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UM ESTUDO TEOLÓGICO SOBRE TEOLOGIA DA PROSPERIDADE

Aldevan Pinto Rego1


Luismar Ferreira Amorim2
Maria da Conceição Frota Queiroz3
Romilson Gomes de Lima4

Liliane Oliveira5

RESUMO

Neste artigo abordou-se o tema da teologia da prosperidade no Brasil e uma análise sobre a
adesão e a expansão que o movimento ganhou nos últimos anos e os principais reflexos na
vida da igreja. De acordo com os fatos obtidos da pesquisa a “teologia da prosperidade” ganha
a proporção de crescimento por defender e legitimar os valores da sociedade secular – poder,
riqueza e sucesso. Apresentando um modelo de líder dinâmico e que agrada uma multidão de
fiéis que surge no mesmo contexto. A temática da análise tem como propósito uma avaliação
sem a intensão de apresentar sugestões e/ou soluções para dúvidas ou confronto.

Palavras-chave: Prosperidade. Saúde. Poder. Fé. Movimento Neopentecostal. Igreja.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo trazer uma reflexão sobre a pregação da teologia
da prosperidade, doutrina também conhecida como “Confissão Positiva” e “Palavra da fé”.
No Brasil muitos adeptos, cristãos e membros de denominações tanto pentecostais quanto
históricas tem abraçado com entusiasmo os ensinamentos dessa doutrina.

A proposta que apresenta soluções imediatas tanto para o humilde cidadão quanto para
o endividado empresário demonstra resistência ao tempo e garante bons resultados para
aqueles que buscam saúde perfeita, excelente moradia, altos salários usando o poder da fé, do
pensamento positivo e, principalmente através das ofertas em dinheiro, móveis e/ou imóveis.

Na elaboração deste trabalho utilizou-se o método da pesquisa bibliográfica que


significativamente colaborou para a problemática do tema escolhido e para identificar os

1
Aluno graduando em Ciências Teológicas
2
Aluno graduando em Ciências Teológicas
3
Aluno graduando em Ciências Teológicas
4
Aluno graduando em Ciências Teológicas
5
Professora instrutora do TCC.
motivos que levam a teologia da prosperidade resistir ao tempo e ampliar sua influência e
poder.

Um dos desafios da pesquisa foi sobre a relevância do tema, sobretudo por se tratar de
um movimento, apresenta mudanças constantes e tendências novas e com significativa
velocidade.

O objetivo desse estudo é apresentar de forma concisa as informações referentes ao


crescimento e a expansão das igrejas neopentecostais no Brasil com ênfase na Igreja da Graça
e Universal sem a pretensão de julgar o “certo” ou “errado”.

Todo conteúdo obtido foi através de análises de estudo de pesquisa bibliográfica e


consulta ao site específico na atualização de dados das igrejas IURD e da Graça.

O trabalho está dividido em 03(três) sessões com os seguintes tópicos:

Sessão 1 – Contextualizar a teologia da prosperidade nos Estados Unidos.

Sessão 2 – Descrever a teologia da prosperidade no Brasil.

Sessão 3 – Explicar o crescimento das igrejas neopentecostais no Brasil fruto da teologia da


prosperidade

1. CONTEXTUALIZAÇÃO DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE NOS ESTADOS


UNIDOS

Uma das correntes doutrinárias de maior conquista no seio do movimento


neopentecostal é a Confissão Positiva, também conhecida como o Evangelho da Saúde e da
Prosperidade, Palavra da Fé ou ainda o Movimento da Fé. O dicionário dos movimentos
pentecostais e carismáticos define o tema assim:

Confissão Positiva é um título alternativo para teologia da fórmula da fé ou


doutrina da prosperidade promulgada por vários televangelistas
contemporâneos, sob a liderança e a inspiração de Essek William Kenyon. A
expressão “Confissão Positiva “pode ser legitimamente interpretada de
várias maneiras. O mais significativo é que a expressão Confissão Positiva
se refere literalmente a trazer a existência o que declaramos verbalmente,
uma vez que a fé é uma confissão. (ROMEIRO apud BURGESS e MCGEE,
2013, p. 91).

