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Aula 1

FACILITAÇÃO EMOCIONAL DO PENSAMENTO CRIATIVO


O processo de flow; O indivíduo criativo em formação; Facilitação emocional para criar.

35 minutos

INTRODUÇÃO

Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.

Você já reparou em algum artista realizando uma performance, como um dançarino ou um pintor? Já se
envolveu em uma atividade e não viu o tempo passar? Essas situações podem indicar o estado de flow, um
estado de espírito em que ficamos totalmente imersos no que fazemos e podemos criar o novo em atividades
que já temos amplo domínio.

Vamos falar nesta aula sobre isso e sobre a formação de indivíduos criativos, compreendendo o papel do
ambiente e de nossas relações afetivas, inclusive com a própria tarefa. Por último, vamos conhecer uma técnica
para facilitação de nossas emoções de forma a promover a criatividade.

Ao final da aula espera-se que você perceba mais atentamente seus processos criativos e facilite humores
positivos para que novas soluções possam chegar a seu campo cognitivo. 

O PROCESSO DE FLOW
É encantador observar os movimentos de uma bailarina em uma apresentação de alto desempenho. A fluidez
na pista faz parecer fácil a condução dos passos e por mais força que ela coloque em seus músculos, o que
conseguimos perceber é leveza. Se perguntarmos para a bailarina como ela se sente no momento da
performance, ela dirá que é como se o tempo parasse ou como se não tivesse percepção alguma de tempo.
Outra característica é que ela não perceberia seus pensamentos, como se nesse momento o eu se fundisse com
a tarefa, ou seja, ela se tornasse a dança. Esse estado de espírito em que estamos totalmente imersos em uma
atividade é chamado de flow, ou fluxo.
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Para chegar ao desempenho em flow em processos criativos são necessárias muitas horas de treinamento. De
acordo com o psicólogo positivo Mihaly Csikszentmihaliy (2020), que estuda o processo de flow nos últimos 30
anos, são necessários 10 anos de dedicação a um determinado tema ou atividade para que se possa criar algo
totalmente novo a respeito. E aqui o autor faz uma conexão entre o flow e a criatividade: é preciso muito
envolvimento com uma atividade para que se possa ser criativo em relação a ela. É como se a mente precisasse
de muitos registros de uma determinada ação para que pudesse automatizar totalmente o processo e então
fluir de forma mais independente, sem programar os pensamentos.

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Ao realizar uma tarefa em estado flow, a pessoa sente-se “livre” de ter de pensar e simplesmente flui.
Csikszentmihaliy explica que mesmo atividades consideradas repetitivas, burocráticas ou cansativas, pode
oportunizar momentos de criatividade, gerando satisfação posterior. Para isso acontecer, é necessário que os
indivíduos dessas atividades tenham o chamado perfil autotélico, que consegue reconhecer oportunidades
onde outros não reconhecem e tirar bem-estar psicológico a partir de atividades consideradas difíceis para
outras pessoas. A pessoa autotélica cria condições para o flow acontecer. Outros exemplos são as atividades de
“abrir a massa” feita em algumas pizzarias artesanais ou de “soprar o vidro” feita em vidraçarias tradicionais.
Essas são tarefas aparentemente banais que são transformadas criativamente por pessoas autotélicas, que
retiram satisfação e promovem um toque artístico no que fazem.

Algumas outras definições ajudam a compreender melhor o flow. É necessário que a pessoa se sinta desafiada
pela tarefa e, ao mesmo tempo, tenha condições de executá-la. Daí a importância do amplo tempo de
dedicação para que se chegue ao flow. Se temos muito domínio sobre uma atividade e não somos desafiados
por ela, é fácil cair em um estado de tédio. Já se temos pouca habilidade e o desafio da tarefa é muito grande,
entramos em estado de preocupação ou ansiedade, uma vez que não vemos saída fácil. Essas diferentes
relações entre o desafio e a habilidade são explicadas pela Figura 1.

Figura 1 | Estado de flow

Fonte: adaptada de Csikszentmihalyi (2020).

O que se pode resumir é que duas condições são necessárias para que o flow possa acontecer: a pessoa sentir-
se altamente motivada para a atividade e com capacidade ou competência para realizá-la a contento. Nesse
caso, há um grande investimento de energia e concentração, até que se perca a noção do tempo ou do pensar.
Passa-se a tão somente executar, com espaço para criar. Daí a satisfação decorrente.

O INDIVÍDUO CRIATIVO EM FORMAÇÃO

Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.

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Inspirado na teoria de Csikszentmihalyi, Howard Gardner explorou as condições necessárias para as pessoas
serem criativas. Ele analisou a vida de sete personalidades criativas: Freud, Einstein, Picasso, Stravinsky, Eliot,
Graham e Gandhi e chegou à conclusão de que a criatividade não é um fato isolado e restrito a indivíduos
geniais, ao contrário, depende das condições de formação do indivíduo criativo, do ambiente em que cresceu,
do afeto que recebeu e das oportunidades que encontrou.

Para explicar essas condições, Gardner (1996) propôs o triângulo da formação (Figura 2), que traz três
elementos centrais:

Da criança ao mestre – compreensão de como o indivíduo passa de criança a mestre, como os talentos foram
identificados e que meios encontraram para florescer.

Campo de domínio – a relação entre o indivíduo e o trabalho em que se envolveu.

Ambiente-comunidade – a relação entre o indivíduo e outras pessoas que fazem parte do seu mundo, tais
como familiares e professores. 

A interconexão desses três elementos faz com que se compreenda as bases do processo de criatividade no
decorrer de uma vida, inclusive todos os afetos envolvidos.

Figura 2 | Triângulo da formação

Fonte: Gonzaga e Rodrigues (2018, p. 22).

Dessa forma, o triângulo da formação engloba aspectos individuais (herança genética, temperamento,
constituição básica); aspectos do ambiente (influência de pais, professores e demais pessoas que julgam ou
emitem opiniões sobre o comportamento do indivíduo); e o domínio (o estágio de desenvolvimento de uma
dada disciplina em uma determinada época). O mesmo triângulo já havia sido utilizado por Gardner para
explicar o conceito de Inteligências Múltiplas.

