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Fonte: Mateus, Samuel (2018).

Introdução à Retórica no século XXI

O QUE É A RETÓRICA? – aula nº1

 Comunicação: fenómeno relacional com dois polos, emissor e recetor, seja na


comunicação interpessoal ou mediatizada.
 A retórica desempenha um papel central na comunicação.

RETÓRICA

 Disciplina que estuda o modo como comunicamos persuasivamente com os


outros.
 Atividade persuasiva que procura influenciar e moldar a forma como alguém
perspetiva ou age sobre determinado assunto.
 Técnica e prática que nos ensina a tornar aquilo que dizemos mais decisivo e
categórico.

A retórica é a arte de bem falar e demostrar loquacidade e expressividade diante de um


auditório com o objetivo de ganhar a adesão para a sua causa. Nota-se uma enfâse na
oralidade e implica-se um carácter argumentativo na medida em que a adesão se baseia
na apresentação discursiva e racional de teses devidamente justificadas perante uma
situação de indefinição. (Quintiliano)

A capacidade de descobrir o que é adequado a cada caso com o fim de persuadir.


(Aristóteles)

A retórica expressa de forma clara, ornamentada (sempre que necessário) e integral –


mas também persuasiva – as verdades que o pensamento descobriu cuidadosamente. A
eloquência é, assim, uma qualidade ao serviço da retórica enquanto método de buscar o
conhecimento e a verdade. (Santo Agostinho)
 A Retórica é a arte de persuadir pelo discurso. Por discurso não entendemos
apenas a realização concreta e irrepetível da linguagem verbal – escrita ou oral
constituída por uma sequência de frases contendo uma unidade de sentido. Nem
discurso é, estritamente, uma exposição pública de um dado assunto. Pelo
contrário, a palavra “discurso” admite compreensões mais alargadas que incluam
não apenas elementos verbais, como elementos não-verbais e visuais.

 “A Retórica não diz respeito a todos os discursos: apenas àqueles que visam
persuadir – incluindo, por exemplo, os tratados de filosofia, os manifestos, o
sermão, o cartaz, o ensaio, a demonstração de vendas, entre muitos outros.
Porém, em potência, qualquer atividade discursiva pode assumir um potencial
persuasivo e retórico como poemas, comédias, filmes, anúncios de televisão,
softwares ou jogos de computador” (Mateus, 2018: 21).

 “A Retórica tem assim um amplo espectro de aplicação desde o vendedor que


desejar persuadir o potencial cliente a comprar aquele modelo de automóvel,
passando pelo médico que tenta convencer o paciente a adotar uma determinada
terapêutica, até ao candidato político que deseja o apoio da Opinião Pública para
a sua política externa. A Retórica assim definida não é uma arte esquecida ou
obsoleta. Nem uma técnica Antiga que se resgata por motivos históricos,
filosóficos ou filológicos. É uma arte eminentemente comunicativa, inerente ao
homem enquanto ser social”. (Mateus, 2018:21)

FUNDAMENTOS DA RETÓRICA: ATRIBUTOS E CARACTERÍSTICAS – aula nº2

RETÓRICA – O QUE É?

A Retórica é uma prática racional e um método que dirige a persuasão, gerando


resposta por parte do auditório. A natureza da adesão do auditório teve uma leve
polémica ao longo da história desta disciplina. 

Deste modo, a Retórica é criticada por Platão, no seu texto sobre a retórica e
sofística Górgias. Este diz-nos que a Retórica é a “(…) arte de agradar e,
consequentemente, levar-nos a fazer coincidir a Retórica com a mera adulação,
corrupção ou manipulação.” (Platão in Mateus, 2018, p. 19).

Prospeção na democracia ateniense e declínio na Idade Média

Com o aparecimento do feudalismo e da monarquia, a livre discussão dos temas deixou


de se desenvolver. Deste modo, a retórica passou a ver vista como uma “(…) questão de
estilo ou discurso encantador.” (Meyer in Mateus, 2018, p. 33). 

Nova Retórica – o reabilitar da retórica (séc. XX)

Com o ressurgir da democracia ocidental, a Retórica sofreu uma “reabilitação” e


revalorização, que se chamou de nova retórica. 

Este ressurgimento da Retórica trouxe a necessidade de repensar acerca da natureza


racional da mesma, uma vez que as novas ideologias, a possibilidade de manipulação, a
publicidade e a propaganda constituíram um fator que altera o uso da persuasão. 

BOA E MÁ RETÓRICA

A Boa Retórica

Para Meyer (in Mateus, 2018), esta é considerada uma “retórica branca” ou
“transparente”, uma vez que é uma retórica que utiliza argumentos para criar uma
problemática e questões e, depois disso, atingir um desfecho que beneficie todas as
partes envolvidas nesse discurso. 

Assim como referido anteriormente, esta retórica invita o interlocutor a


problematizar uma realidade, o que faz com que utilize a sua lucidez critica para
permitir que seja convencido. Deste modo, é uma retórica comunicacional e
argumentativa, de modo a convidar ao dialogismo, debates (perguntas e respostas) e à
construção conjunta de um discurso persuasivo.  

Outro aspeto desta retórica é a inclusão do auditório na argumentação do próprio


orador. Isto possibilita ao interlocutor vários patamares de concordância e permite-lhe
expressar aquilo que realmente sente e quer transmitir. Deste modo, esta dá poder ao
próprio auditório, dando-lhe expressividade e empolgando-o para realizar as ideias que
tem em mente.

Por fim, esta boa retórica separa-se do que é artificial, estimulando a criticidade do
próprio auditório, tornando-a numa “retórica franca”, como diz Samuel Mateus (2018,
p. 35).

A Má Retórica

Para Meyer (in Mateus, 2018), esta é considerada uma “retórica negra”, uma vez
que tem como objetivo aproveitar-se e escarnecer as suas ideias, fazendo com que as
suas ideias e discursos, desprovidos de verdade, pareçam plausíveis. 

É uma retórica apodítica e convincente, uma vez que visa alterar o assentimento e
consentimento, ofuscando o interlocutor – os seus interesses e desejos - ao oferecer uma
visão absoluta e incontestável de uma ideia. “Cega-o com o deslumbre de uma
veemência que se auto-impõe.” (Mateus, 2018, p. 34). Nesta retórica, o orador é trocado
por um manipulador, uma vez que procura impor a sua perspetiva acerca do mundo. 

Outro aspeto desta retórica é a exclusão do auditório na argumentação do orador. Deste


modo, esta é uma retórica que protege uma lógica de poder, que reduz a diferença à
identidade – exemplo disso é, por exemplo, o discurso publicitário. 

Por fim, esta má retórica é uma armadilha ao auditório, sendo, consequentemente, uma
retórica artificiosa, como nos diz Samuel Mateus (2018).

O CARÁCTER RETÓRICO: ATRIBUTOS FUNDAMENTAIS DA RETÓRICA

É primordial demonstrar os atributos fundamentais da retórica, de modo a


encontrar a racionalidade e especificidade que alicerça a multiplicidade desta arte.

De acordo com a obra “Introdução à Retórica no Século XXI” (2018), de


Samuel Mateus, a retórica consiste “num método para conduzir a persuasão e suscitar
uma resposta ao auditório” (p.33), anunciando-se como uma prática racional. Sendo a
Retórica uma arte, abarca consigo atributos fundamentais que exploram e clarificam a
sua diversidade e racionalidade. 
Retórica como técnica

Em primeiro lugar é uma técnica porque “possui um conjunto de regras sobre as


quais se explana o método de determinar, em cada, caso, os melhores elementos de
persuasão” (p.36), como é possível observar na distinção entre o logos, ethos e pathos
em que, mediante o objetivo do orador, utiliza uma destas técnicas discursivas, sendo
todas elas, consoante o contexto, persuasivas. É uma técnica porque contempla diversos
princípios que o orador tem de colocar em prática para conseguir convencer e suscitar a
adesão do seu auditório. Para além disso, possui um conjunto de conhecimentos e de
princípios que permitem ao orador orientar-se perante a influência que têm de exercer
no seu público. A Retórica assenta numa disciplina com uma técnica inerente, uma vez
que, a tarefa do orador, consoante o seu público, ou seja, se o orador tiver perante um
público mais crítico e reflexivo, terá de utilizar diversas técnicas, empregar a oratória de
acordo com padrões discursivos, apresentando os melhores critérios de persuasão, de
modo a conseguir convencer o seu auditório. 

