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PERSONAGENS
Jean Val Jean
Monsenhor Benvindo
Laffite
Javert
Oficial 1
Oficial 2
Gouche
Sra Foucault
Fantini
Catharine
Madre
Cosette menina
Cosette moça
Sr. Ternadier
Sra. Ternadier
Marius
Alan
Antoine
Edmund
Sra. Toussaint
Homens e mulheres do povo
ABERTURA
JAVERT- O pão lhe daria uma pena muito mais suave. As tentativas de fuga
aumentaram sua sentença. Agora, fora daqui, 24601.
NARRADOR- “Os Miseráveis”, Ato Um. Onde Jean Val Jean vende e salva
sua alma.
LAFFITE- Infelizmente, não sou eu quem manda aqui dentro... Aqui, eu sou
um humilde sacristão e a minha função é deixar tudo em ordem antes da
chegada de Monsenhor Benvindo. Portanto, por favor, o senhor precisa sair
da escada!
JEAN- E pra onde eu devo ir, infeliz? Já bati na porta de todas as estalagens
da cidade e ninguém quer me receber.
LAFFITE- Então, peça autorização para Ele. Eu preciso fechar essa porta!
LAFFITE- Um condenado!
JEAN- Peço perdão pelo meu destempero, mas isso é resultado do desprezo
e humilhação...
LAFFITE- Mas, Monsenhor Benvindo. Ele tem uma carta. Seria bom que o
senhor lesse a carta...
MONSENHOR- Nada do que a carta disser será mais forte do que a verdade
que enxergo nos olhos desse homem. Entre, meu filho. Você será meu
hóspede nessa noite.
MONSENHOR- Então, por que o recomendou a Jean Val Jean? Agora, pare
de falar e coloque mais um prato na nossa mesa e tire os talheres de prata
do armário. Um hóspede merece ser tratado com toda a cortesia.
LAFFITE- Talheres de prata... E eu, que todo dia como com colher de
pau...
MONSENHOR- Os homens podem ser injustos. Mas Deus, não. Por favor...
LAFFITE- Eu sabia! Eu sabia! Meu faro não me engana, eu tenho tino pra
essas coisas!
LAFFITE- Como aonde eu vou? Eu vou até a polícia! Ele é um condenado, ele
é fichado! A policia deve saber onde é o esconderijo! Quanto mais cedo ele
for preso, maiores as nossas chances de recuperar o que é nosso!
MONSENHOR- A prataria é nossa, não resta dúvida. Mas se você pensar como
um homem de Deus, qual a serventia de um conjunto de talheres de prata
para uma igreja?
MONSENHOR- Aquilo que veio até nós como doação deve ser doado como
agradecimento. Laffite. O melhor é que aquela prataria fique com os
pobres. E aquele homem era pobre. Esqueça a prataria e venha rezar...
Laffite vai abrir a porta. Javert e três guardas conduzem Jean Val
Jean.
JAVERT- Muito bem. Isso é tudo o que eu precisava ouvir. Aqui está sua
prataria. Esse homem será conduzido à cadeia, de onde nunca deveria ter
saído.
MONSENHOR- Jean Val Jean se sentiu humilhado por ter aceito um presente
da igreja. Mas, nosso acordo é que ele irá retribuir essa oferta em forma de
caridade...
JEAN- Eu peço seu perdão, mesmo sabendo que não sou merecedor de sua
piedade.
ATO 2- FANTINE
JAVERT- Não seja modesto, meu caro Gouche... Sua “humilde tecelagem”
é a tecelagem mais próspera da cidade.
GOUCHE- Seria uma honra que o Senhor Madaleine certamente teria a maior
das felicidades em compartilhar com o senhor, se ele não estivesse
absolutamente ocupado nessa manhã...
JAVERT- Ocupado?
JAVERT- Chame seu patrão aqui, pois mal posso esperar para conhecê-lo!
SRA FOUCAULT- ...Isso você vai ter que explicar pro senhor Madaleine,
menina!
SRA FOUCAULT - Eu descobri uma coisa tão grave quanto isso. Essa moça é é
mãe solteira! Por que você não me disse nada?
SRA FOUCAULT - Obviamente não! Mas agora quem decidirá o seu destino é
o Senhor Madaleine!
JAVERT- Tenho certeza que o Senhor Madaleine, sendo o homem justo que
é, vai optar pela sua demissão...
FANTINE- Não!!!
SRA FOUCAULT - Essa mulher não tem credibilidade moral para continuar
integrando nosso corpo de funcionários!
