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Sociolinguística

Sara Maio
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Tópico 1

Os modelos de análise da linguagem em funcionamento:a Pragmática


Linguística e a Teoria Enunciativa, Linguística do Texto/Discurso, a Análise
Conversacional, a Sociolinguística e a Análise Interaccional

1. Os dois paradigmas da Linguística Contemporânea: a perspetiva da


Linguística do Sistema em confronto com a Linguística do Uso/ Funcionamento do
Sistema;

1.1. Compreensão dos conceitos de competência linguística e competência de


comunicação; frase e enunciado; a coerência/coesão do texto/discurso;

1.2. Análise da intersubjetividade na linguagem: aDeixisem análise, tendo por


base a Teoria Enunciativa de Benveniste.

A perspetiva da Linguística do Sistema em confronto com a Linguística do


Uso / Funcionamento do Sistema

Linguística do Sistema

a) - tem como referência centrar a competência linguística;


b) - é dominada, do ponto de vista metodológico, pelo princípio da imanência, na
base do qual abandona os contextos / a enunciação para se aplicar ao estudo das
regularidades internas ao sistema;
c) - elege, no domínio do plano significativo das línguas, o estudo do significado
como configuração estável de índole marcadamente informativa-representativa-
descritiva;
d) - preocupa-se com a clara definição de um campo autónomo para a reflexão
sobre a linguagem e as línguas naturais, fechando-se à consideração de articulações,
que não ignora.

Linguística do Uso / Funcionamento do Sistema

- tem como referência central a noção de competência de comunicação;

- ocupa-se dos signos e das suas combinatórias, considerando-os na sua boa


formação – do sintagma ao texto (e já não estritamente até à frase) – mas também,
e sobretudo, na sua adequação aos contextos em que são atualizados; toma,
então, as unidades linguísticas como ocorrências;

- recusa o princípio da imanência, abrindo-se à consideração, como apontei no


ponto anterior, dos contextos e da própria enunciação – e abrindo-se, dessa forma,
também à consideração do influxo dos contextos / enunciação na produção verbal
efetiva tanto quanto no próprio desenho da estrutura da língua;

- ocupa-se do significado das unidades linguísticas, mas reconhece modos


substancialmente diversos de significar e distingue significados de índole
representativa dos de índole não representativa, incluindo expressamente nestes
significados de natureza acional; por outro lado, ocupa-se também, e sobretudo, do

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sentido projetado em discurso, procurando levantar princípios e mecanismos que
operam na configuração do comunicado, a tomar como complexo heterogéneo de
dimensões significativas obtidas também, de modo regular e alargado, por
ampliação e mesmo transformação do dito.

- esta sua condição de abertura aos contextos / à enunciação leva-a a minimizar


problemas de autonomia da reflexão linguística, privilegiando antes conexões
relevantes com realidades sem dúvida exteriores às línguas, mas inequivocamente
não alheias à sua estrutura e ao seu funcionamento efetivo; abre-se, assim,
decididamente ao discurso e, então, à interdisciplinaridade ou mesmo
transdisciplinaridade.

Competência linguística e Competência de comunicação

Competência linguística: acervo idiomático tomado como complexo sistemático de


signos e de princípios que regem a sua estruturação e a sua combinatória.

Competência de comunicação: complexo heterogéneo de recursos dominados


pelos falantes para a produção e a receção-interpretação de discursos –
recursosesses em que se inscrevem os estritamente linguísticos, mas também outros,
que com eles entretêm interações fortes, integrantes de diversos sistemas semióticos.

Deixis (Teoria Enunciativa de Benveniste)

Sabemos, pois, que a raiz etimológica do vocábulo "deixis" remete para a noção de
mostração, ostensão, indicação ou indigitação, sendo que da tradução do vocábulo
grego para o latim resultou a generalização do termo " demonstrativo" na terminologia
clássica. Porém, se é certo que, em termos restritos, o deíctico subsume um acto de
mostração corporal num apontar verbal, a referida noção de função deíctica deverá
albergar igualmente a vocação do deíctico para a referenciação de uma malha
alargada de pessoas, objectos, factos, espaços, tempos, processos, actividades cuja
significação só pode ser calculada a partir de uma indigitação primordial: a de um
sujeito que ao designar-se por EU, aponta para si próprio num actoparticular,discreto,
único de produção discursiva.

