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Publicação quadrimestral n.

º 115 Setembro/Dezembro 2018


Edição da APEI Associação de Profissionais de Educação de Infância
Preço 6.50¤ (iva incluído) ISSN 2182-8369
Publicação quadrimestral Equipa editorial: Ana Maria Azevedo, Ana Isabel Santos, Carmo Góis,
n.º 115 Helena Horta, Joana Freitas-Luís, Luís Ribeiro, Maria de Fátima Godinho,
Tiragem: 3600 exemplares Maria Luísa Tavares, Maria Manuela Rosa, Maria Margarida Costa e
Publicação Quadrimestral n.º 111 Maio/Agosto 2017
Edição, Propriedade e Redação: Associação Susana Alberto,
Colaboradores:Rosário Leote de Carvalho
Edição da APEI Associação de Profissionais de Educação de Infância

de Profissionais de Educação de Infância


Preço 6.50¤ (iva incluído) ISSN 2182-8369

Bairro da Liberdade, Lote 9, Loja 14, Piso 0. Revisão: António Simões do Paço Design gráfico: Metropolis Design
1070-023 LISBOA www.metropolis.pt
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E-mail: apei@apei.pt NIPC: 501 226 737 Gueifães | Apartado 1208, 4471 - 909 Maia Preço por número: 6.50¤
Diretor: Luís Ribeiro Assinaturas: 1 ano: 17,50¤ (iva incluído), estrangeiro (1 ano) 19¤
(Presidente da APEI) N.º de registo: ERC: 112028 Depósito legal: 12929/86
ISSN: 2182-8369
Os artigos assinados não exprimem necessariamente o ponto de vista da Direção.



1 Editorial . Luís Ribeiro 30 À descoberta . Rosário Leote de Carvalho
Vamos fazer um géiser

2 Foto. António Catalano 32 Notícias da Direção . Maria do Ceú Velez
Olívia e Noé, os Reis do Trampolim
Dinâmica formativa em 2018: balanço de um ano de atividades

3 Artigo . Isabel Correia e Manuela Matos 34 Notícias da Direção


Gerir o currículo na educação pré-escolar Ciclo de Seminários APEI: 1º trimestre 2018/2019
na perspetiva das OCEPE 2016: testemunho de uma (fotorreportagem)
experiência formativa

41 Nas bancas: APEI


10 Artigo . Teresa Varela Dias Brincar em todo o lado

Olhar para mudar



43 Nas bancas: Educação

16 Artigo . Vera Coelho, Joana Cadima e Ana Isabel Pinto
Viagens de uma viajante
Sentidos
O tempo passado em diferentes formatos de atividade
Inventado Números
em contextos pré-escolares inclusivos: relações
Chamar as coisas pelos nomes
com a qualidade das interações
Livro de reclamações das crianças
e com o envolvimento das crianças
Autonomia e Flexibilidade Curricular

22 Práticas . Rosa Montez


Educação artística nos jardins de infância. A formação
contínua como desafio para a prossecução de práticas 45 Nas bancas: Infantil
reflexivas e desafiadoras Os três ursos
O Têpluquê e outras histórias
Uma história
27 Práticas . Denise Cavaco Serra Uns óculos para a Rita
Um projeto em creche: a Lua Se eu fosse…
Aqui estamos nós

Estatuto Editorial Os Cadernos de Educação de Infância, fundados em 1987, são uma revista quadrimestral, independente e livre, especializada no campo da educação de infância, que pretende contribuir,
através da divulgação de artigos concetuais e de práticas educativas de qualidade, para a discussão da pedagogia e da educação e para o aprofundamento da compreensão da infância. As suas opções
editoriais são orientadas por critérios de qualidade, rigor e criatividade editorial, estabelecidas sem qualquer dependência de ordem ideológica, corporativa, política, social ou económica, valorizando a
pluralidade de olhares que sejam promotores de reflexão e discussão sobre a educação de infância, contribuindo, desse modo, para o desenvolvimento pedagógico e científico dos seus profissionais e para
a definição de políticas educativas a nível nacional e europeu. No campo da informação e da opinião, orienta-se pelas disposições contidas na Declaração dos Direitos da Criança, na Declaração Universal
dos Direitos do Homem, na Constituição da República Portuguesa, no Estatuto do Jornalista, na Lei de Imprensa, no Código Deontológico dos Jornalistas e nos princípios da ética profissional produzida
e assumida no seio da comunidade da informação, de âmbito nacional ou internacional.

A APEI é apoiada pelo Ministério de Educação no âmbito do protocolo de afetação de recursos humanos
# 115
: EDITORIAL
Luís Ribeiro . Presidente da APEI


des

Nos últimos anos o papel das associações mento que a APEI tem tido junto dos profis- escolares, educadores e professores, estão
profissionais tem tido um reconhecimento sionais de Educação de Infância. conscientes que a monodocência tem, em si
social crescente, nomeadamente por garan- A Educação Pré-Escolar (e a Educação de In- mesmo, formas de operacionalizar o currículo,
tirem aos seus membros um espaço de per- fância) em Portugal, cuja génese ocorreu no dinâmicas e organizações do ambiente edu-
tença que, no caso da educação em geral e séc. XIX, do ponto de vista da democratiza- cativo e dos tempos “escolares” que impor-
da educação de infância em particular, não ção ao acesso é ainda muito recente, uma vez ta salvaguardar e não modelar à imagem da
consegue ser assegurado pelas organizações que a massificação e, principalmente, a uni- pluridocência.
escolares, a viverem tensões muitas vezes versalização têm relativamente poucos anos. Por tudo isto e apesar de termos a maioria
antagónicas e numa autonomia ainda muito Dos primeiros educadores formados já depois dos jardins de infância integrados e unida-
condicionado pelo poder da Administração de 1974, a esmagadora maioria ainda se en- des que também incluem outros níveis de
Central e Local. contra no ativo, uma situação que não tem ensino, não podemos de manifestar a nossa
A APEI, por ser uma instituição privada sem paralelo em qualquer outro nível de ensino estranheza e lamentar não haver, no âmbito
fins lucrativos, tem procurado garantir, de em Portugal. dos trabalhos relativos à Autonomia e Flexi-
uma forma independente de interesses e ló- Este contexto, aliado a uma praxis que coloca bilidade Curricular e do Perfil dos Alunos à
gicas políticas, que os seus associados (e em a criança no centro do processo, em detri- Saída da Escolaridade Obrigatória, qualquer
geral todos os profissionais de educação de mento de processos centrados nos outputs referência à educação pré-escolar, continuan-
infância) tenham acesso aos resultados mais dos alunos, como é recorrente ocorrer na do a vingar, no século XXI note-se, políticas
recentes da investigação e possam usufruir educação escolar, tornam muito peculiar a educativas que consideram que a educação “a
de um espaço de reflexão à volta das ques- ação educativa dos Educadores de Infância, sério” só começa verdadeiramente no 1º ciclo
tões da Educação de Infância, promovendo uma especificidade que tende a perder-se do ensino básico.
uma identidade profissional, uma “retaguar- (ou desvirtuar-se) com a crescente pressão Regressando aos Cadernos de Educação
da” pedagógica e científica que seja promo- sobre o sucesso escolar que, muitas vezes, de Infância e à pluralidade de artigos que o
tora do seu desenvolvimento profissional. impõe à Educação Pré-Escolar uma lógica de caracteriza, espero que este número seja do
Os Cadernos de Educação de Infância (CEI), funcionamento pedagogicamente incorreta. vosso agrado, que proporcione umas exce-
a Infância na Europa Hoje (IEH), a formação Considerando a importância do princípio da lentes leituras e que sirva de inspiração para
contínua disseminada por todo o país ou o aprendizagem ao longo da vida, a sequen- melhores práticas educativas.
ciclo de seminários que, anualmente, é le- cialidade das aprendizagens e a articulação Aproveito a oportunidade para desejar a to-
vado a cabo em praticamente todas as re- curricular, é indispensável que se encontrem dos os associados da APEI e aos leitores dos
giões de Portugal, são faces dessa estratégia estratégias educativas e, num plano mais sis- CEI, um magnífico 2019!
de promoção da educação de infância e da témico, políticas educativas que favoreçam a
identidade profissional dos educadores de articulação entre a Educação Pré-Escolar e a
infância, pelo que tem sido interessante (e Educação Escolar, mas garantindo que to-
gratificante) verificar o crescente reconheci- dos os atores das diferentes organizações

1 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


Pensamos na infância não como uma idade
mas como um olhar, uma maneira de ver as
coisas, de pensar o mundo.
A infância é surpreender-se com os pirilam-
pos, com o jacarandá, com o botão que abre.
A infância é pentear cometas, mimar micro-
-segundos, amestrar preguiças.
É infância irritar-se com as coisas, mudar fre-
quentemente de sítio, inventar ideias.
Não nos interessam as respostas, as certezas
imutáveis.
Estamos fascinados pelas interrogações. Ca-
minhadores de perguntas.
António Catalano, artista plástico

Foto tirada no Jardim de Infância do Vimeiro, em 2011,


no âmbito do projeto InPossiblidades na Paisagem.

2 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


: ARTIGO
Gerir o currículo na educação pré-escolar na perspetiva das
OCEPE 2016: testemunho de uma experiência formativa
Isabel Correia e Manuela Matos . Escola Superior de Educação de Setúbal

O presente texto refere-se ao relato de uma as famílias, colegas e docentes do 1.º ciclo2. sistematização do processo vivido. Termina-
caminhada vivida por duas formadoras no A experiência que aqui testemunhamos en- mos com uma síntese dos principais aspetos
âmbito da formação contínua de educadoras volveu cerca de 120 educadoras de infância a enunciados como fundamentais pela maioria
de infância1, através da dinamização de seis desempenhar funções na rede pública, priva- das educadoras quanto à realização destas
oficinas de formação “Gerir o currículo na da e social. Consistiu num processo intenso, oficinas de formação e a sua implicação na
educação pré-escolar: planeamento e avalia- participativo e repleto de aprendizagens para qualidade da prática pedagógica.
ção na perspetiva das OCEPE 2016”, promo- todas as participantes, formandas e forma-
vidas pelo Centro de Formação da Associa- doras, pelo que se pretende dar a conhecer Início do caminho
ção de Profissionais de Educação de Infância o contínuo movimento de reflexão experien- A equipa autora das OCEPE 2016 delineou o
(APEI), Centro de Formação de Associação de ciado, na procura de ferramentas e principal- programa da oficina de formação para acre-
Escolas de Almada (AlmadaForma) e Centro mente perspetivas renovadas para pensar e ditação pelo CCPFC, constituiu a bolsa de
de Formação de Associação de Escolas do fazer a pedagogia em contextos de educação formadores para a sua dinamização a nível
Seixal (Academia do Professor). pré-escolar. nacional e definiu um guião, de forma a criar
Desta forma, iniciamos o presente texto com um fio condutor para todos os formadores.
Estas oficinas de formação foram pensadas algumas questões relativas à organização e O guião é um roteiro importante, pois es-
como estratégia de divulgação e apropria- metodologia mobilizada nas oficinas, seguin- tabelece um caminho e intencionalidade(s),
ção do documento Orientações Curricula- do-se uma reflexão sobre alguns constrangi- assegura a metodologia e incluiu os aspetos
res para a Educação Pré-escolar (OCEPE), mentos encontrados e também muitas das fundamentais das OCEPE, distribuindo por
homologadas pelo Ministério da Educação potencialidades vividas. Partilhamos ainda cada sessão os diferentes conteúdos incluí-
em julho de 2016, através do Despacho n.º um texto entregue a um dos grupos como dos no documento. Apesar de esta planifica-
9180, de 19 de julho, depois de as mesmas ção estar formalmente muito bem pensada
terem sido objeto de discussão pública e 2 In: An2-B – Formulário com o respetivo programa da e operacionalizada, a sua utilização em cada
análise por parte de diversos profissionais oficina de formação, acreditada pelo Conselho Cientí- grupo de formandos obrigou a uma gestão
fico-Pedagógico da Formação Contínua de Professores
de educação, associações e instituições. (CCPFC). contextualizada, negociada com bom senso
Para além da divulgação, as oficinas apre-
sentam-se ainda como espaços formativos
para a apropriação das OCEPE por parte de
educadoras de infância, articulando-as com
as práticas pedagógicas e os contextos de
trabalho onde as mesmas têm lugar.
Com a dinamização das oficinas de forma-
ção pretende-se, assim, apoiar os/as educa-
dores/as a implementarem a proposta das
OCEPE, apropriando-se de processos de
gestão curricular em que a utilização de ins-
trumentos de observação e registo lhes per-
mitam planear e avaliar de forma dinâmica
e interativa o contexto e as aprendizagens
das crianças, sendo ainda capazes de utilizar
a informação recolhida para comunicar com

1 Ao longo do texto utilizamos o designativo no femini-


no, uma vez que o trabalho exercido nos contextos de
educação de infância continua a ser, na sua maioria,
realizado por mulheres e também porque nas oficinas
de formação tivemos a participação somente de um
homem.

3 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


: ARTIGO

e a participação de todos, respeitando-se como ponto de partida o conhecimento das elaboradas sínteses (memória de cada sessão)
as características e necessidades de cada formandas sobre o currículo e a partilha de com participação das formandas individual-
grupo, as suas dinâmicas e ritmos de fun- instrumentos de planeamento e avaliação mente, a pares e em pequenos grupos e lidas
cionamento. Assim, em cada grupo, o guião que utilizam para situar e questionar teori- no início da sessão presencial seguinte. Esta
e os seus conteúdos foram diferentemente camente esses conhecimentos e práticas. estratégia revelou-se uma mais-valia na or-
explorados, exigindo a observação e a escuta Assim, a organização das sessões presenciais ganização do trabalho final de avaliação, um
das formandas, de forma a poder-se fazer contemplou a discussão em pequenos gru- portfólio, com a mobilização dos trabalhos
opções consistentes e exequíveis face ao pos (na sua constituição esteve subjacente realizados ao longo da oficina de formação e
tempo disponível (o que deixar cair? O que a preocupação no equilíbrio de saberes, prá- complementado com reflexões críticas sobre
reforçar?). Consubstanciou-se num processo ticas, participação, envolvimento e contex- a intervenção educativa, articulando-a com
análogo ao trabalho com as crianças – partir tos de intervenção), cujas conclusões foram as diferentes dimensões contidas nas OCEPE.
do que as formandas pensam, sabem, fazem debatidas em grande grupo, sendo, poste-
e querem fazer/mudar. Esta diferenciação riormente, enquadrados e aprofundados por Consideramos que o modelo da formação
não inviabilizou o cumprimento dos objeti- nós, enquanto formadoras, com propostas na modalidade de oficina, com produção se-
vos e a intencionalidade da formação, apenas de outros meios e instrumentos de avalia- manal de uma reflexão apoiada em leituras
a tornou contextualmente mais significativa, ção, a experimentar pelas formandas e utili- e análises críticas dos diferentes capítulos,
podendo-se afirmar que a maioria dos con- zados para elaborar e regular o planeamento obrigou a um mergulho nas conceções e
teúdos inicialmente previstos no guião foram da ação pedagógica. O trabalho autónomo, práticas, exigindo um constante olhar críti-
abordados e que as OCEPE foram objeto de regularmente presente, incidiu sobre a apre- co e atento sobre o todo e as partes, não
aprofundamento quanto à sua proposta de sentação de exemplos de práticas de parti- dando por certo o que se faz e a experiência
gestão curricular na educação pré-escolar. cipação no planeamento e na avaliação dos acumulada. Neste sentido, consideramos que
diferentes intervenientes na educação das esta modalidade de formação parece ser a
Modos de caminhar crianças e de modos de comunicar a avalia- mais adequada para a análise reflexiva do do-
A organização das oficinas contemplou tra- ção a diversos interlocutores. Foi proposta a cumento das OCEPE, uma vez que permite
balho presencial e trabalho autónomo. Nas leitura e análise de textos das OCEPE e de um processo de envolvimento e articulação
sessões presenciais recorremos a uma meto- outros documentos de fundamentação teó- dos seus referenciais teóricos com a prática,
dologia de articulação teoria-prática, tendo rica. Para facilitar o percurso formativo, foram permitindo ainda a partilha e a cooperação
entre as formadoras e as formandas e entre
formandas, num processo dinâmico de par-
ticipação e apropriação coletiva, provocando
mudanças nas práticas educativas.

Sublinha-se que, de uma sessão para a outra,


houve necessidade de um trabalho regular
entre as formadoras para aferir procedimen-
tos, conteúdos e dinâmicas, de forma a cons-
truir um caminho articulado e consciente (e
consistente!), implementando o isomorfismo
pedagógico (Niza, 2009) como estratégia me-
todológica.

Do caminho feito
Constrangimentos e potencialidades: al-
guns aspetos a considerar
Ainda que cada oficina apresentasse parti-
cularidades e dinâmicas próprias, pautadas

4 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


pela experiência e percurso profissional das
formandas, é possível estabelecer um con-
junto de questões, sem caráter exaustivo,
que emergem como transversais a todos os
grupos, com maior ou menor incidência em
cada um deles e que configuram aspetos a
merecer atenção, no que se refere à inter-
venção pedagógica das educadoras, podendo
eventualmente contribuir para pensar a sua
formação inicial e contínua. Destacamos:

- Fundamentos e princípios da pedagogia


para a infância. As OCEPE referem quatro
fundamentos e princípios: 1) o desenvolvi-
mento e a aprendizagem como vertentes
indissociáveis no processo de evolução da
criança; 2) o reconhecimento da criança
como sujeito e agente do processo educa-
tivo; 3) a exigência de resposta a todas as
crianças; 4) a construção articulada do sa- como, retirando um pretenso caráter inócuo, - Intencionalidade educativa: observar, pla-
ber. A sua consensualidade é enorme entre de tanto faz, aos modelos utilizados pelas near, avaliar a ação educativa. Tal como já
as educadoras de infância, merecendo da educadoras. Esta situação, que não obrigou referido anteriormente, também neste aspeto
parte das formandas uma aceitação plena necessariamente à nomeação de modelos a diversidade foi uma constante, verificando-
e uma concordância imediata. A sua dis- curriculares específicos, implicou um debate se, contudo, uma evolução nos modos de
cussão e a sua aplicabilidade (que exemplos sério e o mais fundamentado possível sobre planificação, que integram cada vez mais
da prática podem elucidar cada princípio?) uma pedagogia da participação e as aborda- as crianças como pessoas ativas nos seus
já revelaram maior dificuldade, não sen- gens socioconstrutivistas da aprendizagem, contextos, de braço dado com posturas ainda
do imediata esta transferência, o mesmo o entendimento da criança como agente transmissivas e centradas nas educadoras. A
acontecendo quando refletidos à luz dos e sujeito no currículo, a sua implicação na escola que todos frequentámos, a ausência
modelos curriculares utilizados. A articu- planificação, realização e avaliação do tra- de hábitos de pensamento critico e as
lação entre os princípios das OCEPE e as balho, a intencionalidade da educadora e a representações das crianças como os “ain-
metodologias adotadas por cada formanda sua conduta como animadora de processos da não” (Tomás, 2011) retiram espaço à sua
obrigou a desconstruir alguns slogans bem de aprendizagem e desenvolvimento. Reti- participação, nomeadamente pela não ado-
como a perspetiva, largamente debatida, rada que foi a carga e o medo (pensamos) ção de uma conduta de projeto, salientada
sobre a autonomia de cada um para fazer da nomeação dos modelos, pudemos refletir como uma estratégia fundamental para as
como escolhe e deseja, circunstância que, sobre eles, ganhando uma maior consciência aprendizagens. Contudo, encontrámos nos
por essa natureza, parece dispensar a re- da sua importância para a construção de um grupos de formandas práticas muito interes-
flexão e discussão conjunta. Sabendo que, currículo significativo, amigo das crianças e santes neste domínio, que foram debatidas
por estudos já realizados, as educadoras de desafiador dos seus interesses, necessida- e tidas como desafios para outras colegas. A
infância utilizam numa percentagem signi- des e direitos, no contexto das suas vidas partilha desta dimensão foi extensa e muito
ficativa modelos ecléticos, híbridos, a que e circunstâncias. A questão dos direitos das significativa, verificando-se trocas de expe-
Evans (1971) chama um pot-pourri (cit. por crianças, a importância do brincar, a neces- riências, instrumentos, registos. A observação
Vasconcelos, 1990), foi necessário, nesta sidade de práticas diferenciadas; o respeito e a avaliação foram as dimensões referidas
dimensão, problematizar as implicações das pela sua história e condição social foram como mais frágeis na intervenção educativa,
práticas desenvolvidas, resgatando-se a questões ganhas como muito importantes verificando-se uma grande adesão e prazer,
necessidade de refletir sobre o que se faz e para a construção do currículo. por parte das formandas, ao trabalho autó-

