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CAPÍTULO 1 • CriATividAde e inOvAçãO

Alfa... Eis que é plantada a


semente da criatividade

Se um homem não consegue andar em passo certo com


seus companheiros talvez seja por estar ouvindo um tambor
diferente.
Henry David Thoreau

Introdução
Na disciplina de Psicologia Organizacional, do segundo período, estudamos
que cada indivíduo tem anseios e motivações próprios e que pelos estudos do
comportamento humano a geração de ideias ocorre de maneira inusitada. Neste
capítulo, você precisará da compreensão desses aspectos para entender melhor
o funcionamento da psique humana e conseguir estabelecer uma boa relação
entre esta e as abordagens recentes do processo criativo. Você precisará ser
curioso e estar disposto a identificar caminhos alternativos para a geração de
ideias criativas, assim compreenderá a importância da criatividade e conhecerá
as recentes abordagens do processo criativo.
Iniciaremos nossa disciplina pela compreensão do processo criativo, das
abordagens teóricas recentes sobre o assunto, da natureza e da lógica da criati-
vidade. É importante esse esclarecimento para que, enveredando-nos no mundo
da criatividade, possamos compreender como ela se manifesta e pode ser poten-
cializada individualmente. A partir do capítulo 4, estudaremos o seu desenvolvi-
mento no âmbito organizacional.

1.1 A lógica e a natureza da criatividade


A criatividade é um tema que causa uma aparente desordem e confusão,
pois engloba desde a simples criação de um papel adesivo (lembra-se do Post-it)
até a fantástica pintura da capela Sistina no Vaticano por Michelangelo. Parte
da dificuldade se origina das palavras criativo e criatividade.
Criar significa fazer existir algo que não existia antes. Conforme De Bono
(1994), “criar uma confusão” é um exemplo de criatividade. A confusão não
existia e passa a existir. Depois que esse algo passa a existir, atribui-se valor à
coisa “nova”. Não é assim com a criatividade nas obras artísticas? Cria-se e
depois se atribui um valor sobre o que foi produzido. Assim uma criação não é
um resultado óbvio ou fácil, mas algo que apresenta um aspecto único ou raro.

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CAPÍTULO 1 • CriATividAde e inOvAçãO

E não pense que a criatividade é um elemento necessário apenas para publi-


citários, “marketeiros”, designers, etc. Todos os campos e ramos de atividade
requerem certa dose de criatividade para o seu desenvolvimento. O importante
é que cada área busque compreender as leis físicas e a forma de mensurar os
padrões de comportamento favoráveis à criatividade. Essa compreensão será
facilitada pelo entendimento das abordagens teóricas recentes da criatividade.

1.2 Perspectivas teóricas da criatividade


Para compreendermos melhor como se dão os processos criativos, estuda-
remos três abordagens teóricas que se complementam. Veremos que a tendência
humana à autorrealização, a um ambiente que propicie liberdade de escolha e
de ação e ainda ao reconhecimento e ao estímulo do potencial são importantes
forças para a criatividade de cada indivíduo.

Saiba mais

O hemisfério esquerdo do cérebro é mais eficiente nos processos de pensa-


mento descritos como verbais, lógicos e analíticos. Já o hemisfério direito
é responsável pelos os pensamentos associados à criatividade (ALENCAR;
FLEITH, 2003). Dessa forma, para que você possa entender um pouco mais
sobre a importância e a influência dos hemisférios cerebrais para a criativi-
dade, acesse o sítio <http://criativ.pro.br/criatividade>. Lá você encontra-
rá também outras teorias que tratam do desenvolvimento da criatividade.

Começaremos pela teoria do investimento em criatividade.

1.2.1 A teoria do investimento em criatividade


Essa abordagem foi desenvolvida por Sternberg em 1988 e ampliada em
anos posteriores em parceria com outros pesquisadores. A base dessa teoria
está na expressão da criatividade por meio de seis recursos: inteligência, estilos
intelectuais, conhecimento, personalidade, motivação e contexto ambiental
(ALENCAR; FLEITH, 2003). Vamos então compreender o que significa cada um
desses recursos.
t Inteligência: nesse recurso, é necessário levar em conta três habili-
dades cognitivas importantes – habilidade sintética serve para redefinir
problemas, ou seja, capacidade de observar os problemas sobre vários
ângulos; habilidade analítica serve para reconhecer entre as próprias
ideias aquela em que vale investir; e a habilidade prática-contextual,

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que diz respeito à capacidade de persuadir outras pessoas sobre o


valor de suas ideias para soluções mais criativas.
t Estilos intelectuais: os estilos são classificados em três e representam a
forma como a pessoa utiliza e explora a sua inteligência – legislativo,
executivo e judiciário. O primeiro refere-se àquela pessoa que tem facili-
dade em formular problemas e em criar novas maneiras de observar as
coisas, o que se mostra particularmente importante para a criatividade.
O outro estilo refere-se à pessoa que gosta de implementar ideias para
problemas que, de preferência, têm estrutura clara e objetiva. O último
estilo é identificado naquelas pessoas que preferem emitir julgamentos,
avaliar as pessoas, as tarefas, as regras, enfim, que gostam de emitir
opiniões e de avaliar os pontos de vista dos outros.
t Conhecimento: esse componente é de expressiva relevância e é caracteri-
zado por dois tipos – o formal e o informal. O formal refere-se ao conhe-
cimento de uma determinada área ou de um trabalho que se adquire por
meio de livros ou outros meios de instrução. O informal é conhecimento
adquirido mediante a dedicação a uma determinada área sem, contudo,
haver ensinamento explícito ou verbalização. Destacamos que o vasto
conhecimento em uma área pode também dificultar a visualização de
outras perspectivas relativas àquele domínio.
t Personalidade: as pessoas que possuem um determinado conjunto de
traços de personalidade têm alta produção criativa: predisposição a correr
riscos, confiança em si mesmas, tolerância à ambiguidade, coragem
para expressar novas ideias, perseverança diante dos obstáculos e certo
grau de autoestima. Ressaltamos que esses traços podem não estar todos
presentes. No entanto a tolerância à ambiguidade é condição sine qua
non para uma boa performance criativa em distintas áreas.
t Motivação: esse recurso diz respeito às forças impulsionadoras da
performance criativa. A motivação intrínseca é preponderante, pois a
partir dela as pessoas são muito mais propensas a responder criativa-
mente a uma tarefa se estiverem movidas pelo prazer de realizá-la. Já a
motivação extrínseca está diretamente relacionada às recompensas, aos
prêmios ou ao reconhecimento pela realização do trabalho.
t Contexto ambiental: o tipo de ambiente pode facilitar ou não o desen-
volvimento e a realização do potencial criativo. Assim um contexto
ambiental deve favorecer a geração de ideias e encorajar a produção
de novas, dando suporte necessário para atingir resultados tangíveis e
avaliar o produto da criação.
Ressaltamos que nem todos os recursos anteriormente descritos são rele-
vantes para a criatividade. Cada um deve ser analisado de forma interativa

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com os demais e nunca de maneira isolada. Por exemplo, a alta inteligência na


ausência de habilidade intelectual para entender e usar tal conhecimento levará,
no máximo, a níveis moderados de performance criativa.
Na seção a seguir, conhecemos uma perspectiva que concentra a sua análise
em três fatores: habilidades, processos criativos e motivação.

1.2.2 Modelo componencial de criatividade


Agora, seguiremos nossos estudos com outro modelo. Segundo Amábile
citada por Alencar e Fleith (2003), algo será julgado como criativo à medida
que for considerado novo, apropriado, útil, correto ou de valor para o objeto
em questão. No modelo componencial, três fatores são necessários para
o trabalho criativo: habilidades de domínio, processos criativos relevantes
e motivação intrínseca. O componente habilidades de domínio engloba
aspectos relativos ao nível de expertise em um domínio, como talento e conhe-
cimento adquiridos pela educação formal e informal, experiência e habili-
dades técnicas na área.
O outro componente inclui estilo de trabalho, estilo cognitivo, domínio
de estratégias que contribuem com a produção de novas ideias e traços de
personalidade. Imagine analisar um problema sob vários pontos de vista, com
base em inúmeras informações e em metáforas? Certamente, essa análise
resultaria em uma melhor compreensão do domínio. Conforme Amábile citada
por Alencar e Fleith (2003), o estilo de trabalho criativo relaciona-se à capa-
cidade de se dedicar em longos períodos de tempo, com a dedicação ao
trabalho, com o alto grau de energia, com a persistência diante das adver-
sidades, com a busca pela excelência e com a capacidade de desprezar as
ideias infrutíferas.
Já o estilo cognitivo, terceiro componente, diz respeito à quebra de
padrões usuais de pensamento e de hábitos, à compreensão de complexidades,
à produção de várias opções, a evitar o julgamento prévio no momento da
geração de novas ideias, à flexibilidade, à transferência de conteúdos de um
contexto para outro, à armazenagem e ao resgate de ideias. Destacamos que a
produção de novas ideias deve também tornar familiar o estranho, gerar hipó-
teses e analogias e também brincar com as ideias.
Muitas vezes considerada como inata, a motivação intrínseca pode
ser cultivada e desenvolvida pelo ambiente social. Alencar e Fleith (2003)
reforçam que a motivação intrínseca corresponde à satisfação e à dedicação
da pessoa para realizar a tarefa independentemente dos reforços externos.
Em alguma medida, a motivação extrínseca (reforços externos) pode minar
a criatividade.
No quadro a seguir, você compreenderá esse modelo.

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Quadro 1 Estágios do modelo componencial da criatividade

ESTÁGIO CARACTERÍSTICAS
Identificação do problema ou da tarefa. Quando há um bom nível de moti-
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vação intrínseca pela tarefa, as chances do engajamento são muito boas.
Preparação para a solução do problema. O desenvolvimento das habili-
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dades de domínio é importante nessa fase.
Geração da resposta. Várias ideias são geradas como possibilidade de
3 resposta por meio do uso dos processos criativos relevantes e da moti-
vação intrínseca.
Comunicação e validação da resposta. O criador deve comunicar a sua
ideia. É importante a habilidade de domínio para avaliar a extensão
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em que o produto ou resposta será criativo, útil e de valor para a aula,
conforme padrões estabelecidos pelo domínio.
Resultado. Baseado na avaliação do estágio anterior, pode-se alcançar a
5 resposta para o caso. Claro que ela pode ser completamente satisfatória,
parcialmente ou mesmo não corresponder.
Fonte: adaptado de Alencar e Fleith (2003)

Esses estágios podem ocorrer aleatoriamente, sem obedecer a uma sequência


lógica. Destacamos também que, em caso de insucesso na solução do problema
ou mesmo de solução parcial, é importante que o indivíduo mantenha-se motivado
para reiniciar o trabalho ou dar continuidade a ele.
Para finalizar o nosso capítulo, conheceremos a terceira abordagem.

1.2.3 Perspectiva de sistemas


Essa perspectiva leva em conta atributos individuais, mas seu foco sobre a
criatividade é nos sistemas sociais. Segundo Csikszenmihalyi citado por Alencar
e Fleith (2003), o fenômeno da criatividade é resultado da interação do criador
com a sua audiência. Assim, conforme o autor, a criatividade não ocorre exclu-
sivamente dentro do indivíduo, mas é fruto da interação entre os pensamentos
do indivíduo e o contexto sociocultural. A criatividade deve ser compreendida
como um processo sistêmico.
Esse modelo descreve a criatividade como um processo resultante da inter-
secção de três fatores: indivíduo, domínio e campo. Vamos compreender o que
significa cada um desses fatores.
t Indivíduo: a partir de sua bagagem genética e de suas experiên-
cias pessoais, o indivíduo produz variações e introduz mudanças no
domínio ou na área do conhecimento. Dois aspectos são relevantes
para o processo: características associadas à criatividade e o back-
ground social e cultural. Alencar e Fleith (2003) destacam como caracte-
rísticas de indivíduos criativos a curiosidade, o entusiasmo, a motivação

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intrínseca, a abertura a experiências, a persistência, a fluência de ideias


e a flexibilidade de pensamento. Pessoas criativas não têm rigidez de
personalidade. Elas têm habilidade para operar de forma a atender
as demandas da situação. Se o momento requerer introversão ou
extroversão, a pessoa tem condições de atuar em diferentes contextos.
Destacamos que o ambiente deve estimular a produção criativa, valorizar
o processo de criatividade e oferecer oportunidade de acesso e atua-
lização do conhecimento, assim como acompanhamento de mentores,
infraestrutura, etc.
t Domínio: consiste em um conjunto de regras e procedimentos simbólicos
que são estabelecidos culturalmente. Por meio do acúmulo, da estruturação,
da transmissão e do compartilhamento do conhecimento, as sociedades
constroem o domínio. Domínio forma um corpo organizado de conheci-
mentos associados a uma área. Por exemplo, matemática, química, física,
música, informática são domínios de uma determinada área. Para que
haja mudanças em domínios, é essencial que o indivíduo tenha profundo
conhecimento sobre o domínio em que espera introduzir variações.
t Campo: é formado pelos indivíduos que desempenharão a função de
“juízes”. São os juízes que decidirão se a nova ideia ou o novo produto
é ou não criativo e se deve ser incorporado ao domínio. No domínio
das artes, o campo é formado por professores, curadores de museus,
críticos, etc. No campo dos negócios, são os administradores, os enge-
nheiros, os analistas e até mesmo os clientes que julgam se determinado
conhecimento ou produto é ou não uma contribuição a um domínio.
O modelo sistêmico compreende a criatividade como ato, ideia ou produto
que modifica um domínio existente ou transforma-o em um novo.
Como vimos, as abordagens apresentadas não se sobrepõem, mas se
complementam na medida em que consideram os elementos comuns do processo
criativo e que acrescentam outros que ampliam ainda mais a compreensão do
fenômeno.
Será que todos nós somos criativos? O que pode influenciar na capacidade
criativa de uma pessoa? O que limita a capacidade criativa de alguém? É isso que
vamos estudar no próximo capítulo. Veremos que todas as pessoas são criativas e
que há alguns componentes que evidenciam a criatividade de cada um e outros
fatores que podem atuar como contraproducentes no desenvolvimento da criativi-
dade. A escola e a cultura de uma sociedade são determinantes nesse processo.

Resumo
Na teoria do investimento, a criatividade resulta da convergência e da inter-
relação da inteligência, dos estilos individuais intelectuais, do conhecimento, da

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personalidade, da motivação e do contexto ambiental. A abordagem compo-


nencial credita a fatores cognitivos, motivacionais, sociais e de personalidade
o processo criativo. E, por fim, na abordagem sistêmica, temos, na intersecção
indivíduo-domínio-campo, o resultado da criatividade.

Atividades
1. Criar é
a) elaborar algo inédito e de reconhecido valor.
b) conceber algo a partir da ideia de outra pessoa.
c) constituir algo novo que pode ou não ter seu valor reconhecido pelos
pares.
d) copiar.

2. Crie um pequeno texto definindo e ressaltando a importância da criatividade


para a evolução cultural e econômica de uma sociedade, com argumentos
que justifiquem sua definição.

3. Analise as afirmações a seguir.


Afirmação I: o processo criativo decorre de uma série de elementos que,
segundo cientistas estudados neste capítulo, são interdependentes e seguem
um encadeamento lógico e predeterminado.

PORQUE
Afirmação II: a criatividade é resultado da interação do criador com a sua
audiência. Ou seja, a criatividade não ocorre exclusivamente dentro do
indivíduo, mas é fruto da interação entre os pensamentos do indivíduo e o
contexto sociocultural.

Analisando as afirmações I e II, conclui-se que


a) as duas afirmações são falsas.
b) a primeira afirmação é falsa e a segunda é verdadeira.
c) as duas afirmações são verdadeiras, e a segunda justifica a primeira.
d) as duas afirmações são verdadeiras, e a segunda não justifica a primeira.

4. A abordagem componencial compreende a


a) conjunção de três fatores necessários para o trabalho criativo: habili-
dades de domínio, processos criativos relevantes e motivação intrínseca.
O componente habilidades de domínio refere-se aos aspectos relacio-
nados em nível de expertise em um domínio, como talento e conhecimento

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CAPÍTULO 1 • CriATividAde e inOvAçãO

adquiridos pela educação formal e informal, experiência e habilidades


técnicas na área.
b) ideia de que a criatividade é fomentada nos sistemas sociais e é resul-
tado da interação do criador com a sua audiência. A criatividade não
ocorre exclusivamente dentro do indivíduo, mas é fruto da interação
entre os pensamentos do indivíduo e o contexto sociocultural. A criativi-
dade deve ser compreendida como um processo sistêmico.
c) expressão da criatividade por meio de seis recursos: inteligência,
estilos intelectuais, conhecimento, personalidade, motivação e contexto
ambiental. A inteligência é um recurso que leva em conta três habili-
dades cognitivas importantes – habilidade sintética, habilidade analí-
tica e habilidade prática-contextual.
d) comunicação e validação da resposta criativa. O criador deve comu-
nicar a sua ideia. É importante a habilidade de domínio para avaliar a
extensão em que o produto ou resposta será criativo, útil e de valor para
a aula, conforme padrões estabelecidos pelo domínio.

Comentário das atividades


Na atividade 1, a alternativa correta é a letra (a). Imagino que você tenha
sido capaz de identificar o conceito de criação. Nesse conceito, deve estar
contida a ideia de algo novo e de valor para um determinado grupo, o que não
aparece nas alternativas (b), (c) e (d). A letra (b) trata do conceito de criatividade
como algo criado a partir da ideia de outra pessoa, e não é isso somente. A
letra (c) refere-se ao conceito como algo novo, que pode ou não ter seu valor
reconhecido. Estudamos que um dos requisitos básicos para que algo seja consi-
derado criativo é o reconhecimento do seu valor pelos pares. Na letra (d) vimos
que criar é copiar, e somente copiar não é suficiente para dar conta do conceito
de criação, pois vimos que criar é fazer algo novo, algo que não existia antes.
Na atividade 2, você pode ter considerado tudo que mudou em nossas
vidas graças à dedicação e à determinação de muitos. O que essas mudanças
proporcionaram de positivo ou de negativo, os domínios em que podemos
percebê-las: se em casa, no trabalho, na questão da saúde, entre tantas outras
coisas. Certamente você considerou estes e muitos outros aspectos ao elaborar
sua resposta.
Na atividade 3, você deve ter analisado aspectos relacionados ao conceito
de criatividade e à sua relação com a abordagem sistêmica. Na sua análise,
você notou que a primeira afirmação é falsa e a segunda é verdadeira e que, por
isso, não se justificam, resultando na letra (b) a alternativa correta da atividade?
Na primeira afirmação, temos que o processo criativo decorre de uma série de
elementos que, segundo cientistas estudados neste capítulo, são interdependentes

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CAPÍTULO 1 • CriATividAde e inOvAçãO

e seguem um encadeamento lógico e predeterminado. Isso não é verdade, pois,


ao estudarmos as abordagens do processo criativo, vimos que não há interde-
pendência entre os elementos, mas que quanto mais ocorrerem para o indivíduo,
melhor será. Devido a essa constatação, você deve ter concluído também que as
alternativas (a), (c) e (d) não são as corretas. Na segunda afirmativa, a criativi-
dade é resultado da interação do criador com a sua audiência. Ou seja, a criati-
vidade não ocorre exclusivamente dentro do indivíduo, mas é fruto da interação
entre os pensamentos do indivíduo e o contexto sociocultural. Isso é correto e
corresponde ao entendimento da abordagem sistêmica de Csikszenmihalyi.
Na atividade 4, a alternativa correta é a letra (a). Imagino que você tenha
sido capaz de identificar as características da abordagem componencial. Nessa
abordagem, há a conjunção de três fatores necessários para o trabalho criativo:
habilidades de domínio, processos criativos relevantes e motivação intrínseca, o
que não aparece nas alternativas (b), (c) e (d). A letra (b) trata da perspectiva
de sistemas ao defender que a criatividade não ocorre exclusivamente dentro
do indivíduo, mas é fruto da interação entre os pensamentos do indivíduo e o
contexto sociocultural. A letra (c) refere-se ao modelo componencial que compre-
ende a expressão da criatividade por meio de seis recursos: inteligência, estilos
intelectuais, conhecimento, personalidade, motivação e contexto ambiental. Na
letra (d), a comunicação e a validação da resposta criativa referem-se a um dos
estágios de realização da abordagem componencial.

Referências
ALENCAR, Eunice M. L. S. de; FLEITH, Denise de S. Contribuições teóricas
recentes ao estudo da criatividade. Psicologia: teoria e pesquisa, Brasília: UnB,
v. 19, n. 1, jan./abr. 2003.
DE BONO, Edward. Criatividade levada a sério: como gerar ideias criativas
através do pensamento lateral. São Paulo: Pioneira, 1994.

