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ARTIGO DE REVISÃO

Contribuição da musicoterapia no transtorno do espectro autista: revisão


integrativa da literatura
Contribution of music therapy to autism spectrum disorder: an integrative
literature review

Contribución de la musicoterapia al trastorno del espectro autista: una revisión


integradora de la literatura

Oliveira, Francisca Vieira de1; Rêgo Neta, Marly Marques2; Magalhães, Juliana Macêdo3; Oliveira, Adélia
Dalva da Silva4; Amorim, Fernanda Claudia Miranda5; Carvalho, Claudia Maria Sousa de6

RESUMO

Objetivo: verificar as evidências científicas sobre a contribuição da musicoterapia como


intervenção no tratamento da criança com transtorno espectro autista. Métodos: revisão
integrativa da literatura, realizada na base de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em
Ciências da Saúde e na Medical Literature Analysis and Retrieval System Online. A busca dos artigos
foi realizada de janeiro a março de 2019, utilizando os seguintes descritores controlados:
Musicoterapia, Terapêutica e Transtorno autístico que que atenderam aos critérios de inclusão e
exclusão do estudo. Resultados: doze artigos evidenciaram o valor da música e o seu papel como
recurso terapêutico em crianças. Conclusão: analisou doze estudos que enfatizam o uso da
musicoterapia como ferramenta de tratamento no transtorno do espectro autista, tendo em vista
que onze estudos descrevem a forma significativa na melhora do quadro clínico e/psicológico de
crianças com Transtorno do Espectro Autista, ao proporcionar melhora na comunicação e na
socialização.
Descritores: Musicoterapia; Terapêutica; Transtorno autístico; Criança; Música

1 Centro Universitário Uninovafapi. Teresina, Piauí (PI), Brasil (BR). E-mail: t-calove@outlook.com ORCID: 0000-0002-
7793-2717
2 Centro Universitário Uninovafapi. Teresina, Piauí (PI), Brasil (BR). E-mail: marly_neta@hotmail.com ORCID: 0000-
0003-4049-7894
3 Centro Universitário Uninovafapi. Teresina, Piauí (PI), Brasil (BR). E-mail: juliana.magalhaes@uninovafapi.edu.br
ORCID: 0000-0001-9547-9752
4 Centro Universitário Uninovafapi. Teresina, Piauí (PI), Brasil (BR). E-mail: adelia.oliveira@uninovafapi.edu.br ORCID:
0000-0001-8344-9820
5 Centro Universitário Uninovafapi. Teresina, Piauí (PI), Brasil (BR). E-mail: fcmamorim@outlook.com ORCID: 0000-
0002-1648-5298
6 Centro Universitário Uninovafapi. Teresina, Piauí (PI), Brasil (BR). E-mail: cmcarvalho@uninovafapi.edu.br ORCID:
0000-0002-2743-0612

Como citar: Oliveira FV, Rêgo Neta MM, Magalhães JM, Oliveria ADS, Amorim, FCM, Carvalho CMS. Contribuição da
musicoterapia no transtorno do espectro autista: revisão integrativa da literatura. J. nurs. health.
2021;11(1):e2111117779. Disponível em:
https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/enfermagem/article/view/17779

Este é um artigo de acesso aberto distribuído sob os termos da Licença Creative Commons CC BY NC. É permitido que outros distribuam,
remixem, adaptem e criem a partir do seu trabalho, para fins não comerciais, desde que lhe atribuam o devido crédito pela criação original.
ABSTRACT
Objective: To analyze the scientific evidence on the contribution of music therapy as an intervention
in the treatment of children with autism apectrum disorder. Methods: integrative literature review,
carried out in the database: Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences and in the
Medical Literature Analysis and Retrieval System Online. The search for the articles was carried out
from January to March 2019, using the following controlled descriptors: Music Therapy, Treatment,
Child, Disorder, Autistic Spectrum that met the inclusion and exclusion criteria of the study. Results:
twelve articles showed the value of music and its role as a therapeutic resource in children.
Conclusion: Analyzed twelve studies that emphasize the use of music therapy as a treatment tool in
autism apectrum disorder, considering that eleven studies describe the significant way in improving
the clinical and / psychological condition of children with Autism Spectrum Disorder, by providing
improved communication and in socialization.
Descriptors: Music therapy; Therapy; Autistic disorder; Child; Music