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: ARTIGO

nomo proposto nesta dimensão e à partilha


do mesmo em sessão presencial de formação
(fazer observações, realizar uma entrevista a
uma ou mais crianças). Refira-se que, de uma
forma geral, as formandas estão sensíveis a
esta questão e à sua importância para a pla-
nificação, sendo que nesta última as práticas
existentes configuram, com alguma frequên-
cia, a elaboração de documentos realizados
por exigências externas (departamento, di-
retores, coordenadoras), parecendo servir
pouco o objetivo a que se propõe no que
respeita à aprendizagem das crianças e à sua
participação efetiva no currículo. Discutiu-se,
a este propósito, a importância e necessidade
de debater e partilhar com as equipas e os
responsáveis pelas instituições as OCEPE e
a pedagogia para a infância, situando-a do
ponto de vista de abordagens contextuali-
zadas e significativas, contrariando a impor-
tação de modelos formais de outros graus lhas. Os diferentes contextos e as diferen- onde todos cuidam e são cuidados. Neste
de ensino, nomeadamente no que respeita tes culturas institucionais das formandas sentido, foi possível pensar sobre a autono-
à avaliação das aprendizagens, aos seus re- (rede pública, privada e social) deram lugar mia profissional e a necessidade de defesa
gistos e documentação, à sua normatividade a confrontos e discussões, nomeadamente ativa e crítica da voz das educadoras como
e formalidade. Nesta dimensão, as práticas no que se refere à necessidade de respeitar construtoras do currículo, resistindo com
das educadoras parecem estar a evoluir sig- a vida das crianças e não fazer pender so- bom senso, mas também com rigor, sentido
nificativamente, verificando-se uma maior bre a organização diária o peso das rotinas profissional e fundamentação da sua ação,
sensibilidade e consciência para questionar e institucionais, quantas vezes condicionado- ao condicionamento das estruturas de gestão
resolver a relação entre a especificidade pró- ras no que respeita ao ritmo das crianças institucional.
pria da educação de infância e a sua abertura, e à sua aceleração e pressa. Discutiram-se
articulação e afirmação junto de outros (co- atividades curriculares da responsabilidade O que levamos do caminho feito
legas de outros níveis de ensino, famílias, co- de outros professores, utilização do espaço Desta dinâmica vivida como formadoras des-
munidade educativa), partilhando o seu rigor, exterior (e os direitos naturais das crianças), tacamos a sua riqueza enquanto processo
instrumentos de trabalho, modelos e formas o tempo para ter tempo, o direito a brincar, de problematização e cooperação da cons-
de intervir, sem fechamento, medo, com as- a pedagogia do caracol (Gianfranco Zavalloni, trução do currículo em educação pré-escolar.
sertividade e espírito de cooperação. Ainda 2013)3. Discutiu-se se o currículo e as ins- Sabendo que os processos de formação não
assim, persistem algumas dificuldades em tituições servem as crianças, ou as crianças conduzem, necessariamente, a conclusões
diversos contextos, que impõem uma única servem as instituições e o currículo. Foi ainda definitivas nem respostas certas, porque em
forma de fazer a pedagogia, nomeadamente possível discutir a importância do ofício de educação elas não existem, salientamos a im-
ao nível de produtos, avaliações, medição das educador como trabalhador intelectual (Niza, portância das horas de reflexão sobre o quo-
aprendizagens e competências adquiridas. 2001) que, para além de pensar e produzir o tidiano da intervenção e as OCEPE, enquanto
currículo, pode e deve intervir na instituição, documento orientador da prática educativa.
- Organização do ambiente educativo. As defendendo o ponto de vista dos direitos Confirmamos que levamos, formadoras e
rotinas e organização do espaço foram talvez das crianças e dos profissionais a uma esco- formandas, no final deste caminho, algumas
o domínio mais fácil de explorar e debater, la amiga e hospitaleira (Vasconcelos, 2009), certezas e também algumas inquietações
ainda que objeto de muitas trocas e parti- que, estamos conscientes, poderão funcionar
3 In: www.pedagogiadellalumaca.org.

6 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


Em discurso quase direto, recordar (partes) do vivido1
1. Texto escrito pelas formadoras e partilhado com um dos grupos de formandas na dinâmica formativa da oficina.

Escutamos as educadoras participantes e estas dizem, falando entre si e quando lhe perguntaram o que era participar, estar por dentro, entrar…
para além de si, nos diferentes contextos onde exercem a sua profissão, É isso. É entrar em todas as fases, desde a planificação à realização e à
que a formação foi muito trabalhosa e exigente: avaliação.
Foi sim, foi… Muitos trabalhos e TPCs… E textos, tantos textos! Neste último domínio, refletimos sobre a importância de ouvir as crianças,
Mas dizem também: Que levam das horas vividas em conjunto muitos em modo de observação e entrevista para termos acesso ao que pensam,
conhecimentos, muitas ideias para colocar em prática, outras formas de sentem, dizem e fazem. Observar e ouvi-las implica desacelerar o nosso
pensar e fazer a pedagogia, que só pode estar ao serviço das crianças, passo, andarmos como o caracol, deixar o corre-corre, dar tempo às crian-
das equipas e das famílias. ças e a nós mesmas para sentir as crianças e o tempo da infância. Valorizar
Dizem ainda que: Têm muito em que pensar: pensar no portfólio, organi- o brincar como lugar de aprendizagem, preparando para isso o espaço,
zá-lo, dar-lhe uma forma e um sentido, aquele que o saber, a sensibilidade as rotinas, o ambiente educativo. Que deve ser impregnado de sentido,
e a escrita assim o conseguirem. E o tempo, a lucidez e a energia, aspetos escuta ativa, sensibilidade e bom senso.
também a considerar, principalmente nas oficinas que decorreram na pon- Neste desacelerar o passo, perguntámo-nos quem nos obriga a correr
ta final de ano letivo, quente e desafiadora como nunca. tanto, fazendo dos dias um somatório de muitas atividades, concedendo
Dizem isto e muito mais! E nós vemo-las a investir que nem gente grande, pouco tempo e espaço ao brincar. Discutimos as planificações, os seus
educadoras empenhadas em dar o seu melhor, cognitiva e emocional- modelos e regularidade, e vimos várias instâncias e diferentes lógicas
mente, para que o saldo seja francamente positivo e, ao olharem para (departamento, equipa da sala, anual – plano anual de atividades (PAA)
trás e sobretudo para a frente, se sintam contentes e orgulhosas por se – mensal, semanal e diária). Tomámos mais consciência da sua maior ou
manterem ainda apaixonadas pela escolha que fizeram, um dia, de serem menor importância para a intervenção pedagógica, sendo consensual que
educadoras de infância. Apesar dos dias cansados, de quase desistência, devemos ir avaliando a carga curricular no jardim de infância, não mobili-
pelo não reconhecimento, as dificuldades, as poucas condições, as exigên- zando procedimentos de outros níveis de ensino, para sermos iguais. Esta
cias e tudo o mais que acontece quando intervimos em contextos reais, pressão normativa deve ser vigiada com sentido crítico, porque fazer mui-
com pessoas, espaços, conceções, direitos e deveres. E ficamos contentes to e fazer igual aos outros não é condição de fazer bem e com qualidade.
por termos colegas assim, que aceitaram o desafio e responderam à cha- As percentagens de adquiridos ou não adquiridos nas diferentes áreas
mada para mergulharem nas OCEPE e nas suas práticas, expondo-as, sem de conteúdo não são procedimentos a utilizar em educação de infância.
medo e com a convicção de que a mudança é possível, sobretudo quando Neste âmbito, olhámos para os nossos diagnósticos e vimos como, em maior
refletida em conjunto e no seio de uma comunidade de pares. ou menor grau, nos deixámos contaminar por lógicas escolares, substituindo
Antes de finalizarmos a oficina de formação, espreitamos as sessões dina- processos de observação e registo, por aplicação de fichas estereotipadas e
mizadas para ver se o programa foi cumprido. E, tal como com as crianças, centradas nas aprendizagens formais da escola. Concordámos todos, que, em
tivemos que ouvir, alterar, integrar, reduzir, readaptar. Que a formação e educação de infância, a observação se deve realizar em contextos naturais, a
o currículo são caminhos participativos, onde todos devem dar o seu con- partir da ação da criança em interação com os pares, os materiais, as rotinas,
tributo para a condução e desenvolvimento do processo. Simples? Não, a as atividades, os projetos planeados e vividos no ambiente educativo.
negociação e audição de todos implica maior diversidade, menor controlo, Concordámos também que os diagnósticos e a avaliação devem alicerçar-se
partilha de poder, democracia e aceitação das diferenças, abrindo horizon- no que as crianças já sabem, no seu currículo natural, na sua história pessoal,
tes menos conhecidos e, às vezes, menos confortáveis, mas muito mais familiar e comunitária, propondo tarefas e propostas suficientemente abertas
promissores e ricos. Assim tentámos fazer aqui na formação, assim discu- para dar oportunidade à expressão da singularidade da criança nas suas múlti-
timos ser importante na concretização do currículo, implicando de corpo plas vertentes e nas suas cem linguagens. E quando experimentámos observar
inteiro as crianças, as equipas e as famílias. Simples? Não, mais simples é e entrevistar as crianças nos nossos contextos, rimos e espantámo-nos com os
a centralidade de tudo em nós, com um caminho único, em que o saber seus dizeres e fazeres, situações que nem sempre valorizamos, por andarmos
parte do adulto e as propostas também. Mas sabemos como isso é de sempre numa lufa-lufa. Acordámos que para observar e avaliar a participação
curto alcance e pouco potenciador do aprender a aprender, fornecendo e o envolvimento da criança e descrever as suas aprendizagens, temos de dar
às crianças oportunidades e estratégias para serem ativas, críticas, social- intencionalidade a este processo, escolhendo, por exemplo, dias para o fazer
mente competentes, resilientes, capazes de autoorganização e empenho e instrumentos de registo que se adaptem ao nosso contexto e a nós. Temos
nas tarefas e projetos que se propõem realizar, em conjunto com os pares de mobilizar o trabalho de equipa e partilhar as intenções e modos de fazer
e os adultos da sala. Por isso, sabendo ao que vamos em cada dia que para que todos os adultos da sala possam construir uma escuta sensível e um
entramos na sala, não determinamos a planificação como coisa fechada e olhar profundo sobre as crianças, com registos e evidências. Temos de mo-
arrumada, que apenas necessita de ser consumida e realizada eficazmente. bilizar as crianças neste processo, porque elas sabem o que sabem, mobilizar
Esta ideia da necessidade de participação na elaboração e desenvolvimen- as famílias, porque nos dão informações sobre os seus filhos e são quem os
to do currículo cremos que foi uma linha estruturante das nossas sessões, conhece melhor. A avaliação é também um processo partilhado.
reafirmada, convictamente, nas OCEPE, em quase todos os capítulos. E E por ser assim, muitos de nós partilhámos instrumentos e registos utilizados
a participação não se resume a propostas de atividades pelas crianças, é em contexto, dando visibilidade a práticas de envolvimento e participação com
mais amplo e mais profundo. Implica, como disse uma vez uma menina as crianças que, na maior parte das nossas salas, são atores dos currículos de-

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: ARTIGO

senvolvidos. Vimos planos diários, agendas, projetos, mapas… Confrontámos


rotinas e organização dos espaços, discutimos metodologias e modelos cur-
riculares. A diversidade foi evidente, mas foi reforçada também uma espécie
de identidade profissional que deseja e reconhece a inclusão das crianças em
processos de cooperação e parceria com os seus pares e os adultos.
Discutimos também o cuidar, o colo, o afeto como condições de aprendi-
zagem que não diminuem a competência científica das educadoras, antes a
especificam e a expandem em dimensões menos consideradas nos contextos
educativos e, apesar disso, absolutamente necessárias para o sucesso pessoal
e educativo de cada criança. Esta afetividade que nos diferencia não invalida
uma sólida formação e fundamentação teórico-prática, tendo sido uma das
razões que motivaram a partilha de outros textos e outras abordagens para
além das OCEPE. É imprescindível que nos atualizemos permanentemente e
que saibamos fundamentar o que fazemos e como fazemos, de forma asser-
tiva, confiante e sempre humilde, porque o saber está sempre em evolução e
o que aprendemos há muitos anos já não se adequa ao desenvolvimento atual
das diferentes ciências e da sociedade. Importa que aquilo que nos diferencia
não seja desculpa para não investirmos em processos de intervenção de quali-
dade, sabendo dizer o que fazemos, como e porquê. Talvez esta estratégia nos
poupe muitas horas de desconforto e discussão, quando em confronto com
colegas de outros níveis de ensino, diretores, equipas pedagógicas, famílias.
Pela nossa parte, sentimos que esta formação foi um espaço de crescimento
para nós, enquanto formadoras. Obrigou-nos a rever conceções, mobilizando,
sempre que possível, as nossas práticas e experiência, confrontando-as com
referentes teóricos, à luz das novas OCEPE. Por esta oportunidade, o nosso
obrigado a todas.
Se tivéssemos todas ficado em casa, sentadinhas no nosso sofá, estaríamos
menos cansadas, mas, obviamente, menos ricas e menos conscientes da nossa
importância e da nossa função na vida das crianças e famílias que, diariamen-
te, acolhemos nos nossos contextos educativos.

8 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


como molas impulsionadoras para enfrentar PE para intervir com mais qualidade junto mobilização da auxiliar de ação educativa
os desafios de forma mais confiante. Deitar das crianças, das equipas pedagógicas e para uma intervenção mais colaborativa na
fora o que não lhes pertence, recolher e (re) das famílias; construção quotidiana do currículo);
compor conceções e estratégias que as iden- - A importância da partilha e discussão entre A autoestima mais elevada e maior segu-
tificam como profissionais, construtoras de iguais (pares) para uma intervenção mais rança para enfrentar as ambiguidades dos
um currículo significativo para as crianças, as competente – espaço pouco presente nos contextos e do poder;
equipas e as famílias que com elas vão fazer contextos de trabalho; - A necessidade e o propósito de mudança
caminho. Educadoras capazes de se afirmar - A auto e heterorreflexão sobre a prática das práticas pedagógicas;
numa escola aprendente, em cooperação pedagógica: o que fazemos e porque fa- - A reformulação de instrumentos peda-
com outros profissionais, preconizando a zemos? gógicos (fichas de diagnóstico; registos
educação pré-escolar como a etapa inicial de - A educadora como construtora do currí- de observação das crianças; planeamento
um percurso de aprendizagem e desenvolvi- culo – planear e decidir: porque andamos diário e semanal…);
mento ao longo da vida. sempre a correr? Quem nos obriga a fazer - A problemática da divulgação das OCEPE a
tantas atividades? A pedagogia do caracol outros colegas (1.º ciclo do ensino básico),
Em jeito de conclusão, terminamos com um e a importância de desacelerar; técnicos, direção;
punhado de perspetivas das educadoras - A sensibilidade para escutar a criança co- - A necessidade de dar continuidade às ofi-
participantes nas seis oficinas que, consen- mo protagonista: os direitos da criança, a cinas de formação e a realização de encon-
sualmente, as sublinharam como conquistas inclusão, a importância do brincar; para tros informais para partilha de informação,
e aprendizagens que levam na bagagem, “fazer menos” (atividades), porque quan- experiências, saberes.
comprometendo-se a (re)lembrá-las para si tidade não é qualidade;
e divulgá-las a outros, para um maior reco- - O confronto com a importância da ob-
nhecimento da profissão e da educação pré- servação sistemática e a diversidade de
-escolar como um direito de todas as crianças instrumentos de recolha de informação (a
e suas famílias. Assim: utilização de entrevistas às crianças); REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- O conhecimento e a apropriação das OCE- - A importância do trabalho em equipa (a Niza, S. (2009), Contextos Cooperativos e Aprendi-
zagem Profissional. A Formação no Movimento da
Escola Moderna. In: J. Formosinho (coord), Formação
de Professores – Aprendizagem profissional e ação
docente (pp. 345-362). Porto: Porto Editora.
Niza, S. (2001) A escrita como alicerce e andaime da
profissão docente. Editorial da Revista da Escola Mo-
derna, n.º 12., 5ª série. Lisboa. MEM.
Silva, I. L. (cood.), Marques, L. Mata, L., & Rosa, M.
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Tomás, C. (2011), Há muitos mundos no mundo cos-
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Vasconcelos, T. (1990) Modelos Pedagógicos em Edu-
cação Pré-Escolar: que pensam os educadores? In
Revista Aprender n.º 11, pp 38-44. Portalegre. Escola
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Vasconcelos, T. (2009), A Educação de Infância no
Cruzamento de Fronteiras. Coleção Educação Hoje.
Lisboa: Texto Editores, Lda.

9 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


: ARTIGO

Olhar para mudar


Teresa Varela Dias . Educadora de infância

Uma formação sobre as OCEPE 2016! É mes- faz dançar os meus cabelos, libertando-me e assim aconteça, é fundamental que cada
mo do que estou a precisar. Vamos lá renovar impelindo-me a “não ter medo de experimen- criança tenha vontade para aprender através
algumas ideias, tentar peneirar o essencial do tar”, também a criança evolui ao longo dos de atividades que enfatizem o prazer, a liber-
supérfluo e pensar sobre o que me aflige e me anos num processo ascendente e estimulante dade de ação, a curiosidade, a imaginação e
causa desconforto! que se pretende estável, resiliente e capaz de a exploração.
construir o desenvolvimento e aprendizagem Os princípios orientadores das Orientações
Nota introdutória num caminho iluminado pela felicidade, pelo Curriculares para a Educação de Infância
Esta reflexão é o resultado da oficina de for- bem-estar e pelo empenhamento. Este olhar (OCEPE) (Lopes da Silva, Marques, Mata &
mação “Gerir o currículo na educação pré-es- apenas faz sentido num jardim de infância Rosa, 2016) fazem corresponder a qualidade
colar: planeamento e avaliação na perspetiva com vida! do processo de desenvolvimento e das apren-
das OCEPE 2016”, que tive oportunidade de dizagens com a qualidade da relação educa-
realizar no Centro de Formação da Associação Intencionalidade educativa: dor/criança, num envolvimento onde estão
de Escolas Do Litoral à Serra, em Loulé, entre refletir sobre finalidades e sentidos implícitos o cuidar e o educar.
os meses de janeiro e abril de 2018, num total “Todo o sistema educativo tem a aprender A leitura destes princípios reforçou o meu
de 25 horas presenciais e 25 horas de trabalho com a educação pré-escolar” (Costa, 2016, p. olhar para as etapas do desenvolvimento
autónomo. 4). Estas palavras carregam de importância, como referências para situar cada percurso
Tendo como ponto de partida o que foi acon- evidenciam e reforçam o meu papel como individual e não como etapas pré-determina-
tecendo na formação, a partilha de ideias e de cuidadora de árvores que crescem com as das. É fundamental alicerçar a prática num
estratégias, o diálogo, o confronto sobre os suas raízes bem inseridas na terra, de modo ambiente educativo rico e estimulante onde
diferentes saberes e experiências entre todas a resistirem a toda e qualquer tempestade. a intencionalidade educativa esteja sempre
as intervenientes – formadora e formandas Para que tal aconteça, as crianças só poderão presente de modo a que aconteçam expe-
– vou tentar apresentar os degraus que fui estar felizes. A água que utilizo para as “regar” riências e oportunidades de aprendizagem
construindo na escada da qualidade da minha são as oportunidades que permitem alargar com sentido.
prática educativa e pedagógica, traduzidos e enriquecer o desenvolvimento e aprendi- Nesta linha de pensamento e de atuação,
numa breve reflexão e análise. zagem num clima relacional de base sólida e reconhecer a criança como protagonista do
Utilizando as ideias de Horta e Ludovico vitaminado com intencionalidade. Para que seu desenvolvimento, com capacidade para
(2005), os degraus mais não são do que “um
mapa do percurso”, ou seja, o espelho do ca-
minho percorrido e a consciencialização das
aprendizagens. A construção de cada degrau
deu lugar a novas ideias e a parar para per-
ceber com maior clareza o que penso e faço
ou não faço em relação à qualidade da minha
prática educativa.
É minha convicção que a educação de infân-
cia, sendo considerada “a primeira etapa de
educação básica no processo de educação ao
longo da vida” (Lei n.º 5/97, de 10 de feverei-
ro), contém vida, ou seja, contém a força da
criação e da ligação ao mundo físico e espi-
ritual. Assim como levanto os braços ao céu
para agradecer o percurso e o processo de
desenvolvimento pessoal, social e cultural, as-
sim como os meus pés sentem a terra quente,
húmida, macia e rugosa de que necessito para
o meu crescimento e estabilidade e o vento