Anotações

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CAPÍTULO 1 • CriATividAde e inOvAçãO

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CAPÍTULO 2 • CriATividAde e inOvAçãO

Heureca! Todas as pessoas


têm criatividade?

Prefiro ser uma metamorfose ambulante, do que ter aquela


velha opinião formada sobre tudo.
Raul Seixas

Introdução
Para melhor aproveitamento deste capítulo, sugiro que você leve em conside-
ração a teoria do investimento (convergência da inter-relação da inteligência, dos
estilos individuais intelectuais, do conhecimento, da personalidade, da motivação
e do contexto ambiental), a abordagem componencial (influência de fatores cogni-
tivos, motivacionais, sociais e de personalidade do processo criativo) e a abor-
dagem sistêmica (intersecção indivíduo-domínio-campo), ou seja, as influências e
os elementos que resultam na elaboração da criatividade. Com a revisão dessas
teorias vistas no capítulo anterior, você compreenderá os componentes do pensa-
mento criativo e os problemas que limitam o pensamento criativo, assim como iden-
tificará os fatores que interferem no nível de criatividade das pessoas e a impor-
tância de cada indivíduo buscar o desenvolvimento de seu potencial criativo.
Para começar, chamo sua atenção para o fato de que sonhar é salutar.
Sonhar é essencial. Sonhar é eficaz. Sonhar é viver. Com essas premissas, creio
que seja possível responder à pergunta do título deste capítulo. E acrescento:
nenhum grande projeto já desenvolvido pela humanidade começou pela raciona-
lização. Todos começam por meio das fantasias dos que se propuseram a pensar
diferente. Daqueles que não se permitiram continuar trilhando na cadência do
estabelecido, do formalizado, do certificado pelo status quo.
Vamos iniciar este capítulo conhecendo os componentes do processo criativo.

2.1 Revelando o assunto


Desde 1950, alguns pesquisadores têm se dedicado ao estudo da moda-
lidade de pensamento criativo. Ao realizar pesquisas sobre a inteligência, foi
constatado que, nos testes tradicionais de inteligência, um número limitado de
habilidade era avaliado. Foi observado, por exemplo, a completa inexistência
de questões sobre as habilidades do indivíduo em resolver problemas novos.
Nessas pesquisas, foram identificados alguns componentes do pensamento
criativo: fluência, flexibilidade, originalidade, elaboração e sensibilidade para
problemas. Alencar (1996) descreve esses componentes. Vejamos.

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CAPÍTULO 2 • CriATividAde e inOvAçãO

t Fluência: refere-se à abundância ou à quantidade de ideias diversas


que a pessoa tem sobre um mesmo assunto ou mesmo respostas a uma
questão. Pessoas que têm essa habilidade são capazes de gerar um
número elevado de respostas, enquanto outras têm dificuldade de dar
mais do que uma ou duas respostas. Experimente os seguintes exercícios:
listar o maior número de palavras com a letra “p”; ou as possibilidades
de uso de um dado objeto (pneu usado, pedra, garrafas peti, etc.); e se
tivéssemos quatro braços ao invés de dois?
t Flexibilidade: diz respeito à capacidade de alterar o curso de pensa-
mento ou elaborar diferentes categorias de respostas. Essa habilidade
tem sido apontada como um dos principais atributos dos grandes cien-
tistas e executivos que a utilizam para encontrar conexões ocultas entre
as ideias. A pessoa que tem esse atributo sobressai por sua criatividade,
pois vê resultados inesperados e, sobretudo, realiza mudança radical
do seu pensamento. Para exemplificar essa habilidade de pensamento,
proponho que você imagine diferentes usos para um tijolo. Não vale ficar
restrito a uma categoria de resposta: construção. Ouse: um tijolo pode
ser usado para escrever uma mensagem de amor ou mesmo escorar
uma porta. E aí, de que outras formas você utilizaria um tijolo?
t Originalidade: a capacidade de gerar respostas raras, inéditas, inco-
muns é um indicador de que a pessoa tem originalidade de pensamento.
Nas pesquisas realizadas sobre o pensamento criativo, foi constatado
que, quanto maior a fluência da pessoa, maior a probabilidade de ela
criar respostas originais.
t Elaboração: quanto mais detalhes tiverem a ideia ou a resposta, maior
será a habilidade de elaboração. Destacamos que não é raro encontrar
pessoas que geram um número menor de respostas, mas que conseguem
alcançar um nível impressionante de detalhamento.
t Sensibilidade para problemas: essa habilidade refere-se à capacidade
que a pessoa tem de questionar o óbvio, de reconhecer deficiências e
defeitos, tanto de suas ideias como em aspectos do ambiente observado.

Saiba mais

Em um seminário sobre descoberta, inovação, criatividade, originalida-


de, Adriana Schein e Joni Hoppen dos Santos trabalharam muito bem os
conceitos de criatividade e os componentes do pensamento. Vale a pena
acessar o material que foi disponibilizado em <http://www.slideshare.net/
adrischein/seminario-descoberta-inovacao-criatividade-originalidade>.

22 6º PerÍOdO • AdminisTrAçãO • UniTins


CAPÍTULO 2 • CriATividAde e inOvAçãO

Depois de apresentar os componentes do pensamento criativo, vou contar a


você uma história.

Certo homem desempregado procura uma empresa de informática para


candidatar-se a uma vaga de faxineiro. O gerente de recursos humanos
o entrevistou e, em seguida, o encaminhou para fazer um teste.
Ele limpou todo o prédio da empresa com rapidez e eficiência. Surpreso,
o gerente perguntou como ele conseguiu fazer o trabalho tão bem-feito e
com tanta rapidez. Ele respondeu que iniciou o trabalho pelas salas que
ainda estavam vazias e somente depois se ocupou das salas que já tinham
empregados trabalhando e concluiu que ganhou tempo na execução da
primeira etapa.
Convencido, o gerente disse-lhe que a vaga era dele. Para a efetivação
da contratação, o gerente pede o e-mail do homem para que fossem
enviados os formulários a serem preenchidos e os demais procedimen-
tos. Transtornado, o homem responde que não tem computador e muito
menos e-mail. O gerente lamenta o fato e fala que, se ele não tem um
e-mail, virtualmente não existe e, se não existe, não pode ter o trabalho.
Entregou R$ 20,00 para o bom homem e desejou-lhe boa sorte.
Sem rumo, o homem decide ir ao mercado comprar algo para comer.
Muda de ideia e compra uma caixa de tomates e, ao invés de ir para
casa, bate de porta em porta oferecendo o tomate. Naquele dia ele
faturou 30% além do valor que pagou pela caixa de tomates. E ele con-
tinua nesse trabalho... Transcorridos cinco anos, ele possui uma frota e
atende alguns estados, transformando-se em um importante distribuidor
de alimentos.
Num belo dia...
Antes de concluirmos nossa história, sugiro que você construa o final
dela a partir de suas percepções.
.
.
.
Num belo dia, ele decide fazer um seguro de vida para sua família.
Contata um corretor, escolhe o plano e em seguida o corretor pede o seu
e-mail para enviar a proposta. O homem responde que não tem e-mail.
Surpreso, o corretor diz impressionado que, mesmo sem e-mail ele conse-
guiu conquistar todo aquele império, imagine se tivesse e-mail. O homem
reflete por alguns instantes e retruca:
– Seria um faxineiro de uma empresa de informática até hoje.

Essa história pode parecer um exagero, alguém cotado para ser um faxi-
neiro se tornar um dos maiores distribuidores de alimentos do país. Digamos que
haja certa dose (apenas) de exagero, porque a capacidade criativa e empreen-
dedora do ser humano pode levá-lo a realizar proezas.

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CAPÍTULO 2 • CriATividAde e inOvAçãO

A capacidade criativa, maior ou menor, de cada um em relação aos demais


é a postura que cada qual adota em relação ao seu autodesenvolvimento e
como se comporta em relação às coações sociais inerentes ao grupo a que
pertence (ARAÚJO FILHO, 2003).
Algumas pessoas desperdiçam a vida contabilizando os obstáculos que o
meio lhes impõe. Outras procuram se tornar protagonistas da sua história e
buscam opções para contornar as dificuldades. Ressaltamos que progredir é uma
atitude personalíssima que embute algumas ações e comportamentos. Contudo
sabemos que há muitas maneiras de minar o desenvolvimento da capacidade
de agir progressivamente. A escola é um dos ambientes que poda essa capa-
cidade. Vamos continuar nossa reflexão! Agora entenderemos como a escola
pode contribuir para esse fenômeno.

2.2 O ensino
Mesmo reconhecendo que o progresso é, em muitos casos, uma busca soli-
tária, é inegável que a presença da educação formal na vida das pessoas é (ou
deveria ser) um fator de desenvolvimento pessoal e profissional. Ocorre que muitos
estudiosos criticam o modelo de educação que prevalece em nossas escolas. Esse
modelo traz características que inibem o desenvolvimento do potencial criador
dos estudantes. Alencar (1996, p. 43) identifica oito traços presentes no ensino
que dificultam o desenvolvimento da criatividade nas escolas. Vejamos.
1. Ensino voltado para o passado, enfatizando-se, sobretudo a
reprodução e a memorização do conhecimento.
2. Prática de exercícios que só admitem uma única resposta,
cultivando-se em demasia o medo do erro e do fracasso.
3. Destaque à incompetência, ignorância e incapacidade do
aluno, deixando de assinalar o que cada um tem de melhor
em termos de talentos e habilidades.
4. Voltada unicamente para o conhecimento do mundo exterior,
pouco contribuindo para o autoconhecimento.
5. Desenvolvimento de um número muito limitado de habilidades
cognitivas.
6. Obediência, passividade, dependência e conformismo com
os traços mais cultivados.
7. Desconsideração da imaginação e da fantasia como dimen-
sões importantes da mente.
8. Descaso em cultivar uma visão otimista do futuro.

Mas não é justo depositar toda a culpa na escola. Há sim uma significa-
tiva e importante parcela que é intransferível: cada um de nós. Por isso os
diplomas, por si sós, não têm prerrogativa de modificar hábitos e conceitos
profundamente arraigados nas individualidades ao longo de suas existências.
Você concorda com isso?

24 6º PerÍOdO • AdminisTrAçãO • UniTins


CAPÍTULO 2 • CriATividAde e inOvAçãO

A criatividade é dom ímpar e exclusivo da humanidade. Ela não discrimina


hemisférios ou credos e nem se permite agraciar apenas os abastados. É pela
busca equilibrada da autossuperação, ou seja, passo a passo, sem metas inatingí-
veis, por meio de exercício metódico e diário que virá o reconhecimento coletivo.
Assim, mais uma vez, reafirmamos que será pelo grau de importância do
que buscamos e pelos sacrifícios que estivermos dispostos a fazer no sentido de
estendermos os nossos conhecimentos, que alcançaremos de maneira ampla,
sistemática e permanente êxito no campo de nossa existência. Portanto lembre-se
sempre de que não investir em si mesmo é a maior perda que um ser humano,
individualmente, pode contabilizar. E o que leva alguns a investirem mais em
si do que outros? Na sequência, estudaremos o porquê de alguns terem mais
propensão à criatividade do que outros.

2.3 Criatividade, privilégio de todos, opção de poucos


Vou iniciar esta seção contando a você uma outra história que Einstein
contava toda vez que o elogiavam sobre a sua criatividade.
Dois pequenos amiguinhos estavam brincando sobre o espelho de um lago
congelado quando, sem maior aviso, ele rachou e um deles ficou preso debaixo
da camada de gelo.

Rapidamente, o outro tirou o seu patim e começou a bater no gelo até


quebrá-lo e livrar o amigo da perigosa situação em que se encontrava.
Quando os bombeiros chegaram, peguntaram atônitos como ele havia con-
seguido quebrar aquela espessa camada de gelo, se ele tinha tão pouca
força e um instrumento inapropriado.
Um ancião que se aproximava do grupo adiantou-se e falou:
– Eu sei.
– Como foi? – indagaram os bombeiros.
– É que não havia ninguém por perto para dizer-lhe que não seria capaz...

Estudamos, até aqui, que absolutamente todos os seres humanos são seres
criativos. Todavia em alguns – mais ou bem mais do que em outros – a criativi-
dade brota de forma muito acentuada, o que lhes confere uma superior capa-
cidade de perceber e agir. Mas o que torna a criatividade opção de poucos?
Algumas questões podem limitar a pessoa a enveredar em busca do desconhe-
cido: medo, indagações existenciais, religião, dogmas, etc.
O medo pode ser considerado o senhor absoluto de todas as lendas e
preconceitos. Ele inibe o pensamento lógico.

UniTins • AdminisTrAçãO • 6º PerÍOdO 25


CAPÍTULO 2 • CriATividAde e inOvAçãO

Araújo Filho (2003, p. 52) afirma que “todo e qualquer dogma – religioso,
social, intelectual ou corporativo – é pernicioso ao desenvolvimento da arte de
pensar. É inibidor e algoz da criatividade”. Os dogmas podem congelar o pensa-
mento sob influência de circunstâncias e interesses específicos. Eles desprezam
qualquer intimidade com o raciocínio lógico. É crer ou não crer.
É por meio do conhecimento que procuramos racionalizar os contextos que
nos cercam e preparar o terreno para o cultivo produtivo de ações resultantes do
pensamento, do estudo e do desenvolvimento colocado em prática.
Ao libertarmo-nos dos medos infundados, teremos mais chances de alcan-
çarmos o sucesso. Uma formar de nos libertarmos do que nos impede dos medos
é procurar exercitar o pensamento. Vamos ver como isso funciona?

2.4 Exercício faz bem para o pensamento


Não podemos nos permitir perder tempo com o que está congelado no tempo
e desprovido de premissas razoáveis. É importante marcharmos na direção do
embasamento científico que inova e clareia.
Nesse sentido, é importante que as pessoas se libertem para uma vida leve e
mais afinada com suas características e predicados particulares. De modo geral,
negligenciamos o tempo buscando dividir ou imputar a alguém responsabili-
dades, distribuir obrigações, ou seja, procurar culpados potenciais para aquilo
que não ocorreu conforme as hipóteses planejadas. O costume de declarar “a
culpa não é minha”, infelizmente, tem sido um grande balizador da sociedade.
Assim como os músculos do nosso corpo, o cérebro, quanto mais exigido,
mais poderoso fica. Quando estamos envolvidos em algum processo de apren-
dizagem ou estamos diante de um desafio intelectual, ativamos grande parte da
nossa capacidade cerebral. Por outro lado, se nos dedicarmos a realizar tarefas
eminentemente rotineiras e repetitivas, limitaremos sobremaneira esse potencial.
Conforme nossa postura diante da vida, facilitaremos ou impediremos que a
criatividade possa aflorar com naturalidade e ausência de preconceitos, que lhe são
peculiares (ARAÚJO FILHO, 2003). Por isso é preciso coragem para superar as adver-
sidades que a vida apresenta. É preciso mudar, é preciso coragem para mudar...

2.5 Coragem para mudar


Sabemos que as mudanças sempre ocorreram e sempre foram absorvidas
pela sucessão de gerações. Atualmente a ciência e a tecnologia contribuem para
que o panorama se torne ainda mais caótico, dada à velocidade da inovação.
A instabilidade está cada vez mais presente. O tempo, que antes era um aliado,
agora é implacável. Alguns têm extrema dificuldade de se adaptar às mudanças,
outros não só se adaptam como também se tornam corresponsáveis pela acele-
ração do movimento. São os líderes dos processos, os agentes de mudança.

26 6º PerÍOdO • AdminisTrAçãO • UniTins


CAPÍTULO 2 • CriATividAde e inOvAçãO

Gostemos ou não do que é novo, a condição de nos adaptarmos à mudança


é sempre desejável, pois evita o sofrimento diante do ambiente mutante, afirma
Predebon (2003). É importante procurar fazer com que o “novo” não nos faça
sofrer. Para isso, é necessário respeitarmos a nossa maneira de ser no momento
da adaptação. Não nos ajudará em nada ficarmos apegados ao que já não
prevalece mais.
Motivação é a nossa grande força. Podemos, por exemplo, desenvolver a
motivação necessária para empreendermos um plano de treinamento individual
de criatividade – sobre o plano, trataremos no próximo capítulo. Uma forma
importante de alcançar essa meta é promover mudança atitudinal e comporta-
mental sintonizada com um plano racional de vida e de carreira.
De acordo com Predebon (2003), em um estudo realizado por uma rede
de psicólogos e psiquiatras, no período de 1979 a 1995, denominado Human
Dynamics, o ser humano processa as informações que recebe e se relaciona com
elas por meio de três centros: emocional, físico e mental, com uma ordem de preva-
lência determinada pela sua natureza individual. Com base nessa premissa e em
uma avaliação sincera, podemos saber até que ponto as mudanças representam
para cada um de nós um grande problema. Predebon (2003) indica algumas
bases para auxiliar as pessoas em relação à mudança pessoal. Vejamos.
t Devemos sempre raciocinar partindo do princípio de que a mudança
é uma constante em nosso mundo. A partir dos momentos que vivemos,
tudo à nossa volta é movimento e renovação. Nada se repete de fato.
t Sempre necessitaremos de estabilidade e de organização, porém
apenas no grau que sua utilidade exigir. Conservação ao extremo leva
à imobilização, e esta, em última análise, leva à inanição. Mudança é
vida, estagnação é morte.
t Lembremos as fases de nossas vidas que foram marcadas positivamente
por momentos de mudança: emancipar-se dos pais, casar, mudar de
cidade, de atividade.
t A partir desses pontos, devemos refletir e considerar as vantagens de
dominar os processos dos quais não podemos fugir. Procuremos não só
nos conciliar com o inevitável, mas encontrar seu lado bom e aprovei-
tá-lo. (Se você não pode lutar contra alguma coisa, aproveite-a).
t Entre as características que devemos desenvolver, para melhor nos
colocarmos em processos de mudança, estão: curiosidade, desapego,
entusiasmo e ousadia. Privilegiemos as tendências que tivermos nes-
ses campos.
Tornar-se um agente de mudanças é uma necessidade indispensável para
quem está envolvido com a inovação. Todavia lembremos que a condição de
pessoas ligadas à mudança pode contribuir para a perda da sintonia com o
contexto, assim como serem ignoradas e repudiadas pelo sistema, dado o fato

UniTins • AdminisTrAçãO • 6º PerÍOdO 27


CAPÍTULO 2 • CriATividAde e inOvAçãO

de estar à frente do processo social. Van Gogh é um típico exemplo de alguém


que só foi reconhecido e valorizado por gerações posteriores.
No campo da criatividade, existe a figura do realizador, líder, aquele que
faz acontecer catalisando as energias de um grupo para a conquista, ou para
a superação de desafios. Essas pessoas não são necessariamente criativas, mas
são excelentes agentes de mudança. Churchill ou Nelson Mandela são exemplos
desse tipo de figura.
Dessa forma, a condição de agente de mudança é vantajosa e deve ser
perseguida por quem é adequada a ela. Predebon (2003), tentando definir
quem está na condição de agente de mudança, indica que a pessoa tem as
seguintes características:
t menos apego ao que possuem;
t mais sensíveis;
t mais determinadas;
t mais idealistas.
Assim os agentes de mudança serão pessoas que desempenharão um papel
cada vez mais importante. A sua capacidade de improvisar será a grande
competência do futuro, porque as novas gerações irão administrar competências
hoje inimagináveis.
Diante do que estudamos neste capítulo, podemos concluir que a criatividade
é um privilégio de todas as pessoas e que a sua expressão dependerá do grau
de liberdade dado ao pensamento e à imaginação. Outro aspecto importante a
ser destacado refere-se aos componentes que influenciarão o pensamento; eles,
associados ao ambiente e à cultura, ativarão o exercício da criatividade.
Para exercitarmos o processo criativo, é importante reconhecer as etapas
que o compõem. Cada uma delas tem um papel relevante para a concepção
de ideias inovadoras. A fase da preparação é marcada pelo levantamento de
dados, de informações e pela observação. A fase da iluminação se dá, muitas
vezes, no momento em que o autor menos espera: é a possível solução do
problema. Nela, o autor despendeu longo período de dedicação ao trabalho.
E, por fim, na verificação ocorre a validação da solução: é a comunicação dos
resultados. Vamos exercitar a nossa criatividade individual? Esse é o assunto do
próximo capítulo.

Resumo
A criatividade é um atributo de todos os seres humanos e o seu desenvolvi-
mento requer dedicação, determinação e busca permanente. Os componentes
do pensamento criativo são a fluência, a flexibilidade, a originalidade, a
elaboração e a sensibilidade para problemas; e a superação dos obstáculos é

28 6º PerÍOdO • AdminisTrAçãO • UniTins


CAPÍTULO 2 • CriATividAde e inOvAçãO

o caminho para que o empreendimento seja bem-sucedido. Ser criativo é uma


questão de escolha e, para isso, devemos superar o medo e ter coragem para
mudar. Pelo exercício do pensamento, podemos ativar a capacidade de racio-
cinar e, com isso, aumentar o nosso potencial criativo. A natureza humana nos
torna apegados ao conforto da rotina, mas criar é mudar. Daí a importância
de adaptar-nos às mudanças, com possibilidade de atuarmos como agentes
de mudança.