Alguns achados na formação do indivíduo criativo


De acordo com Gardner, todos os mestres criativos estudados mostraram dons formidáveis na infância,
havendo especial destaque para o nível de habilidade do jovem Picasso. Um desenhista talentoso na primeira
década de sua vida, ele estava no final da adolescência pintando com tanta sutileza quanto qualquer outro

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artista de sua época – e lançando as bases para mais 75 anos de produtividade. Picasso oferece a oportunidade
de considerar as contribuições da prodigiosidade para as primeiras realizações deslumbrantes e sua
transmutação em uma forma que permite a realização de contribuições mais duradouras.

Outra característica compartilhada pelos mestres criativos é que vivenciaram diferentes culturas e
contextos, não ficando restritos aos códigos sociais de uma determinada região ou cidade e havendo inclusive
participado de movimentos criativos de seu tempo. O autor cita o exemplo do escritor T.S. Eliot, que se tornou
de certa forma “marginal” em sua própria era, mesclando estilos diversos em sua obra.

Por último, todos os criadores tinham algum tipo de sistema de suporte significativo. Isso incluiu apoio afetivo
de alguém de quem colhia suporte emocional e cognitivo. Em algumas situações, a mesma pessoa supria
ambas as necessidades, em outras ocasiões, foi necessária mais de uma pessoa para os diferentes suportes. A
relação entre o indivíduo criativo e esse “outro significativo” se compara em utilidade a outros dois tipos de
relacionamento: a relação entre o cuidador e a criança no início da vida, e a relação entre um jovem e seu ou
seus amigos no decorrer do crescimento. Em alguns aspectos, essa relação passa por algum tipo de embate, em
que o mestre tenta introduzir um novo jeito de ver as coisas e seu amigo-confidente é o zelador da língua e
cultura existente. O que se reforça é que a criatividade passa pela ação de forças sociais e afetivas, que
agem no desenvolvimento do indivíduo criativo.

FACILITAÇÃO EMOCIONAL PARA CRIAR


Será que existe um jeito de pensar que facilita a criatividade? A resposta é sim e esse jeito envolve
determinados humores e suas formas análogas de pensar. Antes de mais nada é preciso deixar de encarar as
emoções como visitas inoportunas que atrapalham nosso pensamento e começar a considerá-las como
componentes-chave para despertar nossa cognição. Uma das mensagens mais importantes para nosso
melhor desempenho em tarefas cognitivas de criação é de que as emoções podem melhorar nosso
raciocínio.

Isso acontece porque nossos humores têm impacto direto sobre o pensamento. Conforme nosso humor se
altera, o mesmo ocorre com o pensamento. Assim, se somos capazes de perceber como estamos nos sentindo
e em seguida conseguirmos alterar esse sentimento, facilitamos o espaço para pensarmos criativamente.
Porque a cada mudança de humor muda também a forma como analisamos a realidade. E esse é exatamente o
“pulo do gato” que favorece o novo chegar. E melhor ainda se estivermos sob efeito de emoções positivas.

Os humores positivos ajudam nossa mente a “abrir janelas” e pensar em novas possibilidades. Por exemplo, se
estamos de “bom humor” de repente nos vemos elaborando com facilidade um determinado plano de
marketing, já que esse bem-estar fornece segurança psicológica e favorece que pensemos sobre coisas que
“não estão ali”. Quando nos sentimos alegres e confiantes olhamos para fora da caixa, arriscamos dar uma
opinião em uma apresentação coletiva, topamos um passeio diferente, acreditamos que as coisas “podem dar
certo” e diminuímos a percepção de risco.

O contrário acontece com os humores negativos. Eles nos abrem os olhos para tudo que pode dar errado e
nesse sentido podem ser um empecilho a novas ideias. Mas se houver uma leve mudança de um estado
negativo pode-se abrir espaço para a criatividade, especialmente para questões de organização e ordenamento.

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E eis que numa tarde um tanto melancólica olhamos para as gavetas e, no meio de uma motivação
momentânea, nos vemos descobrindo uma forma criativa de disposição das peças. Foi nosso humor que teve
uma leve alteração, suficiente para que o “pop up” mental da criação pudesse acontecer.

A pausa também pode ser um facilitador emocional para a criatividade. Muitas vezes simplesmente pausar e
ficar sem “fazer nada” é suficiente para construir as bases para que uma nova ideia possa surgir. Eis aqui uma
prática revelada por muitos criativos: não é só buscando a solução que a encontramos. Vale a pena se
“abastecer de informações” a respeito do que queremos resolver, mas também deixar um tempo de folga para
que a mente intuitiva possa trabalhar subliminarmente e, sem que possamos antecipar, a solução
simplesmente “aparece” no campo mental.

Eis então uma proposta de atividade para promover sua troca de humor e consequente abertura à criatividade.
De acordo com Caruso e Salovey (2007), uma das estratégias mais eficazes para alterar o humor é
simplesmente repetir declarações positivas. O efeito é sutil, mas bastante eficaz. O ideal é que você leia essas
declarações em voz alta ou silenciosamente para si mesmo:

•  Me sinto muito bem hoje.

•  Estou muito feliz.

•  As coisas estão melhorando.

•  É fácil fazer essa tarefa, eu consigo.

•  Este é um grande dia.

•  Estou muito alegre hoje.

Desejamos uma boa prática das estratégias que estudamos e ótimas criações!

VÍDEO RESUMO
Na primeira parte de nossa aula vamos falar sobre flow, um estado de espírito em que estamos totalmente
imersos em uma atividade e não percebemos o tempo passar. Em seguida, conheceremos o processo de
desenvolvimento de uma pessoa criativa e o triângulo da formação. Encerraremos a aula compreendendo o
papel das emoções na facilitação do pensamento, de como nossos humores afetam nossa criatividade.

Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.

 Saiba mais
Baixe gratuitamente o livro:

GONZAGA, A. R.; RODRIGUES, M. C. Inteligência emocional nas organizações. Canos, RS: Editora Unisalle,
2018. Disponível em: https://revistas.unilasalle.edu.br/index.php/books/article/view/4709/2127. Acesso em
25 jan. 2022.