RESUMEN
Objetivo: analizar la evidencia científica sobre la contribución de la musicoterapia como
intervención en el tratamiento de niños con trastorno del espectro autista. Métodos: revisión
integradora de la literatura, realizada en la base de datos: Literatura Latinoamericana y del Caribe
en Ciencias de la Salud y en el Sistema de Análisis y Recuperación de Literatura Médica en Línea. La
búsqueda de los artículos se realizó de enero a marzo de 2019, utilizando los siguientes descriptores
controlados: Musicoterapia, Tratamiento, Niño, Trastorno, Espectro autista que cumplieron con los
criterios de inclusión y exclusión del estudio. Resultados: doce artículos mostraron el valor de la
música y su papel como recurso terapéutico en los niños. Conclusión: se analizaron doce estudios
que enfatizan el uso de la musicoterapia como herramienta de tratamiento en el trastorno del
espectro autista, considerando que once estudios describen la forma significativa en la mejora de la
condición clínica y / psicológica de los niños con Trastorno del Espectro Autista, al proporcionar una
mejor comunicación y socialización.
Descriptores: Musicoterapia; Terapéutica Trastorno autista; Niño; Musica

INTRODUÇÃO
O Transtorno do Espectro do crianças e adolescentes sofram
Autismo (TEA) é caracterizado por transtornos mentais. Considera-se que
prejuízos qualitativos na interação social, até 4% dessa população necessita de
associados a comportamentos tratamentos intensivos.3
repetitivos, estereotipados e presença de O diagnóstico inicial pode ser
um repertório restrito de atividades e realizado pelo médico especialista
interesses.1 baseado na anamnese do paciente por
Segundo a Organização Pan- intermédio de observações
Americana de Saúde – OPAS/OMS (2017) comportamentais e informações dos
estima-se que o autismo afeta uma em pais. Porém, ainda há uma dificuldade em
cada 160 crianças no mundo.2 No Brasil dispor do diagnóstico precoce em
ainda não há dados estatísticos oficiais crianças com TEA, gerando dificuldade
sobre a prevalência desse transtorno, no tratamento e nas atividades habituais,
porém estima-se que 10% a 20% das

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levando a criança e família a um Mediante o desenvolvimento
sofrimento psíquico.1 dessas atividades há evidências de que a
intervenção musical contribui para
No diagnóstico precoce tem-se a
romper padrões de isolamento, favorece
possibilidade de intervir nos distúrbios
a comunicação, a melhora cognitiva e
da tríade: interação social, comunicação
proporciona um maior contato social e
e reciprocidade social. Autores relatam
quebra de preconceitos e barreiras.4 Na
que quanto mais cedo o início do
redução dos métodos farmacológicos e
tratamento, melhor eficácia e menor será
melhoria dos processos não invasivos, a
a gravidade desse transtorno, havendo
musicoterapia é uma terapêutica usada
um melhor convívio, proximidade e
no tratamento do TEA tendo grande
interação social entre criança e família
relevância e vastas contribuições no
onde ambos terão uma vida
alívio do estresse, ansiedade, promove
relativamente “normal” com poucos
relaxamento e diminuição no isolamento
prejuízos.4
social dessa criança.5
Deste modo, o diagnóstico precoce
Nesse contexto, este estudo teve
trará imenso benefício, podendo assim
por objetivo verificar as evidências
diminuir a gravidade do TEA, melhorar a
científicas sobre a contribuição da
interação, o desenvolvimento e
musicoterapia como intervenção no
habilidades das crianças autistas. Assim,
tratamento da criança com Transtorno
o profissional Enfermeiro é importante
Espectro Autista.
na identificação dos sinais e sintomas de
criança com TEA, já que ele faz parte da MÉTODO
equipe multiprofissional e é um dos
responsáveis pelo acompanhamento das Diante a proposta do estudo e com
crianças na Estratégia Saúde da Família, intuito de alcançar o objetivo traçado, foi
devendo estar apto para avaliar o utilizado como método para esta
desenvolvimento infantil, identificar os investigação a revisão integrativa de
parâmetros normais de crianças durante literatura, para a operacionalização da
a puericultura.3 presente revisão foram adotadas a
sequência de seis etapas: elaboração da
Neste sentido, dentro dos serviços questão de pesquisa, amostragem ou
de referência para crianças com TEA, o busca na literatura dos estudos
Centro de Atenção Psicossocial primários, extração de dados, avaliação
Infantojuvenil (CAPSi) é disponibilizado dos estudos primários incluídos, análise
para serviços que podem ajudar na e síntese dos resultados e apresentação
interação, desenvolvimento, da revisão.6
comunicação e diminuição do isolamento
social. Este serviço disponibiliza várias A primeira etapa, trata-se da
atividades como lazer, terapia familiar, elaboração da questão norteadora na
musicoterapia, rodas de conversa, dança, qual foi mediada pela estratégia PICo,6
pinturas, caminhadas, jogos, atividades sendo “P” a população, “I” o fenômeno de
lúdicas e atividade física.5 interesse, e “Co” refere-se ao contexto,
assim instituiu-se como P: Crianças; I:

