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É proibida a reprodução total e parcial desta obra, de qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico,
mecânico, inclusive por meio de processos xerográficos, incluindo ainda o uso da internet, sem permissão de
seu editor (Lei 9.610 de 19/02/1998).
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação do autor qualquer semelhança com acontecimentos reais é mera coincidência.
Todos os direitos desta edição reservado pelo autor.
—Boa coluna Faith...
—Obrigada Jessie.
Jessie sorri para mim me dando aquela forcinha, mas sei que no fundo ela
só faz isso para que eu não me sinta desestimulada, para que eu não desista. Entro
em minha sala, fecho a porta e parece que a minha cabeça vai explodir, acabo de
sair de uma reunião infernal com o redator chefe.
Blade—que tipo de mãe coloca o nome de um vampiro numa criança?—
O'nneal reuniu todos os redatores do jornal para uma reunião revolucionária... O
motivo? Acho que ele não tinha o que fazer ou a mulher dele dormiu de jeans,
simplesmente insultou todo mundo, e resumindo nos chamou de incompetentes,
disse que se não quisermos nossos cargos havia pessoas lá fora que queriam.
Ok, eu preciso do emprego, mas não obrigada, não preciso me sujeitar a
certos tidos de coisas para ter um emprego.
Claro, é o The New York Jornal de Nova York, e acho que se um dia
mamãe tivesse a capacidade de ouvir a força dos meus pensamentos ela me
mataria, mas enfim, como posso continuar trabalhando aqui sob estresse?
Às vezes eu olho para minha vida e me sinto a frustração em pessoa... É
como olhar para uma música dá Lana Del Rey ou dá Lykke Li...
Respiro fundo e vou pegando as minhas coisas, é muito ruim sentir como
se às vezes não fôssemos suficientemente boa para as outras pessoas, como se
nosso esforço não fosse o bastante ou como se nada estivesse sendo dentro do
possível o que podemos dar para alguém... É assim que venho me sentindo desde
que entrei no Jornal.
Blade—o redator Vampiro—chamou meu trabalho de medíocre e de baixo
escalão, ele me expôs dá pior forma diante de uma porção de pessoas que já tem
motivos o suficiente para me criticar todos os dias, eu não sabia se me sentia pior
ou conformada, por que ele fez isso com basicamente todos os principais
redatores do jornal.
Ainda me pergunto como nos dias de hoje, coisas assim acontecem todos
os dias com funcionários numa empresa tão grande, como pessoas arrogantes
como Blade se mantém em cargos de liderança, tudo o que ele disse foi tão
desumano, tão hostil, tão grosseiro.
Posso passar o resto dá minha tarde tentando encontrar nomes para xingar
aquele vampiro sangue suga desgraçado, mas não conseguirei encontrar nenhum
aos pés dele.
Acho que o The Jornal não faz questão de mim mesmo, acho que vou ter
que procurar emprego num outro lugar, aqui já deu o que tinha de dar para mim.
Estou cansada desse emprego medíocre.
Estou cansada de estar num lugar cercada por pessoas
supérfluas.
Fecho minha bolsa e saio dá sala, passo pela mesa dá Jessie, mas não
respondo a sua despedida, ela é minha assistente a alguns meses, não tenho nada
contra, mas não estou conseguindo sorrir, nem disfarçar minha raiva.
Logo entro no elevador e me vejo cercada de homens de terno, eles me
espremem como se eu não existisse e isso é péssimo, horrível, uma droga, ao
menos se eu fosse invisível não me sentiria tão minimizada.
Consigo respirar quando bato o meu crachá na catraca e saio daqui, vou
deixando a frustração para trás enquanto me afasto dá empresa, eu já passei por
muitos altos e baixos no The Jornal, mas depois que o Blade assumiu o cargo
venho francamente me decepcionando mais e mais.
Sou adepta a críticas, mas não tolero a falta de ética que vem desse homem
e acho que realmente o meu problema com ele é esse, eu não sei fingir que gosto
dele, que tolero ele, enquanto todos o adulavam quando acabou a reunião eu
simplesmente saí de sua sala.
Ele é insuportável.
Blade não quer que eu aborde temas sobre problemas femininos na minha
coluna, ele não quer que eu fale sobre mulheres comuns, ele não quer que eu fale
sobre mulheres grávidas, ele quer que eu fale sobre modelos, tendências, jovens e
monte uma coluna com uma estrutura totalmente voltada para um público que eu
não estou disposta a agradar.
Meu celular toca logo que entro no metrô, é a Brenda.
—Já chegou em casa?
E pela voz ela não está bem... De novo.
—Não, aconteceu algo?
—Bob rompeu comigo!
Ela está com a voz chorosa e só uma vez na vida eu gostaria de poder dizer
um grande "Dá um tempo Brenda, de novo esse merda", mas sei que não posso,
Brenda tem depressão, coisas assim só a colocam ainda mais para baixo.
—Estou indo para casa.
—Nos vemos lá então... Vou levar sorvete.
—Tá, beijo.
Ela desliga, e fico me perguntando como alguém consegue se permitir
passar por algo tão humilhante e cansativo, o relacionamento de Brenda com Bob
dura desde que a faculdade acabou, isso já faz sete anos, eles dois já terminaram
e romperam tantas vezes que eu francamente perdi as contas, acho que as vezes a
Brenda se sujeita demais a certos tipos de coisas que cansam muito mais do que
anos de casamento.
O que não aconteceu comigo e nunca acontecerá é claro.
Por isso eu vivo só, é tão bom ser só, os únicos problemas nos quais eu me
preocupo é com o Beans—meu gato desobediente—e as minhas contas, e é claro,
meu peso.
A parte mais detestável de tudo é perceber que a Brenda não tem amor
próprio, ok eu não tenho nenhum pouco, mas ela ultrapassa os limites de toda a
falta de amor do mundo sempre que se sujeita voltar para o Bob, sempre que
permite que ele volte para sua vida, será que ela não entende que esse
relacionamento acabou há anos?
Ok, ele é lindo, ok ele é bem de situação, ok a família dele adora ela e vice
e versa e eles tem uma história, mas eles não se amam, estão muito mais juntos
pelas aparências e comodismo do que por algum tipo de vínculo maior que os
prenda, e desde que ela começou com a depressão tudo tem estado muito difícil
para ambos, Brenda é dessas que fazem escândalo por tudo e qualquer motivo e
que logo em seguida ficam chorando, também não é santa, mas o Bob... Se ela
soubesse das traições dele—ou levasse em conta—com certeza não ficaria tão
arrasada com os términos de seu relacionamento.
Ela chama de Relacionamento, eu Chamo isso de doença.
Tem alguma praga maior do que amar e não ser amado? Do que querer
alguém e a pessoa se quer te notar? Do que querer alguém que tem namorado?
Venho tentando entender à mente doentia de todas as pessoas que me
cercam, mamãe e papai são outros, já passaram por tantas crises que não posso
chamar aquilo de relacionamento e sim de "No Limite", eles sobrevivem um com
as sobras do amor do outro, ou coisa assim, vivem brigando feito cobras e quando
aparece alguém ficam fingindo que se gostam.
São excelentes pais, mas quanto ao casamento um para o outro deixam a
dever, às vezes eu acho que mamãe inclusive me culpa por não ter ido a
faculdade, afinal de contas ela engravidou de mim no colegial, e papai nunca
conseguiu matar essa frustração que ela sentiu quando logo após me ter,
engravidou do Vee, e logo depois do Logan e logo em seguida do William.
