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USO DO LÚDICO NO DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICO

Segundo Nogueira (2012) quando se trabalha com criança é indispensável haver um espaço e
tempo para a criança brincar e assim melhorar se comunicar e se revelar. A técnica do jogo em
psicanalise foi elaborada por M. Klein, Anna Freud e outros, que aprofundam o simbolismo
inconsciente do jogo. J. Piaget, fala sobre a construção do pensamento e da sociabilidade, e
mostra a elaboração do jogo em diferentes idades. Winnicott, possibilita uma compreensão
mais integradora do brincar da aprendizagem. Assim resume seu pensamento: È no brincar , e
somente no brincar, que o individuo , criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua
personalidade integral: e é somente sendo criativo que o individuo descobre o eu (self) ( 1975,
p.80) No brincar, a criança constrói um espaço de experimentação, de transição entre o
mundo interno e o externo. Nesse espaço transacional: criança – outro, individuo – meio, dá-
se a aprendizagem, o processo lúdico é fundamental no trabalho psicopedagógico (NOGUEIRA,
2012). No diagnostico, o uso do lúdico é mais uma possibilidade de se compreender,
basicamente, o funcionamento dos processos cognitivos e afetivos – sociais em suas
interferências mutuas, no modelo de aprendizagem do paciente. A utilização do
ludodiagnóstico já é muito comum na clínica infantil (NOGUEIRA, 2012). Com crianças de até 7
anos, conduzir o diagnóstico de forma lúdica, quando algo importante surgir podese fazer
intervenções facilitando a comunicação. Com crianças de até 10-11 anos utilizar jogos de modo
flexível, proporcionando espaços lúdicos nas diferentes sessões. Com adolescente eles
apreciam os jogos de regras, em que podem brincar e medir forças com o terapeuta. São
indicados jogos de raciocínio, atenção, antecipação de situação, utilizando o jogo no meio da
sessão ou no final da sessão (NOGUEIRA, 2012). Segundo Nogueira (2012) a sessão lúdica
diagnostica distingue-se da terapeuta, porque nessa o processo de brincar ocorre
espontaneamente, enquanto que na diagnostica há limites definidos. Na diagnostica podem
ser 29 feitas intervenções provocadoras e limitadoras para se observar a reação da criança, se
aceita ou não propostas, como resiste a frustração, como elabora desafios e mudanças
propostas na situação.

A CAIXA DE TRABALHO, OU CAIXA LÚDICA A caixa de trabalho, idealizada por Visca (1987)
como uma forma de trabalhar com as dificuldades psicopedagógicas, foi inspirada na
psicanálise de crianças, mais precisamente na caixa individual utilizada por terapeutas e
analistas. Segundo Barbosa, citado por Pinel e Colodete ([20--]), no trabalho psicanalítico com
crianças a caixa “é composta por brinquedos e materiais escolhidos para representarem o
mundo interno da criança, suas fantasias inconscientes frente ao mundo” etc. Segundo os
mesmos autores, no caso da psicopedagogia clínica, a caixa irá conter “materiais que
possibilitem a vivência do aprender para a criança ou para o adolescente”, ou seja, no lugar do
inconsciente, trabalharemos as questões mais voltadas à aprendizagem. Por ser inspirada na
caixa individual, a caixa de trabalho está longe de ser um simples receptáculo de materiais e de
produções da criança, como acreditam alguns psicopedagogos. Pinel e Colodete ([20--], p. 5)
afirmam que “os objetos a serem colocados na Caixa de Trabalho serão objetos que
representarão estes aspectos do seu mundo interno [da criança] ou que receberão projeções
para que passem a representá-los”. Assim, serão colocados objetos de uso individual na caixa
sugeridos pelo psicopedagogo, tais como: papéis, lápis, borracha, apontador, caneta hidrocor,
cola, jogos, lápis de cor etc.; mas também serão guardadas as produções da criança durante o
tratamento, tais como: desenhos, pinturas, textos etc. Os autores esclarecem que, conforme a
necessidade apontada pela avaliação diagnóstica clínica, a lista de materiais pode ser ampliada
ao longo do acompanhamento (Pinel; Colodete, [20--]). Weiss (2004) alerta para a importância
de o material ser oferecido à criança em sua versão mais simples, evitando coisas muito
atraentes ou “importadas”, pois, segundo ela, é necessário que a caixa “não se caracterize
como uma ‘boutique de brinquedos’, competindo com os pais em matéria de atrativos”, já que
“o excesso de atrativos [...] desvia do objetivo da atividade, transformando a sessão num
‘passeio à Disneyworld’ e não num momento de aprender a aprender” (p. 152). Além das
sessões realizadas de acordo com a metodologia da epistemologia convergente de Jorge Visca
estudadas anteriormente, podemos citar mais algumas técnicas complementares para a coleta
de dados que ajudam na elaboração das HIPÓTESES DIAGNÓSTICAS ao longo do processo de
análise clínica.

