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OS MISERÁVEIS

Adaptação de Leonardo Cortez da obra de Victor Hugo, para o


Oitavo Ano da Escola Waldorf São Paulo
Direção: Glaucia Libertini

PERSONAGENS
Jean Val Jean
Monsenhor Benvindo
Laffite
Javert
Oficial 1
Oficial 2
Gouche
Sra Foucault
Fantini
Catharine
Madre
Cosette menina
Cosette moça
Sr. Ternadier
Sra. Ternadier
Marius
Alan
Antoine
Edmund
Sra. Toussaint
Homens e mulheres do povo

ABERTURA

Música de abertura “Olhe para baixo”. Jean é chamado por Javert.

JAVERT- Prisioneiro 24601!

JEAN- O que quer de mim?

JAVERT- Comunicar sua libertação. Esse é seu novo documento de


identidade. Uma carta que comunica ao mundo sua condição como um
perigoso ex-presidiário.
JEAN- Foram dezenove anos de cadeia por um pão roubado.

JAVERT- O pão lhe daria uma pena muito mais suave. As tentativas de fuga
aumentaram sua sentença. Agora, fora daqui, 24601.

JEAN- Meu nome é Jean Val Jean.

Javert e Jean se olham. Música segue.

ATO 1- JEAN VAL JEAN .

CENA 1- Escadaria de uma Igreja

NARRADOR- “Os Miseráveis”, Ato Um. Onde Jean Val Jean vende e salva
sua alma.

Jean dorme na porta de uma igreja. Laffite aparece.

LAFITTE- Ei! O senhor não pode dormir aqui!

JEAN- Me deixe em paz.

LAFFITE- Isso aqui é uma igreja.

JEAN- Me pareceu o único lugar onde eu poderia ter acolhida.

LAFFITE- Infelizmente, não sou eu quem manda aqui dentro... Aqui, eu sou
um humilde sacristão e a minha função é deixar tudo em ordem antes da
chegada de Monsenhor Benvindo. Portanto, por favor, o senhor precisa sair
da escada!

JEAN- E pra onde eu devo ir, infeliz? Já bati na porta de todas as estalagens
da cidade e ninguém quer me receber.

LAFFITE- O senhor deveria procurar o albergue destinado aos mendigos que


funciona na...

JEAN- Eu não sou um mendigo! Eu tenho dinheiro!

LAFFITE- Se o senhor tem dinheiro, porque nenhuma estalagem quer


recebê-lo?

JEAN (estendendo o papel.)- Porque meu novo documento de liberdade é


a minha sentença de condenação...

LAFFITE- O senhor é um ex-presidiário?

JEAN- Eu sou um homem livre!

LAFFITE- Por favor, saia da escada da minha igreja.

JEAN- Essa igreja não é sua! Essa igreja é de Deus.

LAFFITE- Então, peça autorização para Ele. Eu preciso fechar essa porta!

JEAN- Eu vou congelar aqui fora!

LAFFITE- Procure o albergue!

JEAN- Eu vou entrar agora!

LAFFITE- Eu vou chamar a polícia!

JEAN- Então, eu te mato!

LAFFITE- Meu Santo Ambrósio, valei-me!

Chega Monsenhor Benvindo.

MONSENHOR- O que está acontecendo aqui?

LAFFITE- Monsenhor, o senhor chegou mais cedo.

MONSENHOR- Quem é esse homem?

JEAN- Meu nome é Jean val Jean.

LAFFITE- Um condenado!

JEAN- Um homem livre.

LAFFITE- Ele disse que me matava!

JEAN- Peço perdão pelo meu destempero, mas isso é resultado do desprezo
e humilhação...

MONSENHOR- Está perdoado! O Laffite irrita qualquer um. Entre. O senhor é


meu convidado...

LAFFITE- Mas, Monsenhor Benvindo. Ele tem uma carta. Seria bom que o
senhor lesse a carta...

MONSENHOR- Nada do que a carta disser será mais forte do que a verdade
que enxergo nos olhos desse homem. Entre, meu filho. Você será meu
hóspede nessa noite.

LAFFITE- Mas, aonde ele vai dormir?

MONSENHOR- No seu quarto, Laffite...

LAFFITE- E eu vou pra onde, senhor?

MONSENHOR- Talvez para o albergue dos mendigos.

LAFFITE- Mas lá é um lugar horrível.

MONSENHOR- Então, por que o recomendou a Jean Val Jean? Agora, pare
de falar e coloque mais um prato na nossa mesa e tire os talheres de prata
do armário. Um hóspede merece ser tratado com toda a cortesia.

LAFFITE- Talheres de prata... E eu, que todo dia como com colher de
pau...

Laffite entra, contrariado.

JEAN- A carta diz que eu sou um condenado.

MONSENHOR- Pois eu vejo somente um homem.

JEAN- O senhor não precisa me colocar pra dentro. Basta que me dê um


pedaço de pão e me deixe dormir nessas escadas.

MONSENHOR- E por que eu faria isso com um irmão?

JEAN- Porque eu posso ter matado alguém.

MONSENHOR- Então, eu também posso te matar...

JEAN- Isso é impossível, olhando para o senhor.

MONSENHOR- Eu digo a mesma coisa, olhando pra você.


JEAN- Eu não matei ninguém. Eu fui condenado por roubar um pão. Passei
dezenove anos na cadeia e agora, ao invés de uma identidade, eu tenho
esse passaporte amarelo. Isso significa que nunca mais ninguém vai me dar
trabalho algum. Dezenove anos na cadeia e agora que me devolveram a
liberdade, eu descubri que começou minha verdadeira punição.

MONSENHOR- Os homens podem ser injustos. Mas Deus, não. Por favor...

Monsenhor Benvindo estende os braços em direção à porta e os


dois entram na Igreja.

CENA 2- Interior da Igreja

Música e transição de luz. Na calada da noite, Jean entra em cena


com um saco na mão e foge pelo outro lado. Luzes se acendem.
Laffite entra correndo, desesperado.

LAFFITE- Eu sabia! Eu sabia! Meu faro não me engana, eu tenho tino pra
essas coisas!

MONSENHOR (entrando.)- O que aconteceu, Laffite?

LAFFITE- A prataria sumiu! Aquele homem roubou tudo e fugiu no meio da


noite! Eu falei que não se pode confiar nesse tipo de gente, Monsenhor
Benvindo!

MONSENHOR- Aonde você vai, Laffite?

LAFFITE- Como aonde eu vou? Eu vou até a polícia! Ele é um condenado, ele
é fichado! A policia deve saber onde é o esconderijo! Quanto mais cedo ele
for preso, maiores as nossas chances de recuperar o que é nosso!

MONSENHOR- A prataria é nossa, não resta dúvida. Mas se você pensar como
um homem de Deus, qual a serventia de um conjunto de talheres de prata
para uma igreja?

LAFFITE- Usamos os talheres para comer.

MONSENHOR- Podemos comer com talheres de pau.

LAFFITE- A prataria foi uma doação.

MONSENHOR- Aquilo que veio até nós como doação deve ser doado como
agradecimento. Laffite. O melhor é que aquela prataria fique com os
pobres. E aquele homem era pobre. Esqueça a prataria e venha rezar...

Nesse momento, batem na porta.

LAFFITE- Minha Santa Teresinha! Quem será a essa hora?

Laffite vai abrir a porta. Javert e três guardas conduzem Jean Val
Jean.

JAVERT- Monsenhor Benvindo. Prendemos esse homem no meio da


madrugada e encontramos com ele esses talheres de prata que acreditamos
que tenham sido roubados da sua casa. O senhor reconhece o suspeito?

LAFFITE- Mas é claro que sim! Graças a Deus que o encontraram!

JAVERT- Muito bem. Isso é tudo o que eu precisava ouvir. Aqui está sua
prataria. Esse homem será conduzido à cadeia, de onde nunca deveria ter
saído.

MONSENHOR- Meu querido sacristão está coberto de razão quando agradece


a Deus por vocês terem encontrado esse homem. Afinal, Jean Val Jean se
esqueceu de levar os castiçais de prata que faziam parte desse conjunto
que eu dei de presente a ele.

LAFFITE- Como é que é?

MONSENHOR- Laffite, vá pegar os castiçais imediatamente!

LAFFITE- Mas, Monsenhor Benvindo...

MONSENHOR- Não discuta, Laffite...

JAVERT- O senhor obviamente está subestimando a minha inteligência,


Monsenhor Benvindo.

MONSENHOR- E por que eu faria uma coisa dessas, Inspetor Javert?

JAVERT- Para acobertar o crime desse miserável!

MONSENHOR- E qual o interesse eu teria em acobertar um crime do qual eu


sou a vítima? Se eu digo que dei a prataria de presente a esse homem é
porque é verdade. Ou o senhor acredita que eu, homem de Deus, seria
capaz de contar mentiras às autoridades policiais?
JAVERT- A troco do quê o senhor daria objetos de valor a um mendigo?

MONSENHOR- A troco do quê eu manteria objetos de valor na minha casa


sabendo que existe uma pessoa que pode reconstruir sua vida à partir dessa
doação?

JAVERT- O prisioneiro 24601 não mencionou isso quando foi preso.

MONSENHOR- Jean Val Jean se sentiu humilhado por ter aceito um presente
da igreja. Mas, nosso acordo é que ele irá retribuir essa oferta em forma de
caridade...

Javert olha para Jean, com ar de desafio.

JAVERT- Muito bem. Se não há queixa nem flagrante, então não há


possibilidade de efetuar a prisão. Você está livre. Mas escute com atenção,
pra que você pense duas vezes antes de recair na ilicitude: estarei sempre
de olho em você. Vamos embora!

