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Algumas considerações sobre a

teoria de Vigotsky e o processo


de aprendizagem na velhice
Tendo por base o desenvolvimento do indivíduo como
resultado de um processo sócio-histórico, enfatizando
o papel da linguagem e da aprendizagem nesse
desenvolvimento, sendo essa teoria considerada
histórico-social.
24/08/2010 - por Michelle Clos na categoria 'Artigos'

Fonte:
http://portaldoenvelhecimento.org.br/noticias/artigos/algumas-consideracoes-sobre-a-teoria-de-vigotsky-e-o-pro
Lev S. Vygotsky (1896-1934), professor e
pesquisador foi contemporâneo de Piaget. Construiu sua
teoria tendo por base o desenvolvimento do indivíduo
como resultado de um processo sócio-histórico,
enfatizando o papel da linguagem e da aprendizagem
nesse desenvolvimento, sendo essa teoria considerada
histórico-social. Sua questão central é a aquisição de
conhecimentos pela interação do sujeito com o meio.
As concepções de Vygotsky sobre o processo de
formação de conceitos remetem às relações entre
pensamento e linguagem, à questão cultural no processo
de construção de significados pelos indivíduos, ao
processo de internalização e ao papel da escola na
transmissão de conhecimento, que é de natureza
diferente daqueles aprendidos na vida cotidiana. O
mesmo apresenta uma visão sobre a formação das
funções psíquicas superiores como internalização
mediada pela cultura.
Vygotsky necessita ser compreendido a partir de
seu contexto histórico. Também contemporâneo de
Marx viu no coletivo, respostas que atendiam seus
anseios sobre como a linguagem se desenvolve.
Assim, busco nesta base
teórica sobre o processo de
aprendizagem e desenvolvimento,
subsídios para compreender
como se dá o processo de
aprendizagem na velhice, e de
algum modo, assim como o
desenvolvimento humano é
contínuo, os processos de
aprendizagem e a assimilação
também são. Os idosos
por serem sujeitos já
amadurecidos biologicamente têm
algumas peculiaridades na forma
como aprendem.
Aprendem não apenas como
se comunicar, mas o que e de que
modo querem se comunicar.
Enfim, de acordo com Vygotsky é
a relação com o meio que
favorece o aprendizado, inclusive
pela questão cultural. A cultura
também é o meio no qual o
processo de aprendizagem se
estabelece.
A cultura fornece ao indivíduo os sistemas simbólicos de
representação da realidade, ou seja, o universo de
significações que permite construir a interpretação do
mundo real. Ela dá o local de negociações no qual
seus membros estão em constante processo de
recriação e reinterpretação de informações, conceitos
e significações.

O processo de internalização é fundamental


para o desenvolvimento do funcionamento
psicológico humano. A internalização envolve uma
atividade externa que deve ser modificada para
tornar-se uma atividade interna, é interpessoal e se
torna intrapessoal.
O idoso internaliza as formas culturalmente
dadas numa dimensão diferente, uma vez que traz
consigo o referencial e uma bagagem acumulada ao
longo da vida. O funcionamento psicológico daquele
que toma conta da própria finitude na medida em que
envelhece faz com que tenha condições de escolher
com mais sabedoria (ou não) aquilo que deseja
aprender e aquilo que não tem interesse em saber
Isso tem uma dimensão social ampla, e se
fundamenta no contexto sócio-histórico de modo que
possibilita analisar a si próprio, perceber os próprios
erros e corrigir-se. Erros que são percebidos através
de um conceito que perpassa o social, a moral, enfim,
o conceito que define o certo e o errado é
determinado pelo contexto social vigente.
Vygotsky também fala da aprendizagem como elemento fundamental ao
desenvolvimento e que ambos os processos são interdependentes. No contexto do
idoso é necessário um esforço para enxergar que esse sujeito está se
desenvolvendo e não como alguém que já não tem mais o que fazer. No mundo
contemporâneo e em decorrência do pensamento capitalista e da globalização
econômica e cultural, o idoso vem sendo percebido como excedente. Todavia existe
um esforço global para que este conceito errôneo seja desmistificado, uma vez que a
produção neste estágio de vida não se perde, apenas se transforma
É com esse entendimento que, gradualmente, vem se ampliando as atividades
de lazer, de cultura, esportivas, educacionais e de saúde para dar suporte as novas
demandas dessa faixa crescente da população.
E esse processo de transformação de conceitos deveria motivar o idoso da
atualidade a continuar seus processos de aprendizagem, de internalização dos
acontecimentos de percepção da própria subjetividade. De acordo com Vygotsky,
aprender é um processo complexo que envolve estruturas complexas. O idoso tem
maior parte de suas estruturas complexas amadurecidas, contudo só isso não
garante os processos de aprendizagem. A condição cognitiva, definida pelo autor
como “funções mentais” – pensamento, memória, percepção e atenção –
biologicamente podem ser alteradas no processo de envelhecimento humano.
Enfim, a interação social e a linguagem são elementos fundamentais para o
desenvolvimento. Nesse sentido Vygotsky define dois níveis de desenvolvimento, o
real e o potencial. No primeiro considera-se aquilo que ao sujeito já sabe, o que já
conseguiu aprender e no segundo nível, aquilo que o sujeito tem potencial para
aprender.
Entres estes dois níveis existe um espaço chamado de Zona de
Desenvolvimento Proximal, que é onde o aprendizado de fato acontece através da
mediação de outro sujeito. Ou seja, é nessa distância em que se trabalha aquilo que
o sujeito sabe e aquilo que ele é capaz de aprender sob orientação e estimulo de um
outro sujeito.
Portanto este autor entende que o sujeito não é apenas ativo, mas interativo, que a
construção do aprendizado inicia de fora para dentro e esta relação é sempre mediada pela cultura
e relacionada ao desenvolvimento mental superior.
Vygotsky vê o sujeito em sua completude o e a partir de conceitos individuais. Diz que o
sujeito aprende a significar tudo aquilo que o cerca a partir de sua capacidade de compreensão e
da mediação com a cultura. Assim, na minha prática profissional, acredito no idoso como um
sujeito em sua totalidade, que não depende apenas de seu potencial genérico para aprender, mas
é a todo o momento influenciado na mediação sociedade e sujeito.
Acredito que se vygotsky tivesse vivido mais anos, talvez tivesse buscado compreender a
velhice também como uma fase de aprendizado, observando o que fica mais vulnerável no
complexo sistema do corpo humano e que de modo direto afetaria nos processos de internalização
e nas funções mentais.
Símbolos, linguagem, significados, sentido, são termos comumente encontrados no
pensamento deste autor. Aqui é interessante mencionar o que Vygotsky entende por significado e
sentido, para compreendermos uma pequena parcela daquilo que o mesmo buscava desvendar no
que se refere à linguagem.
Assim, velhice tem como significado uma etapa de vida que acontece mais ao fim do ciclo
de vida humano. Contudo para parte dos idosos institucionalizados o sentido da velhice é
depreciativo, decadente, triste; enquanto para idosos que residem com familiares a velhice pode
também ter o sentido de continuidade, experiência e sabedoria.
Assim, para realizarmos uma aprendizagem eficiente e eficaz é necessário que
compreendamos qual o sentido atribuído pelo sujeito a determinado signo. A família é o
ambientem mais propicio para a realização de trocas e aprendizagem simbólica e afetiva. Contudo
se a família não se faz presente e ativa devemos buscar substitutos equivalentes.
Enfim, quando buscamos subsídios para entender a prática psicopedagógica em espaços
fora do âmbito escolar, nos defrontamos com um desafio: a produção de conhecimento e a busca
por dados novos sobre outras situações.
Relacionar as idéias de Vygotsky num cotidiano profissional no qual os sujeitos envolvidos
têm mais de 60 anos é uma tarefa estimulante e delicada. Mas este processo é importante quando
se busca ampliar os horizontes da prática profissional do psicopedagogo.
Entender que na infância o sujeito vai se constituindo e se construindo em
todos os aspectos é de fácil aceitação, assim como é tranqüila a compreensão de que
a criança é aquela que necessita aprender a viver em sociedade. Contudo não parece
simples a compreensão de que o velho não pára de aprender, mas recicla e renova as
formas de assimilação e captação de informações.

