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FACULDADE EVANGÉLICA DE CIÊNCIAS, TECNOLOGIA E BIOTECNOLOGIA

DAS ASSEMBLÉIAS DE DEUS

ANSIEDADE: “O MAL DO SÉCULO XXI”

Uma Atualização à Luz das Sagradas Escrituras.

VALDNEY FREIRE KNUPP

RIO DE JANEIRO
SETEMBRO/2018
VALDNEY FREIRE KNUPP

ANSIEDADE: “O MAL DO SÉCULO XXI”

Uma Atualização à Luz das Sagradas Escrituras.

Trabalho de conclusão de curso, apresentado ao curso


de Bacharel em Teologia da Faculdade das
Assembleias de Deus, como exigência parcial ao
título de Bacharel em Teologia.

Orientador: Prof. Alexandre da Silva Vilalba.

RIO DE JANEIRO
SETEMBRO/2018
RESUMO

A dificuldade de conceituar os transtornos de ansiedade, por parte da psicologia, mostra o


quanto é difícil chegar a um diagnóstico preciso da patologia, de forma a prescrever o
tratamento adequado. O que leva a identificar que o campo Teológico, normalmente tratando
os transtornos de ansiedade de forma subjetiva, e os enquadrando como falta de relacionamento
com Cristo, além de sugerir falta de fé, tem relativizado um problema evidenciado em grande
escala no contexto do ministério pastoral. Insurge o desafio de amalgamar as duas áreas do
saber, a fim de que concomitantemente, a psicologia trate as evidências patológicas, enquanto
a Teologia dê o suporte subjetivo alcançando a restauração total do individuo, ao seu estado
natural.

PALAVRAS CHAVE: Ansiedade, Psicologia, Teologia, Ministério Pastoral.


ABSTRACT

The difficulty of conceptualizing anxiety disorders by psychology shows how difficult it is to


arrive at an accurate diagnosis of the pathology in order to prescribe appropriate treatment.
What leads us to identify that the Theological field, usually treating the disorders in a subjective
way, and framing them as lack of relationship with Christ, besides suggesting a lack of faith,
has relativized a problem evidenced on a large scale in the context of the pastoral ministry. It
challenges the challenge of amalgamating the two areas of knowledge, so that, at the same time,
psychology treats the pathological evidences, so long as theology gives subjective support to
the total restoration of the individual, to his natural state.

KEYWORDS: Anxiety, Psychology, Theology, Pastoral Ministry.


SUMÁRIO

1 - INTRODUÇÃO________________________________________________________ 01

2 - ANSIEDADE SOB O PONTO DE VISTA DA PSICOLOGIA__________________ 03

3 - ANSIEDADE SOB O PONTO DE VISTA DA TEOLOGIA___________________ 11

4 - ANSIEDADE, UMA REALIDADE NO MINISTÉRIO PASTORAL____________ 19

5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS_____________________________________________ 24

6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS______________________________________ 26
1

1 – INTRODUÇÃO

Todos os campos científicos são influenciados diretamente pela sociedade, sua forma
de governo, cultura, ideologia, economia e filosofia. Desta forma, faz-se necessário observar,
que em uma sociedade regida pelo sistema econômico capitalista, em todos os âmbitos existe a
necessidade de um retorno de maior instância que o investimento, e com um tempo adequado.
Assim, nota-se uma ansiedade natural em obter retornos rápidos, da maneira como foi
programado, e dentro do prazo estipulado.

O líder eclesiástico, inserido nesta sociedade altamente imediatista, e em busca de


resultados cada vez mais expressivos, está mergulhado em desdobramentos de aspectos físicos
e espirituais que são inevitáveis. No entanto, de que forma este líder consegue superar tais
obstáculos? Em meio a este contexto, irrompe o objeto deste estudo: O transtorno da ansiedade,
como sendo o mal do século XXI.

Como iremos utilizar um tema relacionado ao século, e o desenvolvimento de uma


sociedade, faz-se necessário um objeto de estudo que tem sido amplamente discutido em vários
segmentos da sociedade, e em vários campos do saber. Tendo por objetivo vislumbrar um
horizonte para solução deste mal, surge a proposta de unirmos duas áreas do conhecimento, que
não dialogam diretamente entre si, mas tratam o ser humano sob o mesmo objeto de estudo: a
mente.

Por parte da Psicologia, o estudo se dá de uma forma física, identificando os transtornos


de ansiedade, seus desdobramentos, de que forma eles podem ser diagnosticados, como podem
ser tratados, quais são suas possíveis causas, e como evitar. A cada dia uma atualização é
percebida, evidenciando os estudos de sua dinâmica diretamente ligada à estrutura
sociocultural.

Vamos observar que na maioria dos transtornos, se não em todos, parte do tratamento
envolve a família, e pessoas do círculo de convívio do indivíduo, que através de TCC (Terapia
Cognitiva Comportamental), mudança de hábitos, desenvolvimento da autoestima e controle da
angustia gerada pela patologia, podemos conduzir o indivíduo ao tratamento de sua disfunção.
No entanto, no campo teológico, a mente sendo tratada de forma subjetiva, torna-se um
facilitador para todas essas diretrizes científicas.
2

Na Teologia o tratamento da mente se dá de forma subjetiva e não palpável. Traz a tona


uma atualização dos escritos contidos no texto de Mateus 6.34: “... a cada dia basta o seu
mal...” (B. Jerusalém). Ainda assim, vamos observar que no próprio cânon bíblico,
personagens vão demonstrar a vivência de uma crise ansiosa, inclusive, o modelo a ser seguido,
Jesus Cristo, experimentou a sensação das suas emoções sendo abaladas por ela.

Líderes espirituais têm experimentado varias situações de crise provocadas pelos


transtornos de ansiedade. No entanto, ainda existe uma barreira muito grande a ser vencida, que
são as falsas crenças, criando ciladas para nossa mente e nos impedindo de enxergar novas
oportunidades e novos rumos; limitando-nos dentro de um contexto que pode, e deve ser
ampliado.

Com a união dessas duas áreas do saber pressupõe-se a possibilidade de um


complemento em direcionar o tratamento, onde, no momento em que uma se limita por conta
do seu próprio método de pesquisa, a outra complementa, oferecendo novos subsídios, para que
este diálogo possa proporcionar um tratamento completo, viabilizando a restauração completa
do individuo.

Objetiva-se com este trabalho demonstrar que um caso pode e deve ser avaliado por
diversos pontos de vista. Esta afirmação nos leva a crer que, a Teologia não é detentora da
verdade absoluta, assim como a psicologia também não é. Da mesma forma que esta faz o
diagnostico de um transtorno de ansiedade, a outra aponta para um caminho, subjetivo sim, mas
que ao lado de um tratamento físico, ajudará na restituição integral do ser humano.
3

2 – ANSIEDADE SOB O PONTO DE VISTA DA PSICOLOGIA

2.1 – Uma perspectiva conceitual

É muito interessante e de alta relevância, observamos um equivoco muito comum ao se


falar de ansiedade, pois conceitua-se como sendo uma preocupação exacerbada a respeito de
uma ameaça vislumbrada, sendo ela real ou não. No entanto, Nascimento (2014, p. 189),
embora comece mencionando os transtornos de ansiedade desta maneira, desenvolve o conceito
de uma forma grandiosa, mostrando todos os seus desdobramentos, formando um grande
tratado sobre o objeto-problema.

A autora escreve que o medo e a ansiedade vão caminhar lado a lado, levando ao
desenvolvimento dos múltiplos transtornos de ansiedade, mas salienta que são agentes
diferentes. O medo é uma sensação percebida quando uma ameaça é identificada, e pode levar
o individuo a agir por impulso, tomando diversas atitudes, em busca de defesa. A ansiedade,
por sua vez, é um estimulo de se precaver, normalmente, que levará a esquiva desta ameaça.

