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TEORIAS DE APRENDIZAGEM APLICADAS AO E-LEARNING:

UMA ABORDAGEM DA TEORIA COGNITIVA DE APRENDIZAGEM MULTIMÍDIA


LEARNING THEORIES APPLIED IN E-LEARNING:
AN APPROACH TO COGNITIVE THEORY OF MULTIMEDIA LEARNING

Grupo Temático 2. Conteúdos educacionais – da produção à exibição


Subgrupo 2.1 Produção de materiais didáticos: diferentes mídias, diferentes olhares

Luiz Fernando Gomes Pinto, luizfgpinto@gmail.com

Resumo:
O objetivo deste estudo é apresentar as principais teorias de aprendizagem, com
enfoque para as teorias de aprendizagem multimídia, em especial a teoria cognitiva de
aprendizagem multimídia, assim como as teorias e modelos de instrução. As teorias de
aprendizagem multimídia ganharam destaque com o aumento da importância da
modalidade de e-learning, na qual o processo de ensino e aprendizagem se dá
especificamente por meio de mídia eletrônica. A adequação das teorias de
aprendizagem aos ambientes virtuais de aprendizagem é de grande relevância para
permitir a utilização eficaz dos novos recursos de textos e imagens criados a partir da
evolução das TICs. A elaboração deste estudo baseou-se em uma pesquisa bibliográfica
contemplando os principais autores sobre o tema, em especial Richard Mayer, e almeja
poder contribuir para o aperfeiçoamento da produção de recursos didáticos multimídia.
Palavras-chave: aprendizagem, aprendizagem multimídia, modelos de instrução.

Abstract:
This study aims to introduce the main learning theories, focusing on theories of
multimedia learning, especially the cognitive theory of multimedia learning, as well as
theories and models of instruction. Theories of multimedia learning gained notability
with the increasing importance of e-learning, in which the teaching and learning process
takes place specifically through electronic media. The adequacy of learning theories to
virtual learning environments is significatively relevant to allow the effective use of new
resources of texts and images thanks to the evolution of the of ICTs. The development of
this study was based on a bibliographic research based on the main authors on the
subject, especially Richard Mayer, and aims to contribute to the improvement of the
production of multimedia didactic resources.
Keywords: learning, multimedia learning, instructional models.

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1. Introdução.
Há diversas teorias que balizam os estudos em relação a aprendizagem, as quais
propõem uma tentativa sistemática de interpretação, organização e previsão de como
ocorre a aprendizagem. Dentre as teorias de aprendizagem, destacam-se o
comportamentalismo, o cognitivismo e o construtivismo. A abordagem comportamentalista
ou behaviorismo, tem como ideia central que a aprendizagem ocorre como uma mudança
comportamental e enfatiza os aspectos mentais, como o conhecimento e o pensamento. O
processo de ensino e aprendizagem desta abordagem ocorre por meio de reforços,
recompensas e treinamento contínuo (SILVA; MALUSÁ; SANTOS, 2017). Na abordagem
cognitivista, a aprendizagem é construída a partir das interações com informações já
adquiridas anteriormente, que ao serem representadas em novos estágios e em diferentes
níveis de profundidades, se adequam a capacidade de compreensão do indivíduo e vão
gradativamente se tornando mais complexas, na medida que o aluno passa a construir novas
concepções e modelos (AUSUBEL, 2000; SILVA; MALUSÁ; SANTOS, 2017). O construtivismo,
por sua vez, é representado por duas importantes referências, Jean Piaget e Vygotsky, que
consideram que a aprendizagem decorre da interação do indivíduo com seu meio social.
(SILVA; MALUSÁ; SANTOS, 2017).
Com a evolução tecnológica, intensificaram-se os estudos sobre teorias de
aprendizagem multimídias voltados para o ensino a distância, em especial para o e-learning,
modalidade de ensino a distância na qual o processo de ensino e aprendizagem se dá
especificamente por meio de mídia eletrônica. O foco das teorias de aprendizagem
multimídia está voltado para a forma como as pessoas aprendem a partir de palavras e
imagens, recursos largamente utilizados no e-learning. Um de seus pressupostos é que os
indivíduos possuem canais distintos para processar recursos verbais e visuais, sendo que
cada um desses canais só consegue processar uma pequena quantidade de dados por vez
(MAYER, 2009).
As teorias de aprendizagem multimídias podem ser posicionadas em três diferentes
níveis. No nível básico, estão as teorias psicológicas que descrevem os sistemas da memória
e os processos cognitivos que explicam a forma como as pessoas processam diferentes tipos
de informação e aprendem através de diferentes sentidos. Em um segundo nível, aborda as
teorias de design de mensagens educativas que identificam os princípios multimídia e
fornecem parâmetros para a criação de mensagens multimídia, com destaque para a teoria
cognitiva de aprendizagem multimídia. No terceiro nível, encontram-se as teorias e modelos
para o desenho de cursos e disciplinas, que definem a forma como devem ser desenvolvidos
programas educacionais com diferentes recursos (textos, imagens, narrações, materiais
práticos e sistemas em rede), com destaque para o modelo de design educacional de quatro
componentes (MERRIËNBOER; KESTER, 2009).
Os modelos de instrução ou Instructional Design (ID), por sua vez, consistem em um 2
processo sistemático usado para desenvolver programas educativos e profissionais de um
modo consistente e confiável, principalmente em ambientes de aprendizagem virtuais
(MIRANDA, 2009). Diferentemente das teorias de aprendizagem, que têm um enfoque mais
descritivo e explicativo, as teorias da instrução são mais prescritivas e normativas.
Prescritivas porque expõem regras em relação ao modo mais eficaz de alcançar
conhecimentos e normativas porque formulam critérios e condições para os satisfazer.
Nas próximas seções serão abordados os três níveis das teorias de aprendizagem. Os
níveis um e dois são contemplados conjuntamente na próxima seção, ou seja, as teorias
psicológicas que descrevem os sistemas da memória e os processos cognitivos são
associadas a teoria cognitiva de aprendizagem multimidia. O terceiro nível é apresentado na
seção subsequente, abordando as teorias e modelos de instrução.

