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Todos os dias milhares de professores pesquisam na

internet atividades para alunos com autismo, na esperança de


encontrar uma solução adequada para seu aluno. Esse é o
padrão hoje. Mas o que tem de errado nisso?

Será que essa perspectiva está correta? A ciência nos mostra


que muita das vezes a solução parte de dentro para fora e não o
inverso. Vamos entender melhor esse conceito neste artigo,
portanto, acompanhe a leitura!

O que fazer com aluno com autismo? Sugestões de atividades,


de temas, vou trabalhar o que? Qual é o primeiro passo? O que
fazer hoje ou semana que vem? O que fazer se esse aluno for
não verbal ou tiver dificuldades de comunicação?

Essas são as perguntas e pedidos sobre ideias e sugestões para


trabalhar com alunos diagnosticados com TEA que a maioria
dos professores de educação especial fazem.

E você educador, sabe quais são os sinais do autismo? O que é o


Autismo e quais sintomas do comportamento as pessoas com
autismo apresentam?

É sempre bom revisar.

Segundo a Secretaria de Saúde, O Transtorno do Espectro do


Autismo (TEA) “ é um transtorno do neurodesenvolvimento,
caracterizado por padrões de comportamentos repetitivos e
dificuldade na interação social, que afeta o desenvolvimento da
pessoa com autismo.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que há 70


milhões de pessoas com autismo em todo o mundo, sendo 2
milhões somente no Brasil.”

Importante ressaltar que o termo correto é pessoa com autismo


ou aluno com autismo. Usar pessoa autista ou aluno autista é
considerado errado, pois “autista” não deve ser usado como
adjetivo.

Depois desses dados, para fazer com que todo o contexto do


tema abordado alcance a relevância na informação que vamos
compartilhar, iniciaremos descrevendo alguns comportamentos
mais comuns do Transtorno do Espectro Autista – TEA.

Sinais mais comuns do Autismo


 Falta de contato visual: Não manter o contato visual ou não olhar
nos olhos por mais de 2 segundo.
 Alinhar objetos: Classificando-os na maioria das vezes por cor,
tamanho ou categoria.
 Atender pelo nome: Os alunos com autismo não atendem pelo
nome quando são chamados
 Isolamento: Não se interessar por outras crianças ou isolar-se,
ainda que esteja num ambiente com outras pessoas.
 Rotinas: Ser inflexível a rotinas, querem sempre fazer as mesmas
coisas, nos mesmos horários, ou ainda ter os objetos nas mesmas
posições e ordem.
 Brincar: Não brincar com brinquedos de forma convencional.
Focar em apenas uma parte do brinquedo, como por exemplo
ficar girando apenas a rodinha do carrinho.
 Movimentos repetitivos: Fazer movimento repetitivo sem função
aparente. Como balançar do tronco pra frente e para trás ou o
“flapping”, que é balançar rapidamente as duas mãos soltas.
Muitas crianças também mudam o seus movimentos repetitivos
de tempos em tempos, como se fossem fases que se alteram.
 Comunicação: Não falar ou não fazer gestos para se expressar.
Técnicas de comunicação alternativa – até mesmo aparelhos para
este fim – ajudam de maneira significativa essas pessoas.
 Ecolalia: Repetir frases ou palavras em momentos inadequados
sem a devida função é chamado de ecolalia.
 Não compartilhar interesses: Ou não olhar quando apontamos
algo ou não demonstrar interesse pelo assunto. A pessoa
autista não conversa sobre o que ela gosta ou o que é da área de
seu interesse.
Aqui entra uma dificuldade que atinge diretamente a área de
educação. 
Porque o movimento repetitivo e a comunicação por exemplo
não afeta, mas quando o aluno não demonstra interesse nos
assuntos tratados em sala de aula, nas atividades ou no tema da
disciplina passa a ser um problema para os professores que
acaba buscando ideias e atividades para alunos com
autismo para superar este obstáculo.

Após várias tentativas de estratégias pedagógicas para alunos


com autismo nada funciona.

É exatamente este ponto que vamos tratar neste artigo!

 Não co-regular emoções: Emocionalmente é importante a criança


olhar para o outro para fazer referência e co-regular suas
emoções com um adulto frente a algo incerto, algo com o qual
não sabemos lidar. E esse é um déficit notado em muitas
pesssoas com autismo.
Por exemplo, a criança com autismo não reage da mesma forma
que os demais numa situação específica, ou melhor, não
demonstra comportamento típico esperado para determinadas
situações.

