrega em mim me beijando com
força, sinto o jato forte explodir dentro dá camisinha me deixando quente, tão
quente que se torna sufocante, gemo alto me entregando ao orgasmo, um
orgasmo lento e gostoso.
Fico parada sentindo todo o meu corpo afundar na cama com alívio
delicioso, abraço ele com força e encontro seus lábios em mais um beijo quente.
—Isso definitivamente é muito bom.—fala ofegante.
—Sim.—também estou sem ar.
Ele vai para o lado, tento me mover, mas não consigo, Cameron se senta na
cama de costas para mim e depois liga o abajur, puxo os cobertores cobrindo meu
corpo de seu campo de visão, ele está suado, eu também.
Cameron abre a gaveta do meu criado e pega uma toalhinha, não sabia que
ele havia colocado coisas dele lá, as camisinhas sim, acho que ele trouxe e as
colocou lá ou coisa assim, observo suas costas, são largas, seu corpo é todo
proporcional, bonito, toco o meio de suas costas e ele olha para traz com um
sorriso calmo nos lábios.
—O que foi?
—Nada.
—Nada?
—É que foi muito bom.
—Foi?
—Aham.
Ele se vira para frente, me deito de costas, tiro o sutiã, ele está se limpando
ou coisa assim... Eu acho. Depois que termina ele se deita e puxa os cobertores,
se aconchega e se deita em meu corpo colocando me cobrindo de beijinhos no
ombro.
—Acho que mordi com muita força.
—Tudo bem.
Cameron me abraça e eu o aperto com força.
—Não esquece de não ser grossa amanhã.
—Não vou me esquecer.
E também não serei grossa... Ou ao menos tentarei não ser grossa.
—E que não vai me afastar.
—Não mesmo!
—E também que não vai ser uma completa chata.
—Ai você está pedindo demais.
Ele ri, se ergue, me fita apoiando o rosto na mão, toco seu queixo com a
pontinha do indicador.
—As pessoas nunca irão corresponder a 100 por cento das suas
expectativas ainda que se dediquem muito para fazer isso Cameron, eu tenho os
meus defeitos e te disse cada um deles de forma sincera, eu espero que você
entenda isso de coração.
—Eu não vou me afastar de você por causa disso Faith, eu entendo.
—Eu gosto muito de você.
—Não me importo com o que os outros pensam, você é a mulher que
escolhi para namorar, quero estar com você, te adoro Faith, você não sabe o
quanto isso significa para mim.
—Sei, porque significa muito para mim também, apesar de eu ser muito
difícil.
—Te adoro.
Tem muito significado em suas palavras, muita intensidade, eu o beijo e
desejo esquecer as diferenças que há em relação a nós, os meus medos, traumas e
receios, amanhã quando eu acordar, quero que tudo entre eu e Cameron seja
diferente do que tem sido, vou me esforçar muito para que seja.
Desperto sentindo um toque suave nas costas.
O meu quarto já está um pouco mais claro, mas pelas cortinas dá janela
percebo que ainda é cedo, demoro um pouco para sair do transe matutino e
quando abro os olhos completamente percebo que estou deitada em cima de
Cameron.
Vou para o lado tomada por um súbito constrangimento, puxo os
cobertores e ele se aconchega ao meu corpo, me abraça, sua perna se enfia entre
as minhas e apoia sua cabeça em cima do meu braço mantendo nossos corpos
juntinhos, o calor de seu corpo me faz tão bem.
Ele é muito carinhoso algo que acho que não sou, pois parte de mim
deixou de ser por conta das decepções dá vida, não tem como eu mudar tudo de
uma hora para outra, eu passei a ser muito seca com o passar dos anos depois do
rompimento do meu noivado, mas acho que posso reaprender a ser mais
atenciosa com as pessoas nesse sentido.
Nutro um carinho enorme por ele, gosto muito dele, e não é algo que passe
apenas com um estalar de dedo, cada momento que passamos juntos algo em
mim se abre, é como se as antigas feridas latejassem de dor inundando o receio
dentro de mim, mas também como se Cameron fosse justamente o remédio que
as faz doer para que se curem definitivamente.
Ele me abraça com um pouco mais de força, me beija o pescoço, não é
nada pessoal, ele apenas gosta muito de me dar carinho, minha mão se enfia em
seus cabelos e Cameron me fita erguendo seu olhar, depois muito devagar ele
sorri, minhas bochechas estão ficando quentes de tanta vergonha por esse sorriso.
—Bom dia—fala baixinho—Dormiu bem?
—Bom dia—devolvo e meus dedos estão tocando seu couro cabeludo.—
Seu cabelo é tão lisinho.
—Humm... Você não me respondeu.
—Ah, dormi e você?
—Muito bem.
—Isso é bom.
—Aham.
Me inclino e lhe dou um selinho leve nos lábios, mas Cameron avança e
me beija a boca com lentidão, ele vem para cima de mim e me deito de costas,
toco suas costas, os lados de seu corpo, ele é tão perfeitinho...
—Hoje eu cuido do café—fala me fitando.—Vou na padaria, pensei em ir
no meu apartamento pegar o resto das minhas coisas, o que acha?
Rápido.
—Eu quero morar com você.
—Não é rápido demais?
—Não.
Já deveria saber que ele falaria isso, suspiro, Cameron vai para o lado, mas
acho que já me conhece o suficiente para saber que eu não quero que ele venha
morar aqui, acho que devemos ir com calma.
—Eu sei que você é contra, mas eu quase não vou parar aqui, tenho
algumas temporadas, só tem malas no apartamento dá minha avó, então acho que
não seria muito difícil assim deixa-las aqui.
—Sério? E os móveis?
—Eu doei tudo, eram velhos, tinha pensado em comprar novos móveis e
mobiliar tudo de novo, mas acho que dá para eu ficar aqui, é maior que o
apartamento dá minha avó.
—Cameron...
—Faço questão de pagar o seu aluguel e as despesas enquanto eu estiver
aqui.
—Isso quer dizer que não ficará para sempre?
—Você quer que eu fique para sempre?
Reviro os olhos, ele sorri todo convencido e me abraça com tanta força que
fico sem ar.
—Eu aceito Faith.
—Aceita o que?
—Ficar com você pelo resto dá minha vida, precisamos de alianças?
—Você é tão engraçado, ha ha ha!
—Eu quase não paro, só estou aqui por sua causa, também porque tirei
esse mês por conta dá morte dá minha avó, agora, eu preciso viajar semana que
vem para uma temporada na Itália, duas semanas, você vem comigo não é?
—Cameron eu preciso achar emprego...
—Não precisa se preocupar com isso, já disse que eu pago a viagem e as
despesas.
—Não posso aceitar.
—Por que não Faith? Não estamos juntos querida?
—Estamos, mas acho que você está querendo fazer tudo muito rápido.
—Estou fazendo tudo no tempo certo, você que é lenta demais.
Ele me beija a cabeça com carinho e os meus olhos, e as minhas
bochechas, começo a sorrir me sentindo uma boba.
—Você vem comigo Faith, estamos juntos, assim descansa e esquece o que
Blade te fez.
—Não posso aceitar Cameron, de verdade.
—Mas vai, eu te quero comigo, você vai gostar de ir aos desfiles e aos
ensaios.
—Eu preciso pensar está bem?
Cameron suspira infinitamente, sei que de alguma forma o decepciono,
mas não posso ir tão rápido assim, não quero também sentir que me aproveito
dele de alguma forma, acho que temos que ir devagar.
—Está bem.
—Vamos curtir nosso tempo juntos ta bem? Só vamos devagar Cameron,
se der tudo certo posso ir com você ta bem?
—Promete que pensa com Carinho minha doçura?
Sorrio com esse apelido, ele faz com que eu o fite e me beija novamente.
—Adorei fazer amor com você ontem—ele fala.—Você e eu teremos mais
momentos assim certo?
—Sim—digo novamente envergonhada.—Eu também gostei muito.
—Você faz com que eu me sinta tão bem Faith, um homem de verdade.
—Você é muito meigo Cameron.
—É a verdade, eu nunca me senti atraído pela minha ex assim, talvez um
pouco, mas não com tanta intensidade.
—Isso é bom, não é?
—Muito bom, eu gosto mesmo de você Faith, por isso quero você sempre
por perto.
Cameron é bem direto e eu gosto muito disso, mas também me assusto
muito com a veracidade de suas palavras, o que é irônico porque eu também
gosto de falar as coisas assim, na cara.
—Tudo bem?
—Sim—digo e estou sendo bem sincera também, gosto disso no nosso
começo.—Eu só acho que estamos indo rápido demais.
—Acho que não tenho paciência para perder tempo, eu já perdi meus pais
e a minha avó, não tenho nada mais a perder, então você é a pessoa com quem
quero estar e vou estar Faith, talvez para você pareça muito rápido, mas para mim
não é.
Consigo entender ele.
—Está bem Cameron, eu vou pensar com muito cuidado e carinho na sua
proposta.
—Obrigado doçura.
—Esse apelido...
—Aff vai começar.
E revira os olhos, rio e aperto uma bochecha dele.
—Dá vontade de vender seus órgãos na internet.—digo.
Ele acaba por rir.
—Acho que pagariam uma nota—digo.—Afinal de contas, você é modelo.
—Como você é debochada—estreita os olhos para mim.—Fique sabendo
que eu sou rico graças a esse corpinho e esses órgãos.
—Ficou blavinho foi?
Cameron desperta em mim também um lado que eu acho que nunca tive,
ela me faz sentir como se eu fosse uma adolescente boba e feliz quando está ao
meu lado, cubro ele de beijos, ele gosta, e eu estou começando a aprender a
gostar muito disso também.
—Mais respeito aqui ok? Eu sou um modelo sério!
—Sei.
Ele afasta os meus cabelos para traz e me observa tocando minha face com
o indicador.
—Você é tão linda—fala baixinho.—Te adoro.
—Obrigada.
Eu não sei o que falar quando ele diz que me adora, mas é algo que se
torna frequente.
—Vou preparar o café tá bem?
—Tá.
Ele me dá um beijo gostoso e se ergue depois sai dá cama, observo o físico
perfeito, as costas largas em contraste com seus braços, ele não precisa nem ser
musculoso, e a bunda dele...
Ah Céus!
Ele olha para traz e me encara muito sério.
—Não é para vir entendeu? Eu quero preparar o seu café sozinho!
—Tá.
Estou constrangida, Cameron sai do quarto pelado, e eu abraço meu
travesseiro me sentindo a mulher mais idiota do mundo.
—Também te adoro Cameron.
Só não é o momento certo para você saber disso.
—Você gostou?
—Comi demais.
Cameron acabou não indo à padaria, quando vim para cozinha tudo
cheirava a ovos e bacon, café quentinho, também tem biscoito, pão de forma, ele
fez torrada e passou geleia, e fiquei surpresa em ver que ele estava nu logo que
entrei, não sei porque quis tapar os olhos, eu vesti uma blusa e uma calcinha, e
me senti constrangida quando ele ficou me olhando logo que entrei aqui.
Por fim, ele vestiu a cueca e me mandou sentar na mesa, nos serviu e eu
comi muito mais do que pensei que comeria, eu meio que as vezes tenho
vergonha de comer perto dos outros, sei lá, parece que ficam olhando para o meu
prato só porque eu sou gorda, mas em outros momentos como agora não liguei
muito para isso.
Ele fez questão de me dar comida na boca, me senti uma idiota por
concordar, mas ele é teimoso, não tem jeito, logo que me sentei disse que iria me
alimentar, fiquei parada e não me dei ao trabalho de responder, bem, acho que ele
me alimentou até por demais, estou explodindo.
—Lavo a louça—aviso e bebo o resto de café dá minha caneca.—Estava
ótimo, obrigada Cameron.
—Por nada—ele toca a minha coxa, minhas faces ficam quentes.—Gostou
mesmo?
—Sim, estava tudo ótimo—falo sem jeito.—Obrigada por ser tão dedicado
Cameron.
—Quero te mostrar que eu posso cuidar de você, ser o homem que você
merece.
Cameron toca a minha bochecha e fico sentindo meu coração pulando no
peito com força enquanto o fito.
—Você é tão bonita Faith, sua beleza é forte e marcante, não sei como um
homem em sã consciência poderia te deixar plantada numa igreja.
—Acho que ele não estava pronto para casar.
—Ele não te merecia.
Ele se inclina e me dá um selinho, toco sua face com cuidado.
—Obrigada mesmo por se preocupar comigo Cameron.
—É o que os namorados fazem certo?
Sorrio e lhe dou um beijinho leve.

—É.
Ele parece muito contente em ouvir isso.
—Faith eu... Eu nunca me senti assim com ninguém, quero que saiba.
Eu também não me senti assim com ninguém.
—Também nunca me senti assim com ninguém Cameron.
Nos beijamos sem pressa, toco-lhe os ombros e os braços, ele segura as
minhas mãos e entrelaça os dedos nos meus, me sinto flutuando.
—Você quer tomar uma ducha quente comigo?
—Pode ser.
Depois que digo isso vejo um sorriso esplendoroso nos lábios dele, aos
poucos sinto-me mais desprendida, mais confiante, porque sei que Cameron gosta
de mim do jeito que eu sou, ele me aceita e ele quer que eu fique sempre bem,
acho que receber um pouco de seu carinho não me fará mal pelo contrário, nunca
estive tão bem.
—Só vou lavar a louça, me espera no meu quarto.
—Tá.
Ele sorri todo empolgado, começamos a tirar a mesa, antes de ir para o
meu quarto nos beijamos, Cameron fica me abraçando com força, e quando o
vejo se afastando para o corredor do meu quarto, sorrio toda feliz. Minha
garganta se enche de suspiros, meu coração também fica disparando, não diria
que pela bela visão do rapaz que se afasta, mas por tudo o que sinto quando ele
está por perto.
Não paro de sorrir enquanto lavo a louça, tento ser rápida, termino o mais
rápido que posso, estou secando as mãos quando escuto o som de duas batidas na
porta, estranho, mas depois de três segundos, escuto cinco batidas seguidas e já
sei quem é.
—Fafa, abre a porta, eu sei que tá ai!
Brenda!
Fico calada, e totalmente paralisada com sua chegada, não pensei que ela
voltasse tão rápido, e fico agoniada só de pensar que ela pode entrar no meu
apartamento e ver o que não deve ver assim do nada.
—Fafa... Eu quero conversar.
Então me vem à mente nossa discussão e me sinto azeda.
—Eu não tenho nada a falar com você Brenda.
—Mas... Mas...
—Mas nada—digo com firmeza.
Ela sabe como eu sou, o que ela acha que eu sou? Estou cansada dela
sempre fazer isso, de brigar comigo, ir embora cheia de razão e depois voltar
querendo que eu a desculpe, tem sido assim a um longo tempo, aposto qualquer
coisa que ela e Bob fizeram as pazes por isso ela veio aqui.
—Tem certeza que não quer conversar Fafa?
—Absoluta!
—Eu volto amanhã então.
—Faça o que quiser.
Sou mal-amada e não costumo ter pena mesmo, bem, acho que paciência
com a Brenda eu já tive demais, estou cansada dos “pitis” dela, que vá ficar com
Bob, que se machuque de novo, mas que dessa vez esteja ciente de que não irei
ficar aguentando ela depois que eles terminarem ou nas crises de existência dela.
Eu só sou amiga quando ela tem crise de depressão, claro, temos tido
momentos muito bons juntas, mas para mim nós mais vivemos momentos ruins
devido a esses autos e baixos dela que me sinto cansada.
Escuto o som dos passos dela se afastando e vou para o meu quarto, meu
bom humor parece se esvair só de lembrar do que ela me falou naquele dia antes
de ir embora atrás daquele merda do ex dela, que não é mais ex agora é
namorado.
Acho que Brenda e Bob são tão infantis quanto aqueles casais que mudam
de Status na rede social a cada quatro meses para avisar que estão em algum tipo
de relacionamento, quando terminam ninguém sabe, mas quando voltam tem
direito a declaração de amor, flores, e fotos juntos.
Hipócritas.
Prefiro morrer sendo uma mal-amada do que ser assim.
—Quem era?
—A minha ex-amiga.
—Ah.
Cameron está sentado na minha cama mexendo no celular, ele levanta e
estou indo para o banheiro, estou tão brava por Brenda ter voltado e estar agindo
como se nada tivesse acontecido, mais pela cara de pau dela de me pedir para
conversar, para que? Para ela ficar me humilhando?
—Brigaram?
—Nem precisou, sabe eu odeio quando ela faz isso!
—Isso o que querida?
—Quando ela briga comigo e depois volta como se nada houvesse
acontecido.
—Pelo ou menos você tem amigos de verdade, eu estou cercado por um
bando de urubu que querem os meus contratos.
—Brenda é sem noção.
Tiro a blusa e jogo para longe, depois a calcinha, me indago sobre o jeito
de Brenda ser mentalmente, não é por causa dá depressão que ela é assim, sei que
não.
—Ela te disse algo que não gostou doçura?
—Ela nasceu.
Escuto a risadinha de Cameron de longe e entro no box, ele entra e me
puxa me virando para ele.
—Ficar brava com ela não vai te levar a nada.
—Vai sim, daí dá próxima vez que ela vier choramingar aqui, eu não vou
ser uma completa burra e aceitar ela de volta na minha casa.
Cameron liga o chuveiro e me puxa para ele, fico parada encarando-o.
—O que nos torna diferentes das pessoas é isso querida, nossa capacidade
de ama-las, se você agir como ela será igual a ela, não compensa Faith.
Nossa!
—Mas não quero falar dessa tal ex amiga, quero nosso primeiro banho
juntos algo superlegal.