JEAN- Resolva como quiser, Sra Foucault. Eu não tenho tempo para me
envolver com as mesquinharias da minha equipe de funcionários. Essa é a
sua função. A todos, com licença.
Jean sai.
SRA. TERNADIER- Olha lá! Deve ser a Fantine! Demorou de novo! Sabe-se lá
o que ela anda fazendo, hein?!
SR. TERNADIER- Se ela não botar o dinheiro nessa maõzinha, essa mãozinha
senta a mão na cara dela!
SR. TERNADIER- E Deus mandou dizer que o dinheiro desse mês tá atrasado.
SRA. TERNADIER- Viu? Ela trouxe o pagamento! E você insinuando que ela
não ia pagar... Isso aí espera o pior de todo mundo! Já eu, espero o sempre
o melhor. Um equilibra o outro, porque eu entro com a crença e ele com a
dúvida! Aí, o casamento funciona. Vai buscar a menina, seu inútil!
SRA. TERNADIER (pegando o dinheiro.)- E vai faltar, hein? Mês que vem
seria bom providenciar um pouco a mais.
FANTINE- Não sei como fazer isso. Acabei de ser demitida do meu emprego.
SRA. TERNADIER- Nesse caso, é melhor levar a menina com você. Porque,
apesar de todo o amor que eu tenho por Cosette, eu não posso me arriscar
a cuidar de uma criança sem os recursos necessários pra isso. Seria uma
irresponsabilidade da minha parte, a senhora entende...
FANTINE- Não! Por favor! Eu imploro à sua boa vontade. Cuide da minha
filha que eu vou dar um jeito de arranjar o dinheiro.
SRA. TERNADIER- Por favor, hein, minha filha? Eu confio em você, você
confia em mim. É assim que se constrói uma relação de confiança!
SR. TERNADIER- Olha a menina aqui! Ela tá suja porque não gosta de tomar
banho!
FANTINE- Cosette, minha filha. Por que você não tomou banho?
SR. TERNADIER- “A agua tava fria, a comida tava ruim, a cama tava dura”.
A menina reclama o dia inteiro.
SRA. TERNADIER- Quando voltar, traga um casaco pra ela... A janela tá sem
trava e o vento entra encanado. Pedi pra isso aí consertar, mas quem disse
que ele consegue?
CATHARINE- Significa que eu cansei de ser passada pra trás por tipos como
você, Fantine. Aqui estão suas roupas e agora, fora daqui...
FANTINE- Eu tinha que ter sido avisada com alguma antecedência, Sra.
Catharine!
CATHARINE- Concordo. Mas o moço pagou adiantado e um pagamento
adiantado adianta certas burocracias.
CATHARINE (ofendida.)- Era só o que faltava! Você não paga o meu aluguel
e ainda me acusa de ladra? Fora daqui, menina!
JAVERT- Claro que vou! A senhora está presa por incitação à desordem
publica!
FANTINE-Canalha!
FANTINE- Não!
JAVERT- Ah, Sr. Madaleine... Muito bom dia... Estou aqui justamente
resolvendo um caso típico de desordem causada pelo abuso da bebida.
CATHARINE- Ela não me pagou o aluguel e agora quer invadir minha casa!
JAVERT- Eu sei! Por isso estamos prendendo essa mulher. Passar bem,
Senhor Prefeito!
JEAN- Creio que a sua ofensa pode ser interpretada como insubordinação,
Inspetor Javert. Como chefe de policia, o senhor está submetido às ordens
do prefeito, ou eu me engano?
JEAN- Não parece. Porque num caso simples como esse, o senhor estava a
ponto de cometer uma injustiça.
JEAN- Uma autoridade que promove uma injustiça é uma autoridade sem
moral, Inspetor!
Luzes se apagam.
JAVERT- Olhe pra cima, seu idiota! Se puxarmos essa coluna, a igreja toda
vai desabar!
OFICIAL-Sim, senhor...
.
LAFFITE- Por favor... Não desistam de mim...
LAFFITE- Então me acolhe em teus braços, meu Santo Agostinho, meu São
Francisco, meu São Genaro, minha Santa Amélia...
JAVERT- Não podemos mexer nessas estruturas, Senhor Madaleine! Isso tudo
pode desabar e eu não vou permitir que a segurança de muitos seja posta
em risco para que apenas uma pessoa seja salva.
JEAN- O senhor tem razão, Inspetor. Mande seus homens evacuarem esse
lugar.
TODOS-Oh!
OFICIAL-Isso é impossível!
JAVERT- A não ser que esse homem possua uma força descomunal! E em
toda minha vida eu conheci somente um homem assim. Um prisioneiro...