A mostração de um objecto deriva da mostração do sujeito que ao dizer "EU"


remete para a própria enunciação e abre o mapa de todas as coordenadas
enunciativas. Daí que a deixis pessoal possa ser apresentada como génese da deixis
temporal, espacial ou circunstancial. Perspectivando assim o dispositivo deíctico,
estamos a radicá-lo no facto histórico que é o acto de enunciação, focando a sua
vertente auto- referencial. Benveniste , ao alertar para o carácter sui generis da
categoria dos pronomes, evidencia que "De nada serve definir estes termos [hoje,
ontem, amanhã, daqui a três dias, etc] e os demonstrativos em geral pela deixis, (...)
se não acrescentarmos que a deixis é contemporânea da instância do discurso que
tem o indicador de pessoa; é desta referência que o demostrativo tira o seu carácter
sempre único e particular que é a unidade da instância do discurso à qual se refere"
tendo antes observado que a realidade assumida pelos deícticos não é outra senão a
própria realidade do discurso.

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A ancoragem deixis permite detalhar, de acordo com o contexto, as coordenadas
da comunicação em três dimensões: pessoa, espaço e tempo.

Exemplos de expressões com função deítica pessoal: eu, tu, a minha tia, a tua
vizinha

Exemplos de expressões com função deítica espacial: aqui, ali, acolá

Exemplos de expressões com função deítica temporal: hoje, ontem, amanhã

As formas de tratamento (sistemas de deixis social) constituem símbolos


linguísticos e tramas interactivas urdidas entre interlocutores social e culturalmente
situados: “De entre os vários sistemas de deixis social, o Português é aquele que, com
mais frequência, e pela sua complexidade, tem sido comparado aos sistemas de
tratamento honorífico característicos das línguas orientais” (cf. Manual, p. 135). Na
abordagem deste problema devemos ter em conta os seguintes pressupostos:

a) investigar o potencial que existe na linguagem de formas de tratamento e de


combinações múltiplas;

b) a complexidade deste fenómeno linguístico foi mais detetável: • em períodos de


instabilidade social e em comportamentos socio-verbais ritualizados; • em estruturas
dialógicas encenadas, visando, pela argumentação e pela força discursiva, a obtenção
de um poder. Ex.: os discursos e os debates parlamentares na Assembleia da
República.

Tópico 2

A comunicação interativa e a co-construção do sentido: cognição, cultura e


sociedade.

2. Compreensão da emergência da diversidade de modelos teóricos abertos pela


perspetiva interativa de Análise do Discurso;

2.1. A dimensão acional da linguagem consubstanciada na visão performativa dos


atos de discurso de Austin e teoria dos atos ilocutórios de John Searle (Pragmática
Linguística);

2.2. A "lógica conversacional" de Grice: a "intenção comunicativa" e o cálculo dos


valores indiretos dos atos de discurso;

2.2.1. Distinguir e compreender as noções de "background knowledge",


"conhecimento enciclopédico" e do "conhecimento compartilhado".

Atos de discurso de Austin e Teoria dos atos ilocutórios de John Searle

Os atos de fala ou atos de discurso são unidades de análise que surgiram com a
Filosofia Analítica de Wittgenstein (1958) e Austin (1962). Estes autores verificaram
que a linguagem não era uma mera representação do mundo, pois ela cria mundos
imaginários e reais, institucionalizando papéis sociais. Deste modo, dizer é fazer, isto
é, o locutor em interação com o alocutário age sobre ele, modificando-o nos seus

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estados epistémicos, comportamentais e emocionais. Assim, Wittgenstein procedeu ao
levantamento de uma família de atos de discurso (prometer, oferecer, ameaçar...) e
Austin, tendo por base esta teoria, referiu que há uma performatividade generalizada
nos línguas naturais, isto é, todos os atos e/ou acontecimentos de fala são
performativos, porque agem sobre o alocutário, criando uma nova realidade1 . Na
linha destes autores, Searle procede ao levantamento das condições de felicidade ou
de sucesso dos atos de discurso: condição de conteúdo proposicional, condições
preparatórias, condição de sinceridade, condição essencial e outras (Searle, 1972).
Partindo do pressuposto de que os atos apresentam um conteúdo proposicional e uma
força ou objetivo ilocutório (isto é o sentido do ato), Searle chegou à seguinte
taxonomia:

1) atos assertivos – o fim dos membros da classe assertiva é de responsabilizar o


locutor em relação a verdade da proposição expressa sobre a existência de um estado
de coisas. Ex.: uma asserção do tipo “Hoje está a chover.” = “Eu digo que p (=
conteúdo proposicional).”;

2) atospromissivos ou comissivos – o fim destes atos é obrigar o locutor (em graus


diversos) a adotar uma certa conduta futura. Ex.: uma promessa do tipo “Prometo que
vou estudar.”;

3) atos diretivos – o fim ilocutório destes atos consiste na tentativa da parte do


locutor de levar o alocutário a realizar uma ação futura. Ex.: um pedido ou uma
ordem...

