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INTRODUÇÃO À ABA

Desafios Especiais de Aprendizagem


Autismo e TID (Transtornos Invasivos do Desenvolvimento)
são rótulos usados para crianças que exibem certos tipos de
déficits e excessos comportamentais e de desenvolvimento.
Na verdade, “autismo” é um diagnóstico observacional dado a
um conjunto de comportamentos.
Mais recentemente tem sido usado o termo “Transtorno do
Espectro Autista”, reconhecendo-se que as crianças podem ter
diferentes graus de comprometimento e, mais importante, que
pode ser possível que as crianças “movimentem-se” ao longo
do espectro, ou seja, que suas habilidades e comportamentos
fiquem mais próximos do esperado para sua idade cronológica.
Comunicação
Podem apresentar pequena ou nenhuma linguagem expressiva (fala)
ou receptiva (compreensão), podem ser ecolálicas (repetindo palavras
ou frases) ou mesmo ter um modo peculiar de falar (podem estar
fixados em um assunto ou apresentar tom ou volume de voz
estranhos).
Habilidades Sociais
Podem evitar totalmente o contato social ou serem desajeitadas ou
inseguras na interação social. As regras sociais podem parecer-lhes
muito arbitrárias, complexas e desnorteantes.
Habilidades para Brincar
Deixadas por sua conta, podem não explorar ou brincar com os
brinquedos da mesma maneira que faria uma criança com um
desenvolvimento típico. Podem tornar-se obcecadas por um determinado
brinquedo ou objeto e perseverar na brincadeira (repetir a mesma coisa
sem parar). Normalmente é difícil que brinquem com amigos, fator de
aprendizado muito importante.
Processamento Visual e Auditivo
Esses sentidos podem ser muito pouco reativos, com resposta nula
ou pequena a pistas visuais ou auditivas, ou podem ser
hipersensíveis a uma série de sons e estímulos visuais, que podem
ser muito perturbadores para elas. Podem ser capazes de prestar
atenção a esses estímulos por um curto período.
Processamento Visual e Auditivo
Isso pode tornar as situações comuns de ensino difíceis e
perturbadoras para crianças do espectro. Elas podem precisar de
uma adaptação muito gradual aos ambientes comuns de ensino, na
medida em que sua tolerância aumentar. Inicialmente pode ser
necessário trabalhar em um ambiente muito controlado, com um
mínimo de estímulos visuais e auditivos.
Auto-Estimulação
Podem se engajar em comportamentos de auto-estimulação, que podem
ser reconfortantes e previsíveis para elas. O comportamento pode
envolver o corpo todo (isto é, balançar o corpo, abanar as mãos, girar em
círculos, etc.), usar brinquedos de forma incomum ou inadequada, ter
obsessões – como precisar que pessoas e objetos fiquem sempre no
mesmo lugar ou que os acontecimentos sigam um padrão previsível.
Auto-Estimulação
Todos nos engajamos em formas menores de auto-estimulação –
tamborilar os dedos, girar uma caneta ou balançar o pé. Mas para as
crianças com autismo, esses comportamentos podem se tornar tão
intensos e freqüentes que interferem com o aprendizado.
Reforçadores Incomuns
Reforçadores eficazes para crianças com desenvolvimento típico, tais
como elogios e aprovação, podem não ser eficazes para crianças com
autismo. Elas podem necessitar de reforçadores altamente
idiossincráticos, muito pessoais, com os quais o professor precisará
trabalhar para motivar a criança a aprender.
Dificuldade em Aprender pela
Observação do Outro
As crianças com autismo podem não aprender pela observação dos
colegas, pais, irmãos e professores da maneira com que as crianças
típicas aprendem. Crianças dentro do espectro do autismo normalmente
têm dificuldades com o aprendizado incidental ou ambiental. Isso