Retórica como aprendizagem

Em segundo lugar e, por se assumir enquanto técnica, a Retórica pode ser


transmitida de geração em geração e, para além disso, pode ser ensinada entre
especialistas e os seus respetivos alunos, ou seja, contempla os seus próprios
ensinamentos, “A Retórica é, assim, uma aprendizagem que requer constante prática”
(p.37). Esta prática pode ser exercida de acordo com duas formas: a forma emulatória:
isto é, a influência que um orador reconhecido tem nos indivíduos que constituem o seu
público, porque estes passam a imitar gestos, discursos, a própria oratória e
argumentação utilizada. Esta forma consiste na aprendizagem espontânea, que acontece
diariamente em atitudes como imitar um professor, etc. A segunda forma diz respeito à
Retórica desenvolvida em contextos institucionais, que corresponde à aprendizagem
desta disciplina mediante cursos universitários, em escolas, workshops, etc. Samuel
Mateus (2018) classifica, assim, a Retórica como um ensino, dado que “possui as suas
próprias matérias, exercícios, avaliações, metodologia e bibliografia, bem como um
corpo docente dedicado. […] e, uma vez que possui um corpo de sólidos ensinamentos,
ela pode ser partilhada, estudada e examinada.” (p.37).
Retórica como área científica

Em terceiro lugar, a Retórica é observada como uma área científica, visto que “é
dotada de um campo autónomo de observação – os efeitos da linguagem e do discurso”
(p.37), em que importa compreender as estratégias utilizadas pelo orador na sua prática
discursiva. Estes fenómenos observados podem ser classificados e organizados e,
enquanto disciplina científica, a Retórica contempla os seus próprios centros de
investigação, publicações científicas e associações. Tendo em conta a sua natureza
prática, a Retórica permite estudar o poder da linguagem utilizado pelo orador no efeito
de persuadir, bem como os efeitos contraídos dessa mesma prática discursiva
persuasiva. Um mesmo discurso pode dar origem a uma diversidade de abordagens e de
efeitos, mediante o objetivo principal da retórica utilizada. Enquanto que num anúncio
publicitário o foco assenta em decifrar o que as imagens pretendem transmitir (Retórica
Visual), enquanto que por exemplo em discursos políticos o que importa analisar são as
estratégias implementadas pelo político, os valores que partilham, a sua postura, a forma
como tenta influenciar o seu auditório. O autor remete à designação de “ciência” da
oratória, ou seja, esta disciplina é científica na medida em que o termo “ciência” é
aplicado sob forma técnica, essencialmente como técnica discursiva “dotada de um
conjunto de problematizações e modos de investigação distintos, e organizada numa
disciplina autónoma do estudo dos fenómenos da persuasão” (p.38). 

Retórica como Código Moral

Em quarto lugar, a Retórica articula um conjunto de indicações acerca da relação


entre o orador e o seu auditório. Deste modo, esta disciplina é um código de indicações
morais que gere o modo como o orador poderá, ou não, desencadear a adesão do
auditório. Sob outra perspetiva, a Retórica relaciona-se com um conjunto de
procedimentos favoráveis e benéficos. Por outro lado, esta disciplina proíbe que o
orador se aproveite do seu auditório para o escarnecer, manipular ou enganar. (Mateus,
2018). Atualmente, relaciona-se a retórica em algo baseado na “(…) sedução, no
deslumbramento ou no desejo (…)” (Mateus, 2018, p. 39), mas isso não quer dizer que
esta seja assim na sua integra.  Esta disciplina contém um código moral devido à sua
natureza ambígua, uma vez que tanto pode enganar o auditório, como o pode ajudar a
obter o que este deseja. Segundo Aristóteles (in Mateus, 2018): “(…) a Retórica não é
inerentemente boa ou má; os seus usos e intenções é que podem prejudicar e beneficiar
aqueles a quem se dirige.” (Mateus, 2018, p. 39). Por fim, Samuel Mateus (2018) diz
que a Retórica é um código, duplamente: 

 Primeiro, é um conjunto de indicações e regulamentações sobre o


funcionamento da própria persuasão;
 Segundamente, é um conjunto de normas morais acerca da possível infração dos
limites razoáveis da persuasão, tendo em conta as distorções linguísticas que se
utilizam para convencer o auditório. 

Retórica como prática social

Por fim, a Retórica é uma prática discursiva omnipresente em todos os


momentos da vida social, ou seja, está presente em todos os momentos do nosso
quotidiano. A linguagem é muito poderosa pois permite-nos chegar aos restantes
indivíduos, comunicando-lhes as ideias, necessidades e ambições. Por outro lado, a
própria linguagem permite que essas ideias e ações sejam compreendidas e partilhadas. 
Esta disciplina é, então, praticada por todos e em todos os domínios da vida social
como, por exemplo, na Religião, na Economia, na Política, na Educação e no nosso
próprio Lazer. Isto faz com que, a certo ponto, necessitarmos de avaliar, concordar ou
discordar daquilo que nos é apresentado, sendo preciso avaliar a força da Retórica da
pessoa que nos está a transmitir a mensagem. Ver a Retórica como uma prática social é
pertinente na medida em que os exercícios de influenciar e persuadir estão inerentes à
atividade humana, visto que a necessidade de decisão é algo bastante presente no nosso
quotidiano. Assim, “(…) a Retórica nunca anda muito longe da maneira como pensamos
e compreendemos o mundo. É ela que nos orienta nas decisões permitindo-nos
confirmar a existência de argumentos válidos ou factos relevantes.” (Mateus, 2018, p.
40).

RETÓRICA: ATRIBUTOS FUNDAMENTAIS NA SUA PRÁTICA SOCIAL

O poder da linguagem é duma dimensão gigante quando nos apercebemos que


através da linguagem podemos: comunicar ideias, ambições, necessidades, ideias,
concordar, discordar ou até mesmo convencer alguma ideologia seja ela na área da
religião, economia, política ou lazer.

A persuasão e a influência de uma forma social estão inerentes à condição


humana, torna-se mais evidente na nossa capacidade de negociar ou decidir, seja em que
área for.

Em suma é a maneira de validarmos ou não certos argumentos e existências que


nos são apresentados.

As características que definem este tipo de argumentação são:

 Planeamento
 Persuasão
 Orientação para o auditório (Adaptabilidade de discurso)
 Despoletar mudanças de pensamento e comportamento (Criar necessidade de
serem o que ouvem)

No seu planeamento, a retórica prepara:

 Argumentos que se possam utilizar durante o discurso.


 A ordem que estes são apresentados.
 A maneira como se expõe os argumentos.
 Confiança e segurança ao expor estes mesmo argumentos.
 Conhecer o melhor possível o auditório.
 Saber onde o orador se encontra e o tipo de discurso mais adequado.
 Previsão e preparação para algumas perguntas que eventualmente possam ser
direcionadas ao orador.

Persuasão: é um dos maiores propósitos da retorica e tem dois elementos centrais, o


argumento e o apelo.

 Argumento: caracteriza-se num raciocínio que tem como objetivo


mostrar uma conclusão, com justificações que justifiquem a mesma e que
seja plausível ou razoável. Mostra e prova uma ideia através do seu
desenvolvimento sustentado, implícito e inferencial. Um argumento que
seja considerado solido tem que ser considerado válido e as bases em que
se sustenta têm que ser consideradas verossímeis. 
 Apelos: são estratégias baseadas num simbolismo que têm como objetivo
mexer com o emocional do auditório, indo direto as suas convicções,
ideias, valores ou compromissos. 
 Os argumentos dirigem-se essencialmente à razão, tendo como pilar
essencial as justificações, os apelos dirigem-se diretamente às emoções,
sendo estes como um atalho para chegar diretamente ao emocional do
auditório.
 Aristóteles dedicou a sua atenção ao uso das emoções no discurso
retorico. 

Orientação para o auditório: a retorica é um discurso voltado para um auditório,


sendo que este é um conjunto de pessoas a quem o orador se dirige, seja qual for a
quantidade de pessoas envolvidas. O orador deve basear o seu discurso nas pretensões
do auditório, respeitando por isso o mesmo, ao nível de valores e ideias. Os argumentos
devem ser adaptados ao auditório a quem o orador se dirige, sendo que é este último
quem avalia a validade dos argumentos bem como determina a sua eficácia. 

Despoletar mudanças de pensamento e comportamento

O orador, numa situação de retórica, objetiva alterar a forma de pensar do


auditório perante um determinado assunto. Para suscitar essa alteração, o orador procura
problemas e constrangimentos existentes associados ao tema e, com isso, apresenta
respostas à problemática, com vista a suprimir as necessidades do auditório. 

No entanto, o discurso retórico é um discurso aberto, onde o orador inclui e


convida a intervenções e argumentação por parte do auditório. Esta envolvência e
capacidade de incluir vários argumentos conduz a que cada argumento convide a um
contra-argumento, a uma análise, a uma questão e a um juízo que sustenta o diálogo e
debate retórico. O orador, sabendo que estará aberto a vários posicionamentos, deverá
estar preparado para as possíveis contestações que o auditório colocará, de forma a
poder defender de forma sustentada o seu argumento, com confiança, nitidez, e estrutura
de discurso e raciocínio. 

Em geral, num debate retórico, o auditório é sempre incitado a tomar uma


posição no final do discurso, mudando então a sua forma de pensar. De seguida,
pretende-se que o auditório aja de acordo com esse pensamento e essa ideia, e por isso
altere também a sua forma de agir, em conformidade com aquilo que pensa e defende.

Conclusão

A Retórica…

• é uma disciplina científica de análise da persuasão e uma arena prática onde se


manifestam operações de influência.

• funciona através de dispositivos argumentativos e apelativos.

• possui uma dimensão dialógica que convida à réplica e, por conseguinte, à


constante reformulação da persuasão.

• procura influenciar o auditório a aderir, voluntária e conscientemente, às


propostas do orador.

BREVE HISTÓRIA DA RETÓRICA - aula nº3

Nascimento da retórica

• A Retórica nasce na Sicília grega em 465 A.C: origem judiciária.

• Associada à reivindicação da propriedade: Hierão e Gelão (governantes, irmãos


e tiranos) decidiam a deportação e expropriação de inúmeras propriedades.

• A população siciliana reclamou os seus bens iniciando uma guerra civil à qual se
seguiram imensos conflitos em Tribunal. Ainda não existiam advogados,
começaram a surgir pessoas capazes de mobilizar multidões e, através da sua
eloquência, convencê-las do que seria adequado fazer. Rapidamente essas
pessoas começaram a vender e a ensinar o seu conhecimento prático (Meyer et.
ali., 2002: 26).

• Instrumento de poder, técnica de domínio através da linguagem (Barthes, 1970).

