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Recensão crítica

Obra literária: A Ciência do comum – notas para o método


comunicacional
Autor: Muniz Sodré
Editado: Editora Vozes, Ltda
Data de publicação: 2014
Autor: Jaime Brito
2˚ano – Ciências da comunicação – Universidade de Cabo
Verde

"A Ciência do Comum" é um livro escrito por Muniz Sodré que aborda temas
relacionados à comunicação e à cultura. O autor explora a ideia de que a comunicação é
uma ciência do comum, ou seja, ela se constitui a partir das interações e relações que
compartilhamos em nosso dia a dia. Através de uma pesquisa bem formulada pelo autor,
apresenta-se as supostas mudanças no campo da comunicação e os supostos fatores que
condicionam estas mudanças. O autor propõe-nos a pensar da comunicação enquanto
ciência, recorrendo a alguns aspetos das ciências sociais (sociologia e antropologia,
semiologia) para delimitar o campo da comunicação, procurando estabelecer seus objetos
de estudo e áreas de interesse.

A Ciência do comum – notas para o método comunicacional é uma das obras mais
recentes do autor de trabalhos como “Antropológica do espelho; Sociedade, mídia e
violência; A sociedade incivil: mídia, iliberalismo e finanças ”. A autoria pertence a
Muniz Sodré e a edição à editora Vozes, tendo por editores Aline dos Santos Carneiro,
José Maria da Silva, Lídio Perett e Marilac Loraine Oleniki.

Muniz Sodré é um renomado intelectual brasileiro, nascido em Sergipe em 1942. Ele é


formado em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e possui
doutorado em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP). Ele
também é professor emérito da Escola de Comunicação da UFRJ e já recebeu diversos
prêmios e homenagens por sua contribuição à cultura brasileira.
A obra propõe uma discussão acadêmica sobre o campo teórico da comunicação,
principalmente se tratando de produzir um estudo epistemológico que busque definir
fronteiras, áreas de interesse, métodos e objetos próprios de uma ciência da comunicação.
Esta é a proposta principal da obra A Ciência do Comum - Notas para o método
comunicacional, dividida em três capítulos: 1. Uma ciência pós-disciplinar; 2. A
inteligibilidade redescritiva e 3. A organização do comum.

"A Ciência do Comum" é uma obra provocativa e esclarecedora. O autor emerge-se no


campo da comunicação e da cultura, buscando desvendar os mecanismos por trás das
interações sociais e da construção de significados. Um dos pontos fortes do livro é a
maneira como Sodré enfatiza a importância da comunicação como ciência e o papel
fundamental que desempenha na formação da cultura. O autor aborda a premissa de que
os estudos de comunicação são afetados pelo contexto sociocultural em que se
desenvolvem, de modo que eles próprios são também um meio de se conhecer a evolução
histórica do mundo. Ele ilustra também de forma clara e persuasiva como a comunicação
é a base das relações entre indivíduos e de como ela molda nossa identidade coletiva.

Com o surgimento da comunicação eletrônica, a internet, a dada obra intima-nos a


repensar e reformular a comunicação além da ideia de transmissão. O próprio autor cita
a seguinte frase, “Na rede eletrônica, as pessoas se conectam, não para “comunicar” um
importante conteúdo, mas pelo êxtase da conexão” (Sodré, 2014, p.87).

O primeiro capítulo, intitulado “Uma ciência pós-disciplinar”, busca avaliar em que


medida os estudos fundantes do campo comunicacional nos EUA e na Europa são
oriundos de campos como a sociologia e a antropologia abordando as propriedades destes
campos e o que lhes falta no que se refere a um “olhar” especificamente comunicacional.
Assim o capítulo estuda de que forma a comunicação definiu-se enquanto campo
epistémico. E no mesmo capítulo, abordando sobre as ideologias económicas, o autor
indica que a comunicação enquanto campo vem sofrendo de um reducionismo à lógica
de funcionamento do capitalismo contemporâneo.

No segundo capítulo, Muniz Sodré parte da Filosofia da redescrição para manter a


discussão sobre o estatuto epistemológico da Comunicação que atingiu o estágio de
Simultaneidade, Instantaneidade e Globalidade, cujo controle da observação empírica
formula o conhecimento científico. Sodré procura entender a formação da ciência da
comunicação pela qual o indivíduo pós-contemporâneo convive com a tecnologia
avassaladora a ponto de ter sua vida transformada. Este capítulo ressalta também a
importância de que uma ciência da comunicação reflita a diversidade cultural existente e
que se faz ver cada vez mais no mundo mediatizado.