10 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


construir as suas aprendizagens num pro- ambientes facilitadores do desenvolvi- crianças-alvo, na qual se utilizam filtros e in-
cesso de interações com pessoas e objetos mento e da aprendizagem. terpretações que impedem uma observação
interligados em todas as dimensões (cogniti- aberta. Escolher aleatoriamente uma criança,
vas, sociais, culturais, físicas e emocionais), é A leitura do segundo capítulo “Intencionalida- assegurar-me de que a equipa da sala sabe o
um argumento fundamental. de educativa – construir e gerir o currículo” que vou fazer, distanciar-me de modo a não
Tento que o meu olhar sobre a aprendiza- (Lopes da Silva et al., 2016, p. 13) salientou: provocar constrangimentos na criança, esco-
gem seja holístico e assento a minha ação a importância e a necessidade do conhecimen- lher o momento e a duração da observação,
na atividade espontânea, rica e estimulante to de cada criança e do seu meio envolvente; é uma estratégia que poderei utilizar.
da criança: o brincar. É aqui que posso ob- 1. a organização, interpretação e reflexão
servar sem interferir para conhecer melhor, sobre os registos das observações efe- Observar e documentar para situar o pro-
encorajar, colocar desafios e planear de mo- tuadas de modo a permitir planear e cesso de aprendizagem
do a alargar os interesses da criança. Tenho avaliar (o enfoque é na avaliação do pro- Eis que outra pergunta surge: como sistema-
também como ferramenta importante o ele- cesso) em ciclos sucessivos; tizar a observação, a planificação, a avaliação
mento “diversidade”, que enriquece todas as 2. as formas de envolvimento, comunicação desenvolvendo de uma forma globalizante e
vivências e oportunidades de aprendizagem e e articulação de todos os intervenientes integradora todas as áreas de conteúdo na
facilita a inclusão de todas as crianças, sendo neste ciclo (criança, família e outros pro- prática educativa? Mais uma vez o conheci-
a interação e a cooperação entre as crianças fissionais) de modo a ser possível cons- mento transmitido pela formadora, as ques-
um fator potencializador das aprendizagens. truir e gerir o currículo dando intenciona- tões levantadas e os desafios propostos
lidade e sentido à prática educativa. foram determinantes para sentir que afinal
Fundamentos e princípios da pedagogia Estes aspetos serão “condição para que a é possível planificar e avaliar sem nos afogar-
para a infância educação pré-escolar proporcione um am- mos em papéis. Sentir que afinal não estou
A reflexão partilhada e a informação transmi- biente estimulante e promova aprendizagens sozinha nas dificuldades que sinto ajuda-me
tida pela formadora sobre os quatro funda- significativas e diversificadas, que contribuam a acreditar que é possível ir mais longe.
mentos e princípios educativos referidos nas para uma maior igualdade de oportunidades” Este processo de avaliação só fará sentido se
OCEPE foram de uma riqueza sem medida. (Lopes da Silva et al., 2016, p. 13). a observação, o registo e a reflexão existirem
Não resta qualquer dúvida de que estas são Será que o registo e a organização da infor- e estiverem documentados. Também a siste-
não apenas um documento de referência para mação que daqui decorrem estão próximas da matização de todo este processo é condição
a construção do currículo, mas também um sistematização? Será que o tempo chega para importantíssima para que a documentação
documento estruturante da ação educativa no ter atualizada toda a informação de cada crian- pedagógica reunida possa apoiar de forma
qual estão representados todos os argumen- ça? Como chegar a todas as crianças? Como fidedigna a planificação e a avaliação. Este é
tos que enfatizam a importância da educação realizar a gestão curricular? A resposta poderá um processo participado, permanente, parti-
de infância. estar na gestão de um ambiente educativo lhado e reflexivo na medida em que a criança,
No âmbito da formação, reafirmou-se a quali- que disponha de materiais estimulantes e di- a família e o/a educador/a de infância são
dade das práticas educativas nas quais acon- versificados de modo a que o/a educador/a agentes do processo educativo.
tecem: de infância consiga estar atento/a a cada A Helena Horta lançou-nos mais um desafio:
• oportunidades de experiências de apren- criança (individualmente ou em pequenos “Como são compiladas e analisadas as dife-
dizagem que possibilitam à criança ser ela grupos, por exemplo) de modo a perceber rentes informações que ao longo do ano vai
própria agente ativa no seu processo de do que cada uma necessita naquele preciso recolhendo para a avaliação?”
aprendizagem, envolvida nas descobertas momento. O treino do olhar permite melhorar As informações vão sendo compiladas nos
e investigações; a qualidade da resposta educativa. A obser- dossiês individuais, no caderno de anotações,
• aprendizagens ativas que implicam os vação deverá ser sempre intencional, siste- em diferentes registos de informação, em fo-
ambientes nos quais a criança está in- mática, registada, avaliada e refletida, pois tografias, nas atas das reuniões com pais/
serida; só assim será exequível obter informação útil famílias, nos encontros informais com pais/
• espaços físicos que convidam a criança a para criar ambientes educativos estimulantes. famílias e em registos informais.
manipular e a explorar com confiança e É esta a ideia de uma observação/investiga- Os diferentes registos de observação (en-
segurança, transformando-se assim em ção que minimiza o erro de poder observar trevistas, registos gráficos individuais livres

11 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


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e espontâneos, listas de verificação, registo e sistemática influi positivamente na qualida- cativas, planeia a sua intervenção, elaborando
de incidentes críticos, mapas de organização de educativa. O ciclo planear/agir/avaliar está o projeto curricular de grupo em articulação
de tarefas) constituem a documentação pe- sempre a acontecer. As atividades surgem de com o projeto educativo do estabelecimen-
dagógica na qual se apoiam e fundamentam ideias espontâneas dando origem a projetos to educativo/agrupamento de escolas” (Lo-
a reflexão e a avaliação. A utilização destes que, por sua vez, são planeados/realizados/ pes da Silva et al., 2016, p. 17). Assim sendo,
diferentes modos de recolha de informação avaliados. Não há práticas mais ou menos é no projeto curricular de grupo que o/a
permite ter uma visão de vários ângulos e corretas, mas a participação ativa de todos os educador/a de infância prevê e assegura os
situá-la no processo de aprendizagem. São elementos da comunidade educativa é funda- quatro fundamentos e princípios da pedago-
igualmente instrumentos facilitadores e fun- mental para o sucesso educativo. É sempre gia para a infância, a forma como planifica,
damentais para o planeamento e reflexão possível reorganizar/adaptar as estratégias age e avalia, como pretende fazer acontecer
sobre a ação. de forma a ampliar o desenvolvimento e as o envolvimento dos pais/família, a adoção de
Avaliando os progressos de modo sistemáti- aprendizagens, potenciando as interações práticas diferenciadas e a abordagem globali-
co e de leitura “limpa”, é mais fácil situar as no grupo e a implicação das crianças na sua zante e integrada das diferentes áreas, enfa-
aprendizagens ao longo do tempo e assim aprendizagem tornando-as conscientes dos tizando o brincar como meio privilegiado para
adequar a planificação. seus progressos. o desenvolvimento.
Estas fontes de documentação permitem O tempo de execução deste ciclo continua a No entanto, reconheço que nem sempre é
contextualizar a avaliação, dar-lhe significado provocar-me alguma ansiedade, mas sei que, fácil:
e realizá-la ao longo do tempo. com algumas pequenas mudanças, o tempo • ter em linha de conta as características
será um aliado e jogará a favor de todos. de cada criança e criar as oportunidades
A importância de planear e avaliar o pro- O desenvolvimento deste ciclo decorre da para que realize as suas potencialidades;
cesso educativo informação recolhida no início do ano leti- • envolver a família e a sua cultura na vi-
É aqui que parece que “o tempo volta a fu- vo sobre o contexto social, familiar e sobre da do jardim de infância e facilitar mais
gir”. as experiências vividas. Segundo as OCEPE, encontros formais e informais;
Da análise sobre os ciclos de planeamento, “É a partir deste conjunto de informações, • partir das experiências de cada uma das
ação e avaliação decorreu a consciencializa- ou seja, desta primeira avaliação (…) que o/a crianças, escutar e considerar as suas
ção de que uma avaliação/reflexão periódica educador/a explicita as suas intenções edu- opiniões;
• estimular as suas iniciativas de modo a
permitir que decidam sobre o seu pro-
cesso educativo apoiando o seu desen-
volvimento e aprendizagem (tenho de
ter mais atenção às “crianças cinzentas”
que vão com o grupo, mas que não es-
tão efetivamente no grupo!).

A criança como agente do seu processo


educativo
E eis que somos levadas a dialogar sobre
“Algumas pistas para refletir a avaliação da
aprendizagem das crianças” e “Orientações
para refletir acerca da aprendizagem das
crianças”.
A observação das crianças não necessita
de ser realizada “toda ao mesmo tempo”. A
preciosa ajuda do pessoal não docente e a
divisão do grupo em pequenos grupos (que
previamente tenciono observar) permite que

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no final de um mês tenha observações re- aprendizagens, pois tudo aquilo que acontece do ambiente educativo” (Lopes da Silva et
gistadas de todas as crianças, e a qualidade tem sentido como um todo articulado. A pla- al., 2016, pp. 21-30) permitiu que tomasse
educativa da ação melhorará certamente. nificação tem de ser significativa, ou seja, tem consciência, através de um olhar mais atento,
A observação não é neutra e envolve um de respeitar os interesses das crianças, conce- das características e do manancial de opor-
verdadeiro processo de escuta. Escutar é bendo situações motivantes para o desenrolar tunidades educativas da organização do es-
um processo ativo e participante em situa- de atitudes positivas relativamente à explora- tabelecimento educativo, da organização do
ções de contínua aprendizagem, tornando ção ativa do contexto imediato da criança. ambiente da sala (nas suas três vertentes) e
os educadores de infância aptos a abraçar A participação e o envolvimento da criança são das relações entre todos os intervenientes. É
solicitações e necessidades. alicerces que abrem espaço para que ela aja de através da organização de todos os espaços
Um outro aspeto relevante é que todo o pro- forma autónoma e segura, capacitando-a para (do ambiente educativo) que a criança rein-
cesso de avaliação da criança é importante tomar decisões relativamente ao seu próprio terpreta o mundo à sua volta.
pelo caminho percorrido e isto implica que processo de desenvolvimento e aprendizagem. Todos estes elementos dão o seu contributo
os educadores de infância atribuam intencio- A organização do ambiente educativo tem para que seja possível “compreender melhor
nalidade à sua ação, tenham um propósito, também nesta questão um papel fundamen- cada criança (…) de forma a respeitar as suas
reflitam sobre o que pensam e como pensam tal, para que seja possível enfatizar o campo características pessoais, culturais e saberes
sobre a sua prática, saibam o que fazem, por- observado e facilitar a organização das obser- (…); contribuir para a dinâmica do contexto
que fazem e o que pretendem alcançar, va- vações registadas ao longo do tempo. de educação pré-escolar na sua interação
lorizem o que cada criança já sabe, as suas É lançado o repto “Como está organizado o interna (…) e na interação que estabelece
características e o meio envolvente. espaço exterior?” com outros sistemas (…) e ainda com o meio
É fundamental privilegiar a globalidade das Uma nova leitura do capítulo “Organização social (…); perspetivar o processo educativo

13 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


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de forma integrada” (Lopes da Silva et al., Este espaço é facilitador, por excelência, das sitiva, a oportunidade de crescer e de sentir
2016, p. 22). atividades de livre iniciativa da criança, de di- confiança nas suas capacidades, pois estes
Estas dinâmicas irão ter fortes implicações versas formas de interação social, da explo- relacionamentos levantam desafios que re-
no processo de desenvolvimento e apren- ração de materiais naturais e das atividades querem respostas imbuídas de autoestima e
dizagem de cada criança, pois promovem o de grande movimento físico. Efetivamente, a de confiança.
respeito por cada uma delas, assim como o cada nova observação, foram aparecendo no- Os tempos vividos no exterior são direcio-
seu sentimento de pertença a um grupo; per- vos sentidos e novas oportunidades que per- nados principalmente para atividades da
mitem e facilitam o trabalho cooperado em mitiram ir realizando pequenas adequações e iniciativa das crianças onde, de forma lúdica
que todas contribuem para as aprendizagens despertar para este “contexto de socialização e autónoma, vivem experiências de repre-
de todas as crianças; abrem a compreensão em que a aprendizagem se contextualiza nas sentação criativa, de artes visuais, de dança,
para diferentes pontos de vista e ajudam à vivências relacionadas com o alargamento do de linguagem, de relações interpessoais, de
regulação da vida em grupo através de expe- meio familiar de cada criança e nas experiên- movimento, de música, de classificação, de
riências de vida democrática. cias relacionais proporcionadas” (Lopes da espaço e de tempo.
Silva et al., 2016, p. 24). As crianças organizam-se, na maior parte
As oportunidades educativas no olhar so- Os materiais existentes são suficientes, das vezes, em pequenos grupos (o elemento
bre o espaço exterior apelam à criatividade e à imaginação? Os aglutinador é a amizade) e em pequenos ou
Irei debruçar-me sobre a organização do es- equipamentos são adequados? O que posso grande grupo nos jogos/atividades que pro-
paço que é, por vezes, o parente pobre de introduzir? ponho (jogos de grande amplitude motora,
toda esta dinâmica. Ao refletir sobre a orga- O espaço exterior é comum à valência do 1º jogos tradicionais, por exemplo).
nização do espaço exterior e de como o po- ciclo, o que permite a articulação vertical e o Apesar de algumas condicionantes existen-
deria potencializar, diversificar e enriquecer, intercâmbio livre entre pares, facilitando os tes (o piso, por exemplo), dou carta livre às
o mote que me surgiu foi “olhar para mudar”. ajustamentos de comportamento, a visão po- crianças para que me conduzam na explora-

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ção das potencialidades e oportunidades que de Profissionais de Educação de Infância, ex- questões e fornecer pistas, numa relação en-
aqui existem e envido todos os esforços para plicita de forma clara o reconhecimento dos tre o nível de desenvolvimento real e o nível
que este seja um espaço de prolongamento princípios e a sua implicação do sentido ético de desenvolvimento próximo da criança.
da sala de atividades, trazendo, sempre que na atuação pessoal e profissional. Nela são Ainda nas palavras de Costa (Lopes da Silva
possível, as crianças para este local de mo- abordados os compromissos com as crianças, et al., 2016, p. 4): “Esta atitude de permanen-
do a que o possam explorar livremente, pois com as famílias, com a equipa de trabalho, te disponibilidade para a educação cultiva-se
nunca me esqueço que é aqui que as crianças com a entidade empregadora, com a comuni- desde o início da vida, com uma educação
apanham sol, respiram e enchem os pulmões dade e com a sociedade. Todos estes aspetos rica e geradora de indivíduos equipados com
de ar fresco, aceleram o coração e olham para são igualmente abordados nas OCEPE (Lopes ferramentas para aprender e querer aprender.”
o horizonte. E a sua função é deslumbrar. da Silva et al., 2016).
Centrar a observação num aspeto da organi-
zação do ambiente educativo e relacioná-lo Notas finais
com as oportunidades de aprendizagem foi O mote que me surgiu ao longo da formação
o mote para testar a perspicácia e o treino foi “olhar para mudar”.
do olhar e do ouvido. Mais uma vez, através Este espaço de formação foi um facilitador
de uma simples conversa podemos perceber por excelência do aparecimento de novos
como é importante para o desenvolvimento sentidos e oportunidades, proporcionando
e para a aprendizagem a forma como está novos olhares sobre a qualidade e eficácia
organizado, neste caso, o espaço exterior. das oportunidades de aprendizagem das
Estão duas crianças sentadas no baloiço (que crianças, tendo implícita a ideia de que a
sobe e desce). A criança A é mais velha e de aprendizagem ocorre em função de ações em
maior porte do que a outra (B). Interagem parceria capazes de originar desafios, propor
através do olhar e A dá pequenas orientações
a B para que esta consiga impulsionar o cor-
po de modo a subir (interação verbal). Chega
uma nova criança (C) que se aproxima de B.
“Não consegues subir?”, pergunta C. “O A é
muito pesado!”, responde C (interação verbal
e facial). Então C agarra na parte de trás do
baloiço de B e diz: “Eu ajudo a subir! Mas
tens de fazer força com os pés.”
Observar as interações das crianças é mais
um fator que enriquece o conhecimento e o
desenvolvimento da forma como funciona o
grupo e de cada criança. Ao tentar perceber
e ao dar sentido às interações, a observação
enfatiza o processo e assim são realçados
as potencialidades e os interesses de cada
criança.
Para finalizar, e em modo de reflexão final,
posso afirmar que apenas com o compromis-
so dos diversos intervenientes na educação
será possível promover a construção de uma
prática educativa de qualidade.
Sobre compromissos, a Carta de Princípios
para uma Ética Profissional, da Associação

15 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


: ARTIGO
O tempo passado em diferentes formatos de atividade em contextos pré-escolares
inclusivos:relações com a qualidade das interações e com o envolvimento das crianças1
Vera Coelho. Mestre, doutoranda em Psicologia, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto.
Joana Cadima . Doutorada, investigadora, Centro de Psicologia da Universidade do Porto, FPCE da Universidade do Porto.
Ana Isabel Pinto . Doutorada, professora auxiliar, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto.
1
O papel dos contextos educativos na promo- o desenvolvimento de atividades instigadoras o seu desenvolvimento, particularmente em
ção do desenvolvimento das crianças e na de criatividade e significativas para as crianças. salas inclusivas.
garantia de uma inclusão de qualidade tem Mas para além da influência das interações
sido destacado não só em Portugal mas um diretas dos educadores com as crianças, a O que quisemos estudar?
pouco por todo o mundo (Agência Europeia ação intencional destes profissionais no pla- Considerando o enfoque da literatura no papel
para as Necessidades Especiais e Educação neamento e definição do tempo e formato das da qualidade das interações educador-criança,
Inclusiva – AENEEI, 2017). Considerando atividades contribuiu também para o envolvi- e do formato das atividades para o envolvi-
que, particularmente em idades precoces, os mento e aprendizagem em idades precoces. mento das crianças, quisemos perceber como
contextos de educação pré-escolar podem Alguns estudos têm analisado a forma como é que os contextos pré-escolares inclusivos
desempenhar um papel fundamental no su- as crianças passam o tempo no jardim de portugueses se caracterizavam relativamente
cesso educativo e na inclusão social, é notória infância, focando o papel do adulto na defi- a estes dois aspetos. Colocamos as seguintes
a preocupação de legisladores, educadores, nição de três grandes formatos de atividade: questões:
famílias e académicos com a melhoria da
atividades dirigidas, como formatos de grande • Como é que as crianças passam o seu
qualidade destes contextos. Resultados da
grupo e pequeno grupo; atividades escolhidas tempo nestes contextos, isto é, em que
investigação mostram que a participação em
pelas crianças, como o jogo livre; e atividades formatos de atividade?
contextos educativos de elevada qualidade
tem efeitos positivos, a curto e longo pra- de rotina, como transições e refeições (e.g., • Qual a qualidade do tom emocional e da
zo, no desenvolvimento das crianças com e Early et al., 2010). instrução nas interações educador-crian-
sem incapacidades (AENEEI, 2017). Assim, são Embora as recomendações nacionais e inter- ça em diferentes formatos de atividade?
universalmente reconhecidos: o direito de nacionais (NAEYC, s.d.; Silva, Marques, Mata, • Além disso, baseadas na relevância do
todas as crianças a frequentar um contexto & Rosa, 2016) salientem a importância de as envolvimento das crianças para o de-
de educação de qualidade, os benefícios da crianças experienciarem interações positivas senvolvimento e aprendizagem, fun-
inclusão para todos e a necessidade de ga- e diferentes formatos de atividade ao longo damentada nos modelos teóricos e
rantir os apoios adequados para que todas as do dia, não existe qualquer indicação sobre investigação, não nos interessa apenas
crianças possam desenvolver o seu potencial. a quantidade de tempo mais adequada em analisar em que formatos de atividade as
Somente contextos inclusivos de elevada cada formato (Fuligni, Howes, Huang, Hong, crianças passam o seu tempo no jardim
qualidade poderão assegurar que as crian- & Lara-Cinisomo, 2012). Diferentes formatos de infância, mas também perceber qual
ças – com e sem incapacidades – se envol- de atividade parecem ser importantes para o o seu envolvimento nesses momentos.
vem em interações frequentes, contínuas e desenvolvimento de diferentes competências Assim colocamos a questão:
positivas, interações estas que promovem em idade pré-escolar. Por exemplo, alguns es- • Que níveis de envolvimento apresentam
o desenvolvimento e aprendizagem (Burchi- tudos indicam que as crianças se envolvem em crianças com incapacidades, em risco e
nal, Vandergrift, Pianta, & Mashburn, 2010; interações sociais mais complexas durante o com desenvolvimento típico, em diferen-
Grande & Pinto, 2009; Gamelas, 2003; Odom, jogo livre (Kontos, Burchinal, Howes, Wisseh, tes formatos de atividade?
Buysse, & Soukakou, 2011; Pinto et al., 2014). & Galinsky, 2002) e que crianças com incapa-
A literatura destaca aspetos da qualidade das cidades se envolvem mais quando escolhem as Quem participou no estudo?
interações adulto-crianças que têm mostra- atividades (Reinhartsen, Garfinkle, & Wolery, Participaram 40 salas de educação pré-escolar
do ser revelantes em contextos educativos e 2002; Tsao et al., 2008). Por outro lado, ativi- inclusivas do distrito do Porto, selecionadas de
elevada qualidade, nomeadamente, o clima dades de grande grupo estão mais associadas forma aleatória de entre as instituições lista-
emocional na sala, a sensibilidade e respon- ao desenvolvimento de competências cogni- das no site do Ministério da Educação. De
sividade do educador, a consideração pela tivas (e.g., Camilli, Vargas, Ryan, & Barnett, acordo com a legislação portuguesa, todos os
perspetiva das crianças, a forma como a sala 2010). Estes exemplos focam a importância de estabelecimentos de educação são inclusivos.
está organizada, as estratégias de gestão de diferentes formatos de atividade; no entanto, No entanto, nem todas as salas de educação
comportamento, o feedback dado às crian- salientamos que a distribuição do tempo das pré-escolar tinham a frequentar, na altura do
ças, a promoção e utilização da linguagem e crianças pelos vários formatos de atividade e recrutamento, crianças com incapacidades
1. Os resultados deste artigo são parte do projeto de a qualidade das interações educador-crianças apoiadas ao abrigo do DL 3/2008 ou do DL
doutoramento de Vera Coelho, financiado pela Fun- nesses momentos podem fazer a diferença pa- 281/2009. Somente as salas que tinham crian-
dação para a Ciência e Tecnologia, com a referência ra manter as crianças envolvidas e promover ças nessas condições foram elegíveis para o
SFRH/BD/111211/2015.  

