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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE EDUCAÇÃO E COMUNICAÇÃO

Tema:

História da Supervisão na Educação em Moçambique

Curso: Doutoramento em Inovação Educativa

Disciplina: Supervisão Institucional e Educativa

Docente: Prof. Dr. Adérito Barbosa

Doutorando: Anifo Inusso Moniz Martinho

Nampula, Março de 2018

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE EDUCAÇÃO E COMUNICAÇÃO

Tema:

História da Supervisão na Educação em Moçambique

Texto Científico de Carácter Avaliativo, Apresentado na Disciplina de Supervisão


Institucional e Educativa, Curso de Doutoramento em Inovação educativa na Faculdade
de Educação e Comunicação da Universidade Católica de Moçambique.

Docente: Prof. Dr. Adérito Barbosa

Doutorando: Anifo Inusso Moniz Martinho

Estudante N°: 703170339

Nampula, Março de 2018

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HISTÓRIA DA SUPERVISÃO NA EDUCAÇÃO EM MOÇAMBIQUE

Neste trabalho iremos abordar sobre a história da supervisão na educação em


Moçambique. Assim, iniciamos a nossa abordagem fazendo a conceptualização da
supervisão no ponto de vista de alguns autores e posteriormente falaremos da história da
supervisão na educação no contexto Moçambicano.

Segundo Viera (2010 cit. em Cohen, 2014), a supervisão é entendida como sendo a
teoria e prática de regulação de processo e aprendizagem. De acordo com Alarcão &
Tavares (2003 cit. em Cohen, 2014), a supervisão pedagógica é entendida como o
processo em que um professor, em princípio mais experiente e mais informado, orienta
outro professor ou candidato a professor no seu desenvolvimento humano (p.322).

Para Simbine (2009), a supervisão pedagógica resume-se na verificação superior das


actividades pedagógicas dos escalões relativamente inferiores, com o objectivo de
verificar, acompanhar, avaliar e apoiar a implementação do processo educativo,
inteirando-se dos avanços, problemas ou irregularidades que, durante o período lectivo,
possam a estar a ocorrer numa determinada instituição ligada ao ensino (p.13).

De acordo com Nérici (1974, cit. em Rolla. 2006), supervisão escolar é a visão sobre
todo o processo educativo, para que a escola possa alcançar os objectivos da educação e
os objectivos específicos da própria escola (p.15).

Segundo Barbosa & Mauride (2017 cit. em A. G. Barbosa, M. N. Ibraimo, M. S. V.


Laita & I. Mussagy, 2017), na prática é difícil falar de inspecção sem que se fale de
supervisão e vice-versa, visto serem processos indissociáveis. O que diferencia a
inspecção da supervisão é o facto de a supervisão ser mais constante e regular que a
inspecção. Segundo estes autores, a supervisão centra-se na orientação e
aconselhamento dos professores, enquanto a inspecção preocupa-se com a avaliação do
cumprimento da norma e a observância dos padrões no funcionamento das instituições
educacionais, propondo medidas para os infractores (p.91).

Como vimos anteriormente, o conceito de supervisão pedagógica é polissémico, ou seja,


possui vários significados de acordo com a visão de cada autor. Nesta perspectiva,
seguidamente vamos abordar sobre a história da supervisão na educação no contexto
moçambicano.

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A supervisão em Moçambique tem que ser enquadrada antes de mais na evolução do
sistema da educação (Mazula, 1995, Cipriano, 2011, cit. em A. G. Barbosa, M. N.
Ibraimo, M. S. V. Laita & I. Mussagy, 2017).

No período colonial (1845-1974), foi fortemente marcado por uma educação virada aos
interesses coloniais, sobretudo para a produção de matérias-primas para as indústrias
portuguesas. Neste período houve forte aliança entre o regime colonial português e a
igreja católica. Na inspecção escolar colonial, o inspector tinha a autonomia de tomar
medidas punitivas contra os infractores da lei referente à educação. Tais medidas
consistiam na suspensão imediata e expulsão, muitas vezes por causa das
irregularidades tais como: falta ao serviço, postura não adequada e a não planificação
das aulas (Barbosa & Mauride, 2017 cit. em A. G. Barbosa, M. N. Ibraimo, M. S. V.
Laita & I. Mussagy, 2017).

