NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA LICENCIATURA MÚSICA
Ester Novaes dos Santos
Iris de Oliveira Raposo
Robson Nilson Vicente
Sara Pieper
O PODER DA MUSICOTERAPIA NO DESENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO DO AUTISMO
RESUMO
Este estudo visa verificar evidências científicas sobre a contribuição da
musicoterapia como forma de intervenção e tratamento de crianças com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), de forma a contribuir no desenvolvimento cognitivo e psicossocial delas, proporcionando consequentemente, maior qualidade de vida a este público.
PALAVRAS-CHAVE: Música. Musicoterapia. Autismo. Transtorno do
Espectro do Autismo (TEA). 2
1 INTRODUÇÃO
A criança começa desde cedo começa a cantar antes de falar, começa a
dançar e se mexer antes de falar é assim com o uso da música que a aprendizagem começa. Entretanto podemos perceber no âmbito escolar, um crescente número de casos de crianças diagnosticadas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), cujas funções cognitivas são alteradas apresentando dificuldades na compreensão da linguagem falada e na utilização dos gestos, na percepção das contingências dos seus comportamentos e dos comportamentos dos outros, déficits de abstração, sequencialização, compreensão de regras, dificuldades de processar e elaborar sequências temporais e dificuldades na compreensão de estímulos multissensoriais (GARCIA e RODRÍGUEZ, 1997 apud SANTANA e SILVA). Neste sentido, torna-se extremamente relevante o estudo em questão. O termo autismo vem do grego “autos” que significa “de si mesmo”. O transtorno do Espectro do Autismo (TEA), é um distúrbio do neurodesenvolvimento que incide diretamente no comportamento e comunicação social da criança desde o início de sua vida. Entender as limitações desse público, é o primeiro passo para a utilização da música como processo de educação e desenvolvimento psicomotor, cognitivo e emocional. Diferentemente da educação musical, a musicoterapia tem como conceito “a aplicação científica das possibilidades da música para contribuir ou favorecer os processos de recuperação psicofísica das pessoas” (GAINZA. 1998, p. 83). Desta forma, o foco da música como terapia, é a saúde, o desenvolvimento ou reabilitação de habilidades cognitivas, visando proporcionar qualidade de vida ao indivíduo. Levitin (2010, p. 18) vai dizer que o cérebro e a música evoluíram paralelamente e que “a música pode nos ensinar sobre o cérebro, o cérebro pode nos ensinar sobre a música, e ambos podem nos ensinar a nosso respeito”. Nessa perspectiva, entende-se a importante relação entre as funções cerebrais e a música, no desenvolvimento cognitivo e psicossocial. Desta forma, demonstraremos no decorrer deste trabalho, sobre como a musicoterapia pode ser utilizada para contribuir no desenvolvimento cognitivo e psicossocial de crianças com TEA, uma vez que a música tem capacidade de atingir 3
áreas corticais específicas do cérebro, trazendo benefícios na comunicação e
consequentemente na qualidade de vida. Isso porque envolve atividades diárias, controle, audição e ritualismos que agregam na comunicação das crianças com TEA. Assim, o presente trabalho pretende, a partir de estudos e levantamentos bibliográficos, conhecer sobre o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) e suas particularidades, bem como definir e entender o que é musicoterapia e como se dá o seu uso em crianças com TEA, compreendendo-se assim, sobre os seus efeitos nos indivíduos, e como ela contribui para o desenvolvimento cognitivo e psicossocial de crianças com TEA, reforçando desta maneira, sua importância na educação inclusiva. 4
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 - Autismo: Considerações Históricas
O termo autismo vem do grego “autos” que significa “de si mesmo”. O
transtorno do Espectro do Autismo (TEA), é um distúrbio do neurodesenvolvimento que incide diretamente no comportamento e comunicação social da criança desde o início de sua vida. O termo começou a ser difundido em 1911 por Paul Eugen Bleuler, médico psiquiatra, conhecido também por nomear a esquizofrenia. Bleuler, define o termo como: “desligamento da realidade combinado com a predominância relativa ou absoluta da vida interior” (BLEULER, 2005 apud DURVAL, 2011). A priori, o autismo era referido como um transtorno básico da esquizofrenia, e era descrito não como uma patologia isolada, e sim, como parte de transtornos mentais geralmente associados à esquizofrenia e histeria. Durante décadas, o diagnóstico do autismo esteve sob o amplo rótulo de esquizofrenia, e as crianças eram tidas como indivíduos com deficiência intelectual