Tendo em vista um nicho incalculável de ameaças que o individuo pode identificar para
si, cada caso deve ser avaliado de forma bem particular e distinto, ou seja, não podemos
generalizar um conceito. Justamente por conta desta quantidade de vaiáveis, a conceituação
desta psicopatologia1, é formulada de maneira empírica, a partir de relatos e avaliações de um
profissional que usará todo o seu conhecimento e vivência.

Em Coelho (2006, p. 3), nos apresenta uma tentativa de conceituar a ansiedade através
da demonstração da variedade de possibilidades quanto à forma e eventos como esta se
apresenta. Além de pensamentos colocados por diversos autores como Skinner (1945, p. 8), que
trabalha a observação do fenômeno a partir de emoções, pensamentos e sentimentos, nos dando
uma ideia de quão subjetiva é a tentativa de encontrarmos uma única definição para a
ansiedade.

Outra tentativa de conceituação é a tratada por Pessotti (1978, p. 97), onde o autor
descreve como sendo a “evolução cultural”2, quem dita o conceito que será adotado para a
ansiedade, ou seja, esta será analisada sob o prisma da temporalidade, e atualizado de acordo

1
Patologia de origem psicológica.
2
Adendos na sociedade, adquiridos a medida que esta se desenvolve, criando marcas que se tornarão verdadeiros
legados para gerações vindouras.
4

com tal. Sendo assim, os transtornos de ansiedade que verificamos hoje, possivelmente daqui
a algumas décadas, serão conceituados de forma diferente, ou mesmo, terão diagnósticos
diferentes, gerando novos desdobramentos.

Freud (1978, p.63), considera a ansiedade como resposta do ego a um perigo


vislumbrado pelo indivíduo. Entra em questão a fuga em relação à libido, como sendo uma
forma de escapar do estimulo interno incontrolável, mas que através desta, será impedido de
externar. Sendo assim, temos que uma situação presente, leva a angustia por recordar de um
passado traumático experimentado, juntamente com a possibilidade de recorrência.

Coelho (2006, p. 5), nos chama a atenção que com tantos autores, escritores, pensadores
e filósofos fazendo incursões na tentativa de conceituar a ansiedade, por muitas vezes a
discordância será observada, isto ocorre pelo grau de complexidade e amplitude do assunto.
No entanto, todos concordam em um ponto: os eventos acontecem à medida que o individuo é
estimulado pelo medo. Pode ser ocasionado por uma memória, ou por uma imaginação de
ameaça, que o levarão a uma angustia intensa.

Também não podemos desconsiderar, que todos esses eventos passam pelo viés da
cultura e da sociedade, para Pessotti (1978, p. 97), é como um óculos usado pelo indivíduo par
enxergar cada uma das situações que deverá encarar. Ao mesmo tempo, o profissional precisará
se atualizar em relação ao meio para dar um diagnostico mais fidedigno, prescrevendo o melhor
tratamento.

Devido a grande quantidade de casos observados e sob vários pontos de vista, alguns
desdobramentos são estudados de forma separada e pontual variando pelas situações em que as
crises de ansiedade são observadas, os elementos que levam ao desencadeamento, objetos e
momentos.

2.2 – Transtorno de Ansiedade de Separação

O TAS (Transtorno de Ansiedade de Separação), é caracterizado como uma reação


anormal a separação de um ente bem próximo, que pode ser real ou imaginária, e que interfere
significativamente nas atividades diárias e no desenvolvimento do indivíduo. Para se enquadrar
nos critérios diagnósticos do DSM 53, a ansiedade deve estar além do esperado para o nível de

3
Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, Volume 5.
5

desenvolvimento do indivíduo, durar mais de quatro semanas, começar antes dos 18 anos e
causar sofrimento ou prejuízo significativo, conforme Nascimento (2014, p. 190).

Dificuldade e angustia de efetuar o afastamento de objetos, lugares e pessoas com muita


proximidade, são observadas. Normalmente verifica-se a dificuldade de efetuar tarefas longe
do ambiente de casa, e no caso de uma viagem, por exemplo, a angustia aparece em um quarto
de hotel onde pesadelos são recorrentes com situações como um incêndio fazendo a separação
entre a família.

Com crianças é normalmente observada pelo fato de não se sentir a vontade em ir para
casa de um amigo ou sempre solicitar dormir no quarto dos pais, ou um irmão, ou parente
próximo, criar uma resistência maior de sair de casa sozinha. Também pode ser verificado com
uma dificuldade de se manter na escola, e realizar suas tarefas neste ambiente.

Adultos com a perturbação são excessivamente preocupados com seus conjugues e


filhos, normalmente tem dificuldades em mudanças circunstanciais, e podem ter problemas nos
ambientes sociais, como o trabalho, por exemplo, uma vez que de uma forma desordenada,
necessitam verificar onde os seus estão, e se estão bem; não conseguem administrar este
impulso, trazendo limitações em suas atividades cotidianas.

O tratamento para este transtorno, assim como a maioria das psicopatologias dependem
de uma parceria e entendimento geral do paciente juntamente com sua família. Desta forma a
maior parte do tratamento está ligada a princípios não farmacológicos, que são altamente
eficazes e menos agressivos. A Terapia Cognitiva Comportamental, por exemplo, é um
excelente tratamento para o TAS e normalmente resulta na restauração do indivíduo, conforme
Rey (2015, p. 12).

2.3 – Mutismo seletivo

O mutismo seletivo verifica-se principalmente em crianças antes dos cinco anos de


idade e sua característica clássica esta voltada para o desenvolvimento da fala de forma comum
e normal em um ambiente familiar, de ampla convivência e aconchego, no entanto, em um
ambiente social diferente, não se estabelece a comunicação, de forma que não se evidencia o
inicio de um dialogo, ou mesmo, introduzido por outro, não existe a reciprocidade na resposta,
conforme Nascimento, (2014, p. 195).
6

Algumas das formas mais comuns do tratamento do Mutismo Seletivo é a psico


educação juntamente com sua família e familiares, através do estimulo e lidando sempre com a
preocupação de se tratar de um transtorno de Ansiedade, o que leva ao entendimento que o
melhor caminho esta no controle desta para que o restante dos estímulos cognitivos possam ser
desenvolvidos, como o encorajamento e o trabalho para desenvolvimento da autoconfiança,
conforme Mello (2016, pp. 11-14).

2.4 – Fobia específica

. Está diretamente ligada ao medo ou ansiedade exacerbada a um objeto ou situação em


que vai provocar uma reação imediata, na qual é ativamente evitada ou suportada com imensa
ansiedade ou angustia. Normalmente, este medo e angústia são desproporcionais ao perigo real
que o objeto ou situação oferecem. Os casos passam a ser recorrentes a mais de seis meses
sempre nas mesmas situações e objetos, além de causar prejuízos sociais para o relacionamento,
e realizações cotidianas, conforme Nascimento (2014, p.197).

O Tratamento com melhor resposta conhecida é a terapia da Exposição, onde o


indivíduo é exposto ao objeto sendo sugerida a aproximação, toque e o inicio de uma
convivência com este, ao ponto de não o levar a uma angustia e ansiedade exacerbada mais,
uma vez que a primeira resposta a este transtorno é a esquiva ou fuga. Um complemento de
tratamento está nas técnicas de relaxamento através da respiração, onde se conseguirá o
relaxamento da musculatura e desenvolverá o autocontrole, conforme Greist (2016, artigo).

