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Podemos afirmar que a parte mais desafiadora de um Floortime bem feito pode ser a parte de
tornar a criança disponível, o que é a primeira capacidade emocional funcional de
desenvolvimento, ou seja, a autorregulação e atenção compartilhada.
Se retrocedermos bem lá atrás, podemos ver que a regulação começa logo dentro do útero
materno. O bebé já começa a receber o estímulo auditivo da voz da mãe por volta dos 6 meses,
os movimentos que a mãe realiza, fornecendo o estímulo vestibular para a criança, se a mãe
estiver calma e tranquila também passará essas sensações para a criança. No caso de stress,
facilmente o cortisol irá passar por via sanguínea. Quando o bebé nasce já está familiarizado
com a voz dos cuidadores, e é algo que irá chamar a atenção do mesmo. O bebé tenta
movimentar a cabeça em direção da voz, daquilo que lhe traz segurança. Necessita que a mãe
esteja sempre à sua beira, que as suas necessidades básicas sejam supridas. O colo e a
ritmicidade do embalar também poderá ser regulatória.
Então, como está aqui descrito, “Para aprender a interagir socialmente, as crianças precisam
ser capazes de se concentrar, ficar calmas e receber ativamente informações de sua
experiência com os outros a partir do que vêem, ouvem, cheiram, tocam, provam e da maneira
como se movem.”
Nesta capacidade a criança deve Ser capaz de responder aos estímulos provenientes do meio
externo. As experiências sensoriais vão dar lugar a ações como olhar, dirigir o seu corpo em
direção ao som, alcançar.
Aqui a criança começa a conectar as suas emoções com ações e sensações e deve conseguir
fazê-lo sem se desorganizar. Ou seja, a criança deve funcionar de forma organizada: ela fica
alerta quando necessita, fica calma quando necessita, sendo capaz de receber, interpretar e
processar os estímulos de forma organizada.
E a criança pode ser capaz de se regular, ou necessitar da co-regulação do adulto: muitas vezes
temos alguma tendência para falar em auto-regulação como um objetivo terapêutico. No
entanto devemos estar bem cientes que crianças pequenas vão necessitar da co-regulação,
porque ainda não existe essa capacidade de gestão de estímulos e gestão emocional de forma
independente.
Quando estamos regulados, surge então a curiosidade sobre aquilo que me rodeia, e é aqui
que se inicia a exploração do mundo de forma intencional.
É a regulação que nos vai permitir estar disponíveis para atenção compartilhada, e a partir daí
vamos formar uma base sólida para o engajamento. Começamos a trabalhar a primeira
capacidade para ganhar terreno na segunda capacidade.
Temos aqui um acrónimo criado pelo DR. Gerard Costa o chamado AGILE. Então o que é isto do
AGILE?
Primeiro de tudo a criança precisa se sentir segura e a primeira forma de comunicar nossa
segurança e apoio é através do nosso Affect e gestos. Temos que perceber se o nosso Affect,
sua forma de se expressar, se atende às necessidades emocionais da criança. Algumas crianças
necessitam de mais expressão facial para se interessar e manter a atenção no outro, por outro
lado, há crianças que se sentem sobrecarregadas com muitas expressões; depois temos o G
(Gestos), como é que podemos modular os movimentos, as nossas mãos, postura e ritmo.
Temos que perceber se a criança poderá responder melhor a gestos mais simples ou mais
exacerbados; de seguida temos o I (Entonação), compreender se o seu tom de voz corresponde
ao perfil da criança. A criança que é hipersensível ao som pode exigir um tom baixo de voz, de
outro modo, a criança que está hipo-reativa pode exigir um som mais enérgico; O L de
(Latência), diz respeito ao esperar e permitir o tempo da criança para “aceitar a nossa pessoa”,
entender se o ritmo da nossa interação corresponde ao perfil da criança; finalmente temos o E
(Engajamento), compreender se há engajamento na relação, se a criança esta conectada
connosco.
Ao incorporar os princípios do AGILE ao Floortime, é possível ter uma relação mais fortalecida
com a criança
SLIDE 11 – CO-REGULAÇÃO
A co-regulação é algo imprescindível neste processo. Já sabemos que desde cedo o bebé
necessita que os seus cuidadores forneçam a segurança e apoio que este necessita. E vale
salientar que: é importante que os pais estajam regulados para conseguir regular a criança. Por
exemplo: se alguém já andou de avião, sabe que, numa situação de perigo, a máscara de
oxigénio vai para quem primeiro? Para o cuidador, porque ele tem que estar disponível para
ajudar a sua criança.
Quando uma criança ou adolescente está em modo de luta ou fuga, o que eles percebem são
sinais límbicos (ou seja, o que veem nos seus olhos ou outras formas de linguagem não verbal).