—Sim.
Acho melhor deixar isso de lado mesmo, Cameron tem muito mais a me
oferecer do que ficar com raiva dá Brenda.
Estamos abraçados.
A agua cai do meu chuveiro em nossas cabeças, Cameron me agarrou e
não me solta mais, eu também o abraço, nossos corpos estão colados, e ele me faz
sentir tão bem com seu abraço. Suas mãos acariciam muito lentamente as minhas
costas, seu queixo está apoiado em meu ombro, ele é um pouco mais alto que eu.
Minhas mãos estão acariciando suas costas também, seu corpo é quentinho, ele é
tão... perfeitinho.
Mal entrei no box e ele já foi me abraçando, estava coberta de vergonha
por ficar nua, bem, ainda estou, mas a cada instante ele me passa confiança e
carinho, isso me deixa um pouco mais a vontade em relação a Cameron.
Meu corpo não é lá essas coisas, em comparação a ele então... Me sinto
como uma mãe de três filhos que amamentou e engordou durante a gestação, meu
corpo é tão flácido que as vezes me dá nos nervos, esse é um grande motivo pelo
qual eu decidi que não queria ter filhos, se já sou gorda assim, nem quero me
imaginar grávida, seria a grávida mais ridícula que existiria na face dá terra.
Se tornou tão comum ver garotas magras grávidas na tv, nos comerciais,
nos filmes, enfim, em tudo que fica bem fácil pensar no quanto uma garota gorda
deve se odiar a partir do momento que descobre que sua gestação não será como
a gestação dessas supostas mulheres, sei que sou preconceituosa, e que o mundo
não gira em torno dá minha forma de pensar, mas é isso o que tenho a impressão:
Garotas de número menor são mais felizes, mais bem casadas, sempre
estão namorando, sempre estão em cargos bons nos empregos e são bem
sucedidas em suas carreiras, enquanto nós, garotas gordas nem sempre podemos
falar o mesmo em relação a todas as fases de nossas vidas.
Com sorte, eu consigo um emprego no concorrente começando com o um
cargo na xerox, Blade com certeza não dará boas referências minhas para
ninguém, nem recomendações, isso provavelmente vai arruinar minha “quase”
carreira de redatora.
—Você está tensa—Cameron fala baixinho.—O que é Faith?
—Meu emprego, preciso resolver isso logo—respondo incerta.—Estou
com medo de ficar desempregada.
—Eu te ajudo Faith, não precisa ficar com medo, eu posso pagar suas
contas.—ele fala convicto.
Meu coração fica pequeno, porque me sinto lisonjeada e preocupada ao
mesmo tempo, não quero que Cameron acha que só porque está comigo tem
alguma obrigação de me sustentar ou algo assim, eu não sei como as condições
financeiras dele andam, mas com certeza não tiraria proveito disso em nenhum
sentido.
—Você não tem nada a ver com isso—digo sincera.—Eu vou tentar
arrumar outro emprego.
—Besteira—diz baixinho e encara.—Deixa disso Faith, estamos juntos,
somos namorados, eu não me importo de te ajudar.
—Apenas comentei, não quero te dar despesa.—confesso sem graça.
—Não vai dar—responde, seus olhos castanhos me analisam com cuidado.
—Dinheiro não é problema para mim Faith, ele foi feito para solucionar
problemas.
—Falou o Garoto Ricaço!
Ele sorri, me dá um selinho, e outro beijo, e me aperta, me derreto toda
com seu sorriso, ele é tão... Doce!
—Debochada—acusa mas ainda sorri.—Você acha que eu não tenho
dinheiro?
—Eu não disse isso—corrijo.—Só não quero que pense que tem
obrigações comigo, você tem a sua vida e eu a minha, eu sou preocupada assim
mesmo Cameron, é o meu jeito.
—Você é muito responsável.
—Talvez.
Me considero mesmo paranoica, mas é que para me manter em Nova York
eu sei que tenho que trabalhar e ter uma renda.
—Mas fique despreocupada—Cameron fala e toca a minha face.—Você é
tão linda.
Sorrio morrendo de vergonha com o elogio, desvio o olhar, ele segura a
minha face e a ergue me forçando a fitá-lo.
—Eu estou falando sério Faith, você é linda, perfeita para mim, não precisa
ter vergonha do seu corpo.
—É meio difícil sabe? Me sinto constrangida por isso, e idiota.
—Por quê?
—Sou mal feita de corpo Cameron, parece que só você não vê o quanto eu
sou feia, o quanto o meu corpo é grande e desproporcional—me sinto péssima em
falar isso, mas é a verdade.—Meu corpo não é perfeito, você é muito jovem e
com certeza merece uma garota com tudo em cima sabe?
Cameron não responde, sinto como se estragasse lentamente nosso
momento juntos, quero chorar, eu não queria que fosse assim.
—Me sinto péssima, eu não mereço estar com você Cameron...
—Não fala isso está bem? Estamos indo bem Faith, não estraga nossos
momentos por medo.
—Você não tem medo de nada?
—Não tinha, até te conhecer, agora tenho medo de perder você.
Ele nega com a cabeça e se afasta, fica me fitando, os maxilares trincados,
tão sério que começo a ficar inquieta.
—Eu acho que talvez você esteja interpretando as minhas intenções de um
modo superficial Faith, eu não sou esse cara que você pensa, eu não vejo
problema algum no seu corpo, eu gosto dele assim.
—Cameron, eu peso quase 100 quilos, isso é demais.
Meus lábios começam a tremer sutilmente, porque parece inevitável
chorar.
—Me desculpe—peço sincera.—Eu não queria ser assim, eu não queria
estragar tudo de novo.
—Você não estragou Faith—ele fala e toca a minha face com carinho.—Eu
gosto muito de você desse jeito, não precisa ter medo de julgamentos, eu te aceito
assim, eu adoro cada pedaço do seu corpo.
É muito impossível que um homem me fale isso de uma forma tão sincera,
mas Cameron diz, e diz de uma forma tão concreta e transparente que me sinto
cheio de um sentimento de ternura e até mesmo alivio, conforto.
—Gosta de mim Faith? Me aceita como eu sou?
—Claro que sim...
—Isso é o que basta para nós dois.
Seguro sua mão e faço que sim com a cabeça, Cameron se aproxima
novamente e me beija com carinho, correspondo, as lágrimas são levadas com a
água do chuveiro, meu coração se acalma enquanto ele me beija, me abraça, e por
mais que meu tamanho seja significativo, me sinto pequena entre seus braços.
—Eu sou louco por você Faith, você não vê? Eu não consigo parar de
pensar em você um segundo se quer desde que nos conhecemos, eu me sinto tão
idiota em dizer isso, mas eu não quero que fique longe de mim, eu quero você
sempre perto de mim, eu faço qualquer coisa para que você me aceite e fique
comigo.
—Não será um caminho fácil Cameron, eu sou uma pessoa com marcas
feias no corpo—digo a força.—Na alma!
—Eu não vou desistir.
Eu não sei se conseguiremos viver isso juntos até o final, começo a querer
coisas que são impossíveis para mim por causa desse garoto, ele mais do que
tudo.
—Fiz café.
—Obrigada.
Acabo de acordar, acho que dormi demais, já parece ser bem tarde, checo o
celular, 16:23... Poxa!
—Me deixou dormir esse tanto?
—Você parecia cansada.
Depois do banho viemos para cama, me cobri até o pescoço e Cameron e
eu decidimos dormir, nunca fiz isso na vida, também não me sinto uma completa
irresponsável, estou bastante relaxada, acho que os acontecimentos do jornal
estavam me estressando demais, estar em casa tem sido muito bom.
—Fui ao mercado—ele fala e me entrega a caneca com café.—Não quero
reclamações ok?
—Vai adiantar?
—Não muito.
Ou nada.
Cameron colocou uma cueca samba canção de cor preta folgada e usa uma
camisa minha, acho meio ridícula a ideia dele usando uma camiseta minha do
Mickey, mas se ele quer... Quem sou eu para questionar? A camisa ficou folgada
para ele, e eu meio que me sinto um pouco incomodada com isso, mas melhor
não ficar falando sobre isso nesse momento.
—Comprei os ingredientes para fazermos um bolo e a ração do Beans,
preciso te falar uma coisa.
—Fala.
—Eu estava pensando se você não quer comprar uma cama maior para nós
dois, o que acha?
Parece que ele tem medo de falar ou coisa assim, mas acho que por um
lado isso não tem a ver com o meu peso, Cameron que dividir a cama comigo
enquanto estiver na cidade e não apenas isso, ele quer morar comigo, assumir
responsabilidades, por mais que eu ache que não esteja pronta acho que ficar
também renegando isso é uma grande falha, porque ele vai continuar insistindo, e
isso vai se tornar algo cansativo e chato.
Vai nos magoar acima de tudo, porque ele gosta mesmo de mim, por mais
inacreditável que pareça e eu também gosto muito dele.
—Gosto de espaço—ele fala me analisando.—Você não?
—Eu ocupo muito espaço Cameron, são duas coisas bem diferentes...
—Faith para!
Estou sorrindo, ele afasta meus cabelos para traz dá orelha, me sinto idiota
com seu olhar punitivo.
—Te adoro Faith, é apenas melhor para nós dois esta bem? Quero que
tenha conforto, sua cama não é de casal mesmo, não para nós dois dormirmos e
termos conforto, isso não tem a ver com o seu peso.
—É de casal, ela só não é grande o suficiente para dois espaçosos.
Ele sorri, enrola os meus cabelos entre os dedos, não estou muito a vontade
de ficar assim nua diante dele, meus seios expostos, mas sei que se ficar
morrendo de vergonha por conta disso, as coisas vão desandar, parece que cada
momento que passamos juntos percebo que talvez isso nos atrapalhe a continuar
com nosso relacionamento.
—Vou preparar uma salada para nós dois com bife, que tal?
—Você é muito bonzinho.
—Quero que tenha motivos para não me expulsar dá sua vida.
—Hummm... Se você continuar a me mimar assim posso deixar você ficar
por um bom tempo.
Cameron sorri e me dá um beijinho suave, acabei me apegando muito a
ele, por sua forma de ser, por carência, quem sabe? Eu não quero que ele vá
embora, eu quero ele comigo aqui... Sempre, mesmo que isso seja algo
impossível, pedir demais.
—Acho que temos que fazer exames de sangue, não acha?—Cameron
questiona se afastando um pouco.—Você tem que tomar algum contraceptivo.
Concordo.
—Pode ser, não queremos que coisas ruins aconteçam não é mesmo?—
respondo incerta.
—Você não pensa em ter filhos?
—Não tenho mais físico nem idade para isso Cameron.
Parece impossível conversar com ele sobre esse assunto sem que pareça
complicado ou coisa assim, para qualquer pessoa é comum falar de filhos e
prioridade, para mim é estranho e distante, matei todos esses sonhos dentro de
mim porque era mais fácil do que ficar sentindo vontade de coisas que eram
impossíveis para mim.
Se eu tivesse casada hoje talvez tivesse tido um ou dois bebês, sempre quis
ter filhos, cresci numa família cheia, cercada de irmãos e irmãs, tenho sobrinhos,
mas infelizmente essa não foi a minha realidade, meus sonhos acabaram num
altar de igreja quando fui abandonada, naquele dia eu percebi que não teria nada
do que a maioria das garotas dá minha idade tinham, pelo contrário, meus sonhos
foram um a um mortos depois daquele momento difícil.
—Eu quero bebês—Cameron fala me trazendo para realidade.—Posso
esperar você aceitar o meu pedido.
Engulo o café a força.
—Tipo, de ficarmos juntos mesmo, eu quero ter uma família Faith.
Um sonho muito bonito, simples, mas que custa um preço muito alto, ao
menos para mim, nesse momento dá vida, não tenho mais vontade de formar uma
família, já sofri tanto com desilusões que hoje tudo o que me tornei foi um vaso
vazio, seco e insensível.
—Não é para agora—ele comenta vagamente.—O que foi Faith?
—Eu não quero ter filhos—esclareço.—Eu também não acho que sirva
para ser mãe de família e essas coisas...
—Você não tem que achar nada, disse que não é para agora querida, para
de sofrer por precipitação.
—Você às vezes é muito grosso Cameron.
—É que às vezes eu acho que você é igual a Hannah Baker dos Treze
Porquês!
Franzo a testa, não faço a menor ideia do que ele está falando.
—Treze Porquês... Hannah Baker... Clay Jensen... Jeff... Netflix... Oi?
Eu o encaro ainda confusa, Cameron começa a ficar vermelho e percebo de
que não faço um pingo se quer de ideia do que ele fala, e ao perceber isso, ele
sente vergonha.
—É uma série, nunca ouviu falar?
—Não assisto séries.
—Não? Sério?
—Não tenho tempo para isso Cameron.
—Eu assisto sempre que viajo, vi mesmo que você tem o aplicativo, mas
sua biblioteca está vazia.
Bebo um pouco de café.
—E o que tem essa... Haanah?
—Ela é depressiva, só fala coisas como: “sou vazia, sou idiota”, e ela não
se sentia merecedora do amor.
Isso é muito, muito eu mesma!
—Quer assistir comigo? Podemos fazer uma maratona.
—Bom, se você quiser por mim tudo bem.
Qualquer coisa a ficar esmiuçando esse assunto, não quero discutir
também.
Cameron é jovem, nunca sofreu decepções, ela não sabe o quanto é difícil
passar por coisas como eu passei, ele nunca saberá, simplesmente ele tem tudo
para se dar bem na vida, e eu, fui apenas alguém ingênua e tola para saber demais
em um alguém que não merecia, e ainda que isso não seja culpa do Cameron, eu
tenho muito receio de que tudo dessa vez saia muito errado, e eu acabe de novo
arruinada, por isso não quero criar expectativas, quero deixar tudo ir
acontecendo, ser der certo tudo bem, mas se não der, ao menos terei o consolo de
que sempre soube que seria apenas algo momentâneo.
—Podemos cozinhar depois que fizermos o bolo.
—Não entendi porque você fez compras de novo.
—Eu não havia comprado meu suplemento e as coisas para minha dieta.
Ele faz dieta!
Não sei o que falar.
—Eu gosto de comer bem e sigo uma dieta mais regrada Faith, por conta
dá minha profissão.
Parece que ele está me dando uma bronca.
—Eu não disse nada.
—Nem precisava, só o jeito como você me olhou disse tudo.
Estou constrangida depois disso.
Cameron levanta e me olha tão magoado que me sinto mal.
—Me desculpe Cameron, eu não tinha a intenção.
—Eu fico pensando como você que sofre tanto com o preconceito e tem
tanto preconceito dentro de si própria—fala chateado.—Tenho te dado tanto de
mim e tudo o que você sempre me dá na maioria das vezes é incerteza e dúvidas,
quando não é isso, me olha como se eu não fosse merecedor de nada.
—Cameron...
—Eu estou muito apaixonado Faith, eu estou me entregando muito a tudo
isso, só espero que você não faça pouco mais de mim pela minha idade ou pela
minha profissão, ela é tão digna como qualquer outra.
—Eu não disse isso, só fiquei surpresa, eu também gosto muito de você.
—Você pareceu debochar de mim, sempre faz isso quando falo algo dá
minha profissão.
—Não é a minha intenção Cameron, me desculpe.
Ele não responde e fica calado.
—Vou ver tv...
—Cameron para com isso tá? Eu já me desculpei, eu não queria te
machucar.
—Só não fica me olhando como se eu fosse um ridículo tá bem?
—Não era a minha intenção—repito e me levanto, seguro os lençóis
envolta do meu corpo e deixo a caneca no criado, me aproximo dele.—Eu não
quis te magoar Cameron, me desculpa.
Ele me olha de cima abaixo e depois me abraça com força, assim do nada.
—Está bem, eu perdoo, mas só se você me prometer que não vai mais ficar
me olhando assim quando eu falar de algo sobre a minha profissão ok?
—Eu prometo.
E o beijo.
Não quero brigar, nem discutir.
—Vem ver o seriado comigo?
—Só vou colocar uma roupa.
—Para que roupa?
Sorrio, acabo por concordar e vamos abraçados para sala.
Acho que ele tem razão afinal de contas, estamos apenas eu e ele no meu
apartamento, ele gosta do meu corpo e me aceita, não preciso morrer de vergonha
por ficar nua perto do meu namoradinho preciso? Então... Para que roupas?
— O que foi?
—Nada.
Desconfio desse "nada", mas apenas sorrio. Cameron beija o meio dos
meus seios e acomoda a cabeça entre eles me abraçando, ele é tão carinhosinho
que me sinto superbem ao seu lado, à vontade. Tomamos café mais cedo e
estamos vendo a série que ele falou.
Resumindo: Drama Adolescente.
Mas um drama adolescente cheio de intrigas, brigas, abusos e uma porção
de coisas nas quais me interesso muito, principalmente entre tudo isso um tema
muito pouco comum que vejo em filmes ou séries atuais: bullying.
Me senti impactada com a profundidade do assunto, e me cativei pela
estória dá personagem principal, Haanna, tanto que foi como se de alguma forma
o que Cameron disse sobre eu ser parecida com ela, fizesse algum sentido, as
melancolias, as tristezas, a angústia, e a forma como vejo o mundo são bem
parecidas com a forma na qual a personagem coloca.
Suas frustrações e angústias são bem definidas e ela é marcada por uma
série de coisas ruins que a levaram ao suicídio, coisa que confesso que já pensei
cometer também, algo que é tão banal, mas tão comum, que me fez pensar em
como milhares de garotas se sentem por ai, Haanna por seus complexos e
expectativas que sempre deposita nas pessoas, e eu com o meu excesso de peso e
um quase casamento frustrado.