4) atos expressivos – o fim ilocutório desta classe é exprimir o estado psicológico


do locutor. Ex.: “Hoje estou feliz!”;

5) atos declarativos – a característica definicional desta classe consiste no facto de


que a realização com sucesso dos seus membros garante que o conteúdo
proposicional corresponda ao mundo. Ex.: “Declaro aberta a Assembleia.”; “A sessão
está aberta.”; “Está despedido!”

“Lógica Conversacional” de Grice

Máximas conversacionais

Conjunto de regras que, segundo Grice, devem conduzir o ato conversacional e que
concretizam o princípio da cooperação.

As máximas conversacionais são princípios descritivos do comportamento


linguístico dos falantes e normas específicas de conduta linguística. Ou seja, elas
descrevem os raciocínios que os alocutários fazem para interpretar os enunciados dos
locutores.

As máximas conversacionais constituem a competência conversacional dos


falantes, pois caso sejam descuradas podem pôr em causa a eficácia do ato
comunicativo.

Segundo Grice, as máximas conversacionais, que regem o comportamento


comunicativo dos falantes numa interação verbal, são quatro: a máxima da qualidade,
a máxima da quantidade, a máxima da relevância e a máxima do modo.

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A máxima de qualidade expressa o seguinte princípio: tente que a sua
contribuição conversacional seja o mais verdadeira possível, para isso, não afirme o
que crê ser falso e não afirme aquilo de que não tem provas suficientes para confirmar
a sua veracidade.

Exs.:

A – Londres é a capital da Dinamarca?

B - Não.

Os seguintes enunciados violariam a máxima da qualidade:

- Não sei.

- Claro que é.

Grice defende que os enunciados totalmente falsos são ironias ou metáforas,


exceto quando a violação da máxima da qualidade é propositadamente violada pelo
falante.

A máxima de quantidade expressa o seguinte princípio: tente que a sua


contribuição conversacional seja tão informativa quanto necessária, isto é, que seja
nem mais nem menos informativa do que aquilo que é fundamental para os objetivos
de uma interação verbal. Um discurso repetitivo constitui uma violação desta máxima,
pois ao sobrecarregar o enunciado de informação redundante e desnecessária criar-
se-á ruído na comunicação.

Exs.:

A – O que estás a almoçar?

B – Lasanha.

Os seguintes enunciados violariam a máxima da quantidade:

– Lasanha, que é uma das sugestões do chefe deste restaurante que eu, por
acaso, conheço desde pequena.

A máxima de relevância expressa o seguinte princípio: tente que a sua


contribuição conversacional revele ser pertinente em relação ao objetivo da conversa
para que se estabeleça uma relação de pertinência entre os enunciados.

Exs.:

A – Amanhã vou ter teste de Matemática. Estudas comigo?

B – Primeiro, tenho de almoçar.

O seguinte enunciado violaria a máxima da relevância:

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– Hoje está um dia espetacular.

A máxima de modo expressa o seguinte princípio: tente que a sua contribuição


conversacional seja ordenada, clara e breve.

Background Knowledge / Conhecimento Enciclopédico / Conhecimento


Compartilhado

Background Knowledge: informação essencial para compreender uma situação ou


problema.

Conhecimento Enciclopédico: conhecimento armazenado na memória de longo


tempo, também denominada semântica ou social. Refere-se a conhecimentos gerais
sobre o mundo.

Conhecimento Compartilhado: conhecimento transmitido e ampliado pela partilha


entre diferentes esferas.

Tópico 3

A perspetiva da Etnografia da Comunicação e os desenvolvimentos analíticos


desta análise consubstanciados na Sociolinguística Interaccional de John
Gumperz

3.1. Fatores passíveis de mudança e fatores não passíveis de mudança que


condicionam a atividade discursiva.