2. Revisão da literatura.

2.1. Teoria Cognitiva de Aprendizagem Multimídia.


A teoria cognitiva de aprendizagem multimídia contempla os processos mentais dos
estudantes sob a perspectiva dos recursos didáticos multimídia, isto é, de materiais como
palavras (texto falado ou escrito) e informações gráficas ou figuras (gráficos, fotos,
animações, mapas, etc.). Essa teoria de aprendizagem parte do desenvolvimento de recursos
multimídia para aperfeiçoar os conteúdos ou mensagens abordadas. Uma hipótese
fundamental associada a essa teoria é a de que as mensagens educacionais multimídia
(palavras e imagens), concebidas a partir da forma como a mente humana funciona, tem
mais probabilidade de proporcionar uma aprendizagem significativa ao aluno (MAYER, 2009;
MAYER, 2005).
A teoria baseia-se em três pressupostos: dos canais duplos, da capacidade limitada e
do processamento ativo. O primeiro pressuposto estabelece que os seres humanos têm
canais distintos para o processamento de informações visuais e auditivas. Este pressuposto
postula que o sistema de processamento de informação dos seres humanos tem um canal
auditivo/verbal e um canal visual/pictórico (imagens). Ou seja, quando a informação é
apresentada aos olhos ela é processada inicialmente no canal visual e quando é apresenta
aos ouvidos é processada no canal auditivo. Apesar da informação entrar no sistema de
informação humano através de um canal específico, é possível que a representação possa
ser convertida de tal forma que possa ser processada no outro canal, processo denominado
de representações cruzadas. Por exemplo, a narração de um evento associado a imagens da
natureza pode ser processada inicialmente no canal auditivo, mas o aluno pode formar uma
imagem mental que é processada no canal visual (MAYER, 2009; MAYER, 2005).
O pressuposto da capacidade limitada implica que os seres humanos possuem uma
limitação quanto a quantidade de informações que podem ser processadas
simultaneamente em cada canal. A limitação está relacionada aos três tipos de memória
associadas a aprendizagem multimídia: memória sensorial, memória de trabalho e a
memória de longo prazo. Conforme pode ser observado na Figura 1, a memória sensorial é a
que retém, por um breve período, imagens e texto impresso recebido pelos olhos sob a
forma de imagens visuais, assim como palavras e outros sons recebidos pelos ouvidos sob a 3
forma de imagens auditivas. A memória de trabalho caracteriza-se por uma capacidade
limitada e possui uma tarefa central na aprendizagem multimídia, de reter temporariamente
os conhecimentos e manipulá-los na memória ativa. A memória de longo prazo corresponde
ao local onde se encontram armazenados os conhecimentos das pessoas. Ao contrário da
memória de trabalho, a memória de longo prazo consegue reter grandes quantidades de
conhecimentos por longos períodos. Porém, para utilizar tais conhecimentos acumulados é
necessário trazê-los para a memória de trabalho, o que ocorre por meio da integração dos
conhecimentos armazenados na memória de longo prazo aos novos conhecimentos
presentes na memória de trabalho (MAYER, 2009; MAYER, 2005).