Primeiros professores
• Empédocles de Agrigento, Córax e Tísias. Córax, discípulo de Empédocles, é o
autor, juntamente com Tísias, de uma arte oratória (tekhné rhetoriké) onde
apresenta um método e regras – artem et praecepta – para o desenvolvimento
das reuniões públicas: coleção de princípios básicos e formas exemplares que
ensina os pleiteantes a serem convincentes quando recorrem à justiça (como
reivindicar).

• Córax: renovação democrática de Siracusa. Criou nova forma de


argumentação na qual se afirma que uma coisa é inverosímil por
justamente ser verosímil demais (Reboul, 1998: 3). Quando alguém se declara
inocente precisamente porque é tão verosímil julgarem-no culpado que não é
verosímil que ele o seja.

Os sofistas

• O ensino da nova arte oratória alastrou-se desde a Sícilia até outras cidade-
estado gregas através dos professores de Retórica (retores) e dos profissionais da
oratória pagos para defender causas (Sofistas).

• A Retórica era vista enquanto discurso público e associada à afirmação política


do cidadão. Praticar Retórica era liderar o povo: papel crucial na deliberação
política, nas resoluções de guerra, na determinação dos impostos ou na
administração pública.

• Os sofistas tinham um papel de relevo na sociedade ateniense: providenciavam o


treino retórico e as competências de persuasão necessárias ao debate entre pares.
A retórica tornou-se imprescindível para quem pretendia ascender politicamente.

• Retórica: ferramenta de enorme poder que os Sofistas souberam potenciar


aconselhando as elites políticas, sociais e culturais.

Spin doctor

• Alguém cujo trabalho é fazer com que ideias, eventos, etc. pareçam melhores do
que realmente são, especialmente na política. (Cambridge Dictionary)

• Spin doctoring é um termo depreciativo para definir atividades de relações


públicas para instituições políticas, atores políticos ou corporações que
enfatizam ou exageram os aspetos mais positivos de algo. (Wiley Online
Library).

O fundamento sofístico da retórica

• Na eloquência retórica, não existem diferenças de classes nem de riqueza. Rico


ou pobre, anónimo ou célebre, qualquer um pode vencer pelo discurso. Tudo o
que importa é o mérito individual do orador. Ou mais exatamente, o que
importa são os poderes encantatórios da palavra em detrimento da
pertinência das provas (Meyer et ali., 2002: 27).

• Segundo os Sofistas, até os mais ignorantes e inexperientes serão capazes de


derrotar os mais sábios e experientes, bem como convencê-los. A Retórica
Sofística é, desde modo, encarada como arma que Platão critica justamente pela
possibilidade de enganar e mentir (mais exatamente, o facto do orador parecer
sapiente mesmo que o não seja). Contudo, isso não significa que Retórica e
Sofística coincidam. A afirmação social e filosófica da Retórica decorre
justamente da queda da Sofística. A reabilitação da Retórica empreendida por
Aristóteles é disso o maior exemplo.

• O mundo da sofística é um mundo sem verdade ou realidade objetiva (Reboul,


1998: 9): ao aceitarem todas a tarefas relacionadas com o discurso público, os
sofistas defendiam, potencialmente, qualquer tese. A palavra é um meio.

• Privado de uma referência objetiva, o logos, o discurso e a razão humana não


tem outro critério que não o do seu próprio sucesso.

• A capacidade de convencer está, na sofística, apenas limitada pela aparência


logica e um estilo deleitável não se interessando sobre aquilo que exatamente
está a procurar convencer. A sofística não é, assim, uma ciência mas um método
de discurso retórico. A retórica ou arte oratória está aqui apenas ao serviço do
convencimento possível e não de um convencimento racional ou rigoroso.

• A grande consequência da Sofística – encarada como um método e não uma


ciência – é que o discurso não pretende ser um discurso verdadeiro nem
comprometido com aquilo sobre o qual está a convencer. Nem sequer verosímil.
A partir do momento em que a medida da eficácia de um discurso é o seu
sucesso isso não importa.

A finalidade da Sofística não é, assim, encontrar o verdadeiro, mas dominar o


interlocutor através da palavra. A oratória está ao serviço dos interesses pessoais do
Sofista. Trata-se de uma palavra comprometida, não com o saber mas com o poder
(Reboul, 1998: 10).

Reabilitação da Retórica

Aristóteles: fundador da Retórica enquanto prática de comunicação persuasiva

1. A Retórica, não pelo seu poder – como a Sofística – mas pela sua utilidade:
ferramenta com que a razão se dota para discursar publicamente. A Retórica
como uma arte legítima, ainda que os seus usos possam ser desonestos.
Aristóteles descreve a Retórica em termos de defesa pessoal: é absurdo que
apenas ensinemos às pessoas a defenderem-se fisicamente (as artes marciais) e
não as eduquemos na defesa pessoal das suas ideias e convicções através do
discurso e da razão (a arte retórica).

2. A Retórica pelo rigor do seu discurso: o que a distingue é uma argumentação


austera e muito. Retórica assume o papel principal da discussão dos assuntos
sobre os quais não é possível erigir um raciocínio lógico e demonstrativo.

3. A Retórica enquanto técnica ou arte da persuasão: método de pensamento


persuasivo - não é a persuasão, mas a competência de persuadir. Como? Antes
de mais, identificando os meios de persuasão que melhor servem o caso a
argumentar. O bom orador é aquele que não atualiza fórmulas padronizadas, mas
aquele que trabalha, seleciona e reconfigura essas fórmulas da persuasão de
acordo com cada situação e auditório.

Retórica ao longo do tempo

• Retórica antiga: ampliação de um raciocínio argumentativo com o objetivo de


o arguir ou repudiar. Enfatiza as provas retóricas e o rigor da argumentação. O
efeito e a validade da Retórica e da Argumentação encontram-se dependentes da
presença e da réplica do auditório (Aristóteles).

• Retórica Clássica: importância concedida ao ethos em detrimento do logos.


Destaca a credibilidade do orador e a sua capacidade de se expressar com
correção e elegância. Predominância do género judicial: necessidade de advogar,
em tribunal, os pleitos. Dimensão prática na qual o orador assume uma
centralidade ímpar (Quintiliano).

• Retórica na Idade Média: passou a ser predominantemente considerada como


um artifício, floreamento do discurso ou ornamento de estilo que a escrita
literária deveria adquirir com vista a ser bela. Associada a expressividade e
verbosidade. Descrédito: impérios e monarquias não tendiam a estimular o
debate público e a livre expressão de ideias. Num sentido pejorativo, é definida
pelos dicionários como afetação, presunção ou expressão vã (ex: “isso é mera
retórica”).

• Retórica moderna: a democracia moderna reestabelece os pilares fundamentais


para que a Retórica floresça novamente. Tal como na Democracia Ateniense, é
uma atividade valorizada porque dela depende a capacidade de encontrar
consensos, influenciar o voto ou encontrar a melhor solução para um problema a
partir da participação igualitária dos cidadãos. Retórica mediada pelos meios de
comunicação.

A Nova Retórica de Perelman e Olbrechts-Tyteca

• Salientam o verosímil, o provável e o plausível: construir os princípios de uma


racionalidade dos assuntos humanos, distanciada quer da evidência, do cálculo e
da razão demonstrativa, quer da irracionalidade das paixões.

• Análise do diferendo e das possibilidades de discussão que comportam soluções


diferentes e que não sejam imunes ao erro e à incerteza. Não dispomos de
certeza absolutas por isso se torna imperativo discutir para chegar a um
acordo, não sobre o que é, mas sobre aquilo que julgamos ser.

• Funda-se, não no indiscutível, mas naquilo que é plausível ou razoável acreditar.


A argumentação não advém da persuasão de uma verdade exterior pré-existente
sobre a qual pretendemos que os outros acreditem. Pelo contrário, surge da
necessidade de retoricamente chegarmos a acordo com os nossos
interlocutores acerca da verdade possível ou daquilo que é razoável.

• Raciocínio conjunto: o auditório torna-se uma instância ainda mais importante.


Se toda a argumentação visa obter a adesão dos espíritos, é ao auditório que cabe
decidir o valor, sucesso e significado dos argumentos a si dirigidos.

A nova Retórica: o modelo do argumento de Toulmin

Uma boa argumentação deve ser tão completa e autossuficiente quanto possível: o
orador deve expor os seus dados, antecipar uma possível refutação e,
concomitantemente, qualificar a sua conclusão e reforçar a sua garantia por meio de
apoios. Toulmin se concentra nas tentativas quotidianas de provar, fornecer razões e
justificar motivações privilegiando o que chama de “argumentos práticos”, não se
preocupa com os auditórios ou com o orador (ethos): só a linguagem conta.

Nova retórica

• Critica da Razão e da Lógica Formal: argumentação em princípios próprios,


quer seja, a adesão dos espíritos (Perelman), quer seja, a justificação
argumentativa (Toulmin) em situações quotidianas e de aplicação prática.

• Carácter não-coercitivo da argumentação que, ao contrário da lógica formal,


convive bem com o indefinido, o múltiplo e o plural: Retórica enquanto
atividade argumentativa, de pendor justificativo.

• Fundamentação dos juízos de valor (“o que nos permite afirmar que isto é
justo e aquilo não é bom”?) assente, não na evidência, demonstração ou em
princípios universais, mas na argumentação em situações práticas nas quais um
assunto não se apresenta de forma unívoca e indubitável, e por isso é regido
somente pelo verosímil.

