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RETÓRICA
“A Retórica não diz respeito a todos os discursos: apenas àqueles que visam
persuadir – incluindo, por exemplo, os tratados de filosofia, os manifestos, o
sermão, o cartaz, o ensaio, a demonstração de vendas, entre muitos outros.
Porém, em potência, qualquer atividade discursiva pode assumir um potencial
persuasivo e retórico como poemas, comédias, filmes, anúncios de televisão,
softwares ou jogos de computador” (Mateus, 2018: 21).
RETÓRICA – O QUE É?
Deste modo, a Retórica é criticada por Platão, no seu texto sobre a retórica e
sofística Górgias. Este diz-nos que a Retórica é a “(…) arte de agradar e,
consequentemente, levar-nos a fazer coincidir a Retórica com a mera adulação,
corrupção ou manipulação.” (Platão in Mateus, 2018, p. 19).
BOA E MÁ RETÓRICA
A Boa Retórica
Para Meyer (in Mateus, 2018), esta é considerada uma “retórica branca” ou
“transparente”, uma vez que é uma retórica que utiliza argumentos para criar uma
problemática e questões e, depois disso, atingir um desfecho que beneficie todas as
partes envolvidas nesse discurso.
Por fim, esta boa retórica separa-se do que é artificial, estimulando a criticidade do
próprio auditório, tornando-a numa “retórica franca”, como diz Samuel Mateus (2018,
p. 35).
A Má Retórica
Para Meyer (in Mateus, 2018), esta é considerada uma “retórica negra”, uma vez
que tem como objetivo aproveitar-se e escarnecer as suas ideias, fazendo com que as
suas ideias e discursos, desprovidos de verdade, pareçam plausíveis.
É uma retórica apodítica e convincente, uma vez que visa alterar o assentimento e
consentimento, ofuscando o interlocutor – os seus interesses e desejos - ao oferecer uma
visão absoluta e incontestável de uma ideia. “Cega-o com o deslumbre de uma
veemência que se auto-impõe.” (Mateus, 2018, p. 34). Nesta retórica, o orador é trocado
por um manipulador, uma vez que procura impor a sua perspetiva acerca do mundo.
Por fim, esta má retórica é uma armadilha ao auditório, sendo, consequentemente, uma
retórica artificiosa, como nos diz Samuel Mateus (2018).
Em terceiro lugar, a Retórica é observada como uma área científica, visto que “é
dotada de um campo autónomo de observação – os efeitos da linguagem e do discurso”
(p.37), em que importa compreender as estratégias utilizadas pelo orador na sua prática
discursiva. Estes fenómenos observados podem ser classificados e organizados e,
enquanto disciplina científica, a Retórica contempla os seus próprios centros de
investigação, publicações científicas e associações. Tendo em conta a sua natureza
prática, a Retórica permite estudar o poder da linguagem utilizado pelo orador no efeito
de persuadir, bem como os efeitos contraídos dessa mesma prática discursiva
persuasiva. Um mesmo discurso pode dar origem a uma diversidade de abordagens e de
efeitos, mediante o objetivo principal da retórica utilizada. Enquanto que num anúncio
publicitário o foco assenta em decifrar o que as imagens pretendem transmitir (Retórica
Visual), enquanto que por exemplo em discursos políticos o que importa analisar são as
estratégias implementadas pelo político, os valores que partilham, a sua postura, a forma
como tenta influenciar o seu auditório. O autor remete à designação de “ciência” da
oratória, ou seja, esta disciplina é científica na medida em que o termo “ciência” é
aplicado sob forma técnica, essencialmente como técnica discursiva “dotada de um
conjunto de problematizações e modos de investigação distintos, e organizada numa
disciplina autónoma do estudo dos fenómenos da persuasão” (p.38).
Planeamento
Persuasão
Orientação para o auditório (Adaptabilidade de discurso)
Despoletar mudanças de pensamento e comportamento (Criar necessidade de
serem o que ouvem)
Conclusão
A Retórica…
Nascimento da retórica
• A população siciliana reclamou os seus bens iniciando uma guerra civil à qual se
seguiram imensos conflitos em Tribunal. Ainda não existiam advogados,
começaram a surgir pessoas capazes de mobilizar multidões e, através da sua
eloquência, convencê-las do que seria adequado fazer. Rapidamente essas
pessoas começaram a vender e a ensinar o seu conhecimento prático (Meyer et.
ali., 2002: 26).