Não somos tão diferentes afinal.
Ela passou por tantas coisas, eu também passei e passo, mas descobri em
Haanna alguém muito próxima de quem eu sou só que, porém em fases diferentes
dá vida, às vezes me sinto muito vazia e incapaz de gostar das pessoas, de deixar
que elas se aproximem, em outros momentos, tenho certeza de que faço certo em
mantê-las afastadas, Blade é um exemplo vivo de que o preconceito existe e estar
aberto as pessoas, significa estar suscetível a críticas, coisa que venho evitando
com todas as forças.
—Você está tão calada.
—Gostei dessa série, amanhã quero terminar de vê-la.
—Eu disse que você é igual à Haanna.
Sorrio ignorando-o por completo.
—Nem tanto, Haanna é mais infeliz, eu ainda tenho o Beans para tornar
meus dias felizes.
—Não está esquecendo alguém nessa lista?
—E você é claro.
Ele se ergue e me beija, sua mão se enfia nos meus cabelos e toco seus
ombros, ele sobe em meu corpo explorando a minha boca com gentileza,
Cameron me trata tão bem, ele é sempre tão cuidadoso comigo.
—Vamos jantar fora?—pergunta.—Que tal um restaurante japonês?
—Pode ser.—gosto dá ideia.
Não almoçamos, comemos biscoitos e fiz outro café, qualquer coisa para
não perder os episódios, no final das contas, o dia passou muito mais rápido, eu já
tinha acordado mesmo mais tarde, mas não me importo muito com isso.
—Quero te dar uma coisa.
—Quer?
—Aham.
—O que é Cameron?
—Um presente!
Não ganho presentes com frequência, exceto pelos meus aniversários sem
graça ou quando a minha ex-amiga Brenda decide me dar alguma rosquinha.
—É uma rosquinha?—adoro rosquinhas.
Ele me encara e sorri.
—Não!
—Desculpe, é mal de gordo.
Cameron se ergue e me olha mais sério, fico sem graça.
—Tá, parei, agora fala o que é.
—Você tem que prometer que não vai devolver.
—Eu prometo.
—E que vai usar.
—Anda logo.
Estou supercuriosa.
Cameron se levanta e vai até uma de suas mochilas e malas que deixou
num canto dá sala, acho que vou ter que arrumar um lugar no meu armário para
colocar as coisas dele, ao menos quando estiver aqui.
Ele traz a mochila e me sento no sofá, pego um travesseiro e coloco diante
de mim, Cameron abre a mochila e retira de dentro dela uma caixinha de
presentes pequena.
—Você prometeu.
—Tá—tomo a caixinha dá mão dele.—Meu presente.
Ele sorri, algo tão lindo que me sinto derretida.
—Tão delicada.
—Sou mesmo.
Abro a pequena caixa rapidamente, não é muito grande, acho que pode ser
uma pulseira ou coisa assim, talvez um colar, quem sabe uma daquelas
pulseirinhas com pingentes, gosto de usar joias apesar de não ser muito vaidosa,
às vezes até uso tornozeleiras. Abro a caixinha de madeira antiga e depois quando
vejo o pequeno anel diante de mim, fico boquiaberta.
—Faith, você quer ser a minha namorada?
—Faith?
—Estou pensando, espera.
Cameron se inclina e me rouba um beijo, ele toma o anel de mim, e
rapidamente segura a minha mão, enquanto me beija, enfia o anel no meu dedo
anelar direito com todo o cuidado do mundo, depois se afasta e observa a minha
mão então a beija.
Isso me enche de carinho por ele.
—Isso é um sim!—afirma e me fita, um sorriso maroto nos lábios.—
Certo?
Lhe dou um sorriso, me sinto tão comovida que quero chorar.
—Sim.—confirmo.
Cameron sorri ainda mais, os dentes perfeitinhos e retos, o mais incrível
nele sem sombra de dúvidas é o contraste de seu rosto quando sorri, a forma
como parece que seus olhos sorriem quando ele sorri.
Sinto vontade de morder ele, e também de chorar, porque isso me traz
recordações profundas de como talvez eu tenha me enganado em relação ao amor
e tudo o que vivi no meu passado.
Talvez eu deva me dar uma chance de ser feliz, de tentar prosseguir com
ele, mesmo que não dure... Mas então deverei aproveitar o tempo que durar ao
lado dele.
Eu sei que esta é a maior loucura que eu poderia fazer na minha vida, me
apaixonar por um garoto tão diferente de mim, mas acho que estou muito mais
que envolvida com Cameron Morgan, eu gosto muito mais dele do que eu pensei
que poderia gostar de alguém, eu o quero por perto.
Porque não podemos namorar?
Ainda que talvez eu realmente nunca me sinta uma mulher bonita ou
completa ao menos ele parece gostar de mim também, me aceita e quer estar
comigo, e eu sei que não é mentira, porque seria mentira?
Cameron já deu muitas demonstrações de que gosta de mim, de que me
quer ao seu lado, eu quero sim ser sua namorada, eu quero sim poder curtir um
pouco desse momento ao lado dele, ele é muito especial para mim.
—Obrigada é lindo.—consigo falar e me ergo.
Não posso falar tudo o que sinto, não por vergonha, mas porque não
consigo entregar meu coração assim de cara para ele, não posso dizer que estou
apaixonada para Cameron e correr o risco de daqui a alguns meses tudo isso não
passar de uma grande ilusão, por mais que a minha vontade de estar com ele seja
subitamente crua e forte, é a coisa mais forte que sinto na minha vida, mas não
posso.
—Você está feliz Faith? Gostou mesmo querida?
—Sim, é perfeito.
E também parece muito caro.
—Eu vou tomar um banho—digo sem graça.—Obrigada pelo anel, é lindo.
—Vou com você.
—tatá .
Não sei como reagir, não ganho tantos presentes com frequência, Cameron
passa o braço envolta dá minha cintura e vamos juntos para o banheiro, ele se
despe e entro no box ligando o chuveiro, me sinto um pouco nervosa, algo que
não deveria sentir e uma dúvida me vem a mente.
—Você tem certeza de que você...
—Faith não começa, eu tenho sim certeza de que quero te namorar.
—Está bem.
Ele me fita bastante sério.
—Olha, eu sou muito responsável Faith, você está muito apegada ao
detalhe dá minha idade, mas eu sempre fui dono de mim e das minhas ações, eu
gosto de você, mas tem que parar com isso.
—Não é pela sua idade Cameron, é que acho isso muito sério mesmo, é
uma decisão importante.
—Te pedir em namoro?
—Me dar um anel também, suponho que tem bastante significado para
você.
—Tem, eu comprei pensando em você, quero muito poder ter algo mais
sério com você.
Me sinto lisonjeada constantemente perto dele.
—Você sabe que não terá mais volta Cameron?—desvio o olhar.
—Eu não quero que tenha volta Faith—responde mais sério.—Olha para
mim, será que você não entende?
—Eu quero algo sério também Cameron, estar com você é muito bom,
sinto que posso ser eu mesma sem ter medo de mostrar o meu corpo...
—Nem deve ter medo, o seu corpo é lindo Faith, precisa ser cego para não
ver.
Sorrio com sua gentileza e o abraço sentindo que posso chorar um pouco,
Cameron me aperta com força e me beija o ombro.
—Vou cuidar de você querida.
Espero que sim.

Entramos no restaurante e procuramos uma mesa.


Cameron segura a minha mão enquanto vai na frente olhando envolta, ele
usa uma calça jeans largada e camiseta preta, mas colocou um moletom cinza por
cima, boné, tênis, vesti um jeans e uma blusa básica, calcei um par de sapatilhas
de cor preta e coloquei um casaco por cima, esfriou um pouco essa noite, mas
está até agradável.
Achamos uma mesa mais afastada e nos sentamos no chão, é um
restaurante de comida japonesa que fica a duas quadras do meu prédio, gosto
daqui, já vim algumas vezes com a minha ex-amiga Brenda, é sossegado e
silencioso, ainda que hoje esteja mais cheio.
A decoração é simples e o cheiro de comida japonesa se espalha por todo o
lugar.
—Já veio aqui outras vezes?
—Sim, e você?
—Vim uma vez, gostei do maguro daqui.
—E bom né?
Ele segura a minha mão em cima dá mesa e sorri, coro.
—Sim—responde analisando o anel em meu dedo, sorri de novo feito
bobo.—Estou muito feliz Faith, eu pensei em comprar um anel para mim
também, o que acha?
—Que rapaz comprometido!—exclamo, mas por dentro estou me
derretendo.
—Você não me conhece Faith, não sabe que eu sou alguém sério, para
casar!
—Bom.
—Primeiro quero te mostrar que eu gosto mesmo de você.
A simplicidade estampada em seu olhar me cativa a cada momento, depois
que tomamos banho juntos ficamos em silêncio, me seguei e me vesti enquanto
Cameron fez o mesmo, então viemos para cá e não haviam palavras para eu falar,
ele também não disse nada.
—Claro.—tento sorrir.
É que às vezes quando ele soa muito doce, sinto dentro de mim, uma
vontade imensa de chorar, porque nunca nenhum homem foi assim comigo, nem
mesmo Timmy, ainda que não tenha base, pois não tive outros namorados além
dele, apesar de sempre cumprir com o “papel de namorado” ainda sentia ele
meio frio comigo.
Com certeza porque não me aceitava, não aceitava completamente meu
corpo nem como eu era, com Cameron eu não tenho esse problema, ele vem
demonstrando fortemente que não se importa com as gordurinhas a mais que
tenho, com a celulite nem com as estrias, tão pouco com a flacidez do meu corpo.
—Vou pedir uma barca—ele fala.—Que tal?
—Pode ser.—entrelaço os dedos nos dele.
Quero ficar com Cameron, estar com ele tem me feito um bem tão grande
que mal sei explicar, confio nele, ele é diferente de Timmy, eu sei que sim.
—Vem para cá.—ele indica o canto ao seu lado.
Dou de ombros e sorrio, me ergo e fico de pé, dou a volta na mesa e me
sento ao seu lado direito, ele passa o braço envolta dá minha cintura e me beija de
leve, minhas bochechas vão ficando ainda mais vermelhas.
O garçom do lugar se aproxima com o cardápio, ele me puxa e ficamos
sentados juntinhos, pego o meu cardápio e ele o dele, Cameron quem faz o
pedido, ele pede uma barca e suco natural, o rapaz se afasta depois que anota o
pedido e leva consigo os cardápios, ele passa o braço envolta dá minha cintura e
se recosta em mim mantendo o cabeça apoiada no meu ombro.
—Por favor, diz que vai vir comigo viajar—fala.—Eu te quero pertinho de
mim Faith.
—Eu tenho que pensar Cameron...
—Pensar em que?
—Eu tenho a minha vida.
—Não vejo porque você não vir comigo, não vai te arrancar pedaço.
Me sinto muito tentada, mas meu senso de responsabilidade fala bem mais
alto.
—Preciso ir na empresa para resolver tudo Cameron, tenho que procurar
um advogado, tantas coisas a resolver.
—Podemos resolver isso antes de eu ir, eu mesmo posso contratar um...
—Cameron eu não quero que fique gastando dinheiro comigo.
—Você é a minha namorada Faith, como espera que eu haja? Eu tenho sim
que te ajudar.
Não me irrito, mas também não gosto disso, não quero ficar dependendo
dele para nada, não é do meu feitio, também não quero seu dinheiro, não sou
aproveitadora.
—Não seja orgulhosa—pede.
—Eu não posso aceitar, amanhã eu vou na empresa e vou começar a
resolver logo isso.
—Você vem então?
Tem como resistir?
—Sim.
—No que você está pensando?
Olho para o lado.
Há muito tempo eu não sabia como era ter a companhia de alguém, como
era deitar na cama a noite e dormir abraçadinho, na verdade ainda desconheço
muitas coisas dá convivência a dois, as minhas experiências não foram muitas
quanto eu queria.
Cameron e eu jantamos e viemos para casa, não falamos sobre muitas
coisas, ele me contou um pouco sobre a viagem, sobre como vai ser a viagem, ele
me disse que devo ficar despreocupada, pois ele vai cuidar de tudo, me sentia
novamente como uma adolescente apaixonada, trocamos beijos, olhares, mas
estávamos tão conectados que de repente tudo estava no lugar.
Viemos para o meu quarto e enquanto me despia ele me puxou para cama,
não resisti aos seus beijos, ainda tenho um bocado de vergonha, mas foi tão
gostoso, ele é muito carinhoso comigo, gosta de me dar atenção e se preocupa
comigo, e isso é muito bom, torna tudo muito mais prazeroso.
—Gosto muito de você—digo sincera.—Você é uma pessoa muito
carinhosa e atenciosa comigo.
Cameron sorri e se aconchega, ele me abraça e me beija, me deito de
costas e puxamos os cobertores, ele coloca a cabeça entre meus seios e acaricia
um com muito cuidado.
—Já se sentiu vazia?—pergunta ele baixinho.
—Sim, às vezes.
—Eu era muito vazio antes de te conhecer Faith, você faz com que eu me
sinta alguém diferente de quem eu sempre fui.
Ele fica calado por alguns momentos.
—Só quero que prometa que não importa o que aconteça você vai sempre
gostar de mim Faith.
—Acho que essa promessa é fácil demais.
Ele ergue a cabeça e sorri, toco-lhe a face com carinho, tem tantos
sentimentos em mim acumulados em relação a esse rapaz, tantas coisas, mal sei
como explicar.
—Durma—digo.
—Promete.
—Prometo.
Depois que falo ele me beija, não consigo imaginar o porquê ele se sente
tão inseguro, mas não questiono, acho que é coisa dele mesmo, seja como for, a
minha promessa ficará intacta.

Acordo e estou sozinha na cama.


Abraço o travesseiro dele, cheiro o tecido me sentindo uma grande boba,
escuto o som dá voz de Cameron vinda dá sala, acho que ele fala ao celular, a
porta do quarto está meio encostada, fico por alguns instantes olhando para o teto
e abraçando seu travesseiro, sentindo o cheiro bom que ele deixou para trás, mas
me deixo levar pelo som de algo diferente de sua voz.
Fico um pouco dura na cama ou ter a impressão de que ouço a voz de uma
outra pessoa, espero mais alguns segundos sem conseguir compreender bem o
que ele fala, só que escuto novamente uma voz feminina, e não parece ser o som
dá tv.
Me ergo imediatamente, tento não fazer barulho enquanto saio dá cama,
me enrolo nos lençóis e abro a porta afim de escutar a voz dele, me sinto
paranoica ao imaginar de que ouvi a voz de mais alguém no meu apartamento, a
voz de uma mulher, contudo enquanto ando pelo meu corredor, escuto novamente
a voz feminina confirmando definitivamente as minhas suspeitas.
—... As coisas não são assim Cam!
A voz dela é rude, porém fina, me sinto arrepiada dá cabeça aos pés em
ouvir a voz dessa mulher.
—As coisas são sim assim Loryanne—Cameron soa ainda mais sério.
—Você tem noção do que os estilistas vão pensar quando souberem que
você está namorando uma garota gorda?—pergunta a voz dá mulher.
Meu corpo todo novamente se enche de arrepios, acordar de manhã e logo
de cara ouvir isso de alguém é estranhamente ruim, parece que acabo de tomar
um soco forte no estômago.
—Eu não me importo...
—Isso vai arruinar sua carreira—corta a mulher.—Isso tem que acabar, ou
seus contratos serão todos cancelados.
—Pois que cancelem, eu estou namorando com a Faith, eu também não sei
o que você está fazendo aqui eu disse que não era para você vir.
—Cameron, você só está fragilizado, essa garota é algo passageiro.
Isso lentamente vai fazendo com que meu coração fique mais e mais
apertado.
—Você só tem 21 anos Cameron, como pode estar apaixonado por essa
mulher? Talvez ela seja uma oportunista, este é o momento em que você está no
auge dá sua carreira.
Ele mentiu para mim sobre a idade dele?
—Eu gosto dela, ela é o que eu mais quero.
—Você também amava a Connie, o que era perfeitamente bom para você,
vocês dois são jovens, bonitos, a cara das revistas, isso era bom para você.
—Faith também é linda.
—Cameron, ela é uma baleia!
Fico paralisada, dividida entre entrar na sala e acabar com isso agora ou
permanecer onde estou, porque parte de mim está imutável em saber que
Cameron está apaixonado por mim, ainda que ele não tenha dito que me ama, e a
outra parte, despertada por um horror e uma revolta em ouvir “não sei quem” me
chamar de baleia.
—As pessoas não podem imaginar, um super-modelo em ascensão com
uma mulher velha e gorda...
—Acho melhor você ir Loryanne, eu não quero que a Faith saiba que você
está aqui sem a permissão dela.
—Você está se ouvindo?
—Sou maior e vacinado, eu acho que você é a minha agente e não a pessoa
que tem que interferir na minha vida pessoal.
—Eu sei o que é melhor para você e estar com essa mulher não é o melhor
para você Cameron, você vai destruir a sua carreira, vocês não combinam, você
vai perder os seus trabalhos.
—Tanto faz.
A voz dele assume uma indiferença latente.
—Essa é a sua última palavra?
A Voz dela é inflexível e irritada.
—Tchau Lory!
Não sei como me sentir, escuto o som dos passos e logo a porta dá sala é
aberta e fechada, então meu apartamento fica absolutamente silencioso de
repente.
Meu coração corroído e quebrado.
O que devo fazer?
—Você mal tocou na omelete.
