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PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATOLICA

PROJETO DE PESQUISA DE INICIAÇÃO


CIENTÍFICA

2023
PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA

O papel do troperismo no desenvolvimento econômico e social do


território brasileiro

Alana Marchioro Drapcynski

Alberto Luís Schneider

São Paulo – SP 2023


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO - TEMA .........................................................


2. METODOLOGIA DE PESQUISA ..........................................

3. CONSTRUÇÃO DO PROBLEMA DE
PESQUISA..................................................................................
3.1 ANALÍTICA ....................................................................
3.2 INTERPRETATIVA ........................................................

4. LEVANTAMENTO ICONOGRÁFICO ....................................

5. O PROBLEMA DE PESQUISA .................................................

REFERÊNCIAS

SÃO PAULO – 2023


1. INTRODUÇÃO – TEMA

O troperismo foi o principal sistema de transporte de mercadorias da sociedade


colonial brasileira do século XVIII até o séc. XIX, mais especificamente entre 1733-
1897. O ciclo tropeiro se inicia graças a nova demanda que a extração de minérios na
região central do território brasileiro cria. Como José Alípio Goulart pontua em seu
texto “Tropas e tropeiros na formação do Brasil “ (1961) :

Ao passo que a mineração se expandia para o Oeste, aumentando


consideravelmente as distancias entre os nódulos do interior e o litoral
mantenedor, cresciam as necessidades de meios de transporte que pudessem
garantir movimento regular e permanente de fluxo e refluxo entre a
hinterlândia e a costa. E à medida que novas minas iam sendo encontradas a
imprevidência fazia par com a ambição e tudo que não fosse imediata
obtenção de riqueza era relegado a plano secundário./ A situação por todas as
razoes expostas clamava, pois, por uma solução urgente; e é o surgimento do
muar que vai proporcionar o meio de enfrentar o problema. (p. 31.
EDITORA CONQUISTA)

Portanto, o troperismo nasce de uma necessidade de escoamento da produção de


uma região interiorana para o litoral. O autor do texto clássico da historiografia
econômica brasileira “ A Formação Econômica do Brasil” (2006), Celso Furtado, define
o troperismo como um viabilizador da produção aurífera nas áreas mineradoras. Em seu
texto, ele explica que a “ a tropa de mulas constitui a autêntica infra-estrutura de todo
o sistema” (p. 122. COMPANHIA DAS LETRAS), sistema este de extração de
minérios. Em termos suscintos, o troperismo não existiria sem a mineração e vice-versa.

No entanto, embora a região central do território brasileiro seja o ponto que


impulsionou o nascimento do sistema de transporte de tropas, o troperismo possuí uma
área de influencia muito maior. Ele define o desenvolvimento da região sul-sudeste
pelas correntes de povoamento que são geradas devido ao emergente mercado
pecuarista de muares e reses, tendo como principais centros comerciais as cidades de
Curitiba e Sorocaba (PRADO JR, GOULART, GIL). Como Tiago Gil argumenta em
sua tese de doutorado pela Universidade de Brasília (UNB) “ Coisas do Caminho –
Crédito, confiança e informação na economia do comercio de gado entre Viamão e
Sorocaba (1780-1810)”, a rota tropeira Viamão – Sorocaba gera uma microeconomia
de cidades que se desenvolvem para atender as necessidades dos tropeiros durante a
jornada até as grandes feiras. (p. 62)

Jorge Caldeira argumenta em seu livro “A Nação Mercantilista”, de 1999, que


estas microeconomias organizam-se seguindo um modelo comercial de lógica de
mercado capitalista. O escritor pontua o seguinte:

Os mesmos produtos desenvolvidos no século anterior, porém com uma


importante diferença: já não eram mais obtidos através de escambo ou redes
de clientelismo, mas distribuídos por uma vasta rede de comerciantes. Os
mesmos agentes do século anterior, mas agora visivelmente inteligíveis como
tendo suas ações movidas pela lógica do lucro. Lucro que não se obtém
apenas pelo comercio, mas pela montagens de empreendimentos tão
regulares como possível, que devem apresentar ganhos ao final do processo
de trabalho – seja numa roça, hospedaria, venda de beira de estrada ou
empresa de comercio sobre muares. Traficantes donos de navios,
comboieiros de escravos, tropeiros (alguns donos de várias tropas com
milhares de mulas), atacadistas, varejistas das cidades ou donos de pequenas
vendas ao longo dos caminhos. Todos eles capazes de formar suas fortunas

acumulando ouro. (p. 195. EDITORA 34)

O importante historiador e sociólogo, Sérgio Buarque de Holanda, em sua obra “


Caminhos e Fronteiras” (1956), complementa a teoria de Jorge Caldeira com a seguinte
pergunta:

Aqui, como nas monções do Cuiabá, uma ambição impaciente que a do


bandeirante ensina a medir, a calcular oportunidades, a contar com danos e
perdas. (...) Não haverá aqui, entre parênteses, uma das explicações possíveis
para o fato de justamente São Paulo se ter adaptado, antes de outras regiões
brasileiras, a certos padrões do capitalismo? (p. 163. EDITORA
COMPANHIA DAS LETRAS)

