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Autismo:

um olhar
pedagógico

Eugênio Cunha

eugenio@eugeniocunha.com
www.eugeniocunha.com
Algumas
reflexões iniciais:
Primeiramente, é importante dizer
que não há respostas prontas para
todas as questões da educação. Há,
sim, relatos, experiências, trabalhos e
trocas de saberes na construção de
um caminho.
Se houvesse uma receita de bolo na educação, ela
seria a formação do educador
“A educação não é uma questão institucional. É uma
questão humana. Não aprendemos pelo rigor das
regras, mas por uma condição biológica. Nascemos
para aprender. Restringir esse direito é violar a
coerência da natureza; é tentar cercear a inteligência
humana”.

A inclusão começa na
alma do educador.
Assim com há autistas
bem diferentes,
Há condições educacionais bem
distintas: escolas regulares, especiais,
classes comuns, especiais, professores
preparados, despreparados, professores
motivados, desmotivados, escolas com
materiais e metodologias, escolas sem
materiais e metodologias...
É nesse contexto que precisamos
educar.
Na educação, quem mostra o
caminho é quem aprende e não
quem ensina.

Na educação do aluno com autismo


o primeiro a aprender será sempre o
professor.

As práticas de ensino se iniciam pelo


olhar sensível e instrumentalizado do
professor.
Onde se faz a inclusão
escolar?

• Na escola regular?

• Na escola especial?
A inclusão escolar se faz
nas práticas de ensino

Na escola e
na família
A implementação das políticas inclusivas tem
encontrado grandes dificuldades.

Estudos mostram que os professores se sentem


sobrecarregados, em razão das novas
funções que lhes vieram, em razão das
políticas de universalização do ensino,
iniciadas décadas atrás.
O professor também deixa a escola

Não só capacitação, mas também valorização docente


O papel do
educador

Pode ser superior


às dificuldades de
aprendizagem
Alguns fatores têm contribuído para
esses números:
• Precocidade e precisão dos diagnósticos;
• Informação e formação de educadores, pais e
profissionais;
• A nossa exposição constante a elementos químicos
presentes no ambiente.

Willian Shaw enfatiza que qualquer sintoma que


tenha um efeito devastador no indivíduo está ligado
a uma alteração bioquímica individual. Segundo ele,
se uma pessoa apresenta um quadro grave como o
autismo, convulsões ou paralisia cerebral, deve haver
alguma alteração em um ou mais processos químicos
do corpo.
Conforme se descortinam as gêneses desse campo
controvertido de estudos, mais rápido e precisamente
o autismo é diagnosticado. É bem provável que em
nosso convívio sempre existiram muitas pessoas com
autismo, mas sem o diagnóstico.
O aluno com transtorno do espectro autista aprende.
A aprendizagem é característica do ser humano.
O educando apresenta dificuldades de
comunicação e nas relações sociais, estereotipias e
uma forma rígida e literal de pensar.
O autismo é proveniente de
causas ainda desconhecidas,
mas com grande contribuição
de fatores genéticos.

Há autistas bem diferentes:


não verbais, verbais, com dificuldades na
linguagem, hiperléxicos, com estereotipias, sem
estereotipias, com deficit cognitivo, sem deficit
cognitivo, mas sempre trazem em comum
dificuldades sociais.
Alguns sinais na
criança:

o Isolar-se das pessoas.


o Não manter contato visual.
o Agir como se fosse surda.
o Birras.
o Não aceitar mudança de rotina.
o Hiperatividade física.
o Apego e manuseio inadequado de objetos.
o Movimento circulares no corpo.
o Sensibilidade a barulhos.
o Estereotipias.
o Ecolalias.
A pessoa com autismo pode ter
intolerância a alguns alimentos e
medicamentos
O diagnóstico precoce é o primeiro grande
instrumento da educação.
Neurônios importantes
que funcionam na
interação social e na
comunicação
desenvolvem-se melhor
quando estimulados bem
cedo.
A escola e a família
são espaços
adequados para a
identificação do
autismo
É pertinente entendermos a relação que o
autista possui com o saber e com o mundo
ao redor.

Um jeito diferente de
aprender, um jeito
diferente de ensinar
Na conduta autística, é
comum fixação em
detalhes específicos,
percebidos menos em
razão do conhecimento
social e mais por causa do
estímulo. Isto provoca
comportamentos
peculiares. Assim, a pessoa
com autismo passa a ter
uma relação singular com
tudo que é externo.
O aprendente com
autismo cria formas
próprias de
relacionamento com
mundo social. Em
consequência do
convívio, todos nós
adquirimos uma
mente social, que nos
possibilita fazer
conexões apropriadas
com o mundo ao
redor.
Fixa-se em rotinas que trazem
segurança, não interage
normalmente com as
pessoas, e nem manuseia
objetos adequadamente,
gerando problemas na
cognição, com reflexos na
fala, na escrita e em outras
áreas. Aprende de forma
singular. Há uma relação
diferente entre o cérebro e
os sentidos.
Os objetos podem exercer atração não em
razão da sua função, mas em razão do
estímulo que promovem. Surge daí o
manuseio estereotipado, por causa do
contato sensorial de pouca ingerência
cognitiva.
Para entendermos melhor...
Nós aprendemos
movimentos, emoções e a
vida social simplesmente
olhando uma pessoa.