3.2. A perspetiva da Etnografia da Comunicação e os desenvolvimentos analíticos


desta análise consubstanciados na Sociolinguística Interaccional de John Gumperz;

3.2.1. A noção de competênciacomunicativa;

3.2.2. A noção de "situação de comunicação" e a noção de "evento comunicativo";

3.2.3. A noção de "setting" e "scene" de J. Gumperz e Dell Hymes (1972) e o


acrónimo SPEAKING de Dell Hymes: aplicação destes conceitos a diferentes eventos
comunicativos apresentados;

3.2.4. A noção de "repertório verbal" de J. Gumperz;

3.2.5. O conceito de "convencionalização do uso" e a noção de "convenção" na


análise do discurso em situação de comunicação.

3.3. A perspetiva da estratificação social de William Labov;

3.3.1. Relação entre discurso e estrato social.

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A Sociolinguística Interaccional (Gumperz, 1989b), no âmbito do estudo da
competência comunicativa (Hymes, 1972), tem como enfoque analítico as atividades
comunicativas (Levinson, 1978) realizadas em diversos contextos de uso e definidas
da seguinte forma: “Uma atividade comunicativa consiste num conjunto de relações
sociais que operam em torno de um conjunto de esquemas em relação a um
determinado objetivo comunicativo. A atividade discursiva pode caracterizar-se por
fases descritivas (…) tais descrições significam determinadas expectativas sobre a
progressão temática, as regras relativamente à vez de elocução, a forma, e o
resultado da interação, bem como restrições relativamente ao conteúdo” (Gumperz,
1982: 166).

Analisam as atividades comunicativas confirmadas, modificadas ou rejeitadas pelos


interactantes através do estudo das estratégias discursivas, por eles selecionadas, em
função de fatores como idade, sexo, identidade, grau de solidariedade ou de
intimidade (Idem: 76; 95).

Atentemos na afirmação de J. Gumperz (1982):

“Fiel ao espírito deste trabalho, eu gostaria de indicar que a sinalização das


atividades de linguagem não se faz de modo unilateral, mas que é antes trabalho de
coordenação entre locutor e alocutário, implicando uma troca rítmica de signos ao
mesmo tempo verbais e não-verbais. Noutros termos, uma interação que tem sucesso
começa entre locutores que falam através de um certo modo e utilizando certos
indícios de contextualização. O estilo linguístico da resposta deles e os indícios que
eles produzem enquanto alocutários assinalam, de seguida, de modo implícito o seu
acordo ou desacordo; eles organizam-se assim através do modo de falar do Outro.
Uma vez estabelecido o ritmo conversacional, os dois participantes podem
racionalmente admitir que eles chegaram a negociar um quadro comum de
interpretação, dito de outro modo, eles chegaram a um acordo sobre a definição da
atividade em curso assim como sobre o modo como ela deve ser conduzida” (Idem:
71-72).

Trata-se, pois, de uma teoria geral que procura estudar a natureza comunicativa
dos processos interpretativos:

“Uma teoria geral das estratégias do discurso deve portanto começar por
especificar quais são os conhecimentos linguísticos e socioculturais que é preciso
partilhar para manter um envolvimento conversacional, e tratar, de seguida, o que
constitui a própria natureza da inferência conversacional, o que faz a especificidade
cultural, sub-cultural e situacional da interpretação” (Gumperz, 1989b: 2).

A Sociolinguística ocupa-se da variação social, estudando-a em duas perspetivas:


perspetiva da estratificação social e perspetiva da situação. Inserem-se na primeira os
estudos de W. Labov (1976) sobre a distribuição das variantes linguísticas nas
diferentes camadas de estratificação social e as análises de B. Bernstein (1975)
relativamente ao uso da linguagem formal característico dos indivíduos da classe
média e superior (códigos elaborados) e ao uso de formas de linguagem restritas
(códigos restritos) por parte da classe operária.

Na perspetiva de análise da situação de comunicação, inscreve-se a corrente da


etnografia da fala de Gumperz e Hymes (1964) que visa observar e descrever com
precisão a multiplicidade dos acontecimentos de comunicação captados na situação
de comunicação, isto é, no seu contexto cultural de produção.