 Girar objetos: Obsessão em girar coisas sem uma função


aparente. Ficar observando objetos que viram como ventiladores,
máquina de lavar roupas , rodas de carros ou trem em
movimento.
 Interesses restritos, hiperfoco: Obsessão por um assunto
específico. Isso pode ser usado ao seu favor, mas logo entramos
nesse assunto.
 Não imitar: É imitado o que se aprende. Não ter essa habilidade
pode dificultar o aprendizado de muitas crianças com autismo, o
que não é raro.
A análise do comportamento aplicado ao autismo ou ABA
(Applied Behavior Analysis, na sigla em inglês) é muito trabalhada
a imitação e não é necessário que você professor vire um
especialista na análise do comportamento para trabalhar a
imitação. No programa de formação em Educação Criacional
Inclusiva, do Instituto Itard, é abordado análise do
comportamento e neurociência de forma prática para o
atendimento educacional especializado.
Quer entender mais o que é o método ABA? Confira este artigo
e conheça a abordagem da psicologia usada para a compreensão
do comportamento.

É importante trabalhar este comportamento e muitos outros


também porque isso vai estimular o desenvolvimento global da
criança. Ou seja, não é preciso ser um especialista em análise do
comportamento para trabalhar limitação com  reforço positivo
ou punição se for o caso, ok?!

 Brincar de faz-de-conta: Não brincar de faz de conta é um déficit


em crianças com autismo que por exemplo, não simulam estar
tomando café numa xícara de brinquedo vazia.
 

Quebra de padrão: isso é contra intuitivo


Pense comigo, todos os dias milhares de profissionais da área de
educação ou professores da educação especial pesquisam no
google ou nas redes sociais, em grupos e comunidades
sugestões de atividades para trabalhar com os seus alunos com
TEA.

E não tem nada de errado com isso porque é necessário o


compartilhamento deste tipo de conhecimento para os
professores se inspirarem. 

Se inspirar é legal e não existe nada melhor para dar inspiração


do que apreciar, observar e até mesmo analisar práticas
didáticas para alunos com autismo trabalhados por outros
colegas da área educacional.

A questão é: Será que este é o caminho? Será que isso dá certo?


Ou melhor: Será que esta estratégia muito utilizada atualmente
de pesquisar atividades na internet para usar com o aluno com
autismo é a melhor opção? Tá funcionando pra você hoje? 

Como você pode ver, acabamos de listar comportamentos


comuns em pessoas com autismo, repara que usamos a palavra
‘comum’ porque não é certo que vá acontecer devido aos graus
existentes de autismo que variam entre uma classificação de
leve, moderado ou severo. 

Mas isso ajuda em quê para a prática pedagógica que será


trabalhada amanhã, por exemplo. Isso faz sentido pra você?

Será que essas informações resolvem todos os nossos


problemas? Conhecer todos esses tipos de comportamentos
atípicos resolvem o nosso problema como profissionais da
educação inclusiva?

A intenção é mesmo quebrar um padrão, mas como?


Considerando que existem pessoas com autismo que se
enquadram em tipos de comportamentos específicos, diferentes
de outras pessoas nas mesmas condições e que não estão
relacionados nesta lista que apresentamos pelo simples fato de
serem pessoas diferentes. 

O fato de serem pessoas diferentes os tornam únicos, como


cada um de nós. Somos únicos porque temos comportamentos
diferentes por mais que fazemos coisas similares.

Porque ao invés de questionarmos como adaptar ou criar


atividades para alunos com autismo, porque não perguntamos
sugestões, ideias de atividades para o ‘seu’ aluno com autismo. 

Ou seja, cada aluno diagnosticado com Transtorno do Espectro


Autista carrega um histórico familiar dentro de um contexto que
faz parte da realidade dele, por isso é importante considerar as
especificações de cada aluno.

Como por exemplo, interesse, comportamento, idade, série


escolar, fase da vida, qual tipo de medicamento ele faz uso ou
quais são os seus gostos particulares. 
Percebe o quanto isso é muito importante e que envolve um
campo de pesquisa que deve ser feito em conjunto com a família
do aluno?

A escola para elaborar um documento que fundamente as


atividades que serão realizadas ao longo do processo
educacional desse aluno, ou seja, um plano de desenvolvimento
educacional especializado (PDI) e um plano de ensino
individualizado (PEI) é importante para que você educador tenha
subsídio para tomar determinadas atitudes.

Imagine se a sua pesquisa sobre atividades para alunos com


autismo for com base nas características e gostos do seu aluno?
Isso muda tudo, você não concorda?