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Musicoterapia e Co: Transtorno do dados importantes no contexto da saúde.
Espectro Autista. Dessa forma, a questão Por meio do acesso online, sendo
de pesquisa foi: “Qual a contribuição da utilizadas as seguintes bases de dados:
musicoterapia como intervenção no Caribe em Ciências da Saúde (LILACS),
tratamento da criança com Transtorno Base de Dados em Enfermagem (BDEnf),
do Espectro Autista?” Medical Literature Analysis and Retrieval
System Online (MEDLINE) todos via
A busca dos artigos foi realizada de
Biblioteca Virtual em Saúde.
janeiro a março de 2019. O instrumento
de coleta elaborado pelas autoras para Para a busca dos estudos primários
extração dos artigos científicos nas respectivas bases de dados, foram
selecionados foi uma tabela que utilizados os Descritores em Ciências da
contemplou a identificação do artigo, o Saúde (DeCS): Musicoterapia,
título do artigo, autor, ano, base de dados, Terapêutica, Criança e Transtorno
periódico e principais contribuições dos autístico, combinados em diferentes
estudos. estratégias com a finalidade de garantir
uma busca ampla (Quadro 1).
Para realizar a seleção dos estudos,
foram utilizados os sistemas de bases de
Quadro 1: Estratégia de busca nas bases de dados da MEDLINE, BDEnf e LILACS publicados entre 2014 e
2019

Bases de Dados Estratégia de Busca Resultados

Musicoterapia AND Terapêutica AND Transtorno autístico 45


MEDLINE Transtorno autístico AND Música AND Terapêutica 18
Musicoterapia AND Criança AND Transtorno autístico 54
Musicoterapia AND Terapêutica AND Transtorno autístico 1
BDENF
Musicoterapia AND Criança AND Transtorno autístico 1
Musicoterapia AND Criança AND Transtorno autístico 4
LILACS
Musicoterapia AND Terapêutica AND Transtorno autístico 4
Total 127
Fonte: Elaborado pelas autoras, 2019.
casos informais, dissertações, teses,
Com a finalidade de estabelecer a
reportagens, notícias, editoriais e textos
amostra dos estudos selecionados para a
não científicos.
presente revisão integrativa, foram
estabelecidos os seguintes critérios de Após a busca dos estudos, norteada
inclusão: artigos originais, que discorrer pelos critérios de inclusão e exclusão, foi
sobre a musicoterapia como intervenção realizada a leitura exaustiva do título e do
no tratamento de crianças com TEA, resumo de cada artigo científico a fim de
publicados entre os anos de 2014-2018 verificar a sua adequação com a questão
afim de identificar na literatura mais de pesquisa da presente investigação.
recente o que é publicado sobre a Após a análise prévia da
temática, nos idiomas: inglês e observância dos critérios de inclusão, e
português. E foram excluídos: relatos de

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considerando a leitura exploratória de seguir, foram excluídos 108 estudos
(título e resumo), obteve-se um cujos títulos e resumos não abordavam
quantitativo inicial de 127 artigos e após sobre a temática relaciona a crianças com
nova triagem restaram 122 publicações, TEA, selecionando-se, ao final, 12
dentre os quais 07 foram excluídos por estudos para análise (Figura 1).
serem duplicados nas bases de dados. A

