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Diretor: Luís Ribeiro Assinaturas: 1 ano: 17,50¤ (iva incluído), estrangeiro (1 ano) 19¤
(Presidente da APEI) N.º de registo: ERC: 112028 Depósito legal: 12929/86
ISSN: 2182-8369
Os artigos assinados não exprimem necessariamente o ponto de vista da Direção.
1 Editorial . Luís Ribeiro 30 À descoberta . Rosário Leote de Carvalho
Vamos fazer um géiser
2 Foto. António Catalano 32 Notícias da Direção . Maria do Ceú Velez
Olívia e Noé, os Reis do Trampolim
Dinâmica formativa em 2018: balanço de um ano de atividades
Estatuto Editorial Os Cadernos de Educação de Infância, fundados em 1987, são uma revista quadrimestral, independente e livre, especializada no campo da educação de infância, que pretende contribuir,
através da divulgação de artigos concetuais e de práticas educativas de qualidade, para a discussão da pedagogia e da educação e para o aprofundamento da compreensão da infância. As suas opções
editoriais são orientadas por critérios de qualidade, rigor e criatividade editorial, estabelecidas sem qualquer dependência de ordem ideológica, corporativa, política, social ou económica, valorizando a
pluralidade de olhares que sejam promotores de reflexão e discussão sobre a educação de infância, contribuindo, desse modo, para o desenvolvimento pedagógico e científico dos seus profissionais e para
a definição de políticas educativas a nível nacional e europeu. No campo da informação e da opinião, orienta-se pelas disposições contidas na Declaração dos Direitos da Criança, na Declaração Universal
dos Direitos do Homem, na Constituição da República Portuguesa, no Estatuto do Jornalista, na Lei de Imprensa, no Código Deontológico dos Jornalistas e nos princípios da ética profissional produzida
e assumida no seio da comunidade da informação, de âmbito nacional ou internacional.
A APEI é apoiada pelo Ministério de Educação no âmbito do protocolo de afetação de recursos humanos
# 115
: EDITORIAL
Luís Ribeiro . Presidente da APEI
des
Nos últimos anos o papel das associações mento que a APEI tem tido junto dos profis- escolares, educadores e professores, estão
profissionais tem tido um reconhecimento sionais de Educação de Infância. conscientes que a monodocência tem, em si
social crescente, nomeadamente por garan- A Educação Pré-Escolar (e a Educação de In- mesmo, formas de operacionalizar o currículo,
tirem aos seus membros um espaço de per- fância) em Portugal, cuja génese ocorreu no dinâmicas e organizações do ambiente edu-
tença que, no caso da educação em geral e séc. XIX, do ponto de vista da democratiza- cativo e dos tempos “escolares” que impor-
da educação de infância em particular, não ção ao acesso é ainda muito recente, uma vez ta salvaguardar e não modelar à imagem da
consegue ser assegurado pelas organizações que a massificação e, principalmente, a uni- pluridocência.
escolares, a viverem tensões muitas vezes versalização têm relativamente poucos anos. Por tudo isto e apesar de termos a maioria
antagónicas e numa autonomia ainda muito Dos primeiros educadores formados já depois dos jardins de infância integrados e unida-
condicionado pelo poder da Administração de 1974, a esmagadora maioria ainda se en- des que também incluem outros níveis de
Central e Local. contra no ativo, uma situação que não tem ensino, não podemos de manifestar a nossa
A APEI, por ser uma instituição privada sem paralelo em qualquer outro nível de ensino estranheza e lamentar não haver, no âmbito
fins lucrativos, tem procurado garantir, de em Portugal. dos trabalhos relativos à Autonomia e Flexi-
uma forma independente de interesses e ló- Este contexto, aliado a uma praxis que coloca bilidade Curricular e do Perfil dos Alunos à
gicas políticas, que os seus associados (e em a criança no centro do processo, em detri- Saída da Escolaridade Obrigatória, qualquer
geral todos os profissionais de educação de mento de processos centrados nos outputs referência à educação pré-escolar, continuan-
infância) tenham acesso aos resultados mais dos alunos, como é recorrente ocorrer na do a vingar, no século XXI note-se, políticas
recentes da investigação e possam usufruir educação escolar, tornam muito peculiar a educativas que consideram que a educação “a
de um espaço de reflexão à volta das ques- ação educativa dos Educadores de Infância, sério” só começa verdadeiramente no 1º ciclo
tões da Educação de Infância, promovendo uma especificidade que tende a perder-se do ensino básico.
uma identidade profissional, uma “retaguar- (ou desvirtuar-se) com a crescente pressão Regressando aos Cadernos de Educação
da” pedagógica e científica que seja promo- sobre o sucesso escolar que, muitas vezes, de Infância e à pluralidade de artigos que o
tora do seu desenvolvimento profissional. impõe à Educação Pré-Escolar uma lógica de caracteriza, espero que este número seja do
Os Cadernos de Educação de Infância (CEI), funcionamento pedagogicamente incorreta. vosso agrado, que proporcione umas exce-
a Infância na Europa Hoje (IEH), a formação Considerando a importância do princípio da lentes leituras e que sirva de inspiração para
contínua disseminada por todo o país ou o aprendizagem ao longo da vida, a sequen- melhores práticas educativas.
ciclo de seminários que, anualmente, é le- cialidade das aprendizagens e a articulação Aproveito a oportunidade para desejar a to-
vado a cabo em praticamente todas as re- curricular, é indispensável que se encontrem dos os associados da APEI e aos leitores dos
giões de Portugal, são faces dessa estratégia estratégias educativas e, num plano mais sis- CEI, um magnífico 2019!
de promoção da educação de infância e da témico, políticas educativas que favoreçam a
identidade profissional dos educadores de articulação entre a Educação Pré-Escolar e a
infância, pelo que tem sido interessante (e Educação Escolar, mas garantindo que to-
gratificante) verificar o crescente reconheci- dos os atores das diferentes organizações
O presente texto refere-se ao relato de uma as famílias, colegas e docentes do 1.º ciclo2. sistematização do processo vivido. Termina-
caminhada vivida por duas formadoras no A experiência que aqui testemunhamos en- mos com uma síntese dos principais aspetos
âmbito da formação contínua de educadoras volveu cerca de 120 educadoras de infância a enunciados como fundamentais pela maioria
de infância1, através da dinamização de seis desempenhar funções na rede pública, priva- das educadoras quanto à realização destas
oficinas de formação “Gerir o currículo na da e social. Consistiu num processo intenso, oficinas de formação e a sua implicação na
educação pré-escolar: planeamento e avalia- participativo e repleto de aprendizagens para qualidade da prática pedagógica.
ção na perspetiva das OCEPE 2016”, promo- todas as participantes, formandas e forma-
vidas pelo Centro de Formação da Associa- doras, pelo que se pretende dar a conhecer Início do caminho
ção de Profissionais de Educação de Infância o contínuo movimento de reflexão experien- A equipa autora das OCEPE 2016 delineou o
(APEI), Centro de Formação de Associação de ciado, na procura de ferramentas e principal- programa da oficina de formação para acre-
Escolas de Almada (AlmadaForma) e Centro mente perspetivas renovadas para pensar e ditação pelo CCPFC, constituiu a bolsa de
de Formação de Associação de Escolas do fazer a pedagogia em contextos de educação formadores para a sua dinamização a nível
Seixal (Academia do Professor). pré-escolar. nacional e definiu um guião, de forma a criar
Desta forma, iniciamos o presente texto com um fio condutor para todos os formadores.
Estas oficinas de formação foram pensadas algumas questões relativas à organização e O guião é um roteiro importante, pois es-
como estratégia de divulgação e apropria- metodologia mobilizada nas oficinas, seguin- tabelece um caminho e intencionalidade(s),
ção do documento Orientações Curricula- do-se uma reflexão sobre alguns constrangi- assegura a metodologia e incluiu os aspetos
res para a Educação Pré-escolar (OCEPE), mentos encontrados e também muitas das fundamentais das OCEPE, distribuindo por
homologadas pelo Ministério da Educação potencialidades vividas. Partilhamos ainda cada sessão os diferentes conteúdos incluí-
em julho de 2016, através do Despacho n.º um texto entregue a um dos grupos como dos no documento. Apesar de esta planifica-
9180, de 19 de julho, depois de as mesmas ção estar formalmente muito bem pensada
terem sido objeto de discussão pública e 2 In: An2-B – Formulário com o respetivo programa da e operacionalizada, a sua utilização em cada
análise por parte de diversos profissionais oficina de formação, acreditada pelo Conselho Cientí- grupo de formandos obrigou a uma gestão
fico-Pedagógico da Formação Contínua de Professores
de educação, associações e instituições. (CCPFC). contextualizada, negociada com bom senso
Para além da divulgação, as oficinas apre-
sentam-se ainda como espaços formativos
para a apropriação das OCEPE por parte de
educadoras de infância, articulando-as com
as práticas pedagógicas e os contextos de
trabalho onde as mesmas têm lugar.
