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FACULDADE DE CIÊNCIAS, EDUCAÇÃO, SAÚDE, PESQUISA E GESTÃO

A CONTRIBUIÇÃO DA MUSICOTERAPIA NO DESENVOLVIMENTO DA


LINGUAGEM DE CRIANÇAS AUTISTAS

CASCAVEL
2021
DAYANE MACIEL DOS SANTOS

A CONTRIBUIÇÃO DA MUSICOTERAPIA NA AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM


EM CRIANÇAS AUTISTAS

Pós-Graduação em Musicoterapia

Orientador: Leonardo Francisco Citon

Aluna: Dayane Maciel dos Santos

CASCAVEL
2021
RESUMO

A contribuição da musicoterapia no tratamento de crianças com TEA no


processo de seu desenvolvimento de linguagem. Trabalho em cima de
resultados de pesquisas acadêmicas que foram feitas com o objetivo de
investigar e entender o papel e contribuição da musicoterapia no
desenvolvimento de comunicação verbal, e não verbal de crianças com TEA . A
integração destes conhecimentos na prática clínica musicoterapêutica pode
fornecer novas explicações sobre o modo pelo qual o uso terapêutico da
música promove melhoras da saúde, bem como subsidiar o desenvolvimento
de novas abordagens clínicas de tratamento, avaliação diagnóstica e avaliação
do processo terapêutico. Esta revisão bibliográfica tem como objetivo relatar, e
discutir sobre experiências musicoterapêuticas nos transtornos de fala e
linguagem no desenvolvimento social da criança, visando os possíveis efeitos
da contribuição da musicoterapia na comunicação verbal em crianças com
TEA.

Palavras chaves: Transtorno de linguagem, linguagem expressiva,


desenvolvimento social e pessoal de crianças com TEA.
INTRODUÇÃO

1. Autismo

O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é caracterizado por


prejuízos qualitativos na interação social, associados a comportamentos
repetitivos, estereotipados e presença de um repertório restrito de atividades e
interesses, dentre outros sinais e sintomas. (APA, 2014). O transtorno ainda é
muito desconhecido, varia muito de criança para criança as características do
espectro. Mas os estudos estão avançando aos poucos sobre a genética e a
neuropsicologia para a compreensão biologicamente do espectro.  (Challman,
Barbaresi, Katusic, & Weaver, 2003)

O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é denominado pela


Associação Americana de Psiquiatria – APA (2013), como um transtorno do
neurodesenvolvimento. O uso do termo autismo foi usado pela primeira vez nos
anos de 1911 pelo pesquisador Eugen Bleuler, um psiquiatra Suíço que
pesquisava sobre as características da esquizofrenia. Mas só em 1943 que
realmente o autismo foi citado e abordado de forma mais relevante sobre suas
características pelo psiquiatra Leo Kanner. (CUNHA, 2015).

No autismo existe algumas características peculiares própria do


transtorno. Com isso, o profissional experiente e qualificado em atender esse
espectro, ao observar comportamentos conseguem perceber possíveis sinais
que caracteriza o espectro. Mas para concluir seu diagnóstico se faz uso de
aplicações de testes. As características estão relacionadas com o Distúrbio do
desenvolvimento neurológico, que muitas das vezes vem acompanhado por
déficit nas regiões sociocomunicativas e comportamentais. (SCHMIDT, 2013, p.
13).
DSM-V Relata que os autistas convivem com manifestações dos déficits
associados a suas vidas. Pessoas com TEA devem estar em acompanhamento
em múltiplas terapias e passando por avaliações, para que o dia-a-dia delas
possam se tornar acessíveis e confortáveis proporcionando uma qualidade de
vida.

Além do déficit na linguagem, essas crianças sofrem com o déficit na


interação social, que muitas das vezes é recorrente do espectro, tendo em vista
a falta de interação social, como contato físico, visual, assim como a falta de
interação. Além disso essas crianças podem ainda está sofrendo com grandes
sensibilidades táteis e auditivas, dificultando ainda mais sua socialização na
comunidade no geral. Mas essas terapias ao qual as crianças estão sendo
expostas, estão pesquisando e tentando quebrar barreiras para que a criança
possa ter qualidade de vida sem lhe causar sofrimentos. (BRENTANI et al,
2013, p. 63).

2. REFERÊNCIAL TEORICO
2.1 Musicoterapia

A musicoterapia é uma opção terapêutica que beneficia a autoexpressão,


o cognitivo, a capacidade de se comunicar, a criatividade entre outros
aspectos. A criança se manifesta dentro do processo musicoterapêutico por
meio do uso da música e seus elementos. (PORTER, et al., 2012, apud
GATTINO, 2012). O musicoterapeuta busca, nas suas intervenções, a
prevenção e restaura potências dos seus pacientes. (KIM, 2008 apud
GATTINO, 2012).

A musicoterapia passa por variadas limitações no processo do


desenvolvimento infantil, podendo ajudar na melhora da condição dos
pacientes com, autismo, TDA ou TDAH, déficit motor, tônus muscular, atraso
de linguagem, atenção, concentração, audição, função cognitiva,
expressividade, autoestima, e estão todas relacionadas aos estímulos que a
musicoterapia nas suas intervenções pode estar alcançando. (BARANOW,
1999, p. 28).