Primeiros professores
• Empédocles de Agrigento, Córax e Tísias. Córax, discípulo de Empédocles, é o
autor, juntamente com Tísias, de uma arte oratória (tekhné rhetoriké) onde
apresenta um método e regras – artem et praecepta – para o desenvolvimento
das reuniões públicas: coleção de princípios básicos e formas exemplares que
ensina os pleiteantes a serem convincentes quando recorrem à justiça (como
reivindicar).
Os sofistas
• O ensino da nova arte oratória alastrou-se desde a Sícilia até outras cidade-
estado gregas através dos professores de Retórica (retores) e dos profissionais da
oratória pagos para defender causas (Sofistas).
Spin doctor
• Alguém cujo trabalho é fazer com que ideias, eventos, etc. pareçam melhores do
que realmente são, especialmente na política. (Cambridge Dictionary)
Reabilitação da Retórica
1. A Retórica, não pelo seu poder – como a Sofística – mas pela sua utilidade:
ferramenta com que a razão se dota para discursar publicamente. A Retórica
como uma arte legítima, ainda que os seus usos possam ser desonestos.
Aristóteles descreve a Retórica em termos de defesa pessoal: é absurdo que
apenas ensinemos às pessoas a defenderem-se fisicamente (as artes marciais) e
não as eduquemos na defesa pessoal das suas ideias e convicções através do
discurso e da razão (a arte retórica).
Uma boa argumentação deve ser tão completa e autossuficiente quanto possível: o
orador deve expor os seus dados, antecipar uma possível refutação e,
concomitantemente, qualificar a sua conclusão e reforçar a sua garantia por meio de
apoios. Toulmin se concentra nas tentativas quotidianas de provar, fornecer razões e
justificar motivações privilegiando o que chama de “argumentos práticos”, não se
preocupa com os auditórios ou com o orador (ethos): só a linguagem conta.
Nova retórica
• Fundamentação dos juízos de valor (“o que nos permite afirmar que isto é
justo e aquilo não é bom”?) assente, não na evidência, demonstração ou em
princípios universais, mas na argumentação em situações práticas nas quais um
assunto não se apresenta de forma unívoca e indubitável, e por isso é regido
somente pelo verosímil.
Depois de determinado o género retórico, o orador deve decidir que modelo ou registo
empregará na criação dos argumentos.
Todos os homens são mortais; os portugueses são homens. logo, os portugueses são
mortais.
• O orador faz o auditório sentir determinada comoção, mais do que mostrar que a
sua proposta é lógica e racional.
• Estimular as emoções que irão influenciar a forma como determinado tópico
será apreciado e julgado.
• Emoções como medo, raiva, vergonha ou piedade podem ser usadas como
provas artísticas capazes de despertar impressões persuasivas.
• Apesar do pathos contrastar com o logos, estas provas artísticas não se excluem
mutuamente: complementam-se.
• São uma outra forma de levar ao convencimento através, não da sobriedade das
palavras e da razão, mas da espontaneidade dos sentimentos.
• Inspirar a confiança necessária para que o auditório acredite nele e, assim, escute
com atenção redobrada, aquilo que lhe diz.
• Carácter moral que o orador aparenta possuir e que deseja colocar ao serviço do
seu auditório.
• Muitas vezes vamos assistir a uma conferência ou a uma peça de teatro devido à
autoridade e credibilidade do orador ou do encenador.
• Pode levar o auditório a ouvir o orador mas não é suficiente para o cativar e para
o persuadir.
Conclusões:
• As três provas artísticas são técnicas que atingem os melhores efeitos quando
são utilizadas de forma complementar e interdependente.
• Nem sempre precisaremos de utilizar estas três técnicas no mesmo discurso. Mas
fazê-lo é alargar o campo da persuasão desde o carácter moral, passando pelo
despertar das emoções até à racionalidade daquilo que se apresenta perante o
auditório.
O Sistema Retórico – CÂNONES RETÓRICOS - aula nº6
- 2º: decidir de que forma serão apresentados e com que encadeamento (disposição).
- 4º: conhecer em profundidade o assunto sobre o qual se vai falar e dominar o seu
discurso (memória).
- 5º: fazer uma proferição efetiva do discurso 8audível, claro, uso de gestos, linguagem
corporal, etc.) (ação).
OS CÂNONES RETÓRICOS:
- Cada uma das divisões retóricas constituem tarefas que devem ser cumpridas pelo
orador sob pena do seu discurso ser irrelevante, confuso, pobre e mal escrito,
interrompido ou inaudível (Mateus, 2018: 114).
