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UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS

NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA LICENCIATURA MÚSICA

Ester Novaes dos Santos

Iris de Oliveira Raposo

Robson Nilson Vicente 

Sara Pieper

O PODER DA MUSICOTERAPIA NO
DESENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS COM
TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

RESUMO

A musicoterapia é um recurso que tem sido amplamente utilizado para a


melhora da qualidade de aprendizagem de pessoas com Transtorno do Espectro
Autista. Partindo dessas informações, o presente estudo tem como objetivo
conhecer sobre o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) e suas particularidades,
bem como definir e entender o que é musicoterapia e como se dá o seu uso em
crianças com TEA, compreendendo-se assim, sobre os seus efeitos nos indivíduos,
e como ela contribui para o desenvolvimento cognitivo e psicossocial de crianças
com TEA, reforçando desta maneira, sua importância na educação inclusiva. Como
resultados se tem a musicoterapia como forma de promover a educação inclusiva e
de qualidade com o desenvolvimento psicoemocional das crianças com TEA.

PALAVRAS-CHAVE: Educação inclusiva. Desenvolvimento.


Musicoterapia. Particularidades.
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1 INTRODUÇÃO

A criança, desde cedo, começa a cantar antes de falar, começa a dançar e se


mexer antes de falar, é assim com o uso da música que a aprendizagem começa.
Entretanto podemos perceber no âmbito escolar, um crescente número de casos de
crianças diagnosticadas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), cujas
funções cognitivas são alteradas apresentando dificuldades na compreensão da
linguagem falada e na utilização dos gestos, na percepção das contingências dos
seus comportamentos e dos comportamentos dos outros, déficits de abstração,
sequencialização, compreensão de regras, dificuldades de processar e elaborar
sequências temporais e dificuldades na compreensão de estímulos multissensoriais
(GARCIA e RODRÍGUEZ, 1997). Neste sentido, torna-se extremamente relevante o
estudo em questão. 
O termo autismo vem do grego “autos” que significa “de si mesmo”. O
transtorno do Espectro do Autismo (TEA), é um distúrbio do neurodesenvolvimento
que incide diretamente no comportamento e comunicação social da criança desde o
início de sua vida. Entender as limitações desse público, é o primeiro passo para a
utilização da música como processo de educação e desenvolvimento psicomotor,
cognitivo e emocional.
Diferentemente da educação musical, a musicoterapia tem como conceito “a
aplicação científica das possibilidades da música para contribuir ou favorecer os
processos de recuperação psicofísica das pessoas” (GAINZA. 1998, p. 83). Desta
forma, o foco da música como terapia, é a saúde, o desenvolvimento ou reabilitação
de habilidades cognitivas, visando proporcionar qualidade de vida ao indivíduo.
Levitin (2010, p. 18) vai dizer que o cérebro e a música evoluíram
paralelamente e que “a música pode nos ensinar sobre o cérebro, o cérebro pode nos
ensinar sobre a música, e ambos podem nos ensinar a nosso respeito”. Nessa
perspectiva, entende-se a importante relação entre as funções cerebrais e a música,
no desenvolvimento cognitivo e psicossocial.
Desta forma, demonstraremos no decorrer deste trabalho, sobre como a
musicoterapia pode ser utilizada para contribuir no desenvolvimento cognitivo e
psicossocial de crianças com TEA, uma vez que a música tem capacidade de atingir
áreas corticais específicas do cérebro, trazendo benefícios na comunicação e
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consequentemente na qualidade de vida. Isso porque envolve atividades diárias,


controle, audição e ritualismos que agregam na comunicação das crianças com TEA.
Assim, o presente trabalho pretende, a partir de estudos e levantamentos
bibliográficos, conhecer sobre o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) e suas
particularidades, bem como definir e entender o que é musicoterapia e como se dá o
seu uso em crianças com TEA, compreendendo-se assim, sobre os seus efeitos nos
indivíduos, e como ela contribui para o desenvolvimento cognitivo e psicossocial de
crianças com TEA, reforçando desta maneira, sua importância na educação inclusiva.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 - Transtorno do Espectro Autista (TEA)

