Alternativas estimulantes para o aprendizado podem incluir jogos e apps
e devem explorar os interesses de cada autista O acompanhamento de autistas é multiprofissional, ou seja, diversos profissionais realizam sessões periódicas para a intervenção dos déficits de desenvolvimento associados ao TEA (Transtorno do Espectro Autista). Os especialistas são médicos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, preparadores físicos, psicopedagogos e nutricionistas. Destacando a atuação do psicopedagogo, a principal função é estimular o processo de construção e assimilação do conhecimento. Por meio de métodos específicos de aprendizagem, esse profissional trabalha com as dificuldades e limitações do paciente, trazendo alternativas para o seu aprendizado. Na prática, o psicopedagogo realiza a adaptação de materiais didáticos com o intuito de deixá-los atraentes e estimulantes para os autistas. Ele também utiliza recursos tecnológicos, como jogos e aplicativos com recursos adequados. Explorar como cada atividade faz sentido dentro do raciocínio do autista é desafio psicopedagógico O psicopedagogo precisa estar muito atento às preferências de seu aluno, para usá-las em prol das atividades acadêmicas, de maneira que faça sentido para o autista desenvolver aquela atividade. O autista apresenta um comportamento e uma visão de mundo concreta e racional. Por isso, a maioria das atividades em que ele se envolve precisa ter um sentido literal e pontual. Dificilmente, um autista irá se interessar por alguma atividade acadêmica de história, por exemplo, apenas pelo fato de compreender as origens e condições socioculturais de determinada sociedade. É preciso que a atividade faça sentido dentro da realidade efetiva do autista. Neste caso, o psicopedagogo pode tentar estabelecer uma conexão entre o fato histórico que será estudado e a rotina do autista. Posteriormente, pode apresentar e desenvolver a atividade de forma adaptada, com textos menores e maior objetividade. Treinamento com estímulos curtos e frequentes é uma das metodologias usadas com autistas Outra metodologia que pode ser utilizada é o “Treinamento por Tentativas Discretas”, na qual o conteúdo acadêmico é ensinado em passos simplificados. Em vez de se ensinar uma habilidade completa,esta é quebrada em pequenas tentativas discretas a serem ensinadas uma de cada vez. Normalmente, essa técnica é feita por meio de comandos, dos quais o autista responde com ajuda parcial ou total. Imediatamente após a finalização da tentativa, o profissional reforça a resposta adequada. As tentativas curtas facilitam o processo de aquisição de conhecimento e o grande número de tentativas permite numerosas oportunidades de aprendizagem. O terapeuta psicopedagogo desenvolve um programa completamente individualizado, de acordo com a necessidade de cada paciente. O atendimento tem uma abordagem única, ou seja, permitir um acompanhamento individualizado e estabelecer a proximidade necessária para um bom vínculo terapeuta-paciente.
Estratégias para manejar a estereotipia em autistas
Comportamento surge na infância, pode acompanhar o autista por toda a vida e não deve ser reprimido Entre as principais características dos autistas estão os padrões restritos e repetitivos de comportamento, de interesses e de movimentos motores. Também é muito comum que apresentem falas estereotipadas, hiper (muita) ou hipo (pouca) reatividade a estímulos sensoriais do ambiente, além de uma adesão inflexível a uma rotina ou a padrões ritualizados. Os comportamentos estereotipados podem começar a aparecer na infância e acompanhar o autista durante toda a vida. De acordo com estudos de Gershon Berkson, especialista em psicologia da Universidade de Illinois, a estereotipia é um comportamento voluntário, que persiste ao longo do tempo e é imutável, ou seja, não se modifica frente a mudanças ambientais. E não necessariamente condiz com o nível de desenvolvimento do sujeito. Atualmente, o autismo é dividido em nível 1, que demanda baixo grau de suporte e é ainda hoje popularmente conhecido como autismo leve; nível 2, que demanda grau moderado de suporte, e nível , que demanda um grau severo de suporte. Não existe um padrão para a estereotipia, que se manifesta de forma específica em cada autista A estereotipia é diversa em cada autista. Pode se manifestar por balançar o corpo e a cabeça, virar as mãos, ranger os dentes, girar objetos, andar na ponta dos pés, alinhar objetos, levar a mão ou objetos à boca, ecolalias tardias ou imediatas, movimentar objetos na visão periférica, comportamento auto lesivo repetitivo e dificuldade motora para sentar ou permanecer sentado. O comportamento estereotipado ocorre independentemente das consequências sociais, ou seja, reprimir esse tipo de comportamento com justificativas de cunho social não irá diminuir a sua ocorrência. Frases como, “não faça isso na frente nas pessoas” ou “é feio fazer isso em público” não agem como reforçadores negativos. Uma boa estratégia é a utilização de atividades ou brincadeiras sensoriais, pois elas proporcionam o mesmo tipo de estimulação que o comportamento estereotipado. Os brinquedos sensoriais são aqueles que exercitam os sentidos das crianças por meio da coordenação motora, curiosidade e criatividade, como garrafas sensoriais, pulseira tátil de silicone, luva de microfibra, mordedor, unzip (brinquedo que dobra e gira uma corrente para criar diversas formas), bola de gel, neve artificial que expande na água e colete ponderado. Comportamento repetitivo dos autistas é uma forma de regular as próprias emoções O autista apresenta sensibilidade em relação a estímulos e variações do seu próprio corpo. Dessa forma, se ele tem uma infecção no ouvido, por exemplo, pode apresentar o comportamento repetitivo de bater na orelha. Pode ainda colocar as mãos nas orelhas quando estiver em algum ambiente barulhento. Nesses casos, os responsáveis devem iniciar imediatamente o tratamento para infecção de ouvido e podem trabalhar com as contingências do ambiente, como utilizar fones abafadores de ruídos. A estereotipia pode também agir como uma maneira de lidar com as emoções e os sentimentos. Pessoas neurotípicas utilizam maneiras corporais de auto regulação quando há presença de emoções como felicidade ou tristeza (geralmente, ocorre o riso ou o choro). Não autistas possuem repertórios sensoriais para lidar com as próprias sensações. Já os autistas utilizam o comportamento repetitivo para lidar com o que sentem. Portanto, uma estratégia seria ensinar rotinas sensório-sociais, que auxiliam a criança a integrar os seus sentidos e a aprender outras formas de auto regulação, diversão e estimulação. Em suma, o autista pode aprender a ter outros estímulos prazerosos, sejam sociais ou motores, como jogar uma bola sensorial para cima, brincar de correr e girar em volta de brinquedos no parque com outras crianças. À medida que se aumenta a funcionalidade e a frequência das brincadeiras sensório motoras há uma diminuição gradual das estereotipias.