Esta pesquisa analisará o troperismo como germe do capitalismo dentro da


sociedade colonial, entre 1822 – 1897, tendo como enfoque a articulação de centros
interioranos (Sorocaba) com as capitais do Rio de Janeiro e Minas Gerais para a
compreensão de como esta nova logica de mercado foi implementada e desenvolvida
dentro da sociedade colonial.
2. METODOLOGIA DE PESQUISA

A metodologia da pesquisa foi a revisão bibliográfica da obra de autores, da


segunda metade do século XX até o início do século XXI (1956- 2018), relacionadas ao
troperismo e ao desenvolvimento econômico da sociedade colonial brasileira. A
pesquisa também se alicerçará na análise da iconografia produzida representando o tema
do troperismo do século XIX e início do século XX, utilizando como base artistas como
Debret, Benedito Calixto e Henrique de Manzo, etc.

Os autores utilizados na pesquisa são o seguintes:

Luís Castanho de Almeida, pseudônimo - Aluísio de Almeida

Almeida, Aluísio de. Vida e Morte do tropeiro, Editora Martins, São Paulo, 1971

Jorge Caldeira
CALDEIRA, Jorge. A Naçao Mercantilista. Editora 34, 2 reimpressão 1999

Celso Furtado
FURTADO, Celso – Formação Econômica do Brasil. COMPANHIA DAS LETRAS,
12 reimpressão (2006)

José Alípio Goulart


GOULART, José A. : Tropas e tropeiros na formação do Brasil, Editora Conquista
(1961)

Tiago Luís Gil


GIL, L. Tiago: Coisas do Caminho – Crédito, confiança e informação na economia do
comercio de gado entre Viamão e Sorocaba (1780-1810). UnB, 2018

Caio Prado Jr.


PRADO Jr. Caio – Formação do Brasil contemporâneo. Companhia das letras, 2011, 9a
reimpressão

José Wasth Rodrigues


RODRIGUES, José Wasth – Tropas Paulistas de Outrora. Coleçao paulistica, v. X
1978.

Rodrigo Rocha Monteiro


Monteiro R. Rodrigo: Territorialidade e memória tropeira em São Paulo: O caminho
paulista das tropas. UNESP, 2013.

Sergio Buarque de Holanda


HOLANDA, Sérgio Buarque. Caminhos e fronteiras, 4 edição – São Paulo, Companhia
das letras, 2017
3. CONSTRUÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA

3.1 Construção Analítica

ALMEIDA, ALUÍSIO DE. Vida e Morte do tropeiro, Editora Martins, São Paulo, 1971

Luís Castanho de Almeida (1904-1981), foi um padre e escritor que publicou


diversos livros sob o pseudônimo de Aluísio de Almeida. Ele foi um dos maiores
estudiosos sobre o troperismo. Vida e Morte do tropeiro foi uma das suas grandes obras
onde ele analisa a mentalidade e cultura do homem tropeiro.

Aluísio inicia sua obra definindo as origens do tipo “tropeiro”. Para ele, este é o
paulista, sucessor do bandeirante, herdeiro de sua obra povoadora e familiarizado com o
ermo dos sertões brasileiros assim como os antigos sertanistas preadores de índios. Em
seu texto argumenta o seguinte:

Nunca jamais o paulista deixou de se sertanizar. Está na massa do


sangue, como costuma dizer o seu povo com grande filosofo. / E por
isso que, ao lado do senhor de engenho e do agricultor, surgiu o
homem da que aproveitou os grandes canopos e pastagens naturais do
interior do planalto brasileiro para criar imensos rebanhos com os
quais fornecer o alimento aos habitantes do povoado, litorâneos ou
mineiros (p. 13. EDITORA MARTINS)

Este homem sertanejo se apodera das campinas do sul e começa esta criação de
rebanhos e transporte de muares para o norte do território brasileiro, em direção ao
centro articulador da rota tropeira: Sorocaba.

Embora ele classifique o tropeiro como o herdeiro do bandeirante, o autor


posiciona Cristovão Pereira de Abreu, português, como o protótipo de todos os
tropeiros. Aluísio o classifica como o grande desbravador do caminho Viamão-
Sorocaba, descendo de São Paulo até a Colônia do Sacramento, retornando com uma
tropa de muares chucros da região do Prata até as minas de ouro da região de Vila Rica
(p. 14).
Do outro lado, as origens do modelo de transporte tropeiro são outras. É daí que
advém o castelhianismo, o vínculo pan-americano (p. 178) do gênero tropeiro. As
primeiras tropas de muares e gado trazidas ao território brasileiro são contrabando da
fronteira hispânica. Com isso, o autor define que os primeiros comerciantes de animais
eram de origem castelhana. O autor atribui a própria palavra “tropeiro” uma origem
castelhana. (p. 16)