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Perspetiva da Etnografia da Comunicação e Sociolinguística Interaccional de


John Gumperz

O modelo de reflexão linguística que temos em consideração é o da etnografia da


fala (D. Hymes; Gumperz, 1972) na medida em que estuda a linguagem em
funcionamento, isto é, a linguagem na situação de comunicação estabelecida por um
Eu (locutor) que fala e um Tu (alocutário) que estabelece com aquele uma relação
interpessoal e/ou intersubjetiva. Deste modo, a etnografia da fala estuda de modo
específico uma problemática de contextos, de situações e de usos verbais, sobretudo
típicos e rotinizados, que têm por palco o nosso quotidiano (cf. p. 30 do Manual). Esta
perspetiva tem também como referência os modelos que põem em destaque o
alocutário, o não dito e/ou implícitos, a negociação de conteúdos e a argumentação
(cf. pp. 29-30 do Manual). Com efeito, a abordagem sociolinguística que se insere no
âmbito da etnografia da fala ou da comunicação (Gumperz; Hymes, 1972), tendo por
base o conceito de competência de comunicação, descreve a multiplicidade dos
acontecimentos de fala e/ou atos de fala nos seus diferentes contextos de produção.
Esta abordagem estuda, assim, de um modo específico, os comportamentos
socioculturais (padrões de comportamento) enraizados em situações e contextos
diversificados marcados por parâmetros específicos como situação, tópico, atores e
espaço

Situação de comunicação / Evento comunicativo

Considera-se situação comunicativa qualquer conjunto de elementos que


intervêm num ato de comunicação: o emissor; o recetor; a mensagem; o lugar e o
momento onde se realiza o ato, etc.

A teoria da comunicação indica que, no ato comunicativo, compete ao emissor


enviar uma mensagem para um ou mais recetores. Essa mensagem propaga-se
através de um canal e pode ser compreendida quando o emissor e o recetor
compartem um código. Também é importante que o recetor tenha conhecimentos
acerca do referente da mensagem para compreender de que se trata.

A situação comunicativa, por conseguinte, está relacionada com o lugar concreto e


o momento específico nos quais todos estes elementos agem e se interrelacionam. É
importante destacar que, numa comunicação fluida, os papéis se cruzam
constantemente: a pessoa que envia a primeira mensagem torna-se no recetor quando
recebe a resposta do outro sujeito, logo passa a ocupar o papel de emissor e assim
sucessivamente.

Na situação comunicativa, por outro lado, existe sempre um propósito. Isto significa
que a comunicação é iniciada com alguma finalidade como dar a conhecer uma
informação ou pedir uma ação ao interlocutor.

Por exemplo: no dia 8 de Maio às 10:30 horas, o gerente comercial de uma


empresa envia uma mensagem de correio eletrónico ao dono de uma empresa para o
avisar que acaba de fechar um acordo comercial com outra empresa. Cinco minutos
depois, o dono responde pela mesma via, felicitando-o e convidando-o a ir ao seu
escritório para lhe dar mais informações. Nesta situação comunicativa, deste modo, os
papéis de emissor/recetor cruzam (trocam) uma vez.

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SPEAKING (Dell Hymes)

In sociolinguistics, SPEAKING or the SPEAKING model, is a model socio-linguistic


study (represented as a mnemonic) developed by Dell Hymes. Hymes developed this
model as part of a new methodology referred to as the Ethnography of speaking. This
model is a tool to assist the identification and labeling of components of interactional
linguistics that was driven by his view that, in order to speak a language correctly, one
needs not only to learn its vocabulary and grammar, but also the context in which
words are used. In essence, the learning the components of the SPEAKING model is
essential for Linguistic competence.

To facilitate the application of his representation, Hymes constructed the mnemonic,


S-P-E-A-K-I-N-G (for setting and scene, participants, ends, acts sequence, key,
instrumentalities, norms, & genre) under which he grouped the sixteen components
within eight divisions.

The model had sixteen components that can be applied to many sorts of discourse:
message form; message content; setting; scene; speaker/sender; addressor;
hearer/receiver/audience; addressee; purposes (outcomes); purposes (goals); key;
channels; forms of speech; norms of interaction; norms of interpretation; and genres.
The SPEAKING model is used by linguistic anthropologists to analyze speech events
(one or more Speech act involving one more participants) as part of an Ethnography.
This approach can be used to understand relationships and power dynamics within a
given Speech community and provide insight on cultural values.

Setting and Scene

"Setting refers to the time and place of a speech act and, in general, to the physical
circumstances". The living room in the grandparents' home might be a setting for a
family story. Scene is the "psychological setting" or "cultural definition" of a scene,
including characteristics such as range of formality and sense of play or seriousness.
The family story may be told at a reunion celebrating the grandparents' anniversary. At
times, the family would be festive and playful; at other times, serious and
commemorative.