Javert sai com os guardas. Jean se ajoelha aos pés de Monsenhor


Benvindo.

JEAN- Eu peço seu perdão, mesmo sabendo que não sou merecedor de sua
piedade.

MONSENHOR- Merecerá, se me prometer uma coisa.

JEAN- Qualquer coisa, meu senhor.

MONSENHOR- Venda a prataria e use o dinheiro para se tornar um homem


honesto. Você não pertence mais ao mal e sim ao bem. É a sua alma que
acabo de comprar. Compro sua alma e a entrego a Deus. Agora vá, meu
filho.

Jean fica sem palavras. Luz se apaga. Música.

ATO 2- FANTINE

CENA 1- Tecelagem de Madaleine

NARRADOR- Província de Vigot. Nove anos depois. Onde descobrimos que


Jean Val Jean adquiriu nova identidade e conhecemos Fantine e suas
desventuras.
A cena abre com uma tecelagem funcionando a pleno vapor. Javert
entra e é recepcionado pelo Contador Gouche.

GOUCHE- Inspetor Javert, é uma honra recebê-lo em nossa humilde


tecelagem.

JAVERT- Não seja modesto, meu caro Gouche... Sua “humilde tecelagem”
é a tecelagem mais próspera da cidade.

GOUCHE (estendendo papéis.)- E a nossa prosperidade se dá na carona do


cumprimento fiel de todas as leis da nossa legislação, é bom que se diga.
Inclusive, logo que soubemos da sua visita, providenciamos todos os
documentos que provam nossa ilibada idoneidade, conforme o senhor pode
atestar com seus próprios olhos!

JAVERT (pegando a papelada e lendo.)- Isso muito me agrada, mas


pouco me surpreende. Não esperava menos do que isso de uma empresa
administrada pelo ilustríssimo prefeito, o senhor Madaleine...

GOUCHE- Ah, sim, o sr. Madaleine assumiu a direção da empresa há cinco


anos e nunca fomos tão prósperos. No começo, ele relutou em aceitar o
cargo, mas depois da terceira oferta, ele não pôde recusar. O benefício é
todo nosso! Que senso administrativo, que capacidade de gerenciamento...

JAVERT- Tenho certeza de que se trata de uma figura raríssima a quem eu


espero conhecer imediatamente.

GOUCHE- Seria uma honra que o Senhor Madaleine certamente teria a maior
das felicidades em compartilhar com o senhor, se ele não estivesse
absolutamente ocupado nessa manhã...

JAVERT- Ocupado?

GOUCHE- Ocupadíssimo. Mas ele me incumbiu pessoalmente de recepcioná-


lo com toda honra e atenção, cuidando para que a documentação da
empresa chegasse em suas mãos de maneira eficiente e organizada.

JAVERT- Chame seu patrão aqui, pois mal posso esperar para conhecê-lo!

GOUCHE- Como eu disse anteriormente, é impossível, meu senhor. Mas terei


um grande prazer em mostrar-lhe todas as instalações da nossa fábrica , a
começar pela linha de montagem.
Ouvem-se gritos vindos do lado de fora.

JAVERT- Mas o que significa isso?

Entra a Sra. Faucault, segurando Fantine pelo braço.

SRA FOUCAULT- ...Isso você vai ter que explicar pro senhor Madaleine,
menina!

FANTINE- Eu preciso desse emprego, a senhora não entende?

SRA FOUCAULT - Se precisa tanto, deveria ter sido mais honesta!

JAVERT (se intrometendo.)- Por acaso a menina roubou alguma coisa?

FANTINE- Eu nunca roubei nada, meu senhor!

SRA FOUCAULT - Eu descobri uma coisa tão grave quanto isso. Essa moça é é
mãe solteira! Por que você não me disse nada?

FANTINE- Se eu tivesse lhe contado, a senhora me deixaria ficar?

SRA FOUCAULT - Obviamente não! Mas agora quem decidirá o seu destino é
o Senhor Madaleine!

JAVERT- Tenho certeza que o Senhor Madaleine, sendo o homem justo que
é, vai optar pela sua demissão...

FANTINE- Não!!!

SR. GOUCHE- Eu vou chamá-lo imediatamente!

Entra o Sr. Madaleine, ou melhor, Jean Val Jean, ricamente vestido


sob sua nova identidade.

JEAN - Não é necessário, Gauche. O que está acontecendo na minha


fábrica?

SRA FOUCAULT - Essa mulher não tem credibilidade moral para continuar
integrando nosso corpo de funcionários!

JEAN- E por quê?

JAVERT- Porque ela é mãe solteira e segundo nossa legislação, isso


caracteriza um comportamento leviano. Mas não vamos antecipar os fatos.
Ainda não fomos apresentados, Sr. Madaleine. Eu sou o Inspetor Javert.
Avisei que viria hoje por conta da inspeção anual das fábricas da região.
Permita-me cumprimentá-lo, é uma honra finalmente conhecer uma figura
tão popular...

JEAN- Igualmente, Inspetor.

JAVERT (desconfiado.)- Nós já não nos conhecemos?

JEAN (incomodado.)- Creio que não. Infelizmente, eu estou de saída.

SRA FOUCAULT - E como vamos resolver o caso dessa moça?

JEAN- Resolva como quiser, Sra Foucault. Eu não tenho tempo para me
envolver com as mesquinharias da minha equipe de funcionários. Essa é a
sua função. A todos, com licença.

FANTINI- Meu senhor... Por favor, me escute.

Jean sai.

SRA FOUCAULT - Pegue as suas coisas, Fantine. Você está demitida.

Fantini sai, derrotada. Javert observa Madaleine se distanciar.

JAVERT- Eu nunca esqueço um rosto... É um dos meus maiores talentos,


como policial...

Música e transição de luz.

CENA 2- Casa dos Ternadiers

Estamos agora na casa dos Ternadiers. O Sr. Ternadier está


sentado numa poltrona velha. Batidas na porta. Entra a Senhora
Ternadier, esbaforida.

SRA. TERNADIER- Olha lá! Deve ser a Fantine! Demorou de novo! Sabe-se lá
o que ela anda fazendo, hein?!

SR. TERNADIER- Se ela não botar o dinheiro nessa maõzinha, essa mãozinha
senta a mão na cara dela!

SRA. TERNADIER- Você cala a boca e vai buscar a menina!


SR. TERANDIER- Avisa que eu estou farto de criança tísica tossindo a noite
inteira!

SRA. TERNADIER- Se você não tivesse gasto o dinheiro do remédio com


bebida, talvez ela tossisse menos!

SR. TERNADIER- Agora a culpa é minha que a menina é doente?

SRA. TERNADIER- Você cala a boca, que é hora de garantir o aluguel!

A Senhora Ternadier abre a porta. Entra Fantine, aflita.

SRA. TERNADIER- Fantine, minha querida... Chegou tão cedo...

FANTINE- Como vai, Sra. Ternadier?

SRA. TERNADIER- Vamos como Deus manda. Seguindo as orientações de


Deus, fazendo o que Deus quer que a gente faça...

SR. TERNADIER- E Deus mandou dizer que o dinheiro desse mês tá atrasado.

SRA. TERNADIER- Você cala a boca!

FANTINE- Eu trouxe o pagamento, Sra Ternadier.

SRA. TERNADIER- Obrigado, meu anjo. A minha preocupação não é nem


comigo... Estamos pensando no bem estar da sua filha...

FANTINE- E cadê ela?

SRA. TERNADIER- Viu? Ela trouxe o pagamento! E você insinuando que ela
não ia pagar... Isso aí espera o pior de todo mundo! Já eu, espero o sempre
o melhor. Um equilibra o outro, porque eu entro com a crença e ele com a
dúvida! Aí, o casamento funciona. Vai buscar a menina, seu inútil!

SR. TERNADIER- Eu faço tudo aqui dentro, hein?

SRA. TERNADIER- Você cala a boca!

O Sr. Ternadier sai, resmungando.

FANTINE- Como ela passou a noite?


SRA. TERNADIER- Péssima. Tossiu a noite inteira. O peito chia como uma
chaleira. Eu disse pro meu marido: sem remédio, essa menina não aguenta.

FANTINE- Mas eu dei o dinheiro do remédio pra senhora!

SRA. TERNADIER- O remédio acabou, pensa o quê? O remédio acaba rápido.


Tudo acaba rápido com essa menina dentro de casa. Por que? Porque ela
come como uma faminta e tosse como uma tuberculosa! Eu nunca vi uma
criança assim...

FANTINE (pegando na bolsa.)- Eu vou deixar o dinheiro do meu aluguel


com a senhora. Assim, a senhora compra tudo o que for preciso.

SRA. TERNADIER (pegando o dinheiro.)- E vai faltar, hein? Mês que vem
seria bom providenciar um pouco a mais.

FANTINE- Não sei como fazer isso. Acabei de ser demitida do meu emprego.

SRA. TERNADIER- Nesse caso, é melhor levar a menina com você. Porque,
apesar de todo o amor que eu tenho por Cosette, eu não posso me arriscar
a cuidar de uma criança sem os recursos necessários pra isso. Seria uma
irresponsabilidade da minha parte, a senhora entende...

FANTINE- Não! Por favor! Eu imploro à sua boa vontade. Cuide da minha
filha que eu vou dar um jeito de arranjar o dinheiro.

SRA. TERNADIER- Por favor, hein, minha filha? Eu confio em você, você
confia em mim. É assim que se constrói uma relação de confiança!