2.5 – Transtorno de Ansiedade Social (Fobia Social)

É verificado com a característica de medo ou ansiedade de exposição social onde o


individuo passará por avaliação por outras pessoas. Em crianças esta avaliação deve se dar em
pares da mesma faixa etária, e não somente com adultos. Existe um temor em demonstrar traços
de ansiedade, como sendo constrangedores e humilhantes. Este medo ou angustia normalmente
será maior do que a ameaça e os episódios devem ser anotados com recorrências de período
igual ou superior a seis meses, conforme Nascimento (2014, p. 202).

Os tratamentos mais eficazes são o TCC, a Terapia de Exposição, com o auxilio de um


curso ou diretrizes de exposição em público, técnicas de oratória, além do tratamento da
autoestima e intervenções farmacológicas com anti-ansiolíticos, Beta bloqueadores e até
anticonvulsivantes, sendo os tratamentos não medicamentosos altamente eficientes, muitas
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vezes não necessitando da administração medicamentosa, conforme Rodrigues (2016, artigo),


relata.

2.6 – Transtorno de Pânico

Nascimento (2014, p. 208), relata que é evidenciado através de ataques de pânico


repentinos, onde se observará um surto repentino, com seu pico em minutos, e pode ocorrer de
um estado calmo ou ansioso, mas deverá ser acometido por pelo menos quatro dos seguintes
sintomas: Palpitações, taquicardia, sudorese, tremores, sensação de sufocamento, dor torácica,
náusea, sensação de tontura, vertigem ou desmaio, calafrios ou ondas de calor, medo de morrer.

As perturbações precisam ser observadas em um espaço de tempo inferior a um mês,


não sendo provocadas pelo uso de qualquer substância ou outra condição médica. Também não
são associadas a outros quaisquer distúrbios mentais ou cognitivos.

Abrahão (2009, pg. 91), escreve um artigo com as referencias de tratamento como sendo
de alta relevância, em primeira instância, trabalhar o controle do momento ansioso. É
necessário rapidamente uma conscientização que é uma sensação passageira que faz parte de
um processo por conta da enfermidade, que a sensação não é real, o perigo não existe e que o
imaginário irá desaparecer. Faz-se necessário colocar em prática técnicas de relaxamento a
partir do controle da respiração, e trabalhar os pensamentos negativos.

Dentre os psicofármacos, dependendo do grau de recomendação analisado para a


utilização, poderemos verificar o uso de inibidores seletivos da receptação da serotonina,
inibidores seletivos da receptação da noradrenalina, os tricíclicos e os benzodiazepínicos, que
não tem a sua eficiência totalmente comprovada, uma vez que fazendo uma interação
medicamentosa no caso de dependente químicos, podem perder suas propriedades.

2.7 – Agorafobia

Caracteriza-se como sendo o medo ou ansiedade por uso de transporte público,


permanecer em lugares abertos, permanecer em lugares fechados, se encontrar em meio a uma
fila ou no meio de uma multidão, sair de casa sozinho. O individuo Agorafóbico, sempre vai
se colocar em situação de fuga e esquiva com medo de ser exposto e passar constrangimento
por conta de sua patologia. Os eventos devem ser observados por um período igual ou superior
a seis meses, conforme orientação de Nascimento (2014, p. 218).
8

Alguns profissionais classificam a Agorafobia como um desdobramento da síndrome do


pânico, como a psicóloga Pregnolato (2016, artigo), relatando que o tratamento se dá de forma
similar, mas que deve ser estudado minunciosamente de caso a caso. Esta informação, já nos
leva a identificar que existe uma separação entre as duas, como observamos na descrição de
nosso material.

Sendo assim verificamos por tratamento da Agorafobia a pertinência no


acompanhamento psicológico através do TCC, onde o indivíduo será estimulado a aprender a
identificar uma crise de ansiedade, como controla-la, melhora da autoconfiança, a diminuição
da limitação ocasionada pela perturbação, treinamento do autocontrole e a utilização da
técnica da exposição. Esta se dará de forma gradativa desenvolvendo o indivíduo a lidar com
as situações que estarão presentes, normalmente como parte do seu cotidiano, conforme pode
ser Luciano (2016, artigo).

2.8 – Transtorno de Ansiedade Generalizada

Preocupações e ansiedade excessiva que ocorrem na maioria dos dias por um período
igual ou superior a seis meses, o indivíduo considera impossível controlar a preocupação e
apresenta pelo menos três sintomas como: inquietação e sensação de estar com os nervos à flor
da pele, fatigabilidade, dificuldade de concentrar-se com sensação de “branco na mente”,
irritabilidade, tensão muscular, perturbação do sono com dificuldade de manter ou ter um sono
satisfatório, conforme Nascimento (2014, p. 222).

A ansiedade exacerbada começa a influenciar diretamente na convivência social


diminuindo a produtividade ou em outras áreas importantes do individuo. A perturbação não
se dá por efeito de substancia ou quaisquer outras patologias clínicas, ou mesmo transtorno
mentais. Importante perceber que o transtorno de Ansiedade Generalizada é bem diferente da
ansiedade natural ocasionado por situações cotidianas, aquela normalmente é altamente
angustiante, perturbadora e não é facilmente controlada.

O primeiro passo para o tratamento surtir efeito, conforme Machado (2016, artigo), é a
conscientização do individuo que possui a psicopatologia. Em uma grande quantidade dos
casos o individuo entende que a patologia é algo normal que faz parte do seu temperamento. A
TCC tem sido altamente significativo no tratamento da Ansiedade Generalizada. Mudança de
hábitos, como a ingestão de estimulantes, ou mesmo a cafeína, refrigerantes, a prática de
exercícios físicos. Para completar, a psicoterapia e a fármacoterapia, em casos em que todas as
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outras não surtirem efeito, no entanto só alcançará resultado satisfatório, associada a uma das
outras formas de tratamento e obedecido o tempo de “desmame” dos fármacos na fase final.

2.9 – Possíveis causas dos transtornos de ansiedade.

Existe uma grande variedade de causas, e na verdade, ainda não se consegue ter com
precisão o que provoca os Transtornos de Ansiedade. O que se tem registrado é que até meados
do Século XX muitos foram os estudos para entender e conceituar os Transtornos de Ansiedade,
e que a partir do início do século XXI, observamos o foco em encontrar tratamentos específicos
e altamente eficientes, a fim de levar o indivíduo ao total livramento de tal perturbação. No
entanto, não se percebe, uma preocupação específica em mensurar as causas e desta forma evitar
as patologias.

De uma forma muito empírica, e através de relatos de pacientes e psicólogos


avaliadores, algumas observações foram anotadas e com muita pesquisa, refinando esta busca,
para ter fontes seguras, elas são encontradas. São muitas incertezas e muitas variáveis ainda
não computadas e conceituadas, mas vamos utilizá-las a fim de concluirmos um pensamento.

No site do Hospital Santa Mônica em São Paulo, encontramos a matéria preparada pelo
Dr. Claudio Duarte, Psiquiatra e Coordenador da ala de psiquiatria, onde o mesmo nos dá uma
luz através da sua experiência profissional. Seguem abaixo algumas das possíveis causas
apontadas pelo Dr. Claudio Duarte:

Influências genéticas são observadas em casos de ansiedade exacerbada em familiares,


onde as chances de desenvolvimento no individuo são aumentadas. Isso ocorre por conta de
uma alteração no cérebro, em uma área conhecida como sistema Límbico, responsável pelo
controle das emoções e modificações de humor, conforme Duarte (2017, artigo).

