Você está na página 1de 10

UNIVERSIDADE VIRTUAL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Adriana Aparecida de Faria - RA: 1802043


Mariana Alves Pires da S. Basílio - RA: 1801929
Thaís Cristina Souza Oliveira - RA: 1812029
Thalita Maria Rodrigues - RA: 1811273

Como a Música pode contribuir no desenvolvimento de


crianças com Transtorno do Espectro do Autismo?

Santa Branca - SP
2021
UNIVERSIDADE VIRTUAL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Música na Educação Especial

Trabalho de Conclusão de Curso para o curso de Li-


cenciatura em Pedagogia da Fundação Universidade
Virtual do Estado de São Paulo (UNIVESP), sob a
orientação da Tutora Roberta Marcatti de Azevedo.

Santa Branca - SP
2021
3

1. INTRODUÇÃO
Esse trabalho visa trazer em estudo um tema muito importante para o sistema de en-
sino com crianças de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Sabemos que esse transtorno
afeta três partes importantes da vida do ser humano: interação, comunicação e comporta-
mento. Há vários autores que trabalham esse assunto e cada um deles apresentam a causa de
uma forma diferente, falaremos mais detalhadamente deles mais adiante. No entanto não
existe cura para esse transtorno, mas uma intervenção por especialistas no assunto sempre
causa uma resposta positiva. Temos exemplo destes trabalhos na cidade onde moramos, atra-
vés de um lugar que atende crianças com TEA, e conversando com a responsável pelo traba-
lho realizado ela nos contou que cada autista responde a um método aplicado. O que funciona
para o X não necessariamente funciona para o Y. É realizado um trabalho individual, de vá-
rias formas e métodos, até que um tenha a resposta esperada. O que nos traz em pauta também
é que existem vários tipos de transtornos, o que consequentemente requer metodologias dife-
rentes.
O objetivo aqui é trabalhar a Música como ferramenta neste processo de desenvolvi-
mento para os TEA, estamos cientes que não será para todos, mas também temos ciência de
que será de grande proveito para outros.
Todos nós sabemos como o ser humano responde bem a músicas, cada qual com seus
gostos e preferências. De acordo com (TREHUB, 2005; ILARI, 2006), os bebês humanos
apresentam diversas habilidades musicais desde as primeiras semanas de vida, incluindo uma
refinada percepção de alturas e padrões rítmicos, localização da fonte sonora, preferência por
consonância à dissonância, correspondência entre som e movimento, dentre outros. Algumas
pessoas dizem que os autistas não gostam de barulhos e ruídos, no entanto estudos mostram
que em alguns casos pode - se obter um grande sucesso ao utilizar o som como ferramenta.
Segundo (TREHUB, 2005; PASCUAL-LEONE, 2009), vale ressaltar que apesar de
aparentemente haver um substrato neural inato para alguns processamentos de informações
musicais, a própria prática musical modifica o cérebro em termos anatômicos e fisiológicos.
Existem vários estudos que mostram que esse método é muito eficaz, e estamos estu-
dando todos eles para apresentar como a música pode contribuir no desenvolvimento de crian-
ças com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
4

2. O Transtorno do Espectro Autista e a Musicalização


O Transtorno do Espectro Autista, como é chamado hoje, nem sempre teve esse nome,
no início desses estudos em 1943 era chamado de dano cerebral, problema psicológico, esqui-
zonofrenia, distúrbio do contato afetivo, Síndrome de Kanner, Síndrome de Asperger, e ou-
tros ainda. Até que o DSM o classificou como Transtorno do Espectro Autista, assim cha-
mado, porque cada pessoa afetada apresenta uma ampla variedade de sinais e sintomas,
com diferentes níveis de gravidade. Entretanto, em todos os casos, há dois impactos presentes,
que formam a chamada díade do autismo: comunicação social e comportamento repetitivo ou
restritivo.
De acordo com Kanner (1971) e Stone (1999) a palavra “autismo” foi descrita na li-
teratura médica por Eugen Bleuler (1857-1939) em 1911 para caracterizar pessoas que possu-
íam grande dificuldade para interagir com as demais e com muita tendência ao isolamento.
Bleuler falava de autismo como um distúrbio no qual a pessoa se desliga parcial ou absoluta-
mente com a realidade e a vida exterior, se assemelhando com quadros de esquizofre-
nia da época.
Foi na década de 40, que Léo Kanner, médico psiquiatra deu início a um dos primei-
ros estudos sobre o autismo. Ele avaliou onze crianças com sintomas e características seme-
lhantes.
Elas eram incapazes de demonstrar vínculos afetivos e de se adaptarem a mudanças
no ambiente, com consequente modificações na rotina diária e descreveu pela primeira vez so-
bre os casos. Os sinais por ele avaliados foram caracterizados como autismo extremo, obsessi-
vidade, estereótipas e ecolalia. Esse conjunto de sinais foram visualiza-
dos por ele como uma doença relacionada a linha esquizofrênica.
A patologia foi descrita inicialmente como “distúrbios autísticos do contato afe-
tivo”
Em 1956, kenner continua classificando o autismo como uma psi-
cose, não sendo, portanto, diagnosticado através de exames laboratoriais (KANNER 1942;
1956).
Em 1976 Ritvo, relaciona o autismo a um déficit cognitivo, considerando-
o não uma psicose e sim um distúrbio do desenvolvimento.
Já na década de 60 um importante estudo realizado pela Medical Research Council’s
Developmental Psychology Unit mostrou o autismo em graus de independência relacio-
5