2.1.1 - Considerações Históricas

 O termo autismo vem do grego “autos” que significa “de si mesmo”. O


transtorno do Espectro do Autismo (TEA), é um distúrbio do neurodesenvolvimento
que incide diretamente no comportamento e comunicação social da criança desde o
início de sua vida. O termo começou a ser difundido em 1911 por Paul Eugen Bleuler,
médico psiquiatra, conhecido também por nomear a esquizofrenia. Bleuler, define o
termo como: “desligamento da realidade combinado com a predominância relativa ou
absoluta da vida interior” (BLEULER, 2005 apud DURVAL, 2011). A priori, o autismo
era referido como um transtorno básico da esquizofrenia, e era descrito não como
uma patologia isolada, e sim, como parte de transtornos mentais geralmente
associados à esquizofrenia e histeria.
Durante décadas, o diagnóstico do autismo esteve sob o amplo rótulo de
esquizofrenia, e as crianças eram tidas como indivíduos com deficiência intelectual
severa, esquizofrênicas ou até mesmo como deficientes auditivos, uma vez que eles
não correspondiam ao chamado dos seus pais. Somente em 1943, é apresentada a
primeira descrição dessa síndrome pelo psiquiatra Leo Kanner, que para tal, baseou-
se em 11 casos clínicos de crianças que ele acompanhava e que possuíam
características em comum: resistência a mudanças, apego a rotinas, dificuldade na
manutenção de um relacionamento afetivo com as pessoas, lentificação das diversas
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funções cognitivas e maneirismos motores, denominando-a como autismo infantil


precoce (LOURO, 2021).
Segundo Louro (2021), Kanner percebeu que poucas dessas crianças
falavam, e as que utilizavam a linguagem verbal, a utilizavam de forma mecânica e
não como um meio de comunicação, ou seja, elas tinham a capacidade de falar e
guardar nomes complexos, entretanto sem função social. Apontou ainda, a
dificuldade que as crianças possuíam em relação a utilização dos pronomes, uma vez
que estas falavam de si mesmas, conforme estavam acostumadas a ouvir, ou seja,
em terceira pessoa. Descreveu ainda, que as crianças entendiam as palavras em seu
sentido literal, ressaltando a dificuldade em compreender as coisas de forma
simbólica.
De acordo com Gattino, anteriormente, acreditava-se que o autismo estava
intimamente ligado à relação afetiva das mães, no entanto, duas décadas depois,
estudos indicavam a associação do autismo com fatores genética.
Na década de 1960, acreditava-se que o autismo se relacionava fortemente a
uma desordem ambiental, e essa desordem seria uma consequência da falta
de afeto da mãe da criança (mãe geladeira). No entanto, a partir de 1980,
estudos genéticos sobre concordância de Autismo em gêmeos indicaram a
associação do Autismo com fatores genéticos. Outros estudos mostraram
risco de recorrência de Autismo aumentado de 3% a 8% em famílias com
uma criança autista. Além disso, verificou-se a associação do Autismo a
causas cromossômicas e a síndromes gênicas (GATTINO, 2015, p.167).

 Estudos posteriores revelaram que o autismo é uma desordem


comportamental complexa, com diferentes níveis de gravidade, que podem variar
desde indivíduos não verbais com deficiência intelectual grave, até sujeitos com QI
acima da média (GATTINO, 2015).
 
2.1.2 - Definição do TEA e Suas Particularidades
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é definido por comprometimentos
que, de modo geral, aparecem precocemente no desenvolvimento sociocomunicativo,
assim como pela presença de alguns comportamentos que podem ser repetitivos e
estereotipados. Configuram-se como um conjunto de transtornos, cujas
características implicam dificuldades nos processos interativos, desejo persistente de
valorização dos objetos, alterações no humor, hiperatividade ou hipoatividade, dentre
outras (CAMARGO JÚNIOR, W. et al, 2013).
É difícil delimitar a padronização dos critérios diagnósticos para o autismo,
uma vez que há uma grande variação comportamental dos indivíduos no que se
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refere aos níveis de habilidade social e comunicativa (GATTINO, 2015).  Como já


