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SLIDE 8 – FEDC 1

Podemos afirmar que a parte mais desafiadora de um Floortime bem feito pode ser a parte de
tornar a criança disponível, o que é a primeira capacidade emocional funcional de
desenvolvimento, ou seja, a autorregulação e atenção compartilhada.

Se retrocedermos bem lá atrás, podemos ver que a regulação começa logo dentro do útero
materno. O bebé já começa a receber o estímulo auditivo da voz da mãe por volta dos 6 meses,
os movimentos que a mãe realiza, fornecendo o estímulo vestibular para a criança, se a mãe
estiver calma e tranquila também passará essas sensações para a criança. No caso de stress,
facilmente o cortisol irá passar por via sanguínea. Quando o bebé nasce já está familiarizado
com a voz dos cuidadores, e é algo que irá chamar a atenção do mesmo. O bebé tenta
movimentar a cabeça em direção da voz, daquilo que lhe traz segurança. Necessita que a mãe
esteja sempre à sua beira, que as suas necessidades básicas sejam supridas. O colo e a
ritmicidade do embalar também poderá ser regulatória.

Então, como está aqui descrito, “Para aprender a interagir socialmente, as crianças precisam
ser capazes de se concentrar, ficar calmas e receber ativamente informações de sua
experiência com os outros a partir do que vêem, ouvem, cheiram, tocam, provam e da maneira
como se movem.”

Vamos então explorar mais sobre esta primeira capacidade.

SLIDE 9 - Auto-regulação e interesse no mundo

Nesta capacidade a criança deve Ser capaz de responder aos estímulos provenientes do meio
externo. As experiências sensoriais vão dar lugar a ações como olhar, dirigir o seu corpo em
direção ao som, alcançar.

Aqui a criança começa a conectar as suas emoções com ações e sensações e deve conseguir
fazê-lo sem se desorganizar. Ou seja, a criança deve funcionar de forma organizada: ela fica
alerta quando necessita, fica calma quando necessita, sendo capaz de receber, interpretar e
processar os estímulos de forma organizada.

E a criança pode ser capaz de se regular, ou necessitar da co-regulação do adulto: muitas vezes
temos alguma tendência para falar em auto-regulação como um objetivo terapêutico. No
entanto devemos estar bem cientes que crianças pequenas vão necessitar da co-regulação,
porque ainda não existe essa capacidade de gestão de estímulos e gestão emocional de forma
independente.

Quando estamos regulados, surge então a curiosidade sobre aquilo que me rodeia, e é aqui
que se inicia a exploração do mundo de forma intencional.
É a regulação que nos vai permitir estar disponíveis para atenção compartilhada, e a partir daí
vamos formar uma base sólida para o engajamento. Começamos a trabalhar a primeira
capacidade para ganhar terreno na segunda capacidade.

SLIDE 10 - As relações requerem co-regulação

Temos aqui um acrónimo criado pelo DR. Gerard Costa o chamado AGILE. Então o que é isto do
AGILE?

Primeiro de tudo a criança precisa se sentir segura e a primeira forma de comunicar nossa
segurança e apoio é através do nosso Affect e gestos. Temos que perceber se o nosso Affect,
sua forma de se expressar, se atende às necessidades emocionais da criança. Algumas crianças
necessitam de mais expressão facial para se interessar e manter a atenção no outro, por outro
lado, há crianças que se sentem sobrecarregadas com muitas expressões; depois temos o G
(Gestos), como é que podemos modular os movimentos, as nossas mãos, postura e ritmo.
Temos que perceber se a criança poderá responder melhor a gestos mais simples ou mais
exacerbados; de seguida temos o I (Entonação), compreender se o seu tom de voz corresponde
ao perfil da criança. A criança que é hipersensível ao som pode exigir um tom baixo de voz, de
outro modo, a criança que está hipo-reativa pode exigir um som mais enérgico; O L de
(Latência), diz respeito ao esperar e permitir o tempo da criança para “aceitar a nossa pessoa”,
entender se o ritmo da nossa interação corresponde ao perfil da criança; finalmente temos o E
(Engajamento), compreender se há engajamento na relação, se a criança esta conectada
connosco.

Ao incorporar os princípios do AGILE ao Floortime, é possível ter uma relação mais fortalecida
com a criança

SLIDE 11 – CO-REGULAÇÃO

A co-regulação é algo imprescindível neste processo. Já sabemos que desde cedo o bebé
necessita que os seus cuidadores forneçam a segurança e apoio que este necessita. E vale
salientar que: é importante que os pais estajam regulados para conseguir regular a criança. Por
exemplo: se alguém já andou de avião, sabe que, numa situação de perigo, a máscara de
oxigénio vai para quem primeiro? Para o cuidador, porque ele tem que estar disponível para
ajudar a sua criança.