—Acordei meio sem fome hoje.
—Mas tem que comer querida, come só mais um pouquinho.
Me sinto mal e não consigo comer.
A alguns minutos eu ouvi alguém que não conheço, se quer vi ou sabia dá
existência, falar coisas horríveis sobre mim, sobre meu peso, minha idade, e isso
me feriu muito. Então fui para o banheiro, liguei o chuveiro e me enfiei lá por um
bom tempo, mal consigo olhar nos olhos de Cameron depois que vim para a
cozinha, mas sabia que tinha que encará-lo, pois ele não sabe de nada.
Ele fez o café e me recebeu com um pequeno sorriso, mas nada em seu
sorriso denunciava tristeza ou receio, pelo contrário, eu nunca pensei que alguém
tão jovem fosse ser tão estranhamente maduro em relação a esse tipo de situação.
Dentro de mim, sinto que devo acabar com isso neste momento, mas então
me lembro das palavras de Cameron em relação a mim, o quanto ele parece
gostar de mim e desisto, porque não é justo com ele, tão pouco o que quero.
Contudo não quero estragar sua carreira, e sei, que por ele se sujeitar a
estar ao meu lado isso vai impactar muito em seu trabalho.
—Quer que eu te obrigue a comer querida?
—Não—digo e bebo um pouco do meu café.
Admiro muito todo o zelo que Cameron tem em relação a mim, também
não posso simplesmente virar as costas para o que sinto, ainda que abalada,
acredito que largar o barco assim do nada só machucaria muito Cameron, a mim,
só que, contudo, eu não quero estar com ele e significar a ruína de sua carreira.
Me dou conta agora que coloquei um pequeno estranho dentro dá minha
casa, alguém do qual não conheço tanto sobre o aspecto de carreira e família, não
parei para perguntar sobre sua vida fora do meu apartamento, não sei tanto
quanto sua ex, como é sua vida profissional, eu se quer sei de algum tipo de
campanha que ele tenha feito.
Acho que foi tão mais fácil mergulhar de ponta nesse “namoro” que eu
acabei deixando de lado as formalidades, todo o processo de conhecer ele mais
profundamente, algo que eu não deveria ter feito.
Agora sei que Cameron é modelo, famoso, e tem uma agente que não me
quer perto dele, que represento um ameaça para sua carreira profissional e vida
pública.
Não quero sentir que arruíno sua imagem, não quero que ele saia de
alguma forma ferido de tudo isso, ele mentiu para mim sobre a idade dele, e isso
não foi bom, ele sabe que se eu “soubesse” desde o início que é tão mais jovem
que eu, não teria deixado ele entrar no meu apartamento.
Mas deixei muito facilmente esse belo rapaz entrar na minha vida, e ao
lembrar das duras palavras de sua agente Loryanne, me sinto uma completa
ridícula em pensar que por alguns dias dá minha existência, imaginei que havia
encontrado algo que daria certo.
Ele é muito valioso para mim porque me apeguei a ele de tal forma que
não sei se conseguirei afastar.
O grande problema está ai, me apaixonei por Cameron num período de
dias muito curtos, me apaixonei por seu sorriso e por sua persistência, mas
principalmente pelo fato de que ele não desistiu de mim, bem como foi com meu
outro relacionamento.
Me apaixonei por sua capacidade de me aceitar e de gostar de todos os
meus defeitos físicos, me apaixonei pela forma como ele me dá atenção e pelo
jeito meigo como ele sempre demonstra quando diz que sou importante para ele,
e percebo tarde que acho que isso não tem volta.
Novamente meu coração será despedaçado, porque com certeza tudo isso é
uma questão de tempo para ele, como Loryanne disse, “ele também se apaixonou
por essa tal de Connie”, o que eu seria nas mãos de um jovem modelo em
ascensão?
Não acho que seria um brinquedo nas mãos de Cameron, mas agora, não
consigo pensar nisso tudo como algo mais sério quanto antes, porque milhares de
possibilidades me cercam a mente, e tenho um enorme medo dentro de mim, e se
um dia ele acordar e perceber que sou mesmo muito maior do que ele consegue
enxergar? E se ele não conseguir segurar a pressão dá mídia?
Eu ficaria muito mais destruída do que já fui, meus sonhos que já antes não
eram lá essas coisas, serão novamente pulverizados e devolvidos ao lugar de
onde nunca deveriam ter saído: do nada.
—... Querida, eu estou falando com você.
Meus olhos encontram os seus e fico por alguns momentos em saber o que
dizer exatamente, Cameron Morgan tem olhos tão cativantes, lábios desenhados e
cheios, nariz fino e rebitado, maxilares masculinos, mas proporcionais ao seu
rosto, ele não tem sinais de cansaço no rosto, nem se quer uma espinha, ele é um
rapaz lindo.
Não sei como cheguei a pensar por algum sentido que teríamos alguma
chance de ficarmos juntos, ele é tão diferente de mim, ele é tudo o que eu nunca
conseguirei ser, ele é tudo o que eu nunca poderei ter de fato e dizer que é meu.
—O que foi Faith?
—Eu ouvi sua conversa com a sua agente.
Por alguns momentos eu vou vendo, os olhos castanhos claros irem
aderindo um tom mais escuro e intenso, e o traço de sorriso que havia neles
some, dentro de mim, crio lentamente uma coragem imediata.
—Faith você...
—Eu quero terminar Cameron.
Ele vai ficando lentamente pálido, sinto como se sufocasse e o meu
coração vai acelerando de repente, comprimindo toda a dor que sinto.
—Eu acho que o que ela disse é o certo, eu não quero te prejudicar...
—Não vai prejudicar Faith!
Tento buscar argumentos, a dor é visível em seu olhar.
—Você mentiu para mim—alego.
—Sabia que você não aceitaria ficar comigo, me desculpe Faith, mas a
minha idade não quer dizer nada para mim.—argumenta com a voz sufocada.
Não sei o que falar, ele toca a minha face e me ergo me afastando dele, a
dor é tão forte dentro de mim que parece que meu corpo dói com isso, mas
preciso ser forte.
—Sério?—ele pergunta com a voz chateada.—Faith eu estou aqui, você
está se ouvindo?
—Sim, e eu sei o que é melhor para mim—afirmo de costas para ele.—Eu
acho que você deveria ser ao menos maduro e aceitar que não é para ser.
—Você não está se ouvindo Faith—retruca ainda com a voz embargada.—
Eu gosto muito mesmo de você, a Lory não tem nada a ver com a minha vida
pessoal, eu faço o que eu quiser.
—Essa não é uma escolha apenas sua Cameron—engulo a vontade de
chorar.—Não torne as coisas difíceis para nós dois, foi bom enquanto...
—Não—berra.—Não vai acabar Faith, que merda, para com isso!
Nego com a cabeça.
Cameron fica diante de mim, tem tanta dor em seus olhos que mal sei
descrever, isso me machuca muito mais do que ele pensa, ele está angustiado, e
seus olhos marejados por lágrimas.
—Ouça...
—Eu não quero sentir que te prejudico Cameron, você não ouviu ela?
Acho que você está tão cego pela dor dá perda dá sua avó que está confundindo
as coisas.
—Isso não é uma simples carência Faith, isso é tão forte para mim, você
não tem noção do que eu sinto—retruca.—Por favor, para com isso, estamos indo
bem.
—Não pode me pedir isso—falo magoada.—Não pode me pedir para ficar
com você e estragar sua reputação, sua carreira, você sabe que nunca irão nos
aceitar.
—É injusto que me peça para ficar longe de você por causa do que as
outras pessoas pensam Faith, o que importa para mim é o que nós dois queremos
e pensamos.
Fico calada retendo dentro de mim a vontade de chorar, vê-lo assim vai
lentamente me destruindo pouco a pouco.
—Você não pode jogar o que temos fora por causa disso Faith, para de ser
insegura, eu já disse que não me importo com nada, eu só tenho você, e eu não
quero te perder para nada no mundo, nem para esse medo idiota seu de não ser
aceita pelas outras pessoas, eu adoro cada pedaço de você, eu adoro estar com
você porque você é divertida, bondosa e engraçada.
Suas palavras vão me corrompendo lentamente, baixo a cabeça e oprimo a
vontade de soluçar, mas as lágrimas são inevitáveis.
—As pessoas sempre vão achar motivos para não aceitar umas as outras,
mas você não pode permitir que isso te afaste das pessoas que você gosta, você
gosta de mim?
—Isso não tem a ver...
—Só responde!
Nego com a cabeça, Cameron segura as minhas faces e faz com que eu o
fite.
—Fala olhando nos meus olhos Faith, fala que não gosta de mim e eu vou
embora e nunca mais apareço aqui.
Não consigo.
Porque isso significaria destruir o meu coração muito mais do que um dia
ele foi destruído, despedaçá-lo, e eu ainda que sinta que é o que tenho que fazer,
sacrificá-lo... Não posso, seria como mentir para mim mesma.
—Eu gosto de você Cameron—digo baixinho.—Eu adoro você!
Cameron se inclina e me beija com força, deixo o sentimento acumulado
sair enquanto o beijo, passo os braços envolta de seu pescoço e ele me puxa me
apertando num abraço quente, meu coração pula tanto no peito que parece que
vai sair para fora, o dele está acelerado também.
—Não faz isso conosco está bem? Tenha calma.
Faço que sim com a cabeça.
Eu não quero terminar, eu apenas acho que devo por conta de tudo o que
ouvi hoje cedo, isso me diminuiu tanto, me fez—e ainda faz—sentir como se eu
fosse nada diante dele, não quero prejudicá-lo.
—Faith, me escuta, eu não me importo com o que a Lory pensa, eu gosto
de você e vamos ficar juntos.
—Não quero que perca seu trabalho por minha culpa.
—Eu não vou perder está bem? Calma!
A bem dá verdade tenho que reconhecer que Cameron tem mesmo uma
maturidade muito superior a mim, acho que apesar de tudo, me assustei, e eu sei
que qualquer mulher no meu lugar não agiria diferente, porque afinal de contas,
quem gosta de ser chamada de gorda e velha por alguém?
É tão fácil as pessoas julgarem a gente, quando na verdade nenhuma delas
sabem o que passamos sempre.
Tenho sofrido muito com o meu peso, quem não quer ser magra? Quem
não quer estar nos padrões?
Nunca me ocorreu também que eu seria trocada no dia do meu casamento
por alguém muito diferente de mim, tão pouco que eu seria largada por ser gorda,
e isso me mudou para sempre, não posso encarar nada sem me sentir magoada,
porque isso significou por muitos momentos dá minha vida, perda!
Mas não quero perder ele, me sinto insegura e infeliz por ter sugerido isso,
choramos tanto, ele me abraça e me sinto uma completa idiota por ter sugerido,
mas fiz apenas o que eu acho, que qualquer pessoa sensata faria, deixá-lo ir
parece muito mais conveniente do que pedir que ele fique, porque no fundo, bem
lá no fundo eu sei que vamos sofrer muito com isso.
O preconceito das pessoas, o julgamento, e pior, isso envolve o trabalho
dele.
Meu coração está envolvido.
—vai dar tudo certo Faith.
Eu sei que não, mas não respondo, encontro em seu olhar minha esperança,
em seus braços meu apoio, e em seus lábios meu conforto.
Sei que não sou o melhor para ele, mas é algo do qual não sei mais se
consigo voltar atrás, estou perdidamente apaixonada por Cameron e não há nada
que possa fazer para reverter isso.
É muito duro tomar decisões. Principalmente quando elas estão vinculadas
a pessoas que amamos.
A verdade é que me acostumei a não tomar decisões tão difíceis na minha
vida nos últimos anos, é muito simples, é muito confortável não ter que se
preocupar com ninguém além de si mesma, nem se prender a ninguém.
Acho que é por isso que encontro dificuldade em todos os últimos
acontecimentos. Cameron quer fazer parte dá minha vida e isso é conflitante para
mim porque isso significa sacrificar todo o conforto que construí quando Timmy
me abandonou no altar.
Primeiro me revesti de proteção a mim mesma, eu não deixei ninguém
entrar durante todo esse tempo, depois disse para mim que eu nunca seria
suficiente para ninguém, e que não merecia ser feliz, decidi me trancar com o
medo e me fechei para todo o mundo, e decidi que seria só.
Naturalmente que se alguém que você ama te abandona, com certeza você
procurará dentro de si respostas para isso, no meu caso, eu me culpei e culpei ao
meu peso por tudo, lógico, porque mais seria? Timmy era o cara perfeito, ele não
cometeu deslizes, ele era fisicamente normal, mas eu era a namorada gordinha e
estranha que ele levava para todos os lugares e que chamava a atenção de todos.
Para um homem deixar a decepção causado por um relacionamento é
muito fácil, mas para uma mulher, creio eu que não, porque até hoje ainda me
sinto culpada por não ser boa o suficiente para ele, e isso fez—e faz—com que
me sinta insuficiente para todos que me cercam, tanto que sempre afasto as
pessoas.
—Fiz um chocolate quente.
Ele se aproxima, usa uma calça de saco cinza, parece que deram uma surra
em nós dois, choramos por tantas horas que perdi a noção do tempo, Cameron
tem uma sensibilidade muito densa, ele me via chorando e percebia em seu olhar
tanto medo e dúvidas, mas ele não parecia querer se permitir sentir aquilo, pois
eu estava abalada demais.
Não conversamos, viemos para o quarto e tomamos um banho juntos, me
lembrava de tudo o que aconteceu na minha vida, do abandono no altar, dá
rejeição, de todas as coisas que eu sofri quando o Timmy me largou, acho justo
que a partir de hoje eu e Cameron nos conheçamos um pouco mais, acho que
tudo isso aconteceu porque desde o começo me preocupo demais com os meus
medos e conceitos e deixo tudo isso me afetar ao ponto de não me permitir viver
isso de verdade com ele.
—Está melhor?
—Sim.
Ele se deita ao meu lado, seu corpo vem para junto de mim e eu o abraço
beijando seu pescoço, sentindo seu cheiro, seu abraço me conforta tanto, seu
calor é maravilhoso.
—Quer que eu te traga o chocolate aqui?—pergunta baixinho e beija a
minha cabeça.
—Cameron eu não quero te perder, mas eu preciso te falar que mal nos
conhecemos, não sei quem você é, sobre sua carreira, sobre sua vida, tem tantas
coisas que tenho medo.
—Não precisa ter medo Faith, estamos nesta juntos, o que quiser saber eu
falo, eu quero muito estar com você em todos os momentos.
—Você é muito maduro para sua idade.
—Não acho que seja maduro, acho que às vezes sou sensato nos momentos
complicados, eu sempre tive que me virar, isso me ensinou a saber lidar com
problemas.
—A primeira coisa que quero que você saiba é que eu não gosto de
mentira.
—Eu sei, me desculpe, eu fiquei com medo de você me rejeitar ainda mais.
—Onde conseguiu aquela identidade?
—Num falsificador ora.
Reviro os olhos, Cameron me olha sem graça.
—Não me importo Faith, eu sou maior e sei o que quero.
—É muito complicado ter 28 anos e namorar com alguém 7 anos mais
jovem.
—Eu não acho.
—Claro, você é homem, tudo para você é normal!
—Está dizendo que nosso relacionamento é anormal querida?
—Você entendeu.
Mas Cameron sorri, ele não se importa, sei que não.
—Você precisa tirar esse preconceito de dentro de você querida, aceitar
nosso relacionamento.
—Não mente mais para mim tá? Por mais que eu fique brava, mentir é
errado.
—Eu não menti sobre nada mais além disso.
—Uma mentira é sempre uma mentira não importa o tamanho.
—Está bem.
Ele sabe que está errado. Eu o aperto e beijo sua face.
—Me surpreende que você não se ache bonita querida, você tem um corpo
lindo.
Estou nua, sinto minhas bochechas quentes, mas realmente não me
importo.
—Eu fiquei traumatizada depois do meu “casamento” sabe?—confesso.—
Eu me sinto culpada as vezes porque o Timmy me abandonou, acho que se eu
fosse magra ele ainda estaria comigo, porque com certeza as pessoas não o
julgariam por isso, eu sou tipo uma vergonha para ele sabe?
—Querida...
—Me deixa falar!—peço, ele faz que sim com a cabeça, me ergo e fico
sentada na cama.—Muitas vezes eu me culpei por muitas coisas na minha vida,
mas o meu peso com certeza é a pior coisa delas, eu já cheguei a pesar quase
150kg depois que Timmy me abandonou, eu tive depressão e tentei suicídio.
Cameron continua calado, não tenho medo de falar.
—Eu só queria poder matar a dor sabe? Me sentia um lixo humano,
quando me olhava no espelho, tudo o que eu via era uma mulher detestável,
alguém nojenta, cheia de dobras e gordura...
—Amor...
—Me deixa falar Cameron, você está mesmo pronto para viver isso
comigo?
—Claro que estou.
—Então me escuta está bem?
—Eu sofri muito com o rompimento do meu noivado, gorda eu sempre fui
e acho que vou ser até o dia que eu morrer, só que nunca me passou pela cabeça
que seria abandonada por Timmy por conta do meu peso.
—Isso te machucou tanto que você vê o seu peso como um problema!
—Me diz uma mulher gorda que é feliz Cameron!
Ele fica calado, acho que tenta me entender, gosto disso nele, Cameron não
é uma pessoa que faz julgamento a respeito de mim nem fica especulando, ele já
entendeu que sofro com meu peso.
—Meu peso é um problema bem real na minha vida, ser abandonada no
altar foi a pior coisa que poderia ter acontecido na minha vida, eu nunca imaginei
que depois de tudo, Timmy fosse me abandonar por conta do meu peso, ele tinha
vergonha de mim, foi tudo um processo imensamente doloroso.