A música no seu contexto geral, está ativando processos cognitivos


complexos como atenção, memória, ritmo, controle motor do corpo... Todas
essas funções citadas a cima mostram a importância da prática musical, ou de
atividades associadas à músicas, onde os pacientes expostos a música
conseguem desenvolver bem sua cognição. Mas para isso, o paciente precisa
estar exposto a repetições e prática. Quando utilizamos da música para nos
expressar, quando cantamos, ou tocamos um instrumento musical,
observamos facilmente a presença do processo cognitivo funcionando e
desenvolvendo também desenvolvimento musical. (KOELSCH, 2011;
RODRIGUES, 2012).

2.2 Aquisição da Linguagem

A linguagem é o principal meio de comunicação humana, onde nos


proporciona nos comunicar por meio de símbolos, linguagens alternativas
como a língua de sinais, a linguagem musical, no qual segue ligada aos
sons, e aos seus significados como o da fonologia, sintaxe, prosódia etc.
(LAW et al., 2000).

MERGL et. al. (2015) mostram em suas pesquisas... que crianças com
TEA tem algumas características incomuns entre elas na maioria das vezes.
Essas características na linguagem, como frases sem contextos, ecolalias,
estereotipias evidenciam importantes prejuízos na comunicação e sociais.
Mesmo com essas características de repetições e frases fora de contexto,
isso significa que a criança está no começo de sua aquisição de linguagem e
comunicação. (MERGL; AZONI, 2015). A partir do olhar fonológico, crianças
com características de alteração na formação do discurso e fala, possuem
comunicação inteligível e de difícil compreensão, incoerência no uso da
prosódia e regras gramaticais. (GOMES; NUNES, 2014).
2.2.1 Musicoterapia e TEA

A musicoterapia, com o passar dos anos, vem tendo seu espaço de


importância, como sua atuação suprindo as necessidades terapêuticas de
alguns transtornos e doenças, e não tem sido diferente com o TEA.

A musicoterapia vem se mostrando eficaz no tratamento como por


exemplo o uso do canto no como contribuição na linguagem e organização
da prosódia e compreensão, assim como sua interação social na
comunidade ao qual o paciente vive. (FREIRE, 2014).

Ao aplicar as técnicas, devemos considerar cuidados específicos como o


ritmo da música, volume, distorções de alguns sons. Como a música está
ligada as nossas emoções, a conduta da terapia, se usada de forma
incorreta, pode gerar efeitos iatrogênicos ao dos objetivos traçados da
terapia, ao invés de deixar o paciente bem, pode acarretar incômodos,
trazendo pontos negativos como agitação, fazendo com que a conclusão da
terapia não seja possível concluir. Assim, se faz necessário ter
conhecimento das técnicas e base teórica dos temas a serem trabalhados
nas terapias, buscando aplicar as técnicas para cada característica individual
de cada paciente. (SILVA JUNIOR; CRAVEIRO DE SÁ, 2007).

Algumas ações são traçadas nesses planejamentos terapêuticos como:


avaliações, anamneses, onde buscam informações de cada paciente, e do
seu meio familiar, assim como na escola onde muitas das vezes esses
pacientes são expostos e como esses espaços e pessoas lidam com o TEA.
Partir daí é traçado os objetivos em beneficio a qualidade de vida e o seu
desenvolvimento desejado, por fim se faz reavaliação, no qual é avaliado as
evoluções e mudanças possíveis no comportamento da pessoa com TEA.
(GATTINO, 2009).

Os métodos terapêuticos usados em atendimentos do TEA; é a


improvisação, e esse modelo de técnica estabelece uma relação de
confiança entre o terapeuta e paciente, possibilitando muitas das vezes
interações entre si, usando como ferramenta a música, a voz e até mesmo
instrumentos musicais. As habilidades que podemos estar desenvolvendo é
a improvisação, sequências auditivas, motoras, raciocínio lógico e a
criatividade. Essas técnicas musicoterapêuticas contribuem na comunicação,
socialização, na exclusão na sociedade, como também no desenvolvimento
da linguagem. (GATTINO, 2012; PADILHA, 2008).

Segundo McFERRAN e SHOEMARK (2013), o musicoterapeuta deve


escutar seu paciente e ser responsável pela estrutura da sessão e da
música, facilitando e validando uma iniciação musical espontânea do
paciente. Essa experiência clínica vem demostrando eficácia da atuação do
musicoterapeuta no tratamento de pessoas com TEA.

Os autores, complementam citando que algumas atividades clínicas são


comuns nos processos musicoterapêuticos com pessoas autistas, como por
exemplo: jogos musicais, escuta auditiva, jogos de atenção e concentração,
sequências musicais para o paciente executar, improvisação e entre outros.
McFERRAN e SHOEMARK (2013)

2.1.2 Musicoterapia e linguagem

Segundo a musicoterapeuta Loewy (1995, p.49; tradução livre) afirma


que a linguagem se desenvolve por meio da música em três estágios musicais
da Fala; fases consecutivas dentro de um contexto do desenvolvimento como
indicadores da melhoria mental, físico e emocional das crianças, meio de
entender o nível de atividade vocal que ocorre no contexto pré-verbal.