Duarte (2017, artigo) mostra que questões de gênero também foram observadas.
Sabemos que existem patologias que são mais suscetíveis de serem encontradas nas mulheres,
assim como algumas são, quase, que exclusiva dos homens. Por uma questão de hormônios, as
mulheres, normalmente tem uma dificuldade maior em controlar as emoções, sendo assim,
embora a ansiedade seja verificado em um quantitativo bem elevado nos homens, o fator do
gênero é bem relevante para o desenvolvimento entre as mulheres.
10

Os transtornos de ansiedade podem surgir em qualquer momento da vida, já vimos que


em muitos dos casos, o fator que corroborou com a perturbação foi um trauma de infância, ou
mesmo um evento que de alguma forma marcou negativamente o individuo, levando com que
este desenvolva as características de diagnóstico. Crianças que passaram por atos de violência
física ou psicológica, ou algum trauma, tem uma predisposição maior de se tornar ansioso,
conforme descreve Duarte (2017, artigo).

O estresse é um estado que em níveis normais se torna até vital para a sobrevivência.
No entanto em uma sociedade imediatista e capitalista, e com a busca de resultados sempre de
melhor expressão, se torna uma verdadeira “bomba” com o pavio aceso esperando somente
queimá-lo por completo para explodir um dos transtornos de ansiedade. Deste modo indivíduos
em constante exposição a situações estressantes são bem propensos a desenvolver transtornos
de ansiedade.

Duarte (2017, artigo), ainda relata que noites de sono bem dormidas, com um descanso
para a mente e o corpo, preparam o individuo para todas as atividades que terá que desenvolver.
No entanto, quando a insônia entra em pauta, começa desencadear uma série de eventos
conduzidos pelos hormônios que levam o indivíduo a um alto nível de estresse e preocupação.
Normalmente em um período de insônia surgem os pensamentos negativos e preocupações
exacerbadas com problemas financeiros e emocionais, por exemplo. Após uma noite com
episódio de insônia, provavelmente desencadeará um dia com oscilações de humor e
dificuldade no desenvolvimento de algumas tarefas funcionais, levando ao desenvolvimento da
ansiedade.

Excesso de informação também é um fator de relevância para o desenvolvimento dos


transtornos de ansiedade. Nossa sociedade é movida pela velocidade e quantidade de
informações. Não existe um problema no uso da internet e dos aparelhos de celular, o problema
esta no fato de acessarmos uma gama imensa de informações e de alguma não sabermos filtra-
la, e desta provocarmos uma fadiga mental, levando ao enfado provocando um transtorno
ansioso, conforme Duarte (2017, artigo).
11

3 – ANSIEDADE SOB O PONTO DE VISTA DA TEOLOGIA

3.1 – Pressupostos Conceituais

Sob o ponto de vista Teológico, alguns desdobramentos são verificados, mas a priori a
orientação é: “Não andeis ansiosos por motivo algum...” (Filipenses 4.6ª – BKJ). Durante toda
a sagrada escritura, verificamos homens e mulheres sendo orientados a depositar toda a
ansiedade em Deus, o Senhor da provisão, porque Ele tem cuidado de nós, (I Pedro 5.7 – BKJ).
Assim, viver em ansiedade pode transparecer falta de fé, uma vez que “A fé é a garantia dos
bens que se esperam e a prova das realidades que não se veem.” (Hebreus 11.1 – B. Jerusalém).

Conforme Champlin (2017, p.177), a ansiedade é uma emoção causada pela


precariedade da vida. Essa ideia surge pelo fato de que a vida é finita, e ao mesmo tempo, busca
por um bem estar contra o que a morte tem a oferecer. Sendo assim, abre a discussão entre
Teísmo e Deísmo, onde a primeira norteia o Cristianismo por acreditar que Deus está cuidando
de sua criação e habita no meio dela, enquanto a outra, afirma que Deus criou o universo e o
abandonou como um brinquedo de corda, o qual quando esta acaba, chega o seu fim.

A discussão se desdobra entrando no capo do Existencialismo Cristão, onde um


paradoxo insurge: Cristo veio para mudar esta condição melancólica, que apesar do quadro de
finitude imposta pela temporariedade da vida do ser humano, o livre arbítrio para a salvação,
dado por Cristo através da graça, nos da esperança de uma liberdade nEle, ou seja, a ansiedade
se torna esse paradoxo da finitude humana com a liberdade dada pela salvação.

Ainda em discussão, Champlin (2017, p. 178), relata que se Cristo é Senhor da vida,
conforme o texto de João 14.6, e tem em suas mãos a chave da morte e do Inferno, conforme
Apocalipse 1.18, significa que todas as decisões devem passar por Ele, e desta forma, não
devemos nos deixar ser levados por ansiedade alguma. Com base neste pensamento, usando o
texto de Mateus 6.25-34, em seu comentário, Champlin (2017, pp. 328-330), relata oito motivos
pelos quais os cristãos não devem andar ansiosos.

Dentre eles veremos a citação que a vida humana é mais que somente a parte física, e
que na verdade, esta é a parte finita e que deve ser descartada, se Deus cuida dos animais
“inferiores”, certamente cuidara do ser humano. O estado ansioso é incapaz de alterar alguma
situação em nossa vida, assim como resolver algum problema, se Deus veste as plantas com
12

certeza vestirá os seus. Os gentios se preocupam com suas necessidades, mas como cristãos
devemos agir de forma diferente, pois o Pai conhece todas as nossas necessidades, com certeza
as proverá se buscarmos a sua justiça todos os dias.

Observamos então, que todas as opções de escolha altamente relevantes da vida, estão
em Cristo. Sendo assim, apesar do estado de ansiedade ser uma realidade, uma vez que somos
mortais e finitos, essa questão foi resolvida em Cristo, e por isso, se depositarmos nEle a nossa
esperança, teremos um resultado satisfatório a nossas angustias, entendendo que todo o nosso
fardo deve ser trocado pelo dEle, fazendo com que nosso caminhar esteja no centro do
entendimento dEle para nossas vidas, conforme discorre Champlin (2017, p. 178).

3.2 – Casos de ansiedade na Bíblia

Na leitura, ou mesmo em um estudo mais aprofundado da Bíblia, não temos como


avaliar, em minúcias, os transtornos de ansiedade, uma vez que as sagradas escrituras são um
relato histórico do povo de Israel sob a perspectiva da fé, e que através desse relato histórico,
Deus vai se revelando ao seu povo, conforme descreve Schultz (2008, p. 7), não existe a
preocupação de relatos integrais de cotidiano, convivência, traumas, patologias, ou mesmo,
convívio social e nível de conhecimento cultural, o que dificulta um diagnóstico preciso de um
transtorno de ansiedade, objeto deste artigo.

Com base nesta informação, estaremos estudando alguns casos que surgem no cânon
bíblico, personagens cujo momento vivenciado é carregado de fortes evidencias que se
assemelham à crises de ansiedade, ao ponto de serem descritos pelos escritores canônicos.
Verificaremos então, o fato, de que forma ocorreu, o possível motivo, e qual foi a tratativa para
estes casos. Com isso a posteriori faremos um paralelo ao ponto de vista dos transtornos de
Ansiedade por parte da Psicologia e mostraremos que as duas ciências podem dialogar.

3.3 – Estudo de caso 1 – Ló (Gênesis 19.1-29)

O Texto em epígrafe, relata a destruição de um aglomerado de cidades, onde as duas


principais, a saber: Sodoma e Gomorra, viviam em práticas contrárias as que Iahweh orienta o
seu povo, (v.12), e por conta disso seria totalmente destruída. Essas práticas podem ser
observadas no versículo 5, quando os homens da cidade, desde os mais jovens até os mais
13

velhos, chegam a porta de Ló e clamam para que este traga os seus visitantes para fora de sua
casa, a fim de que pudessem abusar deles. Em outras versões, como a da Bíblia King James
(BKJ), por exemplo, as expressões usadas são de ordem para que tragam os homens para fora
com a finalidade de terem relações sexuais.