Giacomo Rizzolatti
http://www.universoautista.com.br/autismo/modules/articles/article.php?id=38
Então, tudo pode ter valor
pedagógico

Do ato de escovar os dentes ao de


fazer a ponta do lápis.
Este conceito pedagógico é fundamental
Quanto mais social é o ambiente de
aprendizagem, mais pedagógico ele se torna.
O ambiente pedagógico é aquele que tem mobiliários,
materiais de desenvolvimento, espaços, vida social,
interação, comunicação e recursos que concorrem para
a aprendizagem do aluno.
As coisas estão ali por terem objetivos e
funcionalidade.
A aprendizagem discente percorre quatro
estágios:
1. Diretivo: estágio primário, onde o aluno depende
invariavelmente da presença do professor;
2. Autônomo: o aluno conhece o conteúdo, tem
iniciativa para realizar atividades;
3. Criativo: é uma experiência consciente e
transformadora. Uma nova forma de executar tarefas
ou manusear materiais;
4. Colaborativo: o educando socializa o saber adquirido,
ratificando-o em sua memória.
memória emoções

afetos raciocínio
decisão

Normalmente, articulamos nossas


ações assim.
O autista, muitas vezes, assim:

afetos

raciocínio memória emoções

decisão
Na relação com o educando, o primeiro
a aprender será sempre o educador.
Instituindo práticas de
ensino inclusivas:
Vamos falar sobre três etapas do trabalho
educacional:

1. A preparação do aprendente;
2. O que ensinar, o que trabalhar;
3. As práticas de aprendizagem inclusivas .
A preparação do aprendente:
Informações acerca do aluno, conhecer o aluno.
Aspectos iniciais que poderão interferir na
aprendizagem:
• a acomodação sensorial;
• o deficit de atenção,
• a hiperatividade,
• as estereotipias
• comportamentos disruptivos e rígidos.

O que fazer ?
Regulação sensorial da:

• percepção,
• discriminação,
• modulação.
• Deficit de atenção e hiperatividade: a
partir do princípio afetivo da atividade
psicopedagógica, o profissional encontrará
recursos para a superação do quadro. É
bom sempre trazer a atenção do aluno
para aquilo que ele está fazendo. Devemos
perguntar:

• Quais atividades o aprendente gosta de


fazer?
• Como utilizá-las para desenvolver sua
atenção?
Estereotipias: Elas podem expressar alegria,
emoções, ansiedades, frustrações e
momentos de excitação. Por outro lado, elas
interferem no desenvolvimento motor,
ocasionando a regressão e o bloqueio de
habilidades.

Diante disso, a observação das estereotipias


deve ser feito com todo o cuidado e
sensibilidade.
Evitando-se o cerceamento e a irritação, é
primordial inibir a constante recorrência aos
movimentos estereotipados, substituindo-os
por movimentos adequados, de cunho
simbólico e social, que produzirão progressos
na área cognitiva, motora e comunicativa.
No que tange aos comportamentos
disruptivos, o educador terá algumas
alternativas pedagógicas que poderão
ajudá-lo:
• Não se alterar, não valorizar as reações excessivas
• Redirecionar a atenção e a ação do aluno,
• Falar baixo, manter o mesmo tom de voz e o contato
visual.
A melhor maneira de dizer não é mostrando um caminho melhor.
Devemos investigar as atitudes
disruptivas a fim de se descobrir
suas causas. Muitos são os
fatores que as motivam, dentre
os quais, o barulho, a mudança
de rotina e as frustrações.