• A Retórica não é demonstração nem cálculo lógico de argumentos: é diálogo ou


encontro com o auditório por intermédio da apresentação provável de conclusões
permanentemente justificadas, discutidas e reavaliadas para chegar-se, não à
conclusão verdadeira, mas uma conclusão plausível e provável, capaz de obter o
acordo dos interlocutores.

O SISTEMA RETÓRICO - aula nº5

As provas artísticas (logos, ethos e pathos)

Depois de determinado o género retórico, o orador deve decidir que modelo ou registo
empregará na criação dos argumentos.

Aristóteles: o orador dispõe de dois tipos de provas que o ajudarão a enquadrar o


modelo da argumentação.

1. Provas extrínsecas ou extra-artísticas


 Extra-retóricas, provas naturais (prévias à preleção do orador).
 Incluem as testemunhas, as confissões, as leis, os contratos ou as provas
(no sentido criminal de comprovações).
 Não são criadas pelos diferentes oradores (ex: jornalistas, familiares,
comentadores televisivos, etc) mas, sim, aproveitadas por eles.

2. Provas intrínsecas ou artísticas


o Fazem parte do domínio retórico.
o São exclusivas da responsabilidade do orador.
o Demonstram a força da tese do orador e o seu carácter persuasivo.
o É justamente nas provas artísticas que os melhores oradores se
distinguem e que os grandes discursos se tornam históricos.

Três provas artísticas fundamentais

 Fornecem ao orador o registo ou timbre da sua oratória ao definirem as


fronteiras pelas quais toda a demonstração e eloquência se nortearão, cada
uma dotada das suas próprias técnicas argumentativas…
Logos: argumentação orientada pelo raciocínio rigoroso.

Pathos: dirigida às emoções humanas.

Ethos: baseada no carácter e probidade humanos.

• A racionalidade, a afetividade e a integridade formam os registos da


argumentação.

• Os discursos retóricos mais complexos combinam estas diferentes provas de


forma minuciosa: argumentação racionalmente convincente, emocionalmente
interpeladora e capaz de despertar respeitabilidade.

• São mais ricos, possuem diferentes “sabores” ou “timbres.

• A ordem destas provas pode variar.

• As provas artísticas podem ser ambíguas: quando o orador demonstra


veneração por uma personalidade tratando-a por “Sr. Dr.” coloca-se do lado da
respeitabilidade e honradez (ethos) enfatiza reverência e admiração (pathos)?

Provas artísticas baseados no logos

 Para Aristóteles, existem duas espécies de raciocínios lógicos: as induções


(epagôgê) e as deduções (silogismos).
 Discurso rigoroso e intelectual de acordo com a razão humana.
 Provas discursivas, argumentativas e racionais provenientes de um raciocínio
coerente.
 Estas provas artísticas dizem respeito ao modo como os indivíduos alegam ou
objetam algum assunto prático.
 Requerem o uso de um tipo particular de silogismo: o entimema.
 Argumentação inspirada no rigor lógico.
 Invocação de dados, elementos, estudos ou constatações que guiam a
argumentação.
 Também pode ser usado para refutar alguma coisa.
Entimema

• Silogismo: raciocínio (dedutivo) feito a partir de duas proposições (premissas),


das quais se deduz uma terceira, a conclusão:

Todos os homens são mortais; os portugueses são homens. logo, os portugueses são
mortais.

Todos os répteis são animais irracionais. Cobra é um réptil. Logo, cobra é um


animal irracional.

• Forma de silogismo ou argumentação em que uma das premissas ou um dos


argumentos fica subentendido. Suprime-se uma das premissas ou,
inclusivamente, a conclusão, por se considerar que estas são do conhecimento
comum ou porque não interessa expô-las:

O Marco tem formação universitária, porque é médico.

Constata-se que há uma premissa suprimida: «Todos os médicos têm formação


universitária».

• Na sua forma canónica este argumento pode ser representado da seguinte


maneira:

Todos os médicos têm formação universitária. O Marco é médico. Logo, o Marco


tem formação universitária.

• No contexto da Retórica, o entinema é fundamental porque imprime ao discurso


agilidade expositiva.

Provas artísticas baseadas no Pathos

• Apelos emotivos e afetivos que colocam o auditório no estado emocional


adequado.

• O orador “trabalha” o auditório, não racionalmente, mas psicologicamente:


poder das emoções.

• O orador faz o auditório sentir determinada comoção, mais do que mostrar que a
sua proposta é lógica e racional.
• Estimular as emoções que irão influenciar a forma como determinado tópico
será apreciado e julgado.

• Orador explora conexões entre o discernimento e as emoções.

• Mobilizar as crenças, sentimento, perceções e simpatias do auditório.

• Conjunto de emoções, paixões e sentimentos que o orador pode suscitar no


auditório.

• Os acometimentos súbitos de vigor (aumento do ritmo e volumes oratórios)


podem pautar o estado anímico do auditório.

• As emoções são mais difíceis de dominar e, frequentemente, escapam ao


controlo da razão.

• Emoções como medo, raiva, vergonha ou piedade podem ser usadas como
provas artísticas capazes de despertar impressões persuasivas.

• Apesar do pathos contrastar com o logos, estas provas artísticas não se excluem
mutuamente: complementam-se.

• As emoções revelam um comportamento inteligente de persuasão e podem ser


determinantes no reforço da argumentação racional.

• São uma outra forma de levar ao convencimento através, não da sobriedade das
palavras e da razão, mas da espontaneidade dos sentimentos.

Provas artísticas baseadas no Ethos

• O orador deve assumir o carácter apropriado ao auditório e àquilo que está a


alegar.

• Inspirar a confiança necessária para que o auditório acredite nele e, assim, escute
com atenção redobrada, aquilo que lhe diz.

• É considerada a mais eficaz das provas porque contra a honradez, integridade e


nobreza de carácter pouco se pode argumentar.
• Opera no registo da credibilidade: o orador deve mostrar-se sincero, franco e
verdadeiro.

• Carácter moral que o orador aparenta possuir e que deseja colocar ao serviço do
seu auditório.

• Sem parecer moralmente integro ou credível, qualquer orador está condenado ao


fracasso.

• Possuir um carácter irrepreensível é primordial para persuadir o auditório.

• Muitas vezes vamos assistir a uma conferência ou a uma peça de teatro devido à
autoridade e credibilidade do orador ou do encenador.

• Pode levar o auditório a ouvir o orador mas não é suficiente para o cativar e para
o persuadir.

Conclusões:

• As três provas artísticas são técnicas que atingem os melhores efeitos quando
são utilizadas de forma complementar e interdependente.

• À credibilidade (ethos) que “obriga” o auditório a ponderar as palavras do


orador, segue-se a capacidade, por parte do orador, de gerir as emoções (pathos)
e assim cativar o auditório; por fim, é necessário que a presença e o interesse do
auditório sejam transformados em adesão “lógica” às teses propostas (logos).

• Nem sempre precisaremos de utilizar estas três técnicas no mesmo discurso. Mas
fazê-lo é alargar o campo da persuasão desde o carácter moral, passando pelo
despertar das emoções até à racionalidade daquilo que se apresenta perante o
auditório.
O Sistema Retórico – CÂNONES RETÓRICOS - aula nº6

Retórica como sistema de técnicas que podem ser ensinadas: depois da


escolha do género retórico e das provas sobre os quais o seu discurso irá incidir, é
preciso construir o conteúdo do discurso.

 Pré-produção: o orador estabelece a orientação da sua preleção em termos de


moldes (deliberativo, epidíctico e judicial) e registos (ethos, pathos, logos)
 Produção: delinear e construir a sua alocução através da divisão dos cânones
retóricos.

OS 5 CÂNONES RETÓRICOS (síntese básica):

 Invenção (inventio) - inventariar e descobrir os argumentos


 Disposição (dispositivo) – ordenar os argumentos
 Elocução (elocutio) – conferir o estilo do discurso
 Memória (memoria) – recordar-se, em pormenor, do discurso
 Ação (pronuntiatio) – interpretar o discurso

OS CÂNONES OU DIVISÕES RETÓRICAS (pág. 113/114):

- Além de serem um dos mais úteis instrumentos no ensino desta arte.

- São, igualmente, um instrumento prático que, à semelhança de um esboço ou de um


plano, nos permite orientar durante a preparação de um discurso.

- Vão além da estruturação de um discurso de natureza persuasiva.

- A dimensão organizadora do pensamento poder ser encontrada em muitas situações,


incluindo a do advogado que deve preparar o documento de defesa do arguido, o
criativo publicitário que tem de encontrar um texto atrativo para o seu anúncio ou o
estudante que redige uma reflexão crítica.
TAREFAS QUE PRECISAM DE SER EXECUTADAS (pág. 114):

- 1º: reunir os factos e elementos relevantes (invenção).

- 2º: decidir de que forma serão apresentados e com que encadeamento (disposição).

- 3º: dotar o texto de uma escrita correta e simultaneamente graciosa (elocução).

- 4º: conhecer em profundidade o assunto sobre o qual se vai falar e dominar o seu
discurso (memória).

- 5º: fazer uma proferição efetiva do discurso 8audível, claro, uso de gestos, linguagem
corporal, etc.) (ação).

UM BOM DISCURSO IRÁ PASSAR POR CADA UMA DESTAS DIVISÕES


(pág. 114):

- Compreender o assunto mobilizando todos os argumentos e provas que o possam


servir (invenção).

- Articulá-los e relacioná-los (disposição).

- Redigi-los e enunciá-los da melhor forma possível incluindo todas as figuras de


estilísticas que os possam adornar e realçar (elocução).

- Estudá-los em pormenor e decorá-los (memória).