No período da luta de libertação nacional, sobretudo nas zonas libertadas, a Frelimo


havia implantado um projecto de educação para os seus guerrilheiros. Nestes locais a
educação era marcada por falta de quadros, professores sem preparação
psicopedagógicas e sem supervisores (Mazula, 1995 cit. em A. G. Barbosa, M. N.
Ibraimo, M. S. V. Laita & I. Mussagy, 2017). Neste âmbito, nas zonas libertadas passou
a vigorar uma espécie de interajuda, ou seja, os professores faziam de supervisores uns
aos outros de modo a melhorarem a qualidade das aulas que ministravam.

Segundo Mazula (1995 cit. em A. G. Barbosa, M. N. Ibraimo, M. S. V. Laita & I.


Mussagy, 2017). No período do governo de transição (1974-1975) a educação em
Moçambique foi marcada pela transição da inspecção escolar colonial para a inspecção
que se pretendia depois da independência, ou seja, uma inspecção que visava controlar
as políticas do Sistema Nacional de Educação (SNE) (p.83).

Após a proclamação da independência nacional a 25 de Junho de 1975, a Frelimo


assumiu o poder político. No âmbito da implantação do seu governo, concretamente em
1978, através do diploma ministerial 76/ de 11 de Setembro, o Ministério de Educação e
Cultura (MEC) criou a Inspecção Geral da Educação e Cultura (Barbosa & Mauride,
2017 cit. em A. G. Barbosa, M. N. Ibraimo, M. S. V. Laita & I. Mussagy, 2017).

Portanto, em 1978 foram criadas as Comissões de Apoio Pedagógico (CAP’s) que


passaram a actuar tanto ao nível central do Ministério de Educação, quanto no

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provincial, nas Direcções Provinciais de Educação e Cultura (DPEC). Nesta
perspectiva, cabia a CAPs supervisionar o processo da divulgação e implementação dos
desígnios e ideais da educação no novo panorama político e ideológico criado pela
independência nacional. As CAPs funcionaram até 1987 e congregavam professores de
diversas áreas curriculares e níveis educacionais. (Selimane, 2015, p.96).

Contudo, antes da implantação do SNE, isto é no período entre (1975-1982) a inspecção


e a supervisão eram realizadas pelos técnicos das Direcções de Educação e Cultura,
considerando ainda um momento de transição da inspecção escolar colonial (Barbosa &
Mauride, 2017 cit. em A. G. Barbosa, M. N. Ibraimo, M. S. V. Laita & I. Mussagy,
2017).

No âmbito da reestruturação da educação, a Lei 4/83 vai marcar um período de


introdução do SNE, considerado na altura como um instrumento político-ideológico e
motor de desenvolvimento (Barbosa & Mauride, 2017 cit. em A. G. Barbosa, M. N.
Ibraimo, M. S. V. Laita & I. Mussagy, 2017).

Em 1991, através do Diploma Ministerial 46/91 de 29 de Maio é aprovado/ criado o


Regulamento da Inspecção da Educação (RIE), onde se enquadra a estrutura como:
inspecção pedagógica, administrativa e financeira. Ao nível provincial a inspecção esta
instituída na DPEC, nos distritos até às escolas, enquanto a supervisão pedagógica ao
nível distrital é coordenada pela repartição de educação geral, que é uma estrutura do
Serviço Distrital da Educação, Juventude e Tecnologia (SDEJT) ao abrigo do Decreto
6/2006 de 12 de Abril que cria SDEJT. (Barbosa & Mauride, 2017 cit. em A. G.
Barbosa, M. N. Ibraimo, M. S. V. Laita & I. Mussagy, 2017).

Com a nova Constituição da República de Moçambique (CRM) aprovada em 1990,


verifica-se várias transformações a nível social, político e económico. O sector da
educação não ficou alheio a estas mudanças. A aprovação da Lei 6/92 de 12 de Abril vai
reformar o SNE que vigorou entre (1983-1991). Na perspectiva de consolidar a
supervisão em Moçambique, decorreu entre 24 de Agosto a 3 de Outubro de 1992, em
Maputo, a primeira Formação em Exercício de Supervisão Pedagógica (FESP), esta
conferência contou com mais de cinquenta formandos, dentre técnicos pedagógicos,
inspectores e instrutores provinciais (Selimane, 2015, p.66).