Neste contexto, vamos visualizar os visitantes conduzindo Ló para fora da cidade e o


orientando a se dirigir para as montanhas. É neste ponto da narrativa que está o objeto de nosso
estudo. Observamos que Ló estava na eminencia da destruição de sua cidade, o Senhor havia
lhe concedido a graça de escapar da destruição, por amor a Abraão (v.29), mas a despeito de
toda a problemática ao seu entorno, Ló angustia-se e argumenta com os anjos a respeito de ir
para as montanhas (v. 18), Conforme comentário de Champlin (2017, p. 141).

O autor comenta ainda, que Ló embora tivesse um caráter tratado, estaria adaptado à
cidade que escolhera, inclusive de forma ambiciosa, para desenvolver e prosperar. Pois vendo
as facilidades da cidade, se tornou um negociador e não vivia mais da agricultura e pecuária,
mas negociava os produtos e serviços à porta da cidade, por isso, estava sentado lá no momento
em que os anjos chegam (v. 1).

O comentário continua descrevendo a respeito de alguns eruditos acreditarem que a


angústia se dá devido ao medo de não conseguir alcançar as montanhas devido à distância, mas
em sua maioria vão concordar com o fato de Ló está com seu coração na cidade, e ter medo do
retrocesso a uma vida no campo, tendo de viver do seu próprio cultivo. Desta forma, mesmo o
perigo que estava ao seu redor sendo muito maior, o qual Deus estava o livrando, Ló entende
que deveria arguir sobre a possibilidade de não seguir para as montanhas, optando pela fuga.

Sob esta avaliação, verificamos com base no trabalho de Nascimento (2014, Pg.189),
que as descrições são equivalentes a uma crise de ansiedade, onde o indivíduo necessita escapar
da situação que o comete desta crise, a fim de supera-la. Como foi mencionado no início deste
capítulo, vamos verificar nas escrituras fatos que direcionam para uma situação extrema de
ansiedade, evidenciada através do relato, no entanto, não conseguiremos efetuar um diagnóstico
preciso, por falta de dados.

Champlin (2017, p. 141), comenta a respeito do engano cometido, em que muitos olham
para um Deus Juiz que impele sua sentença, e fica do céu observando o cumprimento desta,
fundamentando o Deísmo, no entanto, em contrapartida a este pensamento, Ló angustiado,
argumenta a fim de convencer os anjos a deixa-lo ir para a cidade de Zoar, (vv. 19-20), neste
14

momento, presenciamos um Deus amoroso, cheio de graça e misericórdia dizendo: “Depressa,


refugia-te lá...” (v. 22 – B.Jerusalém).

Observando esta tratativa de Deus, verificamos que Deus conhece as nossas


necessidades e angústias, e está pronto a cuidar de nós. Mesmo sendo falhos, mesmo muitas
vezes, não conseguindo entender o que seria o “não andeis ansiosos...” de Filipenses 4.6, através
de sua imensa misericórdia nos trata. Conforme Champlin (2017, p. 141), entendeu a
necessidade física de Ló, cuidou dele, e o livrou de sua angústia.

3.4 – Estudo de caso 2 – Jonas (Jonas 1.1-5)

Jonas é um profeta que tem sua história narrada no livro que leva seu nome. No contexto
dos fatos relatados no livro, podemos fazer um paralelo entre a cidade de Gomorra com a cidade
de Nínive, onde veremos a informação de que a maldade da cidade de Nínive chegou até Deus
(BKJ, p. 1669)4, e que se o povo não se arrependesse e se convertesse, viria à destruição sobre
a cidade, sendo assim, o profeta Jonas deve ir à cidade de Nínive pregar o arrependimento.

Da reação a esta ordem, irrompe o nosso estudo de caso. Ao receber a ordem, Jonas é
tomado de tal forma por uma crise de ansiedade que foge para cidade de Tarsis, onde Champlin
(2001, p. 3553), comenta que era o lugar mais distante que se tinha conhecimento que uma
embarcação saída daquela região da Palestina poderia ir, cerca de 4000 km de distância,
podemos chamar como o “fim do mundo” da época, ou seja, a angustia e o medo de Jonas foram
tão grandes, que não bastava fugir, precisa chegar ao lugar mais longe que se possuía
informação que existia.

Champlin (2001, p. 3553), nos dá algumas pistas do por que desta atitude de fuga do
profeta Jonas. A cidade de Nínive, era conhecida na época como a grande cidade, com cerca
de 600.000 habitantes, o que para época era, uma imensidão de gente. Por ser, naquele
momento a capital do império Assírio, chegavam de todos os lados as notícias de que era uma
cidade inóspita com peregrinos que iam contra os seus usos e costumes, tendo como peso ainda,
um império que já havia oprimido o povo de Israel de uma forma muito cruel.

Sob o ponto de vista dessa realidade histórica da cidade, começamos a perceber um


medo e angústia baseados em um evento traumático já acontecido anteriormente, não com

4
Bíblia King James (Nota de estudo).
15

Jonas, mas que chegou ao seu conhecimento. Desta forma, o medo e a ansiedade angustiante
de encarar uma situação real, ou não, vão sintomatizar uma visualização da possibilidade de tal
evento se repetir na sua pessoa, fazendo com que tomasse a atitude de esquiva e fuga, conforme
relato do texto.

De posse de tais informações, e com mais um adendo, a saber: O povo de Israel se


considera o povo exclusivo de Deus, ou seja, a única nação que poderia ter acesso aos cuidados
e ao amor de Yahwe, muito provavelmente o profeta passou por um conflito interno
incontrolável, o levando a não conseguir encarar tal situação preferindo fugir.

Sob o ponto de vista do pensamento exclusivista, podemos fazer uma ponte deste livro
do profeta Jonas com o texto de João 3.16. Conforme Champlin (2017, p. 580), ambos os textos
vão tratar do amor universal de Deus, justamente para sinalizar o sentimento exclusivista que
permeava o povo de Israel, mostrando que Deus não é Deus só de um povo, mas é um Deus
criador, universal, que ama a sua criação de uma forma completa, como pode ser o observado
em Jonas (4.11), e desta forma quer salvar a todos.

De acordo com Nascimento (2014, p. 190), analisando o comportamento de Jonas, e a


forma como ele reagiu, verificamos que o profeta passou por uma crise de medo, angustia e
ansiedade, tendo como resposta a esquiva da necessidade de passar pela situação e a fuga, para
escapar desta. Verificamos ainda que o perigo foi algo que impactou tanto em seu
comportamento, que Champlin (2001, p. 3553), ressalta que Jonas não mediu esforços, nem
financeiros para fugir, dado que uma viajem com a proporção da fuga dele seria muito mais
dispendiosa que a devida.

Mas uma vez como tratativa ao caso de ansiedade, contrastando com a orientação de:
“não andeis ansiosos...” (Filipenses 4.6ª), ao invés de um Deus acusador, juiz, que parece
distante, somente dando ordens, e punindo aos que não as cumpre, verá justamente o propósito
do livro em ação, um ato de graça e misericórdia, possibilitando que Jonas tivesse mais uma
chance de cumprir a tarefa designada, e tendo sua vida poupada, a despeito de toda uma situação
embaraçosa que contemplamos no primeiro capítulo de seu livro.