Setting and scene also refer to implicit rules and expectations surrounding the
speech event. For instance, the setting of the speech event determines who should
speak and who should not, what type of speech is appropriate (Code-switching), and
when interrupting is acceptable. For instance, speech events in the classroom have
specific implicit rules for teachers speaking and students listening, certain words are
not viewed as appropriate in the classroom, and interrupting is often met with
consequences. Conversely, different implicit rules and expectations apply at social
gatherings and work settings.

Setting of the speech event also refers to the location of participants and any
physical barriers that may be present. For instance, whether participants are facing one
another, what body language they are exhibiting, and whether or not they are
separated by a table, chairs, or space in the room. Documentation of the physical
setting is especially useful for completing an ethnography of a given community.

Participants

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Participants include the speaker and the audience. Linguist anthropologists will
make distinctions within these categories. The audience may include those to whom
the speech act is directed, and those who are not addressed but overhear. For
example, at the family reunion, an aunt might tell a story to the young female relatives,
but males, although not addressed, might also hear the narrative.

When considering the participants in a speech event, one should consider implicit
and explicit rules about who is, can, and should be involved; what expectations are
established for the participants; who is speaking and who is being addressed. Certain
ideologies are at play regarding participants in speech events. For instance, cultural
norms about how child should speak to adults, how ladies should speak around men,
how employees should speak to their boss. Each participant in a speech event is
operating with specific rules and expectations, which are important for linguistic
competence.

Ends

The end of the speech event are the purposes, goals, and outcomes. The aunt may
tell a story about the grandmother to entertain the audience, teach the young women,
and honor the grandmother. Additionally, the ends of a speech event may differ for
those participating. The exampled provided by Harriet Joseph Ottenheimer was that of
a tourist seeking directions and a New Yorker providing vague answers, "your goal may
be to get information and get to your destination, but their goal is to appear
knowledgeable." Differences in the goals and outcomes for speech events can be
frequent, especially in classrooms and work spaced. Similarities and differences in the
ends of a speech events are important for successful communication and acceptance
into a culture or a speech community.

Act Sequence

Act sequence refers to the sequence of speech acts that make up the event. The
order of speech acts greatly influences of the speech event. For instance the initial
speech acts sets the tone for the conversation; beginning a lecture by saying, "Ladies
and gentlemen..." sets a different tone than beginning a lecture by saying, "Hello! How
is everyone today?"

Act sequence for an event also orients the participants to social cues. Important
aspects of act sequence include turn-taking and interrupting. For example, an aunt's
story might begin as a response to a toast to the grandmother; the story's plot and
development would have a sequence structured by the aunt. Possibly there would be a
collaborative interruption during the telling. Finally, the group might applaud the tale
and move onto another subject or activity.

Key

"Key" refers to the clues that establish the "tone, manner, or spirit" of the speech
act. The aunt might imitate the grandmother's voice and gestures in a playful way, or
she might address the group in a serious voice emphasizing the sincerity and respect
of the praise the story expresses. Generally, different keys are used in different
situations, for instance different tones are used at birthday parties and funerals.
Intonation in sentences can provide additional meaning; lighter tones communicate
humor and friendship, meanwhile monotone speech acts communicate seriousness or
a lack of emotion. Similarly, keys can be formal or informal, and can be influenced by
word choice. For instance informal keys include the use of contractions (can't instead

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of cannot), use of slang or profanity, condensed or loose pronunciations (gonna),
missing infinitives ("the kids need bathed" versus "the kids need to be bathed), and
prepositional endings "what did you do that for?"[5] Overall, the key in a speech act
adds a human element to communication and provides valuable information for
informing social norms and expectations for the speech event. Proper application of the
appropriate key in a speech event is vital for linguistic competence.

Instrumentalities

Instrumentalities are the channels used to complete the speech act. These include
the method of communication (writing, speaking, signing or signaling), the language,
dialect (a mutually intelligible subset of a language) or register (a variety of a language
that is used in specific settings).[8] Hymes described these instrumentalities generally
as the Forms and styles of speech.[9] For example, the instrumentality of the spoken
word is different from the written word; the language spoken is unique to the speech
act, as is the dialect. Similarly, the register that is spoken influences the speech event.
For example, an aunt might speak in a casual register with many dialect features, but if
her niece continues the conversation in a more formal register with careful
grammatically "standard" forms the conversation may seem awkward.