comentado, ele é caracterizado por desordens comportamentais que podem variar
quanto ao seu nível de gravidade, no que tange a comunicação, interação social e
estereotipias, que são classificados através do Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais 5ª edição (DSM-V) da seguinte forma: Nível 1 (leve) – déficits na
comunicação social, dificuldade para iniciar interações sociais e exemplos claros de
respostas atípicas ou sem sucesso a abertura sociais do outro; nível 2 (moderado) –
déficits graves nas habilidades de comunicação social verbal e não verbal, prejuízos
sociais aparentes mesmo na presença de apoio, limitação em dar início a interações
sociais e resposta reduzida ou anormal a abertura sociais que partem de outros; e
nível 3 (grave) – déficits graves nas habilidades de comunicação social verbal e não
verbal causam prejuízos graves de funcionamento, grande limitação em dar início a
interações sociais e resposta mínima a abertura sociais que partam dos outros
(LOURO, 2021)
Desde os primeiros meses de vida, a criança com autismo pode manifestar
comportamentos que apontem para o transtorno, Gattino (2015) vai dizer:
“Ainda nos primeiros meses de vida, a criança com autismo não mantém
contato visual efetivo e não olha para a pessoa que chama por ela. Além
disso, já a partir dos 12 meses, a criança com Autismo também tem
dificuldade para apontar para objetos e pessoas. É comum ainda, no primeiro
ano de vida, a criança ter mais interesse por objetos do que por pessoas,
bem como apresentar dificuldades para demonstrar reações afetivas como
sorrir e abraçar (GATTINO, 2015, p. 181).
 

Além dos sintomas supramencionados, podemos relacionar outras


particularidades do TEA, dentre as quais: “Problemas relacionados ao sono,
ansiedade, hiperatividade, falta de noção do perigo, hiper ou hiposensibilidade
sensorial, problemas gastrointestinais, medo excessivo a determinadas situações e
automutilação” (FIGUEIREDO, 2014 apud LOURO, 2021).
Muitas são as alterações neurológicas comuns presentes nos autistas, que se
relacionam diretamente aos efeitos neurofisiológicos presentes nesses indivíduos,
dentre as quais destacaremos a seguir, a hipersensibilidade auditiva presente em boa
parte dos indivíduos com TEA.
2.1.3 - Processamento Auditivo-Musical no TEA
 Diferentemente dos indivíduos com desenvolvimento típico, os autistas
possuem uma capacidade auditiva menos complexa, ou seja, essa capacidade
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auditiva ocorre de forma mais lenta que o normal. Da mesma forma, esses indivíduos,
possuem uma capacidade auditiva focal, ou seja, em uma canção, o indivíduo autista
possui uma maior capacidade de detectar as notas que compõe um acorde em
comparação a um indivíduo com desenvolvimento típico. Isso explica os casos de
grandes gênios musicais autistas, que apresentam uma super habilidade para tocar e
compreender estruturas complexas das músicas (GATTINO, 2015).
Devido à redução dos níveis de atividades no complexo temporal secundário
e terciário – áreas relacionadas às regiões auditivas do giro temporal superior, onde
são processados os sons da linguagem verbal, e, a ocorrência do processamento da
fala no córtex auditivo primário, os autistas apresentam grande dificuldade na
compreensão da linguagem verbal. Isso explica o motivo pelo qual a linguagem verbal
não atrai a atenção da criança com TEA da mesma forma que atrai a criança com
desenvolvimento típico. Assim, a compreensão acústica da fala não é entendida de
igual forma, ficando em evidência os motivos pelos quais as crianças autistas evitam
o contato através da linguagem verbal, elas assim o fazem, não porque não querem
se comunicar, e sim porque não a entendem (GATTINO, 2015).
Em contrapartida, a música é processada principalmente no córtex auditivo
primário, onde o autista não possui deficiência, tornando-se um meio de comunicação
mais efetivo e interessante para eles, do que a linguagem verbal. Ou seja, a música
se torna uma forte aliada para o desenvolvimento de crianças com TEA. Desta forma,
tais fatores evidenciam a possibilidade de utilização da música com finalidade
terapêutica, visando promover o desenvolvimento cognitivo, psicomotor e emocional
dos indivíduos, proporcionando assim maior qualidade de vida aos mesmos.
 
