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O PAPEL DO LUDICO NO PROCESSO PEDAGÓGICO

Através de uma brincadeira de criança, podemos compreender como ela vê e constrói o


mundo, o que ela gostaria que ele fosse, quais suas inquietações e que problemas a estão
acompanhando. Pela brincadeira, ela expressa o que teria dificuldade de colocar em palavras.
Nenhuma criança brinca só para passar o tempo, sua escolha é motivada por processos
íntimos, desejos, problemas, ansiedades. O que está acontecendo com a mente da criança
determina suas atividades lúdicas; brincar é sua linguagem secreta, que devemos respeitar
mesmo se não a entendemos (BETTELHEIM, citado por ZACHARIAS, 2008, p. 04)

Desde os mais remotos tempos, em qualquer cultura, sempre esteve presente a brincadeira,
sendo indispensável para a saúde física, emocional e intelectual de qualquer
indivíduo. A brincadeira, além de proporcionar prazer e diversão, representa um desafio e
provoca o pensamento reflexivo da criança.

Segundo Piaget (1967), “o jogo não pode ser visto apenas como divertimento ou brincadeira
para desgastar energia, pois ele favorece o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e moral”.
Desta proposição podemos inferir que “brincadeira é coisa séria”, ou seja, demanda
planejamento e conhecimento daquilo que se está planejando para alcançar o
desenvolvimento esperado.

A criança gosta de brincar. Na brincadeira ela solta a sua imaginação e seus sentimentos. É
papel da escola garantir espaços para atividades lúdicas, onde o aluno tenha liberdade de “faz-
de-conta”, visto que a utilização de brincadeiras e jogos no processo pedagógico podem
garantir o conhecimento dos conteúdos que devem ser atingidos.

Macedo, Petty e Passos (2005) ponderam que brincar é indispensável para o nosso
aprendizado. É a principal atividade das crianças quando não se encontram aplicadas às suas
necessidades de sobrevivência (repouso, alimentação, etc.). Segundo os autores, brincar é
envolvente, interessante e informativo. Envolvente porque coloca a criança em um contexto
de interação em que suas atividades físicas e fantasiosas, bem como os objetos que servem de
projeção ou suporte delas, fazem parte de um mesmo contínuo topológico. Interessante
porque canaliza, orienta, organiza as energias da criança, dando-lhes forma de atividade ou
ocupação. Informativo porque, nesse contexto, ela pode aprender sobre as características dos
objetos, os conteúdos pensados ou imaginados (MACEDO; PETTY; PASSOS, 2005, p. 13-14).
De acordo com Kishimoto (1999), se as crianças não tiverem a liberdade para se expressar e
usar a criatividade, dificilmente poderão desenvolver sua autonomia e personalidade própria,
pois estarão presas às regras e exceções, que limitarão sua capacidade de criar. Para a autora,
“portadora de uma especificidade que se expressa pelo ato lúdico, a infância carrega consigo
as brincadeiras que se perpetuam e se renovam a cada geração” (KISHIMOTO, 1999, p. 11).

Pelos jogos, pelas brincadeiras, as crianças exploram os objetos que as cercam, melhoram a
sua agilidade física, experimentam os seus sentimentos e desenvolvem seu intelecto. Algumas
vezes preferem brincar sozinhas, outras na companhia de amigos, onde desenvolvem
também o comportamento em grupo.

A criança, ao brincar, avança para novas etapas de domínio do mundo que a cerca. Também a
autoestima tem seu início na infância em processos de interação social, que são amplamente
proporcionados pelo brincar.

No lúdico, os jogos, brinquedos e divertimentos representam um papel de construtores do


conhecimento, criando possibilidades ao aluno no sentido mental, corporal, afetivo e social
(PIAGET, 1967).

Autores como Vygotsky (1979) conceituam o jogo como uma atividade de busca. De acordo
com o autor, a criança apresenta-se permanentemente em busca de alguma coisa nova. Assim,
uma vez que conquista seu propósito, regressa a uma ininterrupta busca por outra novidade.

O lúdico é uma necessidade inerente ao ser humano e através do qual se pode construir uma
aprendizagem significativa, onde o educando desenvolve o interesse pelas atividades
propostas. Num ambiente onde há a ludicidade e o bom humor, se estabelece um clima
harmônico, onde a confiança em si mesmo e as tentativas de acerto se intensificam.

A atenção mantida pelos alunos em sala de aula está diretamente relacionada a seus
interesses. Quando há a liberdade de sonhar, de imaginar, de brincar de faz-de-conta,
certamente haverá um aproveitamento melhor da aula, tanto por parte do educador quanto
do educando.

A brincadeira amplia os horizontes, aguça a curiosidade, a confiança, a participação na


resolução de problemas, necessário para a apropriação do mundo, da cultura e por causar
prazer, a aprendizagem se realiza. A qualidade de oportunidades oferecidas à criança
por meio de brincadeiras e brinquedos garante que suas potencialidades e sua
afetividade se harmonizem. Na brincadeira, manifestam-se suas habilidades e o professor,
observando-as, pode enriquecer sua aprendizagem, fornecendo intervenções adequadas no
momento certo.
Educar ludicamente não é jogar lições empacotadas para o educando “engolir”. Educar deve
ser um ato consciente e planejado, é seduzir o individuo para o prazer de conhecer
(BEYER e MANESTRINA, 2006, p.187).

Quando propõe uma atividade lúdica, além dos objetivos cognitivos a serem alcançados,
o educador espera que os alunos sejam capazes de respeitar limites; socializar; criar e
explorar a criatividade; interagir; aprender a aprender. Desta forma, a atividade lúdica
deve responder aos interesses específicos de sua turma; dar oportunidades para os alunos a
transformarem, permitindo a sua participação ativa; possibilitar uma avaliação da atuação das
crianças durante a atividade e uma relação com os conteúdos escolares (HAETINGER e
HAETINGER, 2006, p. 8)

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