Assim, para realizarmos uma aprendizagem eficiente e eficaz é necessário que


compreendamos qual o sentido atribuído pelo sujeito a determinado signo. A família é
o ambientem mais propicio para a realização de trocas e aprendizagem simbólica e
afetiva. Contudo se a família não se faz presente e ativa devemos buscar substitutos
equivalentes.
Enfim, quando buscamos subsídios para entender a prática psicopedagógica
em espaços fora do âmbito escolar, nos defrontamos com um desafio: a produção de
conhecimento e a busca por dados novos sobre outras situações.
Relacionar as idéias de Vygotsky num cotidiano profissional no qual os sujeitos
envolvidos têm mais de 60 anos é uma tarefa estimulante e delicada. Mas este
processo é importante quando se busca ampliar os horizontes da prática profissional
do psicopedagogo.
Entender que na infância o sujeito vai se constituindo e se construindo em
todos os aspectos é de fácil aceitação, assim como é tranqüila a compreensão de que
a criança é aquela que necessita aprender a viver em sociedade. Contudo não parece
simples a compreensão de que o velho não pára de aprender, mas recicla e renova as
formas de assimilação e captação de informações.
Falar em potencial e real, bem como de zona proximal é
entender que esta é uma dinâmica contínua na vida dos sujeitos de
todas as idades. Toda via o idoso nem sempre necessita de alguém
“mais velho”, mas de alguém com um conhecimento diferente
daquele que o mesmo construiu ao longo da própria vida. Aprender
(com) e ensinar seus iguais é uma constante na vida daqueles que
se relacionam com outros idosos. No contexto social brasileiro atual
ouso dizer que o idoso luta diariamente para ressignificar sua
existência, contudo, os conceitos cristalizados na história destes
sujeitos dificilmente serão modificados, uma vez que já construíram
bases sólidas nos processos mentais superiores.
Outra peculiaridade na realidade do idoso são as doenças
degenerativas neurológicas. A doença de Alzheimer, por exemplo,
atinge no cérebro o campo específico da linguagem e da memória,
de modo que o idoso passa a perder gradualmente a capacidade
de escrita, fala. Outras demências também afetam o idoso, todavia,
nenhuma destas situações os incapacita para a linguagem
universal do afeto.
Enfim, Vygotsky traz uma belíssima contribuição à sociedade,
na medida em que busca conhecer e explicar os caminhos que a
mente humana faz para aprender e se desenvolver. Esta é uma
pequena reflexão ante o imenso universo de conceitos, idéias e
contribuições deixadas por Vygotsky.
Obras consultadas
• ESSA, V. H. Teorias de Aprendizagem. Curitiba: IESDE,
2006.

• TAILLE, Y.; OLIVEIRA, M. K.; DANTAS, H. Piaget,


Vygotsky, Wallon: Teorias Psicogenéticas em discussão.
18. ed. São Paulo: Summus, 1992.

• ZACHARIAS, V.L. Vygostsky e a educação. Disponível


em:
http://www.centrorefeducacional.com.br/vygotsky.html.
Acesso em: 17 fev. 2007.

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