Norms

Social rules governing the event and the participants' actions and reactions. In a
playful story by the aunt, the norms might allow many audience interruptions and
collaboration, or possibly those interruptions might be limited to participation by older
females. A serious, formal story by the aunt might call for attention to her and no
interruptions as norms.

Norms will vary for each speech community. Examples of questions regarding
established norms include:

When is it okay to speak?

Who should listen?

When is silence preferred?

How loud is too loud?

What speed should be used in the conversation?

What topics are acceptable?

Genre

The kind of speech act or event; for the example used here, the kind of story. The
aunt might tell a character anecdote about the grandmother for entertainment, or an
exemplum as moral instruction. Different disciplines develop terms for kinds of speech
acts, and speech communities sometimes have their own terms for types.[10] Other
examples of speech genres include gossip, jokes, and conversations.[8]

Repertório verbal:

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O repertório verbal é um repertório comportamental e sua aquisição, manutenção
e extinção seguem o mesmo princípio dos demais repertórios operantes. Em outras
palavras, a análise do comportamento verbal não difere, nos princípios, da análise
funcional feita em relação aos repertórios não-verbais. A perspetiva de estudo do
comportamento verbal como comportamento operante - trazendo-o, portanto, para o
campo da análise funcional - é mais uma das importantes contribuições de Skinner
(1957/19783) para a construção de uma ciência do comportamento.

Convencionalização do uso / convenção

Ação de tornar convencional, de acomodar algum padrão.

Perspetiva da estratificação social de William Labov

(i) a língua possui duas funções interdependentes – forma e ideologia; no


desenvolvimento das línguas essas duas funções podem estar em contradição,
determinada pela realidade socioeconômica;

(ii) a língua expressa uma luta entre forças centralizadoras e descentralizadoras; tal
luta determina o vetor histórico das línguas e caracteriza a estratificação da língua
em linguagens socioideológicas. Esse confronto espelha a relação dialética existente
entre a forma de comunicação e o conteúdo ideológico;

(iii)os gêneros do discurso estão vinculados a modos sociais de interação verbal


constituídos historicamente. Enquanto na ótica de Iakubinskii essa noção foi
desenvolvida à luz das relações discursivas presentes no capitalismo russo, para
Bakhtin os gêneros discursivos foram trabalhados, inicialmente, sob a perspectiva da
história literária (o romance);

(iv) a pluralidade discursiva – estratificação social da língua – aparece nos


gêneros paródicos (o romance é o gênero paródico por excelência) e existe em
decorrência da natureza contraditória e tensa da realidade social. Essa idéia, na visão
de Bakhtin, é apresentada a partir dos estudos da literatura na Idade Média e, para
Iakubinskii, é desenvolvida tendo como escopo as relações capitalistas na Rússia
agrária;

(v) os trabalhadores tomam consciência da estratificação social da língua


(discurso), devido à democratização dos gêneros discursivos operada pelo líder
político (o proletariado). Essa democratização lingüística é localizada por Iakubinskii
na Revolução de 1917 e por Bakhtin no Renascimento

Tópico 4

O sistema de delicadeza, as formas de tratamento e a análise da teoria das


faces de ErvingGoffman

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Tópico 5

Sobre formas de tratamento, género e mudança linguística.

A análise de ritualização das práticas discursivas e o estudo dos processos de


figuração em interações verbais, permitem-nos verificar que todas as nossas práticas

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Sociolinguística
Sara Maio
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resultam do exercício de rituais verbais que aprendemos e encenamos. A convenção
do uso (para lembrar as palavras de Morgan, 1978, aqui em análise) exige a
encenação de rituais verbais específicos de saudação de abertura e de fecho, o
desenvolvimento de estratégias discursivas que os interlocutores são sensíveis e
acionam para melhor interagir e criar um “espaço de comunicação colaborativa”.
Autoras como Deborah Tannen e Jennifer Coates salientam muito este último aspeto,
referindo o importante papel do acionamento de estratégias discursivas que denotam o
“envolvimento conversacional”: as repetições, as hesitações, as sobreposições da fala,
os atos de cortesia e as estratégias discursivas específicas que denotam o
“envolvimento interativo”. (Tannen, 1989; Gumperz, 1982).

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