Chamado Jean Val Jean!
TODOS- Oh!
Luzes se apagam.
MADRE- Muito fraca, Sr. Madaleine. A febre não cedeu e nos seus delírios
ela chama pela filha Cosette.
JEAN- Fantine...
JEAN- Fantine. Sou eu. Madaleine. Por favor, não fale nada. Eu estou aqui
porque eu vou te ajudar. Eu não sabia que você era a minha funcionaria
nem que a sua demissão havia sido motivada por algo tão torpe. O que eu
quero lhe dizer é que a partir de agora, eu me comprometo a lhe dar toda a
ajuda e assistência.
FANTINE- Cosette...
JEAN- Sim, sua filha. Vamos buscá-la. Onde ela está?
FANTINE- Com os Ternadiers... Eles dizem que faltam casacos, que faltam
remédios. Eu preciso ir até lá encontrar a minha filha!
JEAN- Eu vou trazê-la até você. Eu vou cuidar da sua filha até que você se
reestabeleça, Fantine. Eu prometo...
A Madre se aproxima.
JEAN- Estou disposto a lhe dar essa confissão, Inspetor, mas antes preciso
resgatar uma menina. Se o senhor puder esperar até amanhã...
JAVERT- Pra quem esperou nove anos, um dia a mais não faria diferença.
Mas eu, por princípios, não negocio com criminosos. Sua única opção é me
acompanhar de boa vontade e imediatamente, Jean Val Jean.
JAVERT- Creio que posso falar o mesmo de você. Levem esse homem.
JAVERT- É rápido.
FANTINE- Cosette!
FANTINE- Cosette!!!
CENA 8- Cadeia
LAFFITE- Sou eu! Laffite! O sacristão que o senhor retirou dos escombros!
JEAN- Mas como você conseguiu entrar? Isso aqui é uma prisão de segurança
máxima!
LAFFITE- Existem guardas nessa cadeia que são muito gratos pela maneira
digna como o senhor tratou a corporação nesse período em que foi prefeito.
Além disso, um dos policiais encarregado da sentinela teve seu filho salvo
de uma doença mortal por conta dos investimentos que o senhor fez no
hospital da cidade... Enfim, portões e cadeados se abriram para a minha
entrada e continuarão abertos para que o senhor saia daqui imediatamente.
LAFFITE- Nem precisa. Minha dívida é eterna e eu prometo ser seu fiel
servidor até o dia da minha morte, se o senhor assim o permitir! Agora,
vamos! Saindo daqui procuraremos abrigo no mosteiro de Frei Lourenço,
onde o senhor conseguirá o exilio seguro para os próximos anos de sua vida.
LAFFITE- Então, vamos nos apressar! Meu acordo com os guardas é que
eles nos darão duas horas de vantagem antes que soem os alarmes pela sua
fuga.
SR. TERNADIER- Ele apareceu aqui ontem de noite! Disse que era um
viajante! Que precisava de uma criada!
SRA. TERNADIER- O senhor fala como se ela fosse uma filha nossa! Não era!
Nós só tomávamos conta!
SRA. TERNADIER- Nunca! Eu imaginava que ela tivesse sido presa, que ela
tivesse ido embora! A Fantine nunca mais apareceu e a menina ficava aqui,
só dando despesa e desgosto pra mim e pro meu marido!
JAVERT- Seu marido disse que ela trabalhava aqui como sua criada!
SRA. TERNADIER- Trabalhar é uma palavra dura... Ela ajudava. Quem não
tem que ajudar uma casa quando se mora nesse nível de miséria?
SRA. TERNADIER- E cuidamos! Como se fosse filha nossa! Deus sabe o amor
que sempre tivemos por Cosette!
JAVERT- O amor era tão grande que vocês a venderam pro primeiro
desconhecido que bateu na sua porta!
SR. TERNADIER- Vendemos mesmo! Mas nós somos inocentes! Vamos fazer o
que? Nós precisamos comer!
JAVERT- Chega.
JAVERT- Chega.
JAVERT- É uma pena. Porque sem o dinheiro, eu posso deduzir que vocês
são cumplices de Jean Val Jean e que entregaram de bom grado a menina
para que ele fugisse da lei o mais rápido possível.
JAVERT- E se deem por satisfeitos por não serem presos. Vocês exploraram
uma criança e a venderam como se ela fosse uma mercadoria. Dupla
contravenção, uma pra cada um. Ele disse pra onde estava indo?