significa que cada habilidade ou comportamento deverá ser
especificamente trabalhado e sistematicamente ensinado.
Aprendizado mais Lento
Talvez por causa dos muitos desafios que enfrentam para aprender e a
competição por sua atenção, o ritmo de aprendizado das crianças com
autismo normalmente é mais lento que o das crianças com
desenvolvimento típico. A manutenção do foco e da atenção no
aprendizado pode ser um grande desafio para a criança com autismo, e
usualmente requer uma grande dose de repetições para que os conceitos
sejam dominados.
Levando em conta todas ou algumas das dificuldades que vimos,
dá para entender como pode ser difícil para uma criança autista
prestar atenção e aprender da maneira que uma criança com
desenvolvimento típico faz.
Imagine chegar em um país onde
você não entende a língua e não
conhece os costumes – e
ninguém entende o que você
quer ou precisa. Você, na
tentativa de se organizar e
entender esse ambiente,
provavelmente apresentará
comportamentos que os nativos
acharão estranhos.
Imagine agora que você tenha sorte e
consiga um professor que seja paciente,
organizado e motivado a gastar todo o
tempo necessário para trabalhar
individualmente com você e ajudá-lo a
dominar a língua e aprender os costumes
desse país estranho. É isso que um bom
programa de ABA pode fazer.
O QUE É ABA?
Análise do Comportamento Aplicada (Applied Behavior Analysis;
abreviando: ABA) é um termo advindo do campo científico do
Behaviorismo, que observa, analisa e explica a associação entre
o ambiente, o comportamento humano e a aprendizagem. Uma vez
que um comportamento é analisado, um plano de ação pode ser
implementado para modificar aquele comportamento.
O Behaviorismo concentra-se na análise objetiva do
comportamento observável e mensurável em oposição, por
exemplo, à abordagem psicanalítica, que assume que muito do
nosso comportamento deve-se a processos inconscientes.
ABA é um termo “guarda-chuva”, descreve uma
abordagem científica que pode ser usada para tratar
muitas questões diferentes e cobrir muitos tipos
diferentes de intervenções. Educação,
especificamente Educação Especial para crianças
com autismo, é uma das aplicações dessa ciência.
Como ABA é usada para
ensinar crianças com
autismo?
Para ensinar crianças com autismo, ABA é usada como base para
instruções intensivas e estruturadas em situação de um-para-um.
Embora ABA seja um termo “guarda-chuva” que englobe muitas
aplicações, as pessoas usam o termo “ABA” como abreviação,
para referir-se apenas à metodologia de ensino para crianças
com autismo.
Um programa de ABA freqüentemente
começa em casa, quando a criança é
muito pequena. A intervenção precoce
é importante, mas esse tipo de
técnica também pode beneficiar
crianças maiores e adultos. A
metodologia, técnicas e currículo do
programa também podem ser
aplicados na escola.
A sessão de ABA normalmente é individual, em situação de
um-para-um, e a maioria das intervenções precoces seguem uma
agenda de ensino em período integral – algo entre 30 a 40 horas
semanais. O programa é não aversivo – rejeita punições,
concentrando-se na premiação do comportamento desejado.
O currículo a ser efetivamente seguido depende de cada criança
em particular, mas geralmente é amplo; cobrindo as habilidades
acadêmicas, de linguagem, sociais, de cuidados pessoais, motoras
e de brincar. O intenso envolvimento da família no programa é
uma grande contribuição para o seu sucesso.
Como a Terapia ABA
Funciona?
A Análise de Comportamento Aplicada envolve muitas
técnicas para entender e mudar o comportamento. ABA é
um tratamento flexível:

