criado o ser humano a sua imagem, Deus deseja
distribuir riqueza, saúde e felicidade àqueles que têm
OS MODISMOS LITÚRGICOS E DOUTRINÁRIOS1
“Resta, irmãos meus, que vos regozijeis no Senhor.
Não me aborreço de escrever-vos as mesmas coisas, e
é segurança para vós. Guardai-vos dos cães, guardai-
vos dos maus obreiros, guardai-vos da circuncisão!
Porque a circuncisão somos nós, que servimos a Deus
no Espírito, e nos gloriamos em Jesus Cristo, e não
confiamos na carne” (Filipenses 3.1-3).
O apóstolo Paulo inicia o capítulo 3 da sua carta aos
filipenses trazendo uma severa advertência aos
crentes de Filipos, para que estes tivessem cuidado
com os falsos obreiros, designados como “cães”, por
serem incontinentes, maus, irracionais, destruidores.
As palavras do apóstolo são cada vez mais atuais, e
da mesma forma nós devemos ter cuidado com os
falsos mestres que estão por aí a ensinar e a pregar um
evangelho dissociado da simplicidade da cruz de
Cristo. Todo crente deve ser um apologeta, tanto para
defender-se dos falsos ensinos como para levantar a
bandeira do verdadeiro evangelho.
Analisemos mais detidamente essa questão.
I – OS GRAVES DESVIOS NEOPENTECOSTAIS2
O movimento neopentecostal atual teve origem 60
anos após o surgimento do pentecostalismo clássico.
Embora o termo neopentecostal traga a falsa ideia de
uma renovação dentro do pentecostalismo, na
verdade, trata-se de um movimento totalmente
diferente.
O pastor Paulo Romeiro, em seu livro
Decepcionados com a Graça afirma, que o movimento
neopentecostal no Brasil surgiu a partir da década de
1970, com destaque para a Igreja Universal do Reino
de Deus (IURD), a Igreja Apostólica Renascer em Cristo
e a Igreja Internacional da Graça de Deus, entre outros
grupos.
A teologia do movimento neopentecostal está
centrada principalmente em quatro pilares: Doutrina
da confissão positiva, teologia da prosperidade,
batalha espiritual e maldição hereditária.
Para Romeiro, ”A mola propulsora do
neopentecostalismo é sua mensagem triunfalista,
baseada na teologia da saúde e da prosperidade,
surgida na primeira metade do século XX, nos Estados
Unidos. De acordo com essa doutrina, o cristão não
deve ser atingido pelas vicissitudes da vida, assunto
atraente nos dias de hoje. Muito longe da exaltação da
indigência, cara a uma certa tradição católica, sua
retórica consiste em proclamar que a pobreza não faz
parte dos propósitos divinos. Pelo contrário: tendo
1 Mário Saraiva, pastor auxiliar na IEADEB.
fé e a exprimem intensamente”.
Percebemos, nesse movimento, um forte
sincretismo religioso, com o uso, em suas liturgias, de
elementos próprios do catolicismo popular e do baixo
espiritismo, como: sal grosso, água ungida, flores,
óleos etc. Uma série de bugigangas, tidas por eles
como essenciais, pois, segundo afirmam, são pontos
de contato da fé.
Ver Colossenses 2.20-23.
1. Confissão positiva
Para Stanley M. Burgess e Gary b. McGee, o termo
confissão positiva “refere-se a trazer à existência
aquilo que declaramos com nossa boca, uma vez que
a fé é uma confissão”.
A importância da fé é indubitável, ela é
fundamental na vida do crente, no entanto precisamos
observar a soberania de Deus. Não é porque
pronunciamos palavras positivas que isso se tornará
realidade. A vontade de Deus é soberana.
Romeiro afirma que, “apesar do verdadeiro pai da
confissão positiva ser Essek William Kenyon, muitos
consideram Kenneth Hagin o pai desse ensino. No
entanto, podemos afirmar categoricamente que o
principal porta voz dessa doutrina herética é o tele
evangelista norte americano Kenneth Hagin”.
No Brasil, os principais divulgadores da confissão
positiva são: R.R. Soares, responsável pela publicação
da maioria dos livros de Kenneth Hagin por aqui;
Valnice Milhomens, Miguel Ângelo da Silva Ferreira e
também o engenheiro civil Apostolo Jorge Tadeu, hoje
pastor e líder das igrejas Maná em Portugal. Esses,
através da mídia e livros publicados a muitos têm
influenciado no Brasil.
Romeiro mostra que, em muitos círculos, mesmo
em reuniões de oração, evita-se pedir oração por
alguém que está enfermo, pois não se pode confessar
ou admitir qualquer coisa negativa. Eles reforçam seu
argumento citando (Provérbios 18.21), “A morte e a
vida estão no poder da língua”.
2. Teologia da prosperidade
De acordo com os pesquisadores George A. Mather
e Larry A. Nichols, autores do Dicionário de Religiões,
Crenças e Ocultismo, “A teologia da prosperidade
também é conhecida como confissão positiva, teologia
da saúde e da prosperidade”.
Segundo os mesmos autores, ela se constitui em
uma corrente teológica que prega que qualquer
sofrimento do cristão, seja de ordem financeira,
moral, ou no campo da saúde, indica falta de fé. Outro
2Adaptado a partir do original encontrado em OLIVEIRA, R. L.