É muito interessante observar o comentário de Champlin (2001, p. 3553), que o próprio


profeta, ao contrário de todos os outros precisava ser tratado. Todos os outros profetas têm em
seu coração gerados a palavra e a vontade de executa-la, além de suas profecias serem para o
povo de Israel. No caso do profeta Jonas, a profecia é para um povo impuro, e não houve em
16

momento nenhum, o desejo gerado de seguir a orientação de Deus. Ao contrário,


mesmo após a orientação ser seguida, Deus agir no meio do povo, e este ter sido tratado por
Ele, Jonas ainda vai questionar, e ao que parece vai, inclusive, desenhar um quadro de
depressão, conforme Nascimento (2014, p. 155), aonde este vai se isolar, lamentar e até mesmo
desejar a morte, por não entender o plano de Deus em sua vida e naquela cidade.

3.5 – Estudo de caso 3 – Jesus Cristo (Lucas 22.39-46)

Estamos diante de um texto que está evidenciado em todos os evangelhos sinóticos. No


entanto, somente o autor do evangelho de Lucas retratará os versículos 43 e 44, o qual vão gerar
alguns questionamentos por parte dos eruditos, como Champlin (2001, p. 217), relata em seu
comentário que seria uma adição aos textos, uma vez que não é verificado em alguns
manuscritos antigos, e que seria mais fácil de não haver a escrituração do mesmo do que haver
a omissão dos textos por parte dos copistas.

No entanto, por fazer parte de uma tradição muito forte em textos paralelos com datas
do mesmo período, os quais são citados e mostrados por vários pais da igreja, conforme afirma
Pfeiffe (1968, p. 98), é aceito e teve seu relato no cânon bíblico, onde a Bíblia de Jerusalém (p.
1829)5, declara que foi atestado por inúmeros documentos no Sec. II, e que sua omissão seria
pelo cuidado de evitar um rebaixamento de Jesus o deixando demasiadamente humano.

Halley (1994, p. 460), relata que em todo o sofrimento da vida de Cristo este seria o
incidente mais doloroso, onde a angústia, o medo, e a ansiedade fora tão cruel que houve a
necessidade de um enviado celestial para confortar o nosso Senhor. Halley prossegue relatando
que podemos ver vários outros mártires, tanto personagens das sagradas escrituras, quanto
históricos, padecendo e dando graças, ou mesmo, em um momento de gozo cantando e
visualizando anjos os cercando, mas jesus, expressa com um grito atenuante de “... afasta de
mim este cálice...” (v. 42 – B. Jerusalém).

Sobre esse medo e angústia exprimidos por Jesus, Pfeiffer (1968, p. 98) traz a tona uma
questão bastante interessante. O ser humano mediante a prática do pecado, normalmente tende
a entristecer-se, por não se achar digno de entrar na presença de Deus e se afasta dEle, muitas

5
Bíblia de Jerusalém (Nota de Estudo).
17

vezes por conta de um pecado cometido por ele. Colocando-se no lugar de Cristo, estava sobre
Ele todo o pecado da humanidade, tudo o que a humanidade pratica e que a afasta de Deus.

Sob esta perspectiva, para Cristo que se esvaziou de sua natureza divina conforme
(Filipenses 2.5-11), assumindo a forma de homem, e como forma de homem se colocou em
obediência seguindo o caminho até a morte de cruz, passou por isso tudo sem haver cometido
pecado algum, naquele dia o que afasta o homem de Deus, sendo apenas dele, está reunido em
peso de toda a humanidade sobre Cristo, o que explica a angustia, e o medo exacerbado naquela
noite no jardim do Getsêmani, no monte das Oliveiras.

A Bíblia King James (p. 1994)6, relata o grau de demonstração das emoções humanas
vivenciadas por Jesus Cristo na cruz, onde começa a ser evidenciando uma crise aguda de
Hematidrose, que é a mistura de sangue ao suor, e se revela em casos de angústia severa e
alterações emocionais, o que fundamenta uma crise de ansiedade mediante a uma situação
eminente. Também verificamos a tentativa de fuga e esquiva à medida que Jesus Cristo faz a
prece de passar dEle aquele cálice. Essas evidencias são fundamentadas em Nascimento (2014,
p. 190), descrevendo os transtornos de ansiedade.

Ainda observando o tratado de Nascimento (2014, p. 190), Cristo passa pelo processo
de Hematidrose, após terminar prece – “Pai, se queres, afasta de mim este cálice! Contudo, não
a minha vontade, mas a tua seja feita!” (Lucas 22.42 – B. Jerusalém). Ao final desta frase, a
escolha dEle foi tomada, e começa a encarar o fato de que passaria por todos os momentos que
já sabia, e isso acontece sob demasiada angustia e dor, evidenciando mais uma vez a crise de
ansiedade.

Sobre esta angustia e sofrimento vivenciados por Cristo de forma tão aguda neste
evento, Moltmann (2011, pp. 50-56), trata um tópico específico sobre a aflição de Deus.
Moltmann descreve da necessidade deste sofrimento, uma vez que na mitologia, na cultura
Nórdica, e na cultura pagã, está cheia de deuses que vivem as suas vidas em julgamentos, apenas
olhando a humanidade e esperando que através das suas escolhas definam o fim de seus dias.
Mas Deus precisava demonstrar o seu infinito amor para com a humanidade, fundamentando ai
o Deísmo em confronto ao Teísmo sugerido.

A única forma de evidenciar a preocupação e o amor incondicional, era Deus se


colocando na forma de homem, deixar a sua gloria, o seu poder, se humilhar, viver a nossa dor,

6
Bíblia King James (Nota de Estudo)
18

viver a nossa angústia, vivenciar o que são as nossas tentações, vivenciar a nossa eminencia de
perigo, o processo ansioso e conflitante do paradoxo da ansiedade conforme descrito por
Champlin (2017, p. 177), onde existe pela finitude de uma vida mortal e desta forma, declarar,
eu venci o mundo! (João 16.33).

4 – ANSIEDADE, UMA REALIDADE NO MINISTÉRIO PASTORAL

Fazendo um paralelo entre o primeiro capítulo deste trabalho e o segundo, observamos


uma crise se instaurando em meio a ministérios. A retórica difere da práxis, o que leva a um
crescente descrédito por parte da comunidade cristã. As notícias de casos de suicídio no meio
de lideranças eclesiásticas são cada vez mais recorrentes, surgem como uma reação extremista,
19

em resposta a angústias, medos e decepções vivenciadas no cotidiano de um ministério, que por


essência, necessita em exclusividade ser vivenciado de forma subjetiva, sem perspectivas
palpáveis, mas sendo direcionado, dia após dia, como o versículo colocado em epígrafe no título
deste artigo, a saber: “... a cada dia basta o seu mal.” (Mateus 6.34c – Bíblia de Jerusalém).

A grande questão em observância, talvez seja o ato de esperar, situação de passividade


que, justamente, se contrapõe ao imediatismo vivenciado em nossa sociedade atual, contudo,
como vemos a descrição em Eclesiastes 3.1: “Há um momento para tudo em tempo para todo
propósito debaixo do céu.” (B. Jerusalém). Caputo (2011, p. 35), escreve que a ansiedade se
torna em um dos subprodutos da espera e que todos nós possuímos algum nível dela, até mesmo
por nossa condição de finitude como já podemos observar nos comentários de Champlin (2017,
p. 177).

Sendo assim, como escreve Peterson (2006, p. 15), é necessário admitir que o ministério
pastoral vive em um constante duelo entre um lado consumista e um lado mercadológico
vivenciado em uma parte exterior, com a necessidade de adequar o seu lado interior a uma
espiritualidade necessária para as atribuições da vocação, o que implica em uma realidade nada
simpática.