Segundo Romeiro (2013), Kenyon migrou por vários ministérios e desenvolveu várias
atividades, inovando o método de evangelização através do rádio. Kenyon não fazia ideia que
o evangelismo eletrônico por ele iniciado seria amplamente usado anos mais tarde, por outros
grupos e principalmente pelo movimento neopentecostal.
Após a morte de Kenyon surge Kenneth Hagin que se tornou o maior divulgador e
defensor da teologia da saúde e da prosperidade ou confissão positiva.

A influência do ministério de Hagin foi tão grande que ele criou um centro de
treinamento bíblico que já produziu mais de 23 (vinte e três) mil pastores nos Estados Unidos
e outros países entre eles o Brasil (ROMEIRO p. 98-99). Algo de relevância nas suas
justificações é que fora instruído pessoalmente por Jesus nos assuntos de doutrina chegando a
receber a visita do mestre não menos que 08 (oito) vezes (PIERATT, 1993, p. 40) além de
uma espiritualidade profunda e poderosa recebeu também dons especiais de inteligência e
presciência (PIERATT, 1993, p. 44, 61, 71). No campo das finanças segue o mesmo
raciocínio sobre saúde e prosperidade afirmando que um cristão que é pobre tem somente a si
para culpar que a razão de muitos cristãos continuarem a sofrer com os problemas da vida
depois de se converterem está em desconhecer o que lhes pertence por direito. Portanto, o
objetivo da teologia da prosperidade é eliminar a falta de conhecimento acerca de nossa real
condição como cristão e dessa maneira espalhar saúde e prosperidade pelo mundo.

2. A TEOLOGIA DA PROSPERIDADE NO BRASIL

O discurso dos neopentecostais brasileiros reproduz os mesmos ensinamentos dos


precursores da teologia da saúde e da prosperidade. A teologia brasileira sofre influência dos
norte-americanos diz (GONDIM, 1993). A teologia da prosperidade surgiu no seio da nação
mais rica e poderosa do mundo – a saber – os Estados Unidos da América, com um sistema de
governo democraticamente consolidado, bem diferente da realidade de um país de terceiro
mundo com seus graves problemas sociais e político-econômico como o Brasil.

Para Pieratt, (1993) a atração no contexto brasileiro não se dá pela presença da


prosperidade, e sim pela ausência. Com uma proposta de muito poder e esperança que não se
limita a nenhum continente, igreja e/ou denominação. Muitos cristãos, membros de
denominações tanto pentecostais quanto históricas tem abraçado com entusiasmo os
ensinamentos desta nova teologia que tem espalhado na comunidade evangélica brasileira.

O resultado para muitos que acreditam na argumentação segundo a qual o cristão


como filho do Rei deve viver uma vida de prosperidade material, perfeita saúde física e
emocional seria obtido pela ação de decretar e declarar a posse da benção e não viram
acontecer e se viram frustrados. A esses se designa o termo “decepcionados com a graça”,
conforme a seguinte análise crítica:
[...] a aplicação da teologia da prosperidade não gerou uma igreja mais rica e
poderosa. Produziu, sim, líderes mais ricos, poderosos e gananciosos [...]
Ávidos pelo poder criaram mega-igrejas, compraram mansões, tornaram-se
celebridades [...] sua teologia não produziu crente melhores, mas crentes
doentes ,confusos [...] pois estes não viam os resultados práticos da aplicação
dos princípios que faziam de seus líderes o que eles mesmos queriam ser
(ROMEIRO, 2013, p. 11).

3. O CRESCIMENTO DAS IGREJAS NEOPENTECOSTAIS NO BRASIL

O movimento neopentecostal surgiu no cenário brasileiro no início do século XX.


Conseguiu mobilizar as massas e dominar grandes somas de dinheiro e boa parte da mídia
eletrônica. Para Romeiro (2013, p. 73) a prática neopentecostal é eficiente e com um nível de
criatividade bem elevado.

As igrejas com maior índice de expressividade são a Igreja Universal do Reino de


Deus e a Igreja Internacional da Graça de Deus cada uma com suas peculiaridades.