Os ajustes e as adequações nos diferentes âmbitos interferem


diretamente no processo de ensino e requer um Plano de
Desenvolvimento Individual para o Atendimento Educacional
Especializado. Clique aqui para download gratuito do livro em
PDF.

Hiperfoco ou interesse restrito: Um tipo de


comportamento com base no interesse do aluno 
De um lado nós temos um problema que é a falta de interesse
nas outras pessoas ou nos assuntos que as outras pessoas estão
tratando e de outro lado temos um outro problema que é 
atenção obsessiva ou interesse restrito e hiperfoco em
determinados assuntos. 

São dois extremos, a diferença é que um tem a ver com os


interesses e desejos do aluno com autismo, enquanto o outro
está relacionado com as outras pessoas – o que elas querem que
o aluno autista veja, estude ou escute.

Considerando que autistas têm dificuldades de lidar com os


interesses de outras pessoas e que normalmente eles se fecham
dentro dos seus próprios interesses.
Importante ressaltar que neste caso estamos lidando com
generalizações dos comportamentos mais comuns, lembrando
que cada aluno é único e existem diferentes tipos de natureza
humana que compreendem o comportamento como um todo.

Isso funciona dentro e fora do autismo também como é o caso


de crianças com desenvolvimento típico ou deficiência
intelectual ou crianças diagnosticada com Síndrome de Down
por exemplo. 

Toda pessoa vai demonstrar interesse em alguma


coisa. Essa é a quebra do padrão!
Isso vale para pessoas, independente do diagnóstico, porque o
comportamento de interesse restrito ou hiperfoco é comum
também nas pessoas que não apresentam nenhum tipo de
deficiência intelectual ou TEA.

Vamos lá, as outras pessoas podem querer falar sobre


determinados assuntos como conversar sobre o clima, por
exemplo. Enquanto você não tem interesse e nem gosta de
conversas  do tipo se vai fazer frio, calor ou chuva. Dá pra
entender?

Me acompanha nesse raciocínio: Na verdade cada indivíduo tem


interesses restritos e gosta de falar sobre eles. 

A diferença é que este indivíduo consegue regular as suas


emoções e comportamentos se adequando de a uma forma
socialmente aceitável e às vezes, muito simpática por sinal.

Alguém se identifica?

Mas a pessoa dentro Transtorno do Espectro Autista – TEA não


consegue ser flexível na maioria das vezes. Este é o ponto!

Atenção pelo interesse


Quem é o seu aluno? O seu aluno não é um aluno com autismo,
ele é o ‘seu aluno’, o filho, o neto, o primo da fulana. Ele é único
e tem interesses restritos únicos que talvez você educador ainda
não conheça ou ele ainda não tenha desenvolvido os interesses
únicos dele.

Mas conforme as coisas são sendo apresentadas para ele  é


provável que este aluno com autismo vá criando um repertório
na cabeça e vai escolhendo coisas para demonstrar interesses
por elas.

Ao invés de pesquisar exercícios, estratégias, ideias


ou atividades para alunos com autismo porque você educador
não pesquisa tudo isso para alunos com determinados
interesses. E aí fica a questão: Qual é o interesse do seu aluno? 

Desta forma você vai conquistar a atenção por meio do


interesse e não do diagnóstico.

Pesquisar atividades e estratégias pedagógicas para alunos com


autismo não vão te ajudar a atrair a atenção do seu aluno. E se
você não tiver a atenção dele ele não vai aprender. Isso faz
sentido pra você?

É importante fixar essa ideia de que qualquer tipo de


atividade para alunos com autismo deve ser com base
no interesse do aluno
O título desse artigo tem tudo a ver com isso, porque o Instituto
Itard teve a intenção atrair a sua atenção pelo seu interesse. 

A ideia é sempre ajudar os profissionais de educação porque é


comum você se comportar dessa forma. Sabia que poucas
pessoas quebram este padrão e conseguem trabalhar com os
seus alunos através dos interesses deles, tenham esses alunos
autismo ou não?
E mais! Essas pessoas que trabalham com seus alunos por meio
de seus interesses tem um altíssimo índice de sucesso
pedagógico.

Quais são os objetivos educacionais adequados


para o seu aluno com autismo nesse momento da
vida dele?
Por exemplo, no cenário de isolamento social talvez o
autocuidado ainda não seja algo que esteja desenvolvido pelo
seu aluno. 