Eles têm trinta anos de casados, nós quatro, casa própria e vivem
tranquilamente na Carolina Do Norte, meus irmãos são casados, apenas eu sou
solteira... Antes não apenas por opção, mas digamos assim que hoje vivo bem
dentro do que tenho isso se tornou para mim um estilo de vida, prefiro assim.
Entro no meu prédio, sorrio para o porteiro Grant, depois subo direto para
o meu apartamento, logo que entro Beans vem para o meio das minhas pernas
miando, o egoísta sempre faz isso quando chego, mas se engana quem acha que
faz isso por gostar de mim.
—Deveria ter adotado um cachorro.
Ele vêm numa felicidade, o Beans vem atrás dá ração.
Ele mia, é um gato preto de olhos chamativos e grandes, não é muito
gordo, achei o Beans quando estava voltando do trabalho há dois anos, e apesar
de ser um gato bagunceiro e desobediente ele tem sido meu grande e maior amigo
desde então.
Beans rola no chão dá sala enquanto deixo minhas coisas no sofá
parecendo querer chamar atenção, eu o olho tentando afastar a impaciência na
qual me meti hoje à tarde depois dá reunião na bat caverna com Blade, o vampiro
sangue suga.
—Hoje não Beans.
Depois vou para cozinha e pego no armário o enlatado, abro a latinha de
ração e coloco em seu cantinho, Beans é tão esperto que vem correndo e mal
parece me dar atenção—na verdade ele não me dá atenção nunca, só quando quer
alguma coisa em troca—depois eu troco sua água abro as persianas dá janela dá
cozinha, suspiro olhando pras janelas fechadas no apartamento ao lado.
A senhora Roberts morreu há alguns meses desde então desocuparam seu
apartamento, desde então não vejo essas cortinas abrirem mais, eu moro no
Quens, é um bom bairro, desde que terminei a faculdade me mudei para cá e esse
tem sido meu lar por um bom tempo.
Sinto falta dá velhinha que fazia chá todas as manhãs e acenava para mim,
foi triste quando soube que ela morreu, infelizmente parece que os parentes não
quiseram nem divulgar onde era o enterro dela, gente estranha, claro, não era uma
amiga profunda dá senhora Roberts, mas eu achava ela uma simpatia de pessoa,
nos conhecíamos de vista, mas eu queria muito dar um último adeus para ela.
Coloco a chaleira para esquentar e vou para o meu quarto tirando os
casacos, o par de sapatilhas, essa época do ano é um pouco fria, troco o jeans por
uma calça de pijama e a camiseta social por uma blusa comum, solto meus
cabelos do coque e me jogo na cama.
Às vezes, só às vezes dá vontade de sumir, de sair explodindo cabeças
alheias por ai... Será que se eu explodisse a cabeça do Blade eu seria presa?
Estou muito tentada...
Acho que o The Jornal para mim já deu, eu não sei se conseguirei seguir as
diretrizes do Redator Chefe, eu não posso me sentir bem falando sobre assuntos
que nada tem a ver comigo, por que não posso falar de mulheres comuns? Sobre
culinária? Sobre relacionamentos? Eu sou tão boa falando sobre essas coisas!
Prendo meus cabelos num coque de todo jeito e abro a janela do meu
quarto, olho para o movimento na rua e volto para cozinha, ligo o som, seleciono
a música que quero no home theater, infelizmente a MTV morreu há uns doze
anos atrás e tenho que me conformar com Pen drives, mas até gosto.
Foster The People Pumped up Kicks soa na minha sala e tento relaxar.
Depois do dia de hoje ainda ter que tolerar a choração dá Brenda? Será que
eu consigo?
—Deus, por favor... Por favor... Me leva antes dá meia noite se ela
começar a falar do dia das flores.
Isso foi há cinco anos, ela não para de repetir sobre esse dia, quando Bob a
levou para o Central Parque e comprou um buquê de flores para ela... Tem
também aquele dia do sorvete quando ele dividiu o sorvete com ela e eles ficaram
por horas falando dos futuros bebês deles... Como se ele quisesse mesmo ter
filhos com ela?
Beans já está no sofá confortavelmente deitado, vou para geladeira e pego
os ingredientes para um sanduiche, depois vou para pia e começo a lavar a
garrafa, pegar os ingredientes do café no balcão, abaixo e me ergo, nesse instante,
assim do nada, eu vejo alguém parado diante dá janela dá senhora Roberts.
Dou um pulo e quase derrubo o pote do café, meu coração dispara e eu fico
parada olhando através dá janela um cara que está parado olhando fixamente para
rua.
Ele está com os cabelos úmidos e usa uma camisa branca, na verdade não é
bem um cara, é um rapaz, tem olhos expressivos de cor castanhos escuros,
sobrancelhas escuras, e precisa fazer a barba.
Lindo!
—Fafa!
O Berro dá Brenda pode ser ouvido até quinhentos metros de distância, e
assim, imediatamente o rapaz olha na direção dá minha janela, quando seu olhar
me encontra meu coração se acelera ainda mais.
Imediatamente puxo a cortina dá janela e a fecho, depois balanço a cabeça
saindo do transe, Brenda vem com cara de choro, o nariz e os olhos
avermelhados, eu a abraço nesse instante.
Parece que o apartamento dá senhora Roberts acaba de ser ocupado.
Pior do que ver a Brenda chorando é ouvir ela cantando sucessos dá
Witney Huston enquanto curte a Bad.
É por essas e por outras que eu não tenho relacionamentos.
Não, obrigada.
Fico tentando entender como funciona todo esse processo na cabeça dela,
algo bem como: Vai e volta, volta sofre e vai, depois termina tudo e sofre, daí do
nada volta de novo e fingem que nada aconteceu.
Poxa, será que não cansa?
Brenda não entende que as coisas entre ela e Bob já acabaram há anos? Na
verdade nem deveriam ter começado depois do primeiro término. As pessoas tem
uma mania incrível de persistir em coisas desse tipo, e o mais engraçado é que
elas são as que mais nos aconselham mudar, porém elas não mudam.
—Você precisa de um namorado Faith.
Estamos deitadas no tapete dá sala, minha cabeça ao lado dá dela, porém
deitadas de lados opostos, olhamos para o teto, Brenda funga e chora cantando
essa música horrível dá Lara Fabian... Bem, não era tão horrível quando eu
também ouvia ela, mas isso foi a anos atrás.
—Para ficar como você?
—Para ser mais feliz do que eu.
Sempre adorei o otimismo de Brenda, eu também sou otimista... Às vezes.
—Brenda o que você vê no Bob?
—De verdade? O Pênis dele, é enorme!
Reviro os olhos.
—Ele me ama, ele só não percebeu o meu valor ainda.
—Como você gosta de se enganar!
—Vai ficar me julgando?
—Não estou julgando Brenda, só estou dizendo que...
—Que eu sou uma burra que vive insistindo nisso, que eu sou tola por
acreditar que o Bob vai um dia enfim perceber o meu valor.
Sempre somos muito sinceras uma com a outra.
—Eu não disse isso.
Brenda levanta e me ergo, ela está furiosa, os picos de humor dela pioram
às vezes do nada.
—Como esperar apoio de você não é mesmo? Você é a pessoa mais mal-
amada que eu conheço em toda a minha vida!
Sei que a magoo, mas estou bem estressada e cansada também, não queria
ter que ver Brenda voltando com Bob e passando por todo o processo doloroso de
término, por que eu sei que é isso que vai acontecer mais para frente.
