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A Intervenção da Terapia Ocupacional Utilizando o Método de
Integração Sensorial em Crianças com Transtorno do Espectro
Autista
Fernanda Carneiro

O método de Integração Sensorial foi desenvolvido pela terapeuta


ocupacional Anne Jean Ayres, começando seus estudos no final dos anos 50,
foi pioneira em elucidar pressupostos sobre a relação entre processamento
sensorial, comportamento, aprendizagem e desenvolvimento.
As dificuldades e interrupções que o TPS impõe sobre as experiências
sensoriais são de interesse de estudo do terapeuta ocupacional que trabalha
com TEA. O profissional que usa o método de integração sensorial tem acesso
a um ambiente adaptado e um conjunto de ferramentas e equipamentos
necessários para a intervenção terapêutica e para garantir os princípios da
medida de fidelidade da abordagem. (Mailloux & Burke, 2000)
O objetivo do tratamento para a criança autista é melhorar o
processamento sensorial para que mais sensações sejam efetivamente
registradas e moduladas, e para incentivar a criança a formar respostas
adaptativas simples como um meio de ajudá-la a aprender e organizar o seu
comportamento.
É comum que crianças com TEA apresentem problemas sensoriais
significativos que acarretam prejuízos no desempenho das atividades diárias, no
autocuidado e na interação social. Pesquisas feitas com 200 crianças com TEA
identificaram que 94% delas apresentavam alterações sensoriais (Biel & Peske,
2014).
A integração das informações sensoriais presentes no meio é vital para
o desempenho ocupacional e para a aprendizagem. O método de I.S. contém
princípios que estabelecem uma estimulação sensorial organizada, gerenciada
por meio de brincadeiras, jogos e atividades lúdicas. É fundamental a efetiva
compreensão de como as informações sensoriais estão sendo moduladas,
organizadas e integradas.