SR. TERNADIER- Isso não é justo... Nós somos as vítimas dessa história... Nós
fomos passados pra trás! Primeiro pela mãe, depois pelo viajante, agora
pela polícia! (virando-se para a esposa.) Você acredita nisso, mulher?
SRA. TERNADIER- Você cala a boca!
NARRADOR- Paris. Dez anos depois. Onde encontraremos Jean Val Jean,
morando com Cosette, sua filha adotiva, agora uma mulher; e onde
conheceremos Marius, um revolucionário republicano adepto da luta contra
a monarquia opressora.
HOMEM POBRE- É aquele homem bondoso que tem nos alimentado todos os
dias nesse horário!
JEAN- Lemert...
MARIUS- O que o rei realmente quer é acabar com os pobres desse país!
Porque ser pobre nesse país é o verdadeiro crime pra esses bandidos que
usurparam o poder através de um golpe! O rei se vendeu aos interesses dos
mais ricos e nos traiu!
TODOS- Nos traiu!
LAFITTE- Senhor Lamert, devo pedir para que o cocheiro prepare os cavalos
para amanhã de manhã?
JEAN- Sim, Laffite! Cosette sabe que amanhã levantamos cedo para nosso
passeio pelos Jardins de Luxemburgo.
Laffite sai.
COSETTE- Pai...
JEAN- Você é jovem ainda, Cosette. Não sabe que o mundo é um lugar
terrível, portanto agradeça aos céus por ter um pai que pode e quer
protegê-la.
JEAN- Isso é uma coisa que cabe a mim decidir, Cosette. Amanhã sairemos
juntos, como sempre fazemos aos domingos.
COSETTE- Eu não quero mais andar por aí agarrada em seu casaco como se
tivesse dez anos de idade!
JEAN- Nesse caso, eu lhe dou outra opção: você pode ficar trancafiada em
casa e perder esse belo passeio que eu pretendo lhe oferecer. A decisão é
sua. Boa noite.
COSETTE- É assim o amor, Sra. Toussaint? Olhamos a pessoa uma única vez
e descobrimos que queremos passar o resto da sua vida ao seu lado?
TOUSSAINT- Não diga bobagens , menina. Seu pai lhe dá tudo o que você
pede. Você tem comida, você tem livros, você tem conforto, você tem o
amor de seu pai, você tem a mim...
COSETTE- Só não tenho liberdade, Sra. Toussaint. Como é possível ser feliz
sem isso?
ALAN- O que você tem de tão importante a tratar com uma criança em meio
aos preparativos para uma batalha?
EDMUND- Aposto nossa vitória que aquela moça que você viu na praça está
por trás disso!
ANTOINE- O nome dela é Cosette. Ela é filha daquele homem rico que faz
doação de sopa para os pobres.
Alan entra.
ALAIN- Mas...
Mas Marius já saiu.
MARIUS- Por favor, não se assuste. Você me conhece! Nós trocamos olhares
hoje na praça.
MARIUS- Porque te observo há semanas quando você passeia com seu pai
que nunca lhe deixa sozinha e descobri muitas coisas sobre você que
deixaram fascinado.
COSETTE- Eu não sei o que dizer. Eu nem mesmo sei seu nome...
MARIUS- Sua vida é a coisa mais valiosa do mundo porque desde que te vi,
sua vida justifica a minha, Cosette...
COSETTE- Não suba. Se meu pai te pega aqui, acho que te mata.
JAVERT- Por isso que nos infiltraremos no movimento antes que a revolução
tenha inicio. Você conseguiu novas informações sobre o líder, o tal de
Marius?
JAVERT- E qual é?
LAFFITE- Mas qual é a adolescente que aceita uma proibição como essa nos
dias de hoje?
COSETTE- O senhor não pode me proibir de sair! Eu não sou uma prisioneira!
JEAN- É aquele rapaz com você trocou olhares na praça, não é? É aquele
rapaz que anda te perseguindo, aquele rapaz que é obcecado por você!
Aquele revolucionário!
JEAN- Você não vai ficar com ninguém ! Nós estamos indo embora dessa
cidade! (num berro.) Sra. Toussaint! Sra. Toussaint!
JEAN- Mas eu estou! A condenada aqui não é você! Sou eu! Sou eu!
JEAN- Não. Sou eu que peço seu perdão... Para preservar minha liberdade
eu retirei a sua e isso não é justo, Cosette.
LAFFITE- Meu senhor! O Inspetor Javert está lá fora. Rápido! Vamos fugir
pelos fundos da casa!
JAVERT- Desculpe-me a invasão, mas a porta estava aberta, Jean Val Jean.