3.1 – Igreja Internacional da Graça de Deus

Fundada por R.R. Soares em 1980. De acordo com Romeiro (2013, p. 68) a Igreja da
Graça determina alguns critérios para o ministério pastoral que inclui homens e mulheres.
Uma vez confirmada a vocação, o evangelista passa a viver do salário oferecido inicialmente
pela organização. Uma vez ordenado pastor passa a cuidar de uma igreja.

Como a maioria das igrejas neopentecostais, a Igreja da Graça preocupa-se quase que
exclusivamente com a evangelização através da mídia. O culto do missionário R. R. Soares
passou a ser chamado “Show da Fé”. Segundo Romeiro (2013, p.71), um fator que contribui
para o crescimento expansivo da igreja é o carisma do seu líder que na opinião de quem o
conhece é o fator mais importante. Mesmo quem não concorda com Soares acaba gostando
dele, ele tem o dom de agradar e o usa muito bem.

O ritmo do crescimento da Igreja da Graça tem sido contínuo nos últimos anos, tanto
no Brasil quanto no exterior, onde já se estabeleceu em Portugal, Japão e Estados Unidos. O
grupo possui ainda a Graça Multimídia, que envolve emissoras de rádio e gravadora, além de
uma editora a Graça Editorial.
Quanto a doutrina enfatiza grandemente as curas e milagres. Com base na
própria experiência relata: As coisas tomaram um novo rumo na minha vida,
a fé tornou-se viva e real. Eu havia aprendido a tomar posse da benção. Já
não era mais o mesmo, aquele que vivia se queixando para Deus que não
entendia que, em Cristo, todas as coisas são minhas e Nele sou senhor de
qualquer situação em que eu me encontrar (ROMEIRO apud SOARES,
2013, p. 105).

Ainda no texto de Romeiro, R.R. Soares afirma que tudo é uma questão de fé que
nenhuma doença tem ligação com a hereditariedade, nem com as condições do meio
ambiente, nem com o contexto geográfico em que vive o doente. De acordo com Romeiro
(2013), os agentes que causam enfermidades não são físicos, e sim espirituais, logo as armas
de combate devem ser espirituais, e isto se chama fé. Essa mesma referência é aplicada
também na área financeira, no casamento e na vida profissional. O foco de evangelização da
Igreja da Graça é a mídia. Um programa missionário de outra natureza se não resulta em lucro
financeiro não desperta nenhum interesse.

3.2- Igreja Universal do Reino do Deus

A Igreja Universal do Reino de Deus a IURD como é conhecida com sede no Templo
de Salomão, na cidade de São Paulo, inaugurou a era neopentecostal no Brasil, cuja ênfase de
liturgia é a libertação espiritual e prosperidade financeira. O espaço conquistado pela igreja é
tão significativo que foi mencionada entre os fatos mais importantes do século XX. Assim
definida:

A IURD cresce, instiga, assusta e não comporta análises unilaterais.


Atualmente é a maior igreja neopentecostal do Brasil, e não encontra
paralelo histórico , em outra denominação protestante brasileira .Seu estigma
tem se mostrado tão forte que hoje, quando se conversa com leigos sobre
evangélicos, pentecostalismo ou neopentecostalismo sempre se tende a
associá-los a IURD ,que virou quase uma marca registrada. O seu pouco
tempo de existência não impediu sua crescente visibilidade, representando
um papel que já faz parte do cenário brasileiro. É difícil nunca ter ouvido
falar nela, tenha sido contra ou a favor (ROMEIRO apud BONFATTI, 2013,
p. 55).

Inaugurada em 1977 por Edir Macedo a IURD não para de crescer e se transformou
no verdadeiro império da comunicação .Além dos investimentos nas mídias sociais (rádio,
televisão e internet), também investe na mídia escrita dirigida a vários públicos e em diversos
países do exterior, mas sua principal publicação é a Folha Universal, um periódico semanal
com assuntos diversos ,atuais e relevantes e principalmente com as informações das ações da
própria denominação (ROMEIRO, 2013).
A Universal nos últimos anos tem demonstrado um interesse constante pela política,
buscando em sua trajetória eleger seus vereadores, deputados e senador a exemplo Marcelo
Crivella sobrinho do líder Edir Macedo. De acordo com o site pesquisado a denominação
possui vários grupos de voluntariados que atuam nos presídios masculinos e femininos em
quase todos os estados brasileiros que além de visitas semanalmente atendem familiares de
detentos e jovens que cumprem medidas sócio educativa.