É justamente neste contexto que a ansiedade consegue um espaço para atormentar o


líder espiritual no ministério pastoral. Kori (2006, p. 8), retrata a questão da constante luta
interna que existe no ministério pastoral, onde é necessário se retrair no romper de sua vaidade,
deixar de seguir a sua vontade, aniquilar-se dentro de si em prol de se doar em favor do outro,
estancando o sangramento de uma ferida, mesmo estando vivenciando uma hemorragia interna.

No entanto, não podemos negligenciar os sintomas que temos vivido. Muitas vezes
tentamos camuflar de nós mesmos, na usurpação de nos tornarmos verdadeiros super seres
humanos, e nos esquecemos de que somos seres finitos e limitados pela nossa carne e osso, e
que inclusive, homens e mulheres que viveram uma potencial vocação para Deus, no cânon
bíblico, tiveram suas crises e seus conflitos, como os três estudos de caso que mencionamos
neste artigo no capítulo anterior ressaltando o exemplo de nosso Senhor Jesus Cristo, nosso
modelo.

Peterson (2006, p. 15), fala da necessidade de cuidar do outro, como sendo algo que o
vocacionado ao ministério pastoral não consegue negligenciar, no entanto, se faz necessário
cuidar de si mesmo para não incorrer no erro de, cuidando de outros, a fim de discipular
20

ensinando o Reino de Deus, se envolva tanto, que se coloque na posição de desqualificado para
tal. Ou seja, o líder espiritual é tão humano como qualquer outro e precisa de cuidados como
qualquer outro, como relata Swindoll (1983, p. 154).

Também não podemos esquecer-nos do fardo que é carregar a necessidade de tratamento


em meio aos relacionamentos. Todas as ovelhas estão em tempo integral enfrentando, ursos,
leões, Golias, e todo pastor precisa, sem pestanejar, ajudar a enfrenta-los. As influencias
culturais estão por todos os lados agindo em discriminação pela perda do emprego, da diferença
cultural ou social, levando a uma competição estimulando ainda mais o individualismo
conforme descreve Sathler (2004, pp. 18-25).

Sob esse aspecto, podemos fazer um paralelo com Jesus no Getsêmani. Se para o líder
espiritual já é bastante complicado lidar com suas limitações, seus Golias, ursos e leões, imagina
ainda ter que carregar todos os problemas evidenciados pelos seus discípulos. Conseguimos,
de certa forma e em proporções muito menores, ter uma noção do que Jesus vivenciou no monte
das Oliveiras quando pediu para que Deus passasse dele aquele cálice, em que Pfeiffer (1968,
p. 98), atribui ao fato de estar nEle a culpa, e o pecado de toda a humanidade.

O fato é que, independente do motivo, seja por falta de fé, seja por que o líder espiritual
se dedica tanto ao cuidado de outros, que esquece que devemos amar o próximo como a nós
mesmos (Marcos 12.31), e não cuida de si mesmo. No entanto, a ansiedade é uma patologia
que tem se enraizado em meio ao ministério pastoral, e que como toda doença, precisa ser
diagnosticada, acompanhada e tratada.

Desta forma Cury, (2017, p. 80), trabalha a ansiedade como fruto da síndrome do
pensamento acelerado (SPA). Retrata a sociedade como sendo altamente dinâmica,
disponibilizando uma grande quantidade de informações e demandas, as quais, no ministério
pastoral são totalmente vivenciadas, e precisam ser tratadas, tanto em discípulos, quanto em
líderes espirituais. Sendo assim, elimina-las e praticamente impossível, então se faz necessário
pelo menos gerencia-las.

Cury (2017, pp. 80-91), retrata oito técnicas para gerenciar a ansiedade gerada através
da SPA. Os próximos parágrafos tratarão destas técnicas de gerenciamento. O primeiro ponto
a ser trabalho é tomar a decisão de sair da plateia, deixar de assistir as produções de sua mente
sem freia-la, e gerenciar o que ela esta assimilando e produzindo, quando não nos
21

conscientizamos que precisamos sair do estado de inércia, já começamos a avançar, no entanto,


se ignoramos esta necessidade, seremos apenas expectadores de nossas emoções.

O segundo ponto é ser livre para pensar e não escravo do pensamento, o que são coisas
totalmente diferentes. Ser livre para pensar é deixar os seus pensamentos voarem, brilharem,
serem criativos; produzir o que ninguém produziu, criar o que ninguém criou, falar o que nunca
foi dito. Bem diferente de se deixar dominar por pensamentos pessimistas, carregados de juízo
de valor, e pior, valor negativo. Ou seja, devemos usar nosso pensamento para ajudar a
transformar situações de crise em oportunidades de crescimento e amadurecimento.

O terceiro ponto é gerenciar o sofrimento antecipatório, que nos leva a pensamentos


bloqueadores de nossa inteligência. Cury (2017, p. 82), faz uma crítica fantástica ao fato de
como lideres eclesiásticos, criticarmos tanto as cartomantes, por exemplo, que tentam adivinhar
o futuro, no entanto, passamos o tempo todo sofrendo por um futuro imaginário e que conforme
estudos relatados por Cury, 90% destes pensamentos não acontecem, e outros 10% acontecem
de maneira diferente da forma como idealizamos.

Sendo assim, temos o combustível exato para a combustão da ansiedade no ministério


pastoral. O grande problema, é que devemos usar nosso pensamento apenas para sonhar e traçar
estratégias para superar alguma dificuldade, mas ao invés disso, somos levados a assombrar o
nosso futuro, sabotando a qualidade de vida que temos no presente. É justamente sobre isso que
Jesus trata no “... para cada dia pasta o seu mal” de Mateus 6.34c (B. Jerusalém).

O quarto ponto é fazer a higiene mental a partir da técnica do DCD (Duvidar, Criticar,
Decidir). Devemos duvidar de tudo que nos aprisiona, Criticar todo pensamento autodestrutivo,
e Decidir alcançar metas para continuarmos crescendo e desenvolvendo. Vale ressaltar que esta
técnica é tão importante quanto à higiene corpórea e bucal, no entanto não damos os créditos
necessários a ela. Assim como tomamos banho com uma frequência média de 20h, escovamos
os dentes com uma frequência média de 4 às 6h, devemos ter uma frequência de higiene mental.

Cury (2017, p. 84), relata que esta frequência deve ser em média 5 segundos após um
pensamento autodestrutivo ou pessimista que vai nos desmotivar e nos levar a caminhos de
destruição do nosso eu, ocasionando a ansiedade, por se colocar como cativo dele. É como dar
gritos de liberdade contra cada um dos pensamentos que tenta nos dominar, tomando a régia da
situação e entregando a quem pode resolver, o autor e consumador de nossa fé, nosso Senhor
Jesus Cristo.
22

O quinto ponto é reciclar as falsas crenças que vamos desenvolvendo ao longo de nossa
vida. À medida que o tempo vai passando nossas experiências nos formatam a acreditar no que
somos capazes de fazer, ou mesmo, e na maioria das vezes com impacto mais significativo, as
tarefas ou situações que não somos capazes de realizar. Precisamos reavaliar tais crenças todo
os dias, a fim de desmonta-las e reconstruí-las para que possamos controlar nossa ansiedade.

O Sexto ponto, e esse é deveras importante: Não ser uma máquina de trabalhar. O
ministério pastoral exige muita dedicação, autodoação, negação de si mesmo em prol do
tratamento e atendimento da necessidade do outro. Embora sejam louváveis essas atitudes e
inclusive, foram orientadas por Cristo em Marcos 12.31, como parte do maior mandamento,
precisam ser dosadas.