- Dar voz e corpo a esses argumentos através de um desempenho oratório memorável


para o auditório (ação).

OS CÂNONES RETÓRICOS:

- Cada uma das divisões retóricas constituem tarefas que devem ser cumpridas pelo
orador sob pena do seu discurso ser irrelevante, confuso, pobre e mal escrito,
interrompido ou inaudível (Mateus, 2018: 114).

- Estas divisões são, pois, elementos centrais da técnica retórica e deles depende o
sucesso que, na prática, os discursos possuirão (Mateus, 2018: 114).
- Um discurso cujo orador seja muito com a colocar a vos e a entoá-la, mas que, todavia,
apresente ideais frágeis, mas desenvolvidas e inconsequentes não terá o mesmo sucesso
do orador que for capaz de conjugar todas estas tarefas de acordo com os cânones
retóricos (Mateus, 2018: 114).

- “Esta divisão, em cinco partes, é provavelmente a maior contribuição para a técnica


retórica e devemo-la a um dos grandes oradores romanos: Marco Túlio Cícero”
(Mateus, 2018: 115).

- Propôs esta divisão no tratado De Inventione sabendo, embora, que outros retores
do seu tempo já a utilizavam, no entanto, Cícero realizou a sua sistematização.

- “[...] dedica o De Inventione quase exclusivamente a desenvolver o treino retórico


da invenção, o cânone mais prezado na Antiguidade Clássica e considerado o mais
importante no treino retórico dos advogados e oradores forenses” (Mateus, 2018:
115).

INVENÇÃO (inventio):

- O orador interroga-se sobre os aspetos mais importantes que devem ser aludidos no
discurso de acordo, naturalmente, com o género e as provas artísticas mais
convenientes, previamente definidas por si (Mateus, 2018: 115).

- Nesta fase, ele (orador) procura encontrar ‘aquilo que irá dizer’, num duplo sentindo:
literal e figurado (Mateus, 2018: 115).

- Literal, uma vez que o discurso ocupar-se-á da enumeração de elementos, factos e


eventos considerados relevantes. Assi, a invenção irá concentrar-se em todas as provas
artísticas tidas por relevantes para afirmar a tese do orador: testemunhas, atos,
ocorrências, coincidências, acontecimentos, autores, obras, documentos, entre outros
(Mateus, 2018: 116).

- Sentido figurado, porque orador deve achar o fio do discurso e a sua essência. Ao
procurar ‘aquilo que irá dizer’, o orador terá de encontrar a tese que deverá estar em
tudo aquilo que ele invoque (Mateus, 2018: 116).
Sentido literal (pág. 116):

A invenção é um inventário onde se colige todos os procedimentos


argumentativos tidos por importantes.

É uma operação que visa extrair da realidade os tópicos mais convincentes para
o exercício retórico e de os colecionar com vista a convencer o auditório.

Enquanto inventário, a invenção compila os factos que se acumularão nas


mentes do auditório para fazer provar alguma coisa, e consiste numa espécie de
pesca de ‘provas retóricas’ no mar imenso dos factos e acontecimentos da
realidade.

Neste sentido de inventário, a invenção é uma ação de descoberta das provas que
melhor se adequem aos objetivos do orador.

Sentido figurado (pág. 116):

A invenção é mais do que mera inventariação ou descoberta: é como salienta


Barthes (1970: 198), um exercício criativo ou caminho argumentativo (via
argumentorum) que implica a identificação do fio condutor que permitirá ao
auditório não se perder no labirinto das provas retóricas.

Assim, a invenção é ‘inventar’ formas de transformar os factos em bruto em


factos polidos que se coloquem ao serviço dos intentos retóricos.

O caráter e a credibilidade (ethos) que o orador cris decorre do próprio discurso


do orador. Neste sentido, a invenção poderá ser um exercício de criação do
caráter do orador através dos instrumentos de prova.

A invenção dá-se, pois, entre uma inventariação que descobre, e a invenção que
criativamente consagra os argumentos que sustentarão a defesa da tese do orador
(Mateus, 2018: 116).

Extração ou criação, as duas atitudes revezam-se e exemplificam como a retórica é


prática e simultaneamente objeto de ensino (Mateus, 2018: 116).

DISPOSIÇÃO (dispositivo):

- A disposição apresenta-se como o esqueleto-base a partir do qual o discurso ganha


músculo

- A disposição respeita a distribuição dos argumentos descoberto ou criados (na


invenção), segundo a ordem mais adequada àquilo que se pretende persuadir.

Argumentos mais fortes em 1º lugar? No fim para que o auditório se recorde


melhor?

Citar personalidade carismática invocando argumento de autoridade?

- A disposição é a matriz ou o plano de execução do discurso: é composto por lugares


definidos de acordo com os quais iremos colocando todas as provas retóricas coligidas
na invenção. Daí que a que a ordem importa nos cânones da retórica.

- Não podemos ter esqueleto-base ou disposição sem termos os elementos que irão
compor esse esqueleto.

- A Disposição foi organizada em torno de quatro partes:

- Exórdio:

Parte que inica o discurso e que visa preparar o auditório para ouvir a tese
do orador.

Tem por preocupação criar as condições para que o auditório se acalme,


aquiete e coloque a sua atenção no orador.

Nesta parte, o orador procura tornar o auditório atento, mas também


benevolente para com aquilo que irá ouvir: demostra a sua modéstia ou
probidade, bem como a sua autoridade de forma a ganhar a confiança do
auditório.

Muitos oradores começam por elogiar de forma muito evidente o auditório,


louvam o talento de outros oradores ou elogiam a instituição onde proferem o
discurso.

Aristóteles esclarece que o género deliberativo quase não precisa de exórdio


pois o assunto é já conhecido, mas que é absolutamente necessário no género
epidítico para fazer o auditório sentir-se implicado na argumentação.
- Narração:

A narração consiste na exposição das provas retóricas e nos factos referentes à


causa do orador.

Assume uma aparência objetiva, organizada e clara, ainda que ela seja sempre
orientada para as necessidades retóricas do orador.

A própria ordem de narrar constitui já, em si, um argumento.

Frequentemente, a narração assume uma orientação cronológica tentando


concentrar-se apenas nos aspetos que possam ser esclarecedores. Tudo o que
for dispensável não costuma figurar numa boa narração dos factos.

- Confirmação:

É a parte mais longa da disposição e procura argumentar os factos narrados.

A confirmação lida com o significado e as consequências dos factos


anteriormente narrados.

É uma parte essencial da Dialética e divide-se em proboatio – a apresentação


de provas favoráveis – e refutatio – desacreditação de provas desfavoráveis.

A confirmação encontra na prova artística do logos o seu mais forte aliado


embora possa simultaneamente despertar indignações (pathos).

Quintiliano tenderá a dizer que o excesso de planificação na disposição


atrapalha mais do que orienta o orador. Mais importante do que a ordem da
argumentação é que a argumentação seja sólida e atinja os seus objetivos.

- Peroração (alma da retórica):

- Parte que inclui o discurso.

- Resume a argumentação e visa facilitar a compreensão e recordação do auditório.

- É composta por três fases:

Amplificação – insistindo na gravidade, solenidade ou importância do que foi


exposto;
Paixão – procurando despertar um veículo emotivo no auditório;

Recapitulação – onde se procede a uma síntese do argumento.

- Constitui uma excelente oportunidade para apelar aos sentimentos e emotividade


do auditório provocando, por exemplo, a compaixão (commiseratio) ou, em contraste,
a indignação (indignatio).

- A peroração pode seguir-se a um momento de relaxamento na argumentação a que se


dá o nome de digressão (a digressão depende do estado de espírito do orador), embora
esta seja opcional.

- Para Reboul a peroração é o momento onde a afetividade se une à argumentação e


que, por esse mesmo motivo, é aquilo que constitui a alma da retórica.

ELOCUÇÃO (elecutio):

- Corresponde à redação do discurso e, segundo Cícero, é aquela que melhor


exprime o orador.

- O orador poderá ter ideias muito interessante e, até, um acaso convincente de


argumentação. Contudo, enquanto as ideias não adquirirem expressão simbólica (texto,
anúncio comercial, etc.) elas não poderão ser apreciadas pelo auditório.

- Uma boa elocução é aquele que conjuga língua e estilo como adjuvantes da
argumentação.

- Os argumentos podem ser bons, mas se são proferidos de forma pouco exta ou
erradamente, o auditório dificilmente aceitá-los-á.

- Assim, a correção linguística é essencial a uma boa elocução, bem como a


expressão rigorosa das ideias através dos vocábulos mais precisos e adequados.

- A retórica literária influenciou bastante a elocução dando valor a uma prosa rica e
variada, digna de rivalizar com vivacidade da poesia.

- Uma boa elocução irá dar imagens mentais vívidas nas quais a escolha das
melhores palavras sem ambiguidade, o ritmo de prenuncia, os desvios alegóricos, as
figuras de estilo empregues e a construção frásica não são apenas adereços, mas a
expressão fundamental da correção do pensamento.
- Cícero, em especial, identificou 3 estilos principais que alimentam a elocução:

Estilo nobre ou elevado (grave) que visava comover (movere) sendo


especialmente útil durante a peroração;

Estilo simples (tenue) que se destinava, sobretudo, a explicar (docere) e, ao


assentar no logos destacava-se na narração;

Estilo ameno (medium) que vidava agradar (delectare) e, ao assentar no ethos,


concentrava-se no exórdio.

- O estilo escolhido pelo orador está, na contemporaneidade, um pouco esquecido, mas


isso não significa que a elocução não desempenhe um papel central no sucesso
persuasivo.