Será preciso incansável


perseverança para redirecionar
as atitudes e ensinar uma
maneira social de expressar
sentimentos e desejos.
Comportamentos rígidos,
regrados e inflexíveis:
O comportamento peculiar da pessoa com
autismo pode ser uma base para a
aprendizagem. O comportamento é também
uma forma de expressão. A compreensão do
comportamento é um caminho para a
compreensão da mente.
A criança organiza as peças, como é natural em muitas
pessoas com autismo. O professor poderá também
estabelecer rotinas diárias, utilizando-se de fotos das atividas
ou outras imagens.
Rotinas mantidas e quebradas
A organização do dia
contribui para

• a memória,
• a autorregulação,
• as funções cognitivas,
• a compreensão das regras
sociais,
• a inclusão social e escolar,
• E traz segurança.
O importante é

Disciplinar a atividade e não


imobilizar a criança.
A correção deve ser
um ensino
O princípio afetivo da atividade conduz
à disciplina e à socialização.
Lembrando que não há dois aprendentes iguais.
O que funciona para
um, pode não
funcionar para
outro.
Pais, profissionais e
professores devem aliar o
conhecimento
pedagógico à
sensibilidade humana.
Haverá conquistas e
erros, muitas vezes mais
erros do que
conquistas, mas o
trabalho jamais será
em vão.
O que ensinar?
Observação: Para observar, o educador
precisa ter conhecimento pedagógico e
conhecimento do autismo.
Avaliação: descobrir os recursos
disponíveis, os materiais pedagógicos e
avaliá-los de acordo com o aprendente.
Mediação: Para mediar o trabalho
pedagógico é preciso estabelecer
comunicação. A mediação é instrumento
da comunicação e a comunicação é
estabelecida pela mediação.
É preciso observar como um músico!

Para observar é preciso


formação.
Alguns indicadores a serem observados: :

 Motivação para o  Participação em


trabalho escolar; grupo;
 Atitude diante de  Autonomia;
erros e dificuldades;  Comunicação;
 Capacidade de  Vínculos afetivos;
concentração;  Desenvolvimento
 Desenvoltura nos cognitivo;
trabalhos;  Maiores dificuldades;
 Organização do  Maiores
material escolar; possibilidades.

Observar os vínculos afetivos


A observação é essencial
para a escolha dos
recursos pedagógicos e
para as práticas de ensino.
É preciso dar
funcionalidade ao
processo de ensino e
aprendizagem.

Paulo Freire diz que


precisamos impregnar a
prática pedagógica de
sentidos.
O nosso aluno precisa encontrar função
nas atividades pedagógicas.
Talvez ele não veja função em contar
abstratamente

1 , 2 , 3 , 4 , 5...
Mas verá funcionalidade em relacionar a
atividade ao seu mundo afetivo...
Para educar,
é necessário
responder a
pergunta:
“Onde o aluno
precisa ter
mais
autonomia?”
Trabalha-se habilidades sociais ou
pedagógicas mais importantes que ele
precisa aprender, começando pelas
atividades em que há maior domínio.
Algumas dicas para instituirmos
atividades funcionais:

• Conhecer a criança;
• Estimular o contato visual;
• Compartilhar as brincadeiras;
• Enriquecer a comunicação;
 A cada palavra uma
ação e a cada ação
uma palavra;
 Tornar o cotidiano
agradável;
 Fazer tudo com
serenidade, mas com
voz clara e firme.
Em suma, podemos
concluir que esse quadro
de comprometimento
pedagógico requer
práticas específicas,
direcionadas à aquisição
de habilidades
necessárias para a
inclusão familiar, social e
escolar.
O que estimular
no aluno?
Perseverança na conclusão de trabalhos;
Capacidade para lidar com os erros;
Capacidade para lidar com frustrações;
Habilidade para superar reveses;
Afetividade;
Socialização.
Esses atributos humanos são essenciais para
a conquista dos atributos pedagógicos
E uma boa alimentação
Cada vez mais, uma boa educação alimentar
torna-se parceira de uma boa educação escolar

Por que é importante uma boa alimentação? Porque


muitas crianças têm erros inatos de metabolismo.
Porém, desordens metabólicas sao tratáveis.
“A maior preocupação é o grande número
de crianças que são afetadas por danos
tóxicos ao desenvolvimento do cérebro sem
um diagnóstico formal. Elas sofrem redução
na capacidade de atenção, atraso no
desenvolvimento e mau desempenho
escolar. Produtos químicos industriais estão
agora emergindo como as causas mais
prováveis,"

Philippe Grandjean, Escola de Saúde Pública da


Universidade de Harvard (EUA)
Tão importante
quanto
propiciar a
atividade é
observar como
o aluno se
comporta
diante dela
Educação não é somente ensino,
é também inspiração. As teorias
capacitam a cognição, a ação
e o exemplo capacitam a alma.
Para além da condição
limítrofe do autista estará a
sua condição humana e os
seus atributos e natureza de
É importante aprendente

dizer que

Para além das nossas


atribuições de
ensinantes, estará a
nossa capacidade de
educar pelo nosso
exemplo e amor.
A inclusão escolar começa na
alma do professor, contagia
seus sonhos e amplia seus
ideais.
A utopia pode ter muitos
defeitos, mas, pelo menos, uma
virtude tem: ela nos faz
caminhar.
E-mail: eugenio@eugeniocunha.com
Site: www.eugeniocunha.com

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