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Jaisa Klauss
EMESCAM
'10.37885/220207680
RESUMO
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Autismo: avanços e desafios - ISBN 978-65-5360-107-9 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 2 - Ano 2022
INTRODUÇÃO
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O Transtorno de Modulação Sensorial é quando a criança tem dificuldade em res-
ponder ao estímulo sensorial com um comportamento adequado ao grau, natureza e/ou
intensidade do estímulo. As respostas podem ser classificadas em hiperresponsividade
(resposta exagerada ao estímulo), hiporresponsividade (resposta menos intensa ou mais
lenta do que as respostas típicas; letárgica e introspectiva) e busca/ânsia sensorial (desejo
intenso e insaciável por estímulo sensorial) (JAMES et al., 2011). Quando a criança tem
dificuldades para interpretar as qualidades do estímulo sensorial e as diferenças entre os
estímulos, é chamado de Transtorno de Discriminação Sensorial. Já o Transtorno de Base
Motora é caracterizado pela baixa estabilidade postural, hipotonismo muscular e déficit em
equilíbrio (COSTA, 2017).
No TEA, a disfunção no processamento e integração sensorial ocorre de forma comple-
xa, fazendo com que o desempenho ocupacional dessas pessoas seja diretamente afetado.
Comportamentos como busca constante por movimentos corporais, fixação por objetos em
movimento, recusar comer certos alimentos, escolher roupas para vestir ou andar descalço,
dificuldade em iniciar, planejar e realizar sequência das atividades, dificuldade em manter
a atenção em alguma tarefa, entre outras dificuldades, podem ter sua origem em um TPS
(AYRES; TICKLE, 1980; ROLEY et al., 2015).
Por afetar diretamente o desempenho ocupacional da criança com TEA, o terapeuta
ocupacional é o profissional qualificado para utilizar a abordagem de IS, avaliar e intervir sobre
as dificuldades de processamento, integração e interpretação sensorial (COFFITO, 2017).
A avaliação de integração sensorial e feita a partir de testes padronizados e da obser-
vação clínica de como a criança responde aos estímulos sensoriais, o seu padrão postural,
equilíbrio e coordenação motora. O terapeuta ocupacional que conduz o teste, deve avaliar
também o brincar espontâneo, verificando a presença de padrões atípicos de comporta-
mento e perguntar à família a respeito do desempenho ocupacional da criança (COSTA,
2017). A avaliação norteará o Terapeuta Ocupacional no processo de intervenção de
Integração Sensorial com esta criança (SERRANO, 2016).
As atividades e tarefas que desempenhamos em nosso cotidiano nos expõem a ex-
periências sensoriais. Porém, indivíduos que apresentam alterações no processamento
das informações sensoriais tendem a ter dificuldades sociais, motoras, comunicativas e de
aprendizagem, impactando assim em seu desempenho ocupacional (SERRANO, 2016).
Considerando o significativo índice de crianças com esse transtorno que apresentam
características sensoriais atípicas e, sabendo que dificuldades no processamento, integração
e respostas aos estímulos sensoriais têm sido descritas como características do TEA e impac-
tam diretamente o desempenho funcional desta população, este presente estudo propõe-se
aprofundar os conhecimentos acerca da teoria de Integração Sensorial e sua aplicação no
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TEA, bem como investigar os benefícios da IS para o desempenho ocupacional da criança
autista. Dessa forma, objetivo do presente artigo refere-se a levantar estudos que indicam
a relação entre o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) e a Integração Sensorial (IS),
avaliar a eficácia do método de IS na intervenção junto a crianças com TEA e verificar os
benefícios da IS no que tange o desempenho funcional da criança autista.
MÉTODOS
Foi realizada uma Revisão Integrativa (RI) de literatura, que se trata de um método
de pesquisa utilizado na prática baseado em evidência (PBE), com intuito de que a siste-
matização e a publicação dos resultados de uma pesquisa bibliográfica em saúde sejam
úteis para a prática clínica, levando a melhoria da mesma e dando suporte para tomada de
decisões. Seu objetivo principal é gerar maior integração entre a pesquisa científica e prática
profissional (BENEFIELD, 2003). Este presente estudo foi desenvolvido com o objetivo de
reunir e sintetizar estudos realizados, através de diferentes metodologias, com a finalida-
de de contribuir para o aprofundamento do conhecimento referente ao tema em questão
(Soares et al., 2014).