Eles não processam o que estamos a dizer, apenas o que estão vendo. Nestes momentos, não
podemos mudar o que ela sente apenas com força de vontade. É quando compreendemos o
que está acontecer com a criança que a nossa própria ansiedade e tensão desaparecem e
somente aí ficamos calmos. Aí, a criança pode ouvir e sentir essa tranquilidade. Portanto, é tão
crítico o que o adulto sinta/entenda/experimenta quanto do que a criança faz.
Ex. jovem com TEA comer lápis de certa – expressão
Muito cuidado com as pistas não verbais! Aliás o Dr. Greenspan falava de ler os olhos, e se
vocês se lembrarem da resposta ao nível da ativação do sistema nervoso simpático, o que
acontece? Alguém se lembra? As pupilas dilatam….isso e outras respostas: taquicardia,
hiperventilação… Isto está associado com respostas do sistema nervoso autónomo. E como o
próprio nome indica, ele é autónomo nas respostas que dá, contrariamente a respostas de
ordem superior como do córtex cerebral. Então não adianta eu estar a dizer para a criança ter
calma e pensar na vela e soprar, sendo esta técnica mais cognitiva quando eu estou a funcionar
num cérebro digamos mais primitivo.
Então aqui o importante era: tentar perceber o que aconteceu antes: a demanda foi demasiado
complexa? A sala teria muito barulho? Visualmente estava acomodada? O professor estava a
atuar como co-regulador ou não? Existe uma relação forte com o professor? Será que a criança
precisava de uma pausa para se movimentar? Porque se assumirmos apenas que é um mau
comportamento ou um comportamento agressivo e rotulamos a criança como tal, e não
tivermos em consideração as diferenças individuais e todas as acomodações necessárias,
estamos possivelmente a arruinar uma criança ou jovem com potencial.
E as pistas devem ser lidas com avanço, e não no momento da desregulação. Aliás geralmente
quando vamos implementar estratégias em contexto escolar, frisamos sempre que: estas
estratégias são para aplicar antes e permitir um ambiente seguro que suporte o seu perfil, e
não uma fórmula mágica para ter uma turma silenciosa. Até porque num momento de
desregulação devemos aceitar a expressão dos seus sentimentos, espelhar o que elas estão a
sentir e criar empatia com expressões faciais, gestos (o tal affect) e acima de tudo estar
presente no momento. E claro assegurar a segurança da criança e de terceiros.
SLIDE 12 – SINTONIA
Falamos então de sintonia: que é o estar com outra pessoa e começarmos a criar um mundo
compartilhado. E a partir daí criamos relacionamentos significativos, porque de facto estamos a
reverberar o outro e a criar uma conexão mais profunda. E nós conseguimos perceber isso
numa sessão, quando a criança desperta o interesse e fica curiosa com o que estamos a fazer,
aproxima-se, esboça um sorriso um contacto visual…
Quero só salientar que Não se cinjam apenas às capacidades de desenvolvimento como uma
ordem cronológica, porque para todos os efeitos podemos ter uma criança com capacidades
linguísticas e de resolução de problemas ótimas, e a capacidade 1 ser desafiante. Aliás, nós
próprios que estamos em capacidades mais elevadas, perante uma situação catastrófica, a
nossa capacidade 1 pode ficar vulnerável.
Vamos então ver como é que o “I” as diferenças individuais impactam esta primeira
capacidade:
Sabemos que… a regulação não implica estar calmo e quieto apenas, implica que eu tenha um
nível de alerta, atenção e nível de emoção ajustado áquilo que estou a fazer. Com certeza se
vocês estiverem a andar de carro para ir trabalhar de manhã, a música que vocês vão ouvir de
manhã, com certeza não será a mesma música que vão ouvir no final do dia. Ou não, cada um
tem a sua maneira de funcionar. Mas efetivamente eu necessito de um nível de alerta maior
durante um período ativo, do que num período que antecipa o repouso.
Podemos ter crianças que necessitem de aumentar o nível de alerta para se manterem
reguladas, por exemplo incluir movimento na cadeira durante a aula, ou fazer uma pausa para
ir ao banheiro, ou posso necessitar de diminuir o nível de alerta e ser necessário ir para um
cantinho da calma.
Então a regulação não é uma categoria mas sim uma dimensão! O nível de regulação será
muito diferente para cada indivíduo e também para cada família!
A criança estará regulada quando conecta com a experiência com o que se passa à sua volta, e
isto vai variar de pessoa para pessoa. De um ponto de vista neurológico, o limiar de cada um
será diferente. Então vamos imaginar uma criança hiperreativa ao estímulos auditivos que
numa sala de aula com imenso barulho. Será que o ambiente vai favorecer a aprendizagem?
