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PAULO GUILHERME MARREIROS BENONE

BELÉM-PA
2024
Mariano, Ricardo. Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo no Brasil.
5. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2014.

O neopentecostalismo originou-se da terceira onda do pentecostalismo,


originário da América do Norte. A terceira onda, denominada neopentecostal, é a
vertente que mais cresceu nas últimas décadas, iniciando-se na segunda metade
dos anos 70 e fortalecendo-se nos anos 80 e 90. Igrejas como a Universal do Reino
de Deus e a Renascer em Cristo, fundadas por pregadores brasileiros, são exemplos
dessa fase. Elas se caracterizam pela Teologia da Prosperidade, guerra espiritual
contra o Diabo e seus representantes na terra, e pela não adoção dos tradicionais
costumes de santidade do pentecostalismo. A Teologia da Prosperidade (TP), em
particular, desempenhou um papel significativo no crescimento dessas igrejas,
promovendo mudanças notáveis nos padrões de comportamento e relacionamento
dos fiéis com a sociedade, garantindo aos fiéis não apenas a salvação espiritual,
mas também sucesso material e prosperidade nesta vida.
A Teologia da Prosperidade tornou-se uma ferramenta eficaz para atender às
demandas dos fiéis por soluções imediatas para seus problemas financeiros, ao
mesmo tempo em que legitimava a busca por riqueza e sucesso material. Max
Weber observou que quanto mais congregacional é uma organização religiosa, mais
os líderes religiosos são pressionados a ceder às necessidades dos leigos, muitas
vezes prometendo compensações imediatas neste mundo. No caso do
neopentecostalismo, a ênfase na Teologia da Prosperidade se tornou uma marca
distintiva, refletindo uma mudança fundamental na abordagem das igrejas
pentecostais em relação ao mundo e aos interesses de seus seguidores.
A Teologia da Prosperidade, também conhecida como Confissão Positiva ou
Movimento da Fé, originou-se nos Estados Unidos no início dos anos 40 e foi
formalizada como um movimento doutrinário nos anos 70. Sob a liderança de
Kenneth Hagin, influente evangelista e pregador, essa teologia difundiu-se por vários
países, encontrando eco principalmente entre os pentecostais e carismáticos.
Hagin, fortemente influenciado por Essek William Kenyon, um escritor e
pregador que se inspirou nas seitas metafísicas derivadas do Novo Pensamento,
fundou sua própria instituição religiosa baseada em experiências sobrenaturais e
visões. A Teologia da Prosperidade promete saúde perfeita, prosperidade material e
vitória sobre o sofrimento, incentivando os fiéis a confessarem e determinarem
verbalmente essas bênçãos.
Essa teologia sustenta que os cristãos têm o poder de criar realidades por
meio de suas palavras, baseando-se na crença de que Deus concedeu aos homens
a mesma autoridade divina para chamar coisas à existência. Os adeptos da Teologia
da Prosperidade acreditam que podem reivindicar suas bênçãos por meio da fé e da
confissão verbal, semelhante a uma fórmula mágica.
No entanto, a realização dessas bênçãos depende da fé inabalável do crente
e da ausência de dúvidas quanto à sua concretização. Qualquer hesitação pode
impedir o recebimento da bênção prometida. Os pregadores da Teologia da
Prosperidade também enfatizam o princípio da reciprocidade, incentivando os fiéis a
doarem financeiramente como forma de receberem as bênçãos divinas.
Essa teologia se espalhou pelo mundo, especialmente por meio do
televangelismo, sendo difundida no Brasil principalmente pelos neopentecostais a
partir da década de 80. Sua popularidade está ligada à integração das exigências
econômicas do televangelismo com seu conteúdo teológico, prometendo
prosperidade financeira e bem-estar material aos fiéis que seguirem seus preceitos.
A Teologia da Prosperidade chegou ao Brasil no final dos anos 70 e se
disseminou por várias igrejas e ministérios para-eclesiásticos, como a Igreja
Universal do Reino de Deus e a Igreja Internacional da Graça de Deus, entre outros.
Cada instituição adaptou e transmutou as doutrinas da Teologia da Prosperidade de
maneiras diversas, destacando diferentes aspectos e deixando outros de lado.
Duas denominações que adotaram fortemente a Teologia da Prosperidade
são a Igreja Universal e a Igreja da Graça, enfatizando a crença de que o plano de
Deus para o homem é torná-lo feliz, saudável e próspero em todos os aspectos. Os
pregadores da Teologia da Prosperidade argumentam que a falta de prosperidade
financeira, saúde e felicidade na vida é resultado da falta de fé, do não cumprimento
das promessas divinas e do envolvimento com o Diabo.
Essa teologia promove uma inversão de valores no sistema axiológico
pentecostal, destacando o retorno da fé nesta vida em detrimento da promessa
tradicional da salvação após a morte. Enquanto os pentecostais tradicionais
valorizavam o martírio e o auto-sacrifício, a Teologia da Prosperidade enfoca a fé em
Deus como meio primordial de alcançar felicidade, saúde, riqueza e poder terrenos.
A Teologia da Prosperidade promete a redenção da pobreza nesta vida e
associa a falta de prosperidade à falta de fé, desqualificando os pobres como
herdeiros do Reino dos Céus. Para os defensores dessa teologia, Jesus veio ao
mundo para eliminar a pobreza e a doença, e Deus tem prazer no bem-estar físico e
na prosperidade material de seus servos. A expiação de Cristo libertou os homens
da miséria e da doença, e para alcançar essas bênçãos, os fiéis devem ter fé
incondicional, exigir seus direitos em nome de Jesus e ser obedientes no pagamento
dos dízimos.
Na interpretação de certos pregadores brasileiros da Teologia da
Prosperidade, o pecado original cometido por Adão e Eva desfez a comunhão entre
Deus e os seres humanos, tornando-os escravos do Diabo. Para restaurar essa
comunhão, Deus enviou Jesus, não apenas para expiar os pecados na cruz, mas
também para derrotar o Diabo no inferno. Dessa forma, o pagamento do dízimo é
visto como um meio pelo qual os indivíduos podem refazer sua relação com Deus e
desfrutar das promessas bíblicas de prosperidade e vida abundante.
Segundo os pregadores da TP, Deus é obrigado a cumprir suas promessas
contidas na Bíblia, e os fiéis têm o direito de exigir essas promessas mediante o
pagamento do dízimo, a fé em Deus e a confissão das bênçãos divinas. No entanto,
essa visão coloca Deus em uma posição de ser manipulado pelos fiéis, que podem
"exigir" o cumprimento de suas promessas.
Apesar das promessas de prosperidade, muitos fiéis continuam enfrentando
dificuldades financeiras, o que leva alguns pregadores a enfatizar a importância de
serem astutos e aproveitarem as oportunidades para alcançar a prosperidade. Além
disso, algumas igrejas incentivam os fiéis a deixarem de ser empregados e abrirem
seus próprios negócios como uma forma de enriquecerem.
Embora a associação entre contribuição financeira à igreja e prosperidade do
ofertante seja comum no meio religioso, nem todos os fiéis são dizimistas, e apenas
aqueles que mantêm fidelidade no pagamento do dízimo são considerados
merecedores das promessas de prosperidade. No entanto, a realidade muitas vezes
não condiz com as promessas da Teologia da Prosperidade, e os testemunhos de
prosperidade tendem a se referir a conquistas modestas na vida financeira dos fiéis.

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