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Frente a cada categoria de estimulação sensorial, é importante observar respostas primárias, ou seja, se
a criança aceita e procura mais daquela estimulação, ou se ela imediatamente rejeita e se afasta.
Também deve-se observar respostas secundárias, isto é, se após a estimulação a criança apresenta-se
mais relaxada ou agitada e, ainda, se ela responde melhor ou pior às demandas apresentadas após cada
estimulação. Outro dado importante a ser coletado nessa avaliação é o aparecimento ou não de
respostas estereotipadas durante a estimulação com cada categoria sensorial, identificando, assim, que
estímulos evocam respostas estereotipadas.
Depois da avaliação, o terapeuta ocupacional pode, ele mesmo ou familiares e membros da equipe por
ele orientados, começar a aplicar estratégias para minimizar possíveis alterações sensoriais
identificadas. Por exemplo, se frente a uma determinada categoria de estímulos a criança apresenta
resposta de procura (querer mais daquela estimulação), porém, também apresenta estereotipia, o
adulto deverá continuar apresentando aquela estimulação com cautela, ou seja, sempre garantindo que
a criança esteja conectada com ele e respondendo a demandas que ele coloque, para não entrar em
estereotipia. Será necessário ensinar a criança a usufruir daquele estímulo de forma mais funcional,
prevenindo estereotipias. Para isso, é importante garantir as trocas sociais e a reciprocidade sócio
emocional durante a estimulação. Por exemplo, pode-se intercalar entre o adulto estimular a criança e a
criança estimular o adulto. Pode-se, ainda, pedir respostas simples durante a estimulação, por exemplo,
falar ou apontar em que parte do corpo quer uma massagem; olhar nos olhos do adulto; responder
perguntas; contar até 10; etc.
Para tornar mais prático, imaginemos que o pular na cama elástica gere muitas estereotipias, ou seja, a
criança pula balançando as mãos (flapping) ou rindo de forma descontextualizada ou fazendo algum
som sem função. Nesse caso, seria importante continuar expondo a criança a esse estímulo do qual o
corpo dela precisa, porém sempre com a supervisão de um adulto e, ainda, esse adulto deve estimular
outras respostas mais funcionais, sociais e adequadas enquanto a criança pula. Por exemplo, pode-se
pedir que a criança pule jogando a bola para o adulto e recebendo-a de volta; ou pule contando até 10 e,
no final, caia sentada na cama elástica; ou, ainda, pule batendo as mãos com o adulto como numa
brincadeira de Adoletá; etc. Assim, enquanto a criança estiver respondendo a demandas externas
(colocadas pelo adulto), ela não poderá estar respondendo a demandas internas (estímulos sensoriais e
estereotipias).
Na avaliação sensorial, também pode-se identificar estímulos que a criança goste, que são reforçadores
e que não geram estereotipias. Esses estímulos são ótimos candidatos a reforçadores para as
habilidades que estiverem sendo treinadas na terapia individualizada ou na escola. Por exemplo, se a
criança adorou a estimulação com estímulos gelatinosos, esses materiais (massinha, geleca, tinta, etc.)
podem ser disponibilizados imediatamente depois da resposta da criança a uma demanda específica
colocada durante a terapia ABA ou na sala de aula, visando maximizar as respostas adequadas.
Durante a avaliação, também pode-se identificar estímulos sensoriais que geram extrema aversão, isto
é, a criança se irrita, repele e nega aquela estimulação. Se o estímulo for algo com o qual a criança terá
que ter contato em seu dia-a-dia, por exemplo, touca de natação, tinta, música, escova de dentes, etc.,
será preciso lidar com essa aversão. Para isso, uma das estratégias utilizadas é a dessensibilização, que
consiste em expor a criança a essa estimulação repetidas vezes, sempre pareando-a com outras
estimulações prazerosas. Assim, o estímulo aversivo pode vir a adquirir as características reforçadoras
do estímulo que gera prazer. Além disso, durante este procedimento, nunca deve-se permitir que a
criança sinta novamente a aversão àquele estímulo. Para isso, é importante parar a estimulação antes
de ficar aversiva.
Mesmo após a fase de avaliação, é importante manter momentos de estimulação sensorial, no qual o
adulto proporciona para a criança contato com diversos estímulos. Assim, estaremos garantindo que a
criança receba os estímulos dos quais seu corpo precisa do outro em vez de se auto estimular, além de
garantir as trocas sociais e respostas funcionais durante esta interação, evitando estereotipias. Para isso,
é importante disponibilizar o estímulo sensorial correspondente à topografia da estereotipia, porém
garantindo as trocas sociais e as respostas da criança às demandas colocadas, sempre em formato de
brincadeira e interação.
No próximo artigo, fecharemos a série sobre estereotipias, discutindo a terceira causa destes
comportamentos nas crianças com autismo: a tendência à repetição.
Referências Bibliográficas:
Rampazo, S. M. (2011). A terapia ocupacional utilizando-se da teoria da integração sensorial e da análise
aplicada do comportamento para minimizar estereotipias de crianças com transtornos do espectro do
autismo. Monografia para o curso de Pós-graduação em Terapia Ocupacional – Saúde Funcional, Facis –
Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo.
Juliana Fialho
Graduada em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo no ano de 2006. Mestre
em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento pela Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (Dissertação defendida em maio de 2009). Trabalha como psicóloga na Gradual (Grupo de
Intervenção Comportamental), onde lida principalmente com crianças e adolescentes com
desenvolvimento atípico. Tem experiência em Análise do Comportamento Aplicada. Já desenvolveu
pesquisas de Iniciação Cientí韨�ca, Conclusão de Curso e Mestrado nos seguintes temas:
desenvolvimento atípico, avaliação de repertório inicial, intervenção comportamental, comunicação
funcional e alternativa e variabilidade comportamental.