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Rede2020
VOLUME 4 NÚMERO 5 SETEMBRO-OUTUBRO 2008

Ana Paula Faria


Transferir
tecnologia
Jónatas Virgílio
Avaliar políticas públicas Lopes
Missão cumprida
Natália Barbosa
Sílvia Fernandes
Inovação em
O anjo literário PMEs
Vanda Lima
João de Mancelos
Sistemas
integrados de
gestão
Tom Waits
Sílvio Brito
António F. Tavares Somos
empreendedores?
João Leitão
Empreendedoris-
mo e
performance
Vasco Eiriz
Cadeia de valor
virtual

Comunidades
Max Planck
Institute of
Economics

Revistas
Geografia
económica
Rede2020
GESTÃO ▪ ESTRATÉGIA ▪ MARKETING
e m p r e e n d e r . b l o g s p o t . c o m

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Para obter números anteriores da Rede2020 Neste número da Rede2020, António F. Tava-
pode aceder a vasco.eiriz.googlepages.com/
res apresenta-nos mais uma obra musical mar-
rede2020 e efectuar a extracção dos
cante, enquanto João de Mancelos efectua a
respectivos ficheiros.
recensão de uma outra obra, neste caso sobre
a vivência da escrita.
Colaboradores
Em textos diversos, a inovação e a tecnolo-
Para colaborar com a Rede2020 deverá
gia requerem a atenção de Sílvia Fernandes,
consultar o ficheiro intitulado "Convite à
colaboração" disponível em Ana Paula Faria e eu próprio.
vasco.eiriz.googlepages.com/rede2020. Natália Barbosa debruça-se sobre a avalia-
ção de políticas públicas e Vanda Lima escreve
sobre sistemas integrados de gestão.
Edição Finalmente, Jónatas Virgílio Lopes relata a
Vasco Eiriz sua experiência de vida na China, em si uma
vasco.eiriz@gmail.com vivência empreendedora, enquanto João Leitão
vasco.eiriz.googlepages.com e Sílvio Brito se dedicam, em diferentes artigos,
ao empreendedorismo.

Empreender
www.empreender.blogspot.com Vasco Eiriz
Empreender é um blogue associado à
Rede2020.
EM REDE2020
ANÁLISE

4 Avaliar políticas públicas


Natália Barbosa
Tradicionalmente, em Portugal, os diferentes organismos responsáveis pela implementação e
execução de políticas e programas têm privilegiado indicadores de execução financeira e/ou
execução física.

RECENSÃO

9 O anjo literário
João de Mancelos
Em que momento mágico nos tornamos escritores? Qual o anjo literário que nos visita? E por
que motivo nos dedicamos à ficção ou à poesia? Estas são as questões levantadas pelo autor
guatemalteco Eduardo Halfon.

ANÁLISE

6 Empreendedorismo e performance João Leitão


8 Como avaliar se somos empreendedores? Sílvio Brito
14 Sistemas integrados de gestão Vanda Lima
16 Inovação em PMEs Sílvia Fernandes
17 Transferir tecnologia Ana Paula Faria
ARTE E BOA VIDA

11 Tom Waits António F. Tavares


EXPERIÊNCIA

13 Missão cumprida Jónatas Virgílio Lopes


SOCIEDADE ANÓNIMA

18 Cadeia de valor virtual Vasco Eiriz


RECURSOS

5 Comunidades
12 Revistas
3
ANÁLISE

Avaliar políticas
públicas
Natália Barbosa
Universidade do Minho

A avaliação de políticas e programas de tido consequências na formação e fideliza-


incentivo ao desenvolvimento económico, ção de público”. Ora, esta argumentação
cultural ou social de um país reveste-se sugere que indicadores de execução finan-
sempre de elevada importância. Tradicional- ceira (certamente que o orçamento em
mente, em Portugal, os diferentes organis- cada um dos casos foi totalmente gasto!) e/
mos responsáveis pela implementação e ou execução física perderam relevância na
execução de políticas e programas têm pri- avaliação de políticas e programas públicos.
vilegiado indicadores de execução financeira Em sua substituição, parecem emergir indi-
e/ou execução física. Assim, estabelecem-se cadores/critérios de avaliação associados à
como indicadores de avaliação a percenta- adicionalidade que as políticas e programas “Uma política ou
gem da despesa efectuada relativamente à geram.
orçamentada, o número de empresas que O termo adicionalidade remete-nos para programa será
beneficiaram dos programas, o número pes- a avaliação e quantificação dos efeitos que bem sucedida se
soas que assistiram a eventos culturais orga- as políticas e programas públicos provocam
nizados no âmbito de uma programa de nos públicos - alvo (p. ex. empresas, traba- gerar acréscimos
cariz cultural, número de trabalhadores que lhadores, espectadores, escolas) para além (económicos,
frequentaram formação profissional, entre do que estes agentes habitualmente execu-
outros. Este tipo de indicadores pode ainda tariam. Isto é, uma política ou programa culturais, ou
ter variantes associadas à desagregação geo- será bem sucedida se gerar acréscimos outros) que se
gráfica (p. ex. número de empresas com (económicos, culturais, ou outros) que se
projecto apoiados por determinado progra- devem unicamente à implementação de tais devem
ma por distrito). O uso exclusivo deste tipo politicas ou programas. Naturalmente, esta unicamente à
de indicadores conduzirá certamente a uma é a questão central na avaliação mas tam-
sobreavaliação do sucesso de uma qualquer bém o é de difícil quantificação. Exige que se implementação
política ou programa. Por outro lado, incen- defina o horizonte temporal no qual a exis- de tais políticas
tiva os agentes a gastarem os meios finan- tência ou não de adicionalidade deverá ser
ceiros disponíveis, relegando para segundo avaliada e que se proceda a uma análise ou programas”
plano o alcance de outras metas. comparativa entre um contexto de ausência
Há algum tempo a ex-ministra da cultura de politicas e um contexto de implementa-
anunciou o fim de um dos programas de ção de políticas. Ora, é este último aspecto
incentivo ao desenvolvimento cultural e de que muitas vezes torna pouco credíveis as
acesso a eventos culturais, designado por avaliações efectuadas, por não serem capa-
Capitais Nacionais da Cultura, com o argu- zes de controlar todos os factores que
mento de que os projectos executados, determinam os resultados observados após
Coimbra/2003 e Faro/2005, “não tinham a implementação de políticas.

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Setembro-Outubro 2008 4
COMUNIDADES

Max Planck Institute of


Economics
«The Max Planck Institute of Economics