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Os Transtornos do Processamento Sensorial- TPS estão divididos em
três tipos- Transtorno da Modulação Sensorial, Transtorno da Discriminação
Sensorial e Transtorno Motores de Base Sensorial.
A modulação sensorial refere- se ao processo pelo qual o sistema
nervoso ajusta as informações sensoriais, dependendo da intensidade,
frequência, duração, complexidade e novidade dos estímulos (Biel & Peske,
2014). Esse complexo processo permite que a criança apresente respostas
adaptativas, contribuindo nas habilidades para auto regulação e para
comportamentos e emoções adequados (Reinoso, 2013).
A inabilidade em modular os impulsos sensoriais, que se manifesta pela
ausência ou pela diminuição de respostas ou pela emissão de respostas
exacerbadas frente ao estímulo sensorial, define o Transtorno da Modulação
Sensorial que está dividido em subtipos: hiper-responsividade, hipo-
responsividade e busca sensorial (Momo,2011).
Hiper-responsividade é muitas vezes referida como defensividade
sensorial. A criança hipersensível pode exercer comportamentos de fuga, luta
afim de evitar ou responder a sensações intoleráveis, limitando a participação
em atividades sociais, esportivas e acadêmicas (Biel & Peske, 2014).
O input sensorial tem maior impacto na resposta construída pela criança
do que uma maneira típica, fazendo com que apresente respostas aversivas ou
intolerância diante dos mínimos estímulos.
Em diversas situações cotidianas, a criança hiper-responsiva a
sensações táteis, por exemplo, parece não conseguir controlar a entrada
sensorial. Geralmente, observam-se dificuldades na alimentação, quando a
criança recusa diversos alimentos com consistência e texturas diferenciadas;
nas atividades deautocuidado, quando a criança chora, foge e se irrita na hora do
banho, de cortaras unhas ou vestir-se; e no brincar.
A criança com hiporesponsividade sensorial apresenta registro ou
discriminação diminuída. É comum apresentar comportamentos de
passividade, alienação, isolamento e parece não orientar sua atitude a
mudanças ambientais ou na presença de novas informações sensoriais. Isso
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pode levar ao isolamento social, inabilidade para engajar-se em atividades em
grupo, lentificação para acompanhar o ritmo das atividades, retração afetiva ou
dependência para realização de atividades cotidianas. O input sensorial tem
menor impacto na resposta construída pela criança do que uma maneira típica.
A segurança e a integridade física podem estar em risco.
A busca sensorial compreende a necessidade da criança de obter
estímulos mais intensos para poder responder a eles. A criança deseja e procura
mais informações na tentativa de organizar seu comportamento que se torna
mais desorganizado à medida que a criança obtém mais estímulos, com maior
duração, frequência e intensidade (Momo,2011).
O segundo tipo de TPS são os Transtornos de Discriminação Sensorial
que ocorrem em diversos sistemas sensoriais e compreendem dificuldades em
identificar ou discriminar a intensidade e características dos estímulos
sensoriais (Magalhães et al.,2009). Quando se manifesta em relação ao
sistema sensorial tátil, a criança pode ter dificuldade em explorar e manusear
objetos, identificar texturas, escolher as próprias roupas e utensílios de higiene
pessoal, fazer escolhas alimentares e perceber suas preferências por paladares
(Momo,2011).
O terceiro tipo é o Transtorno Motor de Base Sensorial e é subdividido
em dois grupos: os transtornos posturais, que podem ser vistos em crianças
que têm dificuldade para manter o controle do próprio corpo para realizar tarefas
motoras;e a dispraxia.
A dispraxia é o transtorno relacionado com a aprendizagem de
atividades motoras novas, planejamentos e execuções de movimentos em
repostas às demandas das tarefas ou do ambiente. Embora existam diferentes
tipos de dispraxia, os sentidos mais envolvidos no quadro clínico descrito no
contexto de integração sensorial são o vestibular e a propriocepção. O que
caracteriza a dispraxia é o comprometimento da habilidade de idealizar,
planejar e executar ações não familiares. A criança tende a não persistir em
atividades ou brincadeiras mais desafiadoras, passando de um brinquedo a
outro, sem concluir, por não entender as demandas implícitas do manejo e uso
de objetos ou por não saber como sequenciar as etapas para fazer a atividade
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(Magalhãeset al.,2009).
Partindo da premissa de que o conhecimento dos TPS é importante para
a investigação das alterações sensoriais e os impactos que exercem no
desempenho ocupacional e na aprendizagem da criança com TEA, Ayres definiu
alguns princípios que organizam a prática da terapia ocupacional com o método
de integração sensorial, os quais ela denominou medida de fidelidade.
Estruturou o método de I.S. em torno dos princípios de aprendizagem
motora, a resposta adaptativa e atividade proposital. O plano de intervenção é
centrado na família e com base em avaliações de integração sensorial que
identificam as alterações sensoriais, motoras e da práxis.
A terapia ocorre em um ambiente seguro que inclui equipamentos que
irão fornecer diversos estímulos, principalmente os estímulos vestibulares,
proprioceptivos e táteis e oportunidades para a práxis. As atividades são ricas
em sensações e oferecem oportunidades, experiências para integrarem essas
informações com outras sensações, como visual e auditiva.
As atividades promovem o estado de alerta e a regulação das emoções
e fornecem a base para atender às oportunidades de aprendizagem. O
terapeuta ocupacional apoia a modulação sensorial para alcançar e manter um
estado regulado.
A criança é incentivada a se mover e mudar o ambiente para criar
maiores exigências e mais desafiadoras para a integração perceptivo-motor. A
proposta da intervenção é realizada no contexto de jogo e brincadeiras. O
terapeuta negocia opções de atividades com a criança, permitindo que a criança
escolha o equipamento, materiais ou aspectos específicos de uma atividade
(Roley et al.,2007).
Quando necessário o terapeuta sugere ou apoia um aumento ou
diminuição na complexidade do desafio para apoiar a habilidade da criança de
responder com sucesso. Portanto, o terapeuta estabelece um vínculo
terapêutico, isto é, estabelece uma conexão com a criança que transmite uma
sensação de trabalho em conjunto para uma ou mais metas.
O terapeuta ocupacional pode prescrever, como complemento da
terapia, orientações e estratégias sensoriais para melhorar a organização e
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diminuir reatividade emocional durante as rotinas diárias e no aprendizado
escolar. Estas estratégias facilitam a manutenção do estado de alerta e a
percepção de novas informações sensoriais que podem ser introduzidas a
partir do enriquecimento de recursos visuais, auditivos, táteis, olfativos,
gustativos, vestibulares e proprioceptivos (Momo,2011). A organização das
informações sensoriais poderá ser efetivada em casa, na escola, na realização
das atividades escolares, na recreação, no lanche e na higiene.
Compreendendo o processamento sensorial atípico de crianças com
TEA, o terapeuta promove experiências sensoriais necessárias, integrando os
sistemas e organizando adequadamente respostas adaptativas para
desenvolver um bom desempenho ocupacional.
O objetivo da medida de fidelidade é garantir que o terapeuta
ocupacional usando integração sensorial se oriente pelos princípios
originalmente desenvolvidos por Ayres para promover o desenvolvimento da
criança num ambiente seguro e através de atividades lúdicas que conduz sua
exploração do mundo e aprendizagem; e para fins de pesquisa, tornar- se um
guia para medir a eficácia das intervenções.

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Referências Bibliográficas

AYRES, A.J. Sensory integration and the child. Los Angeles, CA: Western
Psychological Services. (2013).

BIEL,L. Sensory Processing challenges: Effective Clinical Work With Kids&


Teens. New York: Norton & Company. (2014).

MAILLOUX, Z., & BURKE, J.P. A recreação e a abrangência da integração


sensorial. In: Parham, L.D., & Fazio, L.S. A Recreação na Terapia
Ocupacional.São Paulo, Santos. (2000).

MAILLOUX, Z. Sensory integrative principles in intervention with children


with autistic disorder. in: Roley,S.S., Blanche, E.I., & Schaaf, R.C.
Understandingthe nature of: sensory integration with diverse populations.
Texas,Proed. (2001).

MOMO, A ., & SILVESTRE, C. Integração sensorial nos transtornos do


espectro do autismo. In: Schwartzman, J.S., & Araújo, C.A. Transtornos do
Espectro do Autismo. São Paulo, Mennon. (2011).

ROLEY, S.S et al., Understanding Ayres sensory integration. AOTA. (2007).

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