Figura 1: Fluxograma de identificação, seleção e inclusão dos artigos, para o desenvolvimento da


pesquisa
Fonte: elaborado pelos autores, 2019.

conhecimento teórico. Para melhor


A análise dos dados foi realizada de
identificação, os artigos científicos
forma descritiva, enfatizando a
receberam um código de sequência
relevância da musicoterapia como
alfanumérica (Artigo 01, Artigo 02,
intervenção terapêutica no tratamento
Artigo 03..., Artigo12).
de crianças com TEA. Para melhor
compreensão, a discussão foi realizada RESULTADOS
em forma de texto corrido, no qual exigiu
a comparação dos resultados dos artigos Os doze artigos que responderam
científicos selecionados com o aos critérios de inclusão propostos foram

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publicados entre 2014 e 2018, pesquisas foi Journal of Music Therapy
destacando-se os anos de 2014, 2016 e com cinco (42%) publicações, as outras
2018 com três (25%) destas publicações sete revistas apresentaram apenas uma
respectivamente sobre a problemática. publicação em cada conforme descrito no
No período de 2017 obteve duas (16%) quadro 2. Dos doze artigos analisados,
produções cientificas, e uma (9%) no ano dez (83%) eram na língua inglesa, sendo
de 2015. Destes artigos selecionados somente dois (17%) na língua
para compor este trabalho, dez foram portuguesa. Demostra-se que a língua
encontrados na base de dados inglesa é a mais utilizada para as
MEDLINE/BVS, uma na LILACS e uma na publicações dessa temática,
BDEnf. corroborando o fato de ser uma temática
predominantemente estudada por
Entre os periódicos mais
autores internacionais (Quadro 2).
relacionados às divulgações das

Quadro 2: Categorização dos artigos quanto à identificação, título do artigo, autor, ano, bases de dados,
periódico e principais contribuições dos estudos.
Periódico
Autores/ Contribuições dos estudos
Título do artigo /Base de
ano
dados
Music therapy for Geretsegger Cochrane Diante dos resultados há evidências que a
people with autism M, Elefant C, database musicoterapia pode ajudar crianças com TEA a
spectrum disorder7 Mössler KA, syst. rev. melhorar interação social, comunicação verbal,
Gold C. / 2014 (online) comportamento inicial e reciprocidade
socioemocional. Além de também pode ajudar a
MEDLINE melhorar as habilidades de comunicação não-
verbal dentro do contexto da terapia. A
musicoterapia pode contribuir para o aumento das
habilidades de adaptação social entre crianças com
TEA e para a qualidade das relações entre pais e
filhos.
Effects of a music Lagasse AB / J. music Os resultados deste estudo apoiam pesquisas
therapy group 2014 ther adicionais sobre o uso de intervenções em grupo
intervention on de musicoterapia para habilidades sociais em
enhancing social MEDLINE crianças com TEA. Os resultados estatísticos
skills in children demonstram apoio inicial ao uso de grupos sociais
with autism8 de musicoterapia para desenvolver atenção
conjunta.
“Bill is now singing”: Vaiouli P, Autism. O estudo permitiu uma compreensão profunda do
Joint engagement Grimmet K, papel do ambiente social no apoio às habilidades
and the emergence Ruich LJ / MEDLINE de comunicação social emergentes entre as três
of social 2015 crianças. Como todas as crianças apresentaram
communication of melhora na atenção conjunta e nas ações de
three young engajamento social, este estudo traz evidências
children with sobre o potencial da musicoterapia como uma
autismo9 intervenção promissora na promoção de
habilidades sociais de crianças pequenas com TEA.