- Estas divisões são, pois, elementos centrais da técnica retórica e deles depende o
sucesso que, na prática, os discursos possuirão (Mateus, 2018: 114).
- Um discurso cujo orador seja muito com a colocar a vos e a entoá-la, mas que, todavia,
apresente ideais frágeis, mas desenvolvidas e inconsequentes não terá o mesmo sucesso
do orador que for capaz de conjugar todas estas tarefas de acordo com os cânones
retóricos (Mateus, 2018: 114).
- Propôs esta divisão no tratado De Inventione sabendo, embora, que outros retores
do seu tempo já a utilizavam, no entanto, Cícero realizou a sua sistematização.
INVENÇÃO (inventio):
- O orador interroga-se sobre os aspetos mais importantes que devem ser aludidos no
discurso de acordo, naturalmente, com o género e as provas artísticas mais
convenientes, previamente definidas por si (Mateus, 2018: 115).
- Nesta fase, ele (orador) procura encontrar ‘aquilo que irá dizer’, num duplo sentindo:
literal e figurado (Mateus, 2018: 115).
- Sentido figurado, porque orador deve achar o fio do discurso e a sua essência. Ao
procurar ‘aquilo que irá dizer’, o orador terá de encontrar a tese que deverá estar em
tudo aquilo que ele invoque (Mateus, 2018: 116).
Sentido literal (pág. 116):
É uma operação que visa extrair da realidade os tópicos mais convincentes para
o exercício retórico e de os colecionar com vista a convencer o auditório.
Neste sentido de inventário, a invenção é uma ação de descoberta das provas que
melhor se adequem aos objetivos do orador.
A invenção dá-se, pois, entre uma inventariação que descobre, e a invenção que
criativamente consagra os argumentos que sustentarão a defesa da tese do orador
(Mateus, 2018: 116).
DISPOSIÇÃO (dispositivo):
- Não podemos ter esqueleto-base ou disposição sem termos os elementos que irão
compor esse esqueleto.
- Exórdio:
Parte que inica o discurso e que visa preparar o auditório para ouvir a tese
do orador.
Assume uma aparência objetiva, organizada e clara, ainda que ela seja sempre
orientada para as necessidades retóricas do orador.
- Confirmação:
ELOCUÇÃO (elecutio):
- Uma boa elocução é aquele que conjuga língua e estilo como adjuvantes da
argumentação.
- Os argumentos podem ser bons, mas se são proferidos de forma pouco exta ou
erradamente, o auditório dificilmente aceitá-los-á.
- A retórica literária influenciou bastante a elocução dando valor a uma prosa rica e
variada, digna de rivalizar com vivacidade da poesia.
- Uma boa elocução irá dar imagens mentais vívidas nas quais a escolha das
melhores palavras sem ambiguidade, o ritmo de prenuncia, os desvios alegóricos, as
figuras de estilo empregues e a construção frásica não são apenas adereços, mas a
expressão fundamental da correção do pensamento.
- Cícero, em especial, identificou 3 estilos principais que alimentam a elocução:
MEMÓRIA (memoria):
- A memória era o cânone que tornava possível ao orador navegar pelo mar da sua
argumentação sem se perder.
- A maioria dos auditórios prefere um orador que discurse livremente sem se ater
aos seus apontamentos. Os auditórios não apreciam os oradores que se limitam a ler
os discursos previamente preparados.
Todavia, o problema, nestes casos, é que os discursos foram escritos para serem
lidos e não para serem objeto de desempenho oratório. A sua leitura costuma,
assim, ser fastidiosa e monótona.
- Quem é o orador? – o orador não é somente uma voz, mas é também é o mestre de
cerimónias do exercício retórico: voz, mas também corpo. É ele que torna viva a
palavra morta do discurso.
- A memória opera como uma função primordial que torna possível todos os outros
cânones, ou seja, permite ao orador lembrar-se dos argumentos inventados, da sua
ordem e do estilo que decidiu explorar nos mesmos.
- A memória é ainda, uma parte essencial dos cânones retóricos e um elemento que
todo o orador moderno não deve negligenciar. Confere ao orador fluência,
naturalidade e loquacidade.
AÇÃO (pronuntiatio):
- Deve ainda, atentar na forma como usa todo o material de elementos não verbais
como a linguem corporal, postura, os usos da gestualidade, as expressões faciais ou a
aparência física.