Com a dinamização das oficinas de forma-
ção pretende-se, assim, apoiar os/as educa-
dores/as a implementarem a proposta das
OCEPE, apropriando-se de processos de
gestão curricular em que a utilização de ins-
trumentos de observação e registo lhes per-
mitam planear e avaliar de forma dinâmica
e interativa o contexto e as aprendizagens
das crianças, sendo ainda capazes de utilizar
a informação recolhida para comunicar com
e a participação de todos, respeitando-se como ponto de partida o conhecimento das elaboradas sínteses (memória de cada sessão)
as características e necessidades de cada formandas sobre o currículo e a partilha de com participação das formandas individual-
grupo, as suas dinâmicas e ritmos de fun- instrumentos de planeamento e avaliação mente, a pares e em pequenos grupos e lidas
cionamento. Assim, em cada grupo, o guião que utilizam para situar e questionar teori- no início da sessão presencial seguinte. Esta
e os seus conteúdos foram diferentemente camente esses conhecimentos e práticas. estratégia revelou-se uma mais-valia na or-
explorados, exigindo a observação e a escuta Assim, a organização das sessões presenciais ganização do trabalho final de avaliação, um
das formandas, de forma a poder-se fazer contemplou a discussão em pequenos gru- portfólio, com a mobilização dos trabalhos
opções consistentes e exequíveis face ao pos (na sua constituição esteve subjacente realizados ao longo da oficina de formação e
tempo disponível (o que deixar cair? O que a preocupação no equilíbrio de saberes, prá- complementado com reflexões críticas sobre
reforçar?). Consubstanciou-se num processo ticas, participação, envolvimento e contex- a intervenção educativa, articulando-a com
análogo ao trabalho com as crianças – partir tos de intervenção), cujas conclusões foram as diferentes dimensões contidas nas OCEPE.
do que as formandas pensam, sabem, fazem debatidas em grande grupo, sendo, poste-
e querem fazer/mudar. Esta diferenciação riormente, enquadrados e aprofundados por Consideramos que o modelo da formação
não inviabilizou o cumprimento dos objeti- nós, enquanto formadoras, com propostas na modalidade de oficina, com produção se-
vos e a intencionalidade da formação, apenas de outros meios e instrumentos de avalia- manal de uma reflexão apoiada em leituras
a tornou contextualmente mais significativa, ção, a experimentar pelas formandas e utili- e análises críticas dos diferentes capítulos,
podendo-se afirmar que a maioria dos con- zados para elaborar e regular o planeamento obrigou a um mergulho nas conceções e
teúdos inicialmente previstos no guião foram da ação pedagógica. O trabalho autónomo, práticas, exigindo um constante olhar críti-
abordados e que as OCEPE foram objeto de regularmente presente, incidiu sobre a apre- co e atento sobre o todo e as partes, não
aprofundamento quanto à sua proposta de sentação de exemplos de práticas de parti- dando por certo o que se faz e a experiência
gestão curricular na educação pré-escolar. cipação no planeamento e na avaliação dos acumulada. Neste sentido, consideramos que
diferentes intervenientes na educação das esta modalidade de formação parece ser a
Modos de caminhar crianças e de modos de comunicar a avalia- mais adequada para a análise reflexiva do do-
A organização das oficinas contemplou tra- ção a diversos interlocutores. Foi proposta a cumento das OCEPE, uma vez que permite
balho presencial e trabalho autónomo. Nas leitura e análise de textos das OCEPE e de um processo de envolvimento e articulação
sessões presenciais recorremos a uma meto- outros documentos de fundamentação teó- dos seus referenciais teóricos com a prática,
dologia de articulação teoria-prática, tendo rica. Para facilitar o percurso formativo, foram permitindo ainda a partilha e a cooperação
entre as formadoras e as formandas e entre
formandas, num processo dinâmico de par-
ticipação e apropriação coletiva, provocando
mudanças nas práticas educativas.
Do caminho feito
Constrangimentos e potencialidades: al-
guns aspetos a considerar
Ainda que cada oficina apresentasse parti-
cularidades e dinâmicas próprias, pautadas
Escutamos as educadoras participantes e estas dizem, falando entre si e quando lhe perguntaram o que era participar, estar por dentro, entrar…
para além de si, nos diferentes contextos onde exercem a sua profissão, É isso. É entrar em todas as fases, desde a planificação à realização e à
que a formação foi muito trabalhosa e exigente: avaliação.
Foi sim, foi… Muitos trabalhos e TPCs… E textos, tantos textos! Neste último domínio, refletimos sobre a importância de ouvir as crianças,
Mas dizem também: Que levam das horas vividas em conjunto muitos em modo de observação e entrevista para termos acesso ao que pensam,
conhecimentos, muitas ideias para colocar em prática, outras formas de sentem, dizem e fazem. Observar e ouvi-las implica desacelerar o nosso
pensar e fazer a pedagogia, que só pode estar ao serviço das crianças, passo, andarmos como o caracol, deixar o corre-corre, dar tempo às crian-
das equipas e das famílias. ças e a nós mesmas para sentir as crianças e o tempo da infância. Valorizar
Dizem ainda que: Têm muito em que pensar: pensar no portfólio, organi- o brincar como lugar de aprendizagem, preparando para isso o espaço,
zá-lo, dar-lhe uma forma e um sentido, aquele que o saber, a sensibilidade as rotinas, o ambiente educativo. Que deve ser impregnado de sentido,
e a escrita assim o conseguirem. E o tempo, a lucidez e a energia, aspetos escuta ativa, sensibilidade e bom senso.
também a considerar, principalmente nas oficinas que decorreram na pon- Neste desacelerar o passo, perguntámo-nos quem nos obriga a correr
ta final de ano letivo, quente e desafiadora como nunca. tanto, fazendo dos dias um somatório de muitas atividades, concedendo
Dizem isto e muito mais! E nós vemo-las a investir que nem gente grande, pouco tempo e espaço ao brincar. Discutimos as planificações, os seus
educadoras empenhadas em dar o seu melhor, cognitiva e emocional- modelos e regularidade, e vimos várias instâncias e diferentes lógicas
mente, para que o saldo seja francamente positivo e, ao olharem para (departamento, equipa da sala, anual – plano anual de atividades (PAA)
trás e sobretudo para a frente, se sintam contentes e orgulhosas por se – mensal, semanal e diária). Tomámos mais consciência da sua maior ou
manterem ainda apaixonadas pela escolha que fizeram, um dia, de serem menor importância para a intervenção pedagógica, sendo consensual que
educadoras de infância. Apesar dos dias cansados, de quase desistência, devemos ir avaliando a carga curricular no jardim de infância, não mobili-
pelo não reconhecimento, as dificuldades, as poucas condições, as exigên- zando procedimentos de outros níveis de ensino, para sermos iguais. Esta
cias e tudo o mais que acontece quando intervimos em contextos reais, pressão normativa deve ser vigiada com sentido crítico, porque fazer mui-
com pessoas, espaços, conceções, direitos e deveres. E ficamos contentes to e fazer igual aos outros não é condição de fazer bem e com qualidade.
por termos colegas assim, que aceitaram o desafio e responderam à cha- As percentagens de adquiridos ou não adquiridos nas diferentes áreas
mada para mergulharem nas OCEPE e nas suas práticas, expondo-as, sem de conteúdo não são procedimentos a utilizar em educação de infância.
medo e com a convicção de que a mudança é possível, sobretudo quando Neste âmbito, olhámos para os nossos diagnósticos e vimos como, em maior
refletida em conjunto e no seio de uma comunidade de pares. ou menor grau, nos deixámos contaminar por lógicas escolares, substituindo
Antes de finalizarmos a oficina de formação, espreitamos as sessões dina- processos de observação e registo, por aplicação de fichas estereotipadas e
mizadas para ver se o programa foi cumprido. E, tal como com as crianças, centradas nas aprendizagens formais da escola. Concordámos todos, que, em
tivemos que ouvir, alterar, integrar, reduzir, readaptar. Que a formação e educação de infância, a observação se deve realizar em contextos naturais, a
o currículo são caminhos participativos, onde todos devem dar o seu con- partir da ação da criança em interação com os pares, os materiais, as rotinas,
tributo para a condução e desenvolvimento do processo. Simples? Não, a as atividades, os projetos planeados e vividos no ambiente educativo.
negociação e audição de todos implica maior diversidade, menor controlo, Concordámos também que os diagnósticos e a avaliação devem alicerçar-se
partilha de poder, democracia e aceitação das diferenças, abrindo horizon- no que as crianças já sabem, no seu currículo natural, na sua história pessoal,
tes menos conhecidos e, às vezes, menos confortáveis, mas muito mais familiar e comunitária, propondo tarefas e propostas suficientemente abertas
promissores e ricos. Assim tentámos fazer aqui na formação, assim discu- para dar oportunidade à expressão da singularidade da criança nas suas múlti-
timos ser importante na concretização do currículo, implicando de corpo plas vertentes e nas suas cem linguagens. E quando experimentámos observar
inteiro as crianças, as equipas e as famílias. Simples? Não, mais simples é e entrevistar as crianças nos nossos contextos, rimos e espantámo-nos com os
a centralidade de tudo em nós, com um caminho único, em que o saber seus dizeres e fazeres, situações que nem sempre valorizamos, por andarmos
parte do adulto e as propostas também. Mas sabemos como isso é de sempre numa lufa-lufa. Acordámos que para observar e avaliar a participação
curto alcance e pouco potenciador do aprender a aprender, fornecendo e o envolvimento da criança e descrever as suas aprendizagens, temos de dar
às crianças oportunidades e estratégias para serem ativas, críticas, social- intencionalidade a este processo, escolhendo, por exemplo, dias para o fazer
mente competentes, resilientes, capazes de autoorganização e empenho e instrumentos de registo que se adaptem ao nosso contexto e a nós. Temos
nas tarefas e projetos que se propõem realizar, em conjunto com os pares de mobilizar o trabalho de equipa e partilhar as intenções e modos de fazer
e os adultos da sala. Por isso, sabendo ao que vamos em cada dia que para que todos os adultos da sala possam construir uma escuta sensível e um
entramos na sala, não determinamos a planificação como coisa fechada e olhar profundo sobre as crianças, com registos e evidências. Temos de mo-
arrumada, que apenas necessita de ser consumida e realizada eficazmente. bilizar as crianças neste processo, porque elas sabem o que sabem, mobilizar
Esta ideia da necessidade de participação na elaboração e desenvolvimen- as famílias, porque nos dão informações sobre os seus filhos e são quem os
to do currículo cremos que foi uma linha estruturante das nossas sessões, conhece melhor. A avaliação é também um processo partilhado.