A OBSERVAÇÃO LÚDICA O mundo infantil é permeado pelo lúdico e pela fantasia. É por meio
das brincadeiras, dos jogos, das imitações e das representações que a criança vai aprendendo
a se comunicar e a conviver socialmente. Assim, podemos afirmar que “é no brincar, e
somente no brincar, que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo 30 e utilizar sua
personalidade integral: e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu (self)”
(Winnicott, 1975, p. 80). Dessa forma, a observação lúdica deve ser um momento de
descontração, que proporcione prazer à criança e que não tenha, como a Eoca, um olhar
diretamente voltado para as questões de aprendizagem escolar. Isso certamente
proporcionará à criança um momento mais tranquilo e agradável, no qual ela não se sinta
“julgada” e analisada em seus “pontos fracos” e possa agir livremente, manipulando os
materiais e “conduzindo” a sessão com certa autonomia. Isso facilita a formação de um vínculo
positivo entre o psicopedagogo e a criança, diminuindo as possíveis resistên-cias desta em
relação à avaliação. Podem ser utilizados na observação lúdica jogos como dominó, Imagem &
Ação, jogo da memória, quebra-cabeças, pega-varetas, resta um, LEGO®, assim como jogos de
computador (a depender da idade e do nível socioeconômico da criança). É importante ressal-
tarmos que o uso dos jogos no processo na clínica psicopedagógica não possui apenas uma
função lúdica, já que “o jogo propicia a diversão, o prazer e até o desprazer quando escolhido
voluntariamente” (Kishimoto, 1994, p. 19), mas tem também uma FUNÇÃO EDUCATIVA, pois
“o jogo ensina qualquer coisa que complete o indivíduo em seu saber, seus conhecimentos e
sua apreensão do mundo” (Campagne, citado por Kishimoto, 1994, p. 19). Além dos jogos,
podem ser utilizados materiais como sucata – embalagens vazias, vidros, arame, papelão,
carretéis, retalhos, rolhas etc. (material muito utilizado em sessões de arte-terapia) – argila,
massas plásticas, tintas diversas – guache, tinta para pano, etc. – material de carpintaria –
madeira, cola, taxinhas, preguinhos, ferramentas etc. – fantoches, dedoches, miniaturas etc.
Cabe considerarmos ainda que será relevante para as análises e observações lúdicas o
desenvolvimento da capacidade criativa da criança na resolução de problemas, bem como a
motivação, a criatividade, além de requisitos como a imaginação e a compreensão das regras
dos jogos, a sequência lógica (início, meio e fim), assim como o envolvimento nas atividades
durante todo o processo de avaliação psicopedagógica clínica. Além disso, é importante
estarmos atentos às representações e imitações de aspectos familiares, escolares e sociais que
a criança deixa vir à tona durante a sessão lúdica, pois, muitas vezes, esses são momentos
riquíssimos para obtermos informações valiosas sobre a criança, além de podermos ser uma
etapa decisiva para a confirmação ou não de hipóteses diagnósticas. Dessa forma, a utilização
do lúdico no diagnóstico “é mais uma possibilidade de se compreender, basicamente, o
funcionamento dos processos cognitivos e afetivo-sociais em suas interferências mútuas”
(Weiss, 2004, p. 72) na maneira de aprender da criança. A observação lúdica pode ser apenas
EXPLORATÓRIA ou pode ser PARTICIPATIVA. No primeiro caso, o psicopedagogo não
participará diretamente da sessão e assumirá o papel de observador, tomando nota e
buscando analisar minuciosamente cada etapa da sessão.No segundo caso, o psicopedagogo
participará diretamente da sessão lúdica, podendo brincar com a criança, caso esta o convide,
mas sem tentar conduzir a situação, ou seja, deixando a criança agir com autonomia e
descontração.

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