Atividades
1. Sobre a fluência, um dos componentes do pensamento criativo, pode-se
afirmar que

a) se refere à abundância ou à quantidade de ideias diversas que a pessoa


tem sobre um mesmo assunto ou mesmo respostas a uma questão.

b) diz respeito à capacidade de alterar o curso de pensamento ou elaborar


diferentes categorias de respostas.

c) compreende a capacidade de gerar respostas raras, inéditas, incomuns,


sendo um indicador de que a pessoa tem originalidade de pensamento.

d) quanto mais detalhes tiver a ideia ou a resposta, maior será a habili-


dade de elaboração.

2. O que pode favorecer o bloqueio da criatividade? Comente sua resposta de


forma argumentativa e indique possibilidades de superação, em um texto de
15 linhas (fazer uma contextualização).

3. Leia atentamente as afirmações a seguir.

Afirmação I: muitas pessoas têm dificuldade de expressar a sua criatividade.

PORQUE

Afirmação II: as suas atitudes e comportamentos, bem como as coações


sociais do grupo a que pertencem favorecem a inibição da criatividade.

Analisando as afirmações I e II, conclui-se que

a) as duas afirmações são falsas.

b) as duas afirmações são verdadeiras, e a segunda justifica a primeira.

c) as duas afirmações são verdadeiras, e a primeira justifica a segunda.

d) a primeira afirmação é verdadeira e a segunda é falsa.

UniTins • AdminisTrAçãO • 6º PerÍOdO 29


CAPÍTULO 2 • CriATividAde e inOvAçãO

4. Predebon (2003) indica algumas bases para auxiliar as pessoas em relação à


mudança pessoal. Considerando essa afirmação, assinale a alternativa correta.
a) Nunca se deve raciocinar partindo do princípio de que a mudança é
uma constante em nosso mundo.
b) Raramente necessitaremos de estabilidade e de organização.
c) Todas as fases de nossas vidas foram marcadas negativamente por
momentos de mudança.
d) Sempre que possível, deve-se conciliar com o inevitável, encontrar seu
lado bom e aproveitá-lo.

Comentário das atividades


Na atividade 1, você deve ter percebido que a alternativa que corresponde
à fluência é a alternativa (a) e que, portanto, as demais não estão corretas.
Vamos entender a razão? Bem, as alternativas (b), (c) e (d) correspondem, respec-
tivamente, aos componentes da flexibilidade, à originalidade e à elaboração.
Já na atividade 2, você deve ter construído a sua resposta abordando a
questão da coação social e do ambiente escolar como fatores que podem
bloquear o desenvolvimento da criatividade.
Na atividade 3, se você assinalou a alternativa (b), acertou, pois as atitudes
e os comportamentos e, ainda, as coações sociais do grupo a que pertencem
favorecerem a inibição da criatividade, levando muitas pessoas a ter dificuldade
de expressar a sua criatividade. As alternativas (a), (c) e (d) estão incorretas, por
não apresentarem a argumentação adequada às afirmações.
Na atividade 4, você deve ter notado que, entre as alternativas apresen-
tadas, a que melhor se adapta às bases para auxiliar as pessoas em relação à
mudança pessoal é a alternativa (d). As demais não atendem ao enunciado, pois
as alternativas (a), (b) e (c) estão equivocadas. O certo é que é recomendável e
prudente raciocinar partindo do princípio de que a mudança é uma constante
em nosso mundo. A estabilidade e a organização são necessárias equilibrada-
mente e as fases da vida são marcadas por variadas experiências positivas.

Referências
ALENCAR, Eunice M. L. Soriano de. A gerência da criatividade. São Paulo:
Makron Books, 1996.
ARAÚJO FILHO, Geraldo Ferreira. A criatividade corporativa na era dos resul-
tados. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2003.
PREDEBON, José. Criatividade hoje: como se pratica, aprende e ensina. 3. ed.
São Paulo: Atlas, 2003.

30 6º PerÍOdO • AdminisTrAçãO • UniTins


3
CAPÍTULO 3 • CriATividAde e inOvAçãO

Criatividade individual

O mundo é uma perpétua surpresa, em perpétuo movi-


mento. É um perpétuo convite à criação.
Nachmanovich

Introdução
Você compreenderá melhor o conteúdo deste capítulo se tiver assimilado o
conceito de criatividade, como ocorre o processo criativo e as características
da personalidade da pessoa criativa, conteúdos estudados nos capítulos 1
e 2, respectivamente. Por meio deles, identificará os momentos e as etapas
que compõem a produção criativa, pois agora, além de entender o processo
criativo, você conhecerá os atributos da personalidade da pessoa criativa.
Esse conhecimento ajudará você a identificar as necessidades de (auto) desen-
volvimento pessoal ou dos indivíduos que você lidera, compreender como
se dá o processo criativo, reconhecer os atributos da personalidade criativa
e entender como o ambiente de trabalho pode ser capaz de potencializar
a criatividade.
Neste capítulo, vamos conhecer como ocorre o processo de criação no
nível individual. O reconhecimento das fases do processo de criação pode
auxiliar no desenvolvimento da capacidade inventiva do indivíduo, uma vez
que compreenderá o instrumental necessário para a formulação das ideias/
produtos criativos.
Para que possamos utilizar plenamente as nossas potencialidades cria-
tivas, é importante cultivarmos alguns atributos de personalidade. Esses atri-
butos muitas vezes são menosprezados pelo sistema educacional e pela socie-
dade ocidental. Nossa personalidade é resultado da criação que recebemos
desde a infância. Contudo é possível promovermos mudanças na nossa forma
de agir e pensar de modo a fortalecer traços que favoreçam a potenciali-
dade criativa.
Veremos que existem muitas descrições sobre o processo criativo. Em 1902,
Poincaré distinguiu o processo criativo em três fases: preparação, amadureci-
mento das ideias e sua verificação. Recentemente, alguns autores sugeriram
o acréscimo de outra fase à etapa verificação: a comunicação dos resultados
obtidos (ALENCAR; FLEITH, 2004). Passemos, portanto, à compreensão de cada
uma dessas etapas.

UniTins • AdminisTrAçãO • 6º PerÍOdO 31


CAPÍTULO 3 • CriATividAde e inOvAçãO

3.1 A preparação
Na fase preparatória, a pessoa procura ler, anotar, questionar, colecionar e
explorar possíveis soluções. Nessa fase, também há a ponderação do que podem
representar as forças e as fraquezas do problema. Utilizando um exemplo dado
por Alencar e Fleith (2004), Repin, reconhecido pintor que compôs o quadro A
batalha da baixa Ucrânia, aprofundou seus conhecimentos sobre os dados histó-
ricos da época e chegou a surpreender os historiadores e os arqueólogos.
Todavia só conhecimento e técnica não são suficientes, é importante também
que a pessoa desenvolva habilidades associadas à criatividade, como a flexi-
bilidade, a originalidade, a sensibilidade para problemas e a imaginação
(ALENCAR; FLEITH, 2004). Assim o trabalho de preparação não se resume em
levantar e recolher dados relativos ao projeto ou ao problema. Dependendo do
que se busca, na natureza também se podem alcançar algumas explicações
que auxiliam no levantamento de informações para o objeto de estudo. Isso
pode ter ocorrido com os primeiros que idealizaram a construção do avião ao
observarem o voo dos pássaros e sua anatomia. O mesmo pode ter acontecido
com aqueles que imaginaram os submarinos, ao observarem como os peixes se
movimentam no fundo do mar.
Outros dois aspectos importantes devem ser levados em conta na fase da
preparação: tornar o estranho familiar e envolver a pessoa no trabalho. É neces-
sário libertar-se das ideias preconcebidas ou da visão estreita. Em muitos casos,
isso pode levar à distorção das dimensões do problema.
Von Oech citado por Alencar e Fleith (2004) sinaliza que, no ato da prepa-
ração, a pessoa deve procurar desempenhar o papel de explorador de ideias.
Por isso enfatiza que é importante a pessoa estar aberta a novas ideias, às expe-
riências, deve percorrer caminhos diferentes, quebrar a rotina, estar atento às
diferentes informações e não subestimar o óbvio. E, sempre, registrar as ideias.
Depois dessa fase, ocorre a iluminação. Vamos ver o que acontece?

3.2 O momento da iluminação


Essa etapa é marcada pelo surgimento da solução para o problema ou
quando se dá a inspiração. Esse momento acontece, via de regra, após intenso
período de preparação, seguido por um intervalo de atividade não-consciente.
No momento da iluminação, o envolvimento da pessoa é ainda maior porque
se atinge o ápice da iluminação e da inspiração. É o período mais fascinante,
levando a pessoa a trabalhar por longo tempo sem cessar, até chegar ao estado
de exaustão.
Euforia e satisfação são sentimentos fortemente presentes nessa fase, visto
que se vislumbra a solução para o que se busca. Outro aspecto interessante dessa
fase é que a solução nem sempre ocorre intencionalmente, mas, geralmente, em

32 6º PerÍOdO • AdminisTrAçãO • UniTins


CAPÍTULO 3 • CriATividAde e inOvAçãO

um momento em que a pessoa menos espera: no banho, em um passeio, na


mesa de refeições, etc.
Mesmo reconhecendo que a iluminação ocorre de maneira não intencional,
é importante que a pessoa esteja receptiva e observe alguns procedimentos
que podem funcionar como facilitadores. Beveridge citado por Alencar e Fleith
(2004, p. 6) nos ensina alguns facilitadores, como
t contemplar por tempos prolongados os dados e o problema
até que a mente esteja saturada de informações. Deve-se
trabalhar conscientemente no problema por períodos prolon-
gados, com interesse de se encontrar soluções;
t deve-se libertar de problemas ou interesses que competem por
atenção;
t após períodos de intenso trabalho, abandonar temporaria-
mente o problema, dedicando-se a atividades leves que não
requeiram esforço mental;
t ter algum contato com pessoas de interesse semelhantes,
discutindo o problema, escrevendo sobre ele, lendo artigos
relacionados, inclusive aqueles que apresentem pontos de
vistas divergentes.

Esses esforços são úteis e, se praticados com diligência, podem ajudar a


pessoa a liberar o seu potencial criativo.
Depois que a solução foi identificada, o passo seguinte é verificar se aquela
ideia é válida e, se isso se confirmar, comunicar os resultados.

3.3 Verificação e comunicação da ideia


Nessa fase, já se alcançou a solução do problema, agora é testá-lo com
a finalidade de verificar a sua validade e utilidade. É nessa hora que o autor
pode refinar ainda mais a ideia gerada e então decidir sobre a melhor forma
de colocar a ideia em prática. Pode acontecer de, no momento da verificação,
a pessoa precisar retornar à fase de preparação para buscar mais informações
sobre o problema, o que é plenamente aceitável em um processo criativo.
Mas, concluída a verificação, feita a testagem, e se o produto foi achado
conforme, chega o momento da comunicação. É imprescindível que o criador
saiba vender a sua ideia, seja capaz de enfrentar as resistências e as críticas e
que procure a colaboração de outras pessoas.
Cada fase revela um momento particular para a pessoa conhecer e entender
como pode ativar o processo criativo. Considere que cada indivíduo tem o seu
estilo e seu ritmo e que, para obter como resultado algo que seja considerado
valioso, é necessário estar convencido para depois convencer o outro. Essa
atitude está bastante relacionada aos traços de personalidade da pessoa, e é
sobre isso que estudaremos na seção a seguir.

UniTins • AdminisTrAçãO • 6º PerÍOdO 33


CAPÍTULO 3 • CriATividAde e inOvAçãO

3.4 Traços da personalidade criativa


O uso pleno das nossas potencialidades criativas está relacionado ao cultivo
de alguns atributos de personalidade. Esses atributos muitas vezes são menos-
prezados, mas é possível promovermos mudanças na nossa forma de agir e
pensar de modo a fortalecer traços que favoreçam a potencialidade criativa.

Saiba mais

Se você ainda não viu, assista ao filme Uma mente brilhante, do diretor Ron
Howard. O filme é um drama intensamente humano, inspirado nos eventos
da vida de um gênio de verdade – o matemático John Forbes Nash Jr. Nasci-
do em uma família de classe média em uma pequena cidade de West Virgi-
nia, ele fascinou o mundo intelectual há mais de 50 anos com uma surpreen-
dente descoberta. Seu trabalho pioneiro sobre a “teoria do jogo” tornou-o o
astro da “Nova Matemática” na década de 50 – mas sua ascensão mudou
de rumo drasticamente quando seu brilhantismo intuitivo foi afetado pela es-
quizofrenia. Enfrentando desafios que destruíram muitas outras pessoas com
essa doença, John Nash lutou com a ajuda de sua devotada mulher, Alicia,
e, depois de décadas de dedicação, conseguiu superar a tragédia e chegou
até a receber o Prêmio Nobel de 1994. Lenda viva, o matemático continua
envolvido em seu trabalho até hoje. Para entendermos bem sobre os traços
da personalidade criativa, compare o desenrolar da trama que acontece no
filme com o que estamos trabalhando neste capítulo e observe se há diferen-
ça entre o que você viu na ficção e o que acontece na realidade.

Estudos mostram que os profissionais que se destacam no seu campo de


atuação, de acordo com Alencar (2003), devido às suas contribuições criativas,
têm os seguintes traços de personalidade:
t intenso envolvimento no trabalho realizado;
t atitude de otimismo aliada a uma coragem para correr riscos;
t flexibilidade pessoal, abertura à experiência e tolerância à ambiguidade;
t autoconfiança e iniciativa (e acabativa);
t persistência.
Vamos compreender cada um deles?

3.4.1 Intenso envolvimento no trabalho realizado


Esse traço é observado principalmente entre administradores, cientistas,
economistas, escultores, escritores e outros profissionais. A capacidade que
esses profissionais têm de se envolver no trabalho realizado de maneira intensa

34 6º PerÍOdO • AdminisTrAçãO • UniTins


CAPÍTULO 3 • CriATividAde e inOvAçãO

é reflexo de uma paixão pelo conhecimento, pela produção, pelo aprimora-


mento de um produto, pela solução de um problema. As pessoas portadoras
desse traço são fortemente envolvidas por sentimentos de prazer e satisfação na
realização do trabalho.

3.4.2 Atitude de otimismo aliada a uma coragem para correr riscos


Essa característica é frequente em pessoas que têm o profundo desejo de se
aventurar e de correr riscos por caminhos desconhecidos. É marcante também
a capacidade de enxergar inúmeras possibilidades e alternativas de ação. Por
serem demasiadamente otimistas, têm confiança no alcance das metas estabele-
cidas e alta concentração (por longos períodos de tempo) na busca pela solução
das indagações levantadas. Um exemplo bem conhecido é o de Thomas Edison
que, para alcançar a sua meta, testou mais de 1.000 substâncias até encontrar
a adequada para o funcionamento da lâmpada elétrica.

3.4.3 Flexibilidade pessoal, abertura à experiência e tolerância à


ambiguidade
Esse conjunto de características é importantíssimo para ajudar a pessoa a
reformular julgamentos e ideias previamente concebidos sobre alguma coisa.
Note que há uma estreita relação com o desejo de experimentar e buscar novos
métodos, novas soluções e respostas para os problemas em questão. A tole-
rância auxilia a pessoa a lidar com a ambiguidade quando se deparar com uma
situação pouco estruturada.

3.4.4 Autoconfiança e iniciativa (e acabativa)


Autoconfiança e iniciativa são traços igualmente importantes e revelam um
alto nível de motivação intrínseca. As pessoas portadoras dessa capacidade
realizam as tarefas fundadas em interesses próprios. Sua satisfação concentra-se
no fato de concluir a atividade em si e não apenas nos benefícios decorrentes
de sua realização.

3.4.5 Persistência
Persistência... ah! a persistência... O que seria da ciência se os grandes
estudiosos não tivessem essa característica?
O processo criativo pode ocorrer em um estalo de dedos, mas o período que
antecede o “eureca” pode, em muitos casos, demorar um longo período, seja na
preparação, seja na execução.
Para se ter uma ideia do quão importante é a persistência, Alencar (1996)
indica alguns exemplos a respeito do processo criativo de pessoas consi-
deradas altamente criativas em suas áreas. Esse estudo foi realizado pelo
Instituto de Avaliação e Pesquisa da Personalidade, ligado à Universidade da

UniTins • AdminisTrAçãO • 6º PerÍOdO 35


CAPÍTULO 3 • CriATividAde e inOvAçãO

Califórnia, nos Estados Unidos. O estudo revelou que o desenvolvimento da


teoria da evolução de Darwin e também da teoria da relatividade de Einstein
tiveram um período de execução bem curto. O que demorou foi o período de
preparação. A sinfonia de Brahms foi composta em um período de 20 anos.
A pintura da Capela Sistina, no Vaticano, exigiu sete anos de trabalho do seu
artista Michelangelo.
Anteriormente, tratamos do perfil da personalidade criativa e, para ressaltar
a importância de o indivíduo também saber vender a sua ideia, concluímos
este capítulo com uma história extraída do livro A gerência da criatividade
(ALENCAR, 1996, p. 55).

Certo dia, um jovem padre se aproximou de seu cardeal e perguntou-lhe:


– Posso fumar enquanto rezo?
– Oh, não! – replicou o cardeal. – Isso seria totalmente errado.
O jovem padre afastou-se e um colega também fumante disse-lhe:
– Você deveria ter mais tato. Observe.
Dirigiu-se ao cardeal.
– Padre, estou com uma questão teológica incômoda. Rezo com a máxima
frequência possível, principalmente nos intervalos do dia atarefado. Às ve-
zes, enquanto relaxo fumando o meu cachimbo, caio em contemplação e
sinto um desejo terrível de rezar. Padre, seria sábio conter a ânsia de rezar
nessas ocasiões ou deveria ir em frente?
O cardeal respondeu prontamente:
– Vá em frente! Nunca reprima o desejo de rezar, meu filho, não importa a
circunstância.

Note que só ter capacidade de ter ideias não é o suficiente. Saber apre-
sentar essa ideia, ou seja, saber vendê-la é tão importante quanto.
Assim temos que a criatividade individual pode ser desenvolvida por meio
do reconhecimento das fases do processo e a consequente observância, bem
como pelo autodesenvolvimento dos traços da personalidade criativa.
Qual a importância da criatividade para as organizações? Imagino que
você deve ter respondido que é fundamental. É isso mesmo! A criatividade
qualifica os processos organizacionais e é um grande motor para a inovação.
Fomentá-la nas organizações é crucial para manter a competitividade. É o nosso
próximo assunto.

36 6º PerÍOdO • AdminisTrAçãO • UniTins


CAPÍTULO 3 • CriATividAde e inOvAçãO

Resumo
Há várias etapas que compõem o processo criativo. A preparação refere-se
à fase de reflexão, pesquisa e cálculo. A segunda, o amadurecimento das ideias,
é inconsciente e iluminada. A última, a verificação das ideias e a comunicação
dos resultados obtidos, ocorre no encerramento do processo.
Os atributos que definem o perfil da personalidade de uma pessoa criativa
são: intenso envolvimento no trabalho realizado; atitude de otimismo aliada à
coragem para correr riscos; flexibilidade pessoal, abertura à experiência e tole-
rância à ambiguidade; autoconfiança e iniciativa (e acabativa); e persistência.

Atividades
1. Descreva detalhadamente as três etapas do processo criativo, indicadas no
quadro a seguir.

VERIFICAÇÃO E
MOMENTO DA
PREPARAÇÃO cOMuNIcAçãO DOs
IluMINAçãO
RESULTADOS

2. Sobre o processo criativo, é correto afirmar que


a) na fase da iluminação, o autor busca trazer à tona as informações neces-
sárias para a solução do problema. É nessa hora que ele busca tornar
o estranho familiar.
b) a verificação e a comunicação dos resultados revelam-se um dos
momentos importantes para a conclusão do processo criativo. Nessa
etapa, o autor tem a oportunidade de validar o resultado, pode aperfei-
çoá-lo ou mesmo reiniciar o processo retomando a fase da preparação.
É também nesse momento que ele deve “vender a sua nova ideia”.
c) a preparação é a segunda etapa. Nela o autor alcança as possibili-
dades de solução para o que busca.

3. Sobre os traços e as características da personalidade de pessoas criativas, é


correto afirmar que
a) há pouco envolvimento no trabalho realizado pela pessoa interessada.
b) são pessoas que têm atitude de otimismo aliada a uma coragem para
correr riscos.