reafirmada, convictamente, nas OCEPE, em quase todos os capítulos. E E por ser assim, muitos de nós partilhámos instrumentos e registos utilizados
a participação não se resume a propostas de atividades pelas crianças, é em contexto, dando visibilidade a práticas de envolvimento e participação com
mais amplo e mais profundo. Implica, como disse uma vez uma menina as crianças que, na maior parte das nossas salas, são atores dos currículos de-
Uma formação sobre as OCEPE 2016! É mes- faz dançar os meus cabelos, libertando-me e assim aconteça, é fundamental que cada
mo do que estou a precisar. Vamos lá renovar impelindo-me a “não ter medo de experimen- criança tenha vontade para aprender através
algumas ideias, tentar peneirar o essencial do tar”, também a criança evolui ao longo dos de atividades que enfatizem o prazer, a liber-
supérfluo e pensar sobre o que me aflige e me anos num processo ascendente e estimulante dade de ação, a curiosidade, a imaginação e
causa desconforto! que se pretende estável, resiliente e capaz de a exploração.
construir o desenvolvimento e aprendizagem Os princípios orientadores das Orientações
Nota introdutória num caminho iluminado pela felicidade, pelo Curriculares para a Educação de Infância
Esta reflexão é o resultado da oficina de for- bem-estar e pelo empenhamento. Este olhar (OCEPE) (Lopes da Silva, Marques, Mata &
mação “Gerir o currículo na educação pré-es- apenas faz sentido num jardim de infância Rosa, 2016) fazem corresponder a qualidade
colar: planeamento e avaliação na perspetiva com vida! do processo de desenvolvimento e das apren-
das OCEPE 2016”, que tive oportunidade de dizagens com a qualidade da relação educa-
realizar no Centro de Formação da Associação Intencionalidade educativa: dor/criança, num envolvimento onde estão
de Escolas Do Litoral à Serra, em Loulé, entre refletir sobre finalidades e sentidos implícitos o cuidar e o educar.
os meses de janeiro e abril de 2018, num total “Todo o sistema educativo tem a aprender A leitura destes princípios reforçou o meu
de 25 horas presenciais e 25 horas de trabalho com a educação pré-escolar” (Costa, 2016, p. olhar para as etapas do desenvolvimento
autónomo. 4). Estas palavras carregam de importância, como referências para situar cada percurso
Tendo como ponto de partida o que foi acon- evidenciam e reforçam o meu papel como individual e não como etapas pré-determina-
tecendo na formação, a partilha de ideias e de cuidadora de árvores que crescem com as das. É fundamental alicerçar a prática num
estratégias, o diálogo, o confronto sobre os suas raízes bem inseridas na terra, de modo ambiente educativo rico e estimulante onde
diferentes saberes e experiências entre todas a resistirem a toda e qualquer tempestade. a intencionalidade educativa esteja sempre
as intervenientes – formadora e formandas Para que tal aconteça, as crianças só poderão presente de modo a que aconteçam expe-
– vou tentar apresentar os degraus que fui estar felizes. A água que utilizo para as “regar” riências e oportunidades de aprendizagem
construindo na escada da qualidade da minha são as oportunidades que permitem alargar com sentido.
prática educativa e pedagógica, traduzidos e enriquecer o desenvolvimento e aprendi- Nesta linha de pensamento e de atuação,
numa breve reflexão e análise. zagem num clima relacional de base sólida e reconhecer a criança como protagonista do
Utilizando as ideias de Horta e Ludovico vitaminado com intencionalidade. Para que seu desenvolvimento, com capacidade para
(2005), os degraus mais não são do que “um
mapa do percurso”, ou seja, o espelho do ca-
minho percorrido e a consciencialização das
aprendizagens. A construção de cada degrau
deu lugar a novas ideias e a parar para per-
ceber com maior clareza o que penso e faço
ou não faço em relação à qualidade da minha
prática educativa.
É minha convicção que a educação de infân-
cia, sendo considerada “a primeira etapa de
educação básica no processo de educação ao
longo da vida” (Lei n.º 5/97, de 10 de feverei-
ro), contém vida, ou seja, contém a força da
criação e da ligação ao mundo físico e espi-
ritual. Assim como levanto os braços ao céu
para agradecer o percurso e o processo de
desenvolvimento pessoal, social e cultural, as-
sim como os meus pés sentem a terra quente,
húmida, macia e rugosa de que necessito para
o meu crescimento e estabilidade e o vento
e espontâneos, listas de verificação, registo e sistemática influi positivamente na qualida- cativas, planeia a sua intervenção, elaborando
de incidentes críticos, mapas de organização de educativa. O ciclo planear/agir/avaliar está o projeto curricular de grupo em articulação
de tarefas) constituem a documentação pe- sempre a acontecer. As atividades surgem de com o projeto educativo do estabelecimen-
dagógica na qual se apoiam e fundamentam ideias espontâneas dando origem a projetos to educativo/agrupamento de escolas” (Lo-
a reflexão e a avaliação. A utilização destes que, por sua vez, são planeados/realizados/ pes da Silva et al., 2016, p. 17). Assim sendo,
diferentes modos de recolha de informação avaliados. Não há práticas mais ou menos é no projeto curricular de grupo que o/a
permite ter uma visão de vários ângulos e corretas, mas a participação ativa de todos os educador/a de infância prevê e assegura os
situá-la no processo de aprendizagem. São elementos da comunidade educativa é funda- quatro fundamentos e princípios da pedago-
igualmente instrumentos facilitadores e fun- mental para o sucesso educativo. É sempre gia para a infância, a forma como planifica,
damentais para o planeamento e reflexão possível reorganizar/adaptar as estratégias age e avalia, como pretende fazer acontecer
sobre a ação. de forma a ampliar o desenvolvimento e as o envolvimento dos pais/família, a adoção de
Avaliando os progressos de modo sistemáti- aprendizagens, potenciando as interações práticas diferenciadas e a abordagem globali-
co e de leitura “limpa”, é mais fácil situar as no grupo e a implicação das crianças na sua zante e integrada das diferentes áreas, enfa-
aprendizagens ao longo do tempo e assim aprendizagem tornando-as conscientes dos tizando o brincar como meio privilegiado para
adequar a planificação. seus progressos. o desenvolvimento.
Estas fontes de documentação permitem O tempo de execução deste ciclo continua a No entanto, reconheço que nem sempre é
contextualizar a avaliação, dar-lhe significado provocar-me alguma ansiedade, mas sei que, fácil:
e realizá-la ao longo do tempo. com algumas pequenas mudanças, o tempo • ter em linha de conta as características
será um aliado e jogará a favor de todos. de cada criança e criar as oportunidades
A importância de planear e avaliar o pro- O desenvolvimento deste ciclo decorre da para que realize as suas potencialidades;
cesso educativo informação recolhida no início do ano leti- • envolver a família e a sua cultura na vi-
É aqui que parece que “o tempo volta a fu- vo sobre o contexto social, familiar e sobre da do jardim de infância e facilitar mais
gir”. as experiências vividas. Segundo as OCEPE, encontros formais e informais;
Da análise sobre os ciclos de planeamento, “É a partir deste conjunto de informações, • partir das experiências de cada uma das
ação e avaliação decorreu a consciencializa- ou seja, desta primeira avaliação (…) que o/a crianças, escutar e considerar as suas
ção de que uma avaliação/reflexão periódica educador/a explicita as suas intenções edu- opiniões;
• estimular as suas iniciativas de modo a
permitir que decidam sobre o seu pro-
cesso educativo apoiando o seu desen-
volvimento e aprendizagem (tenho de
ter mais atenção às “crianças cinzentas”
que vão com o grupo, mas que não es-
tão efetivamente no grupo!).
de forma integrada” (Lopes da Silva et al., Este espaço é facilitador, por excelência, das sitiva, a oportunidade de crescer e de sentir
2016, p. 22). atividades de livre iniciativa da criança, de di- confiança nas suas capacidades, pois estes
Estas dinâmicas irão ter fortes implicações versas formas de interação social, da explo- relacionamentos levantam desafios que re-
no processo de desenvolvimento e apren- ração de materiais naturais e das atividades querem respostas imbuídas de autoestima e
dizagem de cada criança, pois promovem o de grande movimento físico. Efetivamente, a de confiança.
respeito por cada uma delas, assim como o cada nova observação, foram aparecendo no- Os tempos vividos no exterior são direcio-
seu sentimento de pertença a um grupo; per- vos sentidos e novas oportunidades que per- nados principalmente para atividades da
mitem e facilitam o trabalho cooperado em mitiram ir realizando pequenas adequações e iniciativa das crianças onde, de forma lúdica
que todas contribuem para as aprendizagens despertar para este “contexto de socialização e autónoma, vivem experiências de repre-
de todas as crianças; abrem a compreensão em que a aprendizagem se contextualiza nas sentação criativa, de artes visuais, de dança,
para diferentes pontos de vista e ajudam à vivências relacionadas com o alargamento do de linguagem, de relações interpessoais, de
regulação da vida em grupo através de expe- meio familiar de cada criança e nas experiên- movimento, de música, de classificação, de
riências de vida democrática. cias relacionais proporcionadas” (Lopes da espaço e de tempo.