16 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


estudo. Em cada sala selecionámos 1 a 2 crian- formação sobre o tom emocional do educador As atividades de jogo livre foram observadas,
ças com incapacidades apoiadas ao abrigo do nas suas interações (1 - Extremamente nega- em média, durante cerca de 4% da manhã
DL 3/2008 ou do DL 281/2009, 2 consideradas tivo; 5 - Extremamente positivo/ vibrante/ (Gráfico 1). Estes resultados parecem indicar
em risco2, e 3 crianças com desenvolvimento entusiasmado) (Quadro 1), e permite também que as crianças passam menos tempo em mo-
típico. No total contámos com 198 crianças perceber a qualidade da instrução nas intera- mentos de jogo livre. No entanto, destacamos
(M- 46.92 meses de idade, DP - 6.71): 47 com ções educador-crianças, isto é, avalia a forma que se registou alguma variabilidade relativa-
incapacidades, 60 em risco e 91 com desen- como o educador utiliza as suas interações mente ao tempo passado pelas crianças, em
volvimento típico. para promover o pensamento e a aquisição cada sala, em atividades de grande grupo e
Obtivemos o consentimento informado dos de conhecimento da criança (1 - Nenhum; 5- jogo livre. Por exemplo, foram observadas
diretores, educadores de infância e famílias. Elevada aprendizagem inferencial) (Quadro 2). salas em que as crianças passavam cerca de
O estudo foi autorizado pela Comissão Na- Em cada sala, todas as crianças-alvo e o edu- 60% do tempo em jogo livre, bem como ou-
cional de Proteção de Dados (16785/2015) e cador foram observados, sequencialmente, du- tras em que as crianças não foram observadas
pela equipa de monitorização de inquéritos rante uma média de 20 ciclos. Os resultados em jogo livre em nenhum momento. O mes-
em meio escolar da Direção Geral de Educa- referem-se à percentagem de tempo que as mo se registou relativamente às atividades de
ção (0535000001). crianças passam em cada formato de ativida- grande grupo: foram observadas salas em que
de, à média do tom emocional e da qualidade as crianças passaram mais de 90% do tempo
Como foi recolhida a informação? da instrução do educador nas interações com em grande grupo e outras em que as crianças
Os contextos educativos foram observados as crianças, bem com aos níveis médios de foram observadas menos de 10% do tempo
ao longo de uma manhã típica. Recorremos envolvimento. neste formato de atividade.
a sistemas de observação estandardizados,
nomeadamente ao Child Observation in Resultados| Como é passado o tempo nas Resultados| Qual a qualidade do tom emo-
Preschool (COP; Farran & Anthony, 2014) pa- salas de educação pré-escolar inclusivas? cional e da instrução nas interações edu-
ra registar a observação do envolvimento da Globalmente, o formato de atividade predo- cador-criança, em diferentes formatos de
criança e o formato das atividades que decor- minante foi o grande grupo, tendo sido obser- atividade?
riam, e ao Teacher Observation in Preschool vada durante 48% da manhã (em média) uma Podemos perceber, pelo gráfico 2, que para
(TOP; Bilbrey, Vorhaus, & Farran, 2014) para tendência já relatada em estudos anteriores todas os formatos de atividades, as inte-
observação do tom emocional das interações (e.g., Powell, Burchinal, File, & Kontos, 2008). rações educador-crianças registam valores
educador-criança, bem como a qualidade da
instrução nas diferentes atividades. Os obser-
vadores receberam treino específico antes de Gráfico 1.
proceder à observação3. Percentagem de tempo passado pelas crianças em cada formato de atividade, numa manhã.
O COP recolhe informação sobre o tempo
passado em diferentes formatos de ativida-
de (e.g., grande grupo, pequeno grupo, jogo
livre, recreio, refeições, transições), e o nível
de envolvimento das crianças, numa escala
de 5 pontos (1 - nada envolvida; 5 - muito
envolvida), para cada uma das criança-alvo
observadas.
O TOP, numa escala de 5 pontos, recolhe in-
2 Identificadas com base na avaliação da educadora
através de uma medida de desenvolvimento funcional.
3 De modo a certificar que não havia enviesamento por
parte dos observadores, 25% das observações foram
realizadas por dois observadores que cotaram de for-
ma independente; os resultados mostraram um bom
acordo interobservador, o que permitiu realizar análi-
ses posteriores com confiança.

17 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


: ARTIGO

QUADRO 1. Descrição dos diferentes níveis de apoio emocional do educador nas interações, de acordo com a medida Teacher Observation in
Preschool (TOP; Bilbrey, Vorhaus, & Farran, 2014).

Tom emocional
Extremamente Educadores extremamente negativos na aproximação verbal e não-verbal às crianças. Utilização do sarcasmo nas
negativo (1) interações, gritos ou insultos. Puxar ou arrastar as crianças para as mudar de lugar.
Educadores olham de forma reprovadora para as crianças, demonstrando aborrecimento ou desilusão (franzem o
Negativo (2) sobrolho, abanam a cabeça em sinal de desaprovação, reviram os olhos, (…). Observa-se a utilização de pequenas
ameaças para estabelecer o controlo.
Educadores apresentam uma expressão neutra. Podem envolver-se nas atividades mas não são evidentes sinais de
Neutro (3) afeto em relação às crianças e à atividade.
Educadores envolvem-se em interações positivas com as crianças. Mostram interesse genuíno e prestam atenção
Agradável (4) à criança e às suas atividades. São evidentes sinais não-verbais que comunicam um reconhecimento positivo dos
esforços da criança (olham diretamente para a criança, acenam, inclinam-se para a criança).
Extremamente positivo/ Educadores envolvem-se em interações positivas com as crianças. Sorriem e riem em conjunto com as crianças e
vibrante/ entusiasmado (5) demonstram entusiasmo genuíno durante os momentos de ensino/aprendizagem.

QUADRO 2. Descrição dos diferentes níveis de apoio na instrução/promoção da aprendizagem nas interações, de acordo com a medida Teacher
Observation in Preschool (TOP; Bilbrey, Vorhaus, & Farran, 2014).

Apoio na instrução
Nenhum (1) O educador não está a proporcionar qualquer tipo de instrução/oportunidade de aprendizagem às crianças.
Competências Foco em aprendizagem básica especifica e em obter respostas corretas. Nem sempre as crianças têm oportu-
básicas (3) nidade de responder. Perguntas fechadas.
Promoção de alguma Utilização de um misto de perguntas fechadas abertas. Espaço para as crianças participarem e contribuírem
aprendizagem inferencial (4) com as suas ideias. Estímulo ao processo de pensamento.
Interações com as crianças que envolvem a exploração inferencial (perguntas abertas que despoletam várias
Elevada aprendizagem inferencial tomadas de vez na interação). As crianças participam e partilham informação. Conexões com o mundo real e
(5) as experiências das crianças. Questionamento e discussão. Ligações entre conteúdos e participação ativa da
criança na construção do conhecimento.

mais elevados no tom emocional do que são dirigidas pelo próprio educador, quando des, em risco e com desenvolvimento típi-
na qualidade de instrução. Atividades com comparadas com as atividades que são es- co. Este resultado reforça a importância de
formatos mais estruturados, como o grande colhidas e dirigidas pelas crianças. De facto partir das brincadeiras, dos interesses e do
grupo, pequeno grupo e pequeno grupo em foram registados valores significativamente envolvimento das crianças para a promoção
simultâneo com jogo livre parecem ser os mais elevados para as duas dimensões de das aprendizagens. De um modo geral, as
momentos em que os educadores revelam qualidade das interações nas atividades de crianças têm um papel mais ativo durante
um tom emocional mais positivo nas suas grande grupo, comparativamente ao obser- o jogo livre, bem como mais oportunidades
interações e demonstram uma maior quali- vado nas atividades de jogo livre. de interação com os pares e os objetos, as-
dade no seu apoio à instrução das crianças, petos estes que contribuem positivamente
parecendo ser mais intencional a sua ação Resultados| Qual o envolvimento das crian- para um maior envolvimento em idades pré-
na promoção da aprendizagem das crianças. ças em diferentes formatos de atividade? -escolares. Já as atividades de grande grupo,
Assim, os resultados parecem indicar que os As atividades de jogo livre (Gráfico 3) são as que normalmente exigem mais tempos de
educadores interagem mais positivamente e que registam níveis de envolvimento mais espera e um papel mais passivo por parte
com mais intencionalidade em atividades que elevados para as crianças com incapacida- das crianças, registam os níveis mais baixos

18 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


Gráfico 2.
Tom emocional e qualidade da instrução nas interações educador-crianças por formato de atividade (escala: 1 a 5).

de envolvimento. Salientamos ainda que as se encerra nas dimensões aqui focadas, na rante as mesmas devem ser cuidadosamente
crianças com incapacidades e as crianças em medida em que outros aspetos importantes planeadas para que o tempo no jardim de
risco apresentam um envolvimento signifi- contribuem certamente para a qualidade e o infância seja promotor de envolvimento,
cativamente mais baixo do que as crianças envolvimento em contextos inclusivos, como aprendizagem e desenvolvimento.
com desenvolvimento típico nas atividades por exemplo a formação dos profissionais, Em segundo lugar destacamos que, embora
de grande grupo, indicando a necessidade os rácios, o número de crianças na sala, as a qualidade das interações do educador com
de planear as rotinas e tempos de atividades diretrizes e filosofia das instituições (e.g., as crianças seja superior durante as ativida-
cuidadosamente, particularmente em salas Gamelas, 2013; Pinto et al., 2014; Silva et des dirigidas por este, é em atividades de
inclusivas, para garantir o envolvimento e al., 2016). jogo livre que todas as crianças apresentam
participação de todos, adequando os forma- No entanto, gostaríamos de destacar alguns níveis mais elevados de envolvimento. Esta
tos de atividade às características individuais aspetos que consideramos informativos pa- melhor qualidade das interações do edu-
das crianças. ra a prática dos profissionais. Em primeiro cador nos momentos de atividades mais
lugar e de acordo com as recomendações estruturadas poderá estar relacionada com
Reflexões finais nacionais e internacionais, é importante o facto de estas atividades dirigidas terem
Embora não surpreendentes, uma vez que que, ao longo do dia, as crianças tenham sido previamente planeadas e, por isso, mais
vão ao encontro de dados relatados pre- oportunidades para se envolverem em ati- intencionalizadas, tornando-se mais natural
viamente na literatura, consideramos que vidades de diferentes formatos, fazendo para o educador estimular a aprendizagem
estes resultados são relevantes para os diferentes aprendizagens e desenvolvendo e explorar todas as potencialidades daquele
profissionais que desenvolvem a sua ação diferentes competências (NAEYC, s.d.; Silva momento. Por oposição, o ensino incidental,
em contextos educativos inclusivos em Por- et al., 2016). Sublinhamos que, para além do característico dos momentos de jogo livre,
tugal. Salvaguardamos, no entanto, que a formato das atividades, a sua duração e a pode ser um desafio para os educadores já
complexidade dos contextos educativos não qualidade das interações do educador du- que implica que, com base no envolvimento

19 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


: ARTIGO

Gráfico 3.
Níveis de envolvimento das crianças dos três grupos, em diferentes formatos de atividade (escala: 1 a 5).

da criança, sigam os seus interesses e brin- só no caso de crianças com incapacidades, é azopoulou, eds. Odense, Denmark.
Aguiar, C., Moiteiro, A. R., & Pimentel, J. S. (2010).
cadeira, elaborem o seu jogo e fomentem o fundamental uma ação interventiva intencio- Classroom quality and social acceptance of preschool-
conhecimento com base no que acontece nal na qual os objetivos de ensino-aprendiza- ers with disabilities. Infants and Young Children, 23:1.
no momento, não seguindo, diretamente, gem estão inseridos nas interações que de- doi: 10.1097/IYC.0b013e3181c9766e
Bilbrey, C., Vorhaus, E., Farran, D. (2014). The Teacher
um planeamento prévio. A menor qualidade correm durante todas as rotinas e atividades Observation in Preschool. Peabody Research Institute.
das interações dos educadores registada em da sala, partindo dos interesses e brincadeiras Vanderbilt University. Unpublished manual.
momentos de jogo livre pode estar também das crianças para elaborar e facilitar aprendi- Burchinal, M., Vandergrift, N., Pianta, R., & Mashburn, A.
(2010). Threshold analysis of association between child
relacionada com o facto de estes interagirem zagens (DEC/NAYEC, 2009). care quality and child outcomes for low-income children
menos (em termos de frequência) com as Por último, reforçamos a importância da in prekindergarten programs. Early Childhood Research
crianças durante o jogo livre, considerando qualidade das interações para o desenvolvi- Quality, 25, 166–176. doi:10.1016/j.ecresq.2009.10.004
Camilli, G., Vargas, S., Ryan, S., & Barnett, W. S. (2010).
que estes são momentos para as crianças mento, pois não será demais destacar que o Meta-analysis of the effects of early education inter-
brincarem sem o adulto. Ao salientar esta espaço do jardim de infância é, efetivamente, ventions on cognitive and social development. Teachers
questão não queremos dizer que os edu- um espaço privilegiado para a brincadeira, a College Record, 112(3), 579-620.
DEC/NAEYC. (2009). Early childhood inclusion: A joint
cadores devam assumir a liderança do jogo aprendizagem e para a interação com adul- position statement of the Division for Early Childhood
livre; antes pelo contrário, o jogo livre é, por tos, pares e materiais. É pois fundamental (DEC) and the National Association for the Education of
definição, escolhido e liderado pelas crian- observar as crianças de forma a conhecê-las Young Children (NAEYC). Chapel Hill: The University of
North Carolina, FPG Child Development Institute.
ças. No entanto, a presença do educador e poder, assim, desenvolver interações fre- Early, D. M., Iruka, I. U., Ritchie, S., Barbarin, O. A., Winn,
que interage positivamente, com intencio- quentes, responsivas, intencionais e positivas D. C., Crawford, G. M., & ... Pianta, R. C. (2010). How do
nalidade, é responsivo, segue os interesses que promovam nas crianças o seu envolvi- prekindergarteners spend their time? Gender, ethnicity,
and income as predictors of experiences in prekinder-
das crianças e os elabora, é fundamental em mento, autoconfiança, capacidade de inicia- garten classrooms. Early Childhood Research Quarterly,
todos os momentos, incluindo no jogo livre tiva, formas de pensamento mais complexas, 25(2), 177-193. doi: 10.1016/j.ecresq.2009.10.003
(Grande, 2013). Especialmente para crianças curiosidade e motivação. É nestas interações Farran, D. & Anthony, K., (2014). Child observation in
preschool. Peabody Research Institute. Vanderbilt Uni-
com incapacidades, as oportunidades que que as crianças crescem, aprendem e se de- versity. Unpublished manual.
surgem naturalmente no jogo livre e que o senvolvem. Fuligni, A. a., Howes, C., Huang, Y., Hong, S. S., & Lara-
educador aproveita para intervir intencional- Cinisomo, S. (2012). Activity-settings and daily routines
in preschool classrooms: Diverse experiences in early
mente constituem momentos-chave para a learning settings for low-income children. Early Child-
promoção de competências funcionais, pa- hood Research Quarterly, 27(2), 198-209. doi:10.1016/j.
ra o suporte de relações com pares e para BIBLIOGRAFIA ecresq.2011.10.001
Agência Europeia para as Necessidades Especiais e Edu- Gamelas, A. M. (2003). Contributos para o Estudo da
uma maior participação (Aguiar, Moiteiro, & Ecologia de Contextos Pré-Escolares Inclusivos. Lisboa:
cação Inclusiva. (2017). Inclusive Early Childhood Educa-
Pimentel, 2010). Particularmente, mas não tion – Literature Review. F. Bellour, P. Bartolo & M. Kyri- Ministério da Educação.

20 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


Grande, C. (2013). Estudo do impacto das interações Pinto, A., Grande, C., Abreu-lima, I., Cadima, J., Mata, L., Tsao, L., Odom, S. L., Buysse, V., Skinner, M., West, T.,
educadora-criança no envolvimento das crianças com Pimentel, J., & Marinho, S. (2014). Estudo de avaliação & Vitztum-Komanecki, J. (2008). Social participation of
necessidades educativas especiais em contexto de cre- das Orientações Curriculares e da qualidade na educa- children with disabilities in inclusive preschool programs:
che e de jardim de infância. Braga: Fundação Calouste ção pré-escolar: Relatório final dos Estudos de Caso. Program typology and ecological features. Exceptional-
Gulbenkian, Fundacão para a Ciência e a Tecnologia. Ministério da Educação. Portugal. ity, 16(3), 125-140. doi:10.1080/09362830802198203
Grande, C., & Pinto, A. I. (2009). Estilos interativos de Powell, D. R., Burchinal, M. R., File, N., Kontos, S. (2008).
educadoras do ensino especial em contexto de educa- An ecobehavioral analysis of children’s engagement in
ção-de-infância. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 25 (4), urban public school preschool classrooms. Early Child-
pp. 597-610. doi: 10.1590/S0102-37722009000400010 hood Research Quarterly, 23, 108–123.doi: 10.1016/j.
Kontos, S., Burchinal, M., Howes, C., Wisseh, S., Ga- ecresq.2007.04.001
linsky, E. (2002). An ecobehavioral approach to exam- Reinhartsen, D. B., Garfinkle, A. N., & Wolery, M. (2002).
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rooms. Early Childhood Research Quarterly, 17:239–258. tism: Teacher selection versus child choice. Research &
NAYEC: National Association for the Education of Young Practice For Persons With Severe Disabilities, 27(3), 175.
Children (s.d.). https://www.naeyc.org/ Silva, I. L., Marques, L., Mata, L., & Rosa, M. (2016).
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for young children with disabilities: A quarter century Ministério da educação: Direção Geral da Educação.
of research perspetives. Journal of Early Intervention, Portugal.
33(4), 344-356. doi:10.1177/1053815111430094

21 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


: ARTIGO
Educação artística nos jardins de infância.
A formação contínua como desafio para a prossecução de práticas reflexivas e desafiadoras
Rosa Montez1 . Educadora de infância no JI do Choupal, Agrupamento de Escolas Alexandre Herculano, Santarém.