Desta forma é interessante trabalhar esta área porque é um


momento em que ele passa o tempo todo em casa e em contato
direto com os pais. É ideal para que ele desenvolva habilidades
como escovar corretamente os dentes, tomar banho ou preparar
um sanduíche, por exemplo.

Este momento com a família é muito pertinente porque


possibilita criar uma rotina – talvez ele goste de rotina – e o
professor trabalha o desenvolvimento global deste aluno à
distância. Tudo isso, é claro, combinado com a família.

Isso é um exemplo para um aluno que ainda não tenha


desenvolvido algumas habilidades dentro da área do
desenvolvimento do autocuidado, portanto, outras áreas
também podem ser trabalhadas na didática inclusiva.

Quer saber quais? Como a do raciocínio lógico, desenvolvimento


cognitivo, operações matemáticas, alfabetização, comunicação
ou alguma disciplina bem específica do seu nível escolar. Tudo
vai depender da particularidade de cada aluno.

É por isso que identificar os objetivos educacionais adequados


para o seu aluno é o primeiro passo. Fazemos isso através de
uma avaliação diagnóstica, que pode ser pré-acadêmica ou
acadêmica. O seguinte é criar atividades baseadas no interesse
(usando as técnicas inclusivas para adaptar atividades) do seu
aluno e no que desperta atenção nele, dentro de um plano de
intervenção claro, com objetivos bem definidos.

Só assim você vai conseguir alcançar um resultado positivo!

Não adianta pedir para o seu aluno colorir um desenho do


‘cebolinha’ por exemplo, quando você está trabalhando a cor
verde se isso não atrair o seu aluno.

Por outro lado, se ele tem interesse em tangran – dobraduras de


papel – Você pode colocar tudo da cor verde e a partir daí criar
um contexto que chame a atenção deste aluno com autismo.

Entender o contexto familiar do aluno ajuda muito para que o


trabalho como o da imitação seja desenvolvido, treinar novos
comportamentos, reduzir comportamentos inadequados e
outras coisas que geralmente é preciso desenvolver dentro do
autismo. 

Como dar conta de ensinar este aluno se não tenho


especialização na área de Atendimento Educacional
Especializado? 

Infelizmente ninguém te contou como isso deveria de funcionar,


não é verdade? Veja este artigo sobre AEE que preparamos para
responder a esta e outras questões relacionadas. 

Aluno primeiro, diagnóstico depois


Portanto, é fundamental conhecer o aluno e não o diagnóstico
dele. Esse é o ponto principal que este artigo quer trazer para
todos os professores que trabalham com alunos com autismo. 

A lista de comportamentos da pessoa com autismo não


representa o seu aluno, ela representa o Transtorno do Espectro
Autista – TEA
O autismo não representa a pessoa, a pessoa é maior do que o
autismo. Porque o autismo é definido numa lista, algumas
páginas de um livro, em palestras ou em cursos. 

Mas a pessoa é muito maior do que o diagnóstico, a pessoa vem


primeiro, o diagnóstico depois. Você concorda?

A pessoa não cabe num livro ou numa lista. Tente listar você por
exemplo. É muito complexo pela riqueza de detalhes que irá
variar quando se está feliz, triste ou quando se está numa
determinada situação cotidiana. 

O que quero dizer é as pessoas como um todo são muito


complexas e não cabem numa lista.

O autismo cabe numa lista pelo fato do autismo ser


pequeno comparado a riqueza de detalhes que
compõe uma pessoa.
O autismo cabe num livro, uma pessoa não.

Entender a pessoa do aluno vai ajudar muitíssimo mais do que


entender só o autismo.

Resumindo, quem vai poder te ajudar a conhecer os interesses e


a ‘pessoa aluno’ está dentro da família dele. Encontre essa
pessoa, converse com ela e liste esses interesses.

A partir daí e de posse de um planejamento sólido, os objetivos


educacionais adequados para o seu aluno de acordo com o
momento da vida dele (alfabetização, autocuidado, operação
matemática, por exemplo) vai resultar no seu sucesso
profissional e no sucesso do desenvolvimento do seu aluno com
autismo.

O nível pedagógico vai aumentar exponencialmente, pode estar


seguro disso!
Interessante esta perspectiva, não é verdade? Compartilhe
quais atividades para alunos com autismo com base no
interesse do ‘seu aluno’ você desenvolve em sala de aula!

Sabia que são muitos os profissionais e professores de educação


especial que falam a respeito da necessidade de uma atenção
especializada também para o aluno com deficiência
intelectual. Veja aqui como trabalhar com o aluno com
Deficiência Intelectual

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