Silva et al., 2016, p. 24). As crianças organizam-se, na maior parte
As oportunidades educativas no olhar so- Os materiais existentes são suficientes, das vezes, em pequenos grupos (o elemento
bre o espaço exterior apelam à criatividade e à imaginação? Os aglutinador é a amizade) e em pequenos ou
Irei debruçar-me sobre a organização do es- equipamentos são adequados? O que posso grande grupo nos jogos/atividades que pro-
paço que é, por vezes, o parente pobre de introduzir? ponho (jogos de grande amplitude motora,
toda esta dinâmica. Ao refletir sobre a orga- O espaço exterior é comum à valência do 1º jogos tradicionais, por exemplo).
nização do espaço exterior e de como o po- ciclo, o que permite a articulação vertical e o Apesar de algumas condicionantes existen-
deria potencializar, diversificar e enriquecer, intercâmbio livre entre pares, facilitando os tes (o piso, por exemplo), dou carta livre às
o mote que me surgiu foi “olhar para mudar”. ajustamentos de comportamento, a visão po- crianças para que me conduzam na explora-
QUADRO 1. Descrição dos diferentes níveis de apoio emocional do educador nas interações, de acordo com a medida Teacher Observation in
Preschool (TOP; Bilbrey, Vorhaus, & Farran, 2014).
Tom emocional
Extremamente Educadores extremamente negativos na aproximação verbal e não-verbal às crianças. Utilização do sarcasmo nas
negativo (1) interações, gritos ou insultos. Puxar ou arrastar as crianças para as mudar de lugar.
Educadores olham de forma reprovadora para as crianças, demonstrando aborrecimento ou desilusão (franzem o
Negativo (2) sobrolho, abanam a cabeça em sinal de desaprovação, reviram os olhos, (…). Observa-se a utilização de pequenas
ameaças para estabelecer o controlo.
Educadores apresentam uma expressão neutra. Podem envolver-se nas atividades mas não são evidentes sinais de
Neutro (3) afeto em relação às crianças e à atividade.
Educadores envolvem-se em interações positivas com as crianças. Mostram interesse genuíno e prestam atenção
Agradável (4) à criança e às suas atividades. São evidentes sinais não-verbais que comunicam um reconhecimento positivo dos
esforços da criança (olham diretamente para a criança, acenam, inclinam-se para a criança).
Extremamente positivo/ Educadores envolvem-se em interações positivas com as crianças. Sorriem e riem em conjunto com as crianças e
vibrante/ entusiasmado (5) demonstram entusiasmo genuíno durante os momentos de ensino/aprendizagem.
QUADRO 2. Descrição dos diferentes níveis de apoio na instrução/promoção da aprendizagem nas interações, de acordo com a medida Teacher
Observation in Preschool (TOP; Bilbrey, Vorhaus, & Farran, 2014).
Apoio na instrução
Nenhum (1) O educador não está a proporcionar qualquer tipo de instrução/oportunidade de aprendizagem às crianças.
Competências Foco em aprendizagem básica especifica e em obter respostas corretas. Nem sempre as crianças têm oportu-
básicas (3) nidade de responder. Perguntas fechadas.
Promoção de alguma Utilização de um misto de perguntas fechadas abertas. Espaço para as crianças participarem e contribuírem
aprendizagem inferencial (4) com as suas ideias. Estímulo ao processo de pensamento.
Interações com as crianças que envolvem a exploração inferencial (perguntas abertas que despoletam várias
Elevada aprendizagem inferencial tomadas de vez na interação). As crianças participam e partilham informação. Conexões com o mundo real e
(5) as experiências das crianças. Questionamento e discussão. Ligações entre conteúdos e participação ativa da
criança na construção do conhecimento.
mais elevados no tom emocional do que são dirigidas pelo próprio educador, quando des, em risco e com desenvolvimento típi-
na qualidade de instrução. Atividades com comparadas com as atividades que são es- co. Este resultado reforça a importância de
formatos mais estruturados, como o grande colhidas e dirigidas pelas crianças. De facto partir das brincadeiras, dos interesses e do
grupo, pequeno grupo e pequeno grupo em foram registados valores significativamente envolvimento das crianças para a promoção
simultâneo com jogo livre parecem ser os mais elevados para as duas dimensões de das aprendizagens. De um modo geral, as
momentos em que os educadores revelam qualidade das interações nas atividades de crianças têm um papel mais ativo durante
um tom emocional mais positivo nas suas grande grupo, comparativamente ao obser- o jogo livre, bem como mais oportunidades
interações e demonstram uma maior quali- vado nas atividades de jogo livre. de interação com os pares e os objetos, as-
dade no seu apoio à instrução das crianças, petos estes que contribuem positivamente
parecendo ser mais intencional a sua ação Resultados| Qual o envolvimento das crian- para um maior envolvimento em idades pré-
na promoção da aprendizagem das crianças. ças em diferentes formatos de atividade? -escolares. Já as atividades de grande grupo,
Assim, os resultados parecem indicar que os As atividades de jogo livre (Gráfico 3) são as que normalmente exigem mais tempos de
educadores interagem mais positivamente e que registam níveis de envolvimento mais espera e um papel mais passivo por parte
com mais intencionalidade em atividades que elevados para as crianças com incapacida- das crianças, registam os níveis mais baixos
de envolvimento. Salientamos ainda que as se encerra nas dimensões aqui focadas, na rante as mesmas devem ser cuidadosamente
crianças com incapacidades e as crianças em medida em que outros aspetos importantes planeadas para que o tempo no jardim de
risco apresentam um envolvimento signifi- contribuem certamente para a qualidade e o infância seja promotor de envolvimento,
cativamente mais baixo do que as crianças envolvimento em contextos inclusivos, como aprendizagem e desenvolvimento.
com desenvolvimento típico nas atividades por exemplo a formação dos profissionais, Em segundo lugar destacamos que, embora
de grande grupo, indicando a necessidade os rácios, o número de crianças na sala, as a qualidade das interações do educador com
de planear as rotinas e tempos de atividades diretrizes e filosofia das instituições (e.g., as crianças seja superior durante as ativida-
cuidadosamente, particularmente em salas Gamelas, 2013; Pinto et al., 2014; Silva et des dirigidas por este, é em atividades de
inclusivas, para garantir o envolvimento e al., 2016). jogo livre que todas as crianças apresentam
participação de todos, adequando os forma- No entanto, gostaríamos de destacar alguns níveis mais elevados de envolvimento. Esta
tos de atividade às características individuais aspetos que consideramos informativos pa- melhor qualidade das interações do edu-
das crianças. ra a prática dos profissionais. Em primeiro cador nos momentos de atividades mais
lugar e de acordo com as recomendações estruturadas poderá estar relacionada com
Reflexões finais nacionais e internacionais, é importante o facto de estas atividades dirigidas terem
Embora não surpreendentes, uma vez que que, ao longo do dia, as crianças tenham sido previamente planeadas e, por isso, mais
vão ao encontro de dados relatados pre- oportunidades para se envolverem em ati- intencionalizadas, tornando-se mais natural
viamente na literatura, consideramos que vidades de diferentes formatos, fazendo para o educador estimular a aprendizagem
estes resultados são relevantes para os diferentes aprendizagens e desenvolvendo e explorar todas as potencialidades daquele
profissionais que desenvolvem a sua ação diferentes competências (NAEYC, s.d.; Silva momento. Por oposição, o ensino incidental,
em contextos educativos inclusivos em Por- et al., 2016). Sublinhamos que, para além do característico dos momentos de jogo livre,
tugal. Salvaguardamos, no entanto, que a formato das atividades, a sua duração e a pode ser um desafio para os educadores já
complexidade dos contextos educativos não qualidade das interações do educador du- que implica que, com base no envolvimento
Gráfico 3.
Níveis de envolvimento das crianças dos três grupos, em diferentes formatos de atividade (escala: 1 a 5).
da criança, sigam os seus interesses e brin- só no caso de crianças com incapacidades, é azopoulou, eds. Odense, Denmark.