MEMÓRIA (memoria):

- É a parte os cânones que torna possível a mestria demonstrada pelo orador na


elocução.

- Na Antiguidade Clássica, os discursos eram longos pelo que exercitar a capacidade de


memorização era essencial.

- A memória era o cânone que tornava possível ao orador navegar pelo mar da sua
argumentação sem se perder.

- Parte especialmente importante no contexto da civilização greco-romana onde o


orador discursava perante as assembleias e onde a leitura seria considerado ultraje ou
indigno.

- Contudo, ainda hoje, numa cultura logocêntrica da escrita, notamos a importância


do cânone da memória.

- A maioria dos auditórios prefere um orador que discurse livremente sem se ater
aos seus apontamentos. Os auditórios não apreciam os oradores que se limitam a ler
os discursos previamente preparados.

Todavia, o problema, nestes casos, é que os discursos foram escritos para serem
lidos e não para serem objeto de desempenho oratório. A sua leitura costuma,
assim, ser fastidiosa e monótona.
- Quem é o orador? – o orador não é somente uma voz, mas é também é o mestre de
cerimónias do exercício retórico: voz, mas também corpo. É ele que torna viva a
palavra morta do discurso.

- Neste sentido, a memória é a parte essencial do discurso que alimentará a


espontaneidade e improviso do orador perante a reação do auditório. Mas para isso
acontecer é necessário que ele tenha memorizado a preleção para, durante a sua
elocução, discursar com autenticidade.

- A memória é relevante, porque permite ao orador ter na sua mente o esboço de


todos os cânones retóricos: trabalhando a sua capacidade de armazenar, o orador
disporá da capacidade de memorização necessária para mobilizar cada argumento, cada
retórica, cada prova artística à medida da sua conveniência.

- A memória opera como uma função primordial que torna possível todos os outros
cânones, ou seja, permite ao orador lembrar-se dos argumentos inventados, da sua
ordem e do estilo que decidiu explorar nos mesmos.

- A memória é ainda, uma parte essencial dos cânones retóricos e um elemento que
todo o orador moderno não deve negligenciar. Confere ao orador fluência,
naturalidade e loquacidade.

AÇÃO (pronuntiatio):

- Designa o desempenho do orador e o modo como ele se apresenta perante o


auditório.

- A ação engloba todos os elementos para-verbais e não verbais da comunicação.

- Um orador competente deve dominar a entoação e o volume da voz, o ritmo


oratório, as pausas entre ideias ou o tom com que fala (para-linguagem).

- Deve ainda, atentar na forma como usa todo o material de elementos não verbais
como a linguem corporal, postura, os usos da gestualidade, as expressões faciais ou a
aparência física.

- A ação respeita, pois, a proferição do discurso. É muito mais do que a enunciação


do discurso: é verdadeiramente a sua interpretação integral.
- Cícero refere no Brutus que, segundo Demóstenes, havia 3 qualidades básicas num
orador:

Dominar a ação.

Dominar perfeitamente a ação.

Dominar ainda mais perfeitamente a ação.

- O orador competente assemelha-se a um ator: a verosimilhança e a credibilidade da


sua mensagem dependem da maneira como ele a encarna.

- O orador é um ator quando age de forma a parecer aquilo que quer fazer
parecer.

Se fala de um assunto sensível poderá querer baixar o volume da voz e diminuir


o ritmo oratório.

Se tenta despertar indignação e deseja que o auditório se manifeste


ardentemente, o orador poderá adotar uma postura menos relaxada em que a voz
seja mais forte e densa, e a expressão facial repita a repulsa expressa nas suas
palavras.

- A ação é relevante para o orador, porque lhe permitirá ser coerente entre aquilo que
afirma e o modo como se comporta acerca daquilo que declara.

- O orador tem de ser aquilo que quer do auditório. A variedade do tom de voz, o
ritmo da respiração e a rigidez da sua linguagem corporal, tudo tem de estar de acordo
com o momento da argumentação e de acordo com o efeito pretendido no auditório.

- Como refere o manual antigo de retórica Rethorica ad Herennium, não existe


nenhum cânone retórico cujo valor se sobreponha à ação. Sem ação, qualquer dos
cânones retóricos permanecem incompletos e solitários, sem hipótese de chegar às
mentes dos indivíduos que os presenciam.

FORMAS ARGUMENTATIVAS - Aula nº7

Objetivo: construir um conjunto contundente de argumentos para conseguir a adesão do


auditório.
Para tal, é preciso: afinar os seus argumentos, adequá-los à situação (será colocado no
exórdio ou durante a narração?) e harmonizá-los num discurso coerente, evitando
argumentos que se contradizem a si próprios.

Elementos de acordo prévio

• Não basta estarmos na posse de um conjunto de formas argumentativas que


utilizaremos de forma indiscriminada ou indistinta: não são meras ferramentas
que servem todos os propósitos, em qualquer altura e para qualquer auditório.
Não são fórmulas milagrosas da persuasão.

• Separar a utilização dos argumentos, não apenas de acordo com as suas


características, mas também segundo a própria conveniência do orador:
premissas que regem a utilização dos argumentos e que formam o ponto de
partida da argumentação - Elementos do Acordo Prévio.

Acordo prévio

 Primeiro passo na escolha das formas argumentativas (independentemente de


quais forem): estabelecer as premissas comuns – implícitas ou explicitas – que
sustentam o possível acordo prévio entre o orador e o seu auditório.

• Estabelecer uma relação comunicativa: elementos partilhados e comuns sobre


os quais a argumentação se possa desenvolver.

• Aproveitar uma adesão já existente (a das premissas da argumentação) para


conseguir o objetivo final de persuadir a aceitação das conclusões e teses que o
orador submete ao seu auditório.

• Espécie de atalho da persuasão: parte de uma adesão existente (premissas) para


fabricar uma segunda adesão (conclusões).

• Objetos de acordo nos quais o orador fixa o ponto de partida da sua


argumentação: estabelecer o inicio da argumentação naquilo em que o auditório
já acredita e para o qual já se encontra motivado.

• Significa saber quando pode – e quando não pode – explorar as premissas em


comum com o seu auditório.
• Evitar defender uma ideia em absoluto contraste com a ideia do auditório: lugar
errado, momento errado e perante as pessoas erradas.

• Acordo sobre elementos que compõem a realidade.

• Sem concordância acerca daquilo que forma a experiência partilhada não é


possível comunicar/argumentar.

Acordo sobre o real

• O Acordo sobre o Real define e delimita aquilo que orador e auditório entendem
como real.

• O Real significa aqui aquilo que se acredita ser real: universalidade (à


semelhança do auditório universal).

• Elementos que definem o Acordo sobre o Real: factos, verdades e


presunções (Perelman, Olbrechts-Tyteca, 1996: 45).

• Factos: imposição geral cuja verificação pode ser realizada por todos, e que se
impõe ao auditório pela sua universalidade. Circunstância que o auditório
entende como facto. Por vezes é uma crença que se impõe de forma
generalizada.

• Verdades: apresentam-se como nexos, ligações causais ou leis prováveis.


Enquanto os factos referem ocorrências específicas, as verdades dirigem-se a
grandes enunciações e teorias.

• Presunções: hipóteses tidas por verdadeiras ou verosímeis – até prova em


contrário. Convicções razoáveis. Sublinham uma confiança, por parte do
auditório, em que alguma coisa é como é a partir da apreciação de indícios.

Acordo sobre o preferível

• É constituído por valores, hierarquias de valor e lugares.

• Valor: atributo concedido a algum objeto e de acordo com o qual se reage e


interage com esse objeto. Na Retórica: valores morais são os que mais importam
já que tendem a determinar o conjunto de regras pelas quais os seres humanos
coexistem na sociedade. Existem valores abstratos (como a Justiça, o Bem ou a
Verdade) relacionados com a razão e valores concretos (profissionalismo,
fidelidade, lealdade) relacionados com a virtude. Todas as questões são
formuladas em termos de valor (inocente ou culpado, belo e feio, útil e inútil).
Todos os dias mobilizamos valores com que não apenas conduzimos as nossas
atividades (ex: o valor do estudo ou o valor do ócio) como também defendemos
certas perspetivas acerca do mundo.

• Hierarquias de valores: alguns valores são sobrevalorizados em detrimento dos


outros. A hierarquização dos valores é determinante numa argumentação:
primeiro, porque o auditório prefere uns a outros fazendo com que alguns
valores não possam ser objecto do Acordo sobre o Preferível. Segundo, porque o
auditório aderirá aos variados valores com diferente intensidade, pelo que
estabelecer uma ordem prioritária pode influenciar decisivamente a intensidade
da adesão do auditório à argumentação do orador.

• Lugares do preferível: consenso geral de estabelecer o valor de alguma coisa.


Elementos generalizáveis e facilmente reconhecidos como importantes. Lugares
da quantidade: preferência daquilo que oferece mais coisas, mais prazer, é mais
durável ou mais frequente. Lugares da qualidade: valorizam ou preferem o
acontecimento único e irrepetível, aquilo que é distinto ou aquilo que é raro.