Na condição de condenado foragido há quase dez anos, o senhor está preso.
JAVERT- Seu pai é um foragido, menina. E você está apaixonada por outro
criminoso. Em breve, colocaremos a mão nele também. Então, você poderá
visitar pai e namorado num único dia. Prendam esse homem.
COSETTE- Não!
JEAN- Cosette!
LAFFITE- Pelo amor de Deus!
MARIUS- Marius! Estava com Cosette e vi quando o senhor invadiu essa casa!
MARIUS- Quem está em uma situação grave aqui dentro é o senhor, Inspetor
Javert. Somos três homens armados e não temos nada a perder.
OFICIAL 1- Eu me entrego.
OFICIAL 2- Eu também.
JAVERT- Covardes.
JEAN- Creio que agora o senhor será julgado por outros tribunais, Inspetor.
CENA 8- ESCONDERIJO
MARIUS- Ótimo! Mate esse canalha, Jean Val Jean! Mas mate lá fora, pra
que seu sangue não emporcalhe nossa casa!
CENA 9- BECO
JEAN- Vire-se.
JAVERT- Uma facada pelas costas. Não quer olhar nos meu olhos enquanto a
vida me abandona por sua causa, covarde!
JAVERT- Não pense que deixarei de persegui-lo por te dever esse favor,
Jean Val Jean.
JEAN- Vá embora!
Sons de tiros e correria. Javert sai por um lado, Jean pelo outro.
Tiros no escuro.
JEAN- Antes, me ajude a escapar! Vamos fugir pelos esgotos até o Rio Sena!
Ajude-me a carregá-lo! Rápido!
COSETTE- Marius!
JEAN- Eu salvei você, Cosette. Sei que você não conseguiria suportar a dor
da ausência de Marius.
JEAN- A minha fuga será o seu inferno. Eles irão interrogá-la, eles podem
querer torturá-la. Eles não tem nenhum limite e nenhum escrúpulo.
JEAN- É tarde. Além disso, Marius não aguentaria uma fuga como essa.
COSETTE- Não...
Jean tira do bolso um colar.
JEAN- (estendendo um colar.) Isso aqui pertenceu à sua mãe. Ele era
uma boa mulher e se eu tivesse olhos para seu sofrimento, eu poderia tê-la
salvo. Mas eu fui egoísta com ela e fui egoísta com você também, Cosette...
Mas agora creio que minha dívida está paga. Cuide de Marius e tenha uma
boa vida. Eu tenho que ir. Prometa que será feliz...
JEAN- Eu cometi um crime. Roubei algo muito mais valioso do que aquele
pão. Eu roubei sua felicidade, Cosette... E não me importo em pagar.
Minha prisão é sua liberdade. Fique com Marius. Ele é a sua vida agora.
JAVERT- Estive a serviço da lei durante toda a minha carreira e agora, devo
a minha vida a um malfeitor. Eu tenho horror de pensar em retribuir esse
favor, mas não posso esquecer que você me poupou da morte. Vivo,
portanto um dilema nesse momento, Jean Val Jean. Prender você será uma
ingratidão. Deixá-lo livre será uma traição diante do meu dever como
policial. Eu sempre fui inflexível no cumprimento do meu dever e nunca,
nunca infringi uma única lei. Mas você foi bom e generoso. Por que? Por que
você fez isso se você me odeia?
JAVERT- Não sente nada? E o medo? Por acaso não sente medo de voltar
para a cadeia? (Num grito.) Responda! Você quer voltar para a prisão?
COSETTE- Meu pai é o homem mais corajoso que conheci e não merece a
sorte que o destino lhe reservou. Por isso, eu e Marius decidimos: vamos até
a cadeia resgatá-lo!
MARIUS- Cosette tem razão! Jean Val Jean é um herói para o nosso
movimento e a nossa organização não descansará enquanto não o trouxer de
volta às nossas trincheiras!
MARIUS- Em breve, iremos! O desejo por libertar Jean Val Jean irá reerguer
nosso movimento!
Jean entra.
JEAN- Pois então, o Movimento que arrume nova missão, já que estou livre!
COSETTE- Pai!
LAFFITE- Esse final não está no livro. Criamos outro, porque gostamos de
finais felizes. Quem não gosta? Estava nas mãos desse grupo de alunos
escolher o melhor fim possível. Escolhemos esse. Quanto à vocês, publico
distinto, distinta plateia, eu desejo profundamente: façam a mesma coisa.
FIM
Leonardo Cortez
São Paulo, 18 de fevereiro de 2018