1.

A edição da brochura As Artes no Jardim de


Infância – Textos de apoio para os educa-
dores de infância (Brito e Godinho, 2011) foi
apresentada junto dos e das educadoras de
infância acompanhada por oficinas de for-
mação nas quais participei como formadora
após ter frequentado um curso de formação
de formadores ministrado pelos autores da
referida brochura.
Nestas abordagens formativas deram-se a
conhecer artistas, técnicas e materiais, expe-
rimentaram-se algumas atividades propostas
pelos autores e criaram-se outras. Todavia, a
necessidade, apontada pelas educadoras, de
ampliar conhecimentos, experiências, funda-
mentos e desafios no domínio da educação
artística ditou a realização de um segundo
módulo.
Este repto foi particularmente pertinente, pois
o campo artístico-cultural possui dimensões
informativas, reflexivas, interpretativas e frui- dor que fomente o “diálogo aberto e constru- cultura nacional e universal, no âmbito das artes
doras que devem obedecer a práticas sistemá- tivo, que incentive a criança a encontrar formas visuais e música:
ticas, de modo a alcançarem-se os objetivos criativas de representar aquilo que pretende e 1. Apresentação de artistas e da sua obra:
que se enquadram neste domínio. Esta segun- promove simultaneamente o desejo de aperfei- Camille Saint Saens, Takashi Murakami,
da oportunidade, feita de aprofundamentos, çoar e melhorar” (ibidem). Com uma estratégia Joana Vasconcelos, Almada Negreiros,
partilha de conhecimentos e experiências e a similar à do educador, o exercício como for- Amadeo de Souza Cardoso e Helena Al-
promoção de uma autonomização na criação madora seguiu um mapeamento previamente meida;
de projetos baseados em obras de arte/artis- idealizado, com provocações, sugestões e desa- 2. Diálogos sobre a Arte – processos de
tas, determinou o enquadramento operativo fios, agora de maior exigência e complexidade, apreciação artística – espaço aberto à
desta segunda formação complementar, que de forma a se estabelecerem mais e melhores interpretação/emergência de significados;
serve de base a este artigo. fundamentos para a sua aplicação na prática 3. Concetualização e análise: estabelecer co-
Em primeiro lugar há que entender qual a in- educativa. nexões, diferenças e semelhanças, com-
tenção pedagógica subjacente à abordagem Com esta premissa, a dinâmica implementada parações, formular questões, apresentar
da arte na infância, que, segundo as Orienta- nesta ação seguiu quatro vertentes: pesquisa conceitos precisos;
ções Curriculares para a Educação Pré-Escolar e conhecimento de autores e objetos artísticos 4. Processos de criação e execução artística
(2016, pp. 47-48) é um meio de: e sua apreciação; discussão e planificação cola- – materiais e técnicas.
• Possibilitar o acesso à arte e à cultura; borativa; operacionalização dos projetos; e, por Porque é importante que se estabeleçam pon-
• Fomentar o desenvolvimento da criativi- último, a retroação, reflexão e avaliação. tes entre as várias áreas de conteúdo, seus do-
dade e do sentido estético; Foram apresentados vários desafios2 com ar- mínios e subdomínios, referidos nas OCEPE, os
• Facultar a apropriação gradual de instru- tistas e suas obras que promovessem o alarga- projetos, para além das artes visuais e música,
mentos e técnicas. mento de competências de pesquisa e conhe- integraram a dança e o jogo dramático/teatro.
O papel do educador deve ser o de um media- cimento de técnicas e correntes elementares da Durante as duas primeiras sessões, para além
da apresentação das finalidades e estrutura da
1 Mestre em Arte e Educação, formadora (integra as 2 Baseado em Gonçalves, R., Fróis, J., Marques, E.
bolsas de formação da APEI e de Centros de Formação (2002). Primeiro Olhar. Programa Integrado de Artes ação e da análise e reflexão sobre o que se de-
de Associação de Escolas), cria e desenvolve projetos Visuais, Caderno do Professor. Lisboa. Fundação Ca- senvolve nos jardins de infância no domínio da
artístico-educativos em instituições educativas, cultu- louste Gulbenkian. Serviço de Educação e Bolsas. educação artística, realizaram-se trabalhos em
rais e artísticas.

22 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


equipa, com a produção de um projeto, com Projecto Mãos Cliques, pinceladas e andamentos.
as várias etapas que o compõem, baseado nas Este projeto desenvolveu-se a partir da Estratégias e atividades
propostas de artistas e/ou objetos artísticos imagem da serigrafia sobre papel de Helena • Apresentar às crianças a fotografia es-
apresentados por mim. Almeida e Pedro Tamen (poema) Sem título, colhida de Helena Almeida. Pesquisar na
Partilharam-se reflexões, discutiram-se estra- 1999, serigrafia sobre papel,4 onde se pode internet sobre a vida e obra desta artista
tégias, atividades, conteúdos, objetivos e mo- observar a fotografia de dois braços e duas e elaborar um mural (espaço à observa-
mentos de avaliação, com vista a possibilitar mãos, uma atravessada por uma mancha azul ção, contemplação e diálogo).
uma compreensão aprofundada do domínio de tinta, posicionados sobre um poema, com • Proporcionar momentos para que foto-
artístico, cultural e pedagógico, inspiradora e forte apelo a leituras significativas. grafem as mãos umas das outras, em
aplicada em propostas educativas nos jardins Recorreu-se ao teatro de formas animadas, diversas atividades/posições. Variante:
de infância, adequando-as a cada contexto e à fotografia, desenho, pintura e música de fotografar as crianças em posições de
tendo sempre presente o real interesse e en- Wolfgang Amadeus Mozart, Marcha Turca, dança ao som de música de Mozart.
volvimento das crianças. 3.º andamento (Alla Turca – Allegretto) da • Elaborar um mural com o resultado des-
A terceira sessão serviu para a apresentação dos Sonata para piano n.º 11, em lá maior, para tas experiências, completando-o com
projetos de cada grupo, sua análise e discussão. o planeamento da ação, a ser apresentada pinceladas azuis, à semelhança do que
E nas duas últimas sessões apresentaram-se os aos outros grupos e a servir de mote para se observa na obra da artista.
trabalhos autónomos realizados nos jardins de a operacionalização nos jardins de infância. • Elaborar um jogo lúdico a partir de fo-
infância, com reflexão sobre a aplicação dos tos das crianças, cujos cartões poderão
materiais produzidos e práticas desenvolvidas, ser conjugados de diferentes maneiras
que foram posteriormente analisados e discuti- (metade da foto de uma criança poderá
dos em grande grupo. 4 Optou-se pela não divulgação da imagem da obra es- ser completada com a metade da outra).
Assim, a reflexão entre pares, bem como as colhida, porque pode estar sujeita a direitos de autor. Variante: fotografar apenas o corpo das
No entanto, pode encontrar-se na internet em: https://
análises, os planeamentos e a apresentação dos crianças e pedir-lhes para pintarem/de-
onlineonly.christies.com/s/post-war-contemporary-
trabalhos originaram momentos de partilha e de -art-online/untitled-3/24379 senharem os rostos.
construção de significados relacionados com a
educação expressiva, cultural e artística na edu-
cação pré-escolar.
Com os projetos criativamente elaborados e
completos, motivadores e desenvolvidos com
elevada participação, só poderei apresentar
apontamentos que ilustram uma pequena par-
te do que foi realizado, optando por escolher
para este artigo um dos projetos criados a par-
tir de obras de uma artista portuguesa, Helena
Almeida (filha do escultor Leopoldo Almeida
e uma das principais artistas contemporâneas
portuguesas), a qual era desconhecida das edu-
cadoras presentes.
Após o contacto com a artista e a sua obra, as
formandas foram convidadas a escolher uma
e a projetar uma diversidade de desafios pe-
dagógicos/artísticos/culturais baseados na sua
escolha3.

3 Projeto criado e desenvolvido por Rosa Montez (for-


madora), Aurélia Gaivoto, Leonor Henriques, Luísa
Cavaleiro e Lurdes Tecedeiro (formandas).

23 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


24 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018
25 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018
: ARTIGO

• Fotografar a mão de um idoso e a mão o reconhecimento de um progressivo conhe-


OBJETIVOS de uma criança e inventar uma história a cimento e aperfeiçoamento de competências
Contactar com a arte, com os seus proces- partir das imagens. ligadas aos subdomínios em foco, iniciado
sos e os seus criadores; • Pinturas nas mãos com criações livres, ins- na primeira ação de formação e aprofunda-
Vivenciar a experiência artística através da piradas no livro Animani, de Mario Mariot- do pela segunda, permitiu a ampliação de
apreciação, criação e execução; ti Fazer teatro de formas animadas: Uma perspetivas pedagógicas fecundas e criativas
Saber descrever a obra selecionada; História de Dedos, de Luísa Ducla Soares, adequadas à educação pré-escolar.
Comparar formas diversificadas de repre- com mãos pintadas/luvas/aplicação de Esta nova proposta, baseada num trabalho
sentação da figura humana (proporção e adereços e marionetas digitais. colaborativo, originou a continuação de um
desproporção); • Abordar a linguagem gestual e reproduzir despertar, agora mais coeso e fundamenta-
Produzir plasticamente de forma mediada a algumas palavras. do, sobre a importância da educação artís-
representação da figura humana integrada • Registar as atividades através de fotogra- tica. A troca de informações, a procura de
no tema sugerido; fias e videogramas. soluções, a intencionalidade pedagógica, as
Participar em práticas de jogo dramático/ • Pintar as palmas das mãos com branco ligações a outros domínios, a sensibilização
representação (teatro de formas animadas) e preto e fazer impressão sobre papel de para a importância do conhecimento, asso-
de forma estruturada; cor oposta. Composição de um painel ciadas ao prazer de aprender e criar com a
Distinguir diferentes técnicas de represen- coletivo. criação de projetos fizeram emergir soluções
tação (teatro de ator e teatro de formas • Fotografar as sombras das mãos das significativamente criativas e importantes pa-
animadas (teatro de sombras, teatro de crianças e propor uma atividade plástica ra aplicação na prática.
objetos, teatro de marionetas – luva, dedo, a partir das mesmas. Os testemunhos sobre a operacionalização
varas, fio…); • Apresentar o projeto aos pais, através de dos projetos/atividades nos jardins de infân-
Reconhecer auditivamente música erudita iniciativas diversas: documentação expos- cia, surgidos durante a parte presencial da
(obra selecionada de Mozart); ta do processo, cadernos pedagógicos, ação e enriquecidos com as propostas das
Conseguir sincronizar o movimento do corpo reuniões, exposição de trabalhos ou festa crianças, demonstram que o processo de
(dedos) com a intensidade (forte e fraco) da de final de ano letivo. ensino-aprendizagem relevante requer um
obra musical selecionada; O campo aberto à criação não se esgotou aqui. dinamismo contínuo por parte de quem o
Conseguir sincronizar o movimento do corpo Muitas outras atividades podiam ter surgido, promove e que este é notoriamente conse-
(dedos) com a pulsação regular (andamentos nomeadamente vinculadas à poesia – interpre- guido através da atualização de conhecimen-
rápidos, médios e lentos) e a acentuação do tação do poema, criação de caligramas e asso- tos e da reflexão entre pares na formação
compasso da obra musical selecionada. ciações entre poemas e imagens, entre outras. contínua.
Mas o que importa na verdade realçar é que

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Brito, M. J. N. e Godinho, J. C. (2011). As Artes no Jardim
de Infância. Lisboa. DGIDC-Ministério da Educação.
Gonçalves, R., Fróis, J., Marques, E. (2002). Primeiro
Olhar, Programa Integrado de Artes Visuais, Caderno do
Professor. Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkian. Serviço
de Educação e Bolsas.
Mariotti, M. (1987). ANIMANI – Mãos Animadas. Venda
Nova. Bertrand Editora.
Ministério da Educação (1997) e (2016), Orientações Curri-
culares para a Educação pré-escolar. Lisboa.
Soares, L. D., Uma História de Dedos (2005), Porto. Ci-
vilização Editora.

26 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


: ARTIGO

Um projeto em creche: a Lua


Denise Cavaco Serra. Educadora. Creche. Centro Social Paroquial Vera Cruz, Aveiro

Grupo de 18 crianças As crianças destas idades já começam a


de 2 e 3 anos de idade projetar a sua ação com base num interesse
O texto que aqui se apresenta é inspira- específico por um fenómeno ou realidade,
do num projeto realizado no ano letivo de ou pelo simples desejo de se envolverem na
2017/18 com crianças de 2 e 3 anos de idade. execução de algo, e cabe ao educador dar
Habitualmente, pela manhã, juntamo-nos o devido seguimento. Para que se dê segui-
para falar sobre as nossas vivências e os me- mento a um projeto é fundamental que exis-
ninos partilham com o grupo os seus objetos, ta alguma organização. Passamos então por
brinquedos ou experiências. Nestas reuniões quatro fases essenciais: a definição do pro-
surge um pouco de tudo: saberes, novidades, blema, a planificação do trabalho, a execução
tristezas, experiências familiares, projetos... do trabalho e a comunicação e avaliação do
Numa manhã o D. mostra, com orgulho, o mesmo. Estas fases são essenciais para que
seu projetor de estrelas e planetas e explica o projeto aconteça de forma consciente e
aos amigos com ar misterioso: “Vamos apa- participada.
gar a luz e ver estrelas.” O encanto e a curio- Em creche, “é importante que seja a criança
sidade surgem de imediato, as crianças ficam a tomar iniciativas, aprendendo que tem ca-
espantadas, deliciadas, inebriadas com tantos pacidade para responder aos seus interesses
planetas e estrelas no teto da nossa sala. e perguntas e para resolver problemas que
No meio de interjeições de espanto “Uau!”, lhe suscitam o questionamento no contexto
“Ah!”, crianças e adultos partilham as suas da sala, da instituição ou da comunidade” (in
ideias. Folque, Bettencourt & Ricardo, revista n.º 3
Crianças: “O que é aquela bola?” do Movimento da Escola Moderna, 2015).
Adulto: “Aquela é a Lua.” A Lua tornou-se o centro de todas as nossas
Crianças: “A Lua aparece de noite, de dia não conversas. As crianças traziam livros, ima-
há Lua.” gens, ideias sobre o tema e partilhavam com
Adulto: “Não há Lua de dia? Então para onde o grupo. Os comentários e ideias das crianças
vai a Lua de dia?” eram imensos; parece que quanto mais sa-
Criança 1: “Vai dormir.” bíamos, mais queríamos saber e percebemos
Criança 2: “Não, ela esconde-se do Sol.” depressa que há muito para descobrir sobre
Adulto: “Será que se esconde mesmo?” a Lua e o espaço. Diziam elas:
Criança 3: “Eu sei que os astronautas é que • A Lua aparece no céu de noite.
vão à Lua.” • Eu já vi a Lua no céu de dia.
Criança 4: “E eu gostava de ir à Lua.” • A Lua é cheia quando está uma bola.
Adulto: “Será que podemos ir à Lua?” • Às vezes a Lua tem dois biquinhos.
Criança 3: “Não, só os astronautas é que • A Lua também não se vê.
vão.” • O Neil foi o astronauta que foi à Lua.
Adulto: “É uma boa pergunta, podemos ten- • Mas como é que podemos ir à Lua?
tar saber quem é que vai à Lua.” • Os astronautas é que vão à Lua e estudam
Crianças: “Sim, podemos.” muito.
(...) • A comida dos astronautas anda a voar
Depois deste diálogo, rapidamente registá- dentro da nave.
mos os nossos conhecimentos e aquilo que • O astronauta trabalha na Nasa, tem lá os
queríamos saber sobre a Lua, e partindo daí, foguetões.
outras perguntas e propostas foram surgin- • A Lua é linda e brilha.
do. Foi assim que, aos poucos, fomos cons- • O foguetão faz barulho a descolar.
truindo um novo projeto.

27 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


: ARTIGO

A partir daí diversas ações ocorreram. Muitas As descobertas não pararam por aqui. A Lua do que ele percorra um caminho, senão ele
brincadeiras de faz de conta surgiram na sala afinal tem diferentes fases? Quais são os voaria descontrolado pela sala. Percebemos
e é sempre maravilhoso assistir à apropriação seus nomes? Como é que isso acontece? que ao tirar a mola, a força do ar que está
de conhecimentos por parte das crianças, Com a ajuda de imagens e livros tentámos sa- dentro do balão faz o “foguetão” avançar de
através das suas representações. Para essas ber mais sobre as fases da Lua. A colaboração uma ponta à outra do fio.
brincadeiras improvisámos um fato de astro- de um pai, professor de física, veio enriquecer Depois de muita pesquisa, dedicação e brin-
nauta e, de forma coletiva, construímos um e esclarecer as nossas dúvidas. Através de um cadeira, conversámos e decidimos ser o mo-
foguetão utilizando caixas de cartão. Estas re- ambiente espacial e divertido mostrou-nos as mento de comunicar o que aprendemos. Para
presentações são uma constante no quotidia- diferentes fases da Lua e explicou-nos como isso, fizemos um cartaz das descobertas, on-
no da creche e possibilitam o contacto com acontecem os eclipses. de constou tudo o que sabíamos sobre a Lua.
diferentes linguagens e culturas humanas. Realizámos muitas outras atividades no âmbi- Não esqueçamos que estamos a falar de um
Quando se iniciam projetos em creche, uma to deste projeto. Simulámos ser astronautas grupo de crianças de 3 anos, crianças que são
das caraterísticas mais presentes é a forma que estão na Lua e, com a ajuda de um pro- capazes de nomear e explicar as fases da Lua,
como todo o questionamento surge a partir jetor, assistimos a vários vídeos onde visuali- que sabem o nome do primeiro astronauta a
das experiências que as crianças trazem de zamos a terra a aparecer. pisar a Lua, que sabem que os astronautas
casa, através da sua linguagem própria, das Para perceber como funciona um foguetão, trabalham na NASA, que sabem inclusive que
suas brincadeiras e representações. realizámos uma experiência. Usámos um fio no espaço andamos a flutuar.
O projeto A Lua envolveu as crianças em di- que amarrámos a duas cadeiras, um pedaço O projeto foi finalizado. Todas as pesquisas
versas atividades. Criámos um espaço na sala de palhinha, um balão, um pedaço de fita- estavam feitas, tínhamos as respostas a algu-
dedicado à pesquisa e exploração do tema a -cola e uma mola para não deixar o ar sair. mas perguntas que colocámos, era o momen-
partir de livros e imagens que foram sendo Perguntámos: O que vai acontecer? Para on- to de comunicar.
trazidos de casa pelas crianças e adultos. Nas de irá o balão? O que tem o balão dentro E foi na sala de creche dos nossos amigos
suas pesquisas as crianças descobriram que, dele? No nosso foguetão de balão, estamos a do lado que começámos. Claro que nestes
por vezes, também se pode ver a Lua de dia aplicar um impulso com o ar que está dentro momentos de comunicação algumas crianças
e, com a ajuda de um telescópio, observámos do balão, por isso é que ele se movimenta. A falam descontraidamente, enquanto outras
a Lua em pleno dia. palhinha serve para direcionar o balão, fazen- são mais tímidas. A riqueza destes momentos

28 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


consiste em que todos nos respeitemos nas do. Aqui, aos dois e três anos de idade, cons-
nossas especificidades. troem e vivem juntos a sua humanidade e a
Os momentos de comunicação entre a comu- sua própria educação de infância.
nidade educativa são os que apoiam a cons- Há alguns anos, astronautas deram um pas-
trução de conhecimentos. É também nessas so de gigante ao pisar a Lua. Na nossa sala
comunicações que as crianças validam o que demos um passo de gigante ao conseguir
aprendem ao transmitir aos outros o que encontrar respostas para as nossas curiosi-
descobriram. São pequenas partilhas impres- dades.
cindíveis para que todo o grupo se aproprie e A maravilha de trabalhar com os mais peque-
adquira conhecimentos e, ao mesmo tempo, nos é que nós, adultos, também aprendemos
se promova o interesse no assunto aborda- todos os dias!
do. Aqui “estabelecem-se circuitos múltiplos
de comunicação que estimulam o desenvol-
vimento de formas variadas de representação
e de construção interativa de conhecimento.
Esta matriz comunicativa é radicada por cir-
cuitos de comunicação das aprendizagens e
de fruição dos produtos culturais, para que
todos possam aceder à informação de que
cada um dispõe e aos seus produtos de es-
tudo e de criatividade artística e intelectual”.1
Na creche, astronautas, crianças e adultos
encontraram-se ao conhecer melhor o mun-

1 In http://www.movimentoescolamoderna.pt/mode-
lo-pedagogico/sistema-de-organizacao-cooperada/
circuitos-de-comunicacao/.