—Eu posso imaginar.
—Depois que ele me largou eu não consegui deixar ninguém se aproximar,
mas essa carga me fez e me faz muito mal sabe? Hoje não tanto, apenas os
reflexos, eu não gosto mais do Timmy, mas me sinto realmente humilhada por ele
ter me largado por conta do meu peso, ele tinha medo do julgamento dos amigos
dele, eu sempre sonhei em me casar, ter filhos, uma casa, mas tudo isso morreu
quando ele foi embora, logo depois me enfiei numa depressão profunda, eu só
queria que tudo aquilo acabasse, mas acabei engordando ainda mais, tentei
suicídio, foi um processo muito doloroso.
Ele segura a minha mão, mas não tenho vontade de chorar, só me sinto
triste de lembrar desse momento terrível dá minha vida.
—Superei vim para cá para estudar e ter uma nova vida, esse momento foi
um momento de recomeço, contudo eu acho que nunca estive pronta para encarar
novamente um novo relacionamento, eu me fechei no meu mundo e nos meus
conceitos sobre eu mesma.
—É mais fácil não ter ninguém por perto mesmo, quando eu terminei com
a Connie me sentia um saco sem fundo de amargura, me isolei dos meus amigos
e enfiei a cabeça no trabalho—ele entrelaça os dedos nos meus.—Eu odiava me
lembrar do fato de que acabou, e que parecia que ela estava ótima e eu não,
porque me fazia sentir que eu a amei muito mais do que ela me amou.
—Eu prometi para eu mesma que não sofreria mais e decidi seguir com a
minha vida, mas todo o sofrimento acumulado e esses conceitos me fizeram banir
as chances de encontrar alguém, até que você apareceu e esse sentimento é a
coisa conflitante que senti na minha vida.
—Porque você desenvolveu uma auto-defesa!
—Eu não pensei que fosse aprender a sentir de novo coisas que não sinto
há muito tempo, mas com você, preciso dizer que não é igual, eu me sinto
estranha com tudo o que aconteceu, me senti magoada por conta do Timmy e
odiaria saber um dia que você realmente não me aceita como eu sou, isso é difícil
até para mim.
—Eu aceito Faith.
—Eu sei que aceita, eu quero que você me prometa que quando estiver
mais afim de continuar comigo, que conversemos.
—Isso não vai acontecer.
—É muito fácil gostar de alguém sem saber quem a pessoa é Cameron,
sem saber seus defeitos, seus problemas, seu passado—respondo.—Seria perfeito
se eu fosse uma garota magra e tivesse o mundo aos meus pés.
—Gostaria de te perguntar algo, posso?
—Sim.
—Quem te disse que você precisa ser magra para ser linda meu amor?
Nego com a cabeça e desvio o olhar para o lado, Cameron se ergue e
segura a minha face, faz com que eu o fite.
—Você tem que aprender que você é linda assim Faith, aprender a cativar a
si mesma, a se amar incondicionalmente, porque não importa o quanto eu ou o
mundo diga o quanto é linda se você não se acha linda.
—É tão fácil falar não é mesmo?
—Querida, você não vai saber se não tentar, você já tentou?
—Eu gostaria muito de ser vista como uma mulher de verdade, não como
alguém que ocupa espaço...
—Faith, não foi isso o que eu perguntei.
—Nunca quis me sentir bonita porque eu não sou bonita Cameron, essa é a
resposta.
Ele me analisa muito sério.
—Você não se sente bonita, são duas coisas diferentes querida, você tem
que saber se valorizar, saber se sentir mais cuidadosa consigo mesma.
—Eu não sei como ser assim.
—Então comece a aprender Faith, eu posso te ajudar, eu vou te ajudar.
—Me dando roupas novas? Me passando uma nova dieta? Minha mãe já
fez isso e a Brenda também—tento sorrir—você não sabe o quanto eu tenho dado
duro para ao menos cativar a mim mesma, só que eu não consigo, as pessoas
acham que é frescura, que é vitimíssimo...
—O problema está no fato de que você ouve demais as outras pessoas no
mundo Faith, e esquece que tem que começar a ouvir um lado seu que te dita à
verdade, e a verdade é que você é uma mulher linda, não apenas de rosto, e sim
de corpo também.
—Você gosta de mim, é diferente.
—Sabe, antes de te conhecer eu nunca tinha parado para reparar numa
garota gordinha antes Faith, eu sempre fui meio superficial nesse sentido, já
fiquei com muitas garotas, namorei a Connie, mas eu nunca fiquei com garotas
gordinhas, você despertou isso em mim.
—Ela te magoou muito?
—Pode imaginar como é pedir alguém em casamento e a pessoa falar:
não?
—Ela te disse não?
Estou chocada.
—Sim.
—Isso é tão impossível de acreditar Faith?
—Bem, sim?
—Mas foi o que aconteceu, Connie não estava pronta, então quando eu a
pedi em casamento, ela disse que não, continuamos a namorar e meses depois
terminamos.
—Você deve ter sofrido um bocado.
—Um pouco, ela foi a minha primeira namorada sério.
Algumas dúvidas me vem a mente ligeiramente.
—Isso significa que você teve outras namoradas?
—Eu já fiquei com algumas garotas, mas eu não queria nenhum
envolvimento muito sério, por ser católico eu tive uma infância bem regrada, mas
não era bem por isso, acho que é porque eu comecei a ter algum tipo de liberdade
já com uns dezoito anos quando eu fui para faculdade.
—Você gostava delas?
—Gostar, gostar não, era mais curtição mesmo, principalmente na época
que eu comecei minha carreira a uns dois anos atrás, eu saia muito com os meus
amigos, não bebia, mas sempre gostava de estar com alguém.
—Você era o amigo legal!
Depois que concluo eu o vejo sorrir, os lábios vermelhos se arregalam, um
jovem homem lindo usando uma calça de saco está sorrindo para mim,
conversando comigo, e eu estou nua, assim como se tudo isso fosse normal, me
sinto tão bem em conversar com ele depois de tudo, ele é a única pessoa no
mundo que me faz sentir aos poucos como é estar nua sem se sentir uma
criminosa por isso, às vezes tenho vergonha até dá Brenda, porque ela é a
senhorita chapada, seios durinhos e corpo magro, enquanto eu estou mais para
senhorita tonel.
—Eu era o cara que dirigia, meus três anos de faculdade serviram para
isso.
—Não foram 5 anos?
—Na instituição onde eu estudei o ensino fundamental tinha faculdade, fiz
dois anos lá só que fiz 18 a minha avó cortou os pagamentos, então pedi
transferência para outra faculdade, depois que comecei a estudar eu comecei a
sair com alguns caras dá faculdade, conheci algumas garotas, mas eu nunca levei
nada disso a sério.
—Nunca pensou em ser modelo?
—Não, eu na verdade pensei que daria aula em sala logo que terminasse,
eu terminei no começo desse ano, meu orientador me deixou fazer algumas
matérias à distância.
—Você fez mesmo letras?
—Claro que fiz meu amor—responde e toca a minha bochecha com o
indicador.—Esquece a mentirinha.
—É só que, não sei muito sobre você.
—Pois então já sabe, eu sou formado em letras, trabalho como modelo e
sou órfão, todo o resto dá estória é verdadeira, tenho fotos dos meus pais e dá
minha avó, se quiser posso te mostrar.
—Não precisa, eu só quero que saiba que eu fiquei meio traumatizada por
conta de tudo, foi como se tudo antes do meu noivado houvesse sido uma mentira
sabe?
—Espero que reze muito para que eu nunca encontre esse cara na vida.
—Não há a menor chance de isso acontecer.
—Assim espero.
Ele está sério demais nesse instante.
—Acho que eu meio que ignorava o meu peso antes de tudo isso, havia
encontrado alguém que supostamente me aceitava, eu me acostumei com o que
ele tinha a me oferecer, eu nunca me senti linda ou estonteante, mas eu sabia que
havia alguém que gostava de mim—encolho os ombros.—Por isso era mais fácil,
eu nunca pensei que fosse ser rejeitada, então ele destruiu meus sonhos com tudo
o que fez, e o meu coração foi junto pelo ralo.
—Acontece que não existe só ele no mundo meu amor.
Sorrio ainda que não queira, Cameron toca meu pescoço com carinho e me
puxa, me dá um beijo leve, carinhoso, me ergo correspondendo-o com o mesmo
carinho, toco seu peito e ele me puxa de repente fazendo com que me deite sob
seu corpo, ele toca a minhas costas com zelo, me abraça, toco sua face me
erguendo.
—Nós nunca, nunca corresponderemos as expectativas de ninguém Faith,
não importa o que façamos, o que nós falemos, para as outras pessoas nunca
seremos suficientemente capazes de satisfazer o que elas querem, cabe a nós
então corresponder ao que Deus quer de nossas vidas e sermos bons para nós
mesmos.
—Nem para você?
—Muito menos para mim Faith, você acha que eu seria feliz se você não
fosse?
Uma grande parte de mim se sente conversando com um velho, a outra
com um garoto fisicamente jovem!
—Eu já tentei ser assim, até descobrir que não importava o quanto eu
tentasse entrar na vida dá minha avó, ela não me amaria como uma avó amaria
seu neto, nem a Connie, que nunca me amou assim como amaria um marido, por
mais que eu fosse carinhoso e atencioso com ela, nada era suficiente, mas apenas
porque eu fazia tudo para tentar agradar a elas, minha avó em minha infância e
Connie agora depois de adulto, eu tive que aprender que não importa o quanto
tentemos agradar os outros, nunca ninguém é satisfeito.
—É dá natureza humana, somos reclamões.—digo sincera.
—Sim, veja bem, se temos saúde reclamamos de tudo o que nos cerca,
enquanto tem pessoas nos hospitais com os dias contados agradecendo a cada
novo dia que acorda, estamos aqui, fora, reclamando das nossas vidas que são
dentro do possível confortáveis.
—Quais são as suas referências?
—Para o meu mestrado ou que eu gosto de ler?
—As duas!
—Bem, eu sempre gostei muito de Tales de Mileto, mas fiz uma lista de
algumas obras que eu li durante a minha infância e adolescência, sem querer
parecer clichê, mas sempre gostei muito de Aristóteles, Confúcio, Plotino, Sun
Tzu, Sócrates, Platão, Descartes, Maquiavel, Kant...
—Ok, já entendi.
Cameron me olha como se estivesse um pouco envergonhado ou coisa
assim, não pensei que ele fosse tão culto confesso, mas a medir por sua
maturidade e forma de pensar, eu imaginei que ele era um pouco mais intelectual
por conta do curso, durante toda a minha vida acadêmica eu tive que ler muitos
livros, interpretá-los, e aprender uma porção de coisas sobre tudo.
—Eu tive um ensinamento voltado para filosofia no ensino fundamental e
médio, no colégio nos obrigavam a ler um livro por dia e fazer um relatório, essas
eram as obras que eles deixavam a disposição.
—Você é humanista, sabe compreender bem as emoções.
—Eu não sou só um rostinho bonito, ou você me imagina com 70 anos
desfilando em uma passarela segurando uma bengala?
Começo a rir em imaginar a cena, lhe dou um beijinho.
—Minha idade e aparência não significam nada para mim Faith, a única
diferença entre eu e os outros caras do mundo é que eu sou bonito.
E o mais incrível é que você não fala isso de uma forma convencida ou
como se tirasse vantagem disso, ele sabe que é bonito e que disso tira seu
sustento.
—Não tipo bonito porque eu me acho, mas tipo...
—Eu já entendi—interrompo.—Só me promete que não vai ser um idiota
comigo esta bem?
—Não vou ser—responde.—Quero que me prometa que vai se esforçar
para se sentir melhor consigo mesma, e que não vai ficar me comparando ao
imbecil do seu ex.
—Você nunca... Parou para me comparar com Connie, não fisicamente é
claro, isso seria constrangedor, mas...
—Não tem como comparar vocês duas querida, tive uma estória com ela,
mas acabou, agora estou com você e isso é o que importa.
—Acho que preciso ser um pouco mais madura.
—Você precisa se amar mais Faith, e vai aprender, mas tudo ao seu tempo.
Espero mesmo aprender a me amar mais, espero ser mais forte, mas acima
de tudo, aprender a confiar todos os dias em Cameron dá forma como ele merece.

—Você gostou do final dá série?


—É triste, mas serve de lição.
É a verdade.
Os 13 porquês é a pura realidade de alguém com depressão, com
problemas de baixa estima, mas que principalmente na maioria das vezes, não
consegue sair do buraco onde se enfiou, muito mais por culpa das outras pessoas
do que por sua própria culpa, ainda mais na adolescência, a fase das trevas na
vida de qualquer ser humano.
Às vezes é preciso mudar nossas convicções para perceber que nem
sempre as coisas giram em torno dos nossos pensamentos. Saí de um polo e estou
indo para um polo muito diferente do qual eu estava acostumada.
Ontem foi um dia difícil, mas que me serviu de lição, mais uma para
minhas coleções, coisa que eu tinha esquecido pois eu estava muito parada em
minha vida coberta de medo e falta de confiança, bem, ontem ainda é como hoje
está sendo, mas estou um pouco melhor em relação a questão dá confiança.
Cameron e eu conversamos muito, um daqueles papos “cabeça” que nem
sempre temos a sorte de ter com algum homem que esteja por perto, nunca tive
amigos homens além de Timmy, mas Cameron superou qualquer expectativa, ele
é muito inteligente, sagaz e maduro, e ele também tem uma capacidade
extraordinária de ouvir as pessoas, ele fala sempre que necessário, mas é um
excelente ouvinte, quando terminei de contar a forma como me sentia e tudo o
que houve, ele me trouxe um chocolate quente e pegou os cobertores.
Bebi o chocolate quente vendo tv no meu quarto, ao meu lado havia muito
mais um amigo e companheiro do que um namorado, ele me fez carinho na
cabeça e ficamos quietos em nosso mundo silencioso, fazia um bom tempo que
eu não ouvia a voz dá sensatez na minha cabeça, então estava aliviada como
nunca me senti, e pronta para poder encarar tudo aquilo com ele, ou quase isso.
Acordei relaxada, havia um jovem rapaz ao meu lado na cama dormindo
abraçadinho a mim, estávamos nus, eu disse para eu mesma que não deveria me
sentir envergonhada dele e aquilo era muito natural, eu o abracei e o acordei com
isso, Cameron sorriu e o sol estava nascendo mais uma vez na minha vida.
Eu sei que não devo me sentir assim, mas estar apaixonada a essas alturas
do campeonato é muito bom, isso me renova aos poucos, e me dá força para
querer continuar a ficar com ele.
Levantamos e eu vesti um conjunto quente, hoje o dia está nublado, ele
colocou uma calça de moletom e uma camisa de mangas também mais quente,
preparei um café, ovos e torrada, depois que comemos peguei os cobertores e
viemos para o sofá para assistir o final dá série juntos, acho que já passa das
15:00 dá tarde.
—Pensei em preparar uma sopa—ele comenta—o que acha?
—Pode ser, está mesmo frio, eu tenho que dar uma organizada no
apartamento.
—Se preferir eu posso limpar tudo e você faz a sopa.
Ele me dá um beijo carinhoso, estou sorrindo quando ele se ergue.
—Cuido dá casa, sou mais rápido.
—Está bem.
Me ergo, Cameron me puxa e me beija, enlaço seu pescoço e exploro sua
boca devagar.
—Há há!
O berro me assusta, e levo alguns segundos para me recuperar do susto
enquanto vejo Brenda apontando para mim boquiaberta, Cameron fica olhando
para ela meio assustado e ela para nós dois como se visse um fantasma.
—Opa?—Brenda diz encolhendo as mãos.
Seus olhos azuis estão meio chocados, Brenda é aquela garota típica
americana, magra, baixa, cabelos lisinhos e franja, sorriso doce e encantador e
branca como um copo de leite, acho que o que sempre me cativou nela foi seu
olhar, que apesar de meio melancólico sempre foi sincero, obviamente que ela é
mais passiva que eu em muitas situações dá vida, mas nossa amizade não anda lá
essas coisas há algum tempo.
Estou triste em perceber que a visão que Brenda tem de mim talvez seja
verdadeira, me sinto fraca por conta de tudo, e sei que realmente quanto ao
Timmy as coisas me machucam muito, o único problema foi que ela falou de um
jeito tão ofensivo que me machucou muito.
—Eu lembrei onde tinha deixado a chave antes de viajar, eu meio que tinha
perdido—Brenda fala mostrando as chaves que dei para ela há alguns meses ou
desde sempre.—Achei embaixo do banco do carro.
—Bom—não estou completamente envergonhada, mas é um pouco
constrangedor.—Cameron essa é a Brenda, Brenda esse é o Cameron, o meu
namorado.
—Muito prazer—Cameron estende a mão para Brenda com um sorriso
super gentil.
Brenda não responde, apenas ergue a mão e aperta a dele, incrédula é
claro, ele se afasta.
—Vou trocar a roupa de cama e começar a organizar tudo lá dentro—avisa.
—Prazer Brenda.
—Prazer—Brenda acena com os olhos arregalados para ele.
Cameron entra no corredor dos quartos, eu tinha esquecido completamente
que a Brenda tinha uma cópia das minhas chaves, acho que me acostumei a ver
ela sempre, somos melhores amigas—ou éramos—há anos, confio nela
plenamente, também porque quando ela está meio na Bad ela vem para cá.
—Você está namorando? Desde quando? Como isso aconteceu?