Entra o Sr. Ternadier com Cosette, suja e matrapilha.

SR. TERNADIER- Olha a menina aqui! Ela tá suja porque não gosta de tomar
banho!

Fantine vai até ela.

FANTINE- Cosette, minha filha. Por que você não tomou banho?

COSETTE- A água tava fria.

SR. TERNADIER- “A agua tava fria, a comida tava ruim, a cama tava dura”.
A menina reclama o dia inteiro.

SRA. TERNADIER- Você cala a boca!


FANTINE- Cosette, me escuta: eu te prometo que daqui a pouco eu venho te
buscar. Por enquanto, obedeça o Senhor e a Senhora Ternadier. Agora, dê
um abraço na sua mãe.

COSETTE- Não me deixa aqui, mãe...

SRA. TERNADIER- Quando voltar, traga um casaco pra ela... A janela tá sem
trava e o vento entra encanado. Pedi pra isso aí consertar, mas quem disse
que ele consegue?

SR. TERNADIER- A culpa não minha!

SRA. TERNADIER- Você cala a boca!

Fantine abraça a filha. Música de Fantine para Cosette. Luzes se


apagam.

CENA 3- Frente da Casa da Sra. Catharine

Em frente à casa de Sra. Catharine, uma velha avarenta. Fantine


entra em cena e vê, chocada, suas malas na calçada. A Sra.
Catharine está na soleira da porta.

FANTINE- O que significa isso, Sra. Catharine?

CATHARINE- Significa que eu cansei de ser passada pra trás por tipos como
você, Fantine. Aqui estão suas roupas e agora, fora daqui...

FANTINE- Você entrou no meu quarto e mexeu nas minhas coisas?

CATHARINE- Na realidade, o quarto é meu. Nós negociamos um valor de


aluguel muito abaixo daquilo que eu costumo cobrar e ainda assim, eu fui
obrigada a aguentar meses e meses de atraso e de inadimplência da sua
parte. Sabe, Fantine, eu te confesso que estava, de certa maneira,
conformada... Como se a sina de ter uma inquilina como você fosse o
pagamento de algum pecado que eu cometi na minha juventude. No
entanto, hoje apareceu por aqui um moço muito bem vestido que me
ofereceu cinco meses de adiantamento por uma hospedagem. Como o único
quarto disponível era o seu, eu me apressei em te desalojar. É um direito
que eu tenho, você vai concordar comigo...

FANTINE- Eu tinha que ter sido avisada com alguma antecedência, Sra.
Catharine!
CATHARINE- Concordo. Mas o moço pagou adiantado e um pagamento
adiantado adianta certas burocracias.

FANTINE (conferindo sua mala.)- Está faltando um casaco! A senhora


roubou o meu casaco!

CATHARINE (ofendida.)- Era só o que faltava! Você não paga o meu aluguel
e ainda me acusa de ladra? Fora daqui, menina!

FANTINE- Eu quero entrar no meu quarto e pegar aquilo que é meu!

CATHARINE- O que é seu está nessa mala!

FANTINE- Cadê meu casaco?

CATHARINE- Fora daqui, menina!

FANTINE- Eu vou entrar de qualquer jeito!

CATHARINE- Socorro! Policia! Invasora! Eu sou uma velha!

Entram em cena Javert e seus oficiais. Populares se juntam a eles,


olhando com curiosidade.

JEAN- Posso saber o que está acontecendo?

CATHARINE- Essa louca quer invadir minha casa, Inspetor!

FANTINE- Eu sou a inquilina!

CATHARINE- Inquilinos pagam o aluguel!

FANTINE- Ela pegou meu casaco!

CATHARINE- Eu sou uma velha! Ela acusa uma velha, a desalmada!

JAVERT- Eu conheço você! Você é a mãe solteira demitida da fábrica!


CATHARINE- Isso eu já sabia! Ela queria morar com a menina aqui dentro,
mas isso aqui é ambiente de respeito, Inspetor!

FANTINE- Ela me roubou! O senhor não vai fazer nada?

JAVERT- Claro que vou! A senhora está presa por incitação à desordem
publica!

CATHARINE- Ainda existe justiça nesse mundo!

FANTINE- Tira a mão de mim!

JAVERT- É melhor não resistir, minha filha!

FANTINE-Canalha!

JAVERT- E ainda por cima, desacata a autoridade! Prendam essa mulher


imediatamente!

FANTINE- Não!

Entra Jean Val Jean.

JEAN- Muito trabalho logo de manhã, Inspetor Javert?

JAVERT- Ah, Sr. Madaleine... Muito bom dia... Estou aqui justamente
resolvendo um caso típico de desordem causada pelo abuso da bebida.

FANTINE- Do que o senhor tá falando?

JEAN- Essa moça me parece sóbria, Inspetor...

CATHARINE- Ela não me pagou o aluguel e agora quer invadir minha casa!

FANTINE- Sua ladra!

CATHARINE- Era só o que me faltava! Inspetor, eu sou a vítima!

JAVERT- Eu sei! Por isso estamos prendendo essa mulher. Passar bem,
Senhor Prefeito!

JEAN- Um minuto! Mesmo uma inquilina inadimplente tem seus direitos


como moradora...

JAVERT- Creio que é recomendável que o senhor se preocupe com as


questões administrativas da cidade, Sr. Madaleine. Da lei, me ocupo eu...

JEAN- Abusos policiais são assuntos administrativos, Inspetor.

Tensão. Jean e Javert se olham. Javert se aproxima.


JAVERT- Creio que isso pode ser interpretado como uma ofensa, Senhor
Madalaine.

JEAN- Creio que a sua ofensa pode ser interpretada como insubordinação,
Inspetor Javert. Como chefe de policia, o senhor está submetido às ordens
do prefeito, ou eu me engano?

JAVERT- Eu sou um profundo conhecedor das leis.

JEAN- Não parece. Porque num caso simples como esse, o senhor estava a
ponto de cometer uma injustiça.

CATHARINE- A injustiça aconteceu comigo que não recebi o pagamento do


aluguel dessa desocupada!

FANTINE- Eu não sou desocupada! Eu só não tenho emprego.

JEAN- Você já procurou trabalho na minha fábrica?

FANTINE- O senhor me demitiu da sua fábrica!

JEAN- Desculpe, mas eu não me lembro da senhora.

FANTINE- E o senhor se lembra de alguma funcionária sua? Claro que não.


Pra gente como você, nós somos invisíveis.

JAVERT- Cala a boca, menina! Esse homem é o prefeito!

JEAN- Deixa essa moça falar!

FANTINE- Eu não quero falar mais nada! Eu só quero ir embora!

JAVERT- Vai embora, mesmo. Mas vai comigo!

FANTINE- Me deixa em paz!

JEAN- Não toque nessa moça, Inspetor!

JAVERT- Senhor Prefeito, é minha obrigação levar essa delinquente para a


delegacia!

JEAN- O senhor não levar essa moça pra lugar algum!


JAVERT- O senhor cria dessa maneira uma situação constrangedora, onde a
minha autoridade é questionada publicamente!

JEAN- Uma autoridade que promove uma injustiça é uma autoridade sem
moral, Inspetor!

Fantine tenta fugir.

CATHARINE- Ela vai fugir!

JAVERT- Segurem essa mulher!

JEAN- Deixem-na em paz!

Confusão e Fantine cai desmaiada.

CATHARINE- O que aconteceu?

JEAN- Ela desmaiou de fome!

JAVERT- Isso é dissimulação, eu conheço esse tipo de gente!

JEAN- Chamem um médico!

JAVERT- Levem essa mulher pra delegacia!

JEAN (num berro.)- Fora daqui, Inspetor!

Javert se afasta. Jean e os populares ajudam Fantine e a conduzem


pra fora de cena.

JAVERT- Esse tom de voz. Eu conheço esse homem...

Luzes se apagam.

CENA 4- Interior da Catedral de Vigot

Transição de cena e música de Igreja. Laffite reza. Um estrondo é


ouvido. Laffite olha pra cima. Luzes se apagam. Estrondo final.

CENA 5- Praça de Vigot

Os populares invadem a cena em frente à Igreja.


HOMEM 1- O que aconteceu?

MULHER 1- A igreja desabou!

HOMEM 2- Era horário de missa?

MULHER 2- Graças a Deus que não!

HOMEM 3- Quem estava lá dentro?

MULHER 3- Parece que ninguém.

HOMEM 1- Aonde está o Laffite?

MULHER 1- Quem é Laffite?

HOMEM 2- O novo sacristão!

MULHER 3- Ele estava lá dentro!

HOMEM 3- Alguém salva o coitado!

MULHER 2- Esse já era.

MULHER 1- Que Deus o tenha!

HOMEM 3- Pelo menos morreu rezando.

Laffite surge, se arrastando da cochia.

LAFFITE- Minha Santa Rita, minha Santa Benedita!

HOMEM 1-Meus Deus!

MULHER 1- Ele tá vivo!

MULHER 2-Puxem ele pra fora!

LAFITTE- Minha perna está presa!

Entram Javert e um Oficial.

JAVERT- Afastem-se! Nós temos que resgatar o sobrevivente.


LAFFITE- Me ajuda, meu Santo Ambrósio!

OFICIAL- A perna está presa debaixo da coluna, senhor!

HOMEM 1-Tragam os cavalos! Vamos puxar essa coluna!

JAVERT-Ninguém vai trazer cavalo nenhum!

HOMEM- Senhor, é a única maneira de salvar o coitado!

