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Instituto Politécnico de Setúbal – Escola Superior de Educação

Licenciatura em Comunicação Social – 2º ano


UC: Sociologia da comunicação
Docente: Sónia Lamy
Discentes: Andreia Freixo, Beatriz Benzinho, Marta Mariano e Sofia Pólvora

Será possível não comunicar?

A comunicação como objeto sociológico e a improbabilidade da


comunicação

Setúbal, 2023
Resumo

O presente trabalho terá abertura a uma análise de aspetos sociológicos do


ponto de vista da comunicação, referidos em sala de aula, e fruto de uma pesquisa
sobre o tema da improbabilidade da comunicação. Os pontos serão discutidos de uma
forma breve, de acordo com a perspetiva de autores especializados no assunto. Será
formulada e esclarecida pelo grupo, a resposta à pergunta: Será possível não
comunicar? Bem como, uma nota sobre autores e as suas teorias.

Introdução
No quotidiano estamos constantemente em contacto com diversos meios de
comunicação, como seres sociais, assim, a facilidade de comunicação, apesar de variar
de pessoa para pessoa, está presente em nós. Desta forma, contemos uma enorme
necessidade de comunicar para vivermos em sociedade, sendo esta feita através de
várias formas, variando de cultura para cultura e de indivíduo para indivíduo. Por estas
razões mencionadas, adquirimos a comunicação como algo que faz parte de nós, sem
refletirmos sobre a importância da mesma. Apesar de antigamente não existir uma
valorização como atualmente, relativamente à comunicação, existe uma vasta
informação mais próxima da atualidade sobre assuntos relacionados com a mesma.
“(…) A comunicação tem sido deslocada para sub áreas como a de Opinião Pública,
publicidade, comportamento coletivo, lazer, entre outros. “Os sociólogos preferem
deter-se em temas mais estáveis que permitam estudos de longo prazo, o que não
parecia ser o caso dos estudos de comunicação, sujeitos a mudanças bruscas de
abordagem e temática.” (Ganz, 1970, in Pierre Bourdier). Seguindo uma linha de
pensamento ligada ao ramo da sociologia, o trabalho irá corresponder a uma
problemática em torno desta. Apresenta-se assim no trabalho uma reflexão
relacionada com a questão: Será possível não comunicar?

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Os diferentes meios de comunicação

Os humanos possuem várias maneiras de comunicarem entre si, como, por


exemplo, a comunicação verbal, que consiste na utilização de palavras, sejam estas
proferidas de forma escrita ou oral, transmitindo assim uma mensagem para terceiros.
Ao contrário desta, existe a comunicação não-verbal, onde é utilizada a linguagem
corporal, gestos e expressões faciais, de modo a permitir a comunicação. A
comunicação visual é aquela que usa as imagens, diagramas e qualquer conteúdo
visual para transmitir uma mensagem, já outro exemplo é a comunicação escrita, feita
através de papel ou aparelho electrónico.
Porém, a comunicação nem sempre foi efectuada desta forma. A Pré-história é
um período onde a civilização não possuía qualquer tipo de conhecimento sobre
escrita, ainda assim, eram utilizadas outras maneiras de registarem o seu quotidiano e
comunicarem entre si.
Antes do homem aprender a falar, aprendeu a transmitir mensagens visuais,
assim, quando estes povos pré-históricos se tornaram sedentários, começaram a
recorrer a esculturas, desenhos e pinturas de pictogramas, era através deles que
podiam demonstrar ações do seu dia-a-dia e registar mensagens. (PARELLADA, 2009).
No desenvolvimento da escrita, esta é a representação simbólica da
comunicação oral, tornando possível que estas ideias e mensagens fossem preservadas
e, futuramente, transmitidas. Esta escrita era feita pelas escrivãs em placas de argila
húmida, que tinham tamanhos compreendidos entre 3cm a 50cm de altura, desta
forma, era possível que coubessem na palma da mão. Os símbolos nas placas eram
feitos através de estilete de caniço com uma ponta aguda. (POZZER, K.M.P., 2004).
No Egito, utilizavam hieróglifos, estes têm origem no grego, “hiero”, que
significa sagrado e “glifos”, que significa gravar, escrever, assim, juntando os dois
forma então as gravuras sagradas. Estes quando unidos, formam textos, não possuindo
espaços ou pontuação, eram lidos horizontalmente ou verticalmente, sendo
geralmente encontrados nas paredes de pedra, quer fosse nas paredes dos
monumentos de pedra, nas pirâmides ou em templos. (CASSON, 1969). Outra forma
de preservar a escrita era através da utilização de papiros, uma planta cujo a sua polpa
é possível tornar em papel, nascendo assim o seu nome. Eram utilizados para escrita,
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leitura e contas, sendo possível ler os mesmos com clareza, uma vez que, foram
preservadas com a ajuda do calor do deserto. (CASSON, 1969).
Por outro lado, na China, a escrita era feita com o auxílio de tinta e pincéis
criados com pêlo de camelo ou rato, sendo utilizados em variadas superfícies, tais
como, por exemplo, bambu, carapaças de tartarugas, bronze, seda e papel. (KARMAL,
2004).
Uma forma de comunicação na América do Sul, era a realização de nós, que se
denominavam de quipos, sendo esta a única linguagem tridimensional do planeta.
Estes nós possuíam diversas cores e grossuras, podendo transmitir mensagens
complexas. (KARMAL, 2004).
Os meios de comunicação mais comuns utilizados atualmente são, por
exemplo, o correio, o jornal, a rádio, a televisão e a internet. Todos eles permitem
transmitir informações e mensagens para terceiros, ajudando a estabelecer uma