A autora cita três principais estagio desses processos, como: No estágio


I, teremos o Choro/Sons de conforto. Nosso primeiro contato com a música é
no choro assim que nascemos, o som do recém-nascido onde expressa
atividades motoras reflexas, por meio das quais a laringe é exercitada,
favorecendo a exploração do ar e dos tons; no Estágio II começamos com
Balbucio, lamentos e inflexões vocais, movimentos motores de produção do
som são utilizados como processos exploratórios antes da fala no Estágio III
iniciamos com as palavras simples, onde as crianças começam a utilizar os
fonemas aprendidos na fase anterior para a formação das suas primeiras
palavras (LOEWY, 1995).

A linguagem por meio da música deve ser entendida no contexto da


nossa cognição mais aflorada. (LOEWY, 1995). A música ajuda no
desenvolvimento da fala, por exemplo a gagueira, o indivíduo gago, quando
exposto ao canto, sua dificuldade em ritmo e tempo das palavras somem quase
que instantâneo, pois a música proporciona e permite se ter ritmo, melodia
trazendo para experiencia do paciente sucesso na sua linguagem. (LOEWY,
2004). No período pré-verbal aprendemos aspectos importantes de prosódia,
como também na capacidade ou não, de elementos no processo da fala com o
uso da música como exemplo: dinâmica, ritmo, timbre na região de fala.
(LOEWY, 2004). Portanto, problemas nesse período podem levar à atraso de
fala infantil, e a musicoterapia entra como uma boa ferramenta de estimulo
nesse processo de formação do indivíduo, principalmente em pessoas com
TEA.

Portanto o tratamento para atraso de fala, entre outros, pode estar indo
de parcerias entre as multidisciplinaridades terapêuticas como por exemplo
entre o fonoaudiólogo, fisioterapeuta, TO, e o musicoterapeuta nessa
jornada de complementações de abordagens de protocolos que utilizam de
elementos musicais que vem mostrando bons resultados no processo de
desenvolvimento da fala e entre outros.

3. CONCLUSÃO

A revisão bibliográfica nos mostra que as pesquisas sobre essas


abordagens vêm crescendo cada vez mais. A busca por parcerias com
multiprofissionais como musicoterapeuta com sua contribuição no tratamento
de crianças autista no desenvolvimento da linguagem, vem mostrando
resultados positivos, mas muito pouco trabalhado entre os profissionais.

As estratégias musicoterapêuticas atuais que tem como foco a


estimulação do cognitivo e das comunicações verbais e não-verbais, da
interação social, elegendo a musicoterapia como um método eficaz se usado
de maneira correta suas técnicas e abordagens.

REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA

American Psychiatric Association. Manual de diagnóstico e estatistico de


transtornos mentais: DSM-V. 5. ed. Porto Alegre: Artmed; 2014. 848 p.

BARANOW, Ana Lea. Musicoterapia: uma visão geral, Enelivros, Rio de


Janeiro, 1999.

BRUSCIA, Kenneth E. Definindo musicoterapia, Enelivros; Rio de Janeiro,


2000.
CUNHA, Eugenio. Autismo e inclusão: psicopedagogia práticas educativas na
escola e na família. 6 ed. Rio de Janeiro: Wak Ed. 2015. 140 p.

FREIRE, M. Efeitos da Musicoterapia Improvisacional no tratamento de


crianças com Transtorno do Espectro do Autismo. 2014. Dissertação (Mestrado
em Neurociências). Programa de Pós-Graduação em Neurociências.
Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte. 2014.

GATTINO, G. S. Musicoterapia aplicada à avaliação da comunicação não


verbal de crianças com transtornos do espectro autista: revisão sistemática e
estudo de validação. Tese de Doutorado, UFRGS 2012.

GATTINO, G.S. A influência do tratamento musicoterapêutico na comunicação


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Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto
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GATTINO, G. S. Musicoterapia e autismo: teoria e prática. São Paulo:


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KOELSCH, S. (2009). “A Neuroscientific Perspective on Music Therapy”.


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LOEWY, J. V. The Musical Stages of Speech: A Developmental Model of Pre-


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McFERRAN, K.; SHOEMARK, H. (2013). “How musical engagement promotes


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RODRIGUES, A. (2012). Efeito do treinamento musical em capacidades


cognitivas visuais: atenção e memória. Tese (Doutorado). Programa de Pós-
Graduação em Neurociências. Universidade Federal de Minas Gerais. Belo
Horizonte.

Challman, T. D., Barbaresi, W. J., Katusic, S. K., & Weaver, A. (2003). The yield
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SCHMIDT, Carlo. Autismo, educação e transdisciplinaridade. In: SCHMIDT, C


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SILVA JÚNIOR, D.; CRAVEIRO DE SÁ, L. Musicoterapia e Bioética: Um


Estudo da Música como Elemento Iatrogênico. In: XVII Congresso da
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