Aguiar, C., Moiteiro, A. R., & Pimentel, J. S. (2010).
cadeira, elaborem o seu jogo e fomentem o fundamental uma ação interventiva intencio- Classroom quality and social acceptance of preschool-
conhecimento com base no que acontece nal na qual os objetivos de ensino-aprendiza- ers with disabilities. Infants and Young Children, 23:1.
no momento, não seguindo, diretamente, gem estão inseridos nas interações que de- doi: 10.1097/IYC.0b013e3181c9766e
Bilbrey, C., Vorhaus, E., Farran, D. (2014). The Teacher
um planeamento prévio. A menor qualidade correm durante todas as rotinas e atividades Observation in Preschool. Peabody Research Institute.
das interações dos educadores registada em da sala, partindo dos interesses e brincadeiras Vanderbilt University. Unpublished manual.
momentos de jogo livre pode estar também das crianças para elaborar e facilitar aprendi- Burchinal, M., Vandergrift, N., Pianta, R., & Mashburn, A.
(2010). Threshold analysis of association between child
relacionada com o facto de estes interagirem zagens (DEC/NAYEC, 2009). care quality and child outcomes for low-income children
menos (em termos de frequência) com as Por último, reforçamos a importância da in prekindergarten programs. Early Childhood Research
crianças durante o jogo livre, considerando qualidade das interações para o desenvolvi- Quality, 25, 166–176. doi:10.1016/j.ecresq.2009.10.004
Camilli, G., Vargas, S., Ryan, S., & Barnett, W. S. (2010).
que estes são momentos para as crianças mento, pois não será demais destacar que o Meta-analysis of the effects of early education inter-
brincarem sem o adulto. Ao salientar esta espaço do jardim de infância é, efetivamente, ventions on cognitive and social development. Teachers
questão não queremos dizer que os edu- um espaço privilegiado para a brincadeira, a College Record, 112(3), 579-620.
DEC/NAEYC. (2009). Early childhood inclusion: A joint
cadores devam assumir a liderança do jogo aprendizagem e para a interação com adul- position statement of the Division for Early Childhood
livre; antes pelo contrário, o jogo livre é, por tos, pares e materiais. É pois fundamental (DEC) and the National Association for the Education of
definição, escolhido e liderado pelas crian- observar as crianças de forma a conhecê-las Young Children (NAEYC). Chapel Hill: The University of
North Carolina, FPG Child Development Institute.
ças. No entanto, a presença do educador e poder, assim, desenvolver interações fre- Early, D. M., Iruka, I. U., Ritchie, S., Barbarin, O. A., Winn,
que interage positivamente, com intencio- quentes, responsivas, intencionais e positivas D. C., Crawford, G. M., & ... Pianta, R. C. (2010). How do
nalidade, é responsivo, segue os interesses que promovam nas crianças o seu envolvi- prekindergarteners spend their time? Gender, ethnicity,
and income as predictors of experiences in prekinder-
das crianças e os elabora, é fundamental em mento, autoconfiança, capacidade de inicia- garten classrooms. Early Childhood Research Quarterly,
todos os momentos, incluindo no jogo livre tiva, formas de pensamento mais complexas, 25(2), 177-193. doi: 10.1016/j.ecresq.2009.10.003
(Grande, 2013). Especialmente para crianças curiosidade e motivação. É nestas interações Farran, D. & Anthony, K., (2014). Child observation in
preschool. Peabody Research Institute. Vanderbilt Uni-
com incapacidades, as oportunidades que que as crianças crescem, aprendem e se de- versity. Unpublished manual.
surgem naturalmente no jogo livre e que o senvolvem. Fuligni, A. a., Howes, C., Huang, Y., Hong, S. S., & Lara-
educador aproveita para intervir intencional- Cinisomo, S. (2012). Activity-settings and daily routines
in preschool classrooms: Diverse experiences in early
mente constituem momentos-chave para a learning settings for low-income children. Early Child-
promoção de competências funcionais, pa- hood Research Quarterly, 27(2), 198-209. doi:10.1016/j.
ra o suporte de relações com pares e para BIBLIOGRAFIA ecresq.2011.10.001
Agência Europeia para as Necessidades Especiais e Edu- Gamelas, A. M. (2003). Contributos para o Estudo da
uma maior participação (Aguiar, Moiteiro, & Ecologia de Contextos Pré-Escolares Inclusivos. Lisboa:
cação Inclusiva. (2017). Inclusive Early Childhood Educa-
Pimentel, 2010). Particularmente, mas não tion – Literature Review. F. Bellour, P. Bartolo & M. Kyri- Ministério da Educação.
1.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Brito, M. J. N. e Godinho, J. C. (2011). As Artes no Jardim
de Infância. Lisboa. DGIDC-Ministério da Educação.
Gonçalves, R., Fróis, J., Marques, E. (2002). Primeiro
Olhar, Programa Integrado de Artes Visuais, Caderno do
Professor. Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkian. Serviço
de Educação e Bolsas.
Mariotti, M. (1987). ANIMANI – Mãos Animadas. Venda
Nova. Bertrand Editora.
Ministério da Educação (1997) e (2016), Orientações Curri-
culares para a Educação pré-escolar. Lisboa.
Soares, L. D., Uma História de Dedos (2005), Porto. Ci-
vilização Editora.
A partir daí diversas ações ocorreram. Muitas As descobertas não pararam por aqui. A Lua do que ele percorra um caminho, senão ele
brincadeiras de faz de conta surgiram na sala afinal tem diferentes fases? Quais são os voaria descontrolado pela sala. Percebemos
e é sempre maravilhoso assistir à apropriação seus nomes? Como é que isso acontece? que ao tirar a mola, a força do ar que está
de conhecimentos por parte das crianças, Com a ajuda de imagens e livros tentámos sa- dentro do balão faz o “foguetão” avançar de
através das suas representações. Para essas ber mais sobre as fases da Lua. A colaboração uma ponta à outra do fio.
brincadeiras improvisámos um fato de astro- de um pai, professor de física, veio enriquecer Depois de muita pesquisa, dedicação e brin-
nauta e, de forma coletiva, construímos um e esclarecer as nossas dúvidas. Através de um cadeira, conversámos e decidimos ser o mo-
foguetão utilizando caixas de cartão. Estas re- ambiente espacial e divertido mostrou-nos as mento de comunicar o que aprendemos. Para
presentações são uma constante no quotidia- diferentes fases da Lua e explicou-nos como isso, fizemos um cartaz das descobertas, on-
no da creche e possibilitam o contacto com acontecem os eclipses. de constou tudo o que sabíamos sobre a Lua.
diferentes linguagens e culturas humanas. Realizámos muitas outras atividades no âmbi- Não esqueçamos que estamos a falar de um
Quando se iniciam projetos em creche, uma to deste projeto. Simulámos ser astronautas grupo de crianças de 3 anos, crianças que são
das caraterísticas mais presentes é a forma que estão na Lua e, com a ajuda de um pro- capazes de nomear e explicar as fases da Lua,
como todo o questionamento surge a partir jetor, assistimos a vários vídeos onde visuali- que sabem o nome do primeiro astronauta a
das experiências que as crianças trazem de zamos a terra a aparecer. pisar a Lua, que sabem que os astronautas
casa, através da sua linguagem própria, das Para perceber como funciona um foguetão, trabalham na NASA, que sabem inclusive que
suas brincadeiras e representações. realizámos uma experiência. Usámos um fio no espaço andamos a flutuar.
O projeto A Lua envolveu as crianças em di- que amarrámos a duas cadeiras, um pedaço O projeto foi finalizado. Todas as pesquisas
versas atividades. Criámos um espaço na sala de palhinha, um balão, um pedaço de fita- estavam feitas, tínhamos as respostas a algu-
dedicado à pesquisa e exploração do tema a -cola e uma mola para não deixar o ar sair. mas perguntas que colocámos, era o momen-
partir de livros e imagens que foram sendo Perguntámos: O que vai acontecer? Para on- to de comunicar.
trazidos de casa pelas crianças e adultos. Nas de irá o balão? O que tem o balão dentro E foi na sala de creche dos nossos amigos
suas pesquisas as crianças descobriram que, dele? No nosso foguetão de balão, estamos a do lado que começámos. Claro que nestes
por vezes, também se pode ver a Lua de dia aplicar um impulso com o ar que está dentro momentos de comunicação algumas crianças
e, com a ajuda de um telescópio, observámos do balão, por isso é que ele se movimenta. A falam descontraidamente, enquanto outras
a Lua em pleno dia. palhinha serve para direcionar o balão, fazen- são mais tímidas. A riqueza destes momentos
1 In http://www.movimentoescolamoderna.pt/mode-
lo-pedagogico/sistema-de-organizacao-cooperada/
circuitos-de-comunicacao/.