nado a níveis intelectuais de funcionamento que podem estar diminuídos em ativida-


des que necessitam da atenção e compreensão, onde eles parecem processar as informações de
maneira diferente dos indivíduos sem autismo. Sendo assim, o grau de dificuldade de aprendi-
zagem do autista o qualifica para ser capaz de realizar distinções conceptuais e executar as de-
vidas tarefas (BARON-COHEN, 1990).
De acordo com os dados epidemiológicos surgem a cada 10.000 crianças de 1 a 5 ca-
sos de autismo, numa proporção de 2 a 3 homens para 1 mulher. Observando uma predomi-
nância no sexo masculino, subentende-se que essa patologia poderia estar vinculada ao cromos-
somo X, justificando essa diversidade. A faixa etária de mais fácil diagnós-
tico fica em torno dos 3 anos de idade, podendo também ser descoberta a partir dos 18 meses
do nascimento (VOLKMAR et al., 1996; FRITH, 1989).
O DSM (Diagnostic and Statiscal Manual of Mental Disorders – Manual Diagnós-
tico e estatístico de transtornos mentais) é um manual para profissionais da área da saúde men-
tal que lista diferentes categorias de transtornos mentais e critérios para diagnosticá-los.
Esse transtorno varia de indivíduo para indivíduo, tendo 3 característas em co-
mum; interação, comunicação e comportamento.

O autismo compreende uma observação de um conjunto de comportamen-


tos agrupados em uma tríade principal: comprometimentos na comunica-
ção, dificuldades na interação social e atividades restrito – repetitivas. (CU-
NHA, 2009, p. 20).

No entanto, como a autora autobiografica do livro O cérebro autista escre-


veu: “...Quero alertar pais, professores e terapeutas para que evitem se prender a rótulos (do
DSM). Eles não são precisos...” Ela quis dizer que o transtorno autistico não pode ser diagnos-
ticado e etiquetado como uma inflamação de garganta, que se sabe a origem, causas e efeitos, e
para todas as pessoas o tratamento é igual. No caso do transtorno, cada pessoa deve ser enten-
dida e compreendida para que o tratamento tenha um resultado positivo.
A genética do autismo é um imbróglio (Mal entendido) excessivamente complicado.
Ela envolve diversas pequenas variações no código genético que controlam o desenvolvi-
mento cerebral. A variação genética encontrada numa criança autista estará ausente em ou-
tra criança autista.
Não existe cura para esse transtorno, mas uma intervenção por especialistas no as-
6

sunto sempre causa uma resposta positiva. Temos exemplo destes trabalhos na ci-
dade onde moramos, através de um lugar que atende crianças com TEA, e conversando com
a responsável pelo trabalho realizado ela nos contou que cada autista responde a um mé-
todo aplicado. O que funciona para o X não necessariamente funciona para o Y. É feito um tra-
balho individual, de várias formas e métodos, até que um tenha a resposta esperada. O
que nos traz em pauta também é que existem vários tipos de transtornos, o que consequente-
mente requer metodologias diferentes.

2.1 Como a música pode ajudar no tratamento de pessoas dentro do espec-


tro autista

A música é a arte de manifestar os diversos afetos de nossa alma mediante a combi-