severa, esquizofrênicas ou até mesmo como deficientes auditivos, uma vez que eles não correspondiam ao chamado dos seus pais. Somente em 1943, é apresentada a primeira descrição dessa síndrome pelo psiquiatra Leo Kanner, que para tal, baseou- se em 11 casos clínicos de crianças que ele acompanhava e que possuíam características em comum: resistência a mudanças, apego a rotinas, dificuldade na manutenção de um relacionamento afetivo com as pessoas, lentificação das diversas funções cognitivas e maneirismos motores, denominando-a como autismo infantil precoce (LOURO, 2021). Segundo Louro (2021), Kanner percebeu que poucas dessas crianças falavam, e as que utilizavam a linguagem verbal, a utilizavam de forma mecânica e não como um meio de comunicação, ou seja, elas tinham a capacidade de falar e guardar nomes complexos, entretanto sem função social. Apontou ainda, a dificuldade que as crianças possuíam em relação a utilização dos pronomes, uma vez que estas falavam de si mesmas, conforme estavam acostumadas a ouvir, ou seja, em terceira pessoa. Descreveu ainda, que as crianças entendiam as palavras em seu sentido literal, ressaltando a dificuldade em compreender as coisas de forma simbólica. 5
De acordo com Gattino, anteriormente, acreditava-se que o autismo estava
intimamente ligado à relação afetiva das mães, no entanto, duas décadas depois, estudos indicavam a associação do autismo com fatores genéticos:
“Na década de 1960, acreditava-se que o autismo se relacionava fortemente
a uma desordem ambiental, e essa desordem seria uma consequência da falta de afeto da mãe da criança (mãe geladeira). No entanto, a partir de 1980, estudos genéticos sobre concordância de Autismo em gêmeos indicaram a associação do Autismo com fatores genéticos. Outros estudos mostraram risco de recorrência de Autismo aumentado de 3% a 8% em famílias com uma criança autista. Além disso, verificou-se a associação do Autismo a causas cromossômicas e a síndromes gênicas (GATTINO, 2015, p.167).
Estudos posteriores revelaram que o autismo é uma desordem
comportamental complexa, com diferentes níveis de gravidade, que podem variar desde indivíduos não verbais com deficiência intelectual grave, até sujeitos com QI acima da média (GATTINO, 2015)
2.2 - Definição do TEA e Suas Particularidades
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é definido por comprometimentos
que, de modo geral, aparecem precocemente no desenvolvimento sociocomunicativo, assim como pela presença de alguns comportamentos que podem ser repetitivos e estereotipados. Configuram-se como um conjunto de transtornos, cujas características implicam dificuldades nos processos interativos, desejo persistente de valorização dos objetos, alterações no humor, hiperatividade ou hipoatividade, dentre outras (CAMARGO JÚNIOR, W. et al, 2013). É difícil delimitar a padronização dos critérios diagnósticos para o autismo, uma vez que há uma grande variação comportamental dos indivíduos no que se refere aos níveis de habilidade social e comunicativa (GATTINO, 2015). Como já comentado, ele é caracterizado por desordens comportamentais que podem variar quanto ao seu nível de gravidade, no que tange a comunicação, interação social e estereotipias, que são classificados através do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5ª edição (DSM-V) da seguinte forma: Nível 1 (leve) – déficits na comunicação social, dificuldade para iniciar interações sociais e exemplos claros de respostas atípicas ou sem sucesso a abertura sociais do outro; nível 2 (moderado) – déficits graves nas habilidades de comunicação social verbal e não 6
verbal, prejuízos sociais aparentes mesmo na presença de apoio, limitação em dar
início a interações sociais e resposta reduzida ou anormal a abertura sociais que partem de outros; e nível 3 (grave) – déficits graves nas habilidades de comunicação social verbal e não verbal causam prejuízos graves de funcionamento, grande limitação em dar início a interações sociais e resposta mínima a abertura sociais que partam dos outros (LOURO, 2021) Desde os primeiros meses de vida, a criança com autismo pode manifestar comportamentos que apontem para o transtorno, Gattino (2015) vai dizer:
“Ainda nos primeiros meses de vida, a criança com autismo não
mantém contato visual efetivo e não olha para a pessoa que chama por ela. Além disso, já a partir dos 12 meses, a criança com Autismo também tem dificuldade para apontar para objetos e pessoas. É comum ainda, no primeiro ano de vida, a criança ter mais interesse por objetos do que por pessoas, bem como apresentar dificuldades para demonstrar reações afetivas como sorrir e abraçar (GATTINO, 2015, p. 181).