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Assista também ao TED com Mihaly Csikszentmihalyi:

CSIKSZENTMIHALYI, M. Fluidez, o segredo da felicidade. TED Talk, 2004. Disponível


em: https://www.ted.com/talks/mihaly_csikszentmihalyi_flow_the_secret_to_happiness?language=pt-br.
Acesso em 25 jan. 2022.

Aula 2

GRUPOS CRIATIVOS E SOLUÇÃO DE PROBLEMAS


Obstáculos à criatividade e o valor do diálogo; A concretude da criatividade; O encontro com o
artista.

22 minutos

INTRODUÇÃO
Será que a criatividade é algo que já trazemos de nascença ou pode ser desenvolvida? Embora existam talentos
que já trazemos conosco, todos nós podemos ser criativos porque criatividade diz respeito a um processo, não
a uma determinada forma de perceber a realidade. Nesta aula, vamos aprender sobre os obstáculos à
criatividade e como o diálogo é a porta de entrada para a criação compartilhada em grupos humanos.

Em seguida, vamos conhecer os elementos que fazem parte do processo criativo, entendendo o papel da razão
e da emoção em nossas inovações e propostas de solução de problemas. Por último, teremos a sugestão de
duas práticas que prometem acelerar os processos criativos.

OBSTÁCULOS À CRIATIVIDADE E O VALOR DO DIÁLOGO


Todos podemos ser criativos, mas o que separa os grandes autores e artistas dos que não criam é a crença na
própria criatividade. É verdade, no entanto, que existem alguns obstáculos à criatividade, desde bloqueios
simples de atenção até mais complexos. Eis aqui alguns deles:

1. Obstáculos da percepção – são aqueles provocados pelo próprio ego, embates do raciocínio. A análise
crítica, o julgamento e as percepções negativas podem atrofiar o processo de criação.

2. Obstáculos emocionais – a emoção que mais bloqueia a criatividade é o medo, em suas mais diversas
formas: medo de errar, medo do desconhecido e principalmente medo da rejeição. Algumas pessoas dizem
“tenho medo de falhar” e isso as paralisa.

3. Obstáculos intelectuais – nesse caso não há apenas a barreira do ego, mas sim dificuldades de construção
do raciocínio. Um exemplo é algum tipo de bloqueio da linguagem e conotações específicas. Por isso é tão difícil
criar um texto em uma língua que não dominamos.

4. Obstáculos culturais – muitas vezes ficamos presos à nossa própria cultura. Barreiras culturais podem
impedir o acesso a novas possibilidades de ação e de pensamento.

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5. Obstáculos ambientais – restrições de acesso, ação ou presença de outras pessoas e dificuldades


tecnológicas são exemplos de barreiras à criação que independem da ação do criativo.

Muitos dos obstáculos são atitudes de autodefesa em que o indivíduo procura evitar sentimentos ansiosos e
interrompe a criação. Às vezes, a remoção ou o afastamento dos obstáculos requer criatividade.

Mas como podemos então gerar novas ideias? De onde elas vêm? Um bom lugar para se começar é nossa
memória. Por isso, quanto mais experientes somos também maior é nosso arquivo de base criativa (SEAWARD,
2009). As ideias podem vir de diferentes recursos: livros, filmes, conversas com os amigos, posts de redes
sociais e até mesmo aquele episódio preferido da Netflix. Para sermos criativos é necessária uma postura de
abertura à experiência, um certo espírito explorador, em que deixamos de lado a censura mental e nos
tornamos curiosos à novidade.

E os grupos humanos, podem cocriar juntos?

William Isaacs, pesquisador há mais de 30 anos de grupos humanos entende que é possível promover a arte de
pensar juntos, a partir do diálogo. Segundo ele, problemas entre gerentes e funcionários, cidadãos e
autoridades eleitas e nação e nação muitas vezes derivam de incapacidade de conduzir um diálogo bem-
sucedido. O diálogo envolve aprender a abandonar as reações iniciais diante da posição de outras pessoas e
tomar consciência de um fluxo de novas possibilidades (ISAACS, 1999).

Alguns empecilhos para o bom diálogo são o excesso de preparação – chegamos prontos para falar, não para
ouvir – e o pensamento rígido a respeito dos temas a serem tratados. Pessoas que pensam e conversam com
eficácia, favorecendo o processo criativo de um grupo, possuem as seguintes qualidades:

• Escuta – Devemos ouvir não apenas os outros, mas a nós mesmos, abandonando nossas suposições,
resistências e reações.

• Respeito – Devemos permitir ideias diferentes das nossas serem expressas, ao invés de tentar mudar as
pessoas com um ponto de vista diferente.

• Observação – Devemos suspender nossas opiniões, recuar, mudar de direção e ver com novos olhos.

• Autonomia – Devemos falar nossa própria voz, sem termos agendas predeterminadas com alguém ou alguma
instituição. Encontrar a própria autoridade é também desistir da necessidade de dominar.

A CONCRETUDE DA CRIATIVIDADE
Há um certo consenso de que os indivíduos criativos, sejam eles artistas, líderes ou cientistas, têm em comum
uma ampla capacidade de observação, uma motivação e energia ímpar e às vezes uma forma particular de viver
e tomar decisões. Entende-se que seu pensamento é mais livre e menos dependente da lógica, mais inclinado
ao sonho e à fantasia.

Contrapondo em parte essa visão, o sociólogo Domenico De Masi (2003) desenhou um modelo para explicar
grupos criativos que equilibram razão e emoção, fantasia e realidade. De acordo com o autor, existem
quatro forças entre as quais a criatividade atua: a) o pensamento primário, b) o pensamento secundário, c) a
esfera emotiva e d) a esfera racional.

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O pensamento primário tem a ver com o funcionamento inconsciente da psique, em que prevalece o sonho e
algumas psicoses. Já o pensamento secundário diz respeito ao funcionamento da mente desperta e serve-se da
lógica comum. A esfera emotiva é composta de emoções, sentimentos e atitudes e a esfera racional de
conhecimentos e habilidades.