nação de sons que conservam entre si relações lógicas e ordenadas. Em outras palavras, a mú-
sica evoca sentimentos e traduz impressões, através da melodia, harmo-
nia e do ritmo. Ela é muito mais que partituras, instrumentos e ruídos. É uma força vibracio-
nal que toca o ser humano, em seu íntimo exercendo ações tanto boas quanto más, ou seja,
as ondas musicais, presentes em qualquer música se for bem utilizada pode ter diversas vanta-
gens.
Temos um exemplo na nossa cidade de uma moça que é surda no es-
tado mais grave e toca flauta, já fez diversas apresentações em várias cidades, por
ser muito capaz e amar aquilo que faz. Ela diz que como não ouve, aprendeu a música atra-
vés das vibrações. É um caso extremamente espetacular, pois muitas pessoas que enxer-
gam e ouvem bem, muitas vezes não conseguem aprender. Por este exemplo podemos perceber
que música é muito mais que partituras, além do que os olhos podem ver e os ouvidos ouvir.
São sensações, vibrações e emoções.
Segundo Campadello (1995, p.149) de todos os estímulos presentes, a música conse-
gue ser o mais puro. Se por um lado pode despertar os mais nobres sentimentos, como modifi-
car seu humor, vencer a ansiedade, dominar a depressão, por outro lado favo-
rece a perda do contato com a realidade, fazendo com que seus problemas simplesmente es-
corram pelos dedos.
Através da música pode-se motivar, entristecer, irritar. A possibilidade de utiliza-
ção da música como tratamento para autistas é citada na literatura desde o início da histó-
ria da Musicoterapia (Reschke-Hernandez, 2011).
De uma maneira geral, a Musicoterapia é definida como a utilização dos sons
7

e seus elementos para facilitar e promover ganhos terapêuticos.


Acreditamos que a música pode muito em seus efeitos e por isso essa pes-
quisa tem o objetivo de usar a musicalização como ferramenta para o desenvolvimento de cri-
anças com o transtorno do espectro autista. Acreditamos que se for bem usado a mú-
sica pode trazer efeitos positivos naqueles que se adaptarem a esse método.
Algumas pessoas dizem que o autista vive em um mundinho apenas dele, no en-
tanto a música faz com que a interação social seja de forma mais abrangente. A musicaliza-
ção faz com que a parte intelectual, da fala, corporal e motora, seja melhor desenvolvida, cri-
ando assim meios para que o autista consiga sair de seu “casulo”, se mostrando para
o mundo.
A música consegue criar conexões entre as pessoas, mesmo antes de nas-
cer, o bêbê consegue sentir os batimentos cardiacos de sua mãe e distinguir um dos elementos
principais da música que é o ritmo.
Ao nascer o bebe reage de diversas formas ao ouvir os barulhos do ambiente em que
está inserido, seja se virando em direção ao barulho ou se acalmando com uma música de ni-
nar.
JOURDAIN 1994, p. 91, diz que o cérebro da criança de seis meses já capta o sis-
tema de notas existentes em uma melodia.
Muitos autores relacionam a música e a inteligência, Smole considera que na mú-
sica existem habilidades importantes para o desenvolvimento de noções matemáti-
cas, ela afirma que atividades como cantigas onde se utilizam objetos que produzem sons, o
bater das palmas, as parlendas numéricas, ajudam na percepção espacial, nas noções de nú-
mero, de tempo, na capacidade de interpretação e compreensão. (Smole p. 200 p. 146).
A música tem uma forte influência na identidade, expressividade e autoes-
tima das pessoas. Ela consegue produzir emoções de acordo com seus ritmos, melodias, le-
tras e acordes, podendo intervir em uma mente barulhenta, acalmando o indivíduo, ou depen-
dendo de sua construção sonora agitar e empolgar as pessoas.
Muitas são as interferências que a música pode causar, e a que a nós queremos desta-
car com este presente trabalho são os impactos no desenvolvimento educacional, na aprendi-
zagem significativa de alunos com necessidades especiais, mais especificamente dentro do es-
pectro autista.
KAERSHER e CRAIDY, 2001, P.129. Concluem que a mú-
sica não deve ser uma área do conhecimento negligenciada na formação das crianças.
8

O objetivo de trabalhar a musicalização como terapia com as crianças autis-


tas tem o objetivo do desenvolvimento de talentos e habilidades com a intervenção da mú-
sica pois estimula o sistema neurofisiológico que trabalha melhor o sensorial do que o motor
e cognitivo, a música pode beneficiá-los ao:

 Envolvê-los na estrutura temporal da música, deixando-os livres para participarem, explo-


rarem e improvisarem;
 Dar oportunidade para a criatividade, se expressarem, interagirem, comunicar-se, individu-
ais ou em pares, sem instruções e discursos;
 Disponibilizar alternativas de expressão e comunicação de modo socialmente adequado;
 Apresentar oportunidades para que as pessoas com autismo possam assumir responsabilida-
des com os demais indivíduos, por exemplo, quando os mesmos estão produzindo mú-
sica juntos;
 Promover a comunicação verbal e não-verbal entre os pares;
 possibilitar a aprendizagem de regras sociais.