● Pode ser adaptado para atender às necessidades de cada


pessoa única
● Fornecido em muitos locais diferentes – em casa, na escola e na
comunidade
● Ensina habilidades que são úteis na vida cotidiana
● Pode envolver ensino individual ou instrução de grupo
Reforço Positivo
O reforço positivo é uma das principais estratégias utilizadas na ABA.
Quando um comportamento é seguido por algo que é valorizado (uma
recompensa), é mais provável que uma pessoa repita esse
comportamento. Com o tempo, isso incentiva mudanças positivas de
comportamento.
Reforço Positivo
Primeiro, o terapeuta identifica um comportamento objetivo. Cada vez
que a pessoa usa o comportamento ou a habilidade com sucesso,
recebe uma recompensa. A recompensa é significativa para o
indivíduo – exemplos incluem elogios, um brinquedo ou livro, assistir a
um vídeo, acesso a playground ou outro local e muito mais.
Recompensas positivas incentivam a
pessoa a continuar usando a
habilidade. Com o tempo, isso leva a
uma mudança significativa de
comportamento.
Antecedente, Comportamento,
Consequência
Entender antecedentes (o que acontece antes do
comportamento ocorrer) e consequências (o que acontece
depois do comportamento) é outra parte fundamental da
Terapia ABA.
Um antecedente é o que ocorre logo antes do comportamento
“alvo”, isto é, do comportamento a ser trabalhado. Esse
antecedente pode ser verbal – como um comando ou pedido,
pode ser físico como um brinquedo ou objeto, luz, som, ou
qualquer ocorrência no ambiente. É importante lembrar que um
antecedente pode vir não só do ambiente, como também de
outra pessoa ou internamente (como um pensamento ou
sentimento).
Um comportamento resultante é a resposta – ou falta dela –
em relação ao antecedente. Ela pode ser uma ação, verbal,
resposta, etc.
Uma consequência é o que ocorre diretamente após o
comportamento e ela pode incluir um reforço positivo do
comportamento desejado ou não gerar reação por respostas
incorretas/inadequadas.
Com a prática contínua, o aluno poderá substituir o
comportamento inadequado por um que seja mais útil. Essa é
uma maneira mais fácil para o aluno obter o que precisa!
O que um programa ABA
envolve?
Bons programas ABA para autismo não são “tamanho único”. O
ABA não deve ser visto como um conjunto fixo de exercícios. Em
vez disso, cada programa é escrito para atender às necessidades
de cada aluno.

O objetivo de qualquer programa ABA é ajudar cada pessoa a


trabalhar em habilidades que as ajudarão a se tornarem mais
independentes e bem-sucedidas no curto e no futuro.
As metas de tratamento são escritas com base na idade e
no nível de habilidade da pessoa com TEA. Os objetivos
podem incluir diversas áreas de habilidades, como:

● Comunicação e linguagem
● Habilidades sociais
● Autocuidado (como tomar banho e ir ao banheiro)
● Brincadeira e lazer
● Habilidades motoras
● Aprendizagem e habilidades acadêmicas
O instrutor usa uma variedade de procedimentos ABA. Alguns são
dirigidos pelo instrutor e outros são dirigidos pela pessoa com
autismo. Pais, familiares e cuidadores recebem treinamento para
que possam apoiar o aprendizado e a prática de habilidades ao
longo do dia.
A pessoa com autismo terá muitas oportunidades para aprender e
praticar habilidades todos os dias. Isso pode acontecer em
situações planejadas e naturais. Por exemplo, alguém aprendendo a
cumprimentar os outros dizendo “olá” pode ter a chance de
praticar essa habilidade na sala de aula com o professor (planejado)
e no recreio no recreio (que ocorre naturalmente).
O aluno recebe uma abundância de reforço positivo por demonstrar
habilidades úteis e comportamentos socialmente adequados.
A ênfase está nas interações sociais positivas e na aprendizagem
agradável.

O aluno não recebe reforço por comportamentos que prejudicam ou


impedem o aprendizado.
É importante ressaltar que a Terapia ABA é efetiva não apenas para
crianças, podendo ser aplicada em todas as idades, da fase infantil à
fase adulta.
Qual é a evidência de que a
ABA funciona?
O ABA é considerado um tratamento de melhores práticas baseado em
evidências pelo US Surgeon General e pela American Psychological Association.