—Brenda nada se resolve assim.
—Só contava com um pouco de apoio.
—Mais apoio? Brenda ele está te usando há anos...
—Se for para ficar me julgando prefiro ir embora.
—Então pode ir!
—Dá para entender por que o seu noivo te abandonou Faith, você é muito
amarga.
Depois que diz isso ela pega o casaco e a bolsa e sai do meu apartamento
pisando forte, suspiro.
—Você nunca entenderá por que ele me abandonou no altar Faith.
Falo isso para o nada, Beans se esgueira e vem deitar em meu colo, olho
envolta e respiro fundo sem permitir que isso me atinja, eu o deixo num canto e
decido tomar um banho.
Já faz um tempo que eu aprendi a lidar com isso, e quando vim para Nova
York eu decidi que não permitiria que o meu passado me atingisse ou que isso me
limitasse de alguma forma.
Tive um noivo que também foi o meu namorado por todo o colegial, na
verdade ele era meu melhor amigo de infância, foi alguém a quem eu dediquei
todos os meus dias, desde os onze anos de idade até os dezenove, alguém que me
conheceu por completo e quem amei profundamente.
Mas tudo acabou quando no dia mais importante dá minha vida essa
pessoa decidiu que eu não era tão boa assim para ele, ou ao menos foi isso o que
deu a entender quando dias depois do nosso casamento frustrado soube que ele
estava com outra garota.
Timmy ainda tentou me procurar um tempo depois para conversarmos,
mas nem mesmo em consideração a nossa amizade eu conseguia querer vê-lo,
estava destruída depois de tudo.
Acho que o pior em olhar para traz e ver o que vivemos é lembrar de que
um dia cheguei mesmo a acreditar que alguém me amava do jeitinho que eu sou,
coisa que nunca aconteceu, ou foi ao menos o que eu concluí com o abandono.
Entro no chuveiro ouvindo Demi Lovato, Stone Cold.
Tudo não passou de uma grande mentira, algo que Timmy fez para não me
decepcionar, e mal sabe ele, que com esse ato impensável eu fiquei destruída.
Partir dá Carolina do Norte foi algo necessário para que eu sarasse, sentia muita
vergonha de nossas famílias, tinha vergonha de mim mesma por conta de tudo, e
como a cidade onde morávamos era pequena eu cansei de ser o assunto, foi um
momento dá minha vida que eu deixei para traz.
Claro que hoje ainda sofro um pouco em lembrar de tudo, mas decidi que
não permitiria que isso me machucasse ainda mais com o passar do tempo, em
alguns sentidos conseguir realmente me superar, mas em outros...
Não foi fácil chegar aqui, não é fácil me manter aqui.
Eu sei o que eu passei ao ser abandonada num altar pelo homem que mais
amei na vida, e isso não foi minha culpa, se ser gorda era um defeito que Timmy
não havia enxergado em mim antes do casamento o que posso fazer? É minha
culpa por ele não me aceitar?
Pior nem foi isso, foi ouvir dá boca dá minha mãe algo que me deixou no
chão, coisas horríveis que a mãe de Timmy disse ao meu respeito após o
cancelamento do casamento, foi quando eu decidi deixar a casa dos meus pais e
fazer faculdade.
Graças a Deus fiz isso.
Saio do banho e logo ouço o som dá campainha, reviro os olhos enquanto
me seco, eu já até imagino a cara de tédio que ela vai fazer quando eu abrir a
porta. Coloco uma blusa nadador e um short jeans qualquer, vou secando os
cabelos enquanto escuto mais uma vez o som dá campainha.
Abro a porta abrindo a boca para reclamar, mas bem diante de mim está
uma figura muito diferente de Brenda, meu coração dispara com o susto e fico
olhando fixamente para o vizinho, surpresa por ele ser um pouco mais alto que
eu.
—Oi!
Deus, ele é um adolescente!
—Oi.—digo e tento sorrir.
—Meu gás acabou, você poderia me emprestar água quente?
Dá vontade de rir em pensar que a pouco fiquei tão impressionada com a
beleza desse rapaz, quantos anos deve ter? Dezoito? Dezessete? Bonito, com
certeza. mas porém muito jovem, pelo ou menos uns oito anos mais jovem que
eu.
— Claro. Você mudou para o apartamento do prédio ao lado.
—Era dá minha avó, ela morreu há alguns meses.
—Senhora Roberts.
—Sim.
—Tá, quer entrar?
—Eu trouxe uma garrafa.
Não sabia que ela tinha netos, não netos tão jovens e bonitos, mas apenas
sorrio e pego a garrafa dá mão dele, abro a porta para que ele entre, ele passa por
mim e olha envolta, me sinto grata por tudo estar limpo e no lugar.
—Não demora muito.
—Eles suspenderam o gás por que ninguém estava morando lá, mas acho
que até a noite tudo funcionará, você se chama...
—Faith.
Ele parece ser desses jovens bem articulados e tal, apesar de eu perceber
em seu olha um tipo de timidez ou coisa assim.
—Meu nome é Cameron.
—Bom.
Vamos para cozinha, Cameron é curioso, ele usa uma calça de moletom e
uma camiseta branca de malha fria, os cabelos úmidos estão penteados para traz,
me sinto um pouco nervosa com o jeito como ele fica me olhando.
—Você é casada?
—Por quê?
—Ouvi o som de mais alguém falando.
—Não, obrigada.
Encho a chaleira de coloco no fogão.
Cameron fica me olhando de uma forma muito curiosa, imagino que talvez
ele não more sozinho no apartamento do prédio ao lado. Indico a cadeira dá mesa
dá cozinha e ele se senta.
—Seus pais também se mudaram com você?
—Eu não tenho pais.
Poxa.
Ele também não tem cara de quem gosta de ficar respondendo a perguntas,
cruzo os braços e espero a água ferver em silêncio, o neto dá senhora Roberts
parece ser bem misterioso, já chegou cheio de marra, mas não me importo muito
com isso.
—Tem filhos?
Gosta de perguntar, mas não gosta de responder não é mesmo jovenzinho?
Me viro para ele e franzo a testa.
—Eu não tenho filhos.
—Isso foi rude!
—Da mesma forma que foi rude ao me responder sobre os seus pais.
—Soei rude? Eu não tenho pais! Meus pais morreram a anos, minha avó
era a minha única parente.
Nossa.
Cada revelação me deixa ainda mais intrigada, eu nem sabia que a senhora
Roberts tinha netos, claro, os parentes velaram o corpo, mas concluí que eram
filhos dela.
—Sua mãe era filha dela?
—Meu pai, mas ele morreu num acidente de carro.
—Entendo.
—E você?
—Eu o que?
—Não tem pais?
—Tenho.
Curioso.
—E... Irmãos?
—Vários, infelizmente.
—Minha mãe estava grávida quando morreu.
Isso é muito frio e muito triste.
—Que pena.
—É, realmente.
Cameron deve ser desses rapazes super populares dá faculdade, ele é meio
frio, seu semblante não exprime nenhum tipo de alteração enquanto fala e sua voz
é baixa e meio hostil, ele tem atributos físicos muito fortes, os olhos, o rosto, ele
é absolutamente lindo de rosto, mais magro, porém não é franzino, ombros largos
e braços compridos, tem cara de que faz algum exercício, mas sua beleza é algo
muito natural.