Quando uma criança ou adolescente está em modo de luta ou fuga, o que eles percebem são
sinais límbicos (ou seja, o que veem nos seus olhos ou outras formas de linguagem não verbal).
Eles não processam o que estamos a dizer, apenas o que estão vendo. Nestes momentos, não
podemos mudar o que ela sente apenas com força de vontade. É quando compreendemos o
que está acontecer com a criança que a nossa própria ansiedade e tensão desaparecem e
somente aí ficamos calmos. Aí, a criança pode ouvir e sentir essa tranquilidade. Portanto, é tão
crítico o que o adulto sinta/entenda/experimenta quanto do que a criança faz.
Ex. jovem com TEA comer lápis de certa – expressão

Muito cuidado com as pistas não verbais! Aliás o Dr. Greenspan falava de ler os olhos, e se
vocês se lembrarem da resposta ao nível da ativação do sistema nervoso simpático, o que
acontece? Alguém se lembra? As pupilas dilatam….isso e outras respostas: taquicardia,
hiperventilação… Isto está associado com respostas do sistema nervoso autónomo. E como o
próprio nome indica, ele é autónomo nas respostas que dá, contrariamente a respostas de
ordem superior como do córtex cerebral. Então não adianta eu estar a dizer para a criança ter
calma e pensar na vela e soprar, sendo esta técnica mais cognitiva quando eu estou a funcionar
num cérebro digamos mais primitivo.

Então aqui o importante era: tentar perceber o que aconteceu antes: a demanda foi demasiado
complexa? A sala teria muito barulho? Visualmente estava acomodada? O professor estava a
atuar como co-regulador ou não? Existe uma relação forte com o professor? Será que a criança
precisava de uma pausa para se movimentar? Porque se assumirmos apenas que é um mau
comportamento ou um comportamento agressivo e rotulamos a criança como tal, e não
tivermos em consideração as diferenças individuais e todas as acomodações necessárias,
estamos possivelmente a arruinar uma criança ou jovem com potencial.

E as pistas devem ser lidas com avanço, e não no momento da desregulação. Aliás geralmente
quando vamos implementar estratégias em contexto escolar, frisamos sempre que: estas
estratégias são para aplicar antes e permitir um ambiente seguro que suporte o seu perfil, e
não uma fórmula mágica para ter uma turma silenciosa. Até porque num momento de
desregulação devemos aceitar a expressão dos seus sentimentos, espelhar o que elas estão a
sentir e criar empatia com expressões faciais, gestos (o tal affect) e acima de tudo estar
presente no momento. E claro assegurar a segurança da criança e de terceiros.

SLIDE 12 – SINTONIA

Falamos então de sintonia: que é o estar com outra pessoa e começarmos a criar um mundo
compartilhado. E a partir daí criamos relacionamentos significativos, porque de facto estamos a
reverberar o outro e a criar uma conexão mais profunda. E nós conseguimos perceber isso
numa sessão, quando a criança desperta o interesse e fica curiosa com o que estamos a fazer,
aproxima-se, esboça um sorriso um contacto visual…

SLIDE 13 – DISCUSSÃO DE VÍDEO

SLIDE 14 – COMO O “I” impacta o FEDC 1

Quero só salientar que Não se cinjam apenas às capacidades de desenvolvimento como uma
ordem cronológica, porque para todos os efeitos podemos ter uma criança com capacidades
linguísticas e de resolução de problemas ótimas, e a capacidade 1 ser desafiante. Aliás, nós
próprios que estamos em capacidades mais elevadas, perante uma situação catastrófica, a
nossa capacidade 1 pode ficar vulnerável.

Vamos então ver como é que o “I” as diferenças individuais impactam esta primeira
capacidade:

Sabemos que… a regulação não implica estar calmo e quieto apenas, implica que eu tenha um
nível de alerta, atenção e nível de emoção ajustado áquilo que estou a fazer. Com certeza se
vocês estiverem a andar de carro para ir trabalhar de manhã, a música que vocês vão ouvir de
manhã, com certeza não será a mesma música que vão ouvir no final do dia. Ou não, cada um
tem a sua maneira de funcionar. Mas efetivamente eu necessito de um nível de alerta maior
durante um período ativo, do que num período que antecipa o repouso.

Podemos ter crianças que necessitem de aumentar o nível de alerta para se manterem
reguladas, por exemplo incluir movimento na cadeira durante a aula, ou fazer uma pausa para
ir ao banheiro, ou posso necessitar de diminuir o nível de alerta e ser necessário ir para um
cantinho da calma.

Então a regulação não é uma categoria mas sim uma dimensão! O nível de regulação será
muito diferente para cada indivíduo e também para cada família!

A criança estará regulada quando conecta com a experiência com o que se passa à sua volta, e
isto vai variar de pessoa para pessoa. De um ponto de vista neurológico, o limiar de cada um
será diferente. Então vamos imaginar uma criança hiperreativa ao estímulos auditivos que
numa sala de aula com imenso barulho. Será que o ambiente vai favorecer a aprendizagem?
Com certeza não… E temos que ver que, não vamos medir o desempenho da criança pelo facto
dela estar sossegada e quieta numa cadeira, mas sim pela informação que ela absorveu. Então
se uma criança necessita por exemplo de movimento para aprender, porque não criarmos
oportunidade para tal?

Notem que isto é crucial explicar à família que não é uma escolha da criança, e que devemos
suportar e acomodar essas diferenças.