—Não te devo satisfação dá minha vida, porque afinal de contas, eu sou a
pessoa mais amarga e mal-amada que você conheceu em toda a sua vida.
Me aproximo e tomo a chave dá mão dela, Brenda pisca parecendo sair de
um transe.
—Eu quero fazer as pazes.
—Pois eu não quero Brenda.
—Você nunca vai me perdoar?
—Volta para o Bob, ele é o cara que te ama e te aceita como você é, e
quando você está deprimida ele te acolhe tanto!
Estou sendo cínica, mas francamente não estou com paciência para discutir
como Brenda.
—Mas... Mas... Mas...
—Mas o que Brenda?—eu a fito.—Você não pensou antes de falar? Como
foi a viagem com o amor dá sua vida? Não foi legal o suficiente para você me
esquecer?
Os olhos dela se enchem de mágoa e dor, mas ignoro um lado meu que
sempre a perdoa quando me lança esse olhar.
—Eu estou cansada Brenda, é melhor você ir embora.
—Então é assim, nós brigamos você arruma um “ninfeto” e me expulsa dá
sua vida?
Ninfeto? Essa palavra não existe!
—Eu e você somos amigas e ninguém deve ficar entre nós duas.
—Brenda, você está usando isso para diminuir a sua culpa nisso tudo,
quando você me ofendeu e foi embora eu nem conhecia o Cameron, e quem foi
viajar com o Bob e curtir a vida foi você e não eu.
—Mas eu sou sua amiga.
—Ai Brenda, me poupe né? Até onde vai seu egoísmo? Você só se importa
com seus problemas, sua dor, seu namorado, estou cansada desses assuntos que
não vão me levar a nada, eu também tenho problemas, e se quer saber eu não te
quero mais perto de mim.
Brenda empalidece.
—Nunca mais Fafa?
Que Drama!
—Acho que ao menos por enquanto não, acho que você tem que se situar.
Brenda não retrucou.
Ela apenas me olhou como se estivesse bastante magoada e partiu.
Preferi assim, não estou das melhores para conseguir lidar com ela agora,
eu também não me sinto culpada por nada, não sinto que tenha feito nada errado,
eu só dei um basta numa situação que vem se estendendo há um tempo já, para
ela na maioria das vezes as coisas acontecem muito naturalmente, obviamente
que não diminuo seus problemas com a depressão, que é muito pior do que a que
tive, ela é ansiosa demais, contudo, não posso ficar me permitindo atropelar tudo
o que sinto para não magoar a Brenda por medo disso.
Bob a magoa sempre e ela sempre o perdoa, ela se atropela para ficar com
ele, e está sempre, sempre do lado dele, não importa o que ele faça com ela, e
logo depois quando ele a destrói, ela vem com o rabo entre as pernas pedir
conselhos e consolo.
Estou cansada de ser a quem conforta e a amiga a quem ela recorre sempre
que precisa, porque mesmo que muitas vezes ela tenha estado aqui quando
precisei, ela não entende que uma relação de amizade ou qualquer uma outra, não
pode ser vista como algum tipo de relação de despejo.
Eu sempre a ouço, sempre estou ao seu lado, mas na maioria das vezes
Brenda não sabe como lidar com os problemas, ela na maioria das vezes acaba
me lotando com os dilemas de vida dela, e isso além de me chatear—porque ela
nunca segue meus conselhos—me deixa cansada.
Depois que ela foi chorei um pouco, Cameron entendeu que eu precisava
ficar mais na minha e ficou mais lá dentro de casa, mas eu o via andando pelo
meu apartamento para cima e para baixo todo apressado, ele estava usando luvas
e usando meu aspirador, estava organizando tudo e limpando tudo na sala, nos
quartos, acho que agora ele está cuidando das roupas, já anoiteceu, meu ensopado
já está quase pronto.
Lavei a louça, dei uma organizada nos armários, ele comprou muita coisa,
muita verdura, legumes, frutas, cereais, acho que ele deu fim aos meus enlatados
e as minhas lasanhas prontas, na verdade Cameron tirou tudo o que tinha de
enlatado do meu armário, jogou meus sucos de caixinha fora, enfim, fez um
limpa, não fiquei exatamente com raiva, mas foi como se ele tivesse substituído
tudo pelo o que eu não como.
Fiz torradas com o pão que ele trouxe, um pão baguetti de aveia, e não
demorou muito para eu perceber que ele adora comer coisa natural, em parte por
conta de sua profissão acredito, mas isso me fez sentir um depósito de comida
industrializada.
—Terminou?—pergunta ele dá sala.
—Só organizando algumas coisas.
Aproveitei para limpar a geladeira e me enrolei um pouco com tudo,
Cameron se aproxima e percebo que ele tomou banho, os cabelos estão úmidos e
penteados para traz, ele cheira a loção pós barba e usa uma calça de saco preta,
meias, está sem camisa, ele ligou o aquecedor.
—Está cheirando—ele fala.—Vai tomar um banho querida.
—Você jogou a minha comida fora?—não resisto em perguntar.
Cameron sorri como se isso fosse muito constrangedor, eu sei que é.
—Eu dei para alguns moradores de rua das redondezas, eu não jogo
comida fora—Cameron responde.—É difícil ter dinheiro para comprar as coisas,
eu doei.
—Sem meu consentimento?
—Foi tipo uma substituição querida, tudo o que tem na geladeira e nos
armários contém naquelas comidas, com a única diferença de que aquilo a longo
prazo pode te fazer mal.
—Entendo—digo e dou de ombros.—Não achei ruim, só que eu não como
essas coisas caras diariamente.
—Precisa se alimentar melhor Faith, você só come porcaria.
—Suco detox?—mostro a garrafinha de liquido verde.
—É bom para ajudar com a digestão e não é detox, é de couve com laranja.
—Ah, ok.
Olho para minha geladeira toda verde e saudável.
—Está fazendo de novo, agindo como uma zumbi.
Fecho a geladeira e me viro para ele, Cameron me enlaça a cintura e eu o
beijo com carinho lentamente.
—Quero fazer amor hoje a noite...—sussurra entre o beijo.—Te quero
muito.
—É mesmo?—minha mão se enfia em sua nuca.—Eu também te quero
muito.
Sinto que a atração aos poucos vai tomando forma entre nós dois, mesmo
que seja algo quase impossível de se entender, porque não vejo atributos enormes
no meu corpo, pelo contrário, duvido que rapazes e até homens como ele se
interessem por uma mulher cheia de celulite e estrias, que os seios sejam
enormes.
—Acho que temos que ir a um médico, eu liguei numa clínica e marquei
para que nós possamos ir amanhã fazer exames de sangue, você quer tomar
anticoncepcional ou algum outro contraceptivo?
Cameron não é quadrado, gosto disso nele, eu sou a quadrada dá relação,
ele é bem despachado.
—Pode ser—digo.
—Ótimo—ele toca a minha face.—Tudo bem mesmo com a sua amiga?
—Vai passar—respondo.—Não quero mais ter que ficar discutindo com a
Brenda, ela já entendeu que não quero ter que lidar com ela agora.
—Achei meio invasivo ela entrar assim do nada no seu apartamento.
—Ela tinha a chave, eu e a Brenda somos amigas há anos, mas não estou
muito bem para poder falar com ela sobre tudo o que aconteceu.
—vocês brigaram feio!
—ela me machucou com palavras, e essa não é a primeira vez, a Brenda
age como se eu fosse um saco de despejo dela, ela não ouve os meus conselhos e
vive um relacionamento de merda.
—Ela não dá certo com o namorado dela?
—Ela ainda não percebeu que ele não quer ela, é muito iludida.
—Talvez você devesse estimulá-la a ficar com ele, quem sabe assim ela
não acaba se dando conta de que ele não a quer?
Nunca tentei essa manobra com a Brenda.
—Ela é cega Cameron.
—Você não disse que esta dando conselhos que ela não quer ouvir? Então
diga o que ela quer ouvir, assim depois ela não poderá te culpar por nada se não
der certo.
—Ainda não sei se quero a Brenda por perto, ela me ofendeu bastante
dessa última vez.
—Talvez precise de uma amiga para conversar na minha ausência não
acha?
—É, talvez.
—Quero muito que venha para a Itália comigo, mas acho que você precisa
desse tempinho para se encontrar, ficar em paz consigo mesma.
Me sinto aliviada em ouvir isso, pensei um pouco sobre o assunto, sei que
não quero prejudicar sua carreira nem nada, e que talvez tudo isso seja muito
repentino para o Cameron... A agente dele estará lá!
—Eu não quero que você fique chateada...
—Preciso resolver algumas coisas aqui também, fique tranquilo, vou
pensar com cuidado se estou pronta para ir ok?
—Está bem meu amor.
Gosto quando ele me chama de meu amor.
Eu o abraço com força e nos beijamos mais uma vez, seja como for, gosto
dele e ele de mim, e espero que tudo melhore.
—Ele não está mesmo?
—Não, sinto muito Faith.
Acho que Blade está se escondendo de mim, não é possível, está já é a
segunda vez que eu venho essa semana e ele não está. A primeira foi ontem
quando saí do médico com Cameron, a segunda é hoje.
A secretária dele me dá um sorriso amarelo, também não recebi nenhuma
ligação de Blade para me falar como fica minha situação no Jornal, me irrito
muito fácil com o fato também de ter ido pela segunda vez no Rh a as meninas
me informar que não tem autorização para liberar minha demissão.
Então retornei hoje e nada, nem Blade está aqui, nem as meninas do Rh
tem autorização para me demitir, isso não só me irrita como me deixa impaciente
em relação a toda situação.
Dou as costas para a secretária de Blade e saio de sua sala pisando forte,
Cameron vai embarcar hoje à noite, ele me disse logo que acordamos hoje cedo
que recebeu uma ligação para um outro trabalho na Inglaterra, acho que isso meio
que me estressou também, porque me acostumei a pensar que ele viajaria daqui a
alguns dias, na verdade estou um pouco triste, mas sei que devo me acostumar
logo com isso.
Ele é modelo e depende do trabalho para viver, e esse trabalho não requer
uma organização específica, onde o chamam ele tem que ir, ele deve ir, também
depois de tudo estou um pouco mais aliviada, saber que Cameron me apoia e me
ajuda tem sido muito bom.
É muito bom poder contar com o apoio de alguém.
Minha família nunca conseguiu saber lidar com o meu peso, mamãe estava
sempre preocupada com o próprio peso dela e as dezenas de problemas que isso
refletiu em sua vida, então, me vi crescendo perto de uma mulher que sempre foi
acima do peso assim como eu, mas que em sua vida adulta fez uma cirurgia
bariátrica e se tornou alguém muito diferente de mim.
O problema de Sahara Silver sempre foi o peso, daí quando ela o eliminou
por conta de problemas de saúde, ela tornou-se o maior problema dá minha vida,
o que era algo comum nas nossas vidas tornou-se um ciclo sem fim de
reclamações e críticas, a bem dá verdade reconheço, que porque ela tem bastante
medo de que eu acabe me tornando cardíaca ou hipertensa como ela era.
Mas acho desnecessário que sempre que ela olhe para mim, veja meu peso
como o maior problema dá minha vida, isso também vem acontecendo muito
mais que antes por conta do que houve com Timmy, mamãe acha que preciso
emagrecer para encontrar alguém que vai me querer.
Em pensar que eu também pensei assim por bastante tempo na minha
vida...
Mas Cameron não é assim, ele me aceita e gosta do meu corpo, ele me
adora!
Entro no táxi, Cameron fez questão de pagar um táxi para me acompanhar,
ele teve que resolver algumas coisas inclusive organizar a mala entre outras
coisas, acho ele tão independente, apesar de jovem ele já sabe muito bem se virar
sozinho, creio que em parte por conta do fato de que ele cresceu em um colégio
interno.
Acho que agora começarei uma nova fase dá minha vida, quero poder
melhorar, quero poder mudar, quero poder deixar meus medos e receios de lado e
viver esse amor com Cameron, sinto que nada poderá me impedir de ser feliz
dessa vez.
Me sinto revigorada por dentro e por fora, apesar de ainda ter dentro de
mim os mesmos conceitos sobre mim, sobre meu peso, mas quero ir devagar com
a mudança, não por Cameron, mas porque percebi através dele que tenho mesmo
que mudar esse jeito de ser, ao menos para melhorar a minha autoimagem.
O percurso de táxi é mais curta, assim que pago ao taxista vou correndo
para dentro do meu prédio, percebo tarde que começou a chuviscar, subo para o
meu apartamento depressa, não ensopada, mas bastante molhada, entro no meu
apartamento e tiro logo de cara meu casaco, deveria ter sido mais cuidadosa, essa
época do ano chove bastante.
Então logo assim de cara me espanto ao ver Cameron em pé na sala usando
jeans e uma camiseta social, sapatos, os cabelos cortados, ele está com uma mala
pronta perto dos sofás e uma mochila, começo a sentir como se o meu coração
doesse com isso.
—Oi amor—Cameron ergue o olhar e me dá um sorriso.—Meu voo sai
agora as 16:00, tenho que ir mais cedo, estava te ligando, você não atendeu.
—Eu deixei no silencioso.— respondo escondendo minha decepção.
Que é muito óbvia, achei que ficaríamos um pouco mais de tempo juntos
essa tarde.
—Como foi lá?
—Foi bom.
Acho que não devo aparentar algum tipo de tristeza profunda, porque
afinal de contas, não quero sentir que o prejudico.
—Falou com Blade?
—Ele não estava, vou tentar falar com ele amanhã de novo.
—Eu queria ter avisado.
—Tudo bem, você pode me ligar sempre que quiser, eu vou começar a
procurar emprego ainda essa semana.
—Faith, não fica chateada...
—Eu não estou chateada.
Me aproximo e lhe dou o meu melhor sorriso, mesmo que por dentro sofra
bastante com isso, não queria que ele fosse embora tão depressa, faço menção de
abraçá-lo mas percebo que estou molhada, então desisto.
—Então, boa viagem!
—Espero que esse mês passe bem rápido.
—Eu também.
Cameron se inclina e nos beijamos a certa distância, ele toca a minha face
e me consolo com a lembrança desse beijo, desse momento, me apeguei tão
rápido a ele.
—Eu vou ligar todos os dias—promete me fitando.—Eu te adoro Faith,
queria muito que viesse comigo...
—Acho que vai ser melhor que eu tire esse tempo para descansar minha
mente mesmo, descansar—interrompo.—Fique tranquilo Cameron.
—É para me atender e responder as minhas mensagens entendeu?—exige
mais sério.—Fico preocupado com você.
—Tá—me afasto.—Acho que preciso me trocar ou vou pegar um
resfriado.
—Faith eu...
—Quando você sair tranque a porta e leve sua chave, boa viagem
Cameron.
Lhe dou mais um selinho e escondo dele a dor que sinto com sua partida,
eu sei que se ficar mais um segundo perto dele vou acabar chorando, pedindo
para que ele fique um pouco mais por perto, e é muito bom—e ruim—saber que
ele pode ceder ao meu pedido.
A última coisa que quero prejudicar sua carreira.
Eu sei que Cameron Morgan vai viajar para longe de mim, mas eu sei, que
ele vai voltar, e este é o meu conforto.
Cameron me ligou assim que chegou ao seu destino.
Não tinha muito assunto, me senti péssima em ouvir sua voz e saber que
ele está longe, mas estou dentro do possível bem, fui à empresa novamente hoje e
nada, Blade sumiu.
Eu inclusive pedi o número de telefone pessoal dele ou celular, mas, mais
uma vez sua secretária disse que ele não fora a empresa hoje e que não poderia
passar os números pessoais de Blade para ninguém, que não tinha autorização.
Me enfureci ao chegar no Rh e as meninas falarem novamente que não
poderia me desligar dá The Jornal, mas não retruquei, logo ao chegar em casa
cheguei a conclusão de que talvez, Blade esteja mesmo é se escondendo de mim,
porque ele acha que eu vou esquecer tudo o que ele me fez passar, desde as
humilhações até as agressões verbais.
Ele deve estar se escondendo achando que esses dias em casa vão me fazer
esquecer tudo o que me disse, para que eu não processe ele ou ao jornal, eu sei
que tem alguém cobrindo minha coluna, fui facilmente substituída pela
queridinha dele, mas isso pouco me importa mais.
Não me importo mais.
Eu só quero poder sair de lá e tomar as decisões certas quanto ao meu
emprego.
Aproveitei e peguei o jornal quando cheguei, já comecei a pesquisar
possíveis lugares onde posso trabalhar, minhas experiências são boas no The
Jornal, tenho plano de carreira lá, acho que esse não será um grande problema
para mim.
Mas me vi, a cada segundo do dia, desde que fui dormir até a hora que
acordei me lembrando dos dias que Cameron esteve comigo, e quando ele me
ligou hoje cedo e me avisou que tinha chegado, foi como se uma enorme ponta de
alívio me tomasse toda, porque eu no fundo havia preocupação dentro de mim, e
saudade.
Ele me faz uma falta tremenda.
Mas ainda sim, não permiti que ele soubesse como me sinto, porque eu sei
que isso não ajudaria em nada no nosso namoro, me peguei olhando para a
aliança no meu dedo anelar e refletindo sobre tudo durante boa parte do dia.
Cameron disse que havia chegado primeiro depois um simples:
“Sinto sua falta”.
E eu estava querendo novamente chorar com tudo, ele me ajudou muito
nos dias que esteve aqui, preencheu um lugar em minha vida a muito tempo
excluso, e agora, assim de repente ele foi para longe de mim, eu estou muito triste
com isso.