JAVERT- Olhe pra cima, seu idiota! Se puxarmos essa coluna, a igreja toda
vai desabar!

LAFFITE- Me recebe em tua casa, Senhor!

HOMEM 2- Vamos tentar mais vez!

JAVERT- Ninguém se aproxime!

MULHER 3- Mas ele vai morrer!

JAVERT- Todo mundo tem seu dia. Em nome da segurança pública, eu


ordeno que evacuem o local!

OFICIAL- Mas, meu senhor...

JAVERT- Cumpra minhas ordens, Oficial...

OFICIAL-Sim, senhor...
.
LAFFITE- Por favor... Não desistam de mim...

JAVERT- Quem desistiu de você foi Deus.

LAFFITE- Então me acolhe em teus braços, meu Santo Agostinho, meu São
Francisco, meu São Genaro, minha Santa Amélia...

Entra Jean Val Jean. 



HOMEM 1- O prefeito chegou!

JEAN- O que aconteceu?

HOMEM 2- O pobre sacristão está preso nos escombros!


JEAN- Vamos erguer essa coluna! Me ajudem aqui!

JAVERT- Não podemos mexer nessas estruturas, Senhor Madaleine! Isso tudo
pode desabar e eu não vou permitir que a segurança de muitos seja posta
em risco para que apenas uma pessoa seja salva.

JEAN- O senhor tem razão, Inspetor. Mande seus homens evacuarem esse
lugar.

JAVERT-Que bom que o senhor finalmente demonstrou bom senso.

JEAN-Todos se afastem, porque eu vou erguer essa coluna sozinho!

TODOS-Oh!

OFICIAL-Isso é impossível!

JEAN- Afastem-se todos, eu já disse!

JAVERT- Senhor Madeleine! Se quiser colocar sua vida em risco eu não


poderei me responsabilizar pelo senhor!

JEAN- Eu desprezo sua responsabilidade, Inspetor! Agora, me deixem fazer


meu trabalho!

LAFFITE- Minha Santa Geralda, passa a mão em minha cabeça...

MULHER 3- Ele vai erguer a coluna sozinho!

LAFFITE- Minha Santa Julia, me canta um acalanto...

OFICIAL- Isso é impossível!

JAVERT- A não ser que esse homem possua uma força descomunal! E em
toda minha vida eu conheci somente um homem assim. Um prisioneiro...
Chamado Jean Val Jean!

Suspense. Jean ergue a coluna e salva Laffite.

TODOS- Oh!

JEAN- Levem esse homem para o hospital!

Todos saem amparando Laffite. Javert fica em cena com o Oficial.


JAVERT- Agora eu não tenho mais dúvidas. O sr. Madaleine é um criminoso.

OFICIAL- Mas, se me permite a pergunta: qual foi o crime que ele


cometeu, senhor? O Sr. Madaleine sempre foi um prefeito justo e
competente. Além disso, ele acaba de demonstrar que também é um
homem corajoso.

JAVERT- O crime está no nome. Ele não se chama Madaleine e, portanto,


temos aqui um caso escabroso de falsidade ideológica. Eu não preciso mais
de nenhuma prova. Só preciso agora de uma confissão. E já sei como fazer
isso.

Luzes se apagam.

CENA 6- Hospital Municipal

O hospital onde Fantine está internada. Jean se aproxima da sua


cama, acompanhado da Madre Superiora.

JEAN- Como ela está?

MADRE- Muito fraca, Sr. Madaleine. A febre não cedeu e nos seus delírios
ela chama pela filha Cosette.

JEAN- E onde está a filha?

MADRE- Impossível saber. E mesmo se soubéssemos, creio que a presença


dela só iria perturbá-la ainda mais...

JEAN- Fantine...

MADRE- Seja rápido. Ela precisa descansar.

Jean se aproxima de Fantine. Música.

JEAN- Fantine. Sou eu. Madaleine. Por favor, não fale nada. Eu estou aqui
porque eu vou te ajudar. Eu não sabia que você era a minha funcionaria
nem que a sua demissão havia sido motivada por algo tão torpe. O que eu
quero lhe dizer é que a partir de agora, eu me comprometo a lhe dar toda a
ajuda e assistência.

FANTINE- Cosette...
JEAN- Sim, sua filha. Vamos buscá-la. Onde ela está?

FANTINE- Com os Ternadiers... Eles dizem que faltam casacos, que faltam
remédios. Eu preciso ir até lá encontrar a minha filha!

JEAN- Eu vou trazê-la até você. Eu vou cuidar da sua filha até que você se
reestabeleça, Fantine. Eu prometo...

A Madre se aproxima.

MADRE- Sr. Madaleine, por favor... Ela precisa de repouso.

JEAN- Amanhã eu volto, Fantine. Com a sua filha Cosette... Eu prometo.

FANTINE-Um minuto... (tirando o colar do pescoço e entregando a


Jean.) Entregue esse colar pra ela. E diga que eu a mao...

MADRE- Por aqui, senhor Madaleine...

A Madre conduz Jean para fora do quarto. É onde está Javert,


esperando por ele, junto com seus oficiais.

JAVERT- Verificando com seus próprios olhos o funcionamento do hospital


municipal, Sr. Madaleine? Realmente, suas atitudes justificam a fama que o
precede: o senhor é de fato, um administrador admirável...

JEAN- O que o senhor quer comigo, Inspetor Javert?

JAVERT- Na realidade, eu vim até aqui para lhe pedir desculpas.

JEAN- Pelo o quê?

JAVERT- Quando eu o vi pela primeira vez na fábrica, tive a certeza quase


absoluta de que o senhor era outra pessoa: um prisioneiro, chamado Jean
Val Jean. Essa impressão foi algo que me perturbou imensamente, pois uma
falsa identidade, além de ser um crime em si, só pode significar o prenúncio
de novas contravenções. No entanto, esse foi um equivoco plenamente
esclarecido já que nessa manhã, o verdadeiro Jean Val Jean foi preso
durante uma batida rotineira. Eu mesmo vi o sujeito. Nove anos se
passaram, mas ele continua com a mesma fisionomia e o mesmo olhar
raivoso e ressentido. Enfim, nesse momento, ele está confinado na
corregedoria e amanhã mesmo devemos ter uma resposta sobre o meu
pedido de condenação.
JEAN- E qual foi a pena que o senhor pediu?

JAVERT- Trata-se um réu reincidente, então, isso justifica a aplicação da


pena de morte. Mas isso não é um problema seu, Senhor Madaleine.
Reitero meu pedido de desculpas e espero sinceramente que, a partir de
agora, possamos conviver em harmonia depois da dissolução desse mal-
entendido... Até logo.

Javert se afasta. Jean dá um passo à frente.

JEAN- Devo me apresentar na delegacia ou o senhor quer me levar agora


mesmo?

JAVERT (satisfeito.)- Antes de mais nada, eu preciso da sua confissão, por


escrito.

JEAN- Estou disposto a lhe dar essa confissão, Inspetor, mas antes preciso
resgatar uma menina. Se o senhor puder esperar até amanhã...

JAVERT- Pra quem esperou nove anos, um dia a mais não faria diferença.
Mas eu, por princípios, não negocio com criminosos. Sua única opção é me
acompanhar de boa vontade e imediatamente, Jean Val Jean.

JEAN- Eu nunca esperei atitudes dignas vindas da sua parte...

JAVERT- Creio que posso falar o mesmo de você. Levem esse homem.

Os oficiais acompanham Jean Val Jean para fora do hospital.

OFICIAL- O senhor não vem, Inspetor?

JAVERT- Me encontrem lá fora. Preciso falar com uma paciente...

Javert se dirige ao quarto de Fantine. A Madre tenta impedi-lo.

MADRE- Aonde o senhor vai?

JAVERT- Fazer uma visita a uma amiga.

MADRE- O senhor não pode entrar aí.

JAVERT- É rápido.

MADRE- Ela está dormindo.


JAVERT- Uma pena. Quando ela acordar, avise que aquele benfeitor era na
realidade um criminoso que agora está devidamente encarcerado sob a
minha jurisdição. Portanto, eu recomendo que ela seduza algum novo
desavisado se pretende obter algum favor destinado à filha bastarda. Passar
bem.

MADRE- O senhor saia daqui imediatamente!

JAVERT- Com muito prazer, Madre...

A madre conduz Javert para fora. Fantine abre os olhos e começa a


gritar pelo nome de Cosette. Um grito abafado, quase sem voz, no
limite das suas forças. A Madre volta e tenta acalmá-la.

MADRE- Calma, minha filha!

FANTINE- Cosette!

MADRE- Você precisa descansar!

FANTINE- Cosette!!!

MADRE- Fantini! Por favor, alguém me ajude! Ela está morrendo!

Fantini se debate, tem um último espasmo e morre. Música triste


domina o ambiente. Luzes se apagam.

CENA 8- Cadeia

Grades e correntes invadem a cena. Música dos prisioneiros. Jean


aparece numa das celas. Um oficial entra pelo lado oposto. É
Laffite, disfarçado. Seu rosto está coberto pelo chapéu.

LAFFITE- Procuro pelo prisioneiro 24601! Prisioneiro 24601? É você o


prisioneiro 24601?

JEAN- Meu nome é Jean Val Jean.

LAFFITE- Eu sei. Se aproxime da grade. Olhe pro meu rosto!

JEAN- Me deixe em paz.

LAFFITE- Não me reconhece, senhor?


JEAN- Quem é você?

LAFFITE- Sou eu! Laffite! O sacristão que o senhor retirou dos escombros!

JEAN- O que você faz aqui?