29 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


: ÀDESCOBERTA

Vamos fazer um géiser


Rosário Leote de Carvalho . Licenciada em Química

O dióxido de carbono (CO2) encontra-se dis- diatamente à superfície do objeto. tem por base o facto de a bebida açucarada
solvido nas bebidas gaseificadas, sendo que Por exemplo, adicionar sal origina espuma no final da atividade se tornar numa massa
a quantidade de CO2 que se dissolve é fun- porque formam-se milhares de pequenas pegajosa, que a torna mais difícil de limpar
ção da pressão e temperatura. Segundo a Lei bolhas na superfície de cada grão de sal, o porque contém açúcar. A opção sem açúcar
de Henry, “a uma temperatura constante, a que resulta num extenso borbulhar. A este (light) utiliza adoçantes artificiais em vez de
quantidade de um gás que se dissolve num processo chamamos nucleação, e os locais açúcar e, consequentemente, não é pegajosa.
determinado tipo e volume de um líquido é onde as bolhas se formam, seja na lata, num Deve notar-se que, apesar das inúmeras “re-
diretamente proporcional à pressão parcial objeto ou à volta de um pequeno grão de sal, ceitas” disponíveis, não existe a receita certa
desse mesmo gás em equilíbrio com o líqui- são os locais de nucleação. para nenhuma atividade experimental. Todas
do”. Assim, a solubilidade do gás aumenta Nesta atividade adiciona-se uma goma, que devem ser adaptadas às condições físicas
com o aumento da pressão e diminui quando deve ser porosa de modo que as porosida- e humanas disponíveis. Cabe ao educador
a temperatura aumenta, pelo que o dióxido des atuem como locais de nucleação, ou seja, escolher o momento adequado para a reali-
de carbono é introduzido nas bebidas gasei- locais perfeitos para a formação de bolhas zação da atividade, assim como os materiais
ficadas a uma elevada pressão. de dióxido de carbono. Desta forma, assim a utilizar, não esquecendo que normalmen-
Quando se agita uma garrafa ou lata de uma que a goma é colocada na bebida gaseificada, te temos todo o equipamento essencial ao
bebida gaseificada, uma parte do gás sai da formam-se bolhas em toda a sua superfície, nosso dispor, só que por vezes temos de o
solução e as bolhas agarram-se às paredes in- que depois sobem rapidamente para a su- adaptar às necessidades. No entanto, estas
ternas do recipiente (em determinados locais perfície do líquido para sair para o exterior. atividades devem ser planeadas e testadas
denominados locais de nucleação). Quando Adicionalmente, se as gomas forem pesadas antes de serem realizadas em sala de aula.
se abre o recipiente, as bolhas sobem rapi- irão ao fundo o que faz que as bolhas de gás E tão importante como a própria experiência
damente até ao topo, empurrando o líquido formadas à superfície das gomas, ao sair, em- são as questões orientadoras, que permitem
para fora. purrem todo o líquido para cima, originando guiar as crianças no decorrer da atividade.
Esta não é a única forma de fazer sair o gás o efeito semelhante a um géiser.
de uma bebida gaseificada. Se colocarmos Um fator importante pode ser a escolha da MATERIAIS NECESSÁRIOS
um objeto, como uma cereja ou um pedaço bebida. A escolha da opção sem açúcar (li- Bebida gaseificada (de preferência light)
de laranja, as bolhas de gás formam-se ime- ght) em relação à mesma bebida açucarada Gomas porosas

Procedimento (de preferência no exterior)


Mostrar a bebida gaseificada
Questionar as crianças sobre as propriedades
da mesma e chamando a atenção para o gás.
Salientar também se é uma bebida açucarada
ou não.

Mostrar as gomas
Questionar as crianças sobre as propriedades
das mesmas.

Abrir cuidadosamente o frasco da bebida


light.
Posicione a garrafa no chão para que não
tombe.
Pedir aos alunos que prevejam o que vai
acontecer.
Comparar o resultado com as previsões.

30 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


Colocar 1 (ou mais, idealmente 7) goma(s)
na bebida gaseificada.
O objetivo é colocar mais do que uma goma
na garrafa ao mesmo tempo. Um método
para fazer isso é enrolar um pedaço de papel
num tubo suficientemente grande para man-
ter as gomas soltas. Coloque o dedo na parte
inferior do tubo e posicione-o diretamente
sobre a boca da garrafa. Quando tirar o de-
do, todas as gomas cairão ao mesmo tempo.

Este passo final é muito importante: fu-


gir! Mas não se esqueça de olhar para a
incrível erupção da bebida.

Observar
Pedir que descrevam o que estão a observar.
referência para poder realizar as medições ao sejam todas da mesma marca e tipo. Também
Explicar o resultado visualizar a gravação. Outra medição que se é importante que todas as garrafas de tes-
Não termine aqui a atividade. Os alunos de- pode fazer é a do volume: anota-se o volume te sejam armazenadas no mesmo local para
vem fazer o registo das suas observações da garrafa cheia antes de colocar as gomas, que o líquido em cada garrafa tenha a mesma
da forma que achar mais conveniente (de- aguarda-se que a experiência acabe e mede- temperatura.
senhos, textos, oralmente, etc.). Promova a -se o volume que fica na garrafa. A diferença
discussão sobre estes resultados ao longo é igual ao volume do géiser.
do ano; esta pequena experiência pode dar Estabelecida qual a medição que se vai fazer,
origem a muitas outras. podemos alterar algumas variáveis. Uma pos-
Pode tornar esta atividade numa pequena in- sibilidade é investigar a influência da quan-
vestigação, desde que introduza uma variável tidade de gomas. Outra, o tipo de gomas.
e encontre uma forma de medir a altura da Também se pode testar o tipo de bebida, o
“erupção”. Esta medição pode ser feita atra- volume de bebida, etc.
vés de uma gravação, colocando objetos para Certifique-se de que as garrafas de bebida

31 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


: NOTÍCIASDADIREÇÃO

Dinâmica formativa em 2018:


balanço de um ano de atividades
O Centro de Formação da APEI desenvolve Total de ações realizadas
desde 1982 atividades de formação diversifi- Ações de Formação Nº de ações Nº de horas Nº de formandos
cada com a oferta de ações acreditadas e não Acreditadas CCPFC 17 296 463
acreditadas, dirigidas a pessoal docente e não
Curta duração 12 72 165
docente, contribuindo para a atualização dos
conhecimentos, para uma prática reflexiva e, Não acreditadas 63 560 1120
consequentemente, para o desenvolvimento Pessoal não docente 04 100 0060
pessoal e profissional dos profissionais de Sábados temáticos 54 156 955
educação de infância. Total 150 1184 2763
A atividade desenvolvida no ano de 2018 foi
estruturada no sentido de assegurar a execu-
ção do Plano de Formação aprovado pela Co- Por região
missão Pedagógica, procurando a valorização Pessoal não Sábados
Região Acreditadas Curta duração Não acreditadas
e envolvimento de todos os recursos, parcei- docente temáticos
ros e parcerias estabelecidas, pretendendo Norte 2 1 3 8
construir uma cada vez maior qualidade da Centro 1 2 9 1 15
dinâmica formativa através da disseminação
Lisboa e Vale do Tejo 14 3 40 2 20
das ações disponibilizadas por todo o país.
Alentejo 1 3 4

Atividade desenvolvida Algarve 4 7 1 3


Foram realizadas entre janeiro e dezembro Regiões Autónomas 1 2
de 2018 um total de 150 ações de formação Cabo Verde 1
nas diversas modalidades, abrangendo todo Total 17 12 63 04 54
o país, incluindo as regiões autónomas da
Madeira e dos Açores. De referir também a
realização de um sábado temático em Cabo
Verde. Abrangeu os grupos de recrutamento que constituem matérias curriculares nos a cada um os meios necessários para se tor-
100, 110, 910 e 250 e outros, tendo sido con- vários níveis de ensino), tendo sido certifi- nar quem escolheu ser” Jacquard, A. (1990)
tabilizadas 1184 horas de formação, envolven- cados 165 formandos e ministradas 72 horas O Centro de Formação da APEI tem vindo a
do, no total, 2763 formandos. de formação. estabelecer parcerias com várias entidades
Acreditadas pelo Conselho Científico-Peda- De referir também os grupos de partilha, que e instituições das várias redes educativas,
gógico da Formação Contínua, foram dina- são encontros mensais de profissionais de no sentido de potenciar as suas respostas
mizadas oito ações na modalidade de oficina educação com o objetivo de refletir e par- junto dos formandos, sendo de referir: os
e nove na modalidade de curso de formação. tilhar questões pedagógicas de interesse centros de formação de associações de es-
Foram também dinamizados 63 cursos de comum. Dos mesmos, ocorreram dez ses- colas CFAE das Margens do Guadiana; CFAE
formação na modalidade não acreditada, em sões em Lisboa, duas em Aveiro e duas na Terras do Montado; ACPEEP - Associação
560 horas de formação, nas quais participa- Madeira. de Creches e Pequenos Estabelecimentos
ram 1120 formandos. Também foram dinamizadas quatro ações de Ensino Particular, AEEP; Fundação Aga
Na modalidade de sábado temático foram de formação para pessoal não docente, num Khan; diversos institutos politécnicos e
realizadas 54 ações, envolvendo 955 forman- total de cem horas de formação, com o en- universidades do continente e regiões au-
dos, num total de 156 horas de formação. volvimento de 60 formandas. tónomas da Madeira e dos Açores; também
As Ações de Curta Duração reconhecidas várias bibliotecas e autarquias; contribuindo
como tal pelo Centro de Formação da APEI, Parcerias de forma significativa para a concretização
por cumprirem os requisitos do Despacho “Se o grande alvo de cada pessoa é realizar das ações em contexto, quer no acolhimen-
5741/2015, de 29 de maio, foram doze da em si um ser autónomo, o de uma sociedade to e realização das ações propostas, quer no
área da docência (áreas do conhecimento humana é instaurar uma organização que dê processo de divulgação, com o objetivo de

32 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


chegar a um maior número de interessados. de infância foram bastante recetivos às pro- tisfazer os interesses de um maior número
A colaboração e envolvimento dos delega- postas formativas apresentadas, permitindo de pessoas.
dos regionais e locais na operacionalização o cumprimento dos objetivos previamente De referir a prestação de todos os forma-
do Plano de Formação nos diferentes con- definidos. dores e colaboradores permanentes da APEI
textos foi um fator muito positivo a salien- A análise dos inquéritos de satisfação aos que, de uma forma responsável e abnegada,
tar, assim como a proximidade estabelecida participantes, assim como a participação e estiveram sempre disponíveis para desenvol-
através da realização dos encontros locais e envolvimento nas ações realizadas, eviden- ver as tarefas sob sua responsabilidade, no
regionais permitindo a cobertura de todo o ciam os resultados positivos alcançados. sentido de, em tempo, ajudarem ao êxito e
território nacional, tendo estes aspetos sido De salientar também o contributo para os cumprimento dos nossos objetivos.
determinantes para a dimensão dos resulta- resultados obtidos do volume de ações na
dos alcançados. modalidade de sábado temático, realizadas
nos vários contextos e regiões, assim como a
Em síntese importância da abertura à integração de no- O Centro de Formação: formacao@apei.pt.
A avaliação da dinâmica formativa que de- vos formadores na Bolsa de Formadores do A diretora do Centro de Formação
correu no período compreendido entre os Centro de Formação para abranger temáticas Maria do Céu Velez
meses de janeiro e dezembro de 2018 permi- além da área curricular, o que permitiu alargar
te concluir que os profissionais de educação as propostas formativas disponibilizadas e sa-

33 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


: NOTÍCIASDADIREÇÃO

Ciclo de seminários APEI: 1.º trimestre 2018/2019

Subordinados à temática da Pedagogia e Cur-


rículo na Educação Pré-Escolar, no caso dos
Encontros Regionais e à Pedagogia e Educa-
ção na Infância, no caso dos Encontros Ser
Bebé, a APEI realizou sete seminários, um
pouco por todo o país, que abrangeram cerca
de 900 profissionais, a partir dos quais se rea-
lizou esta pequena fotorreportagem.

XX Ser Bebé (Madeira)


Data: 20 de outubro de 2018
Local: Escola Secundária Jaime Franco
Participantes: 50
Conferencistas: Rita Cordovil, Raquel Mari-
cato, Joana Vila Nova, Ariana Oliveira, Sílvia
Araújo de Barros e Lígia Monteiro
Iniciativas anteriores:
• 1º Encontro Regional da Madeira (20 de abril
de 2013)
• 2º Encontro Regional da Madeira (13 e 14 de
julho de 2017)
• XV Ser Bebé (18 de novembro de 2017)
nosnalinha

20
8:30 Abertura do Secretariado
9:15 Sessão de abertura
9:30 Crescer num mundo com risco:
a importância da experiência
Rita Cordovil, Faculdade de Motricidade
Humana

outubro
10:30 Coffee-break

11:00 A creche: espaços de interações


Raquel Maricato e Joana Vila Nova,

2018
Serviços de Apoio à Infância (SASUC),
Coimbra
12:00 Construção da documentação
pedagógica em contexto de creche
Ariana Oliveira, Centro Infantil Olivais Sul,
Lisboa

13:00 Almoço (livre)

MADEIRA 14:30 A transição de bebés para a creche


Sílvia Araújo de Barros, Escola Superior de
Educação do Porto

Escola Secundária 15:30 Relações precoces: o papel do pai


Lígia Monteiro, ISCTE-Instituto
Universitário de Lisboa
Jaime Moniz 16:30 Sessão de Encerramento

PREÇOS DE INSCRIÇÃO

NOVOS ASSOCIADOS 15€

ASSOCIADOS DA APEI
QUE TRAGAM NOVOS 15€
ASSOCIADOS

ASSOCIADOS DA APEI 20€

XX
NÃO ASSOCIADOS 30€

PEDAGOGIA E EDUCAÇÃO NA INFÂNCIA ALUNOS DA


UNIVERSIDADE DA 10€
MADEIRA

Inscrições em: www.apei.pt • /apei.assoc.profissionais.educ.infancia

Apoio:

34 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


XXI Ser Bebé (Braga)
Data: 27 de outubro de 2018
Local: EB 2,3 Dr. Francisco Sanches
Participantes: 160
Conferencistas: Rita Cordovil, Sónia Gomes,
Sílvia Araújo de Barros, Mafalda Coelho e
Brígida Nicolau
Iniciativas anteriores:
• VI Encontro Nacional da APEI (4, 5 e 6 de
junho de 1995)
• 1º Encontro Regional de Braga (12 de no-
vembro de 2016)
• 2º Encontro Regional de Braga (27 de ja-
neiro de 2018)
nosnalinha

27
8:30 Abertura do Secretariado
9:15 Sessão de abertura
9:30 Crescer num mundo com risco: a
importância da experiência
Rita Cordovil, Faculdade de Motricidade
Humana

outubro
10:30 Coffee-break

11:00 O Impacto da permeabilidade entre


o mundo interior e o mundo exterior

2018
na aprendizagem das crianças em
contexto de creche
Sónia Gomes, Centro Infantil Olivais Sul,
Lisboa
12:00 A transição de bebés para a creche
Sílvia Araújo de Barros, Escola Superior de
Educação do Porto

BRAGA
13:00 Almoço (livre)

14:30 Transformação de um contexto no


âmbito da Pedagogia-em-Participação

Agrupamento de Escolas Mafalda Coelho, Infantário-Creche “O


Miúdo”, Amarante
15:30 Trabalho de projeto em Creche
Dr. Francisco Sanches Brígida Nicolau, Creche “Os Palmeirinhos”,
Albufeira
16:30 Sessão de Encerramento

PREÇOS DE INSCRIÇÃO

NOVOS ASSOCIADOS 15€

ASSOCIADOS DA APEI
QUE TRAGAM NOVOS 15€
ASSOCIADOS

ASSOCIADOS DA APEI 20€

NÃO ASSOCIADOS 30€

XXI
DOCENTES DO

PEDAGOGIA E EDUCAÇÃO NA INFÂNCIA


AGRUPAMENTO
DE ESCOLAS GRATUITO
DR. FRANCISCO
SANCHES

Inscrições em: www.apei.pt • /apei.assoc.profissionais.educ.infancia

Apoio:

35 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


: NOTÍCIASDADIREÇÃO

1º Encontro Regional de Coimbra


Data: 10 de novembro de 2018
Local: Centro de Congressos do Centro do
Hospitalar e Universitário de Coimbra
Participantes: 140
Conferencistas: Frederico Lopes, Rosa
Montez, Helena Martinho, Cristina Mes-
quita e Cecília Aguiar
Iniciativas anteriores:
• IV Encontro Nacional da APEI (1, 2, 3, 4 e
5 de abril de 1991)
• V Ser Bebé (7 de novembro de 2009)
• XIII Encontro Nacional da APEI (10 e 11 de
julho de 2015)

1.o ENCONTRO ENCONTROS

REGIONAL REGIONAIS
APEI COIMBRA

DE COIMBRA
Pedagogia 10 novembro 2018

e Currículo Centro de Congressos do Centro


Hospitalar e Universitário de Coimbra

na Educação
Pré-Escolar
09:15 Sessão de Abertura
09:30 A importância do brincar livre em contexto de educação de infância
(Frederico Lopes, Faculdade de Motricidade Humana, Universidade de Lisboa)

10:30 Apresentação do projeto literário “Brincar em todo o lado”, Frederico Lopes


10:45 Coffee-break
11:15 ENCANTA-ME: olhares e sentires na educação de infância
(Rosa Montez, Agrupamento de Escolas Alexandre Herculano, Santarém)

12:15 InPossibilidades na Paisagem


(Helena Martinho, Jardim de Infância do Vimeiro, Agrupamento
de Escolas D. Lourenço Vicente, Lourinhã)

13:15 Almoço
14:45 O que dizem as minhas paredes: mensagens explicitas e implícitas.
(Cristina Mesquita, ESE, CIEB, Instituto Politécnico de Bragança)

15:45 Estatuto social e amizades em contexto de jardim de infância: As perspetivas das


crianças e dos/as educadores/as de infância
(Cecília Aguiar, ISCTE / Instituto Universitário de Lisboa)

16:45 Apresentação do projeto literário “À Espera Do Quê?”, Rosa Montez


17:00 Sessão de Encerramento

PREÇOS DE INSCRIÇÃO
ASSOCIADO 20¤ NOVOS ASSOCIADOS OU ASSOCIADOS QUE CONVIDEM NOVOS ASSOCIADOS 15¤

NÂO ASSOCIADOS 30¤

36 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


1º Encontro Regional de Portalegre
Data: 10 de novembro de 2018
Local: Escola Superior de Educação e Ciên-
cias Sociais
Participantes: 50
Conferencistas: Cristina Parente, Fátima
Aresta, Sílvia Bereny, Ivone Silva e Maria
Isabel Melo
Iniciativas anteriores:
• XIV Ser Bebé (3 de junho de 2017)

1.o ENCONTRO ENCONTROS

REGIONAL REGIONAIS
APEI PORTALEGRE

DE PORTALEGRE
Pedagogia 10 novembro 2018

e Currículo Escola Superior de Educação


e Ciências Sociais

na Educação
Pré-Escolar
09:15 Sessão de Abertura

09:30 Documentar e avaliar na educação de infância para tornar


visíveis as aprendizagens das crianças e dos educadores
(Cristina Parente, Instituto de Educação, Universidade do Minho)

10:30 Coffee-break

11:00 A sala é onde estivermos - (re)pensar a organização do ambiente educativo


(Fátima Aresta, Centro de Atividade Infantil de Évora)

12:00 O Jardim de Infância em movimento - construindo pontes com a cidade


(Sílvia Bereny, OSMOPE Porto – Movimento das Pontes Educativas)

13:00 Almoço

14:30 Todos bonitos, especiais e importantes


(Ivone Silva, Casa da Primeira Infância, Loulé / ESEC Universidade do Algarve)

14:30 Crianças livres, autónomas e criativas. Um contributo


(Maria Isabel Melo, Agrupamento de Escolas Manuel Ferreira Patrício, Évora)