Disse que também estava sentindo muita falta dele, sua voz estava
fadigada, então eu disse que tinha que ir ao Jornal e ele pareceu um pouco triste
quando precisei desligar.
Não sinto como se eu o afastasse assim, mas sei, que se eu ficar chorando
ele vai acabar querendo voltar antes, e ele precisa do emprego dele, de
desempregada nessa relação—tecnicamente—só basta eu.
Mas o dia como num todo não foi dos piores, tirando o fato de que fiquei
irritada, contrariada e triste, depois de chorar olhando para cada canto do meu
apartamento e desejando tê-lo comigo, estou dentro do possível bem.
Tomei sorvete, ao menos isso ele não jogou fora, agora estou assistindo
Netflix, uma série qualquer, parece que nada tem uma graça extrema sem ele por
aqui.
Acho que enfim posso compreender um pouco dá forma como Brenda se
sente em relação ao Bob, com a exceção de que ela é muito mais dependente
emocionalmente dele, mas em relação a querer ter alguém por perto, alguém que
cuida dá gente e que nos dá um pouco de atenção e carinho.
Beans está distante, ele fica indo para o meu quarto toda hora e voltando
como se procurasse alguma coisa, não pensei que ele também se apegaria tanto
ao meu gato.
—Sei como se sente—fungo.—, mas ele vai voltar Beans.
Ele mia e sobe no sofá, vem se esfregando todo em mim, depois encontra
seu lugar ao meu lado, Cameron trata Beans feito um bebê.
Olho envolta e é como se uma pequena parcela de mim estivesse muito
longe daqui, Cameron não deveria ter me deixado assim, tão apaixonada por ele
ao ponto de torná-lo o único dono dos meus pensamentos e sentimentos durante
todo o meu tempo desde que nos envolvemos.
Por isso é mais fácil estar sozinha, não se permitir as coisas, era tão fácil
chegar no meu apartamento e escrever algum artigo ou coluna, ficar no
computador vagando pela internet em pesquisas, tentando saber como construir
colunas para mulheres fortes—assim como eu estava começando a me sentir—
era mil vezes mais fácil lidar comigo mesma sozinha.
Então um garoto de 21 anos aparece e me desconstrói, ou ao menos tudo o
que venho sendo há um tempo.
Abraço meu travesseiro e fico deitada puxando meus cobertores, ainda
sinto o cheiro dele pigmentado em minhas narinas, e assim, fico quieta tentando
me manter acordada, já anoiteceu, mas não tenho apetite.
Depois de alguns minutos tenho a impressão de que meu celular toca, fico
quieta, mas então novamente ouço o vibrador, suspiro, depois me ergo o pego o
aparelho em cima do centro, atendo.
—Alô.
—Boa noite, eu gostaria de falar com a senhorita Silver.
Franzo a testa e afasto o pouco de sono que me cerca.
—Sou eu mesma.
—Meu nome é Paula, quero saber se você conhece alguém chamada
Brenda.
—Sim, ela é a minha melhor amiga.
—Poderia vir ao NY Hospital? Ela foi encontrada inconsciente no
apartamento dela.
Quando escuto a última palavra meu coração dá um salto imenso e engulo
a seco.
—Ela teve uma overdose de remédios senhorita Silver, o seu número
estava na pulseira dela.
—Chego ai em 20 minutos.
Minhas mãos tremem enquanto espero por notícias.
Quando cheguei uma enfermeira disse que Brenda ligou para o 911 por
volta das 16:38 dá tarde, ela disse que quando chegaram lá, ela já estava
tecnicamente morta, sem batimentos cardíacos e a respiração estava muito fraca.
O pior de tudo é que dentro de mim estou consumida por uma culpa tão
imensa que mal consigo pensar direito, minha mente se volta há dois dias atrás
quando Brenda esteve no meu apartamento me pedindo perdão.
A depressão é algo muito inexplicável e confuso.
Brenda tem depressão e não sabe como lidar com isso, faz terapia e devido
a algumas tentativas anteriores ela usa uma pulseira a recomendação dá psicóloga
e dos pais dela para o caso de alguma crise de pânico.
Eu realmente não sabia que ela estava mal, porque na maioria das vezes ela
dá sinais claros de que não está bem, chora, e fica me mandando mensagens
sempre, achei que essa viagem com Bob fosse a lazer, que ela estivesse bem.
Não consigo parar de chorar um segundo.
Parece que pouco a pouco estão espremendo meu coração, eu não queria
que a Brenda passasse por isso, não queria ter recebido essa ligação tão ruim num
dos momentos em que estou mais frágil, eu só quero que ela fique bem.
Estou na recepção do hospital, saí tão desesperada que coloquei um
conjunto composto por uma calça jeans e uma camiseta qualquer, vim de
sandálias e quanto desci, acabei molhando meus pés e meu cabelo.
O silêncio desse lugar me faz lembrar dá pior época dá minha vida, o cheio
de álcool era inconfundível, acho que eu estava tão afundada no meu estado
deprimente de espírito que não sabia mais discernir o que era certo e errado.
Aquilo não tinha a ver com princípios, não tinha a ver com religião, nem
com crença, eu só queria que a ausência de dor fosse embora, em alguns
momentos me sentia melancólica, mas em outros tudo o que eu sentia era nada,
ou um vazio imenso que deixava um buraco sem precedentes.
Não via vantagem em continuar neste plano, eu deixei de acreditar em
Deus e o meu peso só piorou meu estado, eu me sentia sempre só por mais que a
minha família estivesse ali, e ter que lidar com a dor dá humilhação sem sombra
de dúvidas era dentre todas as coisas a mais detestável.
Me refugiei na dor, porque era sempre mais fácil do que sair para fora e
lidar com os olhares maldosos dos vizinhos, do que saber que naquele mesmo
momento, ao invés de eu estar em lua de mel, eu estava quilos mais gorda
trancada em um quarto comendo e dizendo para eu mesma que não merecia ser
feliz.
Nada me motivava, nada me tirava daquilo, nem mesmo as insistências do
meu pai para erguer a cabeça e prosseguir, aquilo havia me transformado em algo
e não mais em uma pessoa, foi como se de repente eu houvesse perdido a minha
identidade, porque Timmy não estava mais lá, e quem eu era sem Timmy?
Ele foi meu melhor amigo, meu primeiro namorado, foi nele que dei meu
primeiro beijo e foi a ele quem eu decidi que daria meu coração, mas Timmy
mentiu para mim, me abandonou e partiu meu coração, com direito a plateia e
tudo.
Não era apenas por ele, mas porque meu peso literalmente pela primeira
vez na vida me colocou para baixo, me deixou no chão, então a vida não tinha
mais graça, porque mesmo antes de tudo, eu sendo gorda, eu ainda me sentia
parte de algo, estar com alguém me fazia sentir perto dá normalidade, eu
namorava, tinha o sonho de comprar uma casa e construir uma família, a única
coisa que me tornava diferente das outras garotas era o meu peso.
Mas Timmy estava comigo, ele não se importava não era mesmo?
Então tudo aconteceu e Timmy não estava mais ali, e tudo o que sobrou foi
nada, e um peso que me fez perceber que nunca eu seria capaz de ser amada.
Eu consegui tomar alguns remédios misturados que mamãe tomava na
época para emagrecer, ela ainda não tinha feito à bariátrica na época, mais
alvejante e veneno de matar rato, o coquetel me rendeu uma parada respiratória, e
se não fosse por Deus, talvez eu não estivesse nem aqui agora.
Papai me achou desmaiada na lavanderia, segundo ele eu estava tendo
convulsões, não me lembro de nada, só me recordo do momento que tomei o
coquetel e depois de acordar no hospital entubada, não fiquei com sequelas, mas
fiquei mais de um mês e meio internada.
Depois disso meus pais entraram numa crise no casamento deles e viviam
brigando, se culpando, por isso eu decidi vir para Nova York, depois do episódio
eu só queria me encontrar, claro que melhorei nesse sentido, aprendi a entender a
escolha de Timmy, mas é impossível esquecer e não levar isso de lição para
minha vida.
Obviamente que isso me impediu de prosseguir com a minha vida
amorosa, nunca mais confiei em ninguém, não quis acreditar nas intenções de
homem algum no mundo e me fechei num mundo onde eu só precisava terminar
minha faculdade e arrumar um emprego.
Vinha funcionando muito bem até...
—Olha, na tv!
Escuto a recepcionista falar para outra e indicar a tv pendurada na parede.
—Eles voltaram, não é fofo?
Olho na mesma direção que as enfermeiras e pisco atônita, e assim, vejo o
rosto de alguém que me pediu em namoro a alguns dias atrás sentado em uma
mesa de jantar sorrindo para uma garota magra de cabelos loiros, ambos sorriem,
mas aos poucos sinto, como se o meu pequeno mundo fosse desmoronando
novamente.
Ele mentiu para mim?
Ele foi embora para encontrar sua ex-namorada... Não! Sua verdadeira
Namorada.
Fui apenas um brinquedo manipulável nas mãos de Cameron Morgan?
Sim!
—Hei.
Sorrio.
Brenda lentamente segura a minha mão, ela não consegue falar, fizeram
uma traqueostomia nela quando ela deu entrada no hospital, naquela primeira
semana eu achei que perderia ela, ela ficou em estado grave pelas duas primeiras
semanas nas quais ficou internada na UTI do hospital.
Os pais dela chegaram de viagem um dia depois que ela se internou, mas
eu fui visitá-la todos os dias, revezei com sua mãe, eu não tive cabeça para lidar
com nada além dá tentativa de suicídio dá minha melhor amiga.
Tenho tentado mesmo me manter bem longe do meu apartamento, durante
todos esses dias eu estou ficando na casa dos pais dela, para alguma coisa me
serviu estar com eles, afinal de contas, nunca gostaram de mim, mas acho que já
perceberam que gosto muito de Brenda e que quero ela bem, acho que é porque
eles tem dinheiro, contudo isso foi esquecido no momento em que a mãe dela
veio me encontrar na recepção do hospital.
Foi um mês que parecia não ter fim.
A série de acontecimentos que me rondaram foram as piores coisas que
poderiam ter acontecido a mim, e justamente hoje, depois de muita agonia, me
lembro que a dois dias completei 29 anos, fiquei um pouquinho arrasada
confesso, me lembrei do meu gêmeo, mas nem tive tempo para pensar, acordei
cedo e vim logo para trocar de turno com a senhora Shewbe—é, a mãe dá Brenda
tem nome de adolescente.
Sabia que ela estava cansada.
Não me surpreendi por Bob não dar as caras, quando Brenda foi transferida
para um leito comum, eu pensei que ele viria vê-la, mas ele não veio, e isso me
levantou suspeitas em relação a ela ter tentado suicídio justamente por conta de
mais um rompimento.
Não quero ficar me lembrando dele porque sei, que quando ela ficar boa,
possivelmente irá procurá-lo, mas estou deixando isso de lado, aprendendo a
conviver com tudo o que descobri sobre Cameron, ainda é algo que estou
deixando de lado, decidi prosseguir.
Me lembro do dia em que me senti quebrada mais uma vez por ter
depositado minha confiança em mais um cara errado.
Não precisei ver muito.
Me levantei sentindo-me degradada e fui correndo para o banheiro, onde
vomitei as tripas, tive que sair para o estacionamento para respirar depois que me
recuperei o susto.
Não tinha mais espaço em mim para tanta dor, mas tentei dizer para eu
mesma que as coisas eram daquela forma, que tinha que aceitar, então tomei a
decisão certa, eu fiz o que deveria ter feito, decidi excluir Cameron dá minha
vida.
Nos primeiros dias depois dá viagem dele, quando eu chegava em casa
ouvia meu telefone tocar e tocar e a caixa de recado estava cheia de mensagens
de voz dele gravadas, tive que arrancar o telefone dá tomada, depois quando isso
começou a se prorrogar por meu celular, eu o desliguei.
Avisei para meus pais que ficaria uns dias sem telefone, mamãe não
questionou nada, mas papai disse que era para eu ligar, ligo uma vez por semana
para avisar que estou bem, papai costuma me enviar mensagem e ligar toda
quinzena, fazia um tempinho que ele não ligava, mas ele disse que era por conta
dá oficina, papai é mecânico.
Aproveitei e fui todos os dias ao The Jornal nos intervalos em que não
estava no hospital de dia, e dia após dia Blade não estava, ou quando estava não
podia me atender, por fim desisti de ficar procurando ele e semana passada, ao
sair de lá fui a uma advogada, que me cobrou os olhos dá cara por honorários, me
desesperançou falando que eu não conseguiria mais que 10 mil por dano moral,
mas os direitos trabalhistas, mas ao menos, eu sabia que estava fazendo o que
deveria ter feito mês passado.
Me ligaram do hospital avisando que os exames de sangue que fiz no
começo do mês estavam prontos, mas não fui buscar, estou segura em saber que
tive relações com aquele imbecil com preservativo.
Me revesti de raiva, deixei a sensibilidade de lado e estou tentando lidar
com tudo dá forma certa, ignorar ele é o melhor que posso fazer, porque afinal de
contas, ele mentiu para mim, e obviamente como não quer ficar sem alguma
imbecil para comer em Nova York, fará de tudo para me convencer, mas isso não
vai acontecer.
Não vou cair na lábia de Cameron de novo.
Ele foi manipulador e mentiroso, ele me usou e brincou com os meus
sentimentos, em pensar que eu cheguei a me abrir para ele sinto raiva de mim
mesma, devo servir de piada para ele e seus amigos, para começar acho que até
aquela conversa com a agente dele era manipulada, tudo combinado para parecer
que gostava de mim, enquanto do outro lado do mundo, ele tinha uma namorada
jovem e linda a sua espera.
Quantas outras mentiras ele não me contou?
Não quero saber, nesse momento só quero que a minha vida volte ao
normal, afinal de contas, aprendi algo apesar de tudo, que além de não confiar em
homem algum na face dá terra, não devo me minimizar ao ponto de entregar meu
coração e meu corpo a qualquer um que aparecer falando coisas bonitas.
Que acima de tudo, mesmo que eu seja gorda e tudo mais, eu devo pelo ou
menos me valorizar, cuidar um pouco de mim, para que eu não fique carente ao
ponto de me apaixonar pelo primeiro idiota que aparecer na minha vida.
Mesmo destruída eu vou seguir com a minha vida.
E Cameron Morgan que não volte a aparecer na minha vida, ou do
contrário, eu vou mostrar para ele muito bem, a pequena mudança que eu fiz na
minha vida depois de tudo o que ele me causou.
Entro no meu apartamento.
Hoje foi a alta dá Brenda, estou cansada, mas estou feliz. Ela já está em
casa e passa bem, todo o mês do sufoco se passou e graças a Deus ela está bem.
Foi um mês muito complicado, na verdade bem mais que um mês, um mês e
meio, mas enfim, eu consegui.
Acho que faz mais de três semanas que não venho aqui, mas enfim, chegou
o momento de encarar as falsas lembranças e deixar tudo de lado, me sinto
destruída, ter dormido tantos dias no hospital me deixou moída, ainda que em
noites pares revezasse com a Shewbe.
Cumpri minha missão, Brenda ainda tem que ficar de repouso, mas graças
a Deus está fora de perigo, depois desse susto acho que ela vai precisar de muito
apoio e eu estarei lá para dar meu apoio integral a ela. Preciso me distrair porque
ficar aqui olhando envolta e vendo sempre um falsário de calça de saco e sorriso
lindo andando para cima e para baixo não me faz bem.
Meu Coração foi partido em mil pedaços por um moleque, mas estou
disposta a me recuperar, como levei Beans para casa dos pais dá Brenda, o pai
dela se apegou muito a ele, deixei ele dormir lá hoje, precisava colocar roupa na
máquina e organizar uma nova mala para levar para casa dos pais dela.
Ainda é cedo.
—Posso saber onde você estava?
Dou um pulo e meu coração quase sai pela boca, fico paralisada perto dá
porta sentindo como se minhas pernas bambeassem do nada, meus braços estão
moles, e na sala está Cameron Morgan usando um casaco de inverno de cor cinza
todo despojado e jeans, as mãos na cintura, o semblante fechado, duro.
—O que você está fazendo aqui?—pergunto parada onde estou.—Ah, veio
buscar suas coisas, eu deixei separado no quarto de hóspedes, coloquei tudo lá.
Suponho que ele não deixaria tudo para traz, só não pensei que ele tivesse
a cara de pau de olhar na minha cara e especular alguma coisa, não é possível que
ele não tenha vergonha na cara. Cameron causa ainda tantas coisas em mim que
não sei explicar exatamente como me sinto, sinto espanto, mas ao mesmo tempo
também raiva, ter que revê-lo me causa uma dor profunda porque me faz sentir
decepção, coisa que não pensei que sentiria em relação a ele.
—Faith...
—Acho bom você pegar as suas coisas e ir embora—interrompo.—Melhor
não tornar as coisas difíceis, eu já entendi o recado.
Não consigo nem olhar no rosto dele.
—Você está equivocada, onde esteve?—pergunta ele num tom de pura
impaciência.
—Isso não é dá sua conta—respondo levando as minhas bolsas para o
rumo do meu quarto.—Acho melhor você não demorar ou do contrário vou ser
obrigada a chamar o porteiro para te tirar daqui.
—Faith me escuta...
Agora ele pediu, sabia, sabia que iria tentar me enganar, me persuadir, mas
as coisas não serão assim.
Me viro para ele, Cameron está atrás de mim, não muito longe, eu o encaro
de cabeça erguida.
—Olha Cameron, o seu teatrinho não vai mais funcionar comigo está bem?