Formas Argumentativas

• Argumentos Quase Lógicos

• Argumentos fundados na Estrutura do Real

• Argumentos que fundam a Estrutura do Real

• Argumentos por Dissociação

• Falácias

Argumentos Quase Lógicos


 Raciocínios que se aparentam com os raciocínios demonstrativos da Lógica
Formal. Eles inspiram-se na dedução lógica, retirando da matemática e da sua
estrutura formal e universal os seus princípios de funcionamento. Força lógica,
dedutiva e demonstrativa.
 Argumentos por contradição e incompatibilidade: “O que temos de fazer é
lutar e não-lutar” (efeito retórico da contradição, que será explicado logo após a
enunciação); a incompatibilidade obriga a escolher a regra que se seguirá em
caso de antagonismo: descredibilizar alguém apontando uma divergência entre
aquilo que diz e aquilo que faz.
 Argumentos por identidade: Estabelece a identidade entre a definição e aquilo
que é definido: “Um homem é um homem” - um homem (indivíduo) é um
homem (um ser forte e duro).
 Argumentos por transitividade: fazemos derivar, a partir de uma relação entre
dois elementos, deriva-se a existência da mesma relação relativamente a um
terceiro elemento. “Eu confio em ti: os amigos dos meus amigos meus amigos
são”.
 Argumentos por inclusão: “O que não é permitido ao País, não é permitido aos
cidadãos”. “A Ciência não é senão um dos aspetos do Conhecimento Humano”.
Articulação de uma parte (cidadãos/Ciência) num todo (o país/ conhecimento).

Argumentos fundados na estrutura do real

Fundamentam-se na experiência, salientam os aspetos que ligam as coisas. Partem


de uma relação existente para fazer valer determinada ideia. É explicativo: o orador
afirma determinada coisa porque identifica vantagens em explicar como determinadas
coisas são. Procuram as causas e determinam os efeitos. Os factos são apreciados pelas
suas consequências.

• Argumentos por sucessão e causalidade: elaboração de um dado facto a partir


de um nexo causal. “Uma vez que têm acesso a este tipo de informação
confidencial, os nossos serviços secretos têm necessariamente de ser
excelentes”. “Pois é, sr. deputado, o estado ao que o País chegou devemo-lo às
políticas que o seu partido praticou quando esteve no Governo”. Inclui
argumentos pragmáticos que apreciam um acontecimento em função das suas
consequências (favoráveis ou desfavoráveis). “Temos de fazer este esforço
financeiro. Esta é a decisão certa tendo em conta os ganhos potenciais que ela
significa”.

• Argumentos por desperdício: o orador incita a prosseguir algo em função do


esforço já despendido. A expressão “não podemos morrer na praia” sintetiza-o.
“Não podes desistir da faculdade. Não, quando já passaste dois anos a estudar.
Falta apenas um ano e será esse ano que dará sentido a todos os outros”.

• Argumentos de autoridade e Ad Hominem: os de autoridade são muito


utilizados no discurso académico (citações de outros autores) e também no
jornalismo (fontes). O argumento de autoridade fundamenta a pertinência ou
importância de afirmação pelo valor reconhecido ao seu autor. Os ad hominem
são argumentos de autoridade invertidos: descredibilizar o adversário. “Isso que
o senhor diz seria o que Hitler diria sem tirar nem pôr”

• Argumentos de grau e ordem: consideram-se os acontecimentos em termos da


sua qualidade e quantidade. “Não podemos comparar o incomparável. Um e
outro treinador foram campeões na sua época de estreia mas com condições de
investimento no plantel completamente diferentes” (grau). “Só custa a primeira
vez. Depois habituas-te” (ordem)

Argumentos que fundam a estrutura do real

Ao contrário dos anteriores, não se apoiam ou baseiam nas relações entre


acontecimentos do real, mas criam o real através da apresentação desses
acontecimentos. Recriam a maneira do auditório entender determinado assunto ao
tornarem notórios ou visíveis os aspetos que até aí permaneciam ocultos ou
despercebidos. Partem de um precedente ou modelo geral.

• Exemplo: visa passar do particular para uma generalização. Olha para cada
situação como sendo o reflexo de um contexto maior. Narrar o “sonho
americano” onde imigrantes chegam sem nada e conseguem vingar profissional
e socialmente, é também revelar a hipótese de outros o conseguirem igualmente.
Possibilidade de um sentimento positivo se poder estender, desde a pessoa a
quem se toma o exemplo, até aos membros do auditório.
• Modelo: é um exemplo oferecido ao auditório como digno de imitação ou de ser
seguido. Pede-se aos jovens engenheiros informáticos que olhem para Bill Gates
ou que os jovens jogadores adotem a postura de vida de Cristiano Ronaldo. O
anti-modelo afirma um argumento ao contrario.

• Ilustração: exemplo (pode ser fictício) cuja tarefa não é provar uma regra,
como no exemplo, mas relembrar o exemplo de forma a que ele ganhe
intensidade na mente do auditório. Torna alguma coisa mais concreta
permitindo-lhe, não apenas expor um ponto mas mostrar o que ele significa.

• Analogia e metáfora: o orador procura que a tese que submete para


consideração seja análoga ou idêntica a um facto. Averigua a semelhança entre
ideias diversas e aparentemente sem ligação. A metáfora é uma analogia
condensada que exprime certos termos de comparação enquanto omite outros.
“Pintar é para o pintor beber a água que sacia a sua sede”. (a partir de dois
domínios, compara-se a pintura à água, algo essencial à vida.

Argumentos por dissociação

 Consiste em separar ou dissociar noções em pares hierarquizados. A dissociação


separa e modifica profundamente as realidades que distingue. São técnicas de
rutura com a finalidade de dissociar e separar elementos considerados como um
todo.
 A sua tarefa principal é dirimir incompatibilidades ao encontrar um caminho ou
terceira via entre aquilo que seria irredutivelmente inconciliável. Os argumentos
por dissociação reordenam os factos aparentemente incompatíveis, ao fazer
desaparecer – precisamente pela dissociação – essa incompatibilidade ou
antagonismo. A dissociação pretende resolver um problema de
incompatibilidade.
 O lugar por excelência de qualquer dissociação de noções é a dissociação entre
“aparência” e “realidade”. Assim, dizemos: “Uma coisa é ser, outra coisa é
parecer”.
 Outros argumentos assentes noutros pares opostos: meio/fim; acidente/essência;
relativo/absoluto; individual/universal; teoria/prática; letra/espírito, etc
Falácias

Raciocínios falsos ou errados ainda que aparentem ser verdadeiros. O termo


“falácia” deriva da palavra latina fallere que significa enganar. A falácia é um
argumento logicamente inconsistente ( “Podemos ir embora. Se até agora ninguém
apareceu não é agora que vai chegar”), sem fundamento (“Os últimos ataques terroristas
foram perpetrados por radicais islâmicos. Logo, todos os muçulmanos são terroristas”)
ou inválidos (“Se é verdade para ti, para mim tem de ser mentira. Somos pessoas tão
diferentes”).

• Apelo a uma autoridade anónima: Usar provas não identificadas (e não


reconhecidas) de um suposto estudo, bem como um alegado especialista para
reclamar uma verdade. “Estudos afirmam que leva 7 anos a digerir uma pastilha
elástica”

• Apelo à ignorância: Uma tese é argumentada como verdadeira simplesmente


porque ainda não foi provado que fosse falsa. ““Até agora, ninguém provou que
Deus existe. Por isso, no que me diz respeito, para mim, Deus não existe”

• Apelo à crença popular: Pretender que a conclusão do orador seja verdadeira


apenas porque a maioria das pessoas acredita que assim seja. “Nós só usamos
10% do nosso cérebro”

• Apelo ao medo: Falácia que se baseia em gerar (de forma exagerada, prejudicial
ou injustificada) medo e receio no auditório. “Se não se fizer nada, qualquer dia
não há comida nos supermercados”

• Apelo ao ridículo: Consiste em ridicularizar e satirizar o argumento do


adversário com vista a destrui-lo apresentando-o de forma a que pareça absurdo.
“Se a teoria da evolução natural fosse verdadeira, então o teu tetra-avô teria sido
um macaco”

• Apelo à misericórdia: A tentativa de instilar a piedade ou a compaixão de


forma a fazer valer o seu ponto de vista. “Desista dessa ideia. Faça isso pelo seu
filho”
• Generalização generalizada: A falácia consiste na aplicação de uma regra de
forma completamente desproporcionada. “É muito claro que os tumultos
causados por esses jovens se devem à falta de uma educação moral por parte das
suas famílias”

• Lógica circular: Argumento falso em que a conclusão deriva das premissas, as


quais se baseiam na conclusão. “Emprestar o computador só é mau para aqueles
que tiverem alguma coisa a esconder. Tu deves ter alguma coisa que não queres
que saibamos se te opões a que usemos o teu computador”

RETÓRICA MEDIATIZADA - Aula nº 8 e 9


Após o seu declínio, a Retórica sobreviveu no ensino da oratória, na prática literária e nos discursos
jurídicos.

A renovação da retórica ocorre a partir de meados do séc. XX: numa razão argumentativa que defende,
não a verdade, mas uma razoabilidade plausível.

A Retórica que renasce no Séc. XX e se afirma em pleno séc. XXI já não é exatamente a mesma
técnica retórica que herdámos da antiguidade clássica: ainda está ao serviço da persuasão, no entanto,
persuadir na época da comunicação de massas, é bastante diferente da persuasão que o orador clássico
mobilizava face-a-face com o seu auditório…

Retórica hoje

• Os três géneros oratórios sofrem uma abertura que os remodela ao mesmo tempo que a Retórica
vai anexando todas as formas modernas do discurso persuasivo.

• A Retórica deixa de ser encarada somente como persuasão discursiva verbal: estudo da
persuasão para lá da palavra (como a imagem ou o cinema), e incluir a comunicação não-verbal
(para-linguística, proxémica e quinésica).

• Faces muito diversas: Retórica da Publicidade, Retórica da Imagem, Retórica da Comunicação


Política, entre muitas outras.