O norteamento do presente estudo deu-se pelas etapas estabelecidas por Joanna
Briggs Institute (JBI, 2011), sendo estas: a formulação da questão; a especificação da
metodologia de seleção dos estudos; os procedimentos utilizados para obter os dados; a
avaliação e a análise dos estudos utilizados na revisão integrativa da literatura; a extração
dos dados e apresentação da revisão/síntese do conhecimento produzido.
A questão escolhida como norteador do estudo é: Qual a relação entre a terapia de
Integração Sensorial e o Transtorno do Espectro Autista, e seus possíveis benefícios no
tratamento de crianças com TEA?
Em relação ao levantamento bibliográfico, as bases de dados consultadas foram Google
acadêmico, Periódicos da Capes e SCIELO.
Definiram-se como critérios de inclusão: artigos publicados nas bases de dados an-
teriormente referidas, no espaço temporal de 2014-2020, apresentados em texto integral,
nos idiomas inglês, português e espanhol, e cujo título e/ou resumo fizessem referência à
questão dos benefícios da IS no tratamento de crianças autistas. Os critérios de exclusão
foram: artigos publicados em outros idiomas, fora do período delimitado, cujos participantes
sejam adultos ou crianças com diagnóstico diferente de TEA, e que apenas citam a IS, sem
especificar como foi usada e/ou seus benefícios no tratamento de crianças com TEA.
Foram utilizadas as palavras-chave: Autismo, Integração Sensorial, Transtorno de
Processamento Sensorial, Terapia Ocupacional e suas correspondentes em inglês e espa-
nhol, combinadas de diferentes formas.
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Todos os artigos selecionados tiveram os seus títulos e resumos lidos. Os que se
encaixaram nos critérios de inclusão foram lidos na íntegra. Foram coletadas informações
tais como: título, ano de publicação, autores, objetivo, metodologia de pesquisa, resultados
e conclusão. Estas informações foram inseridas em tabelas e posteriormente categoriza-
das para análise.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A busca foi realizada no período de novembro de 2020 a janeiro de 2021, com distintas
combinações de palavras-chaves, e foram encontrados 34 artigos. Desses, 8 foram selecio-
nados por conter as palavras-chave no título ou no resumo e foram lidos na íntegra. Ao final,
restaram 7 artigos que contemplaram os critérios de inclusão.
Os artigos encontrados na busca que não foram inclusos na pesquisa, não apresen-
taram a relação entre a terapia de IS e crianças com TEA, apenas citando brevemente os
termos em algum momento do estudo.
A tabela 1 demonstra as especificações a respeito de cada um dos artigos lidos. Esta
seleção de trabalhos proposta pela revisão integrativa apresenta o conhecimento sobre uma
determinada temática na atualidade e objetiva identificar, sintetizar e analisar resultados de
estudos a respeito de um mesmo assunto (BENEFIELD, 2003).
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Tabela 1. Artigos que constituem a amostra da revisão interativa.
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IDENTIFICAÇÃO TÍTULO AUTORES ANO OBJETIVOS METODOLOGIA RESULTADOS
Melhoria nos padrões
de disfunção em
crianças com TEA
mais frequentemente
Apresentar os Pesquisa sobre Integração descritos na literatura
Evidencia científica de fundamentos teóricos e Sensorial (SIRC, Sensory são: modulação e práxis.
Alejandra J.
integración sensorial práticos da Integração Integration Research Os estudos de eficácia
Abelenda; Ekaine
A7 como abordaje de 2020 Sensorial de Ayres Collaborative ) com base da IS não tinham uma
Rodríguez
terapia ocupacional e sua aplicação em uma extensa revisão medida de fidelidade
Armendariz
en autismo no transtorno do da literatura e entrevistas para aderir a um
espectro do autismo. com especialistas. manual de orientação
da intervenção ou uma
medida de resultado
que fosse significativa
para os participantes.
O artigo Pilot Study: Efficacy of Sensory Integration Therapy for Japanese Children with
High-Functioning Autism Spectrum Disorder, proposto por Iwariaga et al. (2014) buscou inves-
tigar a eficácia da terapia de IS em 20 crianças com TEA de alto funcionamento. Os resultados
da pesquisa mostraram que as crianças submetidas a terapia de IS apresentaram evoluções
nas habilidades de coordenação motora, habilidades cognitivas não verbais e habilidades
sensório-motoras, quando comparadas as crianças que receberam a terapia de IS em grupo.