O dióxido de carbono (CO2) encontra-se dis- diatamente à superfície do objeto. tem por base o facto de a bebida açucarada
solvido nas bebidas gaseificadas, sendo que Por exemplo, adicionar sal origina espuma no final da atividade se tornar numa massa
a quantidade de CO2 que se dissolve é fun- porque formam-se milhares de pequenas pegajosa, que a torna mais difícil de limpar
ção da pressão e temperatura. Segundo a Lei bolhas na superfície de cada grão de sal, o porque contém açúcar. A opção sem açúcar
de Henry, “a uma temperatura constante, a que resulta num extenso borbulhar. A este (light) utiliza adoçantes artificiais em vez de
quantidade de um gás que se dissolve num processo chamamos nucleação, e os locais açúcar e, consequentemente, não é pegajosa.
determinado tipo e volume de um líquido é onde as bolhas se formam, seja na lata, num Deve notar-se que, apesar das inúmeras “re-
diretamente proporcional à pressão parcial objeto ou à volta de um pequeno grão de sal, ceitas” disponíveis, não existe a receita certa
desse mesmo gás em equilíbrio com o líqui- são os locais de nucleação. para nenhuma atividade experimental. Todas
do”. Assim, a solubilidade do gás aumenta Nesta atividade adiciona-se uma goma, que devem ser adaptadas às condições físicas
com o aumento da pressão e diminui quando deve ser porosa de modo que as porosida- e humanas disponíveis. Cabe ao educador
a temperatura aumenta, pelo que o dióxido des atuem como locais de nucleação, ou seja, escolher o momento adequado para a reali-
de carbono é introduzido nas bebidas gasei- locais perfeitos para a formação de bolhas zação da atividade, assim como os materiais
ficadas a uma elevada pressão. de dióxido de carbono. Desta forma, assim a utilizar, não esquecendo que normalmen-
Quando se agita uma garrafa ou lata de uma que a goma é colocada na bebida gaseificada, te temos todo o equipamento essencial ao
bebida gaseificada, uma parte do gás sai da formam-se bolhas em toda a sua superfície, nosso dispor, só que por vezes temos de o
solução e as bolhas agarram-se às paredes in- que depois sobem rapidamente para a su- adaptar às necessidades. No entanto, estas
ternas do recipiente (em determinados locais perfície do líquido para sair para o exterior. atividades devem ser planeadas e testadas
denominados locais de nucleação). Quando Adicionalmente, se as gomas forem pesadas antes de serem realizadas em sala de aula.
se abre o recipiente, as bolhas sobem rapi- irão ao fundo o que faz que as bolhas de gás E tão importante como a própria experiência
damente até ao topo, empurrando o líquido formadas à superfície das gomas, ao sair, em- são as questões orientadoras, que permitem
para fora. purrem todo o líquido para cima, originando guiar as crianças no decorrer da atividade.
Esta não é a única forma de fazer sair o gás o efeito semelhante a um géiser.
de uma bebida gaseificada. Se colocarmos Um fator importante pode ser a escolha da MATERIAIS NECESSÁRIOS
um objeto, como uma cereja ou um pedaço bebida. A escolha da opção sem açúcar (li- Bebida gaseificada (de preferência light)
de laranja, as bolhas de gás formam-se ime- ght) em relação à mesma bebida açucarada Gomas porosas
Mostrar as gomas
Questionar as crianças sobre as propriedades
das mesmas.
Observar
Pedir que descrevam o que estão a observar.
referência para poder realizar as medições ao sejam todas da mesma marca e tipo. Também
Explicar o resultado visualizar a gravação. Outra medição que se é importante que todas as garrafas de tes-
Não termine aqui a atividade. Os alunos de- pode fazer é a do volume: anota-se o volume te sejam armazenadas no mesmo local para
vem fazer o registo das suas observações da garrafa cheia antes de colocar as gomas, que o líquido em cada garrafa tenha a mesma
da forma que achar mais conveniente (de- aguarda-se que a experiência acabe e mede- temperatura.
senhos, textos, oralmente, etc.). Promova a -se o volume que fica na garrafa. A diferença
discussão sobre estes resultados ao longo é igual ao volume do géiser.
do ano; esta pequena experiência pode dar Estabelecida qual a medição que se vai fazer,
origem a muitas outras. podemos alterar algumas variáveis. Uma pos-
Pode tornar esta atividade numa pequena in- sibilidade é investigar a influência da quan-
vestigação, desde que introduza uma variável tidade de gomas. Outra, o tipo de gomas.
e encontre uma forma de medir a altura da Também se pode testar o tipo de bebida, o
“erupção”. Esta medição pode ser feita atra- volume de bebida, etc.
vés de uma gravação, colocando objetos para Certifique-se de que as garrafas de bebida
20
8:30 Abertura do Secretariado
9:15 Sessão de abertura
9:30 Crescer num mundo com risco:
a importância da experiência
Rita Cordovil, Faculdade de Motricidade
Humana
outubro
10:30 Coffee-break
2018
Serviços de Apoio à Infância (SASUC),
Coimbra
12:00 Construção da documentação
pedagógica em contexto de creche
Ariana Oliveira, Centro Infantil Olivais Sul,
Lisboa
PREÇOS DE INSCRIÇÃO
ASSOCIADOS DA APEI
QUE TRAGAM NOVOS 15€
ASSOCIADOS
XX
NÃO ASSOCIADOS 30€
Apoio:
27
8:30 Abertura do Secretariado
9:15 Sessão de abertura
9:30 Crescer num mundo com risco: a
importância da experiência
Rita Cordovil, Faculdade de Motricidade
Humana
outubro
10:30 Coffee-break
2018
na aprendizagem das crianças em
contexto de creche
Sónia Gomes, Centro Infantil Olivais Sul,
Lisboa
12:00 A transição de bebés para a creche
Sílvia Araújo de Barros, Escola Superior de
Educação do Porto
BRAGA
13:00 Almoço (livre)
PREÇOS DE INSCRIÇÃO
ASSOCIADOS DA APEI
QUE TRAGAM NOVOS 15€
ASSOCIADOS
XXI
DOCENTES DO
Apoio:
REGIONAL REGIONAIS
APEI COIMBRA
DE COIMBRA
Pedagogia 10 novembro 2018
na Educação
Pré-Escolar
09:15 Sessão de Abertura
09:30 A importância do brincar livre em contexto de educação de infância
(Frederico Lopes, Faculdade de Motricidade Humana, Universidade de Lisboa)
13:15 Almoço
14:45 O que dizem as minhas paredes: mensagens explicitas e implícitas.
(Cristina Mesquita, ESE, CIEB, Instituto Politécnico de Bragança)
PREÇOS DE INSCRIÇÃO
ASSOCIADO 20¤ NOVOS ASSOCIADOS OU ASSOCIADOS QUE CONVIDEM NOVOS ASSOCIADOS 15¤
REGIONAL REGIONAIS
APEI PORTALEGRE
DE PORTALEGRE
Pedagogia 10 novembro 2018
na Educação
Pré-Escolar
09:15 Sessão de Abertura
10:30 Coffee-break
13:00 Almoço
PREÇOS DE INSCRIÇÃO
ASSOCIADO 20¤ NOVOS ASSOCIADOS OU ASSOCIADOS QUE CONVIDEM NOVOS ASSOCIADOS 15¤
REGIONAL REGIONAIS
APEI GUARDA
DE GUARDA
Pedagogia 17 novembro 2018
na Educação
Pré-Escolar
09:15 Sessão de Abertura
09:30 Real(Idades) na Educação Artística na Infância
(Elisa Marques, Agrupamento Vertical de Escolas Almeida Garrett, Amadora – Coordenou
a Equipa de Educação Estética e Artística do Ministério da Educação/DGE, 2009-2018)
10:30 Coffee-break
11:00 O Jardim de Infância em movimento - construindo pontes com a cidade
(Sílvia Bereny, OSMOPE Porto – Movimento das Pontes Educativas)
13:00 Almoço
14:30 Jardim de infância a tempo inteiro - uma realidade do século XXI
(Maria José Infante, Instituto Politécnico de Castelo Branco / Escola Superior de
Educação)
PREÇOS DE INSCRIÇÃO
ASSOCIADO 20¤ NOVOS ASSOCIADOS OU ASSOCIADOS QUE CONVIDEM NOVOS ASSOCIADOS 15¤
REGIONAL REGIONAIS
APEI PORTO
DE PORTO
Pedagogia 24 novembro 2018
e Currículo Aula Magna da Faculdade de Belas
Artes da Universidade do Porto
na Educação
Pré-Escolar
09:15 Sessão de Abertura
10:45 Coffee-break
13:15 Almoço
PREÇOS DE INSCRIÇÃO
ASSOCIADOS 20¤
REGIONAL REGIONAIS
APEI VILA REAL
DE VILA REAL
Pedagogia 24 novembro 2018
e Currículo Auditório de Geociências da UTAD
na Educação
Pré-Escolar
09:15 Sessão de Abertura
09:30 A documentação pedagógica como suporte à aprendizagem
(Ana Azevedo, Delegada Regional do Norte da APEI)
10:30 Coffee-break
11:00 “Não posso ir já para a escola...tenho projetos para acabar!” - Práticas de Projeto
(Isabel Rego de Barros, JI da EB1 nº 6, Agrupamento de Escolas Diogo Cão, Vila Real)
13:00 Almoço
14:30 Oportunidades educativas para o desenvolvimento integral da criança:
a importância da literacia física
(-Ana Quitério, Faculdade de Motricidade Humana)
PREÇOS DE INSCRIÇÃO
ASSOCIADOS 20¤ NOVOS ASSOCIADOS E ASSOCIADOS DA APEI QUE TRAGAM NOVOS ASSOCIADOS 15¤
O livro Brincar em todo o lado, é da autoria de Carlos Neto é professor catedrático na Fa- que educam e/ou trabalham com crianças
Carlos Neto e Frederico Lopes, numa edição culdade de Motricidade Humana (FMH) da e jovens, está apresentada de forma muito
da Associação de Profissionais de Educação Universidade de Lisboa (UL). É presidente da apelativa, com inúmeras fotografias que ilus-
de Infância (APEI). Casa da Praia-Centro Doutor João dos Santos tram o texto, e escrita com uma linguagem
A APEI, consciente de que as "crianças de hoje e representante português da International acessível, sem descurar a sua componente
também brincam, mas brincam de forma dife- Play Association (IPA). Além de inúmeras ou- conceptual e científica que a suporta.