LAFFITE- Ora. O que qualquer homem decente faria. Eu vim retribuir: o


senhor salvou minha vida, então estou aqui para salvar a sua!

JEAN- Mas como você conseguiu entrar? Isso aqui é uma prisão de segurança
máxima!

LAFFITE- Ah, meu senhor... Outras pessoas estão retribuindo também.


JEAN- Do que você está falando?

LAFFITE- Existem guardas nessa cadeia que são muito gratos pela maneira
digna como o senhor tratou a corporação nesse período em que foi prefeito.
Além disso, um dos policiais encarregado da sentinela teve seu filho salvo
de uma doença mortal por conta dos investimentos que o senhor fez no
hospital da cidade... Enfim, portões e cadeados se abriram para a minha
entrada e continuarão abertos para que o senhor saia daqui imediatamente.

JEAN- Eu não tenho como lhe agradecer, Laffite.

LAFFITE- Nem precisa. Minha dívida é eterna e eu prometo ser seu fiel
servidor até o dia da minha morte, se o senhor assim o permitir! Agora,
vamos! Saindo daqui procuraremos abrigo no mosteiro de Frei Lourenço,
onde o senhor conseguirá o exilio seguro para os próximos anos de sua vida.

JEAN- Antes, precisamos resgatar uma menina e devolvê-la à sua mãe.

LAFFITE- Se o senhor se refere à Fantine, eu lamento dizer que a menina


que o senhor deseja resgatar é agora uma órfã. Eu estava internado na
mesma ala que a moça. Parece que o desgosto diante da ameaça de nunca
mais rever a filha matou a pobre mulher.

JEAN-Mais um motivo para resgatar Cosette e cumprir a minha promessa.

LAFFITE- Então, vamos nos apressar! Meu acordo com os guardas é que
eles nos darão duas horas de vantagem antes que soem os alarmes pela sua
fuga.

JEAN- Vamos, Laffite!


Luzes se apagam.

CENA 9- Casa dos Ternadiers

Casa dos Ternadiers. Javert está junto do casal. A senhora


Ternadier chora. Seu marido dá explicações.

SR. TERNADIER- Ele apareceu aqui ontem de noite! Disse que era um
viajante! Que precisava de uma criada!

JAVERT- Foi quando você ofereceu a menina Cosette?

SR. TERNADIER- Não ofereci ninguém. Eu só comentei , no meio do nossa


conversa, que a menina cozinhava, lavava, passava... Porque era isso que
ela fazia aqui em casa. Fazia mal, mas fazia! Então, ele ofereceu quarenta
coroas pra levar a menina embora.

JAVERT- Vocês venderam uma criança por quarenta coroas?

SRA. TERNADIER- O senhor fala como se ela fosse uma filha nossa! Não era!
Nós só tomávamos conta!

JAVERT- Vocês sabiam que a mãe tinha morrido?

SRA. TERNADIER- Nunca! Eu imaginava que ela tivesse sido presa, que ela
tivesse ido embora! A Fantine nunca mais apareceu e a menina ficava aqui,
só dando despesa e desgosto pra mim e pro meu marido!

JAVERT- Seu marido disse que ela trabalhava aqui como sua criada!

SRA. TERNADIER- Trabalhar é uma palavra dura... Ela ajudava. Quem não
tem que ajudar uma casa quando se mora nesse nível de miséria?

JAVERT- Eu tenho nojo de vocês!

SRA. TERNADIER- Mas tem nojo, por quê?

JAVERT- Vocês prometeram que iam cuidar de uma criança...

SRA. TERNADIER- E cuidamos! Como se fosse filha nossa! Deus sabe o amor
que sempre tivemos por Cosette!

JAVERT- O amor era tão grande que vocês a venderam pro primeiro
desconhecido que bateu na sua porta!

SRA. TERNADIER (para o marido.)- Ele está nos acusando!

SR. TERNADIER- Ele não está acusando ninguém.

JAVERT -Eu estou acusando vocês dois!

SRA. TERNADIER- Eu disse que ele estava acusando!

SR. TERNADIER- Vendemos mesmo! Mas nós somos inocentes! Vamos fazer o
que? Nós precisamos comer!

JAVERT- Chega.

SRA. TERNADIER- A mãe fez o favor de morrer antes de pagar o último


frasco de xarope!

SR. TERNADIER- Se coloque no nosso lugar!

JAVERT- Chega.

SRA. TERNADIER- Qualquer um faria o que fizemos!

SR. TERNADIER- Qualquer um.

SRA. TERNADIER- Até o senhor!

SR. TERNADIER- Claro!

JAVERT (num grito.)- Chega!

Javert esfrega os olhos e anda pela sala. O Senhor e a Senhora


Ternadier se abraçam, aflitos.

JAVERT- Muito bem... Onde está o dinheiro?

SRA. TERNADIER (tensa.)- Por que o senhor quer saber?

JAVERT- Porque o dinheiro é a única prova de que vocês estão falando a


verdade.

SRA. TERNADIER- Nós estamos falando a verdade.


JAVERT- Aonde está o dinheiro?

SR. TERNADIER- Nós gastamos!

JAVERT- Isso é mentira!

SR. TERNADIER- Eu juro!

JAVERT- É uma pena. Porque sem o dinheiro, eu posso deduzir que vocês
são cumplices de Jean Val Jean e que entregaram de bom grado a menina
para que ele fugisse da lei o mais rápido possível.

SRA. TERNADIER- A gente jamais entregaria a menina de bom grado!

SR. TERNADIER- Ele pagou, eu posso provar! O dinheiro está aqui!

JAVERT- Deixe-me ver!

O Senhor Ternadier pega um envelope numa gaveta e entrega para


Javert.

SR. TERNADIER- O senhor pode conferir. Quarenta coroas, como eu lhe


disse. Ele colocou o dinheiro num envelope timbrado da prefeitura! Está aí
a prova!

JAVERT- Esse dinheiro está confiscado como prova do crime.

SRA. TERNADIER (em pânico.)- Esse dinheiro é nosso!

JAVERT- E se deem por satisfeitos por não serem presos. Vocês exploraram
uma criança e a venderam como se ela fosse uma mercadoria. Dupla
contravenção, uma pra cada um. Ele disse pra onde estava indo?

SRA. TERNADIER- Claro. É a primeira iniciativa que um fugitivo da policia


toma quando vai embora: dizer pra onde está indo.

JAVERT- Estamos perdendo nosso tempo aqui. Vamos embora.

Javert sai. O Senhor Ternadier sai atrás e se detém na porta.

SR. TERNADIER- Isso não é justo... Nós somos as vítimas dessa história... Nós
fomos passados pra trás! Primeiro pela mãe, depois pelo viajante, agora
pela polícia! (virando-se para a esposa.) Você acredita nisso, mulher?
SRA. TERNADIER- Você cala a boca!

Luzes se apagam na casa dos Ternadiers. Música.

TERCEIRO ATO- COSETTE.

CENA 1- PRAÇA DE PARIS

NARRADOR- Paris. Dez anos depois. Onde encontraremos Jean Val Jean,
morando com Cosette, sua filha adotiva, agora uma mulher; e onde
conheceremos Marius, um revolucionário republicano adepto da luta contra
a monarquia opressora.

A cena abre numa praça de Paris. O povo miserável vagueia pela


praça. Laffite entra com um caldeirão de sopa, seguido de Jean e
Cosette, que ajudam a servir os pobres. .

LAFFITE- Todos em fila! É a hora da sopa! Todo mundo segurando sua


própria tijela!

HOMEM POBRE- É aquele homem bondoso que tem nos alimentado todos os
dias nesse horário!

MULHER POBRE- Deus abençoe esse homem!

HOMEM POBRE- Muito obrigado, meu senhor!

JEAN- Ninguém precisa me agradecer. É obrigação dos privilegiados ajudar


quem não nasceu com a mesma sorte.

LAFFITE- Respeitem a fila! Tem sopa pra todo mundo!

Uma fila se forma. Jean e Cosette servem a população.

MULHER POBRE- Qual o seu nome , meu senhor?

JEAN- Lemert...

HOMEM – O senhor é daqui mesmo, de Paris?

LAFFITE- Muitas perguntas, muitas perguntas! Agora é hora da refeição.


Próximo, por favor!

Do outro lado do palco, surge Marius, cercado de revolucionários.


JEAN- Quem são aqueles, Laffite?

LAFITTE- São os revolucionários querendo a instauração da república, meu


senhor!

COSETTE- Você conhece aquele que está no meio deles?

JEAN- Vá pra trás, Cosette!

Marius está no meio de um discurso engajado, que inflama seus


companheiros.

MARIUS - A luta não é somente contra a monarquia! É pelo direito à greve! É


pelo direito aos nossos direitos! É pelo fim da desigualdade!

TODOS- Pelo fim da desigualdade!

MARIUS- O rei proíbe nossas manifestações enquanto propõe reformas que


só irão aumentar a nossa fome e o nosso desespero!

TODOS- Abaixo a reforma!

MARIUS- Há duas semanas, a policia destruiu o jornal da classe


trabalhadora! Eles querem calar nossa voz, mas não vão conseguir!

TODOS- Não vão conseguir!

Cosette, fascinada, escuta o discurso de Marius, e tenta se


aproximar, mas é impedida por Jean.

JEAN- Onde você vai, Cosette?

COSETTE- Eu quero ouvir o que ele está dizendo.

JEAN- Fique aqui!

Marius segue seu discurso.