Além dos sintomas supramencionados, podemos relacionar outras
particularidades do TEA, dentre as quais: “Problemas relacionados ao sono, ansiedade, hiperatividade, falta de noção do perigo, hiper ou hiposensibilidade sensorial, problemas gastrointestinais, medo excessivo a determinadas situações e automutilação” (FIGUEIREDO, 2014 apud LOURO, 2021). Muitas são as alterações neurológicas comuns presentes nos autistas, que se relacionam diretamente aos efeitos neurofisiológicos presentes nesses indivíduos, dentre as quais destacaremos a hipersensibilidade auditiva presente em boa parte dos indivíduos com TEA.
2.3 - Processamento Auditivo-Musical no TEA
Diferentemente dos indivíduos com desenvolvimento típico, os autistas
possuem uma capacidade auditiva menos complexa, ou seja, essa capacidade auditiva ocorre de forma mais lenta que o normal. Da mesma forma, esses indivíduos, possuem uma capacidade auditiva focal, ou seja, em uma canção, o indivíduo autista possui uma maior capacidade de detectar as notas que compõe um acorde em comparação a um indivíduo com desenvolvimento típico. Isso explica os casos de grandes gênios musicais autistas, que apresentam uma super habilidade para tocar e compreender estruturas complexas das músicas (GATTINO, 2015). Devido à redução dos níveis de atividades no complexo temporal secundário 7
e terciário – áreas relacionadas às regiões auditivas do giro temporal superior, onde
são processados os sons da linguagem verbal, e, a ocorrência do processamento da fala no córtex auditivo primário, os autistas apresentam grande dificuldade na compreensão da linguagem verbal. Isso explica o motivo pelo qual a linguagem verbal não atrai a atenção da criança com TEA da mesma forma que atrai a criança com desenvolvimento típico. Assim, a compreensão acústica da fala não é entendida de igual forma, ficando em evidência os motivos pelos quais as crianças autistas evitam o contato através da linguagem verbal, elas assim o fazem, não porque não querem se comunicar, e sim porque não a entendem (GATTINO, 2015). Em contrapartida, a música é processada principalmente no córtex auditivo primário, onde o autista não possui deficiência, tornando-se um meio de comunicação mais efetivo e interessante para eles, do que a linguagem verbal. Ou seja, a música se torna uma forte aliada para o desenvolvimento de crianças com TEA. Desta forma, tais fatores evidenciam a possibilidade de utilização da música com finalidade terapêutica, visando promover o desenvolvimento cognitivo, psicomotor e emocional dos indivíduos, proporcionando assim maior qualidade de vida aos mesmos. 8
REFERÊNCIAS:
BRUSCIA K. Definindo musicoterapia. Enelivros, Rio de Janeiro 2001.
NOGUEIRA, Rayssa Almeida et al. A musicoterapia como tratamento não-
farmacológico para o Transtorno do Espectro Autista (TEA) infantil: uma revisão da literatura. Revista Eletrônica Acervo Científico. ISSN 2595-7899. Vol. 39. Publicação em: dezembro de 2021. Disponível em: <file:///C:/Users/Usuario/Downloads/9565- Artigo-104334-2-10-20211231.pdf>. Acesso em: 29 set 2022.
SAMPAIO A. SAMPAIO. Apontamentos em musicoterapia. volume 1 São Paulo
apontamentos Editora, 2005.
VARGAS MER. Influências da música no comportamento humano: explicações da
neurociência e psicologia. Anais do Congresso Internacional da Faculdade EST, 2012; 944-956.
GATTINO, Gustavo Schulz. Musicoterapia e Autismo: Teoria e Prática. São Paulo:
Memmon, 2015.
LOURO, Viviane. Educação Musical, Autismo e Neurociências. Curitiba: Appris,