ligação entre o ser humano, pois este é um ser social.

A comunicação como objeto sociológico e a improbabilidade da


comunicação

A pergunta escolhido pelo grupo insere-se no tema “a comunicação como


objeto sociológico e a improbabilidade da comunicação”. A comunicação está inserida
em todos os meios, mundo digital, relações interpessoais, e sobretudo nos meios de
comunicação.

A comunicação é o objeto prático na vida da humanidade antes mesmo de ser


uma ciência, ao termos a oportunidade de estudar este objeto sociológico deparamo-
nos com alguns tipos de problemas, tais como a diversidade dos factos-objeto, a
extensão e a variedade de fenómenos comunicacionais suscetíveis de estudo de uma
ciência especifica dificultam o estudo deste objeto, pois existem diferentes linguagens,
profissões, veículos em diferentes contextos históricos e sociais. A natureza intuitiva
que muitas vezes é acelerada por muitas investigações, acabando por improvisar
métodos, incorporar conceitos que nem sempre são pertinentes ou que tenham
passado pela necessária adaptação. Também, as “teorias receita de bolo” que são
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“teorias” que descrevem uma realidade destituída de seu contexto e que se pretende
como verdade geral.

A comunicação é indispensável para se viver em sociedade, porque uma não


pode existir sem a outra. Luhmann defende que a teoria da comunicação só se pode
fundamentar através das seguintes ideias: Possibilidade de aperfeiçoamento e a tese
da improbabilidade, que nos faz transformar o impossível em possível e o improvável
em provável. Niklas Luhmann afirma que a comunicação está exposta à rejeição
porque se partirmos do principio que comunicamos para um número maior de
recetores o mais provável é que o que queremos transmitir não seja entendido por
todas as pessoas, acabando por demover as pessoas de comunicarem, pelo simples
facto de não serem capazes de transmitir aquilo que lhes foi transmitido.

A comunicação é o meio que se tornou essencial para o desenvolvimento dos


sistemas sociais, apesar do conceito de improbabilidade de Luhmann, a comunicação
manifesta-se como uma condição que já foi ultrapassada pelos sistemas sociais porque
para o autor eles são os únicos capazes de o fazer. Luhmann não se satisfaz apenas
com os aspetos superficiais da convivência social, das técnicas de comunicação ou até
mesmo da discussão do conceito da teoria, que depende dos objectivos e contexto
teórico onde ele é aplicável (Luhmann, 2006:39).

Com isto Luhmann parte de duas fontes teóricas possíveis, a primeira iniciada
por Francis Bacon que se fundamenta no empirismo como instrumento de domínio da
natureza e ao serviço da sociedade, inspiradora de Darwin na Biologia ou de Galileu na
Cosmologia.

Porque para Luhmann conhecer cientificamente a existência do mundo não é


razão para o conseguir perceber por isso afirma que, esta teoria científica tem a
virtude de despistar defeitos e por isso cria condições para melhorar a vida de toda a
humanidade (Luhmann, 2006: 40).