MARIUS- O que o rei realmente quer é acabar com os pobres desse país!
Porque ser pobre nesse país é o verdadeiro crime pra esses bandidos que
usurparam o poder através de um golpe! O rei se vendeu aos interesses dos
mais ricos e nos traiu!
TODOS- Nos traiu!

MARIUS- Prometeu o direito ao voto e mentiu!

TODOS- Ele mentiu!

JEAN- Laffite, recolha tudo! Temos que ir embora!

COSETTE- Mas, por que, pai?

JEAN- Quando os revolucionários aparecem na praça, em pouco tempo a


policia aparece também...

COSETTE- E qual o problema? Não somos criminosos. Nem eles!

JEAN- Não discuta minhas ordens , Cosette!

Jean recolhe as coisas e vai saindo. Cosette se detém e escuta a


fala final de Marius, que ele diz, olhando pra ela.

MARIUS- Amigos! Temos que restaurar a República! E onde está a República?


Está nos nossos corações! Nós somos a República!

TODOS- Nós somos a República!

Música. Todos cantam e Cosette olha Marius apaixonada. Luzes se


apagam.

CENA 2- CASA DE LAMERT

Luzes se acendem na nova casa de Jean. Ele acabou de jantar com


Cosette e a Sra. Toussaint e Laffite retiram a mesa.

LAFITTE- Senhor Lamert, devo pedir para que o cocheiro prepare os cavalos
para amanhã de manhã?

JEAN- Sim, Laffite! Cosette sabe que amanhã levantamos cedo para nosso
passeio pelos Jardins de Luxemburgo.

LAFFITE- Vou falar com ele imediatamente, meu senhor!

Laffite sai.

JEAN- Obrigado, Laffite... Sra. Toussainte, por favor retire a mesa...


SRA. TOUSSAINT- Pois não, Senhor Lamert.

COSETTE- Pai...

JEAN- Sim, minha filha?

COSETTE- Amanhã, somente amanhã, eu gostaria de fazer esse passeio


sozinha.

JEAN- Por que?

COSETTE- Porque eu já tenho dezoito anos. Preciso sair sozinha de vez em


quando, não acha?

JEAN- Você é jovem ainda, Cosette. Não sabe que o mundo é um lugar
terrível, portanto agradeça aos céus por ter um pai que pode e quer
protegê-la.

COSETTE- Mas não é preciso, pai. Eu posso cuidar de mim mesma.

JEAN- Isso é uma coisa que cabe a mim decidir, Cosette. Amanhã sairemos
juntos, como sempre fazemos aos domingos.

COSETTE- Eu não quero mais andar por aí agarrada em seu casaco como se
tivesse dez anos de idade!

JEAN- Nesse caso, eu lhe dou outra opção: você pode ficar trancafiada em
casa e perder esse belo passeio que eu pretendo lhe oferecer. A decisão é
sua. Boa noite.

COSETTE- Pai, por favor.

Jean sai. Cosette, desolada. A Sra. Toussaint se aproxima.

TOUSSAINT- A menina Cosette está mudada.

COSETTE- Eu cresci. Uma criança se torna adulta, essa é a lei da natureza.

TOUSSAINT- Eu conheço a vida e sei que existe algo maior acontecendo.


Crescer não é o que te aflige, menina. A angústia de seu coração vem do
fato de que a menina Cosette está apaixonada.

COSETTE-Como, se nem o conheço?


TOUSSAINT- Não o conhece, mas sabe de quem eu estou falando...

COSETTE- É assim o amor, Sra. Toussaint? Olhamos a pessoa uma única vez
e descobrimos que queremos passar o resto da sua vida ao seu lado?

TOUSSAINT- Não sei te dizer, menina. Minha vida foi só o trabalho e a


miséria. O amor é privilegio de abençoados como vocês...

COSETTE- Eu nunca me senti abençoada. Pelo contrário, essa casa e essa


vida de clausura me parecem maldições...

TOUSSAINT- Não diga bobagens , menina. Seu pai lhe dá tudo o que você
pede. Você tem comida, você tem livros, você tem conforto, você tem o
amor de seu pai, você tem a mim...

COSETTE- Só não tenho liberdade, Sra. Toussaint. Como é possível ser feliz
sem isso?

Cosette se deita no colo da Sra. Toussaint, que acaricia seus


cabelos.

CENA 3- ESCONDERIJO DOS REVOLUCIONÁRIOS.

Luzes se acendem no esconderijo dos revolucionários. Marius está


debruçado numa mesa, olhando mapas e conversando com seus
companheiros.

MARIUS- As ações estão definidas! Faremos barricadas nas ruas paralelas à


avenida e atacaremos as tropas de surpresa quando elas chegarem ao final
do desfile!

ALAN- Estratégia perfeita, Marius!

EDMUND- A República será reestabelecida a partir dessa demonstração final


de insatisfação popular!

ALAN- Temos que manter postos avançados de auxilio aos feridos.

MARIUS- Vamos contar com o apoio da população do bairro central. Eles se


comprometeram a nos esconder caso a repressão alcance nossas bases.
Como está o estoque de armas?

ALAN- Creio que a munição será suficiente para um combate franco.


Um garoto invade a reunião.

ANTOINE- Aqui estou, meu senhor!

ALAN- O que esse menino quer aqui? Vá brincar lá fora, Antoine!

ANTOINE- Foi o Marius quem me chamou!

MARIUS- Exatamente! Saiam todos e me deixem a sós com esse garoto!

ALAN- O que você tem de tão importante a tratar com uma criança em meio
aos preparativos para uma batalha?

EDMUND- Aposto nossa vitória que aquela moça que você viu na praça está
por trás disso!

MARIUS- O coração de um homem é algo tão valioso quanto a liberdade de


um povo. Agora saiam, vamos!
EDMUND- Espero que seu coração não coloque nossa luta a perder.

MARIUS- Sei o que faço.

Alan e Edmund saem. Marius se aproxima do garoto.

MARIUS- E então? O que descobriu sobre ela?

ANTOINE- O nome dela é Cosette. Ela é filha daquele homem rico que faz
doação de sopa para os pobres.

MARIUS- Isso eu já sabia, garoto! O pai não desgruda da moça um só


minuto. Você conseguiu descobrir onde eles moram?

ANTOINE- O endereço está nesse papel.

Alan entra.

ALAIN- Marius! François acabou de chegar. Ele quer discutir as estratégias


de fuga pelos esgotos que desembocam no Rio Sena.

MARIUS- Peça pra ele esperar! Volto daqui a pouco!

ALAIN- Mas...
Mas Marius já saiu.

CENA 4- JANELA DE COSETTE.

Luzes se acendem no quarto de Cosette. Ela vai até a janela, olha o


luar. Música. Marius aparece do lado de fora.

MARIUS- Eu também não tenho sono.

COSETTE (num susto.)- Meu Deus do céu!

MARIUS- Por favor, não se assuste. Você me conhece! Nós trocamos olhares
hoje na praça.

COSETTE- O que faz aqui? Como descobriu onde eu moro?

MARIUS- Pedi que te seguissem.

COSETTE- Por quê?

MARIUS- Porque te observo há semanas quando você passeia com seu pai
que nunca lhe deixa sozinha e descobri muitas coisas sobre você que
deixaram fascinado.

COSETTE- O que descobriu?

MARIUS- Descobri que seu nome é Cosette. E te observando em seus


passeios, descobri que sua flor preferida é o crisântemo, que você admira o
vôo dos pombos, que o calor a deixa incomodada, que seus passos são
lentos porque os caminhos que você percorre são os mesmo todos os dias e,
descobri, finalmente, num belo dia de primavera, que estou apaixonado por
você e que não teria paz enquanto não falasse contigo, Cosette. Então, vim
pra cá.

COSETTE- Eu não sei o que dizer. Eu nem mesmo sei seu nome...

MARIUS- Meu nome é Marius.

COSETTE- Você falou lindamente hoje na praça.

MARIUS- Percebi que você me observava, então caprichei no meu discurso.


Mas me fale de você...

COSETTE- Falar o que?


MARIUS- Qualquer coisa. Qualquer coisa sobre você me interessa mais do
que tudo.

COSETTE- Não há nada o que dizer. Minha vida é simples e é a mesma,


todos os dias.

MARIUS- Sua vida é a coisa mais valiosa do mundo porque desde que te vi,
sua vida justifica a minha, Cosette...

Emocionada, Cosette cambaleia.

MARIUS- Cosette, você está bem?

COSETTE- Sinto que vou desmaiar.

MARIUS (subindo.)- Deixe-me ajudá-la.

COSETTE- Não suba. Se meu pai te pega aqui, acho que te mata.

MARIUS- Eu morro de qualquer maneira se não puder vê-la todos os dias.

COSETTE- Não. É muito perigoso! Por favor, vá embora!

MARIUS- Então, você não me ama.

COSETTE- É justamente o contrário. Por te amar, eu temo por sua vida.

MARIUS- Seu pai é um homem bom, jamais me faria mal.

COSETTE- Ele tem medos que eu não consigo justificar.

MARIUS- Eu também tenho medos. E nesse momento, meu maior medo é


que você recuse meu beijo.

COSETTE- Esse medo não tem razão de ser.

Os dois se beijam. Música.

CENA 5- GABINETE DE JAVERT

Gabinete de Javert, que conversa com o Oficial.

JAVERT- Segundo nossos informantes, a rebelião está marcada para amanhã


durante o desfile.

OFICIAL- Precisamos tomar cuidado. Os rebeldes estão muito bem armados


dessa vez, Inspetor Javert.

JAVERT- Por isso que nos infiltraremos no movimento antes que a revolução
tenha inicio. Você conseguiu novas informações sobre o líder, o tal de
Marius?