Eu já entendi e dei o que você queria, agora já chega com esse joguinho seu, pois
eu não acredito mais em você, só pega as suas coisas e vai embora, me deixa em
paz!—estou sufocando, ainda que não queira ter essa conversa—eu já entendi
que você é um manipulador mentiroso sem sentimentos, só me deixa seguir com
a minha vida e vai embora.
—Faith acho que...
—Você não tem que achar nada, você não cansa de magoar e ferir as
pessoas?—questiono chateada.—Você já me levou para cama, já brincou demais
com os meus sentimentos, por favor, vai embora, seja digno pelo ou menos uma
vez na vida.
—Eu não vou embora, você não quer me ouvir?—pergunta ele, seus olhos
cobertos de dor.
Mas sei que tudo isso é cena, ele é um ator muito convincente, esse
mentiroso...
—Sai do meu apartamento Cameron, eu não quero mais você, vai ficar
com a sua namorada.
—Você é a minha namorada!
—Ah, por favor né? Me poupe garoto, vai caçar um pau e subir em cima!
—Faith!
Não sei por que o horror.
Estou tão brava.
—Vai—grito e ele dá um pulo.
Estou fazendo o que sei fazer de melhor, expulsando os outros dá minha
vida, se já era boa em mantê-las longe, em expulsar sou a melhor...
—Cameron, vai embora agora do meu apartamento!
—Não.
Largo as bolsas e avanço, seguro ele pelo braço e saio puxando ele para
fora do meu apartamento, Cameron parece assustado ou coisa assim, eu abro a
porta dá frente e o empurro fazendo muito esforço, ele me encara horrorizado.
—Faith...
—Acabou Cameron, chega com esse joguinho, chega de mentiras, eu não
quero mais te ver aqui ok?
—Você não pode fazer isso comigo—retruca ele, seus olhos começam a se
encher de lágrimas.—Você é tão infantil que me espanta!
Começo a rir de tão nervosa.
—Infantil? Eu?
—Sim!
Cameron desvia o olhar para baixo e funga depois passa as mãos nos
cabelos num gesto desesperado, felizmente isso não me convence.
—Eu acho que você está sendo precipitada Faith, eu não sou esse cara que
você pensa, onde você esteve? Estava muito preocupado com você.
—Não precisa ficar preocupado, cuida dá sua namorada...
—Connie e eu não reatamos.
Me irrito profundamente com a cara de pau dele.
—Me deixa ver se eu entendi—cruzo os braços.—Há seis semanas atrás
você saiu daqui falando que iria para a Itália, e um dia depois que você foi,
haviam fotos suas com a sua ex num restaurante...
—Faith me deixa falar...
—Espera só eu terminar—peço contrariada, ele faz que sim com a cabeça.
—Ok, onde eu estava? Ah, é, no restaurante com a sua ex namorada, e nas fotos
vocês sorriam e jantavam juntos certo?
—Não foi assim Faith—replica.
—Você não jantou com ela?
—Jantei, mas...
—Legal, já respondeu a minha pergunta.
Ele fica calado e vejo que começa a chorar, e ainda que isso corrompa meu
coração, as lágrimas não mudam a minha razão.
—Sabe o que é mais engraçado nisso tudo? Você fez com que eu
acreditasse mesmo que gostava de mim, que éramos namorados quando na
verdade tudo o que aconteceu foi apenas uma brincadeira para você Cameron, um
pequeno passa tempo.
—Faith...
—Me sinto tão ridícula por acreditar em você, tão insignificante e tão
medíocre, só espero que a sua namorada perceba o mau caráter que você é, o
grande ator mentiroso que você é, você não merece nem o meu desprezo—digo
engolindo a vontade de chorar.
—Eu não estava com ela Faith, eu te disse que somos amigos, foi apenas
um jantar...
—Então vai continuar a jantar com ela—corto imediatamente, não posso
me deixar enganar por isso agora, preciso ser forte.—Vai ficar com a sua
namorada na Itália...
—Faith já chega ok?—berra irritado, me assusto.—Eu não estou
namorando com a Connie, temos amigos incomuns e fomos encontrar com eles
para um jantar entre amigos, mas eles combinaram de não ir achando que eu e
Connie poderíamos reatar, eu e ela somos amigos e só!
Cruzo os braços.
—Pois eu não acredito.
—foda-se o que você acredita ou não—reclama nervoso.—Você não tem
noção do quanto fiquei preocupado, você não respondeu a nenhuma das minhas
mensagens, desligou o telefone e o celular, tem noção do quanto fiquei
preocupado?
—Tanto que já foi logo indo encontrar sua namorada...
—Faith por Deus!—Cameron se aproxima com um olhar cheio de
melancolia.—Para com isso amor, me deixa te explicar...
—Não acredito em nenhuma palavra sua não importa o que diga.—estou
determinada.
—Eu posso provar!—Cameron limpa as faces com as costas das mãos.
—Não importa o que diga ou faça eu não acreditarei em você Cameron.
Depois que falo, bato a porta na cara dele com força, respiro fundo e sopro,
interrompo as lágrimas enquanto vou ao quarto de hóspedes pegar as coisas dele,
pego a primeira mala e trago para sala, mas é só o tempo de eu vê-lo entrar na
sala e trancar a porta atrás de si, me irrito.
—Eu não vou embora Faith, este é o meu lar e você é a minha mulher,
minha primeira e única mulher.—determina Cameron.
Um grunhido se forma na minha garganta.
—Você quer conversar como alguém adulta ou via ficar bufando e
reclamando de tudo ai?
—Eu não tenho o que conversar com você moleque.
Isso o magoa.
—Está bem—Cameron começa a abrir o casaco.—Eu vou tomar um banho
e vou deitar, estou cansado dá viagem, quando você quiser conversar como
alguém adulta e racional, estarei esperando.
Abro a boca para reclamar, tarde demais, Cameron já está indo para o
quarto, me deixa falando sozinha.
—Bom dia amor...
Ele está fingindo que nada aconteceu, e essa forma ridícula dele pensar que
ao ficar se “humilhando” atrás de mim vai levar ele a algum lugar me irrita, pois
não vai.
Término de escovar os dentes e saio do banheiro sem responder, acho que
em algum momento ele vai se dar conta de que isso não vai mais funcionar
comigo, acabei dormindo no quarto e hóspedes, mas não consegui dormir direito
mesmo, não conseguia esquecer dá nossa briga, de tudo o que ele havia dito para
mim.
É muito difícil afirmar para mim mesma que ele é um mentiroso desde que
vi aquelas fotos na tv.
Eu não sei por que ele insiste, porque teima em negar, mas vou ser tão, tão
fria com ele que vai acabar indo embora, sei que ele é teimoso, mas vou ignorar
sua existência para que perceba que ele não vai mais me iludir.
Chorei bastante, me sentia tão diminuída quanto um grão de arroz, a
intensidade esmagadora na qual ele negou tudo me deu motivos para chorar,
porque no fundo, no fundo eu queria muito acreditar nele, em tudo o que vivemos
nas semanas em que ele esteve aqui comigo.
Foram tantas coisas boas, me sentia como alguém pronta para aceitar o
amor na minha vida novamente e dar amor a alguém, mas isso acabou, quando
descobri novamente que estava cometendo o enorme erro de confiar de novo em
alguém.
Cameron tem um outro amor, que veste 38, mede 1,74 de altura e pesa 55
quilos, alguém de encantadores olhos azuis e cabelos loiros lisinhos, acho que
uma das minhas coxas daria o tamanho certo de Connie, vi algumas fotos dela
ontem e isso só me deixou ainda mais triste, porque estava ali, vendo a namorada
dele e vendo o quanto combinam juntos, o quanto eram bonitos, e o quanto
tinham incomum.
Enquanto eu sou só uma mulher gorda com quase 30 anos tentando
sobreviver aos problemas e a balança.
Nunca nem vou chegar perto do tapete onde Connie pisa, nem serei a
garota linda que Cameron Morgan irá levar para os lugares e dirá que é sua, me
senti muito além de enganada, mas usada, não sei por que ele fez isso comigo
tento uma namorada tão magra e bonita.
—Eu posso preparar o seu café se quiser querida...
—Não precisa, obrigada.
Começo a pegar os ingredientes para fazer panquecas, Cameron está
usando uma calça de pijama e apenas isso, também está com a cara inchada, os
olhos, ignoro, me recuso a acreditar que tenha se quer perdido uma noite de sono
por minha causa.
—Faço o café...
—Cameron eu já disse que não precisa, eu faço tudo.
—Faith para com isso...
E começa a chorar.
Ai que ódio.
Ele estava chorando... Ele não conseguiu dormir assim como você. Diz
uma vozinha em minha mente.
—O que quer que eu faça para acreditar? Eu não sei mais o que fazer
Faith.
—Não precisa fazer nada, só quero que você vá embora Cameron, essa
situação vai ficar insustentável.
—Posso pedir para Connie te ligar, meus amigos? Eu posso colocar ela na
linha com você...
—Você enlouqueceu?—pergunto apavorada com a ideia.
—Você não quer acreditar em mim—replica choroso.—Por favor Faith,
ontem fez dois meses que a minha avó morreu, eu só queria chegar e te dar um
abraço, e você fica me tratando feito um animal.
Não gostaria de me sentir assim como me sinto agora, não é sentimento de
pena, é um sentimento um pouco mais forte.
—Eu realmente lamento por tudo o que houve, tiraram as fotos e
espalharam boatos, mas não é verdade Faith, poderia ao menos acreditar em
mim?
Ele estende a mão e toca a minha face, quero fugir de seu toque, mas ele
me faz tão bem, me conforta, me passa o mesmo sentimento forte que há em mim
e sempre tento afastar.
Respiro fundo e sei que vou me arrepender disso.
—Está bem Cameron, mas eu não quero falar sobre isso agora ok? Mais
tarde conversamos, para de chorar está bem?
Ele faz que sim com a cabeça e se aproxima, quando seus braços me
enlaçam meu corpo todo recebe um choque bom, algo que me faz sentir por
dentro quente e feliz, mesmo que não deva.
Como eu o odeio por me fazer amá-lo assim.
Sim, eu amo Cameron Morgan.
Acabei dormindo no sofá depois do café, me sentia um trapo.
Não consegui comer muito, coloquei uma roupa mais leve e fui para sala
ver tv, Cameron veio logo atrás, ele ficou na dele, sabe que não quero papo, mas
decidi não discutir, porque sei que isso vai nos desgastar muito, não dormi mais
que poucas horas, escuto o som dá campainha.
Me ergo ao mesmo tempo que o vejo se levantar no outro sofá, me estico e
Cameron levanta também, pego o meu cobertor vendo-o se aproximar com o
dele, me dá um pequeno sorriso e preciso dizer que é muito melhor vê-lo assim
do que chorando como mais cedo.
—Eu atendo.—avisa e me entrega o cobertor.
—Está bem.
Tocam a campainha de novo, pego o cobertor e corro até o quarto para
guardar, organizo meu sofá, e dou uma checada geral, acho que e a Shewbe, eu
tinha combinado com ela dela passar aqui e me buscar hoje, com toda a briga,
esqueci completamente de que tenho que ficar um pouco com Brenda.
Me aproximo dá porta ao ver Cameron olhando para dois desconhecidos
do lado de fora do meu apartamento.
—Quem é?—pergunto e fico ao lado deles dois.
Tem um casal que não é assim tão estranho para mim logo de cara, uma
mulher loira de cabelos longos e roupas bonitas, ela é um pouco mais baixa que
eu, e tem olhos azuis lindos, traços delicados e gentis, e lábios rosados por um
batom mais claro e natural, ao seu lado, Mosés Handerson, me lembro dele de
algumas colunas do The Jornal sobre negócios, mas se não me engano, Mosés
vem se destacando na mídia por seu casamento.
Ele dois ficam me encarando em silêncio, mas não me intimido, não faço a
menor ideia do que Mosés Handerson e sua esposa fazem na minha porta a essa
hora dá manhã.
—Faith!
Olho para Mosés Handerson em específico e ele mantém o olhar, ele é um
homem muito bonito, traços fortes, e olhos azuis, cabelos escuros, o rosto
quadrado, a braba bem-feita... Mas não é isso, ao fitá-lo me sinto estranha de
repente.
—Oi?—sacudo a cabeça me dando conta bem tarde de que a esposa do
senhor Handerson me chamou.—Desculpe.
—Hum—ela pigarreia sem graça e imediatamente Mosés Handerson
desvia o olhar.
Ok, estou constrangida, fiquei encarando um estranho que até então só
ouvi falar e vi fotos estampadas no jornal dá cidade como se o conhecesse a
séculos.
—Quem é esse hein?—Cameron pergunta um pouco sério demais.
Não sei nem o que responder.
Escuto o som de um miado e olho para o rumo dá sala, engulo minha
incredulidade ao ver Beans passeando pelo meu sofá, não acredito que ele achou
o caminho de volta para casa.
—Não sei.—respondo só para dizer algo.
—Sei—Cameron não gostou disso.—Em que podemos ajudar?
—Precisamos conversar com a senhorita Silver—responde ela parecendo
nervosa.—É particular.
—Faith é minha namorada...
—Eu...—corto.
—Quem são vocês?—Cameron me corta visivelmente irritado.
Cameron fica olhando para Mosés Handerson como se quisesse matá-lo e
Mosés Handerson não abaixa a cabeça também.
—Ana Beatrice Handerson e Mosés Hallan Handerson, nós queremos
conversar com a Faith sobre a... Família dela.
—Ah, são casados—Cameron conclui.
—Sim—Ana Beatrice responde—Podemos conversar com você Faith?
—Cla-claro—posso recusar?—Cameron não é o meu namorado, ele é o
meu vizinho.
Ele me olha dê um jeito... Mas é ignorado, ainda não perdoei ele, nem sei
se quero perdoar.
—Sem problema.
Vou para o lado e os Handerson entram no meu apartamento, ainda estou
meio aérea, Beans vem depressa se enroscando nas pernas dos visitantes, em
específico de Ana Beatrice, ele é tão ousado, mas Ana o ergue nos braços sem
parecer se importar.
—Olá—ela lhe dá um sorriso doce.
—Vizinho né?—reclama Cameron baixinho.—Deveria se envergonhar de
me tratar assim perto dos vizinhos.
—Shiu—ordeno no mesmo tom de voz.—Depois falamos disso.
—Precisava ficar olhando para aquele homem daquele jeito hein? Ele sabe
que estamos juntos? Já esteve com ele antes?
Deus!
Fecho a porta do apartamento e me afasto, Cameron vem atrás
resmungando.
—Desculpem a baderna.—peço sem graça.
Ela olha envolta toda encantada com o meu canto, não está sujo, mas o
nível dá visita é superior a qualquer uma outra que eu tenha recebido, apesar de
não ter ideia dos motivos que os trouxeram aqui.
—Então—digo.—Em que posso ajudá-los?
Estou curiosa.
—Acho melhor sentar.—aconselha Mosés Handerson educadamente.
Tenho a sensação de que ele está incomodado ou coisa assim, nervoso eu
diria.
—Vou preparar um café—é o melhor que posso fazer para receber as
visitas.
Eles vão para o sofá, eu vou para cozinha.
Eu não havia notado, mas tem um vaso com flores na minha estante, e
outro das mesmas flores num canto dá sala em outro vaso, Cameron fica me
encarando muito sério sentado no outro sofá, enquanto preparo o café para as
visitas eles três ficam calados, pouco depois de alguns momentos, Cameron
emburra e vai para o quarto, começo a me perguntar o que o milionário local faz
na minha sala ao lado de sua esposa.
Tudo o que sei sobre Mosés Handerson é o que eu vejo nas colunas de
negócios do The Jornal que, aliás, não leio a um bom tempo, mas eu sempre dava
uma espiada nas outras colunas, as últimas notícias que tive dele foi que se casou
há alguns meses, acho que mais de um ano, Mosés é um herdeiro de sangue real,
a mãe morreu há algum tempo e deixou um império para ele administrar, queria
eu ter uma mãe dessas, fiz aniversário e mamãe me mandou uma mensagem
dizendo “parabéns” e só.
Preparo o café bem rápido, monto meu conjunto de xícaras mais bonito em
uma bandeja e levo para a sala tentando sorrir, logo eu os sirvo e me sento no
sofá de frente para ambos, Beans como grande folgado que é se senta no colo de
Ana Beatrice.
Ela é tão... Bonita!
—Então, em que posso ajudá-los?
Não sei por que, mas ao fazer essa pergunta, pelo jeito como Mosés
Handerson me olha, tenho a impressão que não é uma notícia boa.
—Bem—Ana sorri mas também deixa escapar seu próprio nervosismo
com minha pergunta.—Faith acredito que não nos conheça.
—Mais ou menos, já vi fotos suas nas colunas sociais do jornal—tento
sorrir.—Você tem sido uma inspiração para todas as garotas Plus Size dá cidade.
Ela está muito espantada com a minha resposta.
—Eu vi umas fotos, agora me recordo, vocês tiveram bebê recentemente
não é mesmo?—me lembro de ter lido isso em algum lugar.
—Sim, quatro meninas.
Meu sorriso é mais de espanto do que de surpresa em si, quádruplas?
—Amor você não quer explicar para Faith por que viemos?
Ana segura à mão de Mosés Handerson, e ele parece respirar fundo.
—Não há uma forma de tentar te explicar isso Faith—Mosés me olha no
fundo dos olhos.—Eu acho que somos irmãos.
Sinto como se caísse num poço sem fundo, e rapidamente o sorriso some
dos meus lábios.
Acho que ouvi errado...
Mosés Handerson disse que é o meu irmão?

Fim do livro 1

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