Dominar a ação.
- O orador é um ator quando age de forma a parecer aquilo que quer fazer
parecer.
- A ação é relevante para o orador, porque lhe permitirá ser coerente entre aquilo que
afirma e o modo como se comporta acerca daquilo que declara.
- O orador tem de ser aquilo que quer do auditório. A variedade do tom de voz, o
ritmo da respiração e a rigidez da sua linguagem corporal, tudo tem de estar de acordo
com o momento da argumentação e de acordo com o efeito pretendido no auditório.
Acordo prévio
• O Acordo sobre o Real define e delimita aquilo que orador e auditório entendem
como real.
• Factos: imposição geral cuja verificação pode ser realizada por todos, e que se
impõe ao auditório pela sua universalidade. Circunstância que o auditório
entende como facto. Por vezes é uma crença que se impõe de forma
generalizada.
Formas Argumentativas
• Falácias
• Exemplo: visa passar do particular para uma generalização. Olha para cada
situação como sendo o reflexo de um contexto maior. Narrar o “sonho
americano” onde imigrantes chegam sem nada e conseguem vingar profissional
e socialmente, é também revelar a hipótese de outros o conseguirem igualmente.
Possibilidade de um sentimento positivo se poder estender, desde a pessoa a
quem se toma o exemplo, até aos membros do auditório.
• Modelo: é um exemplo oferecido ao auditório como digno de imitação ou de ser
seguido. Pede-se aos jovens engenheiros informáticos que olhem para Bill Gates
ou que os jovens jogadores adotem a postura de vida de Cristiano Ronaldo. O
anti-modelo afirma um argumento ao contrario.
• Ilustração: exemplo (pode ser fictício) cuja tarefa não é provar uma regra,
como no exemplo, mas relembrar o exemplo de forma a que ele ganhe
intensidade na mente do auditório. Torna alguma coisa mais concreta
permitindo-lhe, não apenas expor um ponto mas mostrar o que ele significa.
• Apelo ao medo: Falácia que se baseia em gerar (de forma exagerada, prejudicial
ou injustificada) medo e receio no auditório. “Se não se fizer nada, qualquer dia
não há comida nos supermercados”
A renovação da retórica ocorre a partir de meados do séc. XX: numa razão argumentativa que defende,
não a verdade, mas uma razoabilidade plausível.
A Retórica que renasce no Séc. XX e se afirma em pleno séc. XXI já não é exatamente a mesma
técnica retórica que herdámos da antiguidade clássica: ainda está ao serviço da persuasão, no entanto,
persuadir na época da comunicação de massas, é bastante diferente da persuasão que o orador clássico
mobilizava face-a-face com o seu auditório…
Retórica hoje
• Os três géneros oratórios sofrem uma abertura que os remodela ao mesmo tempo que a Retórica
vai anexando todas as formas modernas do discurso persuasivo.
• A Retórica deixa de ser encarada somente como persuasão discursiva verbal: estudo da
persuasão para lá da palavra (como a imagem ou o cinema), e incluir a comunicação não-verbal
(para-linguística, proxémica e quinésica).
Retórica Mediatizada
Técnica da persuasão que não se limita à oratória nem ao orador frente ao seu
auditório, mas que engloba a persuasão realizada (e potenciada) por intermédio
dos Media.
Mediatização da Retórica
Retórica Mediatizada
2. Esta possibilidade do orador discursar uma vez e endereçar uma única preleção a
múltiplos auditórios em tempos e lugares distintos, tem implicações sérias nos
próprios princípios da Retórica: em vez de existir uma adequação, e
adaptação do orador ao seu auditório, há somente uma reprodução
padronizada de um discurso originalmente singular que depois se massifica
em torno de audiências anónimas e estereotipadas. A persuasão é
tendencialmente organizada em torno da massificação e padronização do
discurso.
Ciências da Comunicação
Meios de comunicação: não são apenas elemento adicional, mas elemento central que refaz e
reformula as relações dos restantes elementos entre si. A relação do orador com o seu auditório
é substancialmente alterada e a própria mensagem é modificada de acordo com o meio em que é
proferida.
Retórica mediatizada
Audiências:
Retórica Digital
A expressão “Retórica Digital” foi proposta por Richard A. Lanham, em 1989, na conferência “Digital Rhetoric:
Theory, Practice, and Property” e desenvolvida no livro “The Electronic Word: Democracy, Technology, and
the Arts” (1993).