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Assim, na segunda metade da década de 1990, o ensino secundário dava claros sinais de
se estar expandindo e poder vir de expandir ainda mais, o que vinha originando
desfalques na formação, afectação, acompanhamento e apoio do trabalho dos
professores. Foi neste âmbito, que a partir de 1997, a Direcção Nacional do Ensino
Secundário Geral (DNESG) e as DPEC, ambas do Ministério de Educação (MINED),
iniciaram o processo de implementação do Sistema de Supervisão Pedagógica
Provincial, cujo primeiro passo se iniciou com a disciplina de Inglês, no âmbito da
implementação do projecto do ensino do inglês. (Selimane, 2015, p.76).

Selimane (2015), refere que a colocação da Supervisão Educacional (SE) em quase


apenas tarefas viradas para o apoio pedagógico, criou por assim dizer, uma espécie de
monopólio do saber sobre essa área por parte dos técnicos pedagógicos. Mas no ciclo
governativo 2000-2005, acentua-se o discurso da descentralização, o que motivou a
implementação duma supervisão integrada ou multissectorial (p.95). Este autor afirma
ainda, que a partir dai, paulatinamente se passou a assistir a diluição do foco da
supervisão educacional, expandindo a sua área de actuação e abrindo espaço à
participação de profissionais não providos de docência (p.95).

A resolução n° 1/2011, de 14 de Abril, aprova o estatuto orgânico do MINED. Das áreas


de actividades do MINED compreende: a supervisão, controle e regulamentação da
educação no território Moçambicano. Segundo esta resolução, a estrutura do MINED
compreende a Direcção Nacional de Formação de Professores (DNFP), que dentre as
várias funções, promove e coordena a formação de gestores de escolas e dos inspectores
de educação.

Destaca-se ainda, as funções da Direcção de Gestão e Garantia da Qualidade, que tem


como tarefa principal, fazer a supervisão às instituições do sector de educação no
âmbito da melhoria da qualidade de ensino. (Barbosa & Mauride, 2017 cit. em A. G.
Barbosa, M. N. Ibraimo, M. S. V. Laita & I. Mussagy, 2017).

A expansão do ensino superior em Moçambique contribuiu para a aprovação do decreto


27/2011, que estabelece as normas e procedimentos da realização da actividade de
inspecção às Instituições de Ensino Superior (IES). A actividade de inspecção das IES
compreende dois tipos, nomeadamente: ordinária e extraordinária (MINED, 2012).

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CONCLUSÃO

Como verificamos ao longo do trabalho, a supervisão na área da educação em


Moçambique sempre esteve associada ao regime político vigente. No período colonial,
vigorou mais a inspecção do que a supervisão propriamente dita. No período da luta de
libertação nacional, a supervisão caracterizou-se por uma interajuda, ou seja, devido a
falta de professores formados e com prática psicopedagógica, cada professor
supervisionava as aulas do outro. No período pós-independência, a Frelimo adoptou o
regime socialista, e foi atribuída também a educação o papel de formar o homem novo,
dotado de ideologias revolucionárias, socialistas e anticoloniais. É neste âmbito, que a
supervisão/inspecção estava virada para a difusão e cumprimento das ideologias
marxistas-leninistas. No âmbito da democratização em vigor no país, a supervisão
passou a ser integrada ou multissectorial. Aliado a isto, devido a crescente expansão do
ensino superior, a inspecção nesta área passou a ser interna e externa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Barbosa, A. G. & Mauride, F. (2017). A Supervisão e a Inspecção no Enquadramento


Legal da Educação em Moçambique. In: A. G. Barbosa, M. N. Ibraimo, M. S. V.
Laita & I. Mussagy (Coords.), Desafios da Educação: Leituras Actuais. Nampula,
Moçambique: Década das palavras, pp.73-94.

Cohen, M. A. (Org.). (2014). Supervisão. Liderança e Cultura de Escola. Mangualde,


Portugal: Pedago.

Ministério da Educação (2012). Colectânea de Legislação do Ensino Superior. Maputo,


Moçambique: MINED

Rolla, L. C. (2006). Liderança Educacional: Um Desafio Para o Supervisor Escolar.


Dissertação de Mestrado. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Faculdade de Educação. Porto Alegre, Brasil.

Selimane, R. (2015). A Supervisão Educacional de Moçambique: Entre Centralismo


Burocrático e a Descentralização Democrática. Tese de Doutoramento, Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, Brasil.

Simbine, R. J. (2009). Guia prático do supervisor pedagógico. Maputo, Moçambique:


Alcance Editores.

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