OFICIAL- Mais do que informações, eu consegui descobrir seu ponto fraco,


senhor.

JAVERT- E qual é?

OFICIAL- Trata-se de algo comum a qualquer jovem impetuoso e bem


apessoado: o coração. Parece que a mesma garganta que brada palavras de
guerra também anda sussurrando versos de amor...

JAVERT- Quem é a infeliz?

OFICIAL- A menina se chama Cosette...

JAVERT (levantando subitamente.)- Cosette? E essa menina tem pai?

OFICIAL- Pelo o que apurei, ela é filha de um filantropo misterioso


chamado Lamert, aquele mesmo que anda distribuindo sopa para os pobres
na Praça Clemont.

JAVERT- Como é esse homem?

OFICIAL- Vi de longe. Alto, forte, ombros largos, olhar convicto. O senhor o


conhece?

JAVERT- De longa data. Onde mora essa menina?

OFICIAL- Posso levá-lo até lá imediatamente.

JAVERT- Pois então, vamos.

Javert e o Oficial saem.

CENA 6- CASA DE LAMERT

Jean anda de um lado para o outro, impaciente. Laffite e a Sra.


Toussaint seguem atrás.

LAFFITE- Tente se acalmar, meu senhor...

JEAN- Me acalmar como, se a menina desobedeceu o próprio pai?

LAFFITE- Ela foi apenas dar um passeio, meu senhor!

JEAN- Sozinha? Eu a proibi terminantemente!

LAFFITE- Mas qual é a adolescente que aceita uma proibição como essa nos
dias de hoje?

TOUSSAINT- Um pouco de rebeldia é até algo recomendável, meu senhor.

JEAN- Calem-se, os dois!

TOUSSAINT—Eu tenho certeza que ela deve estar chegando a qualquer


momento.

JEAN- Ela estava sob a sua responsabilidade, Sra. Toussaint! Se alguma


coisa acontecer com Cosette, eu jamais irei perdoá-la!

TOUSSAINT- Nem eu, a mim mesma!

LAFFITE- A senhora Toussaint não teve culpa! Eu também deveria ter


vigiado a menina!

JEAN- Eu vou responsabilizar os dois, portanto!

LAFFITE- Ai, minha Santa Rita, mãe dos angustiados.

TOUSSAINT- Minha Santa Clara, mão das aflitas.

LAFFITE- Minha Santa Inácia, mãe das chorosas.

TOUSSAINT- Minha Santa Flávia, mãe das desesperadas.

LAFFITE- Essa santa não existe,

TOUSSAINT- Não só existe, como eu sou devota.

JEAN- Calem a boca, vocês dois! Ela está chegando!


LAFFITE- Graças a Deus!

TOUSSAINT-Graças a Deus? Agora é que começa a tempestade!

Cosette entra e se assusta diante da presença do pai.

JEAN- Onde você estava Cosette?

COSETTE- Fui dar um passeio, pai.

JEAN- Eu já lhe disse que suas saídas estão proibidas!

COSETTE- O senhor não pode me proibir de sair! Eu não sou uma prisioneira!

JEAN- Com quem você se encontrou?

COSETTE- Com ninguém, meu pai!

TOUSSAINT- Ela é uma menina muito ajuizada.

JEAN- Não minta pra mim!

LAFFITE- A menina jamais mentiria!

COSETTE- Eu amo Marius!

LAFFITE- Valei-me, meu Santo Augusto!

TOUSSAINT- Eu sabia que ela estava apaixonada!

JEAN- Quem é Marius?

LAFFITE- Quem é Marius?

JEAN- Fora daqui vocês dois!

LAFFITE- Você conhece o Marius?

TOUSSAINT- Claro que não!

Laffite e Toussaint saem.

JEAN- É aquele rapaz com você trocou olhares na praça, não é? É aquele
rapaz que anda te perseguindo, aquele rapaz que é obcecado por você!
Aquele revolucionário!

COSETTE- Ele quer casar comigo.

JEAN- Você não sabe o que é o amor!

COSETTE- Nem o senhor, meu pai!

JEAN- Cale-se , Cosette!

COSETTE- O senhor me prendeu durante anos nessa casa! Como se eu fosse


uma condenada! Por que? O que foi que eu fiz?

JEAN- Você não fez nada!

COSETTE- Então, me deixe sair! Me deixe ficar com ele!

JEAN- Você não vai ficar com ninguém ! Nós estamos indo embora dessa
cidade! (num berro.) Sra. Toussaint! Sra. Toussaint!

Entra a Sra. Toussaint.

SRA. TOUSSAINT- Pois não, meu senhor?

JEAN- Faça as nossas malas! Partiremos imediatamente!

A Sra. Toussaint sai, apressada.

COSETTE- Não! Eu não vou embora!

JEAN- Você não entende, Cosette? Ficar aqui é muito perigoso!

COSETTE- Eu não estou correndo perigo nenhum!

JEAN- Mas eu estou! A condenada aqui não é você! Sou eu! Sou eu!

COSETTE- Mas... O que foi que você fez?

Silêncio. Jean se afasta e olha o vazio. Música.

JEAN- Há vinte anos, eu era miserável. Vagava pelas ruas à procura de


trabalho e vivia muitas privações. Numa noite, eu passei em frente à uma
confeitaria e havia um pão na vitrine. Um único vidro me separava do fim
da minha fome. Eu não consegui pensar direito. Simplesmente quebrei o
vidro e roubei o pão. Fui condenado e cumpri minha pena por vinte anos.
Na cadeia, fiz coisas das quais me arrependo. Eles tiraram a minha
humanidade, tiraram a minha dignidade. Ele tiraram tudo de mim a tal
ponto que eu duvidei que um dia voltaria a conseguir me olhar no espelho...

Jean chora. Cosette se aproxima e abraça o pai.

COSETTE- Pai... Me perdoe...

JEAN- Não. Sou eu que peço seu perdão... Para preservar minha liberdade
eu retirei a sua e isso não é justo, Cosette.

Entra Laffite, aflito.

LAFFITE- Meu senhor! O Inspetor Javert está lá fora. Rápido! Vamos fugir
pelos fundos da casa!

JEAN- Não! Chega de fugir, Laffite. Mande o Inspetor entrar.

COSETTE- Ele te encontrou por minha causa! A culpa é minha!

Entram Javert e dois oficiais.

JAVERT- Desculpe-me a invasão, mas a porta estava aberta, Jean Val Jean.
Na condição de condenado foragido há quase dez anos, o senhor está preso.

JEAN- Inspetor Javert. Deixe-me ao mesmo fazer minhas malas...

JAVERT- Malas? A cadeia o senhor conhece... Lá você só poderá usar o seu


uniforme e sua própria colher de pau. Não há nada que você precise levar
pra lá, prisioneiro 24601.

COSETTE- O senhor não pode levar meu pai!

JAVERT- Seu pai é um foragido, menina. E você está apaixonada por outro
criminoso. Em breve, colocaremos a mão nele também. Então, você poderá
visitar pai e namorado num único dia. Prendam esse homem.

Cosette se coloca à frente de Jean. Confusão.

COSETTE- Não!

JEAN- Cosette!
LAFFITE- Pelo amor de Deus!

JAVERT- Não se metam no caminho das autoridades policiais!

Marius entra, acompanhado de Edmund e Alan, os três armados.

MARIUS- Tire a mão desse homem!

JAVERT- Quem é você?

MARIUS- Marius! Estava com Cosette e vi quando o senhor invadiu essa casa!

JAVERT- Ótimo! Eu também estava procurando por você! Se entregue, e


poderemos atenuar a gravidade da sua condenação!

MARIUS- Quem está em uma situação grave aqui dentro é o senhor, Inspetor
Javert. Somos três homens armados e não temos nada a perder.

LAFFITE- Meu Santo Américo, pai dos baleados.

Tensão. Marius e seus amigos apontam para os oficiais que fazem a


mesma coisa até que um deles coloca a arma no chão.

OFICIAL 1- Eu me entrego.

OFICIAL 2- Eu também.

JAVERT- Covardes.

MARIUS- Me ajudem a amarrar os três!

JAVERT- Sequestrar um policial é um crime gravíssimo!

JEAN- Creio que agora o senhor será julgado por outros tribunais, Inspetor.

Alan e Edmund amarram os oficiais enquanto Jean amarra Javert.


Cosette abraça Marius. Luzes se apagam.

CENA 8- ESCONDERIJO

Música. Luzes se acendem no esconderijo dos revolucionários. Sons


de tiros. Marius, Edmund e Alan se encolhem num canto, para se
proteger dos tiros. Javert está amarrado num canto e Jean olha
pela janela, montando guarda.
ALAN- A maldita Guarda Nacional reprimiu o movimento!

EDMUND- Eles estão em número muito maior do que imaginávamos!

Cosette entra correndo.

COSETTE- Marius! Precisamos de gazes e medicamentos para os feridos!

JEAN- Cosette, volte pra casa!

COSETTE- Nunca! De agora em diante, ficarei ao lado de Marius!

MARIUS- O esconderijo está cercado! Cosette, precisamos proteger as


mulheres e as crianças! Mande todos para os andares mais altos da escola!

COSETTE- Eu vou! Mas prometa que vai me encontrar lá daqui a pouco!

MARIUS- Eu prometo, meu amor!

Novos tiros. Todos se abaixam.

JEAN- Se apresse, Cosette!

Cosette sai. Marius abre um mapa.

MARIUS- Vamos redefinir as estratégias...