E a segunda fonte usada é a de Thomas Hobbes, baseada na tese da


improbabilidade, esta fonte tinha o “intuito de desmontar o conhecimento sintético e
as condições que o possibilitavam, percebendo a ordem que transforma os elementos
em unidade, e a improbabilidade em probabilidade”.

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Também segundo Luhmann a comunicação é algo indispensável, ou seja, sem
ela qualquer ser humano não poderia, nem conseguia relacionar-se e nem conseguiria
até mesmo viver. Por isso, analisando do ponto de vista da sociologia da comunicação,
existe dentro da mesma a impossibilidade de não comunicar. Logo, é uma premissa
essencial a ser objeto de reflexão por ser uma questão mais complexa do que parece.

É possível não comunicar?

A improbabilidade da comunicação apresenta uma teoria associada, criada no


ano de 1993, por Niklas Luhmann. Esta, embora se refira a uma improbabilidade e
aparente ser assim, apresenta diversos aspetos, todos eles diferentes, no que
concerne à comunicação.

De acordo com a perspetiva do autor, a comunicação é vital para se conseguir


viver em sociedade, e é com base neste pensamento que Luhmann desenvolve toda a
sua pesquisa e a sua teoria. Para ele, uma complementa a outra, ou seja, não é
possível existir comunicação sem a sociedade assim como não é possível existir
sociedade sem a comunicação.

Para Luhmann, a sua teoria assenta numa corrente relativa à tese da


improbabilidade, ou seja, é necessário transformar aquilo que consideramos
improvável em provável e tornar possível o que é visto pela sociedade como
impossível. Desta forma, o autor considera que não existem probabilidades limitadas
e, assim, a comunicação passa a ser um problema ao invés de um fenómeno, lançando
a questão de se é possível existir a comunicação.

Com isto, Niklas identifica três diferentes problemas no que diz respeito à
comunicação. Inicialmente, a questão da compreensão da mensagem, referindo que “é
impossível que alguém compreenda o que o outro quer dizer, tendo em conta o
isolamento e a individualização da sua consciência” (Luhmann, 2001). Como segundo
ponto problemático, o autor refere a maneira como a informação chega aos recetores
que não se encontram presentes no exato momento em que esta é transmitida, “é
improvável que uma comunicação chegue a mais pessoas do que as que se encontram

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presentes numa situação dada, O problema assenta na extensão espacial e temporal”
(Luhmann, 2001). Por fim, e como último problema, Niklas refere que existe a
possibilidade de uma vez que esta pode não ser aceite, a comunicação não ser bem
sucedida, “a terceira improbabilidade é a de obter o resultado desejado” (Luhmann,
2001).

Ainda que sejam referidas estas problemáticas, são também apresentadas


soluções e, por isso, existem meios para tornar estas improbabilidade em
probabilidades, como, por exemplo, a linguagem, os meios de comunicação em massa
(imprensa, televisão ou rádio) e os meios representados, ou seja, o dinheiro, a
influência, a verdade, a moral, entre outros. Desta forma, o entendimento da
comunicação passa, em grande parte, pela linguagem e pelo sistema dos símbolos ou
signos, embora se encontre na mesma sujeita ao mau uso destas ferramentas e ao
erro, o que pode interferir com as três improbabilidades referidas pelo autor.

Para concluir, conseguimos compreender que na perspetiva de Niklas Luhmann


não é possível não comunicar, uma vez que esta é uma ferramenta essencial na
sociedade e funciona em concordância e harmonia com a mesma, ou seja, para existir
comunicação tem de existir sociedade e para existir uma sociedade funcional é
imprescindível estar presente a comunicação. Embora esta possa apresentar
improbabilidades e problemáticas que a complicam, é essencial e não é possível não
existir numa sociedade.

Descobertas, Conclusão e Perguntas


Tudo indica, através de uma pesquisa e da análise final sobre os dados
expostos, que não é possível não comunicar. Apesar da evolução das tecnologias, dos
novos meios existentes para pesquisar informação e do surgimento de novas formas
de encarar a vida, entende-se que a comunicação está presente em tudo e que sem a
mesma não era possível a evolução do ser humano e da própria sociedade.

Contudo, ainda permaneceram algumas questões por parte do grupo


relativamente a este tema: Com a evolução tecnológica, será possível encontrar algum

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objeto que substitua a comunicação? Será possível uma evolução drástica da
sociedade que nos permita não comunicar?

Referências Bibliográficas:
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