Das intersecções entre esses quatro fatores surgem as condições para a criatividade acontecer, conforme
apresentado na Figura 1. Da intersecção entre a esfera emotiva e o pensamento secundário surge a (1) área das
emoções administradas. Um exemplo dessa primeira intersecção são os diálogos em torno de nossos
sentimentos ou a dramatização em forma de arte. Da união entre a racionalidade e a mente consciente surge a
(2) área da concretude, em que as soluções e inovações tornam-se materiais e reais. Na intersecção entre
emotividade e a mente inconsciente está a (3) área da fantasia, em que os primeiros movimentos involuntários
do processo criativo podem surgir e entre a esfera racional, e no pensamento primário está a (4) área das
técnicas introjetadas, como aqueles sonhos que não servem para o campo da realidade.

Assim, entende-se que a criatividade não se caracteriza apenas pela imaginação e fantasia, mas também pelo
movimento para sua realização (concretude), ainda que na síntese do entroncamento entre fantasia e
concretude, entre emoções administradas e técnicas introjetadas instala-se a criatividade, conforme resumido
na figura a seguir.

Figura 1 | Processo criativo para De Masi (2003)

Fonte: De Masi (2003, p. 571).

Por último, vale reforçar que o movimento da inspiração e realização não é necessariamente linear. Espera-se
que toda grande criação parta de um arroubo de intuição fantasiosa para depois se planificar. Nem sempre
esse é o caso, também o inverso pode acontecer. Um exemplo de obra que partiu da concretude para a
fantasia é do auditório de Oscar Niemeyer na cidade de Ravello, na Itália. Conforme resgata De Masi (2003),

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segundo o arquiteto, na proposta de projeto já se sabia que a inclinação do terreno era irregular e estreita.
Percebendo a dificuldade da obra e o custo de aplainar o espaço, o artista aproveitou a inclinação para definir a
localização da plateia, fazendo com que essa característica servisse de ponto de partida para o desenho do
restante do projeto. 

O ENCONTRO COM O ARTISTA


A arte é uma atividade do cérebro artista e sua linguagem é a imagem e o símbolo. Por isso a linguagem do
artista é sensual, alimentada pela experiência e os cinco sentidos. Para Seaward (2009), as atividades criativas
envolvem uma combinação das funções dos hemisférios direito e esquerdo do cérebro humano. Maslow (1987)
concluiu que o processo criativo e o caminho para a autorrealização eram o mesmo. Antecedendo o
pensamento de De Masi, ele dividiu o processo criativo em duas partes: primária e secundária. A criatividade
primária é a origem das ideias: uma espécie de playground da mente em que as imagens são geradas, ainda
incipientes e não necessariamente úteis. Já a criatividade secundária é o momento do processo criativo em que
é traçado um plano estratégico para que a ideia selecionada funcione na realidade, quando ela é posta em ação.

Considerado pelo diretor Martin Scorsese como uma ferramenta valiosa para se conectar com a própria
criatividade, o livro O Caminho do Artista, de Julia Cameron, propõe uma jornada de atividades para
recuperação de nosso eu criativo. Na base de todas as reflexões, Cameron (2019) propõe duas ferramentas
para o despertar criativo: as páginas matinais e o encontro com o artista.

As páginas matinais são três páginas escritas à mão com livre associação. Simplesmente isso, sem um plano
prévio e sem necessidade de editar o texto. A intenção é liberar as preocupações cotidianas ou as histórias que
passam em nossa cabeça, de forma que sobre o espaço para a criatividade acontecer. As páginas permitem que
nos afastemos de nossos censores ou críticos internos e vão aos poucos permitindo que nos livremos de
medos, dúvidas, negatividade e outros humores que impeçam nossa ação criativa.

Todas essas coisas que lhe provocam raiva, irritação e implicância, escritas pela manhã,
são um obstáculo entre você e sua criatividade. Preocupações com o emprego, a
lavanderia, o barulho esquisito que o carro está fazendo, o olhar diferente do seu
namorado – isso tudo fica se revolvendo em seu subconsciente e enlameando seus
dias. Deixe tudo no papel. 

— (CAMERON, 2019, p. 35)

A ferramenta de encontro com o artista é um tempo, talvez duas horas por semana, reservado para alimentar a
consciência criativa e o artista interior. É uma hora “para brincar”, só que planejada com antecedência. No
momento do encontro é importante não ser interrompido. Alguns exemplos de atividades de encontro com o
artista são: uma visita a uma loja de artigos de segunda mão, um passeio na praia, assistir a um filme antigo, um
passeio no parque. São coisas que custam tempo, e não dinheiro. Conforme aponta Cameron (2019, p. 44):
“passar um tempo a sós com sua criança artista é essencial para nutri-la”. 

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Achou isso tudo interessante? Então agora é sua vez: separe um caderno específico para a sua prática criativa e
nele passe a produzir suas páginas matinais. Também uma vez ao menos por semana, por pelo menos uma
hora, garanta seu encontro com o artista, consigo mesmo.

Bons estudos e boa prática criativa! 

VÍDEO RESUMO
Em nossa aula falamos sobre os obstáculos à criatividade e de que forma os processos criativos podem ser
incentivados quando a tarefa é de um grupo de pessoas. Vamos também desmistificar algumas ideias do que
compõe a criatividade em si e compreender como a razão e a emoção podem colaborar para produzir novas
ideias. Por último, nosso convite é à prática de estratégias de resgate do artista que mora em cada um de nós.

Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.

 Saiba mais
Assista a este TED, com Marily Oppezzo:

OPPEZZO, M. Quer ser mais criativo? Faça uma caminhada. TEDxStanford, 2017.

Aula 3

HEURÍSTICAS E VIESES
Os processos de tomada de decisão; Compreendendo melhor os Sistemas 1 e 2; Heurísticas e
vieses – quando os Sistemas 1 e 2 se encontram.