Após esta análise, o próximo enfoque do autor está no outro aspecto


importantíssimo do mundo tropeiro: as feiras. Em sua obra, Aluísio define as feiras
como uma mistura do festivo e do sagrado, do profano ao religioso. (p. 41). Entre as
maiores feiras do território brasileiro, são pontuadas a feira de Caxias no Maranhão; a
de Santana, na Bahia; a de Três Coraçoes, em Minas; e, por fim, a mais emblemática
destas, a de Sorocaba. (p. 41)

Mais a frente no texto, Aluísio de Almeida, descreve o tipo de negociante


presente nestas feiras. Para ele, é a feira de animais é um comércio heterogêneo com
amplas oportunidades para qualquer tipo de empreendedor; como pontua:

O negociante de animais admite todos os tipos, desde o capitalista


empanturrado de dinheiro que compra milhares de bestas na estancia ou na
feira, ate ao pequeno sitiante que reúne suas parcas economias para adquirir
um ou dois lotes de burros chucros, amansa-los e revende-los com lucros
bem pingues, para dobrar o negócio na feira seguinte; continuar a crescer de
ano em ano, até trocar o seu nome simples e honrado: Joao da Silva Macado,
v.g, por Barão de Antonina (p. 109)

Ou seja, além de ser um negócio até certo ponto inclusivo, ser comerciante de
tropas também é uma chance de ascensão social.

Voltando a análise das feiras, o autor define que a primeira feira de Sorocaba
ocorreu entre 1733, após a abertura do caminho de Rio Grande, e antes de 1757. Sobre
os motivos da feira ter se estabelecido nesta região, Aluísio de Almeida, pontua os
seguintes motivos:

Quais as causas da localização da feira de animais em Sorocaba/ A


fundação do Registro de animais, junto ao rio. O rio separava o
contribuinte e o Governo recebedor. O comprador é que por uma lei
econômica natural pagava o imposto. Isso concorria para o encontro
com o vendedor em Sorocaba. (p. 42)
Segundo Aluísio de Almeida, as feiras ocorriam entre fevereiro e junho (p. 52).
Até o final das chuvas, no mês de março, as tropas descansavam no “encosto”, lugar
entre vales, com boa pastagem, onde as tropas podiam repousar após as longas viagens.
Em sua “ Nota 1”, ele cita o bacharel Salvador José Correia Coelho, em seu texto “
Passeio à minha terra” de 1854. Salvador discorre o seguinte: “ Para ai afluem mineiros,
baianos, fluminenses, paulistas, paranaenses, rio-grandenses, argentinos a vender” (p.
64).

Portanto, pode-se considerar que nestes parados meses, a feira de Sorocaba,


além de entreposto comercial, também se torna um local de sincretismo cultural entre
diferentes regiões brasileiras e até mesmo latino-americanas. É o que, mais a frente, o
autor descreverá como o vínculo panamericano do troperismo (p. 178)

Entrando agora em outro ponto – o da mentalidade tropeira – Aluísio de


Almeida inicia sua discussão com a seguinte descrição:

Gente de coragem, os tropeiros! Desprezadores da morte, orgulhosos de


serem chamados valentes, digna linhagem bandeirante de cavaleiros feudais,
independentes, individualista, levando a lei na ponta da espada ou do facão,
mas sempre com um mínimo de normas de conduta e dogmas de gente
honrada / Lê-se a valentia dos gaúchos e também tropeiros argentinos no
‘Facundo’, de Sarmiento. (p. 94)

O trecho acima é uma valiosa interpretação historiográfica da interpretação do


personagem “Tropeiro” dentro da sociedade brasileira. Honra, valentia e independência
segundo Aluísio, são os estandartes da mentalidade tropeira segundo Aluísio de
Almeida.

Para ele, este tipo de comportamento é exemplificado da melhor forma nas


famosas cavalhadas que ocorreram entre o século XVIII e XIX na região sul-sudeste. A
cavalhada é uma encenação onde os participantes se enfrentam encenando batalhas
históricas (portugueses e mouros) ou o embate entre dois pares em uma espécie de duelo
teatral. Entre os costumes da cavalhada que melhor exemplifica o aspecto da honra
feudal presente dentro da sociedade tropeira esta o seguinte: “ quando um cavaleiro
fizesse bonita sorte, vinha presentear a eleita de seu coração com a argolinha de prata e
receber na lança um presente de joias ou cédula de dinheiro.” (p. 97)
Em suma, para os propósitos específicos desta pesquisa, a obra supracitada de
Aluísio de Almeida, analisa dois pontos de extrema importância: a logística do
comércio tropeiro, principalmente em seu maior ponto, a feira de Sorocaba; e, a
mentalidade do homem tropeiro.

Embora a pesquisa de Aluísio de Almeida tenha como principal fonte a tradição


oral e por vezes até a própria memória do autor, negligenciando por vezes citações
historiográficas, este livro não deixa de ser um dos principais estudos sobre o
troperismo no Brasil.

CALDEIRA, JORGE. A Naçao Mercantilista. Editora 34, segunda reimpressão 1999.

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