“Baseado em evidências” significa que a ABA passou em testes científicos de sua


utilidade, qualidade e eficácia. A terapia ABA inclui muitas técnicas diferentes.
Todas essas técnicas se concentram nos antecedentes (o que acontece antes que
um comportamento ocorra) e nas consequências (o que acontece depois do
comportamento).
Mais de 20 estudos estabeleceram que a terapia intensiva e de longo prazo
usando os princípios ABA melhora os resultados para muitas, mas nem
todas as crianças com autismo. “Intensivo” e “longo prazo” referem-se a
programas que fornecem 25 a 40 horas por semana de terapia por 1 a 3
anos. Esses estudos mostram ganhos no funcionamento intelectual,
desenvolvimento da linguagem, habilidades de vida diária e funcionamento
social. Estudos com adultos que usam os princípios da ABA , embora em
menor número, mostram benefícios semelhantes.
Exemplo de um programa
de ABA
Aqui está um exemplo de ensino ABA, usando um programa de
imitação de um currículo inicial com um método de
aprendizagem sem erro.
Incentivando a ABA no dia
a dia
A ABA não precisa ser uma intervenção intensa e individual que ocorre
em incrementos de 20 horas por semana. Os princípios da ABA podem
ser aplicados a muitos eventos e atividades cotidianas para ajudar a
moldar a linguagem e o comportamento apropriado. Portanto, mesmo
que uma criança não fique sentada por 30 horas por semana em terapia
intensiva, há muitas dicas e estratégias que os pais e
responsáveis podem implementar para obter resultados!
Brincar
Brincar é um ótimo momento para desenvolver habilidades, principalmente para
crianças que preferem brincar sozinhas. Descubra o que a criança gosta e se envolva
com ela nessa atividade. Por exemplo, se a criança gosta de bater um brinquedo no
chão, entre lá com ele e também bata um brinquedo! Queremos que a criança
aprenda a tolerar os outros em seu espaço e, eventualmente, desfrute das
interações dos outros.
Brincar também é um ótimo momento para trabalhar em algumas habilidades
linguísticas, solicitando à criança o brinquedo que ela quer apontando ou
verbalizando. Se a criança gosta de brincadeiras brutas e físicas, use isso
como um tempo para trabalhar na atenção conjunta e no contato visual.
Configure situações divertidas (por exemplo, girando, caindo no sofá, caindo
na cama, etc.). Interrompa a atividade e espere que ele olhe para você. Depois
que ele der uma rápida olhada, reforce iniciando a atividade imediatamente
novamente. Quando ele lhe der mais do que um olhar, faça cócegas nele um
pouco mais, etc. Quanto mais contato visual ele lhe der, mais atividades
divertidas você poderá dar a ele.
Linguagem
Parte do desenvolvimento da linguagem é a capacidade de entender e seguir as
instruções (linguagem receptiva). A melhor maneira de criar isso é praticar dentro das
rotinas diárias preferidas. Portanto, se a criança gosta de sair, você pode inserir a
instrução "Vá buscar seus sapatos" antes de sair.
Linguagem
Mesmo se a criança já estiver realizando a tarefa, emparelhe-a com o idioma. Por
exemplo, quando seu filho tira a roupa para se preparar para o banho, você pode dizer:
“Tire a roupa”. Eventualmente, a instrução é o que indicará a ação e não apenas a rotina.
Insira a linguagem verbal em tantas rotinas quanto possível. Enquanto você sobe e desce
as escadas, diga: "Suba, desça", quando ele pegar sua mão para ir a algum lugar, diga:
"Venha", etc.
Mais Dicas
1 Mantenha as coisas simples

Para uma criança que ainda não está falando, mantenha seu
idioma o mais simples possível. Se você deseja que seu filho
comece a falar com frases de uma palavra, é isso que você
deve modelar. Mais do que isso e seu filho pode ficar confuso e
desencorajado.
2 Sempre pense em "O que há para ele?"

Se você quer que seu filho saia da zona de conforto, esteja


preparado para oferecer reforço de pequenos passos em
direção ao comportamento que você deseja.
3 Dê à criança um motivo para se comunicar

Quando tudo está disponível o tempo todo, há pouca


necessidade de pedir qualquer coisa ou da ajuda de um adulto.
Limitar o acesso a determinados brinquedos ou alimentos
preferidos significa que você pode criar ainda mais
oportunidades de comunicação!

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