• A Retórica atual apresenta-se estilhaçada em vários sentidos: estilhaçada nos contextos de


usos, os quais ultrapassam o discurso do orador perante uma assembleia; estilhaçada quanto ao
foco persuasivo já que comporta agora a prática persuasiva em geral, desde o discurso e
comportamento do vendedor, passando pelos palestrantes e conferencistas até, por exemplo, ao
discurso familiar; estilhaçada na sua própria definição, a qual tem de incluir influência
incontornável dos dispositivos tecnológicos de mediação simbólica, ou Media, nas nossas vidas.

Retórica Mediatizada

 Técnica da persuasão que não se limita à oratória nem ao orador frente ao seu
auditório, mas que engloba a persuasão realizada (e potenciada) por intermédio
dos Media.

“Retoricamente, os meios não potenciam apenas o alcance do discurso, não se limitam


a levar o discurso a mais ouvintes ou a adicionar-lhes imagens mas alteram as
próprias formas da persuasão” (Fidalgo e Ferreira, 2005:151)

 Retórica mediática: tipo discursivo característico dos media durante o seu


normal funcionamento (por exemplo, a retórica da informação e do
entretenimento, de acordo com os seus respetivos regimes de objetividade e de
imediatez).
 Retórica mediatizada: modificações que os meios de comunicação introduzem
nos processos de persuasão.

Mediatização da Retórica

• Quantidade de interações persuasivas que são agilizadas pelos meios de


comunicação de massa: intensificação da persuasão permitida pelos media.

• Mutações que os media introduzem nas próprias formas da persuasão e


argumentação: a própria organização persuasiva se transforma assim que sofre a
influência dos Media.

• A entrada dos meios de comunicação de massa altera a natureza e configuração


clássica da Retórica: a Retórica, não apenas como dispositivo literário ou
ferramenta da persuasão, é necessário examinar a persuasão na altura em que
sofre uma ampliação em termos tecnológicos e uma multiplicação dos meios de
comunicação disponíveis.

A Retórica, à semelhança dos processos de comunicação, não está mais condicionada


pelas fronteiras do espaço (o orador na presença do seu auditório), nem do tempo (o
orador moderno dispõe, muito simplesmente, da possibilidade gravar – num documento
escrito, numa apresentação audiovisual, numa gravação televisivo, etc – a sua preleção
persuasiva

Ao tornarem possível a infinita reprodução do discurso do orador, os Media libertam a


Retórica das amarras do único e do irrepetível.

Em nome da reprodução, a Retórica Mediatizada disponibiliza os discursos de


persuasão independentemente do lugar e do tempo em que ocorreram.

Retórica Mediatizada

1. Enorme acessibilidade aos diversos discursos persuasivos e uma colossal


intensificação desses discursos, os quais passam tendencialmente a estar
disponíveis, em permanência, para consulta, consumo ou estudo.

2. Esta possibilidade do orador discursar uma vez e endereçar uma única preleção a
múltiplos auditórios em tempos e lugares distintos, tem implicações sérias nos
próprios princípios da Retórica: em vez de existir uma adequação, e
adaptação do orador ao seu auditório, há somente uma reprodução
padronizada de um discurso originalmente singular que depois se massifica
em torno de audiências anónimas e estereotipadas. A persuasão é
tendencialmente organizada em torno da massificação e padronização do
discurso.

Ciências da Comunicação

Pesquisa sobre a Retórica a partir de um duplo enquadramento:

1. Interrogam as formas pelas quais a persuasão se altera e se processa no tempo de


intensa mediatização;

2. Interrogam os efeitos que os Media causam na técnica retórica, bem como as


novas formas de comunicação persuasiva que eles induzem.

As especificidades envolvidas e as transformações ocorridas com a


mediatização da Retórica:
Retórica

Meios de comunicação: não são apenas elemento adicional, mas elemento central que refaz e
reformula as relações dos restantes elementos entre si. A relação do orador com o seu auditório
é substancialmente alterada e a própria mensagem é modificada de acordo com o meio em que é
proferida.

Retórica mediatizada

A Mediatização altera as próprias formas da persuasão, não apenas porque os Media e


as Mensagem se encontram interligados, como também porque o orador está agora perante
auditórios distantes no espaço e no tempo a que chamamos de audiências: novas estratégias de
captação e persuasão das audiências.

Dos Auditórios às Audiências


Auditório:

• Escuta presencial do orador –sincronizado e localizado em relação ao orador.


Ambos partilham o mesmo espaço em simultâneo e debruçam-se mutuamente
sobre determinado assunto.

• Possui uma única finalidade – cada auditório constitui-se de acordo com um


fim: observa (género epidíctico), reflete (género deliberativo) ou ajuíza (género
judiciário).

• Favorecimento do sentido da audição – Etimologicamente, “auditório”


designa o conjunto daqueles que escutam.

• Beneficia a explicação face à exposição – conjunto dos interlocutores que


assistem à explicação detalhada, minuciosa e austera de um determinado assunto
complexo.

Audiências:

 Diferimento Espacial e Temporal – tempos de visionamento muito díspares


entre si; assistir repetidas vezes à mesma preleção.
 Carácter Múltiplo e Heterogéneo - coexistem diferentes contextos de
visionamento, diferentes objetivos e distintos tempos de receção. Competição
pela atenção.
 Favorecimento da visão face à audição - tendem a confiar mais no que veem
do que no que escutam. A comunicação não-verbal é tão importante quanto a
verbal.
 Privilégio do mostrar face à demonstração – tende a mostrar mais do que a
narrar. Condensa-se a mensagem em imagens, ícones e símbolos
 Natureza tangível que pode ser medida e quantificada – podem ser
quantificadas e traduzidas em números.

A Erosão Mediática dos Géneros Retóricos

 Negação de uma tripartição, clara, definida e autónoma dos três géneros.


 Um discurso demonstrativo ou epidíctico trata de questões ligadas à moral
(pense-se nos discursos elogiosos a Nelson Mandela que sublinhavam a sua
integridade moral). Mas não poderá igualmente respeitar outros fins? Será que,
num elogio, também não estaremos simultaneamente a falar daquilo que é útil e
justo?
 E as deliberações (pense-se nos discursos políticos acerca do Brexit, a saída por
parte do Reino Unido da União Europeia): estamos a referirmo-nos a questões
de utilidade (a mais vantajosa e proveitosa decisão para o Reino Unido) mas não
estaremos igualmente a discutir e argumentar aspetos morais (como por
exemplo, a justiça do Reino Unido abandonar os seus parceiros europeus)?

Os géneros subsistem. Contudo, vão-se imbricando entre si.

Retórica Mediatizada: Pathos e Ethos

Duas provas artísticas se tornam muito importantes.

 Pathos: intensificação das emoções. Convence-se através do explorar emocional


das necessidades (físicas, psicológicas, culturais ou sociais) que os indivíduos
possuem e por isso se compreende a atenção ao detalhe e o investimento
estético.
 Ethos: intensificação da importância do carácter, da idoneidade e da imagem
pública. O orador precisa apresentar bons discursos; todavia, mais importante
ainda é conseguir que a sua imagem e autoridade não sejam beliscadas por um
infortúnio, incidente ou falha da sua prestação. O orador é recordado não tanto
por aquilo que disse ou pela força da sua argumentação (como na Retórica
Clássica) mas pela forma como disse, como se apresentou e o modo como exibiu
o seu ponto de vista (profissionalização da gestão da imagem pública).

Retórica Digital

• Campo de estudo empírico e teórico da persuasão em ambientes digitais:


investiga teoricamente o significado da persuasão digital e descreve as práticas
de informar e persuadir através dos sistemas computacionais.

• Como os media digitais e a comunicação online são usados para influenciar os


indivíduos (podcasts, youtube, media sociais, fóruns, escrita em ambiente digital
ou ensino à distância).
• Media online: omnipresença e criação de novos contextos comunicativos.
Estimulam novas e criativas formas persuasivas, modificando a relação entre
orador e auditório em termos de estilo comunicativo e efetividade.

A expressão “Retórica Digital” foi proposta por Richard A. Lanham, em 1989, na conferência “Digital Rhetoric:
Theory, Practice, and Property” e desenvolvida no livro “The Electronic Word: Democracy, Technology, and
the Arts” (1993).

Retórica Digital – Caraterísticas

• Circulação: mudança da distribuição para a circulação - cultura participativa,


na qual as pessoas moldam, compartilham, reformulam, o que não era possível
nos formatos retóricos tradicionais, como a impressão (colaboração/feedback,
crowdsourcing, delivery).

• Interatividade: os leitores têm a capacidade de curtir, compartilhar, retuitar /


reenviar, comentar e remixar o conteúdo online. As maneiras como os
comunicadores promovem a interatividade consistem no seguinte: Mind sharing
(procura de um consenso na multidão - a resposta que a maioria está a sugerir é a
melhor resposta), Multimodality (usa vários métodos (ou modos) para informar o
público sobre uma ideia. Pode envolver uma mistura de texto escrito, imagens,
áudio ou vídeos), Remix (manipulação e transformação de uma obra original
para transmitir uma nova mensagem, por exemplo, memes).

• Kairos: considere as ramificações de circulação, produção, reprodução e


distribuição dos discursos.

• Velocidade retórica: com o avanço da tecnologia, não há limite para a


velocidade e distância em que um discurso pode viajar. As tags, por exemplo,
são palavras-chave que os leitores podem digitar nos mecanismos de busca para
ajudá-los a encontrar, visualizar e compartilhar textos e informações relevantes.
É importante prever como o público vai recompor os discursos.

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