22 minutos

INTRODUÇÃO
O conceito de Homo Economicus foi introduzido por John Stuart Mill no século XIX. Ele se baseia no pressuposto
de racionalidade perfeita do indivíduo, isto é, assume que somos capazes de decidir sobre questões complexas
de forma ótima. Para isso, parte-se do princípio de que seremos sempre capazes de analisar e julgar todos os
caminhos ou opções possíveis e escolher o curso de ação que trará o melhor resultado.

Embora hoje saibamos que esse indivíduo não existe, isso não quer dizer que estudar a forma como realizamos
julgamentos e tomamos decisões não seja importante. Segundo Herbert Simon, Nobel de Economia em 1978,
compreender os processos de decisão e estudar se os mesmos processos levam a boas decisões, estão entre os
tópicos de pesquisa mais relevantes na área de gestão.

Das formas de pensar aos processos de tomada de decisão, serão objetos de estudo nesta aula.

Desejamos uma excelente imersão na temática heurísticas e vieses.


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OS PROCESSOS DE TOMADA DE DECISÃO

Métodos racionais de tomada de decisão


Para muitos de nós, existe a percepção – e podemos dizer que, às vezes, a esperança – de que o processo de
tomada de decisão eficaz possa ter como base uma escolha racional, que envolve identificação, escolha e
aplicação da melhor alternativa possível. Os métodos racionais são estruturados geralmente no seguinte
conjunto de etapas, conforme Figura 1:

1. Identificar um problema ou uma oportunidade de maneira clara: por vezes, agimos sem ter um
entendimento completo do problema, o que nos leva a resolvê-lo de maneira errada.

2. Definir o método a ser utilizado: identificação e priorização de todos os objetivos por meio de critérios de
avaliação para selecionar a melhor opção considerando todos os aspectos envolvidos.

3. Desenvolver possíveis escolhas ponderadas pela utilização dos critérios: é recomendado envolver as
equipes na tarefa de atribuir peso relativo a cada problema para classificá-lo e priorizá-lo.

4. Identificar a solução otimizante: realizadas as primeiras etapas, esta resultaria teoricamente do julgamento
natural fundamentado nas anteriores, facilitando o consenso. Recomenda-se fazer previsões sobre eventos
futuros, tentando avaliar as consequências potenciais das escolhas.

5. Implementar a solução selecionada: deve-se avaliar, sempre que possível, tanto a aderência aos planos
quanto aos resultados obtidos em relação aos esperados, propondo ajustes quando necessário.

6. Avaliar a escolha selecionada: é recomendado que haja um aprendizado sobre todo o processo, incluindo
fatores não previstos durante a implantação e diferenças de resultados entre planejado e realizado, buscando-
se aprimorar métodos e critérios para processos futuros.

Figura 1 | Estrutura de métodos racionais de tomada de decisão

Fonte: adaptada de McShane e Von Glinow (2014).

McShane e Von Glinow (2014) explicam que um dos problemas com essa abordagem é que, na verdade, as
pessoas não conseguem adotar métodos racionais por terem dificuldades (ou, às vezes, falta de vontade) de
reconhecer problemas, falta de capacidade para processarem simultaneamente informações associadas a

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problemas complexos e dificuldade para reconhecerem seus limites ou situações em que suas decisões e
premissas anteriores fracassaram.

Métodos naturalistas
Os métodos naturalistas são, às vezes, a melhor opção recomendada, dada a impossibilidade de utilização de
métodos racionais em função de fatores como:

• Problemas não estruturados que dificultam abordagens racionais.

• Presença de incertezas em ambientes dinâmicos, com ciclos que realimentam o modelo a partir das primeiras
escolhas realizadas.

• Objetivos mal definidos e mutáveis.

• Pressão do tempo para tomada de decisão.

• Múltiplos participantes com conflitos de interesse e dificuldade de chegar a um consenso.

• O fato de que esses modelos não consideram de forma adequada as consequências graves para o decisor, que
talvez esteja inclinado a posturas mais conservadoras ou menos arriscadas em relação às indicadas pelos
processos racionais.

A estrutura dos métodos naturalistas é apresentada na Figura 2. Determinada situação ou problema gera
estímulos que permitem o reconhecimento de padrões adotados em situações ou casos semelhantes que já
vivenciamos. Esses padrões determinam a escolha de roteiros para ação. A resposta pode ser mais rápida ou
intuitiva ou ainda passar por ciclos de refinamento com base nos padrões mentais que utilizamos para análise e
tomada de decisão.

Figura 2 | Estrutura de métodos naturalistas de tomada de decisão

Fonte: adaptada de Yu et al. (2011).

COMPREENDENDO MELHOR OS SISTEMAS 1 E 2


Faz sentido afirmarmos que uma decisão pode ser considerada “racional” se ela produz um resultado ótimo?
Como definirmos “resultado ótimo”? Como o “comportamento” influencia a obtenção desse resultado?

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Essas eram questões que Herbert Simon, Nobel de Economia em 1978, fazia sobre o processo de tomada de
decisão. Segundo suas conclusões, era necessário reconhecer as fronteiras da racionalidade e reconhecer que
havia limitações da capacidade de análise e solução de problemas vinculadas à capacidade de acesso à
memória de longo prazo e ao aprendizado individual e coletivo.

As decisões eram influenciadas por sistemas de análise “laterais” que colocam limites na abordagem do que se
pode considerar um resultado ótimo. Essa é a origem do Sistema 1 (rápido e intuitivo) e Sistema 2 (devagar e
racional) de tomada de decisão. A evidência primária por trás dessa dicotomia veio a partir do aprofundamento
dos estudos do cérebro. Nossos dois hemisférios cerebrais exibem uma divisão de trabalho: em pessoas
destras, o hemisfério direito desempenha um papel especial no reconhecimento de padrões visuais e o
hemisfério esquerdo nos processos analíticos e no uso da linguagem, que é fundamental para processos
racionais de tomada de decisão.

Figura 3 | A lateralidade dos hemisférios cerebrais

Fonte: Shutterstock.

Daniel Kahneman (2012), matemático e psicólogo também ganhador do Prêmio Nobel em Economia em 2002,
nos apresenta com mais detalhes esses dois personagens que animam a mente:

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• O Sistema 1 opera de forma automática e rápida, com pouco ou nenhum esforço e nenhuma sensação de
controle voluntário.