Modismos e Influências do Movimento Neopentecostal. Disponível
em <http://raydfran.blogspot.com>> Acesso em 01/10/2018.
ponto de destaque é que Deus, uma vez tendo
prometido bênçãos e heranças aos que fizessem sua
profissão de fé em Jesus Cristo, estaria obrigado a
conceder cada benção prometida aos que
reivindicassem seu direito legal a elas, sobretudo as da
saúde e da prosperidade. Jesus, de acordo com essa
corrente, nunca foi pobre; ao contrário, era muito rico.
Kenneth Hagin, o grande pregador da
prosperidade, afirma que “Jesus só não andou de
Cadilac naquela época porque não existia, pois o
jumento era o Cadillac de Jesus, o melhor transporte
da época”. Hagin só esqueceu de uma coisa: a
carruagem era o Cadillac da época e não o Jumento.
Além do mais, o jumento era emprestado.
II – “EVANGELHOS” PARA TODOS OS GOSTOS3
Tudo o que é falso deve ser rejeitado, considerado
anátema (Gl 1.6-9). O problema é que os falsos
evangelhos se manifestam com uma capa de verdade,
enganando muitos crentes (Is 5.20). Em seu excelente
livro “Evangelhos que Paulo jamais pregaria”, o Pr. Ciro
Sanches Zibordi cita vários desses pseudo-evangelhos.
Vejamos alguns:
1. O evangelho empirista
É o evangelho em que se buscam sinais (I Co 1.22;
Mt 12.38,39; Lc 23.8), em que a experiência vale mais
do que aquilo que a Bíblia diz. Os seguidores desse
evangelho buscam “profetas” para receberem
“recados” de Deus, mas geralmente não gostam de ler
e estudar as Escrituras.
2. O evangelho antropocêntrico
A ênfase aqui é o próprio homem (Fp 3.18,19). É a
deificação do homem. Em um culto antropocêntrico,
tudo é feito para agradar o homem: os louvores, a
mensagem. O culto é para o homem e não para Deus.
3. O evangelho da prosperidade
Este falso evangelho ensina que você é filho de
Deus, e, por isso, não pode adoecer ou empobrecer.
Se isso acontecer, é só fazer algum “sacrifício
financeiro” e determinar a vitória, pois suas palavras
têm poder e, dizem, você “é boca de Deus na terra”.
Esquecem-se da Bíblia, em textos como II Coríntios
11.24-30, com destaque para o versículo 30.
4. O evangelho ecumênico
A base desse falso evangelho é a ideia de que todos
os caminhos levam a Deus, contradizendo textos como
João 14.6. O evangelho ecumênico diz que não existe
uma única verdade, mas várias. Em um culto
ecumênico, artistas gospel e padres galãs podem
cultuar a Deus juntos, sem serem questionados
quanto a sua fé.
5. O evangelho filosófico
3Texto é uma síntese de ZIBORDI, Ciro Sanches. Evangelhos que
Paulo jamais pregaria. Rio de Janeiro: CPAD, 2009.
Este é o oposto do empirista. Negam qualquer
manifestação do poder de Deus, pois afirmam que
tudo deve ser questionado à luz da razão humana.
Para eles, a Bíblia não é a Palavra de Deus, mas apenas
a contém, já que os milagres seriam invenções dos
escritores bíblicos. A mente deles é natural e não
espiritual (I Co 2.14-16).
6. O evangelho farisaico
Jesus disse que deveríamos ter cuidado com esse
falso evangelho (Mt 16.6). O capítulo 23 de Mateus é
uma forte crítica de Jesus a esse tipo de evangelho. A
expressão do versículo 24 “coais um mosquito, e
engolis um camelo” mostra a ênfase do farisaísmo. Os
versículos seguintes, 25 a 28, mostram-nos que esse
evangelho prioriza a santidade exterior, sem se
preocupar com uma verdadeira devoção a Deus.
7. O evangelho do entretenimento
Não existe evangelho falso mais atraente do que
esse. Nele, o culto vira show; o adorador torna-se
artista; o pregador, conferencista, um showman. Tudo
é permitido, o proibido é proibir. A igreja vira lugar de
diversão, e não de adoração (II Tm 4.3; Rm 14.17; I Co
14.26).
II – COMO GUARDAR-SE DE TANTOS MODISMOS?
É necessário destacar a priori que, para
conhecermos o falso, basta sabermos o verdadeiro. O
conhecimento adequado é, nesse sentido, por demais
necessário para que nos protejamos das investidas dos
falsos mestres (Mt 22.29). É preciso destacar também
que não há nenhum erro em analisarmos aquilo que
vemos e ouvimos; julgar é, desse modo, proveitoso (At
17.10,11; Jo 7.24; I Co 5.12; I Co 10.15; I Co 11.13; I Jo
4.1).
No texto de Filipenses 3.1-3, Paulo mostra que,
para nos guardarmos dos falsos mestres, precisamos:
1. Valorizar o estudo da Bíblia, não vendo isso como
algo penoso, cansativo (v.1)
2. Não viver em busca de novidades, pois já temos
a Revelação de Deus: a Bíblia Sagrada (v.1)
3. Entender que o nosso relacionamento com Deus
é “de cima para baixo” e não “de baixo para cima” (v.3)
Encerro esse estudo, convidando-vos para
entoarmos o hino 151 da nossa Harpa Cristã.
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REFERÊNCIA
BÍBLIA de Estudo Palavras-Chave Hebraico e Grego
(ARC): Exegese, Estudos Bíblicos, Homilética. Rio de
Janeiro: CPAD, 2012.