UniTins • AdminisTrAçãO • 6º PerÍOdO 37


CAPÍTULO 3 • CriATividAde e inOvAçãO

c) são pessoas que têm pouca flexibilidade pessoal e razoável abertura à


experiência e tolerância à ambiguidade.
d) inexiste autoconfiança e iniciativa na personalidade dessas pessoas.

4. A respeito da capacidade criativa, não podemos afirmar que


a) está exclusivamente relacionada à inteligência da pessoa, pois dificil-
mente terá criatividade uma pessoa que não tem extrema habilidade em
uma dada área do conhecimento.
b) várias pesquisas têm demonstrado que pessoas criativas apresentam
atributos de personalidade semelhantes. Entre eles, destacam-se o
intenso envolvimento no trabalho e a atitude de otimismo, aliada a uma
coragem para correr riscos.
c) muitas ideias criativas e inovadoras são desperdiçadas devido à inabi-
lidade do seu criador em convencer as pessoas certas de que sua ideia
encerra algo novo e importante.

Comentário das atividades


Na atividade 1, você deve ter notado que cada uma das etapas tem um
relevante papel na concepção de ideias inovadoras. A fase da preparação é
marcada pelo levantamento de dados, informações e observação. A fase da
iluminação se dá, muitas vezes, no momento inesperado; é insight, a possível
solução do problema depois de longo período de dedicação ao trabalho.
E, por fim, na verificação, ocorre a validação da solução e a comunicação
dos resultados.
Na atividade 2, a alternativa correta é a letra (b), pois, na iluminação, o
autor busca as possibilidades de solução para o que busca e, na preparação,
o autor procura trazer à tona as informações necessárias para a solução do
problema. Já as alternativas (a) e (c) estão incorretas, pois apontam para a
fase da iluminação como sendo intencional e vimos que a solução nem sempre
ocorre intencionalmente, mas, geralmente, em um momento em que a pessoa
menos espera: no banho, em um passeio, na mesa de refeições, etc.; e, quanto à
fase de preparação, ela é a primeira fase, e não como exposto na alternativa.
Você notou que, na atividade 3, a alternativa (b) é a correta? Vamos entender
por que as demais não são. Primeiro, a letra (a) está incorreta. O que de fato
ocorre, quanto à personalidade criativa é o intenso envolvimento no trabalho
realizado. A letra (c) também está incorreta, pois a flexibilidade pessoal, abertura
à experiência e tolerância à ambiguidade é que são os traços corretos e, por
fim, na letra (d) o equívoco está na afirmação da inexistência de autoconfiança e
iniciativa. Pelo contrário, o que mais se percebe nessas pessoas é autoconfiança,
iniciativa e persistência.

38 6º PerÍOdO • AdminisTrAçãO • UniTins


CAPÍTULO 3 • CriATividAde e inOvAçãO

Na atividade 4, a alternativa que atende ao solicitado é a letra (a), pois


não é acertado afirmar que a inteligência seja uma fonte de criatividade. Temos
estudado nesta disciplina que há um conjunto de fatores que contribuem para
a manifestação da criatividade. Já as alternativas (b) e (c) estão corretas em
suas afirmações.

Referências
ALENCAR, Eunice M. L. S. de. A gerência da criatividade. São Paulo: Makron
Books, 1996.
ALENCAR, Eunice M. L. S. de; FLEITH, Denise S. Criatividade: múltiplas perspectivas.
Brasília: UnB, 2004.

Anotações

UniTins • AdminisTrAçãO • 6º PerÍOdO 39


CAPÍTULO 3 • CriATividAde e inOvAçãO

40 6º PerÍOdO • AdminisTrAçãO • UniTins


4
CAPÍTULO 4 • CriATividAde e inOvAçãO

Criatividade nas organizações

A empresa que se recusa a ser criativa, não aprimorando


os seus produtos e sua estrutura, ou não estando atenta
a novas descobertas desenvolvidas em outras partes do
mundo, está fadada a ser superada rapidamente.
Dualibi e Simonsen

Introdução
As constantes mudanças tecnológicas (novos dispositivos, programas mais
sofisticados, redes de comunicação que possibilitam a troca de informações
assincronicamente) modificaram e modificam o status quo das empresas. A
globalização, por exemplo, impactou sobremaneira a forma de fazer negócios.
Reconhecer a influência desses fenômenos e a crescente preocupação que as
organizações têm dado à criatividade é importante requisito para este capítulo.
Lembre-se de que você estudou sobre essas questões em gestão do conhe-
cimento na disciplina de Teoria e Gestão das Organizações. Dúvidas? Retome
os seus estudos, pois assim você identificará a importância da criatividade para
as organizações, seu conceito e os fatores que inibem a inovação nas empresas
e também reconhecerá a importância que a cultura organizacional tem para a
expressão criativa e os componentes que favorecem a criatividade.
A criatividade é um fenômeno complexo e multifacetado que envolve a inte-
ração dinâmica entre elementos relativos à pessoa e ao ambiente. Nas organi-
zações, essa premissa não foge à regra. Por isso as organizaçoes têm atribuído
importante papel para a criatividade com vistas a se tornar mais competitivas. É
o que você verá a seguir.

4.1 O papel da criatividade nas organizações


Não só as pessoas, mas também as organizações sofrem um forte impacto
do atual processo acelerado de mudanças. Nesse jogo dinâmico, sua expansão
ou mesmo a sua sobrevivência é constantemente colocada em risco. As empresas
recebem um bombardeio de desafios: é a globalização intensificando a concor-
rência, são os processos de comunicação que alteram o comportamento do
consumidor, é a nova tecnologia transformando os processos de gestão, de
produção e de comercialização. Todos esses fenômenos se processam com
tamanha velocidade que as empresas são forçadas a se reestruturar nas suas

UniTins • AdminisTrAçãO • 6º PerÍOdO 41


CAPÍTULO 4 • CriATividAde e inOvAçãO

várias frentes. Por exemplo, o processo de tomada de decisão tende a se descen-


tralizar, tornando a estrutura da organização mais horizontalizada.
A cada dia surgem novos problemas nas organizações e exigem soluções
rápidas e originais. Não é possível aguardar as morosas orientações dos
processos tradicionais da alta administração. Até porque, para grande parte
dessas demandas, não é possível estabelecer regras prévias, ficando seu enca-
minhamento subordinado à capacidade criativa dos gerentes, dos engenheiros,
dos técnicos, etc.
Em função disso, cada vez mais tem sido marcante e crescente o interesse
das organizações pela criatividade. Essa busca é na direção de promover as
inovações indispensáveis para a sua permanência no mercado. Daí procuram
manter em seus quadros pessoas talentosas ou recorrem a programas de treina-
mento de criatividade junto ao seu corpo de colaboradores para compensar a
educação anticriativa que predomina na sociedade e nos sistemas educacionais.
O sistema educativo faz com que grande parte da capacidade criativa dos
profissionais seja subestimada ou subutilizada.
Na sequência, estudaremos sobre dois conceitos fundamentais para a cria-
tividade nas organizações: criatividade e inovação.

4.2 Criatividade e inovação


Uma diferenciação importante a ser feita é quanto às definições dos termos
criatividade e inovação. De acordo com Alencar (1996), existe uma infinidade
de conceitos de criatividade presente na literatura. Essa diversidade se deve à
complexidade do conceito e às suas múltiplas facetas, que englobam dimensões
relativas ao processo, à pessoa criativa, ao produto ou mesmo ao ambiente facili-
tador da criatividade. O conceito que adotaremos para criatividade é “processo
que resulta na emergência de um novo produto (bem ou serviço), aceito como
útil, satisfatório e/ou de valor por um número significativo de pessoas em algum
ponto do tempo” (ALENCAR, 1996, p. 15).
Frisamos que esse produto não precisa ser tangível, pois pode ser, por exemplo,
uma ideia, como um nome de um projeto. O que deve ser analisado é se o produto
é novidade pelo menos para quem o gerou. Outro critério descrito no conceito é
o de ser adequado às demandas da situação. Esse critério, em alguns casos, não
ocorre de imediato. Tomemos o exemplo dos gênios das artes plásticas Rembrandt
e Botticelli, que tiveram seus talentos reconhecidos anos após suas mortes.
Inovar significa introduzir novidade, pensando na inovação organizacional
como o processo de adotar, implementar uma nova ideia em uma empresa em
resposta a um problema percebido e, em seguida, transformar essa nova ideia
em algo concreto. Além das ideias, outros elementos são necessários para que
uma inovação se torne realidade. Assim não basta uma ideia criativa, é crucial

42 6º PerÍOdO • AdminisTrAçãO • UniTins


CAPÍTULO 4 • CriATividAde e inOvAçãO

a motivação para transformar a ideia em algo tangível como também recursos


materiais e conhecimento para tal. Observe na figura a seguir a representação
desses elementos.

Figura 1 Fatores necessários à inovação

Fonte: Alencar (1996, p. 16)

Frost citado por Alencar (1996) ressalta que as inovações necessitam de solo
fértil na organização para que sejam ajudadas a se movimentarem por meio
dela e ganhar o reconhecimento e a apreciação. Lembre-se de que a resistência
à mudança torna-se, nesse contexto, um significativo desafio. Assim o criador de
uma inovação técnica ou social deve estar ciente de que está adentrando por
águas desconhecidas e que, certamente, encontrará comentários conflitantes à
sua ideia. Outro ponto a ser destacado é a própria resistência à implementação
do produto. Será necessária grande energia do criador no processo de acei-
tação, pois a falha pode ameaçar a sua carreira.
Todo o processo de inovação deve ser intencional e visar a algum benefício –
individual ou de caráter econômico – que não necessariamente seja fruto de uma
absoluta novidade, mas que tenha relevância para o desempenho do trabalho
que a pessoa desenvolva.
Vejamos alguns exemplos de inovação no nível das organizações: um novo
produto para o mesmo mercado, um novo produto para um novo mercado, um
novo método de trabalho ou uma nova estrutura organizacional. As inovações
podem ser classificadas em natureza técnica (novo método de funcionamento
de um sistema técnico relacionado às atividades primárias) ou em caráter admi-
nistrativo (nova forma de recrutar pessoal, de alocar recursos, de premiar os
funcionários ou novo método de trabalho).
Motta e Caravantes (1979) classificam a inovação administrativa em três
categorias: o social, o técnico e o gerencial.
t Social: planejamento da inovação, mudanças intencionais são introdu-
zidas nos valores e nas normas da cultura organizacional com vistas a

UniTins • AdminisTrAçãO • 6º PerÍOdO 43


CAPÍTULO 4 • CriATividAde e inOvAçãO

promover alterações no padrão de comportamento administrativo e das


percepções individuais.
t Técnico: mudanças da tecnologia usada pela organização poderão ser
promovidas de modo a alterar a divisão de trabalho conforme os novos
processos técnicos.
t Gerencial: alteração de métodos, regras e estilos de formulação das
diretrizes administrativas.
Notadamente, nas inovações de caráter técnico, buscamos o aperfeiçoa-
mento da qualidade dos produtos e a sua diversificação com vistas a manter o
nível de competitividade.

4.3 Diversificação de produtos e aprimoramento de qualidade


como fontes de inovação
As empresas têm buscado diversificar o seu mix de produtos com vistas a
minimizar o impacto da competitividade. Nesse sentido, a diversificação de
produtos pode facilitar a sobrevivência da empresa no mercado, dado o fato
de possuir uma variedade de produtos, pois se um perde competitividade, outro
pode ser o produto da vez. Inúmeros exemplos podem ilustrar essa situação: o
caso dos relógios da Suíça devido ao lançamento do relógio digital, a mudança
de comportamento das mulheres, o que levou a uma brusca queda do nível de
consumo das máquinas de costura.
O aprimoramento da qualidade refere-se à busca pela satisfação do cliente,
ou seja, pela antecipação dos seus desejos, no investimento em um produto
“quase perfeito” para surpreender o consumidor.
Na sequência, vamos entender quais os fatores que podem inibir o processo
de geração de ideias que resultem na melhoria e no incremento dos produtos e
dos serviços dentro das organizações.

4.4 Fatores que inibem a introdução de inovações


Tratar dos fatores que inibem a introdução de inovações na empresa é, certa-
mente, um tema relevante e indispensável. Sabemos que o ser humano é, por natu-
reza, resistente às mudanças. Imagine essa resistência no nível organizacional!
Conforme Alencar (1996), fatores psicológicos e sociais contribuem para
inibir a inovação. Os fatores psicológicos de natureza individual que tendem
a promover a resistência à inovação são: o conformismo às normas, o dogma-
tismo, a baixa tolerância à ambiguidade, a baixa propensão a correr riscos, o
medo do desconhecido e o conformismo. Já os fatores sociais são a ha à pessoa
de fora, a falta de compreensão quanto à inovação e a falta de clareza na
comunicação por parte daqueles que querem introduzir a inovação.

44 6º PerÍOdO • AdminisTrAçãO • UniTins


CAPÍTULO 4 • CriATividAde e inOvAçãO

A questão da criatividade nas organizações precisa ser analisada levan-


do-se em conta os vários fatores que contribuem para a sua expressão. Há
fatores relacionados à empresa e outros ao indivíduo. Na organização, os
fatores que influenciam o grau de abertura para a manifestação da criatividade
são a cultura organizacional e o clima psicológico. Em relação ao indivíduo, o
conjunto de atitudes, as características e os comportamentos é que podem faci-
litar ou inibir a expressão da criatividade. Por isso continuaremos nossos estudos
para entender ainda mais o quanto a criatividade nas organizações é funda-
mental para alimentar o processo de inovação, de diversificação de produtos e
de aprimoramento da qualidade.
Vamos continuar nosso estudo! Conheceremos os fatores relacionados à
organização, depois, os relacionados ao indivíduo que afetam diretamente a
expressão da criatividade.

4.5 A organização e a criatividade


A cultura de uma organização inclui os sistemas de crenças, normas, senti-
mentos e valores compartilhados pelos membros da organização. São pelas
ações que se reflete a cultura, especialmente por aqueles que ocupam o topo
da organização. As características da cultura organizacional incluem alguns
elementos que interagem com a estrutura da empresa e resultam em variados
tipos de cultura. Analisando cada um dos componentes, temos: a) valores compar-
tilhados: o que é importante para a empresa?; b) crenças compartilhadas: como
as coisas funcionam na nossa organização?; c) normas comportamentais: como
as coisas são feitas por aqui?
Diante disso, notaremos que existem distintos tipos de cultura organizacional:
aquela voltada para poder e a que foca a realização. Os indivíduos atuarão e expres-
sarão a criatividade de forma diferente, dada as diferentes culturas dominantes.
Já o clima psicológico está diretamente relacionado ao estímulo, ao compor-
tamento de correr riscos, ao grau em que se possibilita liberdade aos funcioná-
rios para inovar e à extensão com que se estimula e valoriza a expressão de
opiniões. Vamos ver agora os fatores relacionados ao indivíduo.

4.6 Relação organização-indivíduo


As características da cultura e do clima definirão, em maior ou em menor
medida, o grau de abertura à criatividade. Aspectos relativos à rigidez da
organização, às atitudes excessivamente autoritárias aliadas a uma série de
práticas organizacionais, por exemplo, tendem a inibir e a bloquear a mani-
festação de novas ideias por parte das pessoas que trabalham na empresa.
Tudo isso, aliado às características do indivíduo, sentencia a presença da cria-
tividade no ambiente de trabalho. Daí a importância em se levar em conta a

UniTins • AdminisTrAçãO • 6º PerÍOdO 45


CAPÍTULO 4 • CriATividAde e inOvAçãO

influência recíproca da relação organização-indivíduo. Ambos retroalimentam


o processo criativo (ALENCAR, 1996). Observe, na figura a seguir, a represen-
tação dessa relação.

Figura 2 Relação organização-indivíduo

Fonte: Alencar (1996, p. 22)

Na figura, está claramente delineado o grau de interação entre os dois grupos


de fatores – organização-indivíduo. O nível de interação resultará da utilização
do potencial criativo dos recursos humanos. Lembremos que não basta que as
pessoas da empresa sejam criativas e apresentem atitudes criativas. É crucial que
haja na organização consciência do potencial criativo das pessoas e que seja
reconhecido e aproveitado no ambiente de trabalho (ALENCAR, 1996).
Até agora analisamos o aspecto da criatividade sob a ótica da organização-
indivíduo, mas não podemos nos esquecer de que há fatores extraorganizacionais
que afetam tanto o indivíduo como a organização. Vejamos alguns exemplos:
t outras empresas do mesmo setor geram acirrada competição;
t as possibilidades de aperfeiçoamento profissional oferecidas pela
sociedade;
t o reconhecimento daquelas pessoas que se destacam pelos seus resul-
tados criativos;
t os valores compartilhados pelas pessoas de uma dada sociedade.
Para você ter uma ideia da influência que os valores de uma sociedade
exercem sobre o comportamento das pessoas, daremos um exemplo da socie-
dade japonesa. Naquele país, é dada muita ênfase ao trabalho coletivo e à leal-
dade, e isso reflete fortemente no ambiente de trabalho. A média anual de horas
de trabalho comum, no Japão, é duzentas horas a mais do que a de americanos
e ingleses, e de quatrocentas horas a mais do que a de alemães e franceses.
Outro dado impressionante é com relação ao número de dias de férias. No
Japão, o funcionário tem direito a 15,5 dias de férias, mas utiliza em média 8,2
dias. Como o trabalho é atribuído a grupos e não a pessoas, ele considera que
sua ausência pode prejudicar ou retardar as atividades do grupo. Utilizar todos
os dias de férias é considerado um ato de deslealdade.
Assim temos que a criatividade ocorre no contexto social e depende de
processos de pensamento que têm forte vínculo com a cultura.
Temos estudado, nesta disciplina, o quanto aspectos do ambiente físico
como do ambiente psicológico afetam o comportamento humano e contribuem,

46 6º PerÍOdO • AdminisTrAçãO • UniTins


CAPÍTULO 4 • CriATividAde e inOvAçãO

em maior ou em menor grau, para a satisfação pessoal e promoção das condi-


ções necessárias para ajudar a pessoa a fazer uso da sua capacidade criativa.
Propiciar um clima que favoreça o florescimento de novas ideias e, ao mesmo
tempo, atenda às demandas da organização é, sem dúvida, um grande desafio.
É isso que veremos a partir de agora.

4.7 Os componentes básicos para o florescimento da


criatividade no ambiente de trabalho
Segundo Araújo Filho (2003), alguns fatores podem permitir que a criati-
vidade se manifeste no ambiente de trabalho de forma planejada, eficiente e
permanente. Ainda podemos agregar, naturalmente, as habilidades individuais
de modo a contribuir para a integração e o sucesso de toda a equipe. Vejamos
alguns desses fatores.
t Instalações adequadas para o bom desempenho das tarefas
Um ambiente de trabalho desconfortável, mal iluminado, com mesas
com disposição confusa ou sem nenhuma privacidade, temperaturas
extremas (muito calor ou muito frio) podem comprometer a expressão
criativa das pessoas.
t Acesso às fontes de informação
Quanto maior for a facilidade de acesso às informações, quanto maior
for a diversidade, maiores serão as oportunidades que os profissionais
terão para opinar em relação às constantes e necessárias mudanças a
que todo tipo de negócio está sujeito. Outro fator importante é o estímulo
à consulta de literatura especializada, bem com ao compartilhamento
de novas ideias entre os colegas de trabalho.
t Disponibilização de tempo
Esse parece ser o grande vilão dos nossos tempos, mas temos de nos
aliar a ele. Assim um ambiente que disponibiliza tempo, dentro do
tempo contatrado, para que os profissionais possam desenvolver outras
habilidades que lhes são inerentes ao negócio, investe sabiamente na
geração de novos conhecimentos.
Esses três fatores influenciam a expressão da criatividade no que se refere
ao ambiente, ou seja, aos elementos relacionados à infraestrutura. Agora conhe-
ceremos os elementos que afetam a criatividade em um nível mais complexo:
o psicológico.