rente. O aparecimento de novas tecnologias, tras atividades, foi fundador da Sociedade de Nas palavras de Carlos Neto, "Brincar não é
a institucionalização dos tempos livres, a falta Educação Física, é membro de diversas revis- só um direito é uma necessidade. Brincar não
de contacto com a natureza, a inexistência tas científicas, onde tem publicado vários tra- deve ser uma imposição mas uma descober-
de espaço livre para brincar, a diminuição de balhos, bem como livros e capítulos de livros ta. Brincar/jogar não é só uma ideia é uma
autonomia de mobilidade, a densidade de trá- relacionados com o desenvolvimento motor vivência. O jogo não é um processo definido
fego, são alguns dos constrangimentos atuais e o ensino da educação física nos primeiros é um processo aleatório. Jogar/brincar não é
que impedem as crianças de terem acesso ao níveis de escolaridade, o jogo e o desenvol- só incerteza é uma forma acrescida de ganhar
jogo livre" (p. 11), e tendo sempre o desen- vimento da criança. segurança e autonomia" (p. 9).
volvimento saudável e os direitos da criança, Frederico Lopes é investigador, consultor e Nesse sentido, o livro encontra-se organizado
em particular, e a qualidade da educação de formador nas áreas do jogo e da participa- por assuntos, todos eles diretamente relacio-
infância em geral, como foco da sua atenção, ção infantil. No seu doutoramento estudou nados com o brincar e com a sua importância
decidiu editar este livro em outubro de 2018. a relação entre a criança, a mobilidade ativa e para o desenvolvimento holístico da criança,
o ambiente urbano. É cofundador do projeto pois esta atividade de «jogo (brincar = jogo
1 Recensão crítica feita por Maria Helena Horta, Escola “1,2,3, macaquinho do chinês”, cuja missão é de exploração) é uma linguagem universal
Superior de Educação e Comunicação da Universida-
de do Algarve (ESEC/UAlg) | Núcleo Interdisciplinar da a provisão do brincar livre. que ultrapassa crenças, espaços geográficos
Criança e do Adolescente da Universidade dos Açores Esta publicação, destinada a todos aqueles e diversidade de culturas» (p. 23), contribuin-
(NICA/UAc) do para o desenvolvimento de competências
motoras, sociais e cognitivas.
Na sua introdução o livro faz alusão ao con-
tacto e à exploração da natureza por parte
da criança, porque a «nossa infância é pro-
fundamente marcada pelas experiências
de contacto com a natureza, efetuadas em
companha dos pais, dos amigos e também
sozinho» (p. 11).
Apresenta a definição de brincar como a
adaptação «a situações imprevisíveis, através
de ações diversas, na utilização do corpo em
espaços físicos e na relação com os outros»
(p. 17), além de apresentar as suas caracterís-
ticas, referindo-o como livre e um direito da
criança, entre outros aspetos.
O porquê do brincar e ser ativo, no desen-
volvimento das suas capacidades adaptati-
vas, da sua autoconfiança, de competências
motoras e cognitivas, de regulação emo-
cional, da relação social, no confronto com
adversidades e no desenvolvimento de uma
cultura de sobrevivência, é entendido como
um “tempo para crescer” na exploração do
ambiente, na vivência do próprio corpo, na
imprevisibilidade e no controlo emocional da
criança.
Os pais têm sempre dúvidas. Mais ainda quan- "Às vezes, os meus pais zangam-se comi-
do os filhos revelam perturbações de desen- go sem razão.
volvimento ou comportamento. Felizmente, E eu zango-me com eles com razão."
há respostas. E elas estão neste livro. Pedro, 5 anos
Em Portugal há milhares de crianças com
perturbações de desenvolvimento ou com- O Pedro tem certa-
portamento. São diferentes os diagnósticos, mente razão. Mas,
sintomas e gravidade. Mas acarretam sempre, quem sabe, talvez
em diferentes escalas, um abalo familiar. Só os os pais dele tam-
pais, ou cuidadores, sabem a tarefa que têm bém tenham. Bom
em mãos, em casa, na escola ou na sociedade. mesmo era que con-
Parece que o mundo desaba. versassem e que se
Mas não tem de desabar. O neuropediatra ouvissem. E que às
Nuno Lobo Antunes, ao longo de décadas, reclamações de uns
tratou com sucesso centenas de crianças. E e outros fosse sem-
nos últimos anos, no PIN, foi acompanhado pre dada a devida
nessa tarefa por pediatras, pedopsiquiatras, atenção. Porque,
psicólogos, terapeutas da fala ou da sexuali- se virmos bem,
Qualquer ato profis- dade, técnicos de educação especial. Juntos entre as crianças e
sional é político, o que implica gestos de produziram, agora, o mais completo livro por- os adultos cavam-
cidadania. Alguém um dia me interpelou: tuguês sobre as perturbações de desenvolvi- -se de vez em quando fossos, onde deveria
"Tu devias contar a tua vida profissional mento e comportamento - da sexualidade, à haver apenas pontes.
que foi tão interessante." Fiquei a pen- adição à internet, dos problemas do sono aos É aqui que entra o Livro de Reclamações
sar nisso durante largos anos. É verdade comportamentos de oposição e desafio. das Crianças, onde elas, de viva voz, dizem
que tive uma vida profissional sempre rica Cada uma delas é explicada por quem sabe, e de sua justiça. Não são meigas, acertam
(…). Sim, mais do que pautar a minha vida todas são vistas numa perspectiva abrangente sempre em cheio, e às vezes até magoam
pelas etapas normais de uma carreira aca- - porque raramente vêm sós. um pouco. Para responder às angústias do
démica, procurei orientá-la por projetos, Sobre todas elas encontrará aqui as respostas: Pedro e de tantas outras crianças, surgiu
no compromisso com o serviço público à como se diagnostica, como se trata, a farma- este livro. A pensar nos mais pequenos, mas
educação. cologia, o papel dos pais e dos cuidadores. sobretudo nos adultos: "Só queremos que
Fui escrevendo notas soltas e, num que- perceba que cada uma destas crianças podia
rido mês de agosto, (…) iniciei a parte ser a sua. E que, por delicadeza, por medo,
mais descritiva deste livro. Não pretendo ou por bondade, talvez a sua diga com os
escrever uma história de vida no sentido olhos aquilo que outras crianças foram ca-
científico do termo. Escrevo histórias e pazes de nos dizer a conversar."
descrevo lugares e viagens da minha vida. Vamos então ouvi-las. E dar-lhes espaço
Limitei-me a fazer este processo como se para se manifestarem. Mas de coração
me reflectisse a mim própria, projetada em aberto, com a ternura à espreita, porque
vários espelhos. Tentei caminhar para den- mesmo quando elas reclamam pelas gu-
tro de mim, revisitando o meu percurso de loseimas, não é de guloseimas que estão
vida e procurando olhar esse percurso de a falar. Exercitam antes o seu direito fi-
um modo mais subjectivo. losófico de nos questionar na nossa au-
toridade de grandes que se esqueceram
do que é ser criança.
Era uma
vez três ursos que viviam numa cabana da
floresta. Um era grande, o outro era mé-
dio e o último era pequeno. Os três ursos Era uma vez uma página em branco... En-
levantavam-se cedo todos os dias e pre- tre as simpáticas personagens desta obra
paravam o seu pequeno-almoço de papas apenas uma opta por aproveitar o tempo
de aveia. enquanto as outras se limitam a aguardar
Um dia, porém, as papas estavam muito pela chegada de uma história que teima
quentes e os três ursos decidiram ir dar Brincar com as palavras é divertido! em não vir. À medida que divagam não
um passeio enquanto o pequeno-almoço É isso mesmo que faz o autor, Manuel dão conta que o seu companheiro está a
arrefecia. Pela floresta andava também António Pina, neste livro para saborear e construir em seu redor um mundo de cor, e
uma menina de caracolinhos dourados. sorrir. isto apenas com a ajuda de uns lápis e da
Como era muito curiosa, aproximou-se da Encontre aqui o Guião de Exploração e as sua imaginação ilimitada. Por fim a história
cabana e espreitou pela janela para ver Fichas de Leitura. chega, mas…
quem lá vivia e decidiu entrar... Um mergulho nos bastidores de um livro,
no livro sem fim ou no livro dentro do livro,
Uma adaptação de Xosé Ballesteros do mas também uma reflexão sobre o con-
conto clássico de Robert Southey. formismo e a apatia frente à iniciativa, à
audácia e à vontade.