• O Sistema 2 atribui atenção às atividades mentais que a exigem, incluindo cálculos complexos. As operações
do Sistema 2 são frequentemente associadas à filtros subjetivos.

Para Kahneman (2012), essas são as principais características do Sistema 1:

• Gera impressões, sentimentos e inclinações; quando endossados ​pelo Sistema 2, tornam-se crenças, atitudes
e intençõ

• Opera automaticamente e rapidamente, com pouco ou nenhum esforço e nenhuma sensação de controle
voluntário.

• Cria um padrão coerente de ideias ativadas na memória associativa.

• Liga uma sensação de facilidade cognitiva a ilusões da verdade, sentimentos agradáveis ​e vigilância reduzida.

• Infere e inventa causas e intenções.

• Negligencia a ambiguidade e suprime a dúvida.

• É tendencioso para acreditar e confirmar.

• Concentra-se nas evidências existentes e ignora as evidências ausentes.

• Gera um conjunto limitado de avaliações básicas.

• Responde mais fortemente às perdas do que aos ganhos.

Simon (1987) destaca a importância desse sistema de tomada de decisão a partir de seu estudo com grandes
mestres enxadristas, que resolvem problemas "criativamente" – de novas maneiras interessantes ou
socialmente valiosas – com base na experiência que acumularam em seu campo ao longo dos anos e fazendo
apostas calculadas com base em conhecimento superior.

Já o Sistema 2 é sujeito a heurísticas e vieses, que são atalhos de pensamento que adotamos frente a análises
de situações por demasiado complexas, em função de nossa racionalidade limitada.

HEURÍSTICAS E VIESES – QUANDO OS SISTEMAS 1 E 2 SE ENCONTRAM


Em questões realmente complexas, o Sistema 2 não é suficiente para nos ajudar a concluir por quais caminhos
seguiremos em um determinado processo de julgamento e tomada de decisão. Ou seja, os modelos racionais
utilizados não são suficientes por si só: eles são no mais das vezes utilizados como instrumentos de apoio e
análise para a tomada da decisão em paralelo com o julgamento subjetivo do Sistema 1, estando sujeitos ao
que chamamos de heurísticas, vieses e falácias, que podem ser definidos como atalhos de pensamento que
tomamos ao fazermos julgamentos e que possuem impacto na qualidade das decisões.

Destacamos aqui, como exemplo, alguns desses atalhos:

• Raciocínio por analogia – julgar uma situação com base em evento anterior similar prevendo que os
resultados serão os mesmos como consequência do mesmo conjunto de ações.
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• Âncora e ajuste – somos influenciados por um ponto de âncora inicial e não nos afastamos suficientemente
dele à medida que novas informações são fornecidas. Um exemplo são as empresas, preocupadas em impedir a
entrada de novos concorrentes a seu modelo de negócio atual, deixando de considerar o impacto das
inovações.

• Heurística de disponibilidade – estimar a facilidade de que algum evento de impacto ocorra com base na
facilidade de lembrar-se de eventos de natureza semelhante. Temos mais facilidade em dar crédito e aumentar
a probabilidade de ocorrência de eventos associados a fortes emoções ou eventos mais recentes.

• Falácia da satisfação – escolhemos as melhores opções dentro de limites de tempo, orçamento, facilidade de
acesso, etc., sem necessariamente observarmos todas as alternativas. Por exemplo, uma empresa que busca
determinada solução tecnológica solicita cotações e continua o processo de seleção até avaliar ter encontrado
uma solução satisfatória; no entanto, isso não significa que tenha optado pela solução ótima.

• Falácia da eliminação por aspectos – por exemplo, há uma quantidade muito grande de candidatos a uma
vaga de emprego, pela facilidade, eliminamos a maior parte dos candidatos pelos critérios de proximidade da
empresa e pretensão salarial para verificarmos menos currículos, que já é uma análise mais trabalhosa.
Fazendo assim, corremos o risco de deixar de lado os candidatos potenciais.

Daniel Kahneman et al. (2021), em seu mais recente livro, exploram outros atalhos comuns no meio corporativo:

• Ilusão de compreensão: construímos narrativas para ajudar na compreensão e dar sentido ao mundo.
Procuramos causalidade onde não existe.

• Ilusão de validade: analistas e especialistas tendem a sobrevalorizar suas capacidades de análise e tomada de
decisão.

• Falsa Intuição de especialista: algoritmos, mesmo os aparentemente primitivos, aplicados com disciplina
muitas vezes superam os especialistas.

• Falácia de planejamento: essa falácia aflige muitas profissões e se origina de planos e previsões que estão
irrealisticamente próximos do melhor caso e não levam em consideração os resultados reais de projetos
semelhantes.

• Otimismo e a ilusão empreendedora: a maioria das pessoas é excessivamente confiante, tende a


negligenciar os concorrentes e acredita que eles terão um desempenho melhor do que a média. 

Para Daniel Kahneman et al. (2021), nos casos de decisões complexas em organizações, é essencial que se
desenvolvam formas estruturadas de análise da qualidade das decisões tomadas, as quais sejam conduzidas
por times de pessoas que trabalhem de forma independente e sem conflito de interesse com as decisões
tomadas e seus resultados e, preferencialmente, apoiadas por métricas quantitativas da qualidade ou do riscos
associados às decisões.

VÍDEO RESUMO
Em nosso vídeo resumo, vamos explorar os processos de julgamento e tomada de decisão, incluindo as
principais características do Sistema 1 ou Intuitivo e do Sistema 2 ou Racional de tomada de decisão, bem como
as principais heurísticas, vieses e falácias as quais incorremos quando estamos apoiados no Sistema 2, mas sob
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a influência permanente do Sistema 1.

Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.

 Saiba mais
Neste TED Talk, o laureado com o prêmio Nobel e um dos precursores da Economia Comportamental,
Daniel Kahneman, explora como nossas duas individualidades, o "eu da experiência" e o "eu das
lembranças", percebem a felicidade de forma diferente e como isso impacta nossos processos de
julgamento e tomada de decisão:

KAHNEMAN, D. O enigma da experiência x memória. TED Talk, 2010.