A água ferve e coloco na garrafa, depois eu a estendo para Cameron, ele se
ergue e aceita a garrafa em silêncio.
—Obrigado Faith.
—De nada.
Não estou muito bem para receber ninguém, mas não sou mal educada, eu
o acompanho até a porta.
—No que precisar...
Antes que eu termine a frase ele vira as costas e sai andando, suspiro.
—Estamos aqui.—completo, mas estou falando sozinha.
Cameron partiu.
Mal educado.
—Faith.
—Sim?
—Blade quer te ver.
Que ótimo.
Já comecei o dia bem.
Respiro fundo e levanto, sigo Lilith em silêncio, ela é a nossa colunista de
culinária, é uma mulher magra e alta, mas com um gosto super fino para roupas e
sapatos, algo que preciso admitir é claro nas mulheres que me cercam é que são e
estão sempre bem vestidas, nada de tênis, nada de jeans nem camisetes, tudo o
que elas usam são sapatos caros, calças ou saias sociais, blusas de seda entre
outras e tendências, isso me faz sentir-me deslocada, porque na maioria das vezes
é a minha forma de me vestir, eu gosto de ser prática por que pego muito metrô,
não tenho carro, então andar de sapatos altos—que já é um sacrifício para mim
em qualquer época do ano—e roupas apertadas—que me deixam espremida me
fazem desistir de ser como elas.
Eu na verdade nem em mil anos serei, nem quero ser como elas.
Acho que cada um tem o direito de ser o que quer, eu inclusive de ser uma
derrotada sem uma melhor amiga depressiva e com um gato egoísta, ah e não
vamos esquecer de vizinho adolescente rebelde.
Entramos na sala de Blade, ele está sentado em sua mesa, em suas costas
um mural de diplomas e certificados, que é alguém competente eu sempre soube,
bonito também, deve ter seus quarenta anos no máximo, moreno, olhos azuis,
lábios finos e mais alto, porte atlético, é o Blade é bem bonito, o que não
combina com sua beleza aqui é a arrogância estampada em seu olhar, o ego
estufado em seu peito, o a prepotência vazada em seu sorriso.
Ele também é casado pelo o que eu soube com o decorrer dá semana,
parece que com uma mulher bem importante de uma revista de moda, mas eu não
procurei saber muito de Blade, não quis, estava bem chateada com os meus
problemas pessoais, minha vida pessoal já é uma droga, acrescentar os dizeres e
exigências dele todos os dias na minha coluna tem sido suportável.
Não quero que isso tudo vire um inferno.
—Bom dia senhorita Silver.
Lilith fecha a porta.
Pensei que a reunião seria apenas entre eu e ele, mas pelo visto ela também
participará.
—Sente-se.
—Sim senhor, bom dia.
Faz cinco dias que esse cara assumiu e me cobre de exigências via e-mail
eu inclusive não sei muitas vezes como lidar com sua personalidade, não gosto de
pessoas autoritárias, apesar de eu ser bem assim, coisa que herdei de papai, ele é
super autoritário e mandão, mamãe já é aquela mulher bem omissa, sensível
demais, acho que os dois são dois polos.
Me sento na cadeira diante de sua mesa, Lilith na cadeira ao lado dá
minha, ela cruza suas belas e longas pernas, é, ela é bem chique, uma mulher
branca e ruiva, eu já não sou tão branca e o meu cabelo é castanho mais claro, e o
azul que ela tem nos olhos, acredito que eu jamais terei, também não gosto muito
de me maquiar.
—Eu te chamei aqui por que observo que a sua coluna não está se
adequando as minhas exigências.
Engulo o suspiro na garganta, não tem como agradar mesmo, eu não posso
falar de garotas magras e tendências numa coluna sobre mulheres num geral.
—Por isso a partir de hoje você irá para coluna de culinária, Lili vai
assumir no seu lugar.
Olho para Lilith, ela já sabia disso, vejo pela forma que ela o fita, tem um
brilho de vitória e alegria em seu olhar.
—Alguma coisa que queira me dizer?
—O senhor sabe que eu não entendo de culinária certo?
É difícil falar com Blade, depois dá nossa “DR” no primeiro dia em que ele
me expôs para o pessoal a alguns dias atrás eu tenho levado ele com a barriga,
tenho tentado atender as suas exigências mas não consigo escrever algo que não
condiz com o que o trabalho em si exerce.
Agora ele quer que eu fale de culinária? Eu só como fora, eu só sei fazer
café, salada e bife malpassado, e tem vezes que o meu bife até queima.
—Bem, terá que se adequar—ele fala com deboche no olhar.—Você deve
saber, seu corpinho não se tornou assim atoa certo?
O Que?
—Lilith entende de moda e tendências, ela é uma mulher ligada na
atualidade e entende a posição dá mulher na sociedade.
—Espera—peço sem fôlego.—O senhor vai me colocar na coluna de
culinária... Acho que ouvi errado.
—não ouviu não, você é gorda, se é gorda deve saber muito bem cozinhar,
e naturalmente come em abundância.
Lilith dá uma risadinha baixa, quando me viro para ela fico chocada diante
deste absurdo, o meu corpo todo recebe esta resposta como se levasse dezenas de
socos, então ergo meu olhar e meu sangue esquenta nas veias.
—Não!—digo e nego com a cabeça.—Eu não serei colunista de culinária.
—Não ficará na coluna dá mulher Faith...
—Claro que não.
—Claro que vai.
Me levanto, e detenho a vontade que sinto de avançar para cima desse
babaca.
—Tudo bem, eu passo no Rh e peço as minhas contas, boa sorte Lilith, e
com licença.
—Tem certeza de que não quer ficar na coluna de culinária?
—Tenho, procure alguém magra, e espere que em breve o meu advogado
irá procurá-lo para um papo bem legal sobre assédio moral Blade.
O semblante de Blade muda.
—Eu só estava brincando.
—Pois que fique com sua soberba e preconceito, eu estudei muito para ser
colunista de moda nessa empresa, o senhor não sabe o que é falar sobre uma
mulher, tão pouco Lilith, ela vai arruinar a sua coluna.
—Sua coluna é sem ênfase e sem graça.
—Nem todas as mulheres do mundo se importam com roupas e sapatos.
—Mas nem todas elas são garotas acima do peso e depressivas, seus textos
sobre amor parecem textos feitos para meninas de quinze anos que querem um
namorado.
—Tudo bem, muito obrigada pela crítica construtiva, com licença.
—Vamos Faith... Eu posso...
Enquanto me afasto escuto ele chamando, mas finjo que não ouvi.
Ao sair dá sala de Blade, choro um pouco, nunca pensei que passaria por
algo assim na minha vida, não novamente.
—É.
Ele parece muito contente em ouvir isso.
—Faith eu... Eu nunca me senti assim com ninguém, quero que saiba.
Eu também não me senti assim com ninguém.
—Também nunca me senti assim com ninguém Cameron.
Nos beijamos sem pressa, toco-lhe os ombros e os braços, ele segura as
minhas mãos e entrelaça os dedos nos meus, me sinto flutuando.
—Você quer tomar uma ducha quente comigo?
—Pode ser.
Depois que digo isso vejo um sorriso esplendoroso nos lábios dele, aos
poucos sinto-me mais desprendida, mais confiante, porque sei que Cameron gosta
de mim do jeito que eu sou, ele me aceita e ele quer que eu fique sempre bem,
acho que receber um pouco de seu carinho não me fará mal pelo contrário, nunca
estive tão bem.