3. Considerações Parciais

As escolas precisam fazer adaptações tanto no currículo quanto na infraestru-


tura e nos métodos pedagógicos para melhor atender as necessidades especiais de seus alu-
nos.
Buscando estrátegias que possibilitem maiores interações e estímulos, respei-
tando as necessidades de cada um.

As pesquisas cognitivas mostram que, ainda que os sujeitos te-


nham capacidades ou inteligencias para aprender, é necessário que o ambi-
ente brinde oportunidadesao desenvolvimento de tais capacidades e inteligen-
cias, chamando da atenção principalmente a relação pedagógica entre aluno e
professor (PORTILHO, 2009, p. 17).

A LDB Nº 9394 / 96, diz no artigo 59, capitulo V, que “ os sistemas de ensino asse-
gurarão aos educandos com necessidades especiais: I – currículo, métodos, técnicas, recur-
sos educativos e organização especifica para atender as suas necessidades; II – terminali-
dade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do en-
sino fundamental em virtudes de suas deficiências e aceleração para concluir em menor tempo
9

o programa escolar para superdotados; III – professores com especialização adequada em ní-
vel médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regu-
lar capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns.” (LDB Nº 9394 / 96.
Capitulo V, Art. 59, I, II e III).
Precisamos lutar para garantir uma educação de qualidade para todos, o que com-
pete a nós, buscar meios para minimizar as dificuldades, criar pontes para obter bons relacio-
namentos entre alunos, professores e toda comunidade escolar, para atingirmos o objetivo es-
perado formar bons cidadãos críticos e participativos na sociedade que valorizam e respei-
tam as diferenças, buscando sempre construir um mundo melhor.
Como apresentado neste artigo a música pode ser uma grande aliada na constru-
ção de uma educação mais inclusiva.
Ela estimula a concentração, o raciocínio lógico, a memorização. Cunha res-
salta a importancia das escolas disponibilizarem uma sala de recursos para atender as indivi-
dualidades dos alunos com necessidades especiais, a sala deve ser organizada e com recur-
sos disponíveis que interessem o aluno, para isso o educador deve observar o aluno para pos-
teriormente utilizar os melhores recursos e meios.
10

4. Referências

PEREIRA, NUNES IVAN. Vale ressaltar que apesar de aparentemente haver um subs-
trato neural inato para alguns processamentos de informações musicais, a própria prá-
tica musical modifica o cérebro em termos anatômicos e fisiológicos. São Bernardo do
Campo - 2014, 110 p. Dissertação apresentada ao programa de Pós Graduação do Mes-
trado em Educação da Universidade Metodista de São Paulo.

VOLKMAN, Fred R.; WIESNER, Lisa A. Autismo. Porto Alegre: Artmed, 2019. Biblio-
teca virtual. Acesso em 15 de julho de 2019.

SANTOS, Regina Kelly dos; VIEIRA, Antônia Maria Emelly Cabral da Silva. Transtorno do
Espectro do Autismo (TEA). Do reconhecimento à inclusão no âmbito educacional. s.n.t.

SCHAMBECK, R. F. Formação de professores de Música para o contexto inclusivo: pers-


pectivas de graduandos na preparação para atuar com alunos com deficiência. In:
XXV Congresso da ANPPOM, 2015, Vitória. Anais... Vitoria: ES, 17 a 21 de agosto de 2015.
ISSN 1983-5973

UNESCO. Declaração de Salamanca e Enquadramento da Acção: na área das necessida-


des educativas especiais. UNESCO, Salamanca/Espanha, 1994. Disponível em:. Acesso em:
17 jul. 2014.

BRASIL, Estatuto da Pessoa com Deficiência. Lei Brasileira de Inclusão, nº 13.146, de 6


de julho de 2015. Senado Federal.

ASSUMPÇÃO JR, Francisco B.; PIMENTEL, Ana Cristina M. Autismo infantil. Brazilian
Journal of Psychiatry, v. 22, p. 37-39, 2000.

SIMAS, Patrícia Cremonez. A música como instrumento psicopedagógico na educação in-


clusica. 2010. 47 p. Monografia (Pós Graduação) - Universidade Candido Mendes, [S. l.],
2010. Disponível em: http://www.avm.edu.br/docpdf/monografias_publica-
das/c204993.pdf. Acesso em: 27 nov. 2021.

BENNETT, R. Uma Breve História da Música. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor LTDA.,
1986

MED, B. Teoria da Música. 4. ed. Brasília, DF: Bohumil Med, 1996.

CUNHA, Eugênio. Autismo e Inclusão. Rio de Janeiro: WAK, 2009.

LDB Nº 9394 / 96 – Lei de Diretrizes e Bases Para a Educação Nacional (Capitulo V)

Você também pode gostar