No terceiro capítulo, o autor Sodré realiza uma distinção entre “significar” e “simbolizar”,
demonstrando o quanto a comunicação funciona mais como elemento social do que algo
a ser estudado isoladamente (tal como muitos semiologistas do século passado fizeram).
Mas antes disso, Sodré destaca a importância da comunicação como uma forma de
conexão entre as pessoas e como uma ferramenta para a construção da identidade cultural.
Ele levanta uma reflexão sobre a importância da cultura popular e como ela é moldada
pela comunicação de massa. Ele também analisa a influência dos media na formação da
opinião pública e como isso afeta a democracia.

Um aspeto que se destaca nesta obra, é a análise abrangente do autor sobre o impacto das
novas tecnologias na comunicação. Sodré explora as implicações dos medias sociais e da
internet nas relações humanas, destacando tanto os avanços positivos quanto os desafios
que essas transformações trazem consigo. Esta análise põe em evidência a relevância de
suas reflexões e sua capacidade de antecipar e interpretar as mudanças da sociedade
contemporânea. No entanto, apesar dos muitos pontos fortes, o livro pode ser considerado
denso e um tanto complexo para leitores não familiarizados com os conceitos e teorias do
campo da comunicação. Algumas partes podem ser difíceis de acompanhar, o que pode
afetar a acessibilidade e o engajamento do leitor.

Muniz Sodré define comunicação como uma ciência do comum. Para o autor, a
comunicação não se limita apenas a veicular informações, mas está intrinsecamente
ligada às interações e relações que compartilhamos em nossa vida cotidiana. Sodré
explora a ideia de que a comunicação é uma esfera central na formação da cultura e da
sociedade. Ela é responsável por criar e transmitir significados, permitindo que os
indivíduos se conectem, compartilhem conhecimentos, estabeleçam identidades e
estabeleçam vínculos sociais. A comunicação, não seria transmissão de informações nem
diálogo verbal, e sim uma forma modeladora (organização de trocas reais) e um processo
(ação) de pôr diferenças em comum.
A obra destaca que a comunicação vai além da simples transmissão de mensagens,
abrangendo também os processos de receção e interpretação. Ele argumenta que a
compreensão da comunicação requer uma compreensão inteira de todo o processo, desde
a produção até a receção da mensagem. Sodré também enfatiza a importância das práticas
comunicativas na construção do senso de pertencimento e na formação de identidades
coletivas. Ele explora como a comunicação molda as relações entre diferentes grupos
sociais, influenciando a dinâmica cultural e a construção de memórias coletivas.

Os conceitos apresentados por Muniz Sodré no livro "A Ciência do Comum" têm algumas
semelhanças com os conceitos de outros autores que também se dedicaram a estudar a
relação entre comunicação e cultura. Por exemplo, a ênfase dada por Sodré à importância
da cultura popular e da comunicação de massa é semelhante à abordagem de autores como
Stuart Hall e John Fiske, que também destacaram a importância desses temas na formação
da identidade cultural. Além disso, a análise da relação entre comunicação e poder feita
por Sodré tem algumas semelhanças com a abordagem de autores como Michel Foucault
e Jurgen Habermas, que também destacaram a importância da comunicação e do discurso
na formação do poder e da opinião pública. Ainda é interessante ressaltar que, no decorrer
da obra Sodré procurou apoiar-se maioritariamente nas teorias de Karl Marx. O autor
também referiu muitas vezes aos teóricos da escola de Frankfurt. Em boa parte estes
autores foram mencionados na obra e seus conceitos também. No entanto, é importante
destacar que Sodré apresenta uma abordagem própria e original sobre esses temas,
trazendo sua própria perspetiva e experiência como comunicólogo e pesquisador da
cultura brasileira.

Em suma, "A Ciência do Comum" é uma obra de grande relevância para quem busca uma
compreensão aprofundada da comunicação e das interações humanas. Muniz Sodré
apresenta uma perspetiva instigante e estimulante, oferecendo perceções importantes
sobre o papel central da comunicação na construção da cultura contemporânea. "A
Ciência do Comum" é uma obra que explora a importância da comunicação como um
campo de estudo e como uma força central na construção da cultura. O livro nos convida
a refletir sobre como nos comunicamos e como isso afeta nossa experiência de vida e
nossas relações com os outros. Embora o livro possa ser desafiador em alguns momentos,
vale a pena o esforço para mergulhar nas ideias significativas que ele apresenta.

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