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Age related Heaton P / J autism Os grupos de crianças, independentemente do
differences in 2016 dev. diagnóstico, mostraram maior reatividade
response to music- disord. fisiológica aos estímulos assustadores do que a
evoked emotion outras emoções. Houve uma interação significativa
among children and MEDLINE entre faixa etária e grupo diagnóstico na
adolescents with identificação de estímulos de música assustadora,
autism spectrum10 interrompidas em TEA.
Musical intervention Franzoi MAH, Texto & A intervenção musical favoreceu e orientou novas
as a nursing care Santos JLG, contexto experiências lúdicas, sensoriais, motoras, de
strategy for children Backes VMS, enferm linguagem e de interação de crianças com TEA,
with autism Ramos FRS./ sendo possível abarcar a tríade de alterações –
spectrum disorder 2016 BDENF interação, comunicação e comportamento – de
at a psychosocial forma lúdica e musical.
care center11
Analysing change in Spiro N, Philosophi Os resultados sugerem que, mesmo ao iniciar
music therapy Himberg T / cal comportamentos simples, podemos rastrear
interactions of 2016 transactio aspectos de interação e mudanças na
children with ns of the musicoterapia, que são consideradas relevantes
communication royal pelos terapeutas.
difficulties12 society b:
biological
sciences

MEDLINE
The influence of Brown LS / J. music O estudo revelou que as classificações dos
music on facial 2016 ther participantes de rostos felizes e neutros não foram
emotion recognition afetadas pelas condições da música, mais os rostos
in children with MEDLINE tristes eram percebidos como triste com música
autism spectrum triste do que com música alegre. Em ambas as
disorder and condições, as crianças neurotípicas classificou os
neurotypical rostos felizes como mais felizes e os rostos tristes
children13 como mais tristes do que os participantes com TEA.
Effects of Bieleninik Ł. JAMA. Entre as crianças com TEA, a musicoterapia
improvisational Geretsegger improvisada, em comparação com o tratamento
music therapy vs M, Mossler K, MEDLINE padrão aprimorado, não resultou em diferença
enhanced standard Assmus J, significativa na gravidade dos sintomas com base
care on symptom Thompson G, no domínio de afeto social por mais de 5 meses.
severity among Gattino G, et Esses achados não apoiam o uso de musicoterapia
children with autism al./2017 improvisada para redução de sintomas em crianças
spectrum disorder: com TEA.
the time-a
randomized clinical
trial14
Da vibração ao Souza MB, Estilos Estudos e pesquisas nessa área proporcionariam
encontro com o Silva MS, clín. modos de intervenção eficazes tendo como
outro: psicanálise, Rodrigues S, objetivo, escutar o sujeito que fala, respeitando seu
música e autismo.15 Tavares AA, LILACS modo singular e trazendo consequências positivas
Sousa K, principalmente no que se refere à linguagem e
Santos S. / interação social.
2017

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Reliability of the Gottfried T, J. music A confiabilidade da avaliação MEL para medir o uso
music in everyday Thompson G, ther da música na vida cotidiana pelos pais e filhos com
life (MEL) scale: a Elefant C, autismo foi confirmada, preenchendo uma lacuna
parent-report Gold C. / 2018 MEDLINE importante na disponibilidade de ferramentas de
assessment avaliação.
for children on the
autism spectrum16
Evaluation of a Pasiali V, J. music Os resultados indicaram que a musicoterapia tem o
music therapy social Clark C / ther potencial de ser uma intervenção efetiva para
skills development 2018 promover a competência social de crianças em
program for youth MEDLINE idade escolar com recursos limitados,
with limited particularmente nas áreas de comunicação e
resources17 comportamentos de baixo desempenho / alto
risco. As habilidades de ensino através de letras de
músicas e improvisação emergiram como
intervenções marcantes.
Long-term Thompson GA J. music As mães perceberam benefícios a longo prazo para
perspectives of / 2018 ther as relações sociais dentro da família, levando a um
family quality of life enriquecimento percebido na qualidade de vida da
following music MEDLINE criança e da família após as sessões de
therapy with young musicoterapia.
children on the
autism spectrum: a
phenomenological
study18
Fonte: elaborado pelas autoras, 2019.
músculos e se mover com agilidade. O
DISCUSSÃO
ritmo desempenha um papel importante
A musicoterapia é citada na na formação e equilíbrio do sistema
literatura como uma opção terapêutica nervoso. Isso ocorre porque todas as
para o tratamento para autistas. Diversas expressões musicais ativas agem sobre
pesquisas vêm evidenciado sua eficácia, os pensamentos, que promovem
tanto para aquelas com desenvolvimento benéficos para a liberação emocional,
típico como para as com resposta motora e alívio da tensão.12
desenvolvimento atípico. Um dos
Ademais, a musicoterapia tem um
estudos selecionado para esta revisão,
efeito positivo na interação social de
investigou o impacto da musicoterapia
crianças com TEA, havendo um
em crianças com transtornos do espectro
envolvimento melhor dessas crianças
do autismo e identificou que elas
com suas famílias, interação no âmbito
apresentavam um notável interesse
escolar, onde a intervenção favorece e
musical, o que torna a música uma
orienta novas experiências sensoriais,
oportunidade única para o mundo do
motoras, de linguagem e de interações,
autismo.10
sendo possível abarcar a tríade de
As atividades musicais oferecem alterações – interação, comunicação e
inúmeras oportunidades para as crianças comportamento de forma lúdica e
melhorarem suas habilidades motoras, musical, melhorando sua cognição, e
além de aprender a controlar os diminuindo isolamento social.8-9,11,16