4.8 Os elementos do clima psicológico


Os elementos que compõem o clima psicológico da empresa e que favo-
recem a criatividade, segundo Alencar (1996), são os seguintes: autonomia,

UniTins • AdminisTrAçãO • 6º PerÍOdO 47


CAPÍTULO 4 • CriATividAde e inOvAçãO

sistema de premiação dependente do desempenho, apoio à criatividade, acei-


tação das diferenças e diversidade entre os membros, envolvimento pessoal e
apoio da direção. Vejamos como cada um desses componentes pode influenciar
no clima psicológico.
a) Autonomia
Refere-se ao grau de liberdade que a empresa possibilita para seus cola-
boradores expressarem suas ideias e opiniões, ou seja, liberdade para
inovar. Estimular funcionários de diferentes áreas a se reunirem em torno
de novos projetos é uma maneira de promover a autonomia.
b) Sistema de premiação dependente do desempenho
O sistema de recompensa praticado envolve três componentes: salários,
benefícios e recompensas não-monetárias. O grau de satisfação que
as recompensas disponíveis geram influencia o desempenho e afeta a
disposição do colaborador de cultivar a sua criatividade no ambiente
de trabalho. É importante destacar que maior ainda será o resultado se
o reconhecimento for resultante da competência e do desempenho de
quem o realiza.
c) Apoio à criatividade
O fato de os funcionários perceberem o apoio e a abertura da organi-
zação a novas ideias e ainda a disponibilidade para aceitar e incor-
porar as mudanças resultantes da inovação é crucial para gerar um
ambiente favorável à criação.
d) Aceitação das diferenças e da diversidade entre os membros
Quanto maior for o espaço para a divergência de pontos de vista e
para as propostas, com a formação de grupos com diferentes experiên-
cias, maior será o número de propostas inovadoras.
e) Envolvimento pessoal
Vimos com ênfase, no capítulo 1, o quanto a motivação intrínseca é
importante para a criatividade. Assim o apoio das empresas dado ao
indivíduo e o reconhecimento às suas habilidades e ao esforço o levam
a se sentir mais satisfeito com o seu trabalho e a se empenhar e dar o
melhor de si.
f) Apoio da direção
Algumas diretrizes foram identificadas por Alencar (1996) como necessá-
rias ao comportamento daqueles que lideram as organizações. Vejamos.
t Motivação da produção de ideias.
t Tolerância ao fracasso e o encorajamento à experimentação e a
correr riscos.

48 6º PerÍOdO • AdminisTrAçãO • UniTins


CAPÍTULO 4 • CriATividAde e inOvAçãO

t Não dificultar e até facilitar a realização de um segundo trabalho.


t Criação de espaço próprio para que os colaboradores expressem
suas opiniões.
t Geração de autoconfiança entre os colaboradores.
Todos esses comportamentos influenciam a forma como os gestores tomam
decisões e lideram sua equipe. Assim é preponderante o apoio e o esforço para
determinar o tipo de atmosfera que envolverá o ambiente de trabalho.

4.9 Identificando as características do clima da organização


Existem algumas técnicas para identificar as características do clima da orga-
nização. Uma técnica bem simples utilizada por Alencar (1996) compreende um
exercício de metáfora. O exercício consiste em solicitar que cada participante
complete a seguinte sentença: “A minha empresa é como...”
Vejam alguns resultados desse exercício.
t A minha empresa é a extensão da minha casa.
t A minha empresa é como um quadro de esperança.
t A minha empresa é como um presídio: cada dia chega mais um.
t Minha empresa é como um elefante: fácil de se ver, mas difícil de se
mover.
t Minha empresa é como cachaça: é ruim, mas a gente gosta.
Perceba que tanto os aspectos do ambiente físico como do ambiente psico-
lógico afetam o comportamento humano e contribuem para a satisfação pessoal
e a promoção das condições necessárias para ajudar a pessoa a fazer uso da
sua capacidade criativa.
Dessa maneira, cada vez que a empresa propicia um clima favorável para
a manifestação de novas ideias, abre um sem-número de oportunidades para
oferecer melhores produtos e serviços a seus clientes.
Responda sem pensar muito: qual o papel que a liderança exerce para
promover a criatividade? E mais, que modelo de gestão deve prevalecer em
uma organização que valoriza os seus talentos? É isso e muito mais que iremos
estudar no próximo capítulo.

Resumo
Os componentes básicos para o florescimento da criatividade nas empresas
são fundamentais. Há elementos que compõem o clima psicológico da empresa
e que favorecem a criatividade. Os que mais se destacam são: a autonomia, o
sistema de premiação dependente do desempenho, o apoio à criatividade, a

UniTins • AdminisTrAçãO • 6º PerÍOdO 49


CAPÍTULO 4 • CriATividAde e inOvAçãO

aceitação das diferenças e da diversidade entre os membros, o envolvimento


pessoal e o apoio da direção.
É imprescindível considerar a inter-relação organização-indivíduo para
analisar o nível de criatividade das pessoas de uma organização. Elementos
como cultura organizacional e clima psicológico e ainda atitudes e comporta-
mentos do indivíduo interferem diretamente na expressão criativa.
De modo geral, fatores como habilidade de pensamento, motivação e
personalidade, além de um ambiente organizacional favorável e de elementos
histórico-sociais, são preponderantes para a expressão da criatividade por
parte dos indivíduos.
O papel da criatividade nas organizações exerce um papel relevante para
a sobrevivência das empresas. No entanto criatividade e inovação não são
palavras sinônimas. A busca pela diversificação dos produtos e pelo aperfeiçoa-
mento da qualidade são fatores que geram a satisfação do cliente.

Atividades
1. O apoio da direção é fundamental para a expressão da criatividade.
Algumas diretrizes devem nortear o comportamento do líder. Entre elas,
podemos destacar
a) a filtragem das ideias produzidas pelos colaboradores.
b) a intolerância ao fracasso e o desencorajamento à experimentação e a
correr riscos.
c) o desencorajamento aos colaboradores realizarem um segundo trabalho.
d) a criação de espaço próprio para que os colaboradores expressem suas
opiniões.

2. Disserte, em 15 linhas, sobre a importância da criatividade no âmbito das


organizações, ressaltando a crescente preocupação com o desenvolvimento
de talentos.

3. As organizações têm atribuído importante papel para a criatividade com


vistas a se tornarem mais competitivas e com intuito de promover as inova-
ções indispensáveis para sua permanência no mercado. Diante disso, analise
as opções a seguir e marque a alternativa correta.
( ) Inovar significa implementar uma nova ideia em uma empresa em resposta a
um problema percebido e transformar essa nova ideia em algo concreto.

( ) As inovações de caráter gerencial buscam o aperfeiçoamento da quali-


dade dos produtos e a sua diversificação com vistas a manter o nível de
competitividade.

50 6º PerÍOdO • AdminisTrAçãO • UniTins


CAPÍTULO 4 • CriATividAde e inOvAçãO

( ) Criatividade é o processo que resulta na emergência de um novo produto


(bem ou serviço), aceito como útil, satisfatório e/ou de valor por um
número significativo de pessoas em algum ponto do tempo.
( ) O aprimoramento da qualidade refere-se à busca pela satisfação do
cliente, ou seja, pela antecipação dos seus desejos, no investimento em
um produto “quase perfeito” para surpreender o consumidor.
A sequência correta é
a) V, V, F, F. c) V, F, F, V.
b) F, V, F, V. d) V, F, V, V.

4. Analise as afirmações a seguir.


Afirmação I: o medo, as indagações existenciais, a religião, os dogmas
e outras questões podem ser considerados inibidores do desenvolvimento
criativo.
PORQUE
Afirmação II: a criatividade é uma questão de escolha e ao nos libertamos
dos medos infundados teremos mais chances de alcançarmos o sucesso.
Analisando as afirmações I e II, conclui-se que:
a) as duas afirmações são verdadeiras e a primeira não justifica a segunda.
b) as duas afirmações são verdadeiras e a primeira justifica a segunda.
c) somente a afirmação I é verdadeira.
d) somente a afirmação II é verdadeira.

Comentário das atividades


Na atividade 1, você deve ter notado que a existência de um clima psicoló-
gico favorável e, sobretudo, o apoio e as atitudes da direção são fundamentais
para a expressão da criatividade. Por isso deve ter optado pela alternativa
(d), pois a criação de espaço próprio para que os colaboradores expressem
suas opiniões é uma ação essencial. As demais alternativas (a), (b) e (c) não
correspondem ao comportamento esperado para um líder comprometido com
a criatividade: a filtragem das ideias produzidas pelos colaboradores; a intole-
rância ao fracasso e o desencorajamento à experimentação e a correr riscos e o
desencorajamento aos colaboradores realizarem um segundo trabalho.
Para a resposta da atividade 2, você deve ter levado em conta que a criativi-
dade tem ganhado crescente importância nas organizações. Sabemos que fenô-
menos como a globalização impactaram sobremaneira a forma de fazer negó-
cios. Mais concorrência, mais qualidade, mais diferenciação, mais inovação

UniTins • AdminisTrAçãO • 6º PerÍOdO 51


CAPÍTULO 4 • CriATividAde e inOvAçãO

são alguns dos desafios que as empresas enfrentam. Os gestores precisam criar
um ambiente favorável para a expressão da criatividade. Os colaboradores
devem se sentir motivados a dar novas ideias e a expressar suas opiniões.
Já na atividade 3, se você optou pela alternativa (d), acertou a questão, pois
das quatro afirmações, três são verdadeiras e a única que é falsa é a que afirma
que as inovações de caráter gerencial buscam o aperfeiçoamento da qualidade
dos produtos e a sua diversificação com vistas a manter o nível de competitivi-
dade, o que não é verdade, dado o fato de que a inovação gerencial busca o
aperfeiçoamento dos processos de gestão da organização. Já as alternativas
(a) e (b) estão erradas, pois indicam a única afirmação falsa; e a alternativa (c)
coloca como falsa a afirmação de forma equivocada.
Por fim, na atividade 4, a alternativa que você deve ter escolhido foi a letra
(b). A criatividade é uma questão de escolha e, ao nos libertamos dos medos
infundados, teremos mais chances de alcançarmos o sucesso porque o medo,
as indagações existenciais, a religião, os dogmas e outras questões inibem o
desenvolvimento criativo. Assim, as letras (a), (c) e (d) não atendem ao enun-
ciado da questão.

Referências
ALENCAR, Eunice M. L. Soriano de. A gerência da criatividade. São Paulo:
Makron Books, 1996.
ARAÚJO FILHO, Geraldo Ferreira. A criatividade corporativa na era dos resul-
tados. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2003.
MOTTA, Paulo R.; CARAVANTES, Geraldo R. Planejamento organizacional:
dimensões sistêmicas gerenciais. Porto Alegre: Fundação para o Desenvolvimento
de Recursos Humanos, 1979.

Anotações

52 6º PerÍOdO • AdminisTrAçãO • UniTins


5
CAPÍTULO 5 • CriATividAde e inOvAçãO

Desenvolvendo a criatividade

Se queres evitar críticas, nada faças, nada digas, nada


sejas.
Elbert Hubbad

Introdução
É importante que você saiba sobre os atributos de uma personalidade cria-
tiva: intenso envolvimento no trabalho realizado; atitude de otimismo aliada
à coragem para correr riscos; flexibilidade pessoal, abertura à experiência
e tolerância à ambiguidade; autoconfiança, iniciativa (e acabativa) e persis-
tência. Estudamos sobre isso no capítulo anterior. Esses conhecimentos serão
úteis para que você identifique o que necessita ser trabalhado no indivíduo e o
que precisa ser superado para que a criatividade da pessoa não seja inibida.

Outro aspecto que você deverá saber é sobre os modelos de gestão atuais
para poder reconhecer facilmente qual o papel do líder na empresa. Por isso os
conceitos básicos de liderança e o domínio das funções do gestor, tratados nas
disciplinas de Teoria Geral das Organizações e de Introdução à Administração,
respectivamente, são relevantes para a aprendizagem deste capítulo. Assim será
fácil para você reconhecer os aspectos que inibem a expressão da criatividade e
conhecer os princípios da liderança de equipes criativas e as práticas gerenciais
que estimulam a criatividade.

Os fatores que influenciam a criatividade estão presentes no ambiente e em


cada indivíduo. Para refletirmos sobre essa questão, é importante levarmos em
conta condições sociais, valores culturais predominantes na sociedade, atributos
da personalidade, habilidades cognitivas e motivação.

Estudaremos, neste capítulo, a cultura da criatividade, as barreiras percep-


tuais e emocionais e os defeitos que prejudicam a criatividade. Para dar conta
desses desafios, o líder tem um papel importante na empresa. A sua atuação
determina sobremaneira os aspectos relativos à cultura e ao clima de trabalho
da organização. Vamos estudar sobre alguns princípios que devem ser consi-
derados na liderança de grupos criativos, bem como sobre práticas gerencias
condizentes com esse tipo de grupo de trabalho. Começaremos com a cultura
da criatividade.

UniTins • AdminisTrAçãO • 6º PerÍOdO 53


CAPÍTULO 5 • CriATividAde e inOvAçãO

5.1 Cultura da criatividade


Você se lembra de Abraham Maslow? Esse importante psicólogo é reconhe-
cido por sua contribuição para a escola comportamentalista. Ele criou a pirâ-
mide das necessidades e escreveu certa vez o seguinte: “o homem criativo não é
um homem comum ao qual se acrescentou algo. Criativo é o homem comum do
qual nada se tirou” (MASLOW, 2003, p. 34).
Essa frase demonstra o quanto a nossa cultura exerce poderosa influência
sobre a capacidade de desenvolver e de realizar o nosso potencial criativo.
Temos presente na cultura, com grande ênfase, a valorização do pensamento
analítico, convergente e lógico, assim como os processos de condicionamento
sedimentados ao longo do tempo. Isso contribui para a subutilização das nossas
potencialidades interiores de criação (ALENCAR, 1996).
Alguns pressupostos cultivados pela sociedade contribuem para manter ador-
mecida a capacidade de inovar, ousar, sonhar acordado e divergir. Entre os
pressupostos existentes, destacamos alguns citados por Alencar (1996, p. 62).
Vejamos.
1. Tudo tem de ter utilidade
2. Tudo tem de dar certo
3. Tudo tem de ser perfeito
4. Todo mundo tem de gostar de você
5. Não se pode divergir das normas impostas pela cultura
6. Deve-se conter a expressão das emoções pessoais
7. Deve-se evitar a ambiguidade
8. Não se deve sonhar acordado

Perceba que esses pressupostos acabam se firmando como regras a ponto


de não serem questionados e nem enfrentados por serem considerados como
verdade absoluta. Imagine o quanto isso é danoso para a inventividade do indi-
víduo. E quanto mais essas regras se firmam como verdades, mais difícil será a
criação e a expressão de ideias, o que resulta no que chamamos de bloqueios
da criatividade. Assunto que será estudado na próxima seção.

5.2 Bloqueios da criatividade


Resultado de uma experiência de aprendizagem que começa muito cedo,
os bloqueios mentais se fazem presente em nosso viver, levam-nos a controlar
nossas emoções, a resguardar a nossa curiosidade, a evitar situações que nos
exponham à perda ou ao fracasso. Isso gera sentimentos de culpa, vergonha
e constrangimento (ALENCAR, 1996).
Impera na nossa cultura a prática de uma socialização que conduz à
uniformidade de comportamento e ao desencorajamento da diversidade e
da originalidade.

54 6º PerÍOdO • AdminisTrAçãO • UniTins


CAPÍTULO 5 • CriATividAde e inOvAçãO

Outro fator que contribui para a inibição da criatividade é a ênfase exacer-


bada na diferenciação de papéis sexuais, em que a delimitação de áreas de
experiência e de pensamento reduz desnecessariamente a expressão e o uso do
potencial criativo.
De acordo com Araújo Filho (2003), no nível individual, os seguintes aspectos
inibem a criatividade:
t desejo de ser aceito pelo grupo;
t permanente sentimento de que é a maioria que está com a razão;
t legislação civil e coação social;
t didática do ensino acadêmico formal;
t inexistência do conhecimento.
Em uma mesma perspectiva, Predebon (2003) identifica os bloqueios mais
comuns à criatividade:
t acomodação;
t miopia estratégica;
t imediatismo;
t pessimismo;
t insegurança;
t timidez;
t prudência;
t desânimo;
t dispersão.
A acomodação representa o imobilismo provocado pela valorização da rotina
confortável e estática. Já a miopia estratégica refere-se à falta de percepção da
dinâmica do contexto. O imediatismo é a visão simplista, a busca por atalhos e
desvios para solucionar problemas. A pessoa que tem pessimismo não acredita
no que faz e de plano crê que nada dará certo. A insegurança é a falta de
confiança gerada pela necessidade da aprovação de outra pessoa para tudo o
que se pensa e se faz.
A timidez inibe a pessoa de demonstrar atitude, e a prudência em excesso
pode se converter em medo. O desânimo é a falta de motivação e de estímulo
para ter ideias, para inovar. A pessoa dispersa não consegue administrar o
tempo para se dedicar à geração de novas ideias.
Veremos, na sequência, que existem barreiras perceptuais e barreiras
emocionais que trazem aspectos consideráveis para a compreensão do bloqueio
da criatividade.

UniTins • AdminisTrAçãO • 6º PerÍOdO 55


CAPÍTULO 5 • CriATividAde e inOvAçãO

5.3 Barreiras perceptuais


Algumas barreiras impedem a pessoa de perceber claramente o problema
ou interpretar a informação que é necessária para resolvê-lo. Isso se refere às
barreiras perceptuais e tem a ver com a maneira com que a pessoa processa as
informações que recebe do ambiente exterior por meio dos sentidos. A mente
seleciona aquilo que, para a pessoa, se mostra mais importante, o que resulta na
formação de um padrão que influencia a percepção em situações semelhantes
(ALENCAR, 1996).
Mas não é só a barreira perceptual que enfrentamos, pois temos também a
emocional. É o que veremos a seguir.

5.4 Barreiras emocionais


As barreiras emocionais dificultam muito a utilização das nossas poten-
cialidades criativas: apatia, baixa tolerância à mudança, desejo excessivo de
segurança e ordem, inabilidade de tolerar ambiguidade, insegurança, medo
de parecer ridículo, medo do fracasso e de cometer erros, relutância em experi-
mentar e correr riscos e sentimentos de inferioridade (ALENCAR, 1996).
A dificuldade de refletir sobre as próprias ideias, a falta de habilidade para
relaxar e o hábito de julgar as ideias em vez de gerá-las também constituem
barreiras emocionais.
Agora que entendemos quais são os dificultadores da expressão da criativi-
dade, avançaremos um pouco mais na compreensão das consequências da não
superação dos bloqueios da criatividade, ou seja, aprenderemos os defeitos que
prejudicam a criatividade.

5.5 Defeitos que prejudicam a criatividade


Em acréscimo ao que tratamos na seção anterior, veremos no que os bloqueios
podem se converter caso a pessoa não os supere. Note que, de uma maneira
bastante criativa, José Predebon (2003) apresenta e relaciona os bloqueios da
criatividade. O autor argumenta que, com o tempo, esses bloqueios tendem a se
tornar defeitos (que devemos evitar), pois adoecem o desenvolvimento da criati-
vidade. Vejamos a seguir quais são os bloqueios citados por ele.
t Acomodação com o tempo pode se tornar adequacionite.
t Miopia estratégica, se alcançar um alto grau, gera umbiguite.
t Imediatismo pode virar objetivite.
t Excesso de insegurança ocasiona egocegueira.
t Pessimismo transforma-se em tristezite.
t Timidez exagerada desencadeia acanhamentite.

56 6º PerÍOdO • AdminisTrAçãO • UniTins


CAPÍTULO 5 • CriATividAde e inOvAçãO

t Prudência é boa, mas em excesso vira aventurofobia.


t Desânimo crônico pode virar despaixão.
t Dispersão demasiada ocasiona desfoquite.
Observe que não faltam pretextos para impedir a pessoa de explorar toda
a sua capacidade criativa. É importante saber reconhecer quando um bloqueio
está arraigado e se transformando em uma doença aguda.
No âmbito das organizações, o líder exerce um papel importante para
ajudar pessoas a superarem as dificuldades de explorar sua capacidade cria-
tiva. Desse modo, liderar equipes criativas requer do líder uma postura peculiar.
É sobre isso que estudaremos na sequência.

5.6 Princípios da liderança de equipes criativas


Antes de iniciarmos a apresentação dos oito princípios da liderança de
equipes criativas, mencionaremos o entendimento de Predebon (2003) sobre
equipes criativas: grupo de pessoas que trabalham juntas em uma função ou
tarefa fora da rotina. O objetivo do grupo é buscar soluções não previstas para
resolver algum problema ou para obter ganhos competitivos.
Vamos aos oito princípios da liderança de equipes criativas.
a) Liderança com conhecimento e desapego
Inicialmente, é preciso ir de encontro àquele estereótipo de chefe. Não
existe liderança se ele for respeitado apenas pelo cargo que ocupa.
Pelo contrário, deve conquistar o respeito pelo trabalho eficiente que
sua equipe realiza. Essa triste fama é resultado daqueles que buscam no
posto ocupado status, privilégios e passam a defender sua posição ou o
seu feudo com todas as armas possíveis.
Se não existir o reconhecimento das qualidades do líder por parte dos
liderados, dificilmente haverá liderança. Outro fator importante é a
falta de respeito pela competência do líder. Isso anula qualquer possi-
bilidade de um trabalho bem sucedido. O líder não precisa aparecer
para seus funcionários, seu desapego deve ser demonstrado pela falta
de vaidade.
O bom líder sabe estimular a equipe, assumir decisões e, sobretudo,
delegar de forma a gerar a colaboração.
b) Liderança mais construtiva que normativa
Zelar pelo cumprimento da norma deve ser de longe a tarefa do líder.
Isso pode ser feito por um programa de computador. Para que a lide-
rança seja construtiva, é preciso saber trabalhar com o coração das
pessoas nos objetivos.