2.2 - Musicoterapia
 
A musicoterapia é uma forma de tratamento da pessoa com TEA, sendo
assim, pode entender-se como uma técnica de terapia que está atrelada a música,
seu objetivo é ressaltar, por intermédio da aplicação de métodos e técnicas, outras
capacidades, incluindo a cognição (PAREDES, 2012).
É válido trazer à baila, que no ano de 2005, houve um estudo com 40
indivíduos autistas com a técnica de musicoterapia e como resposta obtiveram a
relação à linguagem e comunicação, bem como na cognição, motricidade e no
comportamento. Segundo Grandin e Panek (2015), o referido estudo começou a ser
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explorada recentemente, sendo assim, pode-se dizer que o tratamento anteriormente


era chamado de Treinamento para Mapeamento Auditivo-Motor – AMMT, que tinha
como foco estimular a produção da fala, assim como inserir o paciente em uma
experiência em relação a fala em tons diferentes, à época era usado tambores com
som afinado.
Por conseguinte, é possível descrever essa influência da musicoterapia em
quatro formas, são eles: estimulação do desenvolvimento comunicativo e social;
minimização dos comportamentos que prejudicam o acesso do paciente às novas
experiências do dia-a-dia; auxílio à família; e aprimoramento na capacidade de
solucionar problemas e do aprendizado (BOSA, 2006).
Nesse sentido, é perceptível que a música auxilia profundamente nos
domínios cognitivos, emocionais, sociais, espirituais e terapêuticos, influenciando no
consciente e inconsciente. Isso se dá em virtude dos elementos musicais como a
harmonia, que está ligado com a intelectualidade; a melodia, que envolve a afeição; e
o ritmo que desenvolve os aspectos motores. Posto isso, é possível constatar que a
música traz as primeiras noções de pertencimento a um grupo cultural, assim como
uma noção de existência no meio social (FERNANDES, 2012).
Considerando todo o conceito do TEA e o quadro clínico, ou seja, entre eles a
dificuldade de comunicação, integração social e incapacidade de realizar jogos
simbólicos, é notável um padrão de comportamento restritivo e repetitivo (PADILHA,
2008). Desse modo é que ocorre a limitação na integração social em um contexto
geral (REIS et al., 2016). Diante do exposto é que surge a musicoterapia como um
papel fundamental no tratamento e na melhoria na qualidade de crianças autistas.
Portanto, “a música é uma linguagem que acessa partes distintas do nosso
cérebro, estimulando sinapses que beneficiam a interação humana, o processamento
da fala e a comunicação de maneira geral” (AIRES FILHO, 2019, s.p.). Por meio da
neurociência, diversos estudos tem demonstrado que os sons agem de forma direta e
implícita nas emoções, pois ocorre respostas fisiológicas positivas ou negativas
baseado em estímulos sonoros externos (SAMPAIO et al., 2015).
            De mais a mais, os indivíduos acometidos pelo TEA têm algumas
diferenças na massa total do cérebro, uma vez que apresentam diferença de
integração e simetria na conexão das regiões auditivas, motora e na fala. Desta
forma, a música para eles é mais efetiva do que o processamento da fala
propriamente dita. Isso posto, é totalmente justificável que a musicoterapia seja uma
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das melhores formas para desenvolver a linguagem e o controle das emoções deles
(LAI et al., 2012) (FABRICIUS, 2012).
            Salienta-se que a música junto a neuroplasticidade aumenta a
conexão entre os lobos frontal e temporal em ambos os hemisférios, desta forma,
ativa as áreas da emoção (WAN; SCHLAUG, 2010). Nesse sentido, os pacientes que
passaram pelo tratamento da musicaterapia obtiveram excelentes resultados, tais
como demonstrações não verbais de bem-estar e afeto, por exemplo o sorriso social,
retribuição de gestos provenientes de outrem, beijo, abraço, prazer e satisfação com
as sessões (FLEURY; SANTOS, 2016).
Para melhor compreensão da musicoterapia como técnica de tratamento para
pessoas com TEA, é essencial entender que ela é diferente da musicalização, uma
vez que essa última está inteiramente voltada a mostrar em forma de conhecimento
músicas, que muitas vezes passa despercebida pelos seres humanos no dia-a-dia.
Logo, percebe-se que o objetivo da musicalização é totalmente diferente da
musicoterapia.
Sendo assim, a musicalização é um processo que desenvolve a percepção
do sujeito para que ele seja sensível à música, notando que o material sonoro é
importante. Partindo disso, a musicalização é posta como aprendizado da arte, o local
que a música ocupa e seu significado (VIGOTSKI, 2001) (FARACO, 2009). Enquanto
a musicoterapia não é focada em ensinar sobre a arte, o significado da música, ou
algo somente cultural, está inteiramente focado no desenvolvimento cognitivo da
pessoa com TEA, até porque se trata de um tratamento e técnica que surte diversos
efeitos como já mencionados anteriormente.
É de suma importância compreender que no âmbito educacional, a
musicoterapia surte mudanças comportamentais nas crianças com TEA, isso porque
elas acabam tendo uma melhor adaptação à vida escolar (ARAÚJO et al., 2018).
Para mais, não é de hoje que a música é um dos métodos mais utilizados no
aprendizado na educação infantil, uma vez que os sons agregam na interação e
comunicação entre os educandos, sendo assim, melhora o desempenho escolar
(BARBOSA; BORBA, 2010).
É bem verdade que a música tem grande influência na vida dos adultos e isso
não é diferente na vida da criança, que dirá na vida da criança com TEA. Nesse
sentido, a música na educação infantil desencadeia um excelente desenvolvimento
da aprendizagem do cognitivo. Nas escolas de educação infantil é comum as cantigas
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de roda, elas são usadas como instrumento de aprendizagem, uma vez que
possibilitam articular diversas linguagens, tais como: oral, gestual, corporal e musical
(MARTINS, 2012).
À vista disso, cabe destacar, segundo Monteiro e Fermoseli (2014), que as
crianças com TEA que tiveram acompanhamento com a musicoterapia e atividades
extramusicais apresentaram melhorias na concentração, na expressão dos
sentimentos, no desenvolvimento das funções cognitivas, na criatividade e no
desenvolvimento da afetividade.
 