Outra questão as diferenças individuais podem ser condições de saúde, valores culturais,
traumas.

PERGUNTA

SLIDE 15 – COISAS A CONSIDERAR

LER
Questão de dar o controlo à criança

Perceber a nossa própria energia. O nosso estado de espírito também vai afetar e muito o
affect que vamos passar para essa criança. Sabem aquela situação de quando temos uma
sessão que não corre tao bem como a gente queria e parece que todas as seguintes correm
mal. E se refletirmos bem…talvez possa ser algo interno, algum bloqueio nosso que faz com
que isso espelhe na nossa intervenção.

SLIDE 16 – Como o stress pode impactar a auto-regulação

O stress é definido como: o efeito de qualquer ação ou reação que ameace a homeostase,
fazendo com que o excesso de energia seja gasto".

Sabemos então que o stress afeta negativamente o desempenho de uma tarefa. Não estamos a
falar do stress que nós temos quando temos que entregar uma tarefa em cima da hora. Numa
criança isto vai ser experienciado de forma mais intensa e mais impactante.

Então altos níveis de cortisol vão influenciar a nossa cognição assim como a nossa regulação e
para tal, devemos ser capazes de identificar potenciais fatores de stress para essa criança. E
esses fatores podem ser de ordem biológica, emocional, cognitiva, social.

Por exemplo, apesar de nós privilegiarmos a presença da família, muitas vezes surge a questão
da presença dos irmãos. Se eu sei que a criança vai sempre se comparar ao irmão, ou então o
perfil do irmão talvez não suporte a criança onde ela está naquele momento, isso vai
desencadear uma resposta de stress, talvez numa fase inicial eu não vou realizar uma atividade
com o irmão.

E em certas situações de stress extremo, a criança pode colocar a sua própria integridade em
risco. No caso da criança tentar algo perigoso, temos que ver que a agressão é a erupção da
emoção que vem da frustração de algo que não pode ser mudado. E para tal, temos que
aceitar esse facto, adaptar e seguir em frente, senão entramos numa espiral de frustração.
Independentemente se o comportamento é correto ou não, instruir a criança para controlar o
seu comportamento não será a estratégia mais eficaz. Podemos tentar ser mais empáticos e
tentar intervir como algo: hmmm, estou a ver que algo não está a resultar e você está a ficar
aborrecido. Posso te ajudar com isso”. Quanto mais ajudarmos nesta troca recíproca, mais fácil
será para a criança lidar com essa frustração. Nesta primeira capacidade a criança está num
modo de luta/fuga, portanto não podemos esperar um grande controlo emocional.

Numa situação em que a criança possa demonstrar agressividade, podemos tentar canalizar
para um objeto como uma almofada. Mas queremos perceber se a criança está a ser agressiva
devido a uma sobrecarga sensorial, ou se por algum outro motivo ela não se sente segura.

Alguns inputs sensoriais poderão ajudar a reconfortar a criança, como por exemplo uma
massagem firme ou ficar mais contida no espaço – claro que vamos avaliar caso a caso.

O que funciona com uma criança pode não funcionar com outra.
Outro aspeto que podemos considerar é perceber as transições. Geralmente as transições é
sempre algo bem delicado para a criança, e antecipar poderá ser uma mais valia. E podemos
antecipar com pistas visuais por exemplo.

Acima de tudo é tentarmos fazer os possíveis para evitar as situações de stress e prevenir um
possível meltdown. No entanto, se não houver oportunidade para controlar fatores externos,
ajudamos a criança a ultrapassar a tempestade, mostrando empatia e agindo como co-
regulador.

SLIDE 17 – PROMOÇÃO DO FEDC 1

A importância da sintonia emocional

Ler os sinais do indivíduo

Fazer o significado

Ritmo e velocidade

Co-regulação

Orientar o indivíduo afetivamente

A dança da DIR

Seguir a liderança/motivação do indivíduo

SLIDE 18 – PROMOÇÃO DO FEDC 1

Então sabemos que é nesta capacidade que vamos preparar terreno para a capacidade 2, e
promover a atenção compartilhada através de algumas tentativas comunicativas tais como o
olhar, gestos, vocalizações…

E a partir daqui começamos a fortalecer o nosso R, a nossa relação, ao mostramos interesse


nos mesmos interesses da criança. Aliás, temos tendência para criar amizades com as pessoas
que têm interesses em comum connosco.

Validamos as ideias da criança e a sua intenção. Assumimos que todo o comportamento tem
um significado e uma intenção, e seguimos a sua liderança da criança. Por sua vez, a criança
sente-se segura, sente-se validada e vai se entregar mais e mais… e é aqui que começa a dança
do floortime. Eu só posso expandir, quando eu ofereço um ambiente seguro para a criança ser
ela própria e ter a oportunidade de partilhar os seus interesses com alguém, sem julgamentos.
Nesta fase eu tenho que dar mais controlo à criança, no sentido de perceber o seu espaço, os
seus limites, as suas preferências sensoriais e interesses. Ah e Queremos assegurar que não
vamos forçar a criança a nada que ela não queira.

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