EDMUND- Podemos escapar pelas ruas do bairro alto!

ALAN- As ruas estão tomadas!

Novos tiros. Jean olha pela janela.

JEAN - Tem mais um pelotão descendo a rua!

MARIUS- Vamos reorganizar nossas barricadas na entrada da praça central.

EDMUND- A praça central foi tomada hoje de manhã.

MARIUS- Deve haver uma saída!

ALAN- As saídas estão cercadas.


Javert, amarrado, começa a gargalhar.

JAVERT- Eu avisei, seus idiotas! A lei jamais sucumbirá a arruaceiros como


vocês!

ALAN- Cale a sua boca!

EDMUND- Por que ainda não o matamos?

ALAN- Sim! Será um triunfo do movimento! Perdemos a batalha, mas


aniquilamos o grande líder da força policial!

JAVERT- Matem-me de uma vez e nos encontraremos no inferno! A morte de


uma autoridade como eu será punida com o fuzilamento, podem ter certeza
disso!

EDMUND (sacando sua pistola.)- Eu cumpro essa missão com prazer!

Jean se coloca à frente.

JEAN- Um minuto! Todos estão de acordo que, obviamente, essa missão


deve ser minha.

MARIUS- Ótimo! Mate esse canalha, Jean Val Jean! Mas mate lá fora, pra
que seu sangue não emporcalhe nossa casa!

Jean pega Javert e o retira do esconderijo. Marius, Alan e Edmund


seguem traçando estratégias para o movimento.

CENA 9- BECO

Beco representado num canto do palco. Jean conduz Javert e tira


uma faca do bolso. Tensão.

JAVERT- Uma faca! Isso combina melhor com você.

JEAN- Vire-se.

JAVERT- Uma facada pelas costas. Não quer olhar nos meu olhos enquanto a
vida me abandona por sua causa, covarde!

Jean corta as cordas. Javert se vira.

JAVERT- O que significa isso?


JEAN- Eu não vou matá-lo. Pelo contrário. Eu vou deixá-lo fugir.

JAVERT- Não pense que deixarei de persegui-lo por te dever esse favor,
Jean Val Jean.

JEAN- Vá embora, Javert!

JAVERT- Você deveria me matar.

JEAN- Vá embora!

JAVERT- Por favor, me mate. Vamos! Me mate agora!

JEAN- Eu tenho pena de você, Javert... Agora vá. Se os outros colocarem as


mãos em você, não terão a mesma piedade.

Sons de tiros e correria. Javert sai por um lado, Jean pelo outro.
Tiros no escuro.

CENA 10- ESCONDERIJO

Luzes se acendem no esconderijo. Marius e Edmund estão caídos.


Entra Jean.

JEAN- O que aconteceu?

ALAN- Os guardas cercaram o esconderijo! Marius e Edmund foram


baleados!

Jean acode os feridos.

JEAN- Edmund está morto, mas Marius ainda respira!

ALAN- Eu quero morrer também! Pela República!

JEAN- Antes, me ajude a escapar! Vamos fugir pelos esgotos até o Rio Sena!
Ajude-me a carregá-lo! Rápido!

Jean e Alan carregam Marius pra fora da cena. Música.

CENA 11- CASA DE LAMERT


Luzes se acendem na casa de Jean. Ele entra, carregando Marius.
Cosette, Laffite e Sra. Toussaint vêm ao encontro dos dois.
LAFFITE- Minha Santa Benária, o que aconteceu?

JEAN- Ele vai viver! Onde está Cosette?

Cosette entra correndo e vai amparar Marius.

COSETTE- Estou aqui! Alan me avisou do que aconteceu! Marius! Marius!

JEAN- Sra. Toussaint, vá chamar um médico. Laffite, traga toalhas!

LAFFITE- Meu santo Onofre!

Laffite e a Sra. Toussaint saem.

COSETTE- Marius!

MARIUS- Seu pai me salvou, Cosette...

JEAN- Eu salvei você, Cosette. Sei que você não conseguiria suportar a dor
da ausência de Marius.

LAFFITE- Senhor! Uma tropa lá fora se aproxima da casa!

JEAN- Eu sei. Eles estão atrás de mim. É hora, finalmente. Eu vou me


entregar.

COSETTE- Pai! Não! Fuja!

JEAN- A minha fuga será o seu inferno. Eles irão interrogá-la, eles podem
querer torturá-la. Eles não tem nenhum limite e nenhum escrúpulo.

COSETTE- Vamos fugir todos juntos. Laffite, prepare a carruagem! Vamos


colocar Marius lá dentro.

JEAN- É tarde. Além disso, Marius não aguentaria uma fuga como essa.

COSETTE- Eu não posso deixar que eles te prendam, pai!

Jean se aproxima da filha. Música.

JEAN- Cosette. Esse é o momento da nossa despedida.

COSETTE- Não...
Jean tira do bolso um colar.

JEAN- (estendendo um colar.) Isso aqui pertenceu à sua mãe. Ele era
uma boa mulher e se eu tivesse olhos para seu sofrimento, eu poderia tê-la
salvo. Mas eu fui egoísta com ela e fui egoísta com você também, Cosette...
Mas agora creio que minha dívida está paga. Cuide de Marius e tenha uma
boa vida. Eu tenho que ir. Prometa que será feliz...

COSETTE- Não desse jeito, papai...

JEAN- Eu cometi um crime. Roubei algo muito mais valioso do que aquele
pão. Eu roubei sua felicidade, Cosette... E não me importo em pagar.
Minha prisão é sua liberdade. Fique com Marius. Ele é a sua vida agora.

Pai e filha se abraçam. Jean sai. Laffite chora.

LAFFITE- Meu nobre, bom e gentil patrão.

Luzes se apagam. Música.

CENA 12 – RUA DE PARIS

Em dois focos de luz, Jean e Javert se encontram.

JEAN- Estou pronto para acompanhá-lo, Inspetor...

JAVERT-Por que você não me matou?

JEAN- Não tenho o direito de matá-lo. Ninguém tem o direito de matar


ninguém...

JAVERT- Estive a serviço da lei durante toda a minha carreira e agora, devo
a minha vida a um malfeitor. Eu tenho horror de pensar em retribuir esse
favor, mas não posso esquecer que você me poupou da morte. Vivo,
portanto um dilema nesse momento, Jean Val Jean. Prender você será uma
ingratidão. Deixá-lo livre será uma traição diante do meu dever como
policial. Eu sempre fui inflexível no cumprimento do meu dever e nunca,
nunca infringi uma única lei. Mas você foi bom e generoso. Por que? Por que
você fez isso se você me odeia?

JEAN- Eu não te odeio. Eu não sinto nada.

JAVERT- Não sente nada? E o medo? Por acaso não sente medo de voltar
para a cadeia? (Num grito.) Responda! Você quer voltar para a prisão?

JEAN (após um silêncio.)- Não.

JAVERT- Finalmente um pedido de clemência. Pois muito bem... Você está


livre, 24601. E eu, estou condenado para sempre.

Javert saí e Jean fica sozinho. Livre, finalmente. Música.

CENA FINAL- CASA DE LAMERT

Em cena Laffite, Marius, Cosette, Toussaint, Antoine e Alan. Todos


estão em volta de Marius.

ALAN- Como você está, meu amigo?

MARIUS- Me recuperando dos ferimentos, mas ainda sofrendo pela morte de


nossos companheiros.

ALAN- Temos que agradecer por estarmos vivos.

MARIUS- E temos que honrar nossos mortos persistindo em nossa luta.

ALAN- E seu pai, Cosette?

LAFITTE-Infelizmente acreditamos que nunca mais iremos vê-lo...

COSETTE- Meu pai é o homem mais corajoso que conheci e não merece a
sorte que o destino lhe reservou. Por isso, eu e Marius decidimos: vamos até
a cadeia resgatá-lo!

LAFFITE- Minha Santa Abelarda!

MARIUS- Cosette tem razão! Jean Val Jean é um herói para o nosso
movimento e a nossa organização não descansará enquanto não o trouxer de
volta às nossas trincheiras!

ALAN- Será necessária uma operação planejada! Podemos armar nossos


companheiros e invadir a prisão!

MARIUS- Em breve, iremos! O desejo por libertar Jean Val Jean irá reerguer
nosso movimento!

Jean entra.
JEAN- Pois então, o Movimento que arrume nova missão, já que estou livre!

COSETTE- Pai!

LAFFITE- Meu patrão!

SRA. TOUSSAINT- Senhor Lamert!

JEAN- Meu nome é Jean Val Jean, Sra. Toussaint.

COSETTE- Você voltou! Você voltou, meu pai!

Cosette abraça o pai. Todos cercam Jean Val Jean. Música.

JEAN (em meio à lagrimas de alegria.)- E vou ficar com vocês.


Ficaremos juntos. Lutaremos juntos. E vamos nos amar sempre, uns aos
outros. É o melhor que podemos dar e receber neste mundo: o amor.
Venham meus queridos!

Todos abraçam Jean e celebram sua liberdade na música final, e


congelam ao fim da canção. Laffite se aproxima do proscênio.

LAFFITE- Esse final não está no livro. Criamos outro, porque gostamos de
finais felizes. Quem não gosta? Estava nas mãos desse grupo de alunos
escolher o melhor fim possível. Escolhemos esse. Quanto à vocês, publico
distinto, distinta plateia, eu desejo profundamente: façam a mesma coisa.

Laffite agradece e as luzes se apagam definitivamente.

FIM

Leonardo Cortez
São Paulo, 18 de fevereiro de 2018

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