REGIONAL REGIONAIS
APEI SETÚBAL REGIONAL REGIONAIS
APEI BEJA REGIONAL REGIONAIS
APEI VISEU
na Educação
de Ciências Empresariais
na Educação na Educação
Pré-Escolar Pré-Escolar Pré-Escolar
09:15 Sessão de Abertura
09:15 Sessão de Abertura
09:30 Real(Idades) na Educação Artística na Infância 09:15 Sessão de Abertura
(Elisa Marques, Agrupamento Vertical de Escolas Almeida Garrett, Amadora –
09:30 Horários, tempos controlados, atividades repetitivas e fichas
na abordagem à escrita no jardim de infância – Será isto
09:30 Documentar e avaliar na educação de infância para tornar
Coordenou a Equipa de Educação Estética e Artística do Ministério da Educação/DGE, 2009-2018) visíveis as aprendizagens das crianças e dos educadores
compatível com os princípios e fundamentos das OCEPE?
10:30 Coffee-break (Cristina Parente, Instituto de Educação, Universidade do Minho)
(Lourdes Mata, ISPA - Instituto Universitário)
PREÇOS DE INSCRIÇÃO
ASSOCIADOS 20¤
PREÇOS DE INSCRIÇÃO PREÇOS DE INSCRIÇÃO
NÂO ASSOCIADOS 30¤
ASSOCIADOS 20¤ NOVOS ASSOCIADOS E ASSOCIADOS DA APEI QUE TRAGAM NOVOS ASSOCIADOS 15¤
ASSOCIADOS 20¤ NOVOS ASSOCIADOS E ASSOCIADOS DA APEI QUE TRAGAM NOVOS ASSOCIADOS 15¤
NOVOS ASSOCIADOS E ASSOCIADOS DA
15¤ NÂO ASSOCIADOS 30¤ DOCENTES E ALUNOS DO INSTITUTO POLITÉCNICO DE BEJA GRATUITO
APEI QUE TRAGAM NOVOS ASSOCIADOS NÂO ASSOCIADOS 30¤ ALUNOS DA ESCOLA SUPERIOR DE TECNOLOGIA E GESTÃO DE VISEU 10¤
nosnalinha
2.o ENCONTRO
1.o ENCONTRO
9
ENCONTROS
REGIONAL
9:15 Abertura do Secretariado
9:30 Sessão de abertura REGIONAIS
ENCONTROS APEI BRAGANÇA
REGIONAL
10:30 “A creche de pernas para o ar”:
REGIONAIS
discursos, processos e práticas assentes
DE BRAGANÇA
nos direitos da criança
APEI LISBOA Catarina Tomás, Instituto Politécnico de
Lisboa / CICS.NOVA.FCSH NOVA
2019
pedagógica: Um estudo em contexto
de creche
Carina Ferreira, Centro Infantil Olivais Sul,
Pedagogia
Fundação Aga Khan
9 março 2019
12:00 Transformação de um contexto no
Pedagogia
âmbito da Pedagogia-em-Participação
Mafalda Coelho, Infantário-Creche “O
na Educação
das interfaces entre formação
Centro de Congressos do e investigação
na Educação
Sara Araújo, Escola Superior de Educação,
Centro Hospitalar e Instituto Politécnico do Porto
Pré-Escolar
14:30 (Rot)atividade em Creche:
Universitário de Coimbra uma experiência piloto com grupos de
Pré-Escolar 2 anos
Ana Benites e Andreia Carvalho, Casa da
Criança Maria Granado, Fundação Bissaya
Barreto
16:30 Sessão de Encerramento
09:15 Sessão de Abertura
09:15 Sessão de Abertura
09:30 Fundamentos para o exercício físico em crianças: a função
do desenvolvimento de competências motoras 09:30 Real(Idades) da Educação Artística na Infância
(Helena Santa-Clara - Faculdade de Motricidade Humana) (Elisa Marques, Agrupamento Vertical de Escolas Almeida Garrett, Amadora – Coordenou
a Equipa de Educação Estética e Artística do Ministério da Educação/DGE, 2009-2018)
10:30 Apresentação do projeto literário “À Espera Do Quê?”, Rosa Montez
10:30 Coffee-break
10:45 Coffee-break
12:15 InPossibilidades na Paisagem 12:00 A sala é onde estivermos - (re)pensar a organização do ambiente educativo
(Helena Martinho, Jardim de Infância do Vimeiro, Agrupamento PREÇOS DE INSCRIÇÃO (Fátima Aresta, Centro de Atividade Infantil de Évora)
de Escolas D. Lourenço Vicente, Lourinhã)
13:00 Almoço
13:15 Almoço NOVOS ASSOCIADOS 15€
14:30 O que eu gosto (mesmo) é de escrever! Oportunidades de escrita no jardim de infância
14:45 O que eu gosto (mesmo) é de escrever! Oportunidades (Maria Helena Horta, ESEC, Universidade do Algarve / NICA, Universidade dos Açores
ASSOCIADOS DA APEI
de escrita no jardim de infância QUE TRAGAM NOVOS 15€
ASSOCIADOS
(Maria Helena Horta, ESEC, Universidade do Algarve / NICA, Universidade dos Açores) 15:30 O que dizem as minhas paredes: mensagens explicitas e implícitas.
15:45 O que dizem as minhas paredes: mensagens explicitas e implícitas. (Cristina Mesquita, ESE, CIEB, Instituto Politécnico de Bragança)
(Cristina Mesquita, ESE, CIEB, Instituto Politécnico de Bragança) ASSOCIADOS DA APEI 20€
16:30 Sessão de Encerramento
16:45 Sessão de Encerramento
XXII
NÃO ASSOCIADOS 30€
ASSOCIADOS 20¤ NOVOS ASSOCIADOS E ASSOCIADOS DA APEI QUE TRAGAM NOVOS ASSOCIADOS 15¤ ASSOCIADOS 20¤ ASSOCIADOS DA APEI QUE TRAGAM NOVOS ASSOCIADOS 15¤
Inscrições em: www.apei.pt • /apei.assoc.profissionais.educ.infancia
NÂO ASSOCIADOS 30¤ PROFESSORES E EDUCADORES DO COLÉGIO PEDRO ARRUPE GRATUITO NÂO ASSOCIADOS 30¤
PROFESSORES E EDUCADORES
GRATUITO
DO INSTITUTO POLITÉCNICO DE BRAGANÇA
NOVOS ASSOCIADOS 15¤
nosnalinha
nosnalinha
1.o ENCONTRO
REGIONAL
DE FARO
ENCONTROS
REGIONAIS
APEI FARO
março
23 30
março
2019 2019
Pedagogia 16 março 2019
e Currículo Anfiteatro 1.5, Complexo
Pedagógico do Campus da Penha, PORTO CASCAIS
na Educação
Universidade do Algarve
Auditório Magno do Colégio Sra. Boa Nova
Instituto Superior Estoril
Pré-Escolar de Engenharia
09:15 Sessão de Abertura
09:30 Horários, tempos controlados, atividades repetitivas e fichas na abordagem
à escrita no jardim de infância – Será isto compatível com os princípios
e fundamentos das OCEPE?
(Lourdes Mata, ISPA - Instituto Universitário)
13:15 Almoço
14:45 Documentar e avaliar na educação de infância para tornar visíveis as
aprendizagens das crianças e dos educadores
(Cristina Parente, Instituto de Educação, Universidade do Minho)
ASSOCIADOS
NÂO ASSOCIADOS
20¤
30¤
PREÇOS DE INSCRIÇÃO
10¤
XXIII PEDAGOGIA E EDUCAÇÃO NA INFÂNCIA
XXIV PEDAGOGIA E EDUCAÇÃO NA INFÂNCIA
REGIONAL
CICLO DE
REGIONAIS APEI AÇORES
APEI MADEIRA
Pedagogia
e Currículo
Pedagogia
e Currículo
na Educação
12 julho 2019
Auditório VIII, Ponta Delgada,
Universidade dos Açores SEMINÁRIOS
na Educação
Pré-Escolar
Pré-Escolar
09:15 Sessão de Abertura
09:30 Currículo, estratégias e aprendizagens - a centralidade da ação
do profissional de ensino e educação
(Maria do Céu Roldão, Universidade Católica Portuguesa, Porto)
10:30 Coffee-break
2019
11:00 Conversas em torno da escrita no jardim-de-infância
(Margarida Alves Martins, Centro de Investigação em Educação, ISPA)
13:00 Almoço
14:30 ENCANTA-ME: olhares e sentires na educação de infância
(Rosa Montez, Agrupamento de Escolas Alexandre Herculano, Santarém)
maio
2019
Museu de PREÇOS DE INSCRIÇÃO
Eletricidade "Casa
ASSOCIADOS 20¤ NOVOS ASSOCIADOS E ASSOCIADOS DA APEI QUE TRAGAM NOVOS ASSOCIADOS 15¤
da Luz"
NÂO ASSOCIADOS 30¤ ALUNOS DA UNIVERSIDADE DOS AÇORES 10¤
47
Edição
exclusiva
APEI
Edições APEI
PVP: 13,10€
Associados da APEI (20%): 10,50€
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livros (30%): 9€
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6 E 7 JULHO 2I0 19
LA FLOR
TURAL V
GUIMARÃES
CE NTRO CUL
XVI
ENCONTRO NACIONAL
A EDUCAÇÃO ARTÍS
TICA
FÂNCIA
NA EDUCAÇÃO DE IN
INSCRIÇÕES: WWW.APEI.PT