UniTins • AdminisTrAçãO • 6º PerÍOdO 57


CAPÍTULO 5 • CriATividAde e inOvAçãO

O importante é que se crie um ambiente aberto à participação com foco


total nos objetivos e não nas normas. Elas são necessárias, mas não
podem ocupar o lugar dos objetivos.

c) Fomentar a comunicação e a meta comum


O líder dever cuidar para que todos, indistintamente, saibam qual é
o objetivo final da organização. Para isso, deve buscar promover um
clima de transparência e um bom fluxo de informações. As tecnologias
auxiliam nesse processo, mas se lembre de que nada substitui a comuni-
cação olho no olho, aberta e informal.

d) Fomentar a complementaridade
É verdade que somos todos diferentes uns dos outros, mas é verdade
também que podemos nos completar, e o ambiente de trabalho pode
ser um local favorável para harmonizar a diversidade. Uma liderança
hábil é capaz de promover a complementaridade de modo a gerar
altos ganhos para a equipe e, consequentemente, para a organização.
A liderança de pessoas coloca o líder constantemente diante das ques-
tões relacionadas a problemas de relacionamento – em menor ou maior
grau. É preciso aprender a lidar com essas situações e gerar uma cons-
ciência de convivência.

e) Fomentar qualidade pela quantidade


Para fomentar a qualidade, é necessário que as pessoas façam, errem
e tenham oportunidade de evoluir. Uma forma interessante de fazer
isso é explorar um assunto quantitativamente, de forma a gerar uma
rede de informações e de variáveis que irão se cruzar, modificar-se e
valorizar-se. O brainstorming é um exemplo de que pela quantidade se
chega à qualidade.

f) A comunicação do líder e a equipe motivada


A motivação impulsiona a criatividade. Por ser prima da harmonia, que
é filha da comunicação, é necessário fazer esses elementos fluírem livre-
mente para que sejam viabilizadas a cooperação e a complementari-
dade. A transparência e um bom clima de trabalho fortalecem a comu-
nicação geral da equipe com o seu líder.

g) Fomentar o clima democrático


Liderar requer sustentação em modelos modernos de gestão. Assim
aspectos como a informalização do ambiente de trabalho, a existência
de liberdade, um clima democrático devem ser pressupostos da gestão.
Não é possível imaginar a liderança de equipes baseada no antigo
esquema de comando e controle.

58 6º PerÍOdO • AdminisTrAçãO • UniTins


CAPÍTULO 5 • CriATividAde e inOvAçãO

h) Princípios da convivencialidade
A liderança poder ser otimizada pelo uso da convivencialidade, ou
seja, o cuidado em otimizar as relações entre as pessoas dentro das
organizações.
Como vimos, há uma série que questões a serem observadas pela lide-
rança para que, de fato, ela possa exercer uma gestão produtiva de
equipes criativas. Por meio dos princípios anteriormente trabalhados e
levando em conta a necessidade de promover um ambiente favorável
para a criatividade, o gestor precisará basear a sua ação em categorias
que auxiliem o seu trabalho. Veremos quais e o que são essas catego-
rias na seção subsequente.

5.7 Gerência da criatividade


De acordo com Amábile (1999), algumas práticas gerenciais podem esti-
mular a criatividade. Essas práticas estão divididas em seis categorias: desafio,
liberdade, recursos, características dos grupos de trabalho, encorajamento pela
supervisão e apoio organizacional. Vamos conhecer essas categorias.
t Desafio: resulta na combinação que os gerentes devem fazer de modo
a agrupar corretamente pessoas e atribuições. É importante que os
gerentes tenham informações completas e detalhadas sobre as pessoas
e as tarefas a serem realizadas.
t Liberdade: estimular as pessoas é dar autonomia para realizar os
processos. As pessoas tendem a ser mais criativas quando as deixam
decidir como escalar a montanha. A definição clara dos objetivos estra-
tégicos também contribui para a criatividade.
t Recursos: os principais são tempo e dinheiro.
t Características dos grupos de trabalho: é importante observar a montagem
das equipes. Elas devem ser compostas por grupos mutuamente engaja-
dores e com certa diversidade de perspectivas e de formação. Formar
equipes homogêneas é matar a criatividade.
t Encorajamento pela supervisão: o fato de ser extremamente ocupada
não isenta a necessidade de a gerência buscar elogiar os esforços cria-
tivos e os esforços malsucedidos.
t Apoio organizacional: toda a organização deve apoiar a criatividade.
Os líderes precisam implementar sistemas ou procedimentos adequados
e enfatizar os valores que explicitem que o esforço criativo é prioridade
para a organização.

UniTins • AdminisTrAçãO • 6º PerÍOdO 59


CAPÍTULO 5 • CriATividAde e inOvAçãO

Note a importância do exercício da liderança na formação de um ambiente


e no suporte motivacional à equipe criativa para desenvolver uma cultura e um
clima de trabalho que venham ao encontro da estratégia da empresa.
A partir de tudo o que tratamos neste capítulo, podemos concluir que há
todo um sistema que sustenta e articula os processos criativos na empresa, e que
sua manutenção dependerá da cultura existente e das ações empreendidas pela
gerência da criatividade.
Você já ouviu falar em pensamento lateral? Imagina o que é? Trata-se de um
estudo desenvolvido por um psicólogo chamado Edward de Bono. Sua vasta
experiência na área do ensino do pensamento criativo lhe rendeu reconheci-
mento mundial. O pensamento lateral é uma abordagem sistemática ao pensa-
mento criativo, com técnicas formais que podem ser usadas deliberadamente. É
o que você verá no próximo capítulo.

Resumo
Há diferentes percepções acerca do que pode inibir o desenvolvimento da
criatividade, com destaque para a cultura da sociedade, para os bloqueios
mentais e para as barreiras perceptivas e emocionais. Os tipos de comporta-
mento contraproducentes para a expressão da criatividade são: acomodação,
miopia estratégica, imediatismo, pessimismo, insegurança, timidez, prudência,
desânimo e dispersão. Para a superação das dificuldades e dos bloqueios da
criatividade, o líder deve fundar a sua ação e a concepção dos programas de
treinamento em alguns princípios fundamentais, como: liderança com conheci-
mento e desapego, liderança mais construtiva que normativa, comunicabilidade
e a meta comum, complementaridade, qualidade pela quantidade, motivação,
democracia e convivencialidade.
As práticas gerenciais também podem estimular a criatividade e devem estar
assentadas em seis categorias: desafio, liberdade, recursos, características dos
grupos de trabalho, encorajamento pela supervisão e apoio organizacional.

Atividades
1. Construa um texto, de aproximadamente dez linhas, sobre a influência da
cultura da sociedade ocidental no desenvolvimento do potencial criativo dos
indivíduos, recorrendo aos conhecimentos que partilhamos neste capítulo e
a outras fontes que lhe sejam disponíveis.

2. Os fatores que influenciam a criatividade estão presentes no ambiente


externo e no interior da pessoa. Por meio do reconhecimento dos cincos
fatores e de suas origens, torna-se possível minimizar os inimigos da criativi-
dade. Relacione os itens e, depois, marque a alternativa que corresponde à
relação correta.

60 6º PerÍOdO • AdminisTrAçãO • UniTins


CAPÍTULO 5 • CriATividAde e inOvAçãO

a) Cultura da criatividade
b) Bloqueios da criatividade
c) Barreiras perceptuais
d) Barreiras emocionais
e) Defeitos que prejudicam a criatividade

( ) Umbiguite, adequacionite, egocegueira, despaixão, desfoquite, tristezite.


( ) Não se deve sonhar acordado, tudo tem que dar certo, tudo tem que ser
perfeito, evitar a ambiguidade.
( ) Apatia, baixa tolerância à mudança, desejo excessivo de segurança e
ordem, medo do fracasso, de cometer erros e de parecer ridículo.
( ) Desejo de ser aceito pelo grupo, inexistência de conhecimento, desâ-
nimo, pessimismo e insegurança.
( ) Tem a ver com a maneira com que a pessoa processa as informações
que recebe do ambiente exterior por meio dos sentidos.
A sequência correta é
a) c, b, d, a, e. c) b, c, d, a, e.
b) a, c, e, d, b. d) e, a, d, b, c.

3. Sobre as práticas gerenciais, é correto afirmar que


a) o desafio resulta da combinação que os gerentes devem fazer, de modo
a agrupar corretamente pessoas e atribuições.
b) o estímulo às pessoas deve ser na medida certa para não extrapolar o
determinado para o fluxo dos processos.
c) os grupos de trabalho devem ser montados levando-se em conta a homo-
geneidade do grupo.
d) a supervisão deve encorajar somente os esforços que tiverem resultados
positivos.

4. Para liderar equipes criativas, o líder deve fundamentar a sua atuação em


princípios vitais para o exercício de uma liderança legítima. Analise as afir-
mativas e, depois, assinale a alternativa correta.
I. O princípio do conhecimento e do desapego refere-se à habilidade do
líder em conquistar respeito da equipe, independentemente do cargo, e
de não demonstrar necessidade de se destacar dos seus liderados.
II. A liderança deve ter caráter mais construtivo do que normativo, ou seja,
deve privilegiar o foco nos objetivos e menos na norma.

UniTins • AdminisTrAçãO • 6º PerÍOdO 61


CAPÍTULO 5 • CriATividAde e inOvAçãO

III. Comunicação, meta comum, complementaridade e qualidade devem ser


constantemente fomentadas.
IV. O princípio da convivencialidade refere-se ao cuidado que o líder deve
ter para otimizar as relações entre as pessoas dentro da organização.

a) Todas estão corretas.


b) Apenas as afirmativas II e III estão corretas.
c) Somente as afirmativas I e IV estão corretas.
d) Todas estão erradas.

Comentário das atividades


Na atividade 1, você percebeu que os efeitos da nossa cultura sobre a nossa
formação certamente são determinantes para nossa personalidade, comporta-
mentos, valores e atitudes. Quando esses efeitos geram resultados negativos ou
exagerados, provocam algumas anomalias que influenciam a vida em socie-
dade (familiar, profissional, etc.). Compreendê-las ajuda-nos a superar possíveis
limitações, com vistas a identificar o caminho mais recomendável para superar
as “doenças” desencadeadas pelos inimigos da criatividade.
Na atividade 2, creio que você relacionou os fatores às suas definições,
por isso assinalou a alternativa (d), pois os fatores que influenciam a criativi-
dade estão presentes tanto no ambiente externo quanto no interior da pessoa.
Compreendendo cada um dos fatores, o gestor pode atuar na superação de
cada um deles. Já as alternativas (a), (b) e (c) são incorretas, pois não fazem a
correta associação dos fatores que influenciam a criatividade.
Na atividade 3, você deve ter escolhido a alternativa (a), pois uma das ações
do gestor é fomentar o desafio junto aos colaboradores. Em relação às demais
alternativas (b), (c) e (d), não poderíamos considerá-las, já que não apresentam
as práticas do gestor corretamente. Diferentemente do que está nas alternativas, o
gestor deve estimular as pessoas dando para elas condições favoráveis para realizar
os processos; observar a montagem das equipes levando em conta a composição
de grupos mutuamente engajadores e com certa diversidade de perspectivas e de
formação bem como promover o encorajamento por meio da supervisão.
Na atividade 4, você verificou também que todas as afirmativas estão
corretas e que, portanto, a alternativa (a) foi a escolhida por você, pois, para
liderar equipes criativas, o líder deve fundamentar a sua atuação em princípios
vitais, como o princípio do conhecimento e do desapego, a liderança, o incen-
tivo à comunicação, a busca de níveis satisfatórios de convivência, entre outros.

Referências
ALENCAR, Eunice M. L. Soriano de. A gerência da criatividade. São Paulo:
Makron Books, 1996.

62 6º PerÍOdO • AdminisTrAçãO • UniTins


CAPÍTULO 5 • CriATividAde e inOvAçãO

AMÁBILE, Teresa M. Como não matar a criatividade. HSM Management, n. 12,


jan./fev. 1999.
ARAUJO FILHO, Geraldo Ferreira. A criatividade corporativa na era dos resul-
tados. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2003.
MASLOW, Abraham H. Diário de negócios de Maslow. São Paulo: Qualimark,
2003.
PREDEBON, José. Criatividade hoje: como se pratica, aprende e ensina. 3. ed.
São Paulo: Atlas, 2003.

Anotações

UniTins • AdminisTrAçãO • 6º PerÍOdO 63


CAPÍTULO 5 • CriATividAde e inOvAçãO

64 6º PerÍOdO • AdminisTrAçãO • UniTins


6
CAPÍTULO 6 • CriATividAde e inOvAçãO

Implementação da
criatividade

Se queres evitar críticas, nada faças, nada digas, nada


sejas.
Elbert Hubbad

Introdução
Neste capítulo, é importante que você relembre os aspectos que favorecem
a criatividade e os relacione ao processo criativo já trabalhado nesta disciplina.
Os atributos da personalidade criativa e os elementos de um ambiente incenti-
vador, tais como a liberdade, a autonomia e a ausência de censura são cruciais
para que você compreenda a base conceitual do pensamento lateral e entenda
os princípios para a implementação de programas de treinamento.
O conceito desenvolvido por Edward De Bono, psicólogo formado em
Oxford, que se interessou pelo estudo do pensamento não linear, ilógico, por
ele denominado de pensamento lateral, é o objeto de estudo deste capítulo.

6.1 Pensamento lateral


O método do pensamento lateral pode parecer ilógico, mas, na verdade,
deriva da lógica dos sistemas que criam e usam padrões por meio da provo-
cação. De forma mais simples, pensamento lateral pode ser assim descrito: “você
não pode cavar um buraco em um lugar diferente cavando mais fundo no mesmo
lugar” (DE BONO, 1994, p. 52). Pensamento lateral é também uma “forma de
solucionar problemas por métodos não ortodoxos ou aparentemente ilógicos”
(CONCISE OXFORD DICTIONARY citado por DE BONO, 1994, p. 58).
Esse método de solucionar problemas pode ser comparado à busca de um
tesouro por meio da escavação do terreno. Pelo método de busca ortodoxo
tenderíamos escavar o terreno ainda mais fundo. Contudo, essa atitude tornaria
difícil enxergar o que ocorre nas outras partes do terreno. Se aplicarmos o
pensamento lateral, devemos mudar a direção e cavar outros buracos até encon-
trar a solução satisfatória.
Outra descrição do pensamento lateral é baseada na consideração de um
sistema auto-organizável de informação, gerador de padrões: cruzando padrões
em um sistema de informação auto-organizável. Há um movimento lateral, ou
seja, ao invés de criar padrões, procuramos passar por meio deles. Observe
uma demonstração disso na figura a seguir.

UniTins • AdminisTrAçãO • 6º PerÍOdO 65


CAPÍTULO 6 • CriATividAde e inOvAçãO

Figura 1 Pensamento Lateral

Fonte: De Bono (1994, p. 86)

Esse tipo de pensamento tem muita relação com a percepção. O pensamento


lateral tem a proposição de visões diferentes, todas são consideradas corretas
e coexistem. Para exemplificar, é como se você fosse tirando fotos em ângulos
diferentes ao redor de um edifício e todas seriam igualmente válidas.
A lógica que conhecemos foca muito na verdade e no o que é, enquanto que
no pensamento lateral prevalecem as possibilidades e no o que poderia ser.
A expressão pensamento lateral pode ser empregada em dois sentidos:
específico – conjunto de técnicas sistemáticas usadas para mudar conceitos e
percepções e gerar novos; geral – exploração das múltiplas possibilidades e
abordagens, ao invés de seguir uma única abordagem.
Depois de compreendido o que vem a ser pensamento lateral, veremos
agora a relação desse conceito com a criatividade.

6.2 Pensamento lateral e criatividade


A proposta do pensamento lateral é promover a mudança de conceitos e
percepções, o que tem tudo a ver com a geração de novas ideias. A relação
entre pensamento lateral e criatividade pode ser representada conforme figura
a seguir.

Figura 2 Criatividade x pensamento lateral

Assim pensamento lateral e criatividade se inter-relacionam, em que o


primeiro potencializa o segundo, embora saibamos que essa não seja a única

66 6º PerÍOdO • AdminisTrAçãO • UniTins


CAPÍTULO 6 • CriATividAde e inOvAçãO

maneira de favorecer a criatividade. As outras possibilidades já foram exausti-


vamente estudadas nos capítulos anteriores.
A partir de agora, trataremos dos princípios de programas de treinamento.
Esses conhecimentos associados às técnicas de desenvolvimento de criatividade,
que estudaremos no capítulo 7, convertem-se em uma grande oportunidade para
você desenvolver sua própria criatividade e auxiliar os outros a fazê-lo.

6.3 Princípios dos programas de treinamento


Conheceremos quatro princípios que podem nortear os programas de trei-
namento individual da criatividade. Os princípios não apresentam algo inédito,
mas reforçam a necessidade da prática de atitudes esperadas ao aperfeiçoa-
mento do processo criativo. Observe-os a seguir.
a) Soluções e fantasias
Individualmente, é necessária uma atitude enraizada na busca de novas
soluções para todo tipo de problema que surgir. Predebon (2003, p. 45)
indica que a pessoa deve ter um comportamento especulador e exem-
plifica que:
t Encontrando alguma dificuldade para a execução de uma
tarefa, imagine imediatamente como seria um novo disposi-
tivo, processo ou ideia que poderia facilitá-la. Muita coisa foi
inventada no mundo por essa iniciativa.
t Olhe tudo com um espírito “aperfeiçoador”. Uma simples
tampa de embalagem pode estimular a imaginação de como
fazê-la mais segura ou prática. Aqui, mesmo sem haver um
problema específico, a atitude questionadora pode gerar
ideias novas.
t Aproveite os imprevistos para improvisar soluções, o que
normalmente já fazemos em certo grau. Entretanto, quando
não somos pressionados por uma necessidade imperiosa,
muitas vezes deixamos de enfrentar o problema, por pura
despreocupação ou até mesmo preguiça de pensar. A atitude
da pessoa criativa é mudar esse posicionamento para a explo-
ração sistemática dos imprevistos.

Ressaltamos que a imaginação deve ser ativada em campos além dos problemas
que requerem solução e dos alvos do olhar questionador. As técnicas de ativação
da imaginação são verdadeiras massagens na dinâmica do pensamento.
b) A leitura treina a criatividade
A leitura é fonte de desenvolvimento da criatividade e o seu hábito requer
uma atitude diferente da encontrada em um leitor comum. É necessário
exercitar sua imaginação, desenvolver a chamada leitura receptiva/
ativa. Esse tipo de leitura requer um alto grau de concentração. A apren-
dizagem da concentração auxilia na capacidade de focar.

UniTins • AdminisTrAçãO • 6º PerÍOdO 67


CAPÍTULO 6 • CriATividAde e inOvAçãO

Assim a leitura possibilita mais informações, as pessoas pensam melhor


e os benefícios se estendem à criatividade.
c) O velho brainstorming e sua prática a sós
O brainstorming compreende uma reunião informal, com mais de dez
pessoas reunidas para explorar verbalmente determinado assunto, sem
condicionamentos das rotinas e do mundo da lógica, dirigido por um
facilitador.
De forma individual, o brainstorming deve ser ativado com a anulação
do censor lógico e o acionamento do estado de irresponsabilidade
mental que lhe permita pensar bobagens sobre o tema analisado. Por
cerca de cinco minutos, a pessoa consegue liberar seu pensamento.
d) Desenvolvimento da percepção do ambíguo e do não evidente
Compreende uma facilidade de entendimento maior e habilidade para
chegar a respostas menos óbvias. Essa capacidade permite perceber
mais do que está abaixo da superfície aparente dos fatos.
e) Trabalho em duplas
Para que seja fecundo, o trabalho em duplas deve ser assentado na
harmonia do grupo e em suas relações, pois se pressupõe a química da
aceitação e da complementaridade. Importante não confundir comple-
mentaridade com homogeneidade, isso é contraproducente ao trabalho
criativo em duplas.

O exercício da criatividade pode levar ao limite da bobagem, e ainda


temos dificuldade em distinguir se o que pensamos é muito criativo ou
muito cretino. O trabalho em parceria possibilita uma preciosa apre-
ciação das ideias de modo a separar o criativo das tolices.

Geralmente, o produto da percepção mental são insumos da criati-


vidade pessoal. Ao refletir sobre a percepção mental, vemos que é
possível desenvolvê-la via treinamento. A partir dessas indicações, a
prática e a coordenação de programas de treinamento tornam-se mais
simples e objetivas.