17:00 Sessão de Encerramento

PREÇOS DE INSCRIÇÃO
ASSOCIADO 20¤ NOVOS ASSOCIADOS OU ASSOCIADOS QUE CONVIDEM NOVOS ASSOCIADOS 15¤

NÂO ASSOCIADOS 30¤ ALUNOS DA ESECS 10¤

37 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


: NOTÍCIASDADIREÇÃO

2º Encontro Regional da Guarda


Data: 17 de novembro de 2018
Local: Escola Superior de Tecnologia e Ges-
tão
Participantes: 50
Conferencistas: Elisa Marques, Sílvia Bereny,
Fátima Aresta, Maria José Infante, Raquel Ma-
ricato e Joana Vila Nova
Iniciativas anteriores:
• 1º Encontro Regional da Guarda (11 de feve-
reiro de 2017)

2.o ENCONTRO ENCONTROS

REGIONAL REGIONAIS
APEI GUARDA

DE GUARDA
Pedagogia 17 novembro 2018

e Currículo Escola Superior de Tecnologia


e Gestão da Guarda

na Educação
Pré-Escolar
09:15 Sessão de Abertura
09:30 Real(Idades) na Educação Artística na Infância
(Elisa Marques, Agrupamento Vertical de Escolas Almeida Garrett, Amadora – Coordenou
a Equipa de Educação Estética e Artística do Ministério da Educação/DGE, 2009-2018)

10:30 Coffee-break
11:00 O Jardim de Infância em movimento - construindo pontes com a cidade
(Sílvia Bereny, OSMOPE Porto – Movimento das Pontes Educativas)

12:00 A sala é onde estivermos - (re)pensar a organização


do ambiente educativo
(Fátima Aresta, Centro de Atividade Infantil de Évora)

13:00 Almoço
14:30 Jardim de infância a tempo inteiro - uma realidade do século XXI
(Maria José Infante, Instituto Politécnico de Castelo Branco / Escola Superior de
Educação)

15:30 Da pedagogia da escuta aos projetos múltiplos


(Raquel Maricato e Joana Vila Nova, Serviços de Apoio à Infância (SASUC), Coimbra)

16:30 Sessão de Encerramento

PREÇOS DE INSCRIÇÃO
ASSOCIADO 20¤ NOVOS ASSOCIADOS OU ASSOCIADOS QUE CONVIDEM NOVOS ASSOCIADOS 15¤

NÂO ASSOCIADOS 30¤ PROFESSORES E ALUNOS DO INSTITUTO POLITÉCNICO DA GUARDA GRATUITO

38 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


1º Encontro Regional do Porto
Data: 24 de novembro de 2018
Local: Faculdade de Belas Artes da Univer-
sidade do Porto
Participantes: 250
Conferencistas: Helena Santa-Clara, Rosa
Montez, Cristina Mesquita, Maria Helena
Horta, Ivone Silva
Iniciativas anteriores:
• X Encontro Nacional da APEI (8, 9 e 10 de
maio de 2003)
• VII Ser Bebé (15 de outubro de 2011)
• Conferência Regional do Porto, em parce-
ria com a DGE (29 de outubro de 2016)
• XIV Encontro Nacional da APEI (7 e 8 de
julho de 2017)
• XVIII Ser Bebé (17 de março de 2018)

1.o ENCONTRO ENCONTROS

REGIONAL REGIONAIS
APEI PORTO

DE PORTO
Pedagogia 24 novembro 2018
e Currículo Aula Magna da Faculdade de Belas
Artes da Universidade do Porto

na Educação
Pré-Escolar
09:15 Sessão de Abertura

09:30 Fundamentos para o exercício físico em crianças: a função


do desenvolvimento de competências motoras
(Helena Santa-Clara, Faculdade de Motricidade Humana, Universidade de Lisboa)

10:30 Apresentação do projeto literário “À Espera Do Quê?”, Rosa Montez

10:45 Coffee-break

11:15 ENCANTA-ME: olhares e sentires na educação de infância


(Rosa Montez, Agrupamento de Escolas Alexandre Herculano, Santarém)

12:15 O que dizem as minhas paredes: mensagens explícitas e implícitas.


(Cristina Mesquita, ESE, CIEB, Instituto Politécnico de Bragança)

13:15 Almoço

14:45 O que eu gosto (mesmo) é de escrever! Oportunidades de escrita no jardim de


infância
(Maria Helena Horta, ESEC, Universidade do Algarve / NICA, Universidade dos Açores)

15:45 Todos bonitos, especiais e o importantes


(Ivone Silva, Casa da Primeira Infância, Loulé / ESEC Universidade do Algarve)

16:45 Sessão de Encerramento

PREÇOS DE INSCRIÇÃO

ASSOCIADOS 20¤

NÂO ASSOCIADOS 30¤

NOVOS ASSOCIADOS E ASSOCIADOS DA


15¤
APEI QUE TRAGAM NOVOS ASSOCIADOS

39 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


: NOTÍCIASDADIREÇÃO

1º Encontro Regional de Vila Real


Data: 24 de novembro de 2018
Local: Auditório de Geociências da Universi-
dade de Trás-os-Montes e Alto Douro
Participantes: 90
Conferencistas: Ana Azevedo, Isabel Rego
de Barros, Serviço Educativo do Museu do
Douro, Ana Quitério e Nuno Gonçalves
Iniciativas anteriores:
• XII Ser Bebé (4 de março de 2017)

1.o ENCONTRO ENCONTROS

REGIONAL REGIONAIS
APEI VILA REAL

DE VILA REAL
Pedagogia 24 novembro 2018
e Currículo Auditório de Geociências da UTAD

na Educação
Pré-Escolar
09:15 Sessão de Abertura
09:30 A documentação pedagógica como suporte à aprendizagem
(Ana Azevedo, Delegada Regional do Norte da APEI)

10:30 Coffee-break
11:00 “Não posso ir já para a escola...tenho projetos para acabar!” - Práticas de Projeto
(Isabel Rego de Barros, JI da EB1 nº 6, Agrupamento de Escolas Diogo Cão, Vila Real)

12:00 EU SOU PAISAGEM, Práticas de Educação Artística


(Serviço Eductivo do Museu do Douro)

13:00 Almoço
14:30 Oportunidades educativas para o desenvolvimento integral da criança:
a importância da literacia física
(-Ana Quitério, Faculdade de Motricidade Humana)

15:30 Modos de fazer pedagógico: a voz das crianças… um encantador caminho


de descobertas, aprendizagens e conquistas
16:30 (Nuno Gonçalves, Centro Social Paroquial de Chaves)
Sessão de Encerramento

PREÇOS DE INSCRIÇÃO

ASSOCIADOS 20¤ NOVOS ASSOCIADOS E ASSOCIADOS DA APEI QUE TRAGAM NOVOS ASSOCIADOS 15¤

NÂO ASSOCIADOS 30¤ ALUNOS DA UTAD 10¤

40 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


: NASBANCAS:APEI
Carlos Neto e Frederico Lopes, Brincar em todo o lado, 2018 1

O livro Brincar em todo o lado, é da autoria de Carlos Neto é professor catedrático na Fa- que educam e/ou trabalham com crianças
Carlos Neto e Frederico Lopes, numa edição culdade de Motricidade Humana (FMH) da e jovens, está apresentada de forma muito
da Associação de Profissionais de Educação Universidade de Lisboa (UL). É presidente da apelativa, com inúmeras fotografias que ilus-
de Infância (APEI). Casa da Praia-Centro Doutor João dos Santos tram o texto, e escrita com uma linguagem
A APEI, consciente de que as "crianças de hoje e representante português da International acessível, sem descurar a sua componente
também brincam, mas brincam de forma dife- Play Association (IPA). Além de inúmeras ou- conceptual e científica que a suporta.
rente. O aparecimento de novas tecnologias, tras atividades, foi fundador da Sociedade de Nas palavras de Carlos Neto, "Brincar não é
a institucionalização dos tempos livres, a falta Educação Física, é membro de diversas revis- só um direito é uma necessidade. Brincar não
de contacto com a natureza, a inexistência tas científicas, onde tem publicado vários tra- deve ser uma imposição mas uma descober-
de espaço livre para brincar, a diminuição de balhos, bem como livros e capítulos de livros ta. Brincar/jogar não é só uma ideia é uma
autonomia de mobilidade, a densidade de trá- relacionados com o desenvolvimento motor vivência. O jogo não é um processo definido
fego, são alguns dos constrangimentos atuais e o ensino da educação física nos primeiros é um processo aleatório. Jogar/brincar não é
que impedem as crianças de terem acesso ao níveis de escolaridade, o jogo e o desenvol- só incerteza é uma forma acrescida de ganhar
jogo livre" (p. 11), e tendo sempre o desen- vimento da criança. segurança e autonomia" (p. 9).
volvimento saudável e os direitos da criança, Frederico Lopes é investigador, consultor e Nesse sentido, o livro encontra-se organizado
em particular, e a qualidade da educação de formador nas áreas do jogo e da participa- por assuntos, todos eles diretamente relacio-
infância em geral, como foco da sua atenção, ção infantil. No seu doutoramento estudou nados com o brincar e com a sua importância
decidiu editar este livro em outubro de 2018. a relação entre a criança, a mobilidade ativa e para o desenvolvimento holístico da criança,
o ambiente urbano. É cofundador do projeto pois esta atividade de «jogo (brincar = jogo
1 Recensão crítica feita por Maria Helena Horta, Escola “1,2,3, macaquinho do chinês”, cuja missão é de exploração) é uma linguagem universal
Superior de Educação e Comunicação da Universida-
de do Algarve (ESEC/UAlg) | Núcleo Interdisciplinar da a provisão do brincar livre. que ultrapassa crenças, espaços geográficos
Criança e do Adolescente da Universidade dos Açores Esta publicação, destinada a todos aqueles e diversidade de culturas» (p. 23), contribuin-
(NICA/UAc) do para o desenvolvimento de competências
motoras, sociais e cognitivas.
Na sua introdução o livro faz alusão ao con-
tacto e à exploração da natureza por parte
da criança, porque a «nossa infância é pro-
fundamente marcada pelas experiências
de contacto com a natureza, efetuadas em
companha dos pais, dos amigos e também
sozinho» (p. 11).
Apresenta a definição de brincar como a
adaptação «a situações imprevisíveis, através
de ações diversas, na utilização do corpo em
espaços físicos e na relação com os outros»
(p. 17), além de apresentar as suas caracterís-
ticas, referindo-o como livre e um direito da
criança, entre outros aspetos.
O porquê do brincar e ser ativo, no desen-
volvimento das suas capacidades adaptati-
vas, da sua autoconfiança, de competências
motoras e cognitivas, de regulação emo-
cional, da relação social, no confronto com
adversidades e no desenvolvimento de uma
cultura de sobrevivência, é entendido como
um “tempo para crescer” na exploração do
ambiente, na vivência do próprio corpo, na
imprevisibilidade e no controlo emocional da
criança.

41 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


São também apresentados os (inúmeros) brincar e ser ativo na sala de aula e no re- quecer que "Se brincarmos vamos ser adultos
benefícios do brincar, descrevendo os dife- creio desenvolve o cérebro, contribuindo mais completos"!
rentes tipos de jogo, bem como o seu poder, para mais sucesso escolar;
como uma linguagem universal e com carac- nos espaços exteriores as crianças desen-
terísticas ancestrais, salientando que "pode- volvem a atividade natural e espontânea de
-se reaprender a brincar" (p. 30), em qual- "brincar por brincar", por isso é assinalada
quer fase da nossa vida, acrescentamos nós. a necessidade de criar oportunidades para
Porque brincar e ser ativo implica correr as crianças se exprimirem e desfrutarem das
riscos - entendidos como uma necessida- incertezas dos espaços exteriores, sejam
de biológica e cultural da sobrevivência da construídos ou naturais.
espécie humana para ganhar competências Na parte final do livro é referido que "brincar
motoras, cognitivas, emocionais e sociais no e ser ativo na infância equivale a ser feliz,
futuro - é salientada a importância do risco empreendedor e ter sucesso na idade adul-
e da segurança na normal atividade da crian- ta" (p. 94) e os pais, educadores e cuida-
ça, sendo apresentadas diferentes formas dores podem fazer a diferença no sentido
de brincar e de tipos de jogos na infância. de aumentar e diversificar as possibilidades
Carlos Neto impressionou quando referiu de brincadeira nas crianças nos diferentes
publicamente que, atualmente, «os prisio- espaços públicos urbanos, posto que são
neiros têm mais tempo livre fora das ce- apresentadas inúmeras sugestões de como
las nas prisões do que as crianças no seu o fazer, reconhecendo o direito a brincar com
quotidiano» pois dados "recentes indicam autonomia.
que 70% das crianças portuguesas brincam É ainda relembrada a importância e a neces-
menos de uma hora por dia e passam uma sidade premente de repartir o tempo passado
grande parte do dia sentadas e quietas em na escola e em família, relembrando que, por
casa e na escola" (p. 47). Nesse sentido, são norma, "as crianças não têm nada para nos
abordados os constrangimentos e as limi- contarem se não tiverem tempo livre para
tações ao brincar, diretamente relacionados brincar" (p. 111), por isso é lançada a provoca-
com o sedentarismo e o analfabetismo mo- ção libertem as crianças:
tor que está presente nas crianças portu- • de estarem sentadas e quietas;
guesas. • para brincarem livremente;
O papel dos pais e dos educadores sobre • para correrem mais riscos;
o brincar também não ficou esquecido, em • da superproteção patológica;
particular no que à desconstrução dos me- • dos medos dos adultos;
dos e à autonomia das crianças diz respei- • da literacia lúdica e motora;
to, salientando o controlo inibidor, a super- • das agendas muito estruturadas;
proteção adulta e a gestão do tempo e do • da falta de participação;
espaço para as crianças brincarem, muitas • da falta de autonomia e de mobilidade.
vezes praticada de forma inconsciente – a Em forma de conclusão, é relembrado que o
denominada “cultura do medo” - e fazendo "equilíbrio entre 8 horas para dormir, 8 horas
referência às áreas de intervenção necessá- de trabalho e 8 horas para descanso e lazer
rias para o normal desenvolvimento do jogo não está a ser respeitado. Pais cansados e em
de atividade física, como sejam a habitação, “stress”, por excesso de número de horas de
a escola e a saúde mental. trabalho, e crianças com agendas excessivas
Importa, por isso, brincar em diversos con- de tempo escolar e extra-escolar, não permite
textos: pensar na existência de tempo disponível para
«poder brincar em casa, e de preferência uma relação equilibrada e saudável do tempo
com os pais, é uma condição fundamental para brincar em família" (p. 111).
para o equilíbrio físico e emocional da crian- Parafraseando os alunos do Agrupamento de
ça» (p. 65); Escolas de S. João do Estoril, importa não es-

42 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


: NASBANCAS:EDUCAÇÂO
Teresa Vasconcelos, Viagens de uma Viajante, Ecos da vida de uma educadora-cidadã, Edições Colibri, outubro de 2018
Nuno Lobo Antunes, Sentidos. O grande livro das perturbações do desenvolvimento e comportamento, Lua de Papel, novembro de 2018
Eduardo Sá, Livro de Reclamações das Crianças. Em cada zanga mora um abraço, Lua de Papel, novembro de 2018

Os pais têm sempre dúvidas. Mais ainda quan- "Às vezes, os meus pais zangam-se comi-
do os filhos revelam perturbações de desen- go sem razão.
volvimento ou comportamento. Felizmente, E eu zango-me com eles com razão."
há respostas. E elas estão neste livro. Pedro, 5 anos
Em Portugal há milhares de crianças com
perturbações de desenvolvimento ou com- O Pedro tem certa-
portamento. São diferentes os diagnósticos, mente razão. Mas,
sintomas e gravidade. Mas acarretam sempre, quem sabe, talvez
em diferentes escalas, um abalo familiar. Só os os pais dele tam-
pais, ou cuidadores, sabem a tarefa que têm bém tenham. Bom
em mãos, em casa, na escola ou na sociedade. mesmo era que con-
Parece que o mundo desaba. versassem e que se
Mas não tem de desabar. O neuropediatra ouvissem. E que às
Nuno Lobo Antunes, ao longo de décadas, reclamações de uns
tratou com sucesso centenas de crianças. E e outros fosse sem-
nos últimos anos, no PIN, foi acompanhado pre dada a devida
nessa tarefa por pediatras, pedopsiquiatras, atenção. Porque,
psicólogos, terapeutas da fala ou da sexuali- se virmos bem,
Qualquer ato profis- dade, técnicos de educação especial. Juntos entre as crianças e
sional é político, o que implica gestos de produziram, agora, o mais completo livro por- os adultos cavam-
cidadania. Alguém um dia me interpelou: tuguês sobre as perturbações de desenvolvi- -se de vez em quando fossos, onde deveria
"Tu devias contar a tua vida profissional mento e comportamento - da sexualidade, à haver apenas pontes.
que foi tão interessante." Fiquei a pen- adição à internet, dos problemas do sono aos É aqui que entra o Livro de Reclamações
sar nisso durante largos anos. É verdade comportamentos de oposição e desafio. das Crianças, onde elas, de viva voz, dizem
que tive uma vida profissional sempre rica Cada uma delas é explicada por quem sabe, e de sua justiça. Não são meigas, acertam
(…). Sim, mais do que pautar a minha vida todas são vistas numa perspectiva abrangente sempre em cheio, e às vezes até magoam
pelas etapas normais de uma carreira aca- - porque raramente vêm sós. um pouco. Para responder às angústias do
démica, procurei orientá-la por projetos, Sobre todas elas encontrará aqui as respostas: Pedro e de tantas outras crianças, surgiu
no compromisso com o serviço público à como se diagnostica, como se trata, a farma- este livro. A pensar nos mais pequenos, mas
educação. cologia, o papel dos pais e dos cuidadores. sobretudo nos adultos: "Só queremos que
Fui escrevendo notas soltas e, num que- perceba que cada uma destas crianças podia
rido mês de agosto, (…) iniciei a parte ser a sua. E que, por delicadeza, por medo,
mais descritiva deste livro. Não pretendo ou por bondade, talvez a sua diga com os
escrever uma história de vida no sentido olhos aquilo que outras crianças foram ca-
científico do termo. Escrevo histórias e pazes de nos dizer a conversar."
descrevo lugares e viagens da minha vida. Vamos então ouvi-las. E dar-lhes espaço
Limitei-me a fazer este processo como se para se manifestarem. Mas de coração
me reflectisse a mim própria, projetada em aberto, com a ternura à espreita, porque
vários espelhos. Tentei caminhar para den- mesmo quando elas reclamam pelas gu-
tro de mim, revisitando o meu percurso de loseimas, não é de guloseimas que estão
vida e procurando olhar esse percurso de a falar. Exercitam antes o seu direito fi-
um modo mais subjectivo. losófico de nos questionar na nossa au-
toridade de grandes que se esqueceram
do que é ser criança.

43 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


Gianni Rodari; Ilustração: Alessandro Sanna, Inventando Números, Kalandraka, março de 2018
Vânia Beliz , Chamar as Coisas Pelos Nomes. Como e quando falar sobre sexualidade, Arena PT, agosto de 2018
Ariana Cosme, Autonomia e Flexibilidade Curricular. Propostas e Estratégias de Ação - Ensino Básico e Ensino Secundário, Porto Editora, no-
vembro de 2018

O maior obstáculo à educação sexual começa


no significado que damos à palavra "sexua-
lidade". Mais do que uma palavra que nem
sempre compreendemos bem, é, isso sim,
uma fatia fundamental da vida, que não deve
ser ignorada por pudor, desconhecimento ou
medo.
Este livro, da autoria de uma das maiores es-
pecialistas em educação sexual do nosso país,
é uma ferramenta essencial para lhe dar apoio
na compreensão de cada fase do desenvolvi-
mento da criança, do adolescente e do jovem,
e inclui todos os conselhos e informação de
que precisa para os educar para uma vida feliz
e completa.
Vamos lá falar do assunto?