Com certeza não… E temos que ver que, não vamos medir o desempenho da criança pelo facto
dela estar sossegada e quieta numa cadeira, mas sim pela informação que ela absorveu. Então
se uma criança necessita por exemplo de movimento para aprender, porque não criarmos
oportunidade para tal?
Notem que isto é crucial explicar à família que não é uma escolha da criança, e que devemos
suportar e acomodar essas diferenças.
Outra questão as diferenças individuais podem ser condições de saúde, valores culturais,
traumas.
PERGUNTA
LER
Questão de dar o controlo à criança
Perceber a nossa própria energia. O nosso estado de espírito também vai afetar e muito o
affect que vamos passar para essa criança. Sabem aquela situação de quando temos uma
sessão que não corre tao bem como a gente queria e parece que todas as seguintes correm
mal. E se refletirmos bem…talvez possa ser algo interno, algum bloqueio nosso que faz com
que isso espelhe na nossa intervenção.
O stress é definido como: o efeito de qualquer ação ou reação que ameace a homeostase,
fazendo com que o excesso de energia seja gasto".
Sabemos então que o stress afeta negativamente o desempenho de uma tarefa. Não estamos a
falar do stress que nós temos quando temos que entregar uma tarefa em cima da hora. Numa
criança isto vai ser experienciado de forma mais intensa e mais impactante.
Então altos níveis de cortisol vão influenciar a nossa cognição assim como a nossa regulação e
para tal, devemos ser capazes de identificar potenciais fatores de stress para essa criança. E
esses fatores podem ser de ordem biológica, emocional, cognitiva, social.
Por exemplo, apesar de nós privilegiarmos a presença da família, muitas vezes surge a questão
da presença dos irmãos. Se eu sei que a criança vai sempre se comparar ao irmão, ou então o
perfil do irmão talvez não suporte a criança onde ela está naquele momento, isso vai
desencadear uma resposta de stress, talvez numa fase inicial eu não vou realizar uma atividade
com o irmão.
E em certas situações de stress extremo, a criança pode colocar a sua própria integridade em
risco. No caso da criança tentar algo perigoso, temos que ver que a agressão é a erupção da
emoção que vem da frustração de algo que não pode ser mudado. E para tal, temos que
aceitar esse facto, adaptar e seguir em frente, senão entramos numa espiral de frustração.
Independentemente se o comportamento é correto ou não, instruir a criança para controlar o
seu comportamento não será a estratégia mais eficaz. Podemos tentar ser mais empáticos e
tentar intervir como algo: hmmm, estou a ver que algo não está a resultar e você está a ficar
aborrecido. Posso te ajudar com isso”. Quanto mais ajudarmos nesta troca recíproca, mais fácil
será para a criança lidar com essa frustração. Nesta primeira capacidade a criança está num
modo de luta/fuga, portanto não podemos esperar um grande controlo emocional.
Numa situação em que a criança possa demonstrar agressividade, podemos tentar canalizar
para um objeto como uma almofada. Mas queremos perceber se a criança está a ser agressiva
devido a uma sobrecarga sensorial, ou se por algum outro motivo ela não se sente segura.
Alguns inputs sensoriais poderão ajudar a reconfortar a criança, como por exemplo uma
massagem firme ou ficar mais contida no espaço – claro que vamos avaliar caso a caso.
O que funciona com uma criança pode não funcionar com outra.
Outro aspeto que podemos considerar é perceber as transições. Geralmente as transições é
sempre algo bem delicado para a criança, e antecipar poderá ser uma mais valia. E podemos
antecipar com pistas visuais por exemplo.
Acima de tudo é tentarmos fazer os possíveis para evitar as situações de stress e prevenir um
possível meltdown. No entanto, se não houver oportunidade para controlar fatores externos,
ajudamos a criança a ultrapassar a tempestade, mostrando empatia e agindo como co-
regulador.
Fazer o significado
Ritmo e velocidade
Co-regulação
A dança da DIR
Então sabemos que é nesta capacidade que vamos preparar terreno para a capacidade 2, e
promover a atenção compartilhada através de algumas tentativas comunicativas tais como o
olhar, gestos, vocalizações…
Validamos as ideias da criança e a sua intenção. Assumimos que todo o comportamento tem
um significado e uma intenção, e seguimos a sua liderança da criança. Por sua vez, a criança
sente-se segura, sente-se validada e vai se entregar mais e mais… e é aqui que começa a dança
do floortime. Eu só posso expandir, quando eu ofereço um ambiente seguro para a criança ser
ela própria e ter a oportunidade de partilhar os seus interesses com alguém, sem julgamentos.
Nesta fase eu tenho que dar mais controlo à criança, no sentido de perceber o seu espaço, os
seus limites, as suas preferências sensoriais e interesses. Ah e Queremos assegurar que não
vamos forçar a criança a nada que ela não queira.