Seja para aplicação individual ou em grupo, vimos que os princípios


para programas de treinamento orientam o trabalho a ser realizado, o
que previne desperdício de atenção e favorece o alcance dos objetivos
do programa.

Agora que já sabemos alguma coisa a respeito da criatividade e vimos os


aspectos que a favorecem – ambiente interno e externo –, vamos aprender como
exercitá-la.

68 6º PerÍOdO • AdminisTrAçãO • UniTins


CAPÍTULO 6 • CriATividAde e inOvAçãO

Antes, porém, esclarecemos que existem duas modalidades de exercícios: os


informais e os formais. Os primeiros referem-se ao exercício da fantasia e são
realizados individualmente. Os formais podem ser realizados de maneira indi-
vidual, em dupla ou em grupo. Nos dois últimos casos, basta que uma pessoa
assuma como monitor e auxilie o professor para que o processo seja otimizado.
Iniciaremos com alguns exemplos de exercícios informais e, depois, passa-
remos aos formais. Esses exercícios foram adaptados da obra de José Predebon,
Criatividade hoje: como se pratica, aprende e ensina, citada na referência.
Os exemplos aqui apresentados não são os únicos, você pode, livremente,
com base em um pequeno roteiro instrutivo, criar exercícios de criatividade.

6.4 Exercícios informais “de fantasia”


Iniciaremos pelos exercícios informais. Eles têm a função de desenvolver o
pensar livremente, sem censura.
t Exercício 1
Dentro de um elevador, as pessoas têm um comportamento padrão:
disfarçam o constrangimento da intimidade forçada, olhando a
marcação luminosa da mundança de andar. Ou, na ausência dessa,
simplesmente olham para o teto. Neste exercício, a proposta é apro-
veitar a oportunidade para construir uma fantasia. Observe um dos
passageiros e concentre-se em imaginar um enredo sobre essa pessoa,
discretamente, claro! Imagine a sua profissão, a sua família, o que está
fazendo naquele prédio, como se chama, qual sua idade.
t Exercício 2
Neste exercício, a proposta é sonhar com o futuro. É verdade que sempre
fazemos isso, mas a ideia é detalhar o sonho. Formule alternativas favo-
ráveis e outras não favoráveis. Com essa atividade, você exercitará a
sua capacidade de construir enredos.
t Exercício 3
Este exercício é parecido com o primeiro. No entanto sua proposta é
mais elaborada, pois se deve traçar um perfil hipotético de uma pessoa
em forma de redação. O objetivo deste exercício, além de estimular
a criatividade, é trabalhar a percepção. Veja uma possibilidade de
enunciado para a atividade: “Construa um perfil hipotético. Fotografe
com os olhos uma pessoa que você encontra em algum local, de prefe-
rência onde você puder dali a pouco rever o seu exercício, voltando a
observá-la. Restaurantes, salas de espera, saguões de aeroporto, filas
de banco são bons locais”.

UniTins • AdminisTrAçãO • 6º PerÍOdO 69


CAPÍTULO 6 • CriATividAde e inOvAçãO

6.5 Instruções iniciais para exercícios formais


Para uma eficaz condução dos exercícios formais, é importante conside-
rarmos dois aspectos. Vejamos.
a) Avaliação dos exercícios
A avaliação serve para fechar o exercício. Geralmente pedimos que os
participantes escolham os trabalhos mais criativos ou que se manifestem
aqueles que tiveram mais satisfação para realizar o exercício. Muitas
vezes isso pode gerar certa competição, é preciso administrar a situação,
embora certa dose de concorrência não faça mal.
Nos trabalhos individuais, podemos dividir a turma em dois grupos,
cada grupo lê todos os trabalhos da outra metade, atribui notas de um
a dez e, em seguida, troca novamente. Depois recolhemos aqueles exer-
cícios que tiveram as maiores notas, o instrutor comenta o rendimento
geral da turma e faz o fechamento da atividade.
Nos exercícios em grupo, o fechamento ocorre com votação grupal, por
meio do preenchimento de papeletas – uma por grupo – excetuando a
votação do exercício do próprio grupo.
Na avaliação dos exercícios, é imprescindível que o professor esclareça
previamente como o processo acontecerá e o conduza com sabedoria
e isenção.
b) Tempo de execução dos exercícios
Não se pode pensar em realizar os exercícios sem estabelecer o tempo.
Essa é a única norma que não foge à regra. O professor deve explicar
previamente para os participantes as condições para a execução da
atividade. Isso é necessário para trazer o trabalho para um plano
próximo da realidade. Na vida real, tudo tem tempo adequado e defi-
nido, não é verdade?

6.6 Exercícios individuais


Agora conheceremos alguns exercícios que têm a finalidade de desenvolver
a capacidade criativa individual e podem ser realizados em cursos de capaci-
tação profissional.
a) Apresentação criativa
Este exercício é destinado a início de cursos em que os participantes
não se conhecem, sua vantagem é que a sua mecânica favorece um
pequeno exercício de criatividade. Apresentando enunciado em uma
transparência ou power point, peça: “escolha um dos dois modelos de
apresentação e faça a sua frase sobre criatividade”. Modelo 1: nome,

70 6º PerÍOdO • AdminisTrAçãO • UniTins


CAPÍTULO 6 • CriATividAde e inOvAçãO

formação, ocupação, gostos. Modelo 2: apelidos, manias, qualidades,


defeitos, gostos.
Você perceberá que o participante é deixado à vontade quanto à sua
exposição e quanto a demonstrar sua criatividade. Você pode dizer
que a frase não é obrigatória e nem precisa ser criativa. O importante
é deixar as pessoas à vontade. Isso é uma boa receita para elas irem
se soltando.
b) Pergunta bomba
Esse exercício é indicado para momentos em que é necessário acordar
a turma. Um bom momento é no primeiro horário após o almoço. O
enunciado é verbal e o professor oferece a oportunidade de cada um
fazer uma pergunta discreta sobre criatividade ou assunto relativo ao
curso, dirigida ao professor ou a algum colega.
A pergunta deve ser elaborada em um pequeno pedaço de papel, ser
bem dobrada e ser colocada em um balão. Depois as bolas são cheias
e amarradas. Após, o participante joga a bola para o centro da sala de
aula (as bolas devem ser da mesma cor).
Em seguida, o professor pede para que cada participante pegue uma
bola e estoure-a. Ordenadamente, cada um lerá a pergunta direciona-
do-a a pessoa indicada. Caso a pergunta seja grosseira ou inconve-
niente, a pessoa pode vetá-la.

O título da atividade é: Exercício bomba. O enunciado da ativi-


dade é: “Sem usar letra de médico, faça aqui a sua pergunta
dirigida a ...
Pergunta: ...

c) Desnotícia
Esse exercício é bem adequado para turmas que têm um bom nível de
escolaridade. Ele estimula a ginástica da mente criativa e é ideal para
interessados em administração e marketing.
Antes da execução do exercício, fornecemos um jornal ou revista para
cada participante. O enunciado é o seguinte: “Em um jornal ou revista,
escolha uma notícia ou manchete de notícia. Em até 20 linhas de texto,
você deve exercitar a sua criatividade reescrevendo-a. A seguir estão
cinco chaves que você poderá escolher para elaborar a sua redação:
1. deformar a notícia, sob a ótica de um comentarista parcial, escla-

UniTins • AdminisTrAçãO • 6º PerÍOdO 71


CAPÍTULO 6 • CriATividAde e inOvAçãO

recendo antes qual é o engajamento adotado por você, como redator


desonesto; 2. reescrever a notícia desenhando um cenário para 50 anos;
3. fazer uma paródia da notícia, como se fosse para um programa
humorístico; 4. em vez de reescrever, compor uma música inspirada na
notícia; 5. reescrever a notícia como se você fosse um ET, escrevendo
para ETs. Obs.: pratique a síntese e não se escravize à lógica ou à
coerência (seguem-se as 20 linhas em branco)”.

6.7 Exercícios em grupo


Agora passaremos a experimentar a criatividade fora das condições reais de
uso. Embora reconheça que nada substitui a prática na vida real, a realização
desses exercícios podem minimizar o desconforto que a maioria das pessoas
tem ao se deparar com desafios diante dos processos não lógicos.
a) Liganovação
Este exercício é indicado para pessoas interessadas em negócios e
em marketing, pois explora a percepção direcionada a negócios. Sua
execução requer, no mínimo, dez minutos. O enunciado é o seguinte:
“Fase 1: após anotar as três coisas mais interessantes que vocês viram
hoje, lembrem e anotem também suas últimas três compras (desde
cigarros, pães, sabonetes, refeições, até computador). Fase 2: agora
discutam decorrências de cruzamentos do que vocês viram e anotaram,
com essas compras, para levantar alguma oportunidade empresarial
(serviço ou produto)”.
b) Fazendo diferente
Neste exercício, exploramos a abertura da mente, a fluência. O prin-
cípio do pingue-pongue criativo pode ser usado para potencializar a
realização da atividade. Como forma de avaliação, deve dividir a
turma pela metade, cada grupo lê todos os trabalhos da outra metade
e depois se atribuem notas. O enunciado é apresentado em uma folha
branca e é o seguinte: “aqui está uma relação de verbos com ações do
dia a dia. Escolham um dos verbos e criem novas maneiras de executar
a ação. Soltem a sua imaginação e cheguem ao maior número de alter-
nativas, das viáveis às absurdas”. Expressões: abrir portas, acender
fogueiras, acordar, amarrar sapatos, atravessar ruas, beber, beijar,
bocejar, buzinar, chorar, chupar picolé, dar corda em relógios, dar
tchau, descascar laranja, decidir, descer escadas, digitar, dirigir auto-
móvel, dormir, entrar em elevador, escrever, espirrar, gargalhar, ir ao
cinema, jogar futebol, ler, mexer o café, morrer, olhar estrelas, ouvir
música, paquerar, pescar, pintar, pular, quebrar ovos, respirar, roubar,
sonhar, teclar, telefonar, tomar banho, urinar, ver tv, voar, zombar.

72 6º PerÍOdO • AdminisTrAçãO • UniTins


CAPÍTULO 6 • CriATividAde e inOvAçãO

c) Eventoinovador
Para a execução deste exercício, são necessários pelo menos 20 minutos.
Eventualmente, pode ser ampliado, a critério do professor e do detalha-
mento solicitado. É muito bom para finais de curso. Para iniciar o exer-
cício, distribuímos jornal ou revista para cada grupo. O enunciado é o
seguinte: “você e seu grupo vão se imaginar integrantes de uma empresa
ou organização e descriminá-la, antes de tudo. Após isso, criarão um
evento de fim de ano, com um tema e com as seguintes variáveis e propo-
sições: 1. o evento é de congraçamento interno, mas a critério de vocês
poderá ser estendido a amigos e clientes; 2. o desafio é ter um evento
criativo, inesquecível, sem que para isso seja preciso gastar uma fortuna,
levando todos a Paris ou dando prêmios caros; 3. examinar jornal ou
revista com a percepção ativada para necessidade de achar ideias para
a tarefa do evento – procurar matérias e anúncios que inspirem primeiro
a criação do tema e, depois, seu conteúdo; 4. achado o tema, criar um
nome para o evento. Em seguida, imaginar o que possa ser utilizado
como atração: números musicais, decoração, brincadeiras, etc.; 5. de
acordo com o tema e com as atrações, montar um cardápio criativo
para os comes-e-bebes e criar um modelo de convite não-convencional;
6. tudo o que for criado será descrito na apresentação e na defesa da
ideia, como se fosse feita para a diretoria, para conseguir aprovação
e verba; 7. tanto na criação do evento como na apresentação podem
ser acrescentados elementos enriquecedores não mencionados aqui. A
apresentação deve ser feita em, no máximo, cinco minutos”.
d) Publicoff
Exercício próprio para cursos de criatividade que focalizam pessoas
interessadas nas áreas de marketing e vendas. É uma atividade muito
divertida. O enunciado deve ser apresentado em transparência ou power
point e é o seguinte: “considere estes três públicos bem específicos:
1. ex-fumantes; 2. pessoas acima de 110 kg; 3. homoafetivos. Crie um
produto inovador para um desses públicos, depois descreva o produto,
batize-o e apresente ideias para a comercialização e a divulgação”.
Os exercícios foram apresentados por meio de duas modalidades de
exercícios: os informais e os formais. Cada modalidade tem a sua forma
de aplicação. Outro aspecto importante é que, a partir da experimen-
tação desses exercícios, é possível criar outros livremente.
Agora que conhecemos o que é pensamento lateral, vamos ver como
ele funciona na prática. No próximo capítulo, estudaremos sobre as
ferramentas para exercitar o pensamento lateral. Veremos as principais
técnicas de De Bono: os Seis Chapéus, a técnica da Pausa Criativa, o
Foco, a Provocação e a Colheita.

UniTins • AdminisTrAçãO • 6º PerÍOdO 73


CAPÍTULO 6 • CriATividAde e inOvAçãO

Resumo
O pensamento lateral é uma forma de solucionar problemas por métodos
não ortodoxos ou aparentemente ilógicos. Essa forma de solucionar problemas
por métodos não ortodoxos ou aparentemente ilógicos se inter-relaciona com
criatividade: um potencializa o outro. Os programas de treinamento precisam
ser planejados coerentemente levando-se em conta o seu público. Para uma boa
concepção, é necessário considerar princípios específicos (individual ou grupo). O
reconhecimento dos princípios auxilia no desenvolvimento do potencial criativo.
Outro fato interesse é como aplicar exercícios que contribuem para o desen-
volvimento da imaginação, da percepção e da criatividade. Cada um deles tem
uma função específica: alguns focam um público iniciante, outros um público
mais avançado. Assim é importante que haja uma clara definição dos objetivos
a serem alcançados para a definição da melhor estratégia.

Atividades
1. Explique o conceito de pensamento lateral com base na figura a seguir.

2. Descreva como se dá a relação pensamento lateral e criatividade.

3. Analise as afirmações a seguir.


Afirmação I: o pensamento lateral é uma forma de solucionar problemas por
métodos não ortodoxos ou aparentemente ilógicos.

PORQUE
Afirmação II: esse tipo de pensamento não tem fundamentos formais e siste-
máticos para o desenvolvimento da criatividade.
Analisando as afirmações I e II, conclui-se que
a) as duas afirmações são falsas.
b) as duas afirmações são verdadeiras, e a segunda justifica a primeira.
c) a primeira afirmação é verdadeira e a segunda é falsa.
d) a primeira é falsa e a segunda é verdadeira.

74 6º PerÍOdO • AdminisTrAçãO • UniTins


CAPÍTULO 6 • CriATividAde e inOvAçãO

4. Ao considerar que a criatividade pode ser desenvolvida por meio de


programas de treinamento, o gestor deve observar os princípios que norteiam
sua realização. Sobre esse assunto, não é correto afirmar que
a) em nível individual, deve ser estimulada a atitude de buscar novas solu-
ções para todo o tipo de problema que surgir, recorrendo à ativação da
imaginação.
b) em grupo, é necessário que haja harmonia entre os participantes para
que um possa apreciar a ideia do outro de forma a separar as tolices
que por ventura possam ser expressas.
c) a leitura também é um recurso essencial para treinar a criatividade, pois
possibilita mais informações e, assim, a pessoa pensa melhor e amplia
a sua capacidade de focar.
d) o brainstorming não se aplica ao treinamento da criatividade em
programas individuais.

5. Com base no exercício da desnotícia, escolha uma notícia recente e


realize a seguinte tarefa, em até 20 linhas, você deve exercitar a sua
criatividade reescrevendo a notícia escolhida com base em uma das cinco
chaves a seguir.
a) Deformar a notícia, sob a ótica de um comentarista parcial, esclare-
cendo antes qual é o engajamento adotado por você, como redator
desonesto.
b) Reescrever a notícia desenhando um cenário para 50 anos.
c) Fazer uma paródia da notícia, como se fosse para um programa
humorístico.
d) Em vez de reescrever, compor uma música inspirada na notícia.
e) Reescrever a notícia como se você fosse um ET, escrevendo para ETs.

6. Relacione o exercício à sua respectiva finalidade.

EXERCÍCIO FINAlIDADE
( ) próprio para a área de marketing, pois o participante
a – Apresentação
exercitará a criação de um produto para um público
criativa
específico.
( ) adequado para início de cursos em que os participantes
b – Desnotícia não se conhecem, a sua dinâmica também favorece um
pequeno exercício de criatividade.
( ) indicado para turmas com bom nível de escolaridade,
c – Liganovação pois possibilita o exercício da mente criativa e é ideal
para a área de administração e marketing.

UniTins • AdminisTrAçãO • 6º PerÍOdO 75


CAPÍTULO 6 • CriATividAde e inOvAçãO

EXERCÍCIO FINAlIDADE
( ) recomendado para explorar a abertura da mente e a
d – Publicoff fluência; seu fundamento é levar o aluno a soltar a imagi-
nação e a criar o maior número de alternativas.
( ) próprio para pessoas interessadas na área de negócios
e – Fazendo
e marketing, pois explora a percepção direcionada aos
diferente
negócios.

Comentário das atividades


Na atividade 1, você precisou identificar os aspectos relevantes do pensa-
mento lateral e notou a existência de um movimento lateral, ou seja, ao invés de
criar padrões, procura-se passar por meio deles. Outra forma de incrementar a
sua análise é apresentar a ideia de que, mesmo que algo seja aparente e pareça
ilógico, na verdade é uma derivação da lógica dos sistemas, que criam e usam
padrões por meio da provocação.
Já na atividade 2, você deve ter destacado o que torna o pensamento lateral
importante para o desenvolvimento da criatividade. O pensamento lateral é uma
forma de solucionar problemas por métodos não-ortodoxos ou aparentemente
ilógicos, por não se basear em fundamentos formais e sistemáticos para desen-
volver a criatividade.
Na atividade 3, a alternativa correta é a letra (b). Lembre-se de que o pensa-
mento lateral não se fundamenta em regras de pensamento pré-estabelecidas,
por isso a primeira afirmação justifica a segunda. Se isso acontece, não é correto
afirmar que ambas sejam falsas (a), e que não há relação de causa e efeito (c) e
(d). Aproveite e realize pesquisas adicionais em bibliografias e/ou internet.
Na atividade 4, a resposta que atende ao enunciado é a alternativa (d).
Nesse sentido, você entendeu que brainstorming é uma das formas de exercitar
a criatividade e ainda que a pessoa pode buscar novas soluções para todo o
tipo de problema que surgir, recorrendo à ativação da imaginação (a), que em
grupo é necessário que haja harmonia entre os participantes (b) e que leitura é
um recurso essencial para treinar a criatividade (c).
Na atividade 5, é importante você observar as instruções apresentadas para
sua realização. Outro detalhe importante é que você deve praticar esse exercício
buscando sintetizar e não se escravizar à lógica ou à coerência. Identifique o
que se destacou na notícia escolhida e reelabore-a com criatividade. Se possível,
socialize o resultado com os colegas de sala.
Na atividade 6, se você respondeu que a sequência certa é (d, a, b, e, c),
você compreendeu a finalidade de cada uma das técnicas de exercício da criati-
vidade. Lembre-se de que a aplicação de cada uma dependerá da finalidade a
que se destina. Retome os conteúdos da aula caso permaneçam dúvidas.

76 6º PerÍOdO • AdminisTrAçãO • UniTins


CAPÍTULO 6 • CriATividAde e inOvAçãO

Referências
DE BONO, Edward. Criatividade levada a sério: como gerar ideias criativas
através do pensamento lateral. São Paulo: Pioneira, 1994.
PREDEBON, José. Criatividade hoje: como se pratica, aprende e ensina. 3. ed.
São Paulo: Atlas, 2003.

Anotações

UniTins • AdminisTrAçãO • 6º PerÍOdO 77


CAPÍTULO 6 • CriATividAde e inOvAçãO

78 6º PerÍOdO • AdminisTrAçãO • UniTins


7
Ferramentas e técnicas CAPÍTULO 7 • CriATividAde e inOvAçãO

para o desenvolvimento
da criatividade

Crescer é uma decisão individual.


Francisco Gomes de Matos

Introdução
Você precisa ter entendimento de que o pensamento lateral é um sistema
auto-organizável de informação, gerador de padrões não ortodoxos ou aparen-
temente ilógicos. Vimos isso no capítulo anterior. De Bono (1994) identifica
a existência de um tipo de raciocínio livre e sem censura. Toda organização
precisa constantemente de novas perspectivas para considerar seus desafios.
Logo a existência de talentos criativos constitui um diferencial competitivo para
alcançar os objetivos organizacionais. Aí reside a importância de você entender
as técnicas de desenvolvimento da criatividade criadas por De Bono e imple-
mentar as técnicas de desenvolvimento da criatividade criadas por ele.
Neste capítulo, conheceremos cinco técnicas simples, porém poderosas, de
implementação do pensamento lateral já testadas em organizações dos quatro
cantos do mundo. Essas técnicas foram retiradas do livro Criatividade levada
a sério: como gerar ideias criativas através do pensamento lateral, do autor
Edward De Bono, e têm grande potencial para o desenvolvimento da criativi-
dade. Começaremos com os Seis Chapéus.