Fiel à promes- Esta é uma obra que pretende disponi-


sa de contar todas as noites uma história à bilizar às professoras e aos professores
sua filha, apesar da distância que os separa, portugueses um instrumento que lhes
o Senhor Bianchi telefona-lhe e as suas his- permita construir as suas próprias inicia-
tórias são tão deliciosas que as operadoras de tivas e projetos, no âmbito dos desafios
telecomunicações paralisam as linhas para o educativos para os quais são convocados
ouvir. Neste jogo-diálogo surgem perguntas por via da promulgação do Decreto-Lei n.º
tão verosímeis como a da distância entre dois 55/2018.
lugares, e outras tão surpreendentes como Trata-se de um livro onde se propõe uma
quanto pesa uma lágrima ou quanto mede reflexão inicial sobre os fundamentos
uma história. As respostas transpiram enge- curriculares e pedagógicos do Projeto de
nho, imaginação e criatividade, qualidades de Autonomia e Flexibilidade Curricular, em
Gianni Rodari que também estão presentes função dos quais se possam compreen-
num outro álbum do mesmo autor publica- der alguns dos desafios e exigências re-
do pela Kalandraka, "Baralhando histórias", lacionados com o processo de operacio-
igualmente ilustrado por Alessandro Sanna, e nalização deste projeto. A segunda parte
que são um dos ingredientes indispensáveis está mais focalizada em propostas e es-
para o crescimento dos primeiros leitores. tratégias de ação, adquirindo uma maior
relevância quer o processo de construção
dos DAC, quer a abordagem da Pedagogia
do Projeto, das Comunidades de Aprendi-
zagem e da Avaliação (como condição do
desenvolvimento de aprendizagens mais
significativas), quer as estratégias que
possam contribuir para promover e esti-
mular a cooperação docente.

44 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


: NASBANCAS:INFANTIL
Xosé Ballesteros, Ilustração: Miguel Tanco, Os Três Ursos. Kalandraka, agosto de 2018
Manuel António Pina , O têpluquê e outras histórias, Porto Editora, março de 2018
Marianna Coppo, Uma História, Kalandraka, setembro de 2018

Era uma
vez três ursos que viviam numa cabana da
floresta. Um era grande, o outro era mé-
dio e o último era pequeno. Os três ursos Era uma vez uma página em branco... En-
levantavam-se cedo todos os dias e pre- tre as simpáticas personagens desta obra
paravam o seu pequeno-almoço de papas apenas uma opta por aproveitar o tempo
de aveia. enquanto as outras se limitam a aguardar
Um dia, porém, as papas estavam muito pela chegada de uma história que teima
quentes e os três ursos decidiram ir dar Brincar com as palavras é divertido! em não vir. À medida que divagam não
um passeio enquanto o pequeno-almoço É isso mesmo que faz o autor, Manuel dão conta que o seu companheiro está a
arrefecia. Pela floresta andava também António Pina, neste livro para saborear e construir em seu redor um mundo de cor, e
uma menina de caracolinhos dourados. sorrir. isto apenas com a ajuda de uns lápis e da
Como era muito curiosa, aproximou-se da Encontre aqui o Guião de Exploração e as sua imaginação ilimitada. Por fim a história
cabana e espreitou pela janela para ver Fichas de Leitura. chega, mas…
quem lá vivia e decidiu entrar... Um mergulho nos bastidores de um livro,
no livro sem fim ou no livro dentro do livro,
Uma adaptação de Xosé Ballesteros do mas também uma reflexão sobre o con-
conto clássico de Robert Southey. formismo e a apatia frente à iniciativa, à
audácia e à vontade.

45 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


Luísa Ducla Soares; Ilustração: Rita Duque, Uns Óculos para a Rita, Porto Editora, novembro de 2017
Richard Zimler Se eu fosse... Porto Editora, julho de 2018
Oliver Jeffers, Aqui Estamos Nós. Apontamentos para viver no Planeta Terra, Orfeu Negro, setembro de 2018.

Imagine ser capaz de voar como uma bor-


boleta, saltar como um canguru ou esprei-
tar o cimo das árvores como uma girafa.
Todos sabemos que as crianças, frequen-
temente, fantasiam que conseguem ad-
quirir as características extraordinárias dos
Plano Nacional de Leitura animais, desde os mais pequenos aos mais
Livro recomendado para o 1º ano de escolari- majestosos. E é bom que o façam! Porque Plano Nacional de Leitura
dade, destinado a leitura orientada. os mais jovens têm de "viver" estas trans- Livro recomendado para o 1º ano de es-
Há crianças que resistem a usar óculos por- formações e ter aventuras libertadoras para colaridade, destinado a leitura orientada.
que acham que eles as desfavorecem. Mas se tornarem adultos criativos e imaginativos,
não reparam que os óculos servem de mol- capazes de realizar os seus sonhos. Há crianças que resistem a usar óculos
dura a uns lindos olhos. Se eu fosse… é um livro que encoraja as porque acham que eles as desfavore-
Com eles o mundo, de repente, torna-se mais crianças (e talvez os seus pais também!) cem. Mas não reparam que os óculos
rico, mais nítido e colorido. Conseguem ver a a ultrapassar as suas limitações. Este livro servem de moldura a uns lindos olhos.
formiga atarefada, o botão que caiu na car- convida os mais jovens a nadar como um Com eles o mundo, de repente, torna-
pete, a pintinha do i, o berlinde que rebolou peixe tropical ou a cantar como um melro -se mais rico, mais nítido e colorido.
para longe. - ou até mesmo a afastar os banhistas da Conseguem ver a formiga atarefada, o
Passam de alunos desatentos a garotos inte- praia com o "sorriso" de um tubarão! botão que caiu na carpete, a pintinha
ressados. E começam a ter boas notas… do i, o berlinde que rebolou para longe.
Passam de alunos desatentos a garotos in-
teressados. E começam a ter boas notas…

46 Cadernos de Educação de Infância n.º 115 Set/Dez 2018


2.o ENCONTRO ENCONTROS
1.o ENCONTRO ENCONTROS
2.o ENCONTRO ENCONTROS

REGIONAL REGIONAIS
APEI SETÚBAL REGIONAL REGIONAIS
APEI BEJA REGIONAL REGIONAIS
APEI VISEU

DE SETÚBAL DE BEJA DE VISEU

Pedagogia 9 fevereiro 2019 Pedagogia 16 fevereiro 2019 Pedagogia 16 fevereiro 2019


e Currículo Auditório da Escola Superior e Currículo Escola Superior de Educação
e Currículo Escola Superior de Tecnologia
e Gestão de Viseu

na Educação
de Ciências Empresariais

na Educação na Educação
Pré-Escolar Pré-Escolar Pré-Escolar
09:15 Sessão de Abertura
09:15 Sessão de Abertura
09:30 Real(Idades) na Educação Artística na Infância 09:15 Sessão de Abertura
(Elisa Marques, Agrupamento Vertical de Escolas Almeida Garrett, Amadora –
09:30 Horários, tempos controlados, atividades repetitivas e fichas
na abordagem à escrita no jardim de infância – Será isto
09:30 Documentar e avaliar na educação de infância para tornar
Coordenou a Equipa de Educação Estética e Artística do Ministério da Educação/DGE, 2009-2018) visíveis as aprendizagens das crianças e dos educadores
compatível com os princípios e fundamentos das OCEPE?
10:30 Coffee-break (Cristina Parente, Instituto de Educação, Universidade do Minho)
(Lourdes Mata, ISPA - Instituto Universitário)

11:00 InPossibilidades na Paisagem 10:30 Coffee-break 10:30 Coffee-break


(Helena Martinho, Jardim de Infância do Vimeiro, 11:00 Jardim de Infância a tempo inteiro - uma realidade do século XXI
11:00 Crianças livres, autónomas e criativas. Um contributo
Agrupamento de Escolas D. Lourenço Vicente, Lourinhã) (Maria José Infante, Instituto Politécnico de Castelo
(Maria Isabel Melo, Agrupamento de Escolas Manuel Ferreira Patrício, Évora)
12:00 Ivone Silva, Casa da Primeira Infância, Loulé / ESEC, Branco/Escola Superior de Educação)
12:00 Educar para a sexualidade desde a infância: estratégias e desafios
Universidade do Algarve 12:00 Estereótipos e preconceitos em contexto educativo: riscos ou desafios?
(Vânia Beliz, Psicóloga Clínica e da Saúde, Mestre em Sexologia)
(Todos bonitos, especiais e o importantes) (Joana Dias Alexandre, ISCTE)
13:00 Almoço
13:00 Almoço
13:00 Almoço
14:30 Desenhar a aprendizagem e facilitar o desenvolvimento
14:30 O que eu gosto (mesmo) é de escrever! Oportunidades
motor na educação pré-escolar 14:30 Todos bonitos, especiais e o importantes
de escrita no jardim de infância
(Vanda Correia, ESEC, Universidade do Algarve / CIPER/FMH, Universidade de Lisboa) (Ivone Silva, Casa da Primeira Infância, Loulé / ESEC Universidade do Algarve)
(Maria Helena Horta, ESEC, Universidade do Algarve e NICA,
Universidade dos Açores) 15:30 A documentação pedagógica como suporte à aprendizagem 15:30 Compreender e regular as emoções: o papel do jogo
(Ana Azevedo, Delegada Regional do Norte da APEI) na promoção da competência emocional
15:30 Desenhar a aprendizagem e facilitar o desenvolvimento
(Guida Veiga, Departamento de Desporto e Saúde, Escola de Ciências
motor na educação pré-escolar 16:30 Sessão de Encerramento
e Tecnologia, Universidade de Évora)
(Vanda Correia, ESEC, Universidade do Algarve / CIPER/FMH, Universidade de Lisboa)
16:30 Sessão de Encerramento
16:30 Sessão de Encerramento

PREÇOS DE INSCRIÇÃO

ASSOCIADOS 20¤
PREÇOS DE INSCRIÇÃO PREÇOS DE INSCRIÇÃO
NÂO ASSOCIADOS 30¤
ASSOCIADOS 20¤ NOVOS ASSOCIADOS E ASSOCIADOS DA APEI QUE TRAGAM NOVOS ASSOCIADOS 15¤
ASSOCIADOS 20¤ NOVOS ASSOCIADOS E ASSOCIADOS DA APEI QUE TRAGAM NOVOS ASSOCIADOS 15¤
NOVOS ASSOCIADOS E ASSOCIADOS DA
15¤ NÂO ASSOCIADOS 30¤ DOCENTES E ALUNOS DO INSTITUTO POLITÉCNICO DE BEJA GRATUITO
APEI QUE TRAGAM NOVOS ASSOCIADOS NÂO ASSOCIADOS 30¤ ALUNOS DA ESCOLA SUPERIOR DE TECNOLOGIA E GESTÃO DE VISEU 10¤

nosnalinha
2.o ENCONTRO
1.o ENCONTRO
9
ENCONTROS

REGIONAL
9:15 Abertura do Secretariado
9:30 Sessão de abertura REGIONAIS
ENCONTROS APEI BRAGANÇA
REGIONAL
10:30 “A creche de pernas para o ar”:

REGIONAIS
discursos, processos e práticas assentes

DE BRAGANÇA
nos direitos da criança
APEI LISBOA Catarina Tomás, Instituto Politécnico de
Lisboa / CICS.NOVA.FCSH NOVA

DE LISBOA março 10:30 Coffee-break

11:00 Transformando a planificação

2019
pedagógica: Um estudo em contexto
de creche
Carina Ferreira, Centro Infantil Olivais Sul,

Pedagogia
Fundação Aga Khan

9 março 2019
12:00 Transformação de um contexto no

Pedagogia
âmbito da Pedagogia-em-Participação
Mafalda Coelho, Infantário-Creche “O

23 fevereiro 2019 Miúdo”, Amarante

e Currículo Colégio Pedro Arrupe


COIMBRA 13:00 Almoço

14:30 Pedagogia em creche: Contributos


e Currículo Escola Superior de Educação

na Educação
das interfaces entre formação
Centro de Congressos do e investigação

na Educação
Sara Araújo, Escola Superior de Educação,
Centro Hospitalar e Instituto Politécnico do Porto

Pré-Escolar
14:30 (Rot)atividade em Creche:
Universitário de Coimbra uma experiência piloto com grupos de

Pré-Escolar 2 anos
Ana Benites e Andreia Carvalho, Casa da
Criança Maria Granado, Fundação Bissaya
Barreto
16:30 Sessão de Encerramento
09:15 Sessão de Abertura
09:15 Sessão de Abertura
09:30 Fundamentos para o exercício físico em crianças: a função
do desenvolvimento de competências motoras 09:30 Real(Idades) da Educação Artística na Infância
(Helena Santa-Clara - Faculdade de Motricidade Humana) (Elisa Marques, Agrupamento Vertical de Escolas Almeida Garrett, Amadora – Coordenou
a Equipa de Educação Estética e Artística do Ministério da Educação/DGE, 2009-2018)
10:30 Apresentação do projeto literário “À Espera Do Quê?”, Rosa Montez
10:30 Coffee-break
10:45 Coffee-break

11:15 ENCANTA-ME: olhares e sentires na educação de infância


11:00 Uma experiência de atelier no jardim de infância
(Rosa Montez, Agrupamento de Escolas Alexandre Herculano, Santarém) (Raquel Maricato e Joana Vila Nova, Serviços de Apoio à Infância / SASUC, Coimbra)

12:15 InPossibilidades na Paisagem 12:00 A sala é onde estivermos - (re)pensar a organização do ambiente educativo
(Helena Martinho, Jardim de Infância do Vimeiro, Agrupamento PREÇOS DE INSCRIÇÃO (Fátima Aresta, Centro de Atividade Infantil de Évora)
de Escolas D. Lourenço Vicente, Lourinhã)
13:00 Almoço
13:15 Almoço NOVOS ASSOCIADOS 15€
14:30 O que eu gosto (mesmo) é de escrever! Oportunidades de escrita no jardim de infância
14:45 O que eu gosto (mesmo) é de escrever! Oportunidades (Maria Helena Horta, ESEC, Universidade do Algarve / NICA, Universidade dos Açores
ASSOCIADOS DA APEI
de escrita no jardim de infância QUE TRAGAM NOVOS 15€
ASSOCIADOS
(Maria Helena Horta, ESEC, Universidade do Algarve / NICA, Universidade dos Açores) 15:30 O que dizem as minhas paredes: mensagens explicitas e implícitas.
15:45 O que dizem as minhas paredes: mensagens explicitas e implícitas. (Cristina Mesquita, ESE, CIEB, Instituto Politécnico de Bragança)
(Cristina Mesquita, ESE, CIEB, Instituto Politécnico de Bragança) ASSOCIADOS DA APEI 20€
16:30 Sessão de Encerramento
16:45 Sessão de Encerramento

XXII
NÃO ASSOCIADOS 30€

PEDAGOGIA E EDUCAÇÃO NA INFÂNCIA


PREÇOS DE INSCRIÇÃO PREÇOS DE INSCRIÇÃO

ASSOCIADOS 20¤ NOVOS ASSOCIADOS E ASSOCIADOS DA APEI QUE TRAGAM NOVOS ASSOCIADOS 15¤ ASSOCIADOS 20¤ ASSOCIADOS DA APEI QUE TRAGAM NOVOS ASSOCIADOS 15¤
Inscrições em: www.apei.pt • /apei.assoc.profissionais.educ.infancia
NÂO ASSOCIADOS 30¤ PROFESSORES E EDUCADORES DO COLÉGIO PEDRO ARRUPE GRATUITO NÂO ASSOCIADOS 30¤
PROFESSORES E EDUCADORES
GRATUITO
DO INSTITUTO POLITÉCNICO DE BRAGANÇA
NOVOS ASSOCIADOS 15¤
nosnalinha

nosnalinha
1.o ENCONTRO
REGIONAL
DE FARO
ENCONTROS
REGIONAIS
APEI FARO

março
23 30
março
2019 2019
Pedagogia 16 março 2019
e Currículo Anfiteatro 1.5, Complexo
Pedagógico do Campus da Penha, PORTO CASCAIS
na Educação
Universidade do Algarve
Auditório Magno do Colégio Sra. Boa Nova
Instituto Superior Estoril
Pré-Escolar de Engenharia
09:15 Sessão de Abertura
09:30 Horários, tempos controlados, atividades repetitivas e fichas na abordagem
à escrita no jardim de infância – Será isto compatível com os princípios
e fundamentos das OCEPE?
(Lourdes Mata, ISPA - Instituto Universitário)

10:30 Apresentação do projeto literário “À Espera Do Quê?”, Rosa Montez


10:45 Coffee-break
11:15 ENCANTA-ME: olhares e sentires na educação de infância
(Rosa Montez, Agrupamento de Escolas Alexandre Herculano, Santarém)

12:15 Há vida na horta: nada nasce do nada


(Helena Colaço & Vera Poeira, Jardim de Infância Nª Sª da Piedade, Odemira)

13:15 Almoço
14:45 Documentar e avaliar na educação de infância para tornar visíveis as
aprendizagens das crianças e dos educadores
(Cristina Parente, Instituto de Educação, Universidade do Minho)

15:45 Desenhar a aprendizagem e facilitar o desenvolvimento motor


na educação pré-escolar
(Vanda Correia, ESEC, Universidade do Algarve / CIPER/FMH, Universidade de Lisboa)

17:00 Sessão de Encerramento

ASSOCIADOS

NÂO ASSOCIADOS
20¤

30¤
PREÇOS DE INSCRIÇÃO

NOVOS ASSOCIADOS E ASSOCIADOS DA APEI QUE TRAGAM NOVOS ASSOCIADOS

ALUNOS DA UNIVERSIDADE DO ALGARVE


15¤

10¤
XXIII PEDAGOGIA E EDUCAÇÃO NA INFÂNCIA
XXIV PEDAGOGIA E EDUCAÇÃO NA INFÂNCIA

4.o ENCONTRO 3.o ENCONTRO ENCONTROS


ENCONTROS
REGIONAL REGIONAIS

REGIONAL
CICLO DE
REGIONAIS APEI AÇORES
APEI MADEIRA

DA MADEIRA DOS AÇORES

Pedagogia
e Currículo
Pedagogia
e Currículo
na Educação
12 julho 2019
Auditório VIII, Ponta Delgada,
Universidade dos Açores SEMINÁRIOS
na Educação
Pré-Escolar
Pré-Escolar
09:15 Sessão de Abertura
09:30 Currículo, estratégias e aprendizagens - a centralidade da ação
do profissional de ensino e educação
(Maria do Céu Roldão, Universidade Católica Portuguesa, Porto)

10:30 Coffee-break
2019
11:00 Conversas em torno da escrita no jardim-de-infância
(Margarida Alves Martins, Centro de Investigação em Educação, ISPA)

12:00 “A importância da educação pré-escolar no sucesso escolar no 1º ciclo


(Lurdes Veríssimo, Universidade Católica Portuguesa, Porto)

13:00 Almoço
14:30 ENCANTA-ME: olhares e sentires na educação de infância
(Rosa Montez, Agrupamento de Escolas Alexandre Herculano, Santarém)

15:30 Educação de Infância: um ninho da democracia


(Laborinho Lúcio - Juiz Conselheiro Jubilado do Supremo Tribunal de Justiça)

11 16:30 Sessão de Encerramento

maio
2019
Museu de PREÇOS DE INSCRIÇÃO

Eletricidade "Casa
ASSOCIADOS 20¤ NOVOS ASSOCIADOS E ASSOCIADOS DA APEI QUE TRAGAM NOVOS ASSOCIADOS 15¤

da Luz"
NÂO ASSOCIADOS 30¤ ALUNOS DA UNIVERSIDADE DOS AÇORES 10¤

47
Edição
exclusiva

APEI

Na janela da sua casa, o caracol aguarda por algo


enquanto vão passando vários amigos.
Admirados perguntam-lhe o que está a fazer.
Em solidadriedade todos eles ficam à espera.
À espera do quê?
Esta é uma história com suspense
escrita por Rosa Montez e ilustrada
por Sofia Ambrósio.

Edições APEI
PVP: 13,10€
Associados da APEI (20%): 10,50€
Para quantidades superiores a 10
livros (30%): 9€

Pode encomendar o seu livro em:


administrativo@apei.pt

Marque já
uma apresentação na sua escola!
(rosamontez@sapo.pt ou anasofiaambrosio@hotmail.com)
6 E 7 JULHO 2I0 19
LA FLOR
TURAL V
GUIMARÃES

CE NTRO CUL

XVI
ENCONTRO NACIONAL

A EDUCAÇÃO ARTÍS
TICA
FÂNCIA
NA EDUCAÇÃO DE IN

INSCRIÇÕES: WWW.APEI.PT

COMUNICAÇÕES · WORKSHOPS · CONVERSAS · MOMENTOS CULTURAIS · APRESENTAÇÕES · ATELIERS


EXPOSIÇÕES · DEBATES · EXPRESSÃO DRAMÁTICA · ILUSTRAÇÃO · STORYTELLERS · MARIONETAS
ARTE URBANA · LIVROS POP-UP · ARQUITETURA · DESIGN · CURADORIA · ENCENAÇÃO · SOMBRAS

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