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Por isso, a música e os Estudo realizado, aplicou uma
instrumentos têm o poder de influenciar escala de confiabilidade da avaliação
através de sua vibração e envolvimento, Music in Everyday Life (MEL), que é uma
atividades como cantar com ferramenta para medir a frequência e a
acompanhamento de gestos, dançar, qualidade de tomada de músicas
bater palmas, pés, são experiências compartilhadas na vida cotidiana, de pais
valorizadas para a criança, pois estas, com filhos autistas, no qual foi
possibilitam o desenvolvimento rítmico, confirmado o preenchimento de uma
além destas vantagens, vão favorecer lacuna importante na disponibilidade de
também o processo de aquisição da ferramentas de avaliação.16
leitura e da escrita.15 A avaliação MEL foca na
Considerando essa perspectiva, um experiência mútua de música partilhada
estudo realizado no Brasil descreve a entre pais e filhos, enfatizando a
experiência do uso da música como necessidade de musicoterapeutas para
terapêutica no cuidado às crianças que haja uma atenção maior para as
autistas no CAPSi de forma positiva, pois famílias, onde irá gerar confiança e
contribuiu para melhorar a comunicação conforto nessas famílias, para que dessa
verbal e não verbal, rompendo com os forma façam a utilização da música em
padrões de isolamento e diminuindo os casa (no ambiente doméstico) sem que
comportamentos estereotipados além de haja a presença do musicoterapeuta, no
estimular a autoexpressão.11 qual haverá um envolvimento, interação
maior e melhora na relação pais e filho
O CAPSi é um serviço diário para
autista.16
crianças e adolescentes que sofrem de
sofrimento psíquico grave e não É relevante destacar a correlação
conseguem manter ou estabelecer positiva encontrada entre as crianças que
vínculos sociais, neste caso, o enfermeiro recebem as sessões de musicoterapia em
deve ter capacidade de intervenção grupo. Isto tem um aspecto positivo, pois
musical e garantir um cuidado lúdico e as contribui no processo de integração e
seguro.11 É fundamental que o comunicação9. Ademais, a música pode
profissional de enfermagem se capacite diminuir a tensão e a ansiedade
por meio da busca por conhecimentos provocadas por episódios estressantes.
sobre aspectos musicais, como timbre, Esse conjunto de benefícios faz com que
altura tonal, intensidade, métrica, e as crianças sejam mais alegres e felizes,
outras técnicas, e sobretudo sobre as tornando assim seu estado emocional
especificidades da criança a ser melhor.13
atendida.15 Novas formas de cuidado foram
É notório nos resultados dos estudo adicionadas aos métodos de tratamento
que a qualidade de vida das crianças com comprovados para melhorar os meios de
autismo é muito afetada, dificultando o estimular as habilidades das crianças
desempenho de atividades comuns que afetadas por TEA e reduzir seus
outras crianças da mesma idade sintomas. A musicoterapia parece ser
realizam. uma possível e ascendente forma