7.1 Seis Chapéus


O método consiste em utilizar papel em cores para representar os seis
chapéus: branca, vermelha, preta, amarela, azul e verde. Veja a que cada cor
está relacionada.
a) Chapéu branco
A folha de cor branca representa neutralidade e, portanto, levará infor-
mações. Assim o chapéu branco está ligado a dados e informações.
A pessoa deverá responder, nessa folha, às perguntas listadas a seguir.
t Que informações temos aqui?
t Que informações estão faltando?
t Que informações gostaríamos de ter?
t Como iremos concebê-las?

UniTins • AdminisTrAçãO • 6º PerÍOdO 79


CAPÍTULO 7 • CriATividAde e inOvAçãO

O pensamento do chapéu branco pode ser solicitado em uma reunião.


É importante esclarecer aos participantes que deixem de lado propostas
e debates e focalizem diretamente as informações que se encontram
disponíveis, que são necessárias e na forma como podem ser obtidas.
b) Chapéu vermelho
A folha de cor vermelha representa fogo, calor. Nela, serão descritos
sentimentos, intuições, palpites e emoções. Como em uma reunião difi-
cilmente os participantes expressam emoções, o chapéu vermelho dá
essa permissão para que sejam expostos, sem desculpas, explicações
ou justificativas, sentimentos, intuições e palpites.
Na prática, funciona assim:
t pondo o chapéu vermelho, é isso que sinto sobre este projeto...
t meu palpite é que isso não dará certo...
t não gosto da maneira pela qual isso está sendo feito...
t minha intuição me diz que os preços logo cairão...
O chapéu vermelho sinaliza sentimentos que podem entrar na discussão
sem nenhum disfarce.
c) Chapéu preto
A folha de cor preta simboliza um severo juiz. O chapéu preto repre-
senta a cautela. Ele nos impede de cometer erros, de fazer coisas tolas
e de fazer coisas que sejam ilegais. Veja a que ele se refere a seguir.
t O chapéu preto é para julgamento crítico.
t O chapéu preto mostra por que uma coisa não pode ser feita.
t O chapéu preto mostra por que uma coisa não será lucrativa.
t Os regulamentos não permitem fazer isso...
t Não temos capacidade de produção para atender esse pedido...
t Quando tentamos um preço mais alto, as vendas caíram...
t Ele não tem experiência de gerência de exportação...
O chapéu preto é valioso para evitar erros desastrosos. É o chapéu
mais usado e o mais útil. Mas, cuidado, não é recomendável usá-lo
em excesso.
d) Chapéu amarelo
Representa a luz do sol. O chapéu amarelo é para expressar otimismo
e visão lógica positiva das coisas. Esse chapéu busca a viabilidade e

80 6º PerÍOdO • AdminisTrAçãO • UniTins


CAPÍTULO 7 • CriATividAde e inOvAçãO

como algo pode ser feito, busca benefícios baseados na lógica. Veja
alguns exemplos.
t Isso pode funcionar, se levarmos a produção para mais perto dos
clientes...
t O benefício virá da repetição das compras...
t O alto custo de energia fará com que todos fiquem mais eficientes
em seu uso...
O uso do chapéu preto é mais natural do que o amarelo, porque temos
a tendência de evitar erros que comprometem a sobrevivência. O uso
do chapéu amarelo exige um esforço deliberado e seus benefícios nem
sempre são imediatamente óbvios. Por isso é que as ideias criativas
precisam da atenção do chapéu amarelo.
e) Chapéu verde
O verde representa a vegetação, o crescimento. O chapéu verde é para
o pensamento criativo, para novas ideias, para alternativas adicionais.
Com esse chapéu, as pessoas colocam possibilidades e hipóteses e ele
requer um esforço criativo. Veja a seguir.
t Precisamos de algumas novas ideias aqui...
t Existem alternativas adicionais?
t Podemos fazer isso de outra maneira?
t Pode haver outra explicação?
O chapéu verde oferece tempo e espaço para o pensamento criativo,
mesmo que ele não ocorra. A intenção é provocar um esforço criativo.
f) Chapéu azul
O azul representa o céu, ou seja, uma visão geral. O chapéu azul
possibilita o controle dos processos, reflexão sobre os pensamentos que
estão sendo utilizados, estabelecimento de uma agenda para pensar,
sugestão do próximo passo. Esse chapéu pede outros chapéus, resumos,
conclusões e decisões.
t Temos passado tempo demais em busca de alguém a quem culpar.
t Podemos ter um resumo das suas ideias?
t Creio que devemos examinar as prioridades.
Devemos pensar com o chapéu verde, para ter algumas ideias novas.
Esse chapéu é geralmente usado pelo líder da reunião, embora outros
participantes também possam fazer uso dele.

UniTins • AdminisTrAçãO • 6º PerÍOdO 81


CAPÍTULO 7 • CriATividAde e inOvAçãO

Na sequência, conheceremos algumas instruções que podem auxiliar na


implementação da técnica dos Seis Chapéus.

7.1.2 Instruções para a implementação dos Seis Chapéus


Algumas instruções são necessárias para a implementação dessa técnica.
Vejamos.
t Ao invés de debater, é importante usar o chapéu amarelo para explorar
benefícios, ou o verde para abrir possibilidades. Deve ser fomentada a
exploração cooperativa no lugar do pensamento adversário.
t Ego e desempenho, em se tratando de pensar, caminham juntos. Mas,
nesse método, separa-se um do outro. O pensador é desafiado a
usar os diferentes chapéus e a liberdade para achar os benefícios,
examinar as dificuldades, enfim, discernir e mudar de opinião a
respeito do assunto.
t O negativismo persistente é trabalho entre o chapéu preto e o verde.
t Oferta de espaço para desenvolver o pensamento positivo e criativo.
t Quanto mais se investe no método, mais poderoso fica, pois se torna um
jogo irresistível.
t Cuidado para não se formarem categorias de pensadores. Fulano é o
pensador de chapéu preto do grupo, Beltrano é do pensador do chapéu
amarelo, etc.
t O uso dos chapéus é ocasional, a mudança ocorre naturalmente e sem
ofensas.
t Pode ser usado sistematicamente em grupo ou individualmente.
Estabelecemos uma sequência formal dos chapéus e, em seguida, dedi-
camos quatro minutos para cada um.
A técnica dos Seis Chapéus é útil para ser desenvolvida em grupo. Um clima
de abertura e confiança associado à observância das instruções de implemen-
tação potencializa o resultado da atividade. Agora que conhecemos a técnicas
dos Seis Chapéus, estudaremos a técnica da Pausa Criativa.

Saiba mais

Se você quer conhecer mais sobre a obra e as ideais do Edward De Bono,


acesse o sítio <http://www.edwarddebono.com> e o portal <http://www.
eureekka.com/>. Lá você encontrará dicas legais sobre os métodos e as
técnicas de pensamento do autor.

82 6º PerÍOdO • AdminisTrAçãO • UniTins


CAPÍTULO 7 • CriATividAde e inOvAçãO

7.2 Pausa criativa


Essa técnica pode se tornar um hábito mental para aquelas pessoas que
desejam ser criativas. Pela pausa é mais fácil realizar o esforço criativo.
A pausa pode ser feita sempre que desejar. Por meio dela, refletimos
sobre a possibilidade de uma nova ideia naquele ponto. A pausa pode ser
motivada pela intenção de criar ou, estando motivados, fazemos delibera-
damente pausa criativa. O ponto principal é dar atenção a alguma coisa e
colocá-la na mente.
Como parte de nosso pensamento é reativo, na pausa criativa o importante é
desenvolver o hábito de pensamento pró-ativo. Observe como fazer isso a seguir.
t Quero notar isso.
t Quero prestar atenção naquilo.
t Isso precisa ser pensado.
t Existe outra possibilidade?
t Essa é a única maneira de fazer isso?
A pausa criativa traduz-se em um momento ímpar para as pessoas interes-
sadas em desenvolver o hábito mental do esforço criativo. No item a seguir,
conheceremos outra técnica interessante: o foco.

7.3 Foco
O foco é uma parte importante da criatividade, muito mais do que as pessoas
criativas imaginam.
O nome da ferramenta é Foco Simples. Destina-se a buscar pontos de foco
incomuns e despercebidos. Você está colando o selo em um envelope e decide
focalizar essa operação. Que novas ideias pode haver nela? Talvez um anúncio
ou uma mensagem de saúde no espaço aberto para colar o selo. Talvez outra
forma de colar o selo.
Você focaliza o processo de check-in na fila do aeroporto. Há espera na fila.
Como aquele tempo poderia ser usado de forma diferente? Para informação ou
para entretenimento?
Esses exemplos mostram que podemos focar em qualquer ponto. Na inter-
face ou na relação entre as coisas, na modificação de algo que facilite a sua
vida, na divisão de uma operação em pequenos passos, etc.
A Pausa Criativa e o Foco Simples não são a mesma coisa. A primeira
refere-se à disposição para fazer uma parada enquanto se pensa ou se discute
para prestar atenção criativa em algo. Já o Foco Simples é um esforço delibe-
rado para escolher um novo foco.

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CAPÍTULO 7 • CriATividAde e inOvAçãO

Determinado o Foco Simples, passamos para o seu tratamento, que pode


ser o seguinte:
t anotação do ponto de foco para futura atenção;
t tentativa preliminar de gerar algumas alternativas e ideias;
t esforço sério para gerar ideias na área do foco definida.
Existem ainda outros tipos amplos de foco. Vejamos.
a) Específico de aplicação criativa
Há dois: 1. criatividade cotidiana – envolvemos atitudes, motivações e
hábitos de criatividade, pois ela passa a fazer parte da maneira de pensar
da pessoa; 2. foco específico – definimos uma tarefa criativa específica.
b) Foco de área geral
Definimos qual a área geral que desejamos criar ideias novas: área de
restaurantes, tecnologia, educação, hotelaria, confecções infantis, etc. A
área geral pode ser ampla ou muito restrita: novas ideias na direção de
um hotel, nas cores dos criados-mudos nos quartos do hotel, no serviço
de mensagens.
c) Foco intencional
Definimos a finalidade do pensamento, o que estamos buscando realizar,
a meta, o alvo e no que resultará. Esse foco visa ao melhoramento, à
resolução de problemas, à execução de determinada tarefa, à identifi-
cação de oportunidades.
d) Focos múltiplos
Podemos optar por um foco amplo ou pela divisão em múltiplos subfocos
ou subtarefas. Por exemplo, precisamos de novas ideias para o trans-
porte urbano. Dividimos esse foco em: equipamento, controle de tráfego,
perfil dos usuários, horários, mercado, treinamento, programas de pico,
configuração dos ônibus, etc.
A próxima técnica é a provocação. Veremos que essa técnica consiste
em um esforço deliberado de disparar tudo o que vem à mente.

7.4 Provocação
Essa técnica tem tudo a ver com experimentos na mente. Com ela podemos
(por uns 30 segundos) ligar e desligar a loucura à nossa vontade. Inicialmente, a
provocação pode parecer uma abordagem de um franco atirador que diz qual-
quer coisa que vem à mente na esperança que seja útil. Ela é, na verdade, uma
necessidade lógica em qualquer sistema auto-organizável. Ela introduz instabili-
dade e permite que um novo estado estável seja atingido.

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CAPÍTULO 7 • CriATividAde e inOvAçãO

Essa técnica é composta por dois estágios formais. O primeiro envolve o


estabelecimento da provocação; e o segundo, o uso da provocação até se
chegar a uma ideia útil. A sequência é a seguinte: 1. escolher o foco criativo; 2.
estabelecer a provocação; 3. usar a provocação.
Imagine que a equipe de treinamento da empresa necessita encontrar alter-
nativas para realizar um workshop. O grande problema é a compatibilidade
de horário dos candidatos ao workshop. Reunida, a equipe utilizou a técnica
da provocação para encontrar a melhor solução da questão. Cada um dos
participantes lança hipóteses, ou seja, provocações que, após serem refinadas,
culminam na melhor ideia.
Recomendamos aprender a usar as provocações antes de criá-las. Não
faria sentido saber criar provocações e não saber como usá-las. O uso da
provocação requer uma operação mental denominada de movimento. O movi-
mento permite que cheguemos a uma ideia e não consideremos se está certa ou
errada, ou se encaixa em nossa experiência. O que importa é nos movermos
para adiante.
Agora conheceremos a última técnica de desenvolvimento do pensamento
criativo, a colheita, e veremos que ela consiste em um processo de aproveitamento
de todas as ideias, das úteis até aquelas que se mostram pouco interessantes.

7.5 Colheita
O uso do pensamento criativo é como a colheita do fazendeiro. Ele semeia
o campo inteiro com os grãos, mas, no momento da colheita, ele se contenta
em colher somente um quarto do que foi plantado. O resto é desperdiçado. Isso
acontece com a nossa criatividade.
Assim como o foco, a colheita é uma das partes mais fracas do pensamento
criativo. Ambos parecem ser simples e diretos, por isso não prestamos muita
atenção a eles.
Na preparação para a criatividade, ocupamo-nos em obter a ideia nova,
melhor, vendável, prática. Logo que ela surge, ignoramos tudo o mais que acon-
teceu para se chegar àquela ideia.
Uma pessoa pode observar uma obra de arte e decidir se gosta ou não
dela. Sua perspectiva se modifica se ela fizer aulas de apreciação da arte.
Certamente, perceberá muito mais aspectos do que na primeira observação: a
composição, o trabalho com os pincéis, o uso de luz e de sombra, a escolha das
cores e assim por diante.
É por meio do treinamento que as pessoas podem notar melhor as coisas.
Sem ele, dificilmente conseguiremos ver o que está à nossa frente. Em uma
sessão de pensamento criativo, a lógica é a mesma: o treinamento possibilita a
colheita de melhor resultado.

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CAPÍTULO 7 • CriATividAde e inOvAçãO

Em uma sessão de treinamento criativo, há três finalidades: 1. achar a


ideia mágica; 2. produzir novas ideias que possam ser tornadas utilizáveis;
3. estocar a mente com um repertório de conceitos e ideias que podem não ser
úteis naquele momento, mas que enriquecerão qualquer futuro pensamento a
respeito do mesmo assunto ou assuntos associados.
Para uma colheita cuidadosa, é necessário fazer anotações durante a sessão,
ou ouvir depois, com atenção, sua gravação. Desse modo, podemos extrair e
registrar o valor pleno da sessão.
Existem alguns pontos de verificação que favorecem uma boa colheita. Veja
a seguir.
a) Ideias específicas
São ideias concretas a serem postas em ação. Incluem-se as ideias consi-
deradas mágicas, utilizáveis e aproveitáveis por todos.
b) Ideias “por exemplo”
São as ideias reconhecidamente não aproveitáveis, mas que em seu
bojo há um conceito valioso.
c) Sementes de ideias
É o início de uma ideia. É uma ideia potencial que precisa ser desenvol-
vida e transforma em algo útil. O que diferencia a semente de ideia da
ideia “por exemplo”, é que não se tem intenção de trabalhá-la.
d) Conceitos discretos
São conceitos que emergiram da discussão. Podem evoluir até se trans-
formarem em ideias ou permanecerem como conceito. É importante que
sejam registrados, embora não seja fácil.
e) Conceitos “postos de lado”
São conceitos que não emergiram diretamente, que foram consciente-
mente afastados das ideias ou das ideias “por exemplo”. É fundamental
procurar explicitar os conceitos.
f) Direções
Nada mais são do que conceitos ou abordagens muito amplas a uma
situação. Pode ocorrer sobreposição entre os tipos de conceitos e as
direções.
g) Necessidades
Ao longo do esforço criativo, pode ocorrer alguma necessidade. Como,
por exemplo, a necessidade de transformar um conceito em ideia prática
ou de direções que precisam ser transformadas em conceitos.

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CAPÍTULO 7 • CriATividAde e inOvAçãO

h) Novos focos
Podem surgir novos focos criativos durante a sessão, decorrentes das
necessidades que foram levantadas. Registre-se o novo foco para que
seja retomado mais tarde.
i) Mudanças
Pode haver durante a sessão mudanças de pensamento, ou seja, novas
linhas podem se abrir.
j) Sabor
O último ponto da lista é o sabor relativo ao resultado global da sessão.
O valor da seleção do sabor é fruto de novas sessões que poderão
tentar desenvolver ideias diferentes. Deve existir apenas um sabor.
A técnica da colheita ajuda a valorizar cada nova ideia apresentada durante
uma sessão, seja ela uma reunião, uma oficina ou um curso. A sua aplicação
requer a observância de alguns pontos de controle. Esses pontos têm por fina-
lidade não desperdiçar o que surgir de novo ou de pertinente para o grupo de
pessoas envolvidas no processo ou na organização.
A partir do que estudamos neste capítulo, podemos perceber que as técnicas
têm aplicações distintas. Cada uma pode ser útil para buscar pontos comuns e
despercebidos ou para introduzir a instabilidade e um novo estado estável.

Resumo
As distintas técnicas apresentam suas peculiaridades. A técnica dos Seis
Chapéus ensina a trabalhar e a explorar ideias sob os mais variados ângulos.
O chapéu branco está ligado a dados e informações. O chapéu vermelho dá
permissão para que sejam expostos, sem desculpas, explicações ou justificativas,
sentimentos, intuições e palpites. O chapéu preto representa a cautela. Ele nos
impede de cometer erros, de fazer coisas tolas e de fazer coisas que sejam
ilegais. O chapéu amarelo é para expressar otimismo e visão lógica positiva
das coisas. Esse chapéu busca a viabilidade e como algo pode ser feito, ou seja,
busca benefícios baseados na lógica. O chapéu verde é para o pensamento
criativo, para novas ideias, para alternativas adicionais. Com esse chapéu, as
pessoas colocam possibilidades e hipóteses e ele requer um esforço criativo. O
chapéu azul faz o controle dos processos, refletimos sobre os pensamentos que
estão sendo utilizados, estabelecemos uma agenda para pensar, sugerimos o
próximo passo. Esse chapéu pede outros chapéus, resumos, conclusões e deci-
sões. A Pausa Criativa como um hábito auxilia de modo reflexivo ampliação da
compreensão do objeto analisado.
Vimos que o foco e a provocação são ferramentas que potencializam a
capacidade de gerar ideias sobre algo específico, amplo ou ilógico. A primeira

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CAPÍTULO 7 • CriATividAde e inOvAçãO

tem a finalidade de buscar pontos incomuns e despercebidos. A segunda possi-


bilita que se façam experimentos na mente.
Já o procedimento da colheita é fundamental para minimizar o desperdício
de ideias, conceitos, necessidades, direções, etc. É importante registrar tudo o
que acontece na sessão com base no check list. A colheita não é apenas uma
anotação retrospectiva da sessão, é parte integrante dela. Assim como na obser-
vação dos pássaros, com essa técnica, aprendemos a ver e perceber aquilo que
acontece enquanto está acontecendo.

Atividades
1. Conforme vimos neste capítulo, a implementação do pensamento lateral
conta com técnicas, simples, mas de grande efeito, testadas em organiza-
ções do mundo inteiro e, com grande potencial para o desenvolvimento da
criatividade, entre elas a técnica dos Seis Chapéus. Seguindo essa trilha,
imagine que você está precisando encontrar uma solução para a rotina
de trabalho de abastecimento das gôndolas do supermercado que você
gerencia. Individualmente, exercite a técnica dos Seis Chapéus para encon-
trar alternativas para a solução desse problema.

2. Para a utilização da técnica dos Seis Chapéus, é importante conhecer a


finalidade de cada um. Diante disso, qual a afirmativa mais adequada à
descrição dada em relação ao chapéu verde?
a) O chapéu verde é acionado quando a intenção é dar espaço para o
pensamento criativo, para novas ideias, para alternativas adicionais.
b) O chapéu vermelho é acionado quando a intenção é realizar uma pausa
criativa.
c) O chapéu branco é acionado quando a intenção é harmonizar uma
discussão calorosa.
d) O chapéu azul é acionado para gerar aspectos negativos das soluções
propostas.

3. Sobre os métodos de implementação da técnica dos Seis Chapéus, podemos


afirmar que
a) o uso do debate é mais salutar.
b) o pensador deve manter-se fiel ao chapéu que escolheu.
c) o negativismo persistente é trabalho entre o chapéu branco e o verde.
d) a oferta de espaço para o pensamento positivo e criativo deve ser
fomentada.

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