Figura 1: Teoria Cognitiva de Aprendizagem Multimídia


Fonte: Adaptado de Mayer (2005, p. 37)

O processamento ativo, por sua vez, está relacionado a participação ativa das
pessoas no processamento cognitivo para construir uma representação mental coerente das
suas experiências. Há três processos essenciais associados a aprendizagem ativa: seleção do
material relevante, organização do material selecionado e integração dos materiais
selecionados com os conhecimentos existentes. Em outras palavras, as pessoas prestam
atenção a informações relevantes, organizam a informação selecionada em representações
mentais coerentes na memória de trabalho e integram as representações mentais com
outros conhecimentos existentes na memória de longo prazo (MAYER, 2009; MAYER, 2005).
Com base nos três pressupostos da teoria cognitiva de aprendizagem multimídia,
para se obter uma aprendizagem significativa em um ambiente multimídia o aluno deve
proceder a cinco processos cognitivos: (1) selecionar palavras relevantes ao serem
processadas na memória de trabalho verbal; (2) selecionar as imagens relevantes ao serem
processadas na memória de trabalho visual; (3) organizar as palavras selecionadas em um
modelo verbal; (4) organizar as imagens selecionadas num modelo pictórico (imagens); e (5)
integrar as representações verbais e pictóricas entre si e com os conhecimentos existentes
na memória de longo prazo. A seleção de apenas uma parte da mensagem apresentada se
dá em razão da capacidade limitada de cada canal no sistema cognitivo, isto é, dos alunos
não terem a capacidade para estabelecer todas as ligações possíveis em sua memória de
trabalho e, por isso, necessitarem construir uma estrutura simples que faça sentido,
usualmente uma relação de causa e efeito entre as informações obtidas (MAYER, 2009;
MAYER, 2005). 4