Não estou aqui dizendo que precisamos nos acomodar, deixar de lado nosso
comprometimento com o Reino de Deus. É necessário muita dedicação, muito empenho, muito
envolvimento para que o Reino Divino seja propagado, e para que as ovelhas do Senhor sejam
cuidadas, no entanto, precisamos entender que não somos máquinas, e temos limites. Esses
limites precisam ser observados e respeitados.

Como exemplo podemos citar um empreendedor que trabalha muito, se dedica tanto
para ter melhores resultados, e ter as ideias mas audaciosas que se não e policiar se tornará
rapidamente, o melhor empreendedor que o cemitério pode ter, como descreve Cury (2017, pp.
86-89). Não esqueçamos que o nosso maior exemplo, Jesus Cristo passou por uma crise de
ansiedade e angustia extrema, conforme já abordamos anteriormente.

O sétimo ponto de discussão de Cury (2017, p. 89), não somos uma máquina de
informações. Na atualidade existem computadores fantásticos, com HD’s em tamanhos
absurdos, os quais podem armazenar exponencialmente mais informações que a memória
humana. No entanto a quantidade de informação que um computador pode armazenar, não está
diretamente ligado à capacidade técnica deste.

Não é o muito armazenamento de informações que o fara desenvolver melhor suas


tarefas. Podemos ver o exemplo de Freud, ele possuía muito menos acesso a informação que
seus seguidores, no entanto o seu pensamento foi muito mas longe. Podemos validar, então,
que na verdade, Freud sabia trabalhar a sua mente. Fazia exercícios como o DCD, ou seja,
Discutia, Criticava e Decidia, fazendo com que ficasse retido o que realmente importava.
23

O oitavo passo discutido por Cury (2017, p. 90), é que não devemos ser traidores da
qualidade de vida. Para Cury esse é um erro dramático, dissertando sobre o fato de que
praticamente todos já fomos traídos, de alguma forma, e também já traímos, e o mais
surpreendente é que continuamos nos traindo a todo instante. Isso é tão intenso que não
conseguimos dedicar nosso tempo mais ao que realmente importa, que é o relacionamento com
quem amamos, por exemplo.

Usamos nosso tempo para tantas coisas que não temos mais tempo para os nossos
relacionamentos, para os diálogos pessoais, para nossa família, lazer, etc... Hoje embora
tenhamos uma vida mais longa, biologicamente, morremos mais cedo para o ser humano. Não
buscamos mais o relacionamento interpessoal, e me permita colocar que se o fazemos com
quem está ao nosso lado vendo e convivendo, imagina com Deus?

Precisamos realizar sempre nossa higiene mental, praticar nossa auto avalição, usar e
abusar dos exercícios de DCD, de forma a organizar nossa mente, não deixando que nos pregue
peças, mas tendo o domínio sobre ela, assim como o corpo é dominado pelo halterofilista,
precisamos dominar nossa mente, a ponto de orienta-la para nos levar a onde precisamos chegar.
(Cury, 2017, pp. 80-91).

5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

No desenvolvimento deste artigo, podemos verificar o quanto complexo é o processo de


conceituação da ansiedade. São vários pontos de vista, muitas fontes, autores renomados,
escritores, psicólogos, psiquiatras, filósofos, cada um sob os óculos de sua vivencia,
direcionando o que seria a forma mais concreta de descrever os transtornos de ansiedade.

No entanto, podemos observar o quanto esta patologia tem se desenvolvido no


ministério pastoral, mas os líderes espirituais, ainda muito fechados dentro de suas falsas
crenças, não se abrem para o novo conhecimento dos transtornos de ansiedade, e tem
24

mergulhado de cabeça em diversos transtornos, não sabendo como lidar com a situação, uma
vez que acreditam que não podem ser acometidos por tal disfunção.

Mostramos sob o ponto de vista do saber psicológico que os transtornos de ansiedade


são uma patologia complexa, a qual não existe idade para acometer, classe social, raça, ou sexo.
Desdobra-se em várias ramificações, cada uma com uma forma de apresentação, uma forma de
diagnóstico, consequências diferentes em cada individuo acometido, além de tratamento
específico, que devem ser avaliados para cada caso individualmente.

Ainda verificamos que, se não bastassem todas essas variáveis para fazer um tratamento
correto, o diagnóstico depende da avaliação pessoal de um profissional, que analisará a luz do
seu conhecimento e vivência, que será influenciado diretamente pelas observações anotadas ao
longo de sua carreira, além da fundamentação de Pessotti (1978, p. 97), que defende a
atualização cultural da ansiedade, abrindo um leque para novas pesquisas.

O caminho teológico no território da ansiedade, segue um rumo diferente. Os teólogos


analisados, como Champlin, Halley, Brown, não negam a existência da patologia como
expressão física, no entanto, todos vão apontar para uma só direção, a falta de fé, ou falta de
relacionamento com Deus, evidenciado pela angústia gerada através da preocupação
exacerbada ao que virá.

Champlin (2017, p. 177), relata que a ansiedade é algo natural, uma vez que é inerente
a raça humana, que vive num espaço temporal, portanto finito, e a angústia da briga entre a
finitude a natureza da criação para a eternidade vão travar um duelo, mas este tem o seu fim
quando aponta par Cristo, enquanto aquele que venceu a morte, e por conta disso tem suas mãos
a chave para a eternidade, o que significa que se Ele venceu a morte e o mundo (João 16.33),
tão somente precisamos depositar nEle nossas ansiedades (Filipenses 4.6).

Verificamos três estudos de caso, de personagens bíblicos, que foram acometidos por
crises de ansiedade, uma vez que a Bíblia não vai relatar casos de ansiedade, até pela causa
última de sua escrituração, que é o relato de fé do povo de Israel. Estes personagens tiveram
suas patologias tratadas, não pela mão de um juiz, como esperavam que ocorresse, mas por um
Deus amoroso e misericordioso que, mesmo em Jesus, o caso mais estremo dos três, mandou
um representante para conforta-lo, conforme Lucas 22.43.

No campo do Ministério Pastoral, observamos que os líderes eclesiásticos, por conta de


sua vocação vivem em um confronto radical, entre o seu interior com o seu exterior. Se por um
25

lado, é necessária a busca por uma espiritualidade para as atribuições da vocação, por outro, as
tendências mercadológicas e competitivas de uma sociedade capitalista e consumista ao
extremo, tornam essa tarefa cansativa e muito complexa.

Vivencia-se uma briga diária pela negação de seus desejos, e vontades, se voltando para
a cruz seguindo, o exemplo maior de Jesus. É exatamente aqui, onde a ansiedade ganha espaço
para se desenvolver dentro do Ministério Pastoral. Como ser humano, o líder possui limitações,
instintos e vontades, mas olhando para Cristo, precisa vencê-los. No entanto, muitas vezes,
assim mesmo como em Cristo, vai sentir a angústia do fardo de muitos sobre sua
responsabilidade.

Verificamos, então, que no ministério pastoral a expectativa dos resultados precisa estar
centralizada em Cristo, no entanto, mesmo entendendo que é necessário depositar todas as suas
ansiedades nEle, observamos que se não conseguimos compreender a necessidade de cuidar de
nosso corpo físico, por sermos seres humanos, estamos propensos a desenvolver uma patologia
psicossomática.

Da mesma forma, a psicologia desenvolve um tratamento patológico e clinico para os


transtornos de ansiedade, mas com um complemento subjetivo dentro do campo de
conhecimento da Teologia, existe um facilitador para o tratamento, uma vez que o tratamento
da fé trará o retorno da autoestima, a diminuição da angustia por uma preocupação exacerbada
de um futuro que deve ser colocado sob o cuidado daquele que pode fazer a diferença, Jesus
Cristo, o Senhor do tempo, e das provisões de todas as necessidades.

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