O presente estudo indicou que a terapia de Integração Sensorial foi mais eficaz
para habilidades de coordenação motora, habilidades cognitivas não verbais,
habilidades combinadas motoras, sensoriais e cognitivas em crianças autis-
tas de alto rendimento quando comparadas com o grupo controle. Assim, os
terapeutas ocupacionais podem usar a terapia de integração sensorial como
uma técnica para o tratamento motor, visual-cognitivo e de habilidades viso-
-motoras e pré-escolar de crianças autistas de alto rendimento. (IWARIAGA
et al., 2014, p.10).
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que a terapia de IS é eficaz para crianças com TEA, favorecendo maior independência nas
suas atividades de vida diária.
A pesquisa Investigating the Effects of Sensory Integration Therapy in Decreasing
Stereotypy, de Sniezyk e Zane (2015) apresentou um estudo realizado com 3 crianças diag-
nosticadas com TEA e submetidas a 3 tratamentos distintos, um para cada caso, propostos
por uma terapeuta ocupacional e um fisioterapeuta, com o objetivo de diminuir a estereotipia
nos três participantes. Os resultados mostraram que nenhuma das crianças apresentou uma
relação significativa entre mudanças nos comportamentos estereotipados e a terapia de inte-
gração sensorial. Porém, na discussão, os autores apontam a necessidade de o profissional
conhecer e entender de que maneira o comportamento pode ser influenciado por estímulos
sensoriais, bem como a duração, frequência e intensidade da terapia de integração sensorial
pode influenciar o comportamento de crianças com TEA.
O estudo The effect of Sensory Integration Therapy on Occupational Performace in
Children with Autism, proposto por Kashefimehr et al. (2017), foi realizado com um grupo
de dezesseis (n=16) crianças de 3 a 8 anos com TEA recebendo a terapia de Integração
Sensorial e um grupo controle (n=15) de crianças com a mesma faixa etária e diagnósti-
co, porém sem a intervenção. Na pesquisa foi utilizado o Perfil Ocupacional da Criança
(SCOPE) para comparar os dois grupos no que se refere a mudanças em seu desempenho
ocupacional, e o Perfil Sensorial (PS) foi usado para avaliar disfunções de processamento
sensorial. O grupo de crianças que recebeu intervenções de IS mostrou melhora significativa
nos domínios do SCOPE: Vontade; Habituação; Comunicação e Habilidades de Interação;
Habilidades de Processamento; Habilidades Motoras; bem como em todos os domínios do
PS, excetos os domínios de “reações emocionais” e “respostas emocionais e sociais”.
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Uma prática baseada em evidências, ou seja, a integração da prática profissional com
o que pesquisas cientificas apontam sobre determinado tipo de intervenção e/ou aborda-
gem clínica, pode trazer resultados e evoluções mais eficazes e benéficas para o paciente
(BENEFIELD, 2003).
A pesquisa intitulada Terapia de Integração Sensorial e o Transtorno do Espectro
Autista: uma revisão sistemática de lituratura, proposta por Cardoso e Blanco (2019), buscou
aprofundar os conhecimentos sobre a teoria da Integração Sensorial de Ayres e sua apli-
cação no TEA, bem como a aplicabilidade da IS no processo de inclusão escolar do aluno
autista. Concluiu-se a eficácia da terapia de IS para mudanças em algumas características
do TEA, em especial melhorias no processamento sensorial, engajamento e participação
nas atividades cotidiana, incluindo aquelas realizadas no contexto escolar.
CONCLUSÃO
A partir desta Revisão Integrativa de literatura, foi possível notar que um número sig-
nificativo de pesquisas que utilizaram a Terapia de Integração Sensorial como abordagem
de intervenção terapêutica no tratamento de crianças com TEA relatou melhorias em algu-
mas características e dificuldades desses indivíduos, principalmente as relacionadas com
processamento sensorial, habilidades sensório-motoras, engajamento e participação nas
atividades de vida diária.
Disfunções sensoriais em crianças com TEA, impactam diretamente o seu desempenho
ocupacional, fazendo com que sejam mais dependentes de seus responsáveis para realizar
as atividades do cotidiano. Sendo assim, é de grande relevância identificar que a terapia
de IS é eficaz para o tratamento de crianças com TEA, favorecendo maior independência
nas suas atividades de vida diária.
Considerando que grande percentual de crianças diagnosticadas com TEA apresen-
tam características sensoriais atípicas, com alterações em mais de um sistema sensorial,
bem como a eficácia e possíveis benefícios da terapia de integração sensorial com esses
indivíduos, faz-se necessário ampliar os estudos sobre tal temática, para que profissionais
possam ser norteados em práticas baseadas em evidências cientificas.
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