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terapêutica no tratamento dessa domínio de afeto social por mais de 5
patologia, sendo capaz de auxiliar nas meses.14
terapias que podem contribuir na Assim, esses achados não apoiam o
promoção de saúde desse público.18 uso de musicoterapia improvisada para
Estudos evidenciam que as áreas do redução de sintomas em crianças com
processamento da linguagem em TEA, porém não podem ser
pacientes autistas têm ativação reduzida. generalizados, sugerindo a realização de
Apesar disso, as habilidades musicais são novos estudos em outros países com
geralmente conservadas.7,11,17 Autores diferentes abordagens e metodologias.
destacam que as regiões cerebrais
associadas à linguagem e à música se CONCLUSÃO
sobrepõem, o que apoia a possibilidade No presente estudo foram
de reabilitação desta por meio da música, analisados doze artigos que enfatizam o
ocasionando uma melhora na conduta uso da musicoterapia como ferramenta
social e comunicativa pela ampliação da de tratamento no TEA, tendo em vista
atenção compartilhada.15 que onze estudos descrevem que esse
As atividades musicais envolvem tratamento age positivamente
imitação e sincronização, resultando na principalmente nas áreas da
ativação da área que contém neurônios- socialização-interação, comunicação,
espelho, possibilitando o psicomotricidade e linguagem. A
desenvolvimento da cognição social, melhora nas habilidades de
atividades tipicamente problemáticas comunicabilidade musical repercute em
para pessoas com autismo.17 efeitos positivos sobre a socialização das
crianças, fundamentalmente na área da
Em síntese, a musicoterapia comunicação.
estimula os pacientes autistas por meio
de atividades motivacionais prazerosas, Durante o tratamento a criança
atrai a atenção e a atenção dos pacientes interage com sua família, colegas,
e promove a realização dos objetivos de cuidadores e terapeutas, melhorando seu
tratamento estabelecidos.17 humor, atenção e envolvimento. A
criança torna-se menos dependente de
Entretanto, apesar de onze artigos seus cuidadores, há melhora quanto ao
desta revisão apresentarem a isolamento social; a mãe aprende a lidar
importância da musicoterapia no melhor com seu filho com TEA, gerando
tratamento com crianças autistas, os uma maior confiabilidade na relação
autores produziram um estudo clínico entre as partes.
randomizado, realizado em 9 países, com
crianças de 4 a 7 anos diagnosticadas Embora ainda seja um campo
com TEA, no período de novembro 2011 relativamente novo, a pesquisa nessa
a novembro de 2016. Entre as crianças área representa foco de interesse dos
com TEA, a musicoterapia, em pesquisadores de diferentes formações.
comparação com o tratamento padrão, Nesse cenário, o profissional em
não resultou em diferença significativa enfermagem assim como toda equipe
na gravidade dos sintomas com base no multiprofissional devem explorar

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diversos métodos terapêuticos no 3 Nascimento YCML, Castro CSC, Lima
desempenho de sua atividade JLR, Albuquerque MCS, Bezerra DG.
profissional, com finalidade de promover Autistic spectrum disorder: early
uma assistência mais humanizada além detection by family health strategy
de melhorar a relação entre equipe- nurses. Rev. baiana enferm. [Internet].
paciente. 2018[cited 2019 June 09];32:e25425.
Available from:
As limitações deste estudo são
http://dx.doi.org/10.18471/rbe.v32.25
decorrentes da escolha de duas bases de
425
dados e das palavras-chave. A escolha da
base de dados e das palavras-chave 4 Aguiar RP, Pereira FS, Bauman CD.
podem ter camuflado estudos com a Importância da prática de atividade física
mesma temática e não indexados na para as pessoas com autismo. J. Health
mesma base. Assim, sugere-se que sejam Biol. Sci. (Online). [Internet].
desenvolvidos mais estudos ampliando 2017[acesso 2019 jun 09];5(2):178-83.
os critérios da amostra e pesquisas de Disponível em:
caráter longitudinal no cenário http://dx.doi.org/10.12662/2317-
brasileiro. Deste modo, será ampliado a 3076jhbs.v5i2.1147.p178-183.2017
visão da musicoterapia no tratamento
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2 Organização Pan-Americana de Saúde
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Recebido em: 09/12/2019


Aceito em: 09/03/2021
Publicado em: 01/04/2021

J. nurs. health. 2021;11(1):e2111117779 13

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