Aula 4

APRENDENDO A APRENDER
Um café no ciclo de Kolb; O melhor jeito de aprender; Como aprender melhor.

39 minutos

INTRODUÇÃO
Será que existe um jeito certo de aprender? Nesta aula vamos conhecer o Ciclo de Kolb, que nos aponta as
diferentes formas como razão e emoção se envolvem na absorção de conhecimentos e como lidamos com o
conhecimento adquirido, se observando ou se agindo.

Em seguida, falaremos sobre as diferentes formas de aprender, a partir da Pirâmide de Aprendizagem,


considerando as metodologias ativas de aprendizagem. Por último, falaremos de algumas qualidades para se
aprender melhor.

A intenção é que ao final da aula você possa praticar métodos ativos de aprendizagem e sinta-se conectado com
os conteúdos desta aula e de outros em que esteja envolvido.

UM CAFÉ NO CICLO DE KOLB


A teoria do estilo de aprendizagem experiencial de Kolb foi criada nos anos 1980 e revolucionou a forma como
pedagogos e professores do mundo todo elaboram seus planos de ensino. Ela é representada por um ciclo de
aprendizagem de quatro estágios. Para que a aprendizagem seja facilitada, a ideia é que o aluno possa acessar
o conhecimento em cada uma das bases. Os estilos de aprendizagem de Kolb são:

Experiência concreta – uma nova experiência ou situação é encontrada, ou uma reinterpretação da


experiência existente.

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Observação reflexiva da nova experiência – permite fazer a compreensão da experiência e verificar possíveis
inconsistências.

Conceitualização abstrata – reflexão sobre o que foi aprendido, que dá origem a uma nova ideia ou
modificação de um conceito abstrato existente.

Experimentação ativa – o aluno aplica suas ideias no mundo ao seu redor para ver o que acontece.

A aprendizagem efetiva acontece quando a pessoa progride pelo ciclo de quatro estágios: (1) há uma
experiência concreta seguida por (2) observação e reflexão sobre essa experiência, que leva à (3) formação de
conceitos abstratos (análise) e generalizações (conclusões) que são então (4) usados para testar uma hipótese
em situações futuras, resultando em novas experiências.

Se em uma situação hipotética fôssemos ensinar alguém a fazer uma café percorrendo todo o ciclo de Kolb,
poderíamos: (1) começar com uma sessão de degustação de diferentes cafés, (2) refletir sobre como
absorvemos a experiência e qual café nos agradou mais, podendo inclusive escrever a respeito e depois (3)
compreender os processos de maturação dos grãos, formas de processamento e técnicas de produção para (4)
testar possibilidades alternando técnicas de moagem inovadoras, que não havíamos experimentado antes.

Mas o que pode influenciar o nosso estilo de aprendizagem?

Vários fatores influenciam o estilo de aprendizado de cada pessoa: o ambiente em que ela cresce, suas
experiências no campo educacional e mais especificamente, conforme a teoria de Kolb, sua forma individual de
pensar.

Existem dois pares de variáveis que influenciam nossa forma de aprender, duas dimensões com pares opostos:
o par pensar/sentir e o par observar/agir. Quando estamos experimentando determinada atividade (experiência
concreta) estamos pensando a respeito e quando paramos para compreender o que essa experiência causou
em nós (conceitualização abstrata), estamos no campo das emoções e dos sentimentos.

Da mesma forma, quando nos afastamos da experiência, podemos observá-la e quando já conceitualizamos o
que vivemos, podemos nos preparar para a ação. São movimentos de um pêndulo e em todas as atividades da
vida trabalhamos nesses dois continuums: um da percepção (pensar ou sentir/experiência concreta ou abstrata)
e outro do processamento da tarefa (observar ou agir/refletir ou atuar).

Figura 1 | Ciclo de Kolb

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Fonte: elaborada pela autora.

Conhecer o próprio estilo de aprendizagem permite que possamos selecionar diferentes métodos de ensino. Se,
por exemplo, somos mais sensíveis do que racionais, temos a tendência de nos afastarmos da experiência para
melhor compreendê-la. Nesse caso, atividades coletivas podem não ser as preferidas. Já se somos mais
concretos, gostamos de atuar nas atividades, não tanto de refletir a respeito delas. 

Dito isso, todos respondem e precisam do estímulo de todos os tipos de estilos de aprendizagem de uma forma
ou de outra.

O MELHOR JEITO DE APRENDER


Da base do sistema de liderança das empresas até o nível de desenvolvimento gerencial, as organizações
investem todos os anos milhões de reais em capacitação in company ou vinculada a instituições de ensino
superior, com o objetivo de preparar sua força de trabalho para os diversos desafios do mercado. Assim, seja
qual for a área de trabalho em que se atua, há uma necessidade de contínuo aprendizado, conhecido como
“forever learning”.

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Nos últimos anos, o grande desafio tem sido capturar a atenção das pessoas, uma vez que o uso de imagem e
vídeos em alta escala transformou a figura do professor em um facilitador de diferentes conhecimentos,
encriptados em diversas “mídias”. Se antes o único meio de ensino era da fala de um professor para um aluno,
atualmente as metodologias ativas de aprendizagem provocam o aluno para um maior envolvimento em seu
processo de aprendizagem.

Existe uma nova geração de alunos que é nativa digital, ou seja, foi apresentada a telas e à ampla opção de
formas de entretenimento desde seus primeiros anos de vida. Nesse sentido, embora continue sendo um
mediador da informação para torná-la conhecimento, o professor precisa incentivar o aluno a uma participação
ativa, ainda que seja sob a forma de reflexão em torno dos temas abordados, ou até, se possível, incentivando-o
a produzir e disseminar em classe o conteúdo abordado e, portanto, ensinar.