—Só vou lavar a louça, me espera no meu quarto.
—Tá.
Ele sorri todo empolgado, começamos a tirar a mesa, antes de ir para o
meu quarto nos beijamos, Cameron fica me abraçando com força, e quando o
vejo se afastando para o corredor do meu quarto, sorrio toda feliz. Minha
garganta se enche de suspiros, meu coração também fica disparando, não diria
que pela bela visão do rapaz que se afasta, mas por tudo o que sinto quando ele
está por perto.
Não paro de sorrir enquanto lavo a louça, tento ser rápida, termino o mais
rápido que posso, estou secando as mãos quando escuto o som de duas batidas na
porta, estranho, mas depois de três segundos, escuto cinco batidas seguidas e já
sei quem é.
—Fafa, abre a porta, eu sei que tá ai!
Brenda!
Fico calada, e totalmente paralisada com sua chegada, não pensei que ela
voltasse tão rápido, e fico agoniada só de pensar que ela pode entrar no meu
apartamento e ver o que não deve ver assim do nada.
—Fafa... Eu quero conversar.
Então me vem à mente nossa discussão e me sinto azeda.
—Eu não tenho nada a falar com você Brenda.
—Mas... Mas...
—Mas nada—digo com firmeza.
Ela sabe como eu sou, o que ela acha que eu sou? Estou cansada dela
sempre fazer isso, de brigar comigo, ir embora cheia de razão e depois voltar
querendo que eu a desculpe, tem sido assim a um longo tempo, aposto qualquer
coisa que ela e Bob fizeram as pazes por isso ela veio aqui.
—Tem certeza que não quer conversar Fafa?
—Absoluta!
—Eu volto amanhã então.
—Faça o que quiser.
Sou mal-amada e não costumo ter pena mesmo, bem, acho que paciência
com a Brenda eu já tive demais, estou cansada dos “pitis” dela, que vá ficar com
Bob, que se machuque de novo, mas que dessa vez esteja ciente de que não irei
ficar aguentando ela depois que eles terminarem ou nas crises de existência dela.
Eu só sou amiga quando ela tem crise de depressão, claro, temos tido
momentos muito bons juntas, mas para mim nós mais vivemos momentos ruins
devido a esses autos e baixos dela que me sinto cansada.
Escuto o som dos passos dela se afastando e vou para o meu quarto, meu
bom humor parece se esvair só de lembrar do que ela me falou naquele dia antes
de ir embora atrás daquele merda do ex dela, que não é mais ex agora é
namorado.
Acho que Brenda e Bob são tão infantis quanto aqueles casais que mudam
de Status na rede social a cada quatro meses para avisar que estão em algum tipo
de relacionamento, quando terminam ninguém sabe, mas quando voltam tem
direito a declaração de amor, flores, e fotos juntos.
Hipócritas.
Prefiro morrer sendo uma mal-amada do que ser assim.
—Quem era?
—A minha ex-amiga.
—Ah.
Cameron está sentado na minha cama mexendo no celular, ele levanta e
estou indo para o banheiro, estou tão brava por Brenda ter voltado e estar agindo
como se nada tivesse acontecido, mais pela cara de pau dela de me pedir para
conversar, para que? Para ela ficar me humilhando?
—Brigaram?
—Nem precisou, sabe eu odeio quando ela faz isso!
—Isso o que querida?
—Quando ela briga comigo e depois volta como se nada houvesse
acontecido.
—Pelo ou menos você tem amigos de verdade, eu estou cercado por um
bando de urubu que querem os meus contratos.
—Brenda é sem noção.
Tiro a blusa e jogo para longe, depois a calcinha, me indago sobre o jeito
de Brenda ser mentalmente, não é por causa dá depressão que ela é assim, sei que
não.
—Ela te disse algo que não gostou doçura?
—Ela nasceu.
Escuto a risadinha de Cameron de longe e entro no box, ele entra e me
puxa me virando para ele.
—Ficar brava com ela não vai te levar a nada.
—Vai sim, daí dá próxima vez que ela vier choramingar aqui, eu não vou
ser uma completa burra e aceitar ela de volta na minha casa.
Cameron liga o chuveiro e me puxa para ele, fico parada encarando-o.
—O que nos torna diferentes das pessoas é isso querida, nossa capacidade
de ama-las, se você agir como ela será igual a ela, não compensa Faith.
Nossa!
—Mas não quero falar dessa tal ex amiga, quero nosso primeiro banho
juntos algo superlegal.
—Sim.
Acho melhor deixar isso de lado mesmo, Cameron tem muito mais a me
oferecer do que ficar com raiva dá Brenda.
Estamos abraçados.
A agua cai do meu chuveiro em nossas cabeças, Cameron me agarrou e
não me solta mais, eu também o abraço, nossos corpos estão colados, e ele me faz
sentir tão bem com seu abraço. Suas mãos acariciam muito lentamente as minhas
costas, seu queixo está apoiado em meu ombro, ele é um pouco mais alto que eu.
Minhas mãos estão acariciando suas costas também, seu corpo é quentinho, ele é
tão... perfeitinho.
Mal entrei no box e ele já foi me abraçando, estava coberta de vergonha
por ficar nua, bem, ainda estou, mas a cada instante ele me passa confiança e
carinho, isso me deixa um pouco mais a vontade em relação a Cameron.
Meu corpo não é lá essas coisas, em comparação a ele então... Me sinto
como uma mãe de três filhos que amamentou e engordou durante a gestação, meu
corpo é tão flácido que as vezes me dá nos nervos, esse é um grande motivo pelo
qual eu decidi que não queria ter filhos, se já sou gorda assim, nem quero me
imaginar grávida, seria a grávida mais ridícula que existiria na face dá terra.
Se tornou tão comum ver garotas magras grávidas na tv, nos comerciais,
nos filmes, enfim, em tudo que fica bem fácil pensar no quanto uma garota gorda
deve se odiar a partir do momento que descobre que sua gestação não será como
a gestação dessas supostas mulheres, sei que sou preconceituosa, e que o mundo
não gira em torno dá minha forma de pensar, mas é isso o que tenho a impressão:
Garotas de número menor são mais felizes, mais bem casadas, sempre
estão namorando, sempre estão em cargos bons nos empregos e são bem
sucedidas em suas carreiras, enquanto nós, garotas gordas nem sempre podemos
falar o mesmo em relação a todas as fases de nossas vidas.
Com sorte, eu consigo um emprego no concorrente começando com o um
cargo na xerox, Blade com certeza não dará boas referências minhas para
ninguém, nem recomendações, isso provavelmente vai arruinar minha “quase”
carreira de redatora.
—Você está tensa—Cameron fala baixinho.—O que é Faith?
—Meu emprego, preciso resolver isso logo—respondo incerta.—Estou
com medo de ficar desempregada.
—Eu te ajudo Faith, não precisa ficar com medo, eu posso pagar suas
contas.—ele fala convicto.
Meu coração fica pequeno, porque me sinto lisonjeada e preocupada ao
mesmo tempo, não quero que Cameron acha que só porque está comigo tem
alguma obrigação de me sustentar ou algo assim, eu não sei como as condições
financeiras dele andam, mas com certeza não tiraria proveito disso em nenhum
sentido.
—Você não tem nada a ver com isso—digo sincera.—Eu vou tentar
arrumar outro emprego.
—Besteira—diz baixinho e encara.—Deixa disso Faith, estamos juntos,
somos namorados, eu não me importo de te ajudar.
