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1 Introdução 1 Introdução
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2 Língua-estrutura e língua- 2 Língua-estrutura e língua-
acontecimento acontecimento
Dita na frente de uma turma, tomando-se certa
atitude, usando certo tom de voz e de olhar,
eventualmente fazendo um gesto de Texto : “realidade imediata” das ciências ditas
aborrecimento:
humanas (e isso inclui a musicologia e a teoria e
“Quero que vocês façam silêncio!” história das artes plásticas). Todo texto “tem um
Eis aí um evento de discurso, ou língua- sujeito, um autor (o falante, ou quem escreve)”
acontecimento. (BAKHTIN).
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4 Práticas discursivas na escola 4 Práticas discursivas na escola
A “redação” é praticada, mesmo sob nova Ordem metodológica sugerida por Bakhtin, centrada
denominação – torna-se secundário o na concepção de gênero do discurso.
Principia com a dimensão social dos gêneros onde
propósito de estabelecer a “comunicação
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4 Práticas discursivas na escola 4 Práticas discursivas na escola
ENUNCIADO tem
Quando nas linguagens gírias e estilos Tema e Significação.
começam a se fazer ouvir as vozes, estas O tema só é perceptível (compreensível) no
deixam de ser meios exponenciais de todo do enunciado, produzindo um efeito de
expressão e se tornam expressão atual, sentido (acontecimento).
realizada; a voz entrou nelas e passou a A significação está integrada no tema – liga-
dominá-las. (BAKHTIN) se à base linguística, e constitui a
potencialidade para produzir sentido; em si
mesma não serve para a comunicação
discursiva.
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5 Produzindo autoria na escola 5 Produzindo autoria na escola
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5 Produzindo autoria na escola 5 Produzindo autoria na escola
Na AD jogo entre paráfrase e polissemia: [...] representa [...] o retorno aos mesmos
movimento discursivo entre “o mesmo” e “o espaços do dizer. Produzem-se diferentes
diferente” – é preciso repetir material da formulações do mesmo dizer sedimentado. A
memória discursiva, que por sua vez pode paráfrase está do lado da estabilização. Ao
sofrer deslizamento e produzir outro efeito passo que, na polissemia, o que temos é
(pelo produtor, pelos intérpretes, variando deslocamento, ruptura de processos de
conforme circula nos espaços). significação. (ORLANDI, 1999, p. 36)
Então a paráfrase
O “efeito papagaio” não ajuda ninguém a trilhar as Há etapas e nuanças no exercício da função
veredas da autoria; de autoria, até o reconhecimento de uma
A paráfrase no sentido técnico pode ser um começo parcela de singularidade na produção.
para explorar as possibilidades abertas pela língua
em direção ao discurso (por exemplo, a produção Citar autores, direta ou indiretamente, é
de sínteses, resumos); mas “conversar” com eles para conversar com os
A repetição histórica é que desliza para a potenciais leitores. Ao citar, adotamos uma
concretude do enunciado, produzido em função da atitude em relação ao que é citado e em
alteridade (uma atitude valorativa de resposta a relação à perspectiva autoral de origem.
leituras, discussões, comentários).
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5 Produzindo autoria na escola 5 Produzindo autoria na escola
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5 Produzindo autoria na escola 5 Produzindo autoria na escola
Por “autonomia autoral” entendo um O texto a produzir é como uma malha (rede)
processo que, não acabado por sua própria recebida em fragmentos na qual cada sujeito
natureza, representa a possibilidade escolhe incrustar “ornamentos” de sua
subjetiva de buscar autonomamente os escolha fazendo as ligações que julga
meios para continuar desenvolvendo sua necessárias para se fazer ouvir e produzir
potencialidade em matéria de uso social da uma marca: o gênero tem um estilo
linguagem: (coletivo); cada sujeito cria seu estilo
(singular). (FURLANETTO, 2008, p. 17)
Estrutura e acontecimento a tratar em sua Uma face desse processo: a escuta, implicada na
complementaridade. interação discursiva:
Ponto de partida para realizar a produção regulada Escuta faz par com fala no sentido mais estrito
de autoria, através de atividades alternativas e (quem fala quer ser escutado, esperando uma
conjugadas dessas duas dimensões do enunciado.
resposta, que se fará estímulo para outra resposta);
Abandono de táticas produtoras da repetição
mecânica (“efeito papagaio”). Pode ser também atenção respeitosa em busca de
compreensão, também na leitura;
Recomendação de atividades capazes de estimular
uma produção aberta aos efeitos novos, levando à Pode ser a escuta do texto escrito do aluno no
caracterização da singularidade dos aprendizes de momento da aprendizagem e da avaliação.
autores.
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6 Considerações finais Referências
BAJARD, E. Nova embalagem, mercadoria antiga. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.32, n.3, p.
493-507, set./dez. 2006.
BAKHTIN, Mikhail (Voloshinov). Marxismo e filosofia da linguagem. Tradução de Michel Lahud e
Yara Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec, 1979.
_____. Estética da criação verbal. Tradução do russo por Paulo Bezerra. São Paulo: Martins
Conhecimento já estabilizado e assumido entra em Fontes, 2003.
FOUCAULT, M. A ordem do discurso. Tradução de Laura Fraga de Almeida Sampaio. 2. ed. São
conflito com as possibilidades abertas por novos
Paulo: Edições Loyola, 1996.
conhecimentos teóricos e correspondentes atitudes FURLANETTO, M.M. Tirando partido da escuta. ENCONTRO DO CÍRCULO DE ESTUDOS
LINGUÍSTICOS DO SUL, 1., 1995, Florianópolis. Anais... v. 2. Florianópolis: UFSC, 1997. p. 652-
práticas, tornando difícil delinear essas práticas 662.
concretas. ______. Práticas discursivas : desafio no ensino de língua portuguesa. In: CORREA, D.A.;
SALEH, P.B. de O. Práticas de letramento no ensino: leitura, escrita e discurso. São Paulo:
Parábola, 2007. p. 131-150.
______. Gêneros e autoria: relação, possibilidades e perspectivas de ensino In: ENCONTRO DO
MAS, se o contexto em que estamos tem regras que em CÍRCULO DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS DO SUL, 8., 2008, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre :
UFRGS, 2008. 1 CD.
princípio “devem” ser seguidas, uma ordem MAINGUENEAU, D. Quelques réflexions sur l’identité de l’analyse du discours et la didactique du
texte littéraire. Disponível em: <http://www.collconsultoria.com/>. Acesso em : 17 maio 2007.
metodológica que não produz resultados satisfatórios ORLANDI, E. P. Análise de discurso: princípios & procedimentos. Campinas: Pontes, 1999.
sempre pode ser contestada e substituída. Há propostas SANTA CATARINA. Secretaria de Estado da Educação e do Desporto. Proposta Curricular de
para esse deslocamento. Santa Catarina: educação infantil, ensino fundamental e médio (disciplinas curriculares).
Florianópolis: COGEN, 1998.