Um dos destaques desses grupos de auto ajuda é Goodllywood criado com o propósito
de resgatar valores esquecidos, formando mulheres melhores em todos os aspectos da vida.
Atua em vários países realizando palestras e encontros.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento desse trabalho possibilitou uma análise de como a doutrina da


prosperidade se espalhou rapidamente pelo Brasil. Constata-se que o contínuo progresso é sua
mensagem triunfalista, assunto muito atraente atualmente, baseada na teologia da saúde e da
prosperidade.

Ao fazer o estudo verificou-se também que a maioria das pessoas que se identificam
com o ensinamento são influenciadas principalmente pelo modelo de líderes que as igrejas
desse movimento apresentam: ricos, poderosos e com perfis carismáticos que atraem e
reforçam os argumentos da busca pelo ter, e ter sempre mais como sinônimo de obediência a
Deus.

A teologia da prosperidade sustenta uma doutrina excêntrica, pois defende que


nenhum filho de Deus pode em nenhuma circunstância pode adoecer ou passar por privações
de outra natureza.

Não há dúvidas que a teologia aponta para a prosperidade do Evangelho como


resultado de um crescimento amplo e abrangente e pela sua própria natureza o homem deseja
e busca constantemente a prosperidade. Limitar a ideia de prosperidade apenas ao dinheiro é
contribuir para a divulgação de uma sociedade cada vez mais consumista e exclusiva, pois
este, é o reflexo encontrado na sociedade brasileira vitimada principalmente pelo fruto da
avareza humana. Se não fosse o egoísmo e a soberba da vida, as oportunidades seriam iguais,
a distribuição de renda seria para todos (todas) e a competição seria mais humana, mais
fraterna, e, consequentemente mais justa.
É necessário reconhecer que para algumas pessoas que buscam na proposta da
doutrina da prosperidade o desejo urgente de ver solução para sair da miséria, resolver
dificuldades na família, pagar dívidas e serem curados de doenças – estão desesperados e
ansiosos e encontram um Jesus como fórmula mágica, dependendo apenas da iniciativa e da
liberalidade de cada um. É uma relação matemática com ação e reação, na medida em que a
fidelidade humana é demonstrada de forma material, necessariamente se obterá a
prosperidade também material. Observa-se que não existe uma proposta de acolhimento e não
há espaço para o discurso do fracasso. Os que passaram por experiências negativas começam
a fazer parte de uma minoria silenciosa.

Os neopentecostais monopolizam a mídia. São vistos, ouvidos e formam opinião. Para


muitas pessoas na sociedade, os pregadores neopentecostais são o único referencial de
pregação e ética evangélica.

O neopentecostalismo brasileiro continuará sendo um desafio e uma atração para os


pesquisadores de religião.
REFERÊNCIAS

ROMEIRO, Paulo. Decepção com a graça: Esperança e frustações no Brasil neopentecostal.


São Paulo: Editora Candeia, 2013.

ROMEIRO, Paulo. Supercrentes: o evangelho segundo os profetas da prosperidade. São


Paulo: Editora Candeia, 2015.

PIERATT, B. Allan. O evangelho da prosperidade: análise e respostas. São Paulo: Vida Nova,
1993.

RODRIGUES, G. Ricardo. O evangelho da nova era: Uma análise e refutação bíblica da


chamada teologia da Prosperidade. São Paulo: Abba Press Editora e Divulgadora cultural.
Ltda, 1993.

Portal oficial da Igreja Universal do Reino de Deus. Acesso em: 27 de março de 2019.
Disponível em: https://www.universal.org/

On Grace - Portal oficial da Igreja Internacional da Graça de Deus. Acesso em: 27 de março
de 2019. Disponível em: http://ongrace.com/portal/

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