2.2.1 - Musicoterapia e seu uso no tratamento do TEA
Já há muitos anos a musicoterapia é utilizada no tratamento de pacientes
com TEA. Sua utilização traz benefícios em diversas áreas da vida do indivíduo e de
sua família pois ele desenvolve habilidades sociais, emocionais, cognitivas, motoras e
de comunicação (SIMPSON & KEEN, 2011). A prática nessa área teve início na
década de 1960 onde a utilização terapêutica da música era aplicada para tratar as
limitações e dificuldades da pessoa com transtorno autista (AIGEN, 2009). O principal
motivo do aparente sucesso das técnicas musicoterapêuticas no tratamento do TEA
é, possivelmente, o especial interesse que a música desperta nessa população
(Berger, 2003)
De acordo com o artigo “As contribuições da musicoterapia no tratamento do
transtorno do espectro autista (TEA)” de Letícia Cunha e Silva e Andrea Volpato
Wronski (2021), a música é uma expressão artística que ultrapassa as barreiras do
comunicável, e todos os elementos contidos nela, têm a capacidade de emergir os
mais diversos sentimentos no ser humano, em decorrência da sua vivência social e
cultural. Segundo Molnar-Szakacs & Heaton (2012), pessoas com TEA, de um modo
geral, demonstram notável interesse por música e podem até mesmo ter uma
habilidade excepcional na área musical, o que faz da música, segundo os autores,
uma janela única para o mundo do autismo.
Indivíduos com TEA, aparentemente, possuem uma ativação menor na área
pré-motora e na ínsula anterior esquerda, em relação a sujeitos com desenvolvimento
típico, em especial durante o processamento de música “alegre”, neste caso definida
como música tonal em andamento rápido e tonalidade maior (CARIA; VENUTI;
FALCO, 2011).
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Pesquisas em Musicoterapia, embasadas ou não nas descobertas