—Apenas comentei, não quero te dar despesa.—confesso sem graça.
—Não vai dar—responde, seus olhos castanhos me analisam com cuidado.
—Dinheiro não é problema para mim Faith, ele foi feito para solucionar
problemas.
—Falou o Garoto Ricaço!
Ele sorri, me dá um selinho, e outro beijo, e me aperta, me derreto toda
com seu sorriso, ele é tão... Doce!
—Debochada—acusa mas ainda sorri.—Você acha que eu não tenho
dinheiro?
—Eu não disse isso—corrijo.—Só não quero que pense que tem
obrigações comigo, você tem a sua vida e eu a minha, eu sou preocupada assim
mesmo Cameron, é o meu jeito.
—Você é muito responsável.
—Talvez.
Me considero mesmo paranoica, mas é que para me manter em Nova York
eu sei que tenho que trabalhar e ter uma renda.
—Mas fique despreocupada—Cameron fala e toca a minha face.—Você é
tão linda.
Sorrio morrendo de vergonha com o elogio, desvio o olhar, ele segura a
minha face e a ergue me forçando a fitá-lo.
—Eu estou falando sério Faith, você é linda, perfeita para mim, não precisa
ter vergonha do seu corpo.
—É meio difícil sabe? Me sinto constrangida por isso, e idiota.
—Por quê?
—Sou mal feita de corpo Cameron, parece que só você não vê o quanto eu
sou feia, o quanto o meu corpo é grande e desproporcional—me sinto péssima em
falar isso, mas é a verdade.—Meu corpo não é perfeito, você é muito jovem e
com certeza merece uma garota com tudo em cima sabe?
Cameron não responde, sinto como se estragasse lentamente nosso
momento juntos, quero chorar, eu não queria que fosse assim.
—Me sinto péssima, eu não mereço estar com você Cameron...
—Não fala isso está bem? Estamos indo bem Faith, não estraga nossos
momentos por medo.
—Você não tem medo de nada?
—Não tinha, até te conhecer, agora tenho medo de perder você.
Ele nega com a cabeça e se afasta, fica me fitando, os maxilares trincados,
tão sério que começo a ficar inquieta.
—Eu acho que talvez você esteja interpretando as minhas intenções de um
modo superficial Faith, eu não sou esse cara que você pensa, eu não vejo
problema algum no seu corpo, eu gosto dele assim.
—Cameron, eu peso quase 100 quilos, isso é demais.
Meus lábios começam a tremer sutilmente, porque parece inevitável
chorar.
—Me desculpe—peço sincera.—Eu não queria ser assim, eu não queria
estragar tudo de novo.
—Você não estragou Faith—ele fala e toca a minha face com carinho.—Eu
gosto muito de você desse jeito, não precisa ter medo de julgamentos, eu te aceito
assim, eu adoro cada pedaço do seu corpo.
É muito impossível que um homem me fale isso de uma forma tão sincera,
mas Cameron diz, e diz de uma forma tão concreta e transparente que me sinto
cheio de um sentimento de ternura e até mesmo alivio, conforto.
—Gosta de mim Faith? Me aceita como eu sou?
—Claro que sim...
—Isso é o que basta para nós dois.
Seguro sua mão e faço que sim com a cabeça, Cameron se aproxima
novamente e me beija com carinho, correspondo, as lágrimas são levadas com a
água do chuveiro, meu coração se acalma enquanto ele me beija, me abraça, e por
mais que meu tamanho seja significativo, me sinto pequena entre seus braços.
—Eu sou louco por você Faith, você não vê? Eu não consigo parar de
pensar em você um segundo se quer desde que nos conhecemos, eu me sinto tão
idiota em dizer isso, mas eu não quero que fique longe de mim, eu quero você
sempre perto de mim, eu faço qualquer coisa para que você me aceite e fique
comigo.
—Não será um caminho fácil Cameron, eu sou uma pessoa com marcas
feias no corpo—digo a força.—Na alma!
—Eu não vou desistir.
Eu não sei se conseguiremos viver isso juntos até o final, começo a querer
coisas que são impossíveis para mim por causa desse garoto, ele mais do que
tudo.
—Fiz café.
—Obrigada.
Acabo de acordar, acho que dormi demais, já parece ser bem tarde, checo o
celular, 16:23... Poxa!
—Me deixou dormir esse tanto?
—Você parecia cansada.
Depois do banho viemos para cama, me cobri até o pescoço e Cameron e
eu decidimos dormir, nunca fiz isso na vida, também não me sinto uma completa
irresponsável, estou bastante relaxada, acho que os acontecimentos do jornal
estavam me estressando demais, estar em casa tem sido muito bom.
—Fui ao mercado—ele fala e me entrega a caneca com café.—Não quero
reclamações ok?
—Vai adiantar?
—Não muito.
Ou nada.
Cameron colocou uma cueca samba canção de cor preta folgada e usa uma
camisa minha, acho meio ridícula a ideia dele usando uma camiseta minha do
Mickey, mas se ele quer... Quem sou eu para questionar? A camisa ficou folgada
para ele, e eu meio que me sinto um pouco incomodada com isso, mas melhor
não ficar falando sobre isso nesse momento.
—Comprei os ingredientes para fazermos um bolo e a ração do Beans,
preciso te falar uma coisa.
—Fala.
—Eu estava pensando se você não quer comprar uma cama maior para nós
dois, o que acha?
Parece que ele tem medo de falar ou coisa assim, mas acho que por um
lado isso não tem a ver com o meu peso, Cameron que dividir a cama comigo
enquanto estiver na cidade e não apenas isso, ele quer morar comigo, assumir
responsabilidades, por mais que eu ache que não esteja pronta acho que ficar
também renegando isso é uma grande falha, porque ele vai continuar insistindo, e
isso vai se tornar algo cansativo e chato.
Vai nos magoar acima de tudo, porque ele gosta mesmo de mim, por mais
inacreditável que pareça e eu também gosto muito dele.
—Gosto de espaço—ele fala me analisando.—Você não?
—Eu ocupo muito espaço Cameron, são duas coisas bem diferentes...
—Faith para!
Estou sorrindo, ele afasta meus cabelos para traz dá orelha, me sinto idiota
com seu olhar punitivo.
—Te adoro Faith, é apenas melhor para nós dois esta bem? Quero que
tenha conforto, sua cama não é de casal mesmo, não para nós dois dormirmos e
termos conforto, isso não tem a ver com o seu peso.
—É de casal, ela só não é grande o suficiente para dois espaçosos.
Ele sorri, enrola os meus cabelos entre os dedos, não estou muito a vontade
de ficar assim nua diante dele, meus seios expostos, mas sei que se ficar
morrendo de vergonha por conta disso, as coisas vão desandar, parece que cada
momento que passamos juntos percebo que talvez isso nos atrapalhe a continuar
com nosso relacionamento.
—Vou preparar uma salada para nós dois com bife, que tal?
—Você é muito bonzinho.
—Quero que tenha motivos para não me expulsar dá sua vida.
—Hummm... Se você continuar a me mimar assim posso deixar você ficar
por um bom tempo.
Cameron sorri e me dá um beijinho suave, acabei me apegando muito a
ele, por sua forma de ser, por carência, quem sabe? Eu não quero que ele vá
embora, eu quero ele comigo aqui... Sempre, mesmo que isso seja algo
impossível, pedir demais.