Idealizada pelo psiquiatra americano William Glasser (1998), a pirâmide de aprendizagem dá ampla ênfase às
formas de aprendizagem ativa (ver Figura 2), que dizem respeito a: discutir o que foi estudado (conversar,
perguntar, repetir, recordar, debater, nomear), praticar (escrever, interpretar, traduzir, comunicar, catalogar) e
ensinar (explicar, resumir, estruturar, ilustrar). Essas três formas ativas de aprendizagem envolvem a percepção
subjetiva do aluno, ou seja, convidam às emoções, tanto pelo entusiasmo que geram como pela interpretação
que suscitam.

Figura 2 | Pirâmide de aprendizagem de William Glasser

Fonte: adaptada de Franco, Trennenphol e Oliveira (2021).

O efeito Netflix na tomada de decisão

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Você já ficou perdido na busca pelo filme ou série ideal para assistir? Já chegou ao ponto de esgotar as opções
disponíveis de entretenimento? Na Netflix existe a opção “me surpreenda”, disponível para aqueles
expectadores realmente indecisos, que procura “zerar” o perfil existente e trazer novas possibilidades. Mas
ainda assim há aqueles que desligam a tela depois de muito tempo “zapeando”, havendo desistido de escolher.
Em seu discurso de formatura em Harvard, o orador Pete Davis (2018) chamou esse fenômeno de dificuldade
de tomar decisões e se comprometer com uma única alternativa de “mantenha minhas opções em aberto” e
disse que é o típico estado mental que caracteriza toda uma nova geração de trabalhadores.

A dificuldade de tomar decisões afeta diretamente na capacidade de aprender. Isso porque seja qual for o tema
que desperte nosso interesse, é preciso comprometimento com o que estamos lendo, ouvindo ou escrevendo
de forma a produzir aquele sentimento de “a-há” que caracteriza a produção de sentido e, por consequência, a
aprendizagem. É preciso também paciência para passar por trechos não tão interessantes, não tão
envolventes, para que em algum momento o conteúdo possa ser todo absorvido por nossos canais cognitivos.

COMO APRENDER MELHOR


Com a mudança nos modelos de carreira, já a partir dos anos 1990, tornou-se crucial que tenhamos
compromisso com nossa aprendizagem, buscando cursos e qualificações que possam fornecer novas
competências ou aperfeiçoamento das habilidades que já possuímos.

Mas o que pode facilitar nosso processo de aprendizagem? Como podemos aprender melhor?

Algumas variáveis importantes para considerarmos são o tipo de curso certo, o currículo dos professores, a
solidez da instituição de ensino, a abordagem metodológica. Mas talvez a variável mais importante não seja o
curso em si e sim a postura de quem busca, ou seja, a qualidade do aluno.

Diretor de Recursos Humanos de uma instituição financeira, Kehoe (2018) estudou o comportamento de alunos
de cursos on-line. Quatro hábitos que contribuem para aprendermos novas habilidades:

Concentre-se em habilidades emergentes – no lugar de se inscrever no curso mais famoso e badalado, é


preciso ficar atento àqueles requisitos de trabalho que estão evoluindo rapidamente.

Nos anos da pandemia, por exemplo, as habilidades ligadas à produção e edição de vídeo passaram a ser
extremamente valorizadas, não apenas por profissionais liberais, mas também por organizações que
precisaram gravar suas reuniões e treinamentos e disponibilizar em rede.

A dica de Kehoe é ficar atento a ofertas de emprego recentes e mapear que tipo de qualificação está surgindo
ou conversar com líderes e perguntar que tipo de habilidade eles consideram importante para tornar um
candidato viável.

Conecte-se com seu curso – vivemos uma época de amplo crescimento da aprendizagem on-line. A vantagem
de assistir às aulas quando e onde for conveniente, com um custo reduzido, torna essa opção muito atraente. O
problema é que as experiências assíncronas costumam ser solitárias, causando perda de motivação e queda na
aprendizagem. Nesse sentido, prefira formações que permitem algum momento de troca síncrona. Caso isso
não seja possível, defina atividades de rotina para repassar os conteúdos ou estudar com olhar renovado o que
foi abordado.

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Implemente o aprendizado imediatamente – aplicar os conhecimentos aprendidos de forma imediata


permite completar o ciclo de aprendizagem, facilitando a memória e melhorando a absorção dos
conhecimentos. O contrário também ocorre: se deixamos por muito tempo um conteúdo sem uso, é altamente
provável que venhamos a esquecê-lo.

Defina objetivos claros – para manter o foco na aprendizagem, é necessário te objetivos de médio e longo
prazo – um novo emprego, uma promoção na carreira, uma chance de fazer parte de uma grande equipe. Saber
que o que aprendemos pode contribuir com nossa carreira, melhora nosso envolvimento com o que é
ensinado.

Isso tudo dito, vamos aproveitar para favorecer o aprendizado de nossas aulas. Responda as seguintes
perguntas e reflita sobre sua forma de aprender:

• A que competências de mercado os temas abordados em nossas aulas atendem?

• Que assunto abordado merece um segundo olhar em seus estudos pós-aulas?

• Como é possível aplicar os conhecimentos adquiridos em sua rotina?

• A que objetivos de médio prazo ou de carreira essa disciplina corresponde?

VÍDEO RESUMO
Em nossa aula falamos sobre o ciclo de Kolb e como nossa razão e emoção atuam enquanto absorvemos novos
conhecimentos e praticamos novas habilidades. Em seguida, vamos falar sobre as melhores formas de
aprender, conhecendo atividades que fazem parte de metodologias ativas de aprendizagem. Por último, vamos
compreender como o aluno pode ser parte do processo, envolvendo-se com o que é ensinado e aplicando seus
novos saberes em sua carreira

Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.

 Saiba mais
Assista ao discurso de formatura de Pete Davis em Harvard.

GRADUATE Speaker Pete Davis | Harvard Commencement 2018. Harvard, 2018. Publicado pelo canal
Harvard University. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=qHMHK4i_oLg. Acesso em 25 jan.
2022.

RESUMO DA UNIDADE

Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.

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REFERÊNCIAS
7 minutos

Aula 1
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Aula 2
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FRANCO, P.; TRENNENPHOL, V. L.; OLIVEIRA, T. D. Inovação e Educação: A sala de aula invertida como
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