neurocientíficas, mostram 14 evoluções positivas nas habilidades comunicacionais
e/ou sociais, bem como redução de comportamentos estereotipados, em crianças
autistas submetidas a tratamento musicoterapêutico (Finnigan & Starr, 2010; Simpson
& Keen, 2011; Lanovaz et al, 2012, apud Gattino, 2012).
A partir do momento em que o paciente e o musicoterapeuta iniciam um
processo de comunicação musical, ou seja, um processo de coordenações
consensuais de ações musicais, não somente a relação entre eles se desenvolve
como também as próprias habilidades musicais e não-musicais do paciente. Este
desenvolvimento é recursivo ao longo de todo o processo clínico musicoterapêutico
com contribuições ou induções do terapeuta e do paciente e, deste modo, a
complexidade da produção musical da díade musicoterapeuta paciente vai sendo
gradativamente aumentada (SAMPAIO, 2002).
O musicoterapeuta, por meio de suas intervenções musicais e não musicais,
como as verbais e/ou as gestuais, irá modular a atenção, a cognição, a emoção, a
comunicação e o comportamento do paciente para alcançar os objetivos clínicos
relevantes para cada caso (PAVLICEVIC, 1990; HILLECKE; NICKEL; BOLAY,
2005). De acordo a proposta de SAMPAIO (2002), ao longo do processo terapêutico,
pode-se considerar que não apenas o paciente apresentaria melhoras em áreas do
desenvolvimento não-musicais como, também, desenvolveria habilidades musicais,
embora este não seja o objetivo primário da musicoterapia.
Os estímulos musicais possuem mais efeito do que a comunicação verbal.
Inclusive, há um questionamento se essa influência da música era realmente benéfica
ou contribuía ainda mais para isolamento da pessoa autista
(RESCHKEHERNANDEZ, 2011). Para Benenzon (1976, p. 179) “a musicoterapia é
uma técnica de aproximação à criança autista, que permite a abertura de canais de
comunicação”, para além da linguagem oral e escrita.  (Apud SILVA E WRONSKY,
2021)
De acordo com Araújo e Ansay (2015) e Brandalise (2013) a principal técnica
musicoterapêutica utilizada nas intervenções com autistas é a improvisação musical.
Na improvisação musical o cliente/paciente “faz música tocando ou cantando, criando
uma melodia, um ritmo, uma canção ou uma peça musical de improviso” (BRUSCIA,
2000, p.124). (apud Fleury & Santos, Revista Incantare, 2016)
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O uso da improvisação musical como forma de avaliação musicoterapêutica


já foi amplamente discutida em musicoterapia por Kenneth Bruscia na avaliação
Improvisation Assessment Profiles (IAPs) (BRUSCIA, 1999). Esta avaliação descreve
as reações do paciente enquanto ele improvisa. Outro exemplo, é o modelo de
Musicoterapia Positiva de Amélia Oldfield que utiliza a improvisação musical como
forma de avaliar os comportamentos de crianças com TEA (OLDFIELD, 2006).
Os modelos mais conhecidos de musicoterapia improvisacional são:
musicoterapia analítica (modelo Priesley), musicoterapia criativa (modelo Nordoff-
Robbins), terapia de livre improvisação (modelo Alvin) e o modelo dos perfis de
quantificação na improvisação (modelo Bruscia) (Pavlicevic, 2000). Como foi
explicado no tópico acima, existem evidências de que a musicoterapia
improvisacional favorece as habilidades de comunicação e interação social em
pessoas com TEA (GERETSEGGER et al., 2012). 
A integração destes conhecimentos na prática clínica musicoterapêutica pode
fornecer novas explicações sobre o modo pelo qual o uso terapêutico da música
promove melhoras da saúde, bem como subsidiar o desenvolvimento de novas
abordagens clínicas de tratamento, avaliação diagnóstica e avaliação do processo
terapêutico (SAMPAIO, 2015).
Em suma, a Musicoterapia auxiliaria na estimulação de pessoas com TEA por
meio de atividades prazerosas e motivacionais, que atraem o interesse e a atenção,
facilitando o alcance dos objetivos terapêuticos traçados.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do estudo realizado foi possível conhecer sobre o Transtorno do
Espectro do Autismo (TEA) e suas particularidades que é caracterizado por ser um
distúrbio do neurodesenvolvimento que incide diretamente no comportamento e
comunicação social da criança desde o início de sua vida. Entre as suas
particularidades estão a dificuldade de se comunicar com o mundo ao seu redor,
integração social e incapacidade de realizar jogos simbólicos, assim como
apresentam um padrão de comportamento restritivo e repetitivo.
A musicoterapia se apresenta como uma importante alternativa para auxiliar
na estimulação de atividades lúdicas e prazerosas que atraem a atenção das
pessoas com autismo e ainda confere competências e habilidades que contribuem
para o processo de interação social e aprendizagem significativa.
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Este estudo é uma importante fonte de contribuições para o entendimento da


musicoterapia e amplia a importância do tema para o curso e a prática profissional
de todos os educadores e licenciados em música para compreender a importância
das novas tecnologias e descobertas científicas sobre o poder da música como
terapia para o tratamento de patologias e transtornos em crianças e adultos.
Se conclui ainda que a musicoterapia contribui para uma educação inclusiva e
de qualidade. A música contribui para o desenvolvimento cognitivo e psicoemocional
dos indivíduos capacitando-os para a promoção da aprendizagem e a qualidade de
vida. O presente estudo tem informações relevantes que podem ser utilizadas
seguramente para o desenvolvimento de novos trabalhos que tenha o memo tema.

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