Na próxima seção será abordado as teorias de instrução, mais especificamente o


Modelo de Design Instrucional de Quatro Componentes (4C-ID). Diferentemente das teorias
de aprendizagem, os modelos de instrução valorizam mais os processos do que a avaliação
dos resultados, assim como preocupam-se mais em melhorar ou otimizar a aprendizagem do
que descrevê-la (MIRANDA, 2009).
2.2. Teorias e modelos de instrução.
As teorias e modelos de instrução ou Instructional Design (ID) abordam a construção,
a organização e a sequenciação de atividades visando melhorar a aprendizagem.
Os processos instrutivos são compostos por cinco fases: Análise, Planejamento,
Desenvolvimento, Implementação e Avaliação. Na fase de análise são avaliadas as
necessidades de formação, diagnóstico de capacidades e conhecimentos, ou seja, é avaliado
o que os estudantes já sabem, para então planejar o processo instrutivo. A fase de
planejamento consiste na concepção e formulação dos objetivos de aprendizagem, que
descreve as atividades que permitem aos alunos alcançarem os objetivos de aprendizagem,
assim como os meios a serem usados. Na fase de desenvolvimento ocorre a construção dos
materiais ou reuso de recursos já existentes e o desenvolvimento dos materiais para os
professores e alunos. Na implementação coloca-se em prática o que foi planejado e
desenvolvido para se atingir os objetivos formulados. E, por fim, na avaliação elabora-se a
avaliação formativa e somativa para revisão e melhoria do sistema instrutivo (MIRANDA,
2009).
Um modelo de design instrucional que merece destaque é o modelo de quatro
componentes (4C-ID), direcionado para ambientes de aprendizagens complexas. Segundo
esse modelo, as tarefas baseadas na realidade são o principal componente de um ambiente
de aprendizagem complexo, compreendendo a integração de conhecimentos, competências
e atitudes, assim como à capacidade de coordenar diferentes competências em termos
qualitativos (MERRIËNBOER; KESTER, 2009).
De acordo com o modelo 4C-ID, um ambiente de aprendizagem complexo deve
contemplar quatro componentes: (1) tarefas de aprendizagem; (2) informação de apoio; (3)
informação processual; e (4) prática nas tarefas. As tarefas de aprendizagem devem
proporcionar experiências significativas baseadas em tarefas da vida real, enquanto a
informação de apoio serve de apoio a aprendizagem e ao desempenho de tarefas de
resolução de problemas e raciocínio inerentes à aprendizagem. A informação processual
constitui um requisito prévio para a aprendizagem e a realização de tarefas de rotina da
aprendizagem, ou seja, são informações específicas sobre a forma como determinada rotina
deve ser executada. A prática nas tarefas, por sua vez, contempla exercícios adicionais
centrados em aspectos da rotina das tarefas de aprendizagem que requerem um nível de
automaticidade muito elevado após a instrução (MERRIËNBOER; KESTER, 2009).
É importante concluir destacando-se que é fundamental a associação das teorias de
aprendizagem com as teorias de instrução. Para que o modelo 4C-ID possa fornecer linhas
de orientação efetivas para o desenho de ambientes multimídia de aprendizagem complexa,
é importante que tenha coerência com uma teoria da aprendizagem ou com uma teoria do
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desenvolvimento cognitivo, caso contrário, as prescrições e normas podem ficar sem
significado (MIRANDA, 2009).
3. Considerações finais.
A revisão bibliográfica permite verificar que as terias de aprendizagem
acompanharam as evoluções tecnológicas, como pode ser observado na teoria cognitiva de
aprendizagem multimídia, que contempla os processos mentais dos estudantes sob a
perspectiva dos recursos didáticos multimídia. Porém, é importante considerar que as novas
teorias tomam como base as teorias clássicas de aprendizagem. Por exemplo, as teorias de
aprendizagem multimídias apresentam aspectos comuns com as teorias cognitivas, visto que
ambas contemplam os processos mentais dos alunos.
As teorias e os respectivos princípios apresentados neste estudo podem contribuir
para o aperfeiçoamento da produção de recursos didáticos multimídia. É importante,
entretanto, ampliar este estudo considerando conhecimentos complementares, como as
metodologias ativas, que podem contribuir para uma maior efetividade do processo de
ensino e aprendizagem em mídias eletrônicas.

Referências bibliográficas.
AMORIM, Ana Amélia Carvalho. Multimédia: um conceito em evolução. Revista Portuguesa
de Educação, v. 15, n. 1, p. 245-268, 2002.
AUSUBEL, D. Aquisição e retenção de conhecimentos: uma perspectiva cognitiva. Lisboa:
Plátano Edições Técnicas, 2000.
MAYER, Richard E. Cognitive theory of multimedia learning. In: MAYER, Richard E. Cognitive
theory of multimedia learning. The Cambridge handbook of multimedia learning, v. 3148,
2005.
MAYER, Ricahrd E. Concepção de Conteúdos e Cursos Online. In: MIRANDA, Guilhermina
Lobato et al. Teoria cognitiva da aprendizagem multimédia. 1. ed. Lisboa: Relógio d'Água
Editores, 2009. cap. 3, p. 207-237.
MERRIËNBOER, Jeroen J. G. van; KESTER, Liesbeth. Modelo de design educacional de quatro
componentes: princípios multimédia em ambientes de aprendizagem complexa. In:
MIRANDA, Guilhermina Lobato et al. Ensino online e aprendizagem multimédia. 1. ed.
Lisboa: Relógio d'Água Editores, 2009. cap. 9, p. 286-326.
MIRANDA, Guilhermina Lobato. Concepção de Conteúdos e Cursos Online. In: MIRANDA,
Guilhermina Lobato et al. Ensino online e aprendizagem multimédia. 1. ed. Lisboa: Relógio
d'Água Editores, 2009. cap. 3, p. 81-110.
SILVA, Adriene Stéfane; MALUSÁ, Silvana; SANTOS, Adriana Omena. Teorias da
Aprendizagem na EaD: abrindo a caixa de Pandora. 2017.
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SILVA, Edna Lúcia da; MENEZES, Estera Muszkat. Metodologia da pesquisa e elaboração de
dissertação. 4. ed. Florianópolis: UFSC, 2005.

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