—Acho que temos que fazer exames de sangue, não acha?—Cameron
questiona se afastando um pouco.—Você tem que tomar algum contraceptivo.
Concordo.
—Pode ser, não queremos que coisas ruins aconteçam não é mesmo?—
respondo incerta.
—Você não pensa em ter filhos?
—Não tenho mais físico nem idade para isso Cameron.
Parece impossível conversar com ele sobre esse assunto sem que pareça
complicado ou coisa assim, para qualquer pessoa é comum falar de filhos e
prioridade, para mim é estranho e distante, matei todos esses sonhos dentro de
mim porque era mais fácil do que ficar sentindo vontade de coisas que eram
impossíveis para mim.
Se eu tivesse casada hoje talvez tivesse tido um ou dois bebês, sempre quis
ter filhos, cresci numa família cheia, cercada de irmãos e irmãs, tenho sobrinhos,
mas infelizmente essa não foi a minha realidade, meus sonhos acabaram num
altar de igreja quando fui abandonada, naquele dia eu percebi que não teria nada
do que a maioria das garotas dá minha idade tinham, pelo contrário, meus sonhos
foram um a um mortos depois daquele momento difícil.
—Eu quero bebês—Cameron fala me trazendo para realidade.—Posso
esperar você aceitar o meu pedido.
Engulo o café a força.
—Tipo, de ficarmos juntos mesmo, eu quero ter uma família Faith.
Um sonho muito bonito, simples, mas que custa um preço muito alto, ao
menos para mim, nesse momento dá vida, não tenho mais vontade de formar uma
família, já sofri tanto com desilusões que hoje tudo o que me tornei foi um vaso
vazio, seco e insensível.
—Não é para agora—ele comenta vagamente.—O que foi Faith?
—Eu não quero ter filhos—esclareço.—Eu também não acho que sirva
para ser mãe de família e essas coisas...
—Você não tem que achar nada, disse que não é para agora querida, para
de sofrer por precipitação.
—Você às vezes é muito grosso Cameron.
—É que às vezes eu acho que você é igual a Hannah Baker dos Treze
Porquês!
Franzo a testa, não faço a menor ideia do que ele está falando.
—Treze Porquês... Hannah Baker... Clay Jensen... Jeff... Netflix... Oi?
Eu o encaro ainda confusa, Cameron começa a ficar vermelho e percebo de
que não faço um pingo se quer de ideia do que ele fala, e ao perceber isso, ele
sente vergonha.
—É uma série, nunca ouviu falar?
—Não assisto séries.
—Não? Sério?
—Não tenho tempo para isso Cameron.
—Eu assisto sempre que viajo, vi mesmo que você tem o aplicativo, mas
sua biblioteca está vazia.
Bebo um pouco de café.
—E o que tem essa... Haanah?
—Ela é depressiva, só fala coisas como: “sou vazia, sou idiota”, e ela não
se sentia merecedora do amor.
Isso é muito, muito eu mesma!
—Quer assistir comigo? Podemos fazer uma maratona.
—Bom, se você quiser por mim tudo bem.
Qualquer coisa a ficar esmiuçando esse assunto, não quero discutir
também.
Cameron é jovem, nunca sofreu decepções, ela não sabe o quanto é difícil
passar por coisas como eu passei, ele nunca saberá, simplesmente ele tem tudo
para se dar bem na vida, e eu, fui apenas alguém ingênua e tola para saber demais
em um alguém que não merecia, e ainda que isso não seja culpa do Cameron, eu
tenho muito receio de que tudo dessa vez saia muito errado, e eu acabe de novo
arruinada, por isso não quero criar expectativas, quero deixar tudo ir
acontecendo, ser der certo tudo bem, mas se não der, ao menos terei o consolo de
que sempre soube que seria apenas algo momentâneo.
—Podemos cozinhar depois que fizermos o bolo.
—Não entendi porque você fez compras de novo.
—Eu não havia comprado meu suplemento e as coisas para minha dieta.
Ele faz dieta!
Não sei o que falar.
—Eu gosto de comer bem e sigo uma dieta mais regrada Faith, por conta
dá minha profissão.
Parece que ele está me dando uma bronca.
—Eu não disse nada.
—Nem precisava, só o jeito como você me olhou disse tudo.
Estou constrangida depois disso.
Cameron levanta e me olha tão magoado que me sinto mal.
—Me desculpe Cameron, eu não tinha a intenção.
—Eu fico pensando como você que sofre tanto com o preconceito e tem
tanto preconceito dentro de si própria—fala chateado.—Tenho te dado tanto de
mim e tudo o que você sempre me dá na maioria das vezes é incerteza e dúvidas,
quando não é isso, me olha como se eu não fosse merecedor de nada.
—Cameron...
—Eu estou muito apaixonado Faith, eu estou me entregando muito a tudo
isso, só espero que você não faça pouco mais de mim pela minha idade ou pela
minha profissão, ela é tão digna como qualquer outra.
—Eu não disse isso, só fiquei surpresa, eu também gosto muito de você.
—Você pareceu debochar de mim, sempre faz isso quando falo algo dá
minha profissão.
—Não é a minha intenção Cameron, me desculpe.
Ele não responde e fica calado.
—Vou ver tv...
—Cameron para com isso tá? Eu já me desculpei, eu não queria te
machucar.
—Só não fica me olhando como se eu fosse um ridículo tá bem?
—Não era a minha intenção—repito e me levanto, seguro os lençóis
envolta do meu corpo e deixo a caneca no criado, me aproximo dele.—Eu não
quis te magoar Cameron, me desculpa.
Ele me olha de cima abaixo e depois me abraça com força, assim do nada.
—Está bem, eu perdoo, mas só se você me prometer que não vai mais ficar
me olhando assim quando eu falar de algo sobre a minha profissão ok?
—Eu prometo.
E o beijo.
Não quero brigar, nem discutir.
—Vem ver o seriado comigo?
—Só vou colocar uma roupa.
—Para que roupa?
Sorrio, acabo por concordar e vamos abraçados para sala.
Acho que ele tem razão afinal de contas, estamos apenas eu e ele no meu
apartamento, ele gosta do meu corpo e me aceita, não preciso morrer de vergonha
por ficar nua perto do meu namoradinho preciso? Então... Para que roupas?
— O que foi?
—Nada.
Desconfio desse "nada", mas apenas sorrio. Cameron beija o meio dos
meus seios e acomoda a cabeça entre eles me abraçando, ele é tão carinhosinho
que me sinto superbem ao seu lado, à vontade. Tomamos café mais cedo e
estamos vendo a série que ele falou.
Resumindo: Drama Adolescente.
Mas um drama adolescente cheio de intrigas, brigas, abusos e uma porção
de coisas nas quais me interesso muito, principalmente entre tudo isso um tema
muito pouco comum que vejo em filmes ou séries atuais: bullying.
Me senti impactada com a profundidade do assunto, e me cativei pela
estória dá personagem principal, Haanna, tanto que foi como se de alguma forma
o que Cameron disse sobre eu ser parecida com ela, fizesse algum sentido, as
melancolias, as tristezas, a angústia, e a forma como vejo o mundo são bem
parecidas com a forma na qual a personagem coloca.
Suas frustrações e angústias são bem definidas e ela é marcada por uma
série de coisas ruins que a levaram ao suicídio, coisa que confesso que já pensei
cometer também, algo que é tão banal, mas tão comum, que me fez pensar em
como milhares de garotas se sentem por ai, Haanna por seus complexos e
expectativas que sempre deposita nas pessoas, e eu com o meu excesso de peso e
um quase casamento frustrado.
Não somos tão diferentes afinal.
Ela passou por tantas coisas, eu também passei e passo, mas descobri em
Haanna alguém muito próxima de quem eu sou só que, porém em fases diferentes
dá vida, às vezes me sinto muito vazia e incapaz de gostar das pessoas, de deixar
que elas se aproximem, em outros momentos, tenho certeza de que faço certo em
mantê-las afastadas, Blade é um exemplo vivo de que o preconceito existe e estar
aberto as pessoas, significa estar suscetível a críticas, coisa que venho evitando
com todas as forças.
—Você está tão calada.
—Gostei dessa série, amanhã quero terminar de vê-la.
—Eu disse que você é igual à Haanna.
Sorrio ignorando-o por completo.
—Nem tanto, Haanna é mais infeliz, eu ainda tenho o Beans para tornar
meus dias felizes.
—Não está esquecendo alguém nessa lista?
—E você é claro.
Ele se ergue e me beija, sua mão se enfia nos meus cabelos e toco seus
ombros, ele sobe em meu corpo explorando a minha boca com gentileza,
Cameron me trata tão bem, ele é sempre tão cuidadoso comigo.
—Vamos jantar fora?—pergunta.—Que tal um restaurante japonês?
—Pode ser.—gosto dá ideia.
Não almoçamos, comemos biscoitos e fiz outro café, qualquer coisa para
não perder os episódios, no final das contas, o dia passou muito mais rápido, eu já
tinha acordado mesmo mais tarde, mas não me importo muito com isso.
—Quero te dar uma coisa.
—Quer?
—Aham.
—O que é Cameron?
—Um presente!
Não ganho presentes com frequência, exceto pelos meus aniversários sem
graça ou quando a minha ex-amiga Brenda decide me dar alguma rosquinha.
—É uma rosquinha?—adoro rosquinhas.
Ele me encara e sorri.
—Não!
—Desculpe, é mal de gordo.
Cameron se ergue e me olha mais sério, fico sem graça.
—Tá, parei, agora fala o que é.
—Você tem que prometer que não vai devolver.
—Eu prometo.
—E que vai usar.
—Anda logo.
Estou supercuriosa.
Cameron se levanta e vai até uma de suas mochilas e malas que deixou
num canto dá sala, acho que vou ter que arrumar um lugar no meu armário para
colocar as coisas dele, ao menos quando estiver aqui.
Ele traz a mochila e me sento no sofá, pego um travesseiro e coloco diante
de mim, Cameron abre a mochila e retira de dentro dela uma caixinha de
presentes pequena.
—Você prometeu.
—Tá—tomo a caixinha dá mão dele.—Meu presente.
Ele sorri, algo tão lindo que me sinto derretida.
—Tão delicada.
—Sou mesmo.
Abro a pequena caixa rapidamente, não é muito grande, acho que pode ser
uma pulseira ou coisa assim, talvez um colar, quem sabe uma daquelas
pulseirinhas com pingentes, gosto de usar joias apesar de não ser muito vaidosa,
às vezes até uso tornozeleiras. Abro a caixinha de madeira antiga e depois quando
vejo o pequeno anel diante de mim, fico boquiaberta.
—Faith, você quer ser a minha namorada?
—Faith?
—Estou pensando, espera.
Cameron se inclina e me rouba um beijo, ele toma o anel de mim, e
rapidamente segura a minha mão, enquanto me beija, enfia o anel no meu dedo
anelar direito com todo o cuidado do mundo, depois se afasta e observa a minha
mão então a beija.
Isso me enche de carinho por ele.
—Isso é um sim!—afirma e me fita, um sorriso maroto nos lábios.—
Certo?
Lhe dou um sorriso, me sinto tão comovida que quero chorar.
—Sim.—confirmo.
Cameron sorri ainda mais, os dentes perfeitinhos e retos, o mais incrível
nele sem sombra de dúvidas é o contraste de seu rosto quando sorri, a forma
como parece que seus olhos sorriem quando ele sorri.
Sinto vontade de morder ele, e também de chorar, porque isso me traz
recordações profundas de como talvez eu tenha me enganado em relação ao amor
e tudo o que vivi no meu passado.
Talvez eu deva me dar uma chance de ser feliz, de tentar prosseguir com
ele, mesmo que não dure... Mas então deverei aproveitar o tempo que durar ao
lado dele.
Eu sei que esta é a maior loucura que eu poderia fazer na minha vida, me
apaixonar por um garoto tão diferente de mim, mas acho que estou muito mais
que envolvida com Cameron Morgan, eu gosto muito mais dele do que eu pensei
que poderia gostar de alguém, eu o quero por perto.
Porque não podemos namorar?
Ainda que talvez eu realmente nunca me sinta uma mulher bonita ou
completa ao menos ele parece gostar de mim também, me aceita e quer estar
comigo, e eu sei que não é mentira, porque seria mentira?
Cameron já deu muitas demonstrações de que gosta de mim, de que me
quer ao seu lado, eu quero sim ser sua namorada, eu quero sim poder curtir um
pouco desse momento ao lado dele, ele é muito especial para mim.
—Obrigada é lindo.—consigo falar e me ergo.
Não posso falar tudo o que sinto, não por vergonha, mas porque não
consigo entregar meu coração assim de cara para ele, não posso dizer que estou
apaixonada para Cameron e correr o risco de daqui a alguns meses tudo isso não
passar de uma grande ilusão, por mais que a minha vontade de estar com ele seja
subitamente crua e forte, é a coisa mais forte que sinto na minha vida, mas não
posso.
—Você está feliz Faith? Gostou mesmo querida?
—Sim, é perfeito.
E também parece muito caro.
—Eu vou tomar um banho—digo sem graça.—Obrigada pelo anel, é lindo.
—Vou com você.
—tatá .
Não sei como reagir, não ganho tantos presentes com frequência, Cameron
passa o braço envolta dá minha cintura e vamos juntos para o banheiro, ele se
despe e entro no box ligando o chuveiro, me sinto um pouco nervosa, algo que
não deveria sentir e uma dúvida me vem a mente.
—Você tem certeza de que você...
—Faith não começa, eu tenho sim certeza de que quero te namorar.
—Está bem.
Ele me fita bastante sério.
—Olha, eu sou muito responsável Faith, você está muito apegada ao
detalhe dá minha idade, mas eu sempre fui dono de mim e das minhas ações, eu
gosto de você, mas tem que parar com isso.
—Não é pela sua idade Cameron, é que acho isso muito sério mesmo, é
uma decisão importante.
—Te pedir em namoro?
—Me dar um anel também, suponho que tem bastante significado para
você.
—Tem, eu comprei pensando em você, quero muito poder ter algo mais
sério com você.
Me sinto lisonjeada constantemente perto dele.
—Você sabe que não terá mais volta Cameron?—desvio o olhar.
—Eu não quero que tenha volta Faith—responde mais sério.—Olha para
mim, será que você não entende?
—Eu quero algo sério também Cameron, estar com você é muito bom,
sinto que posso ser eu mesma sem ter medo de mostrar o meu corpo...
—Nem deve ter medo, o seu corpo é lindo Faith, precisa ser cego para não
ver.
Sorrio com sua gentileza e o abraço sentindo que posso chorar um pouco,
Cameron me aperta com força e me beija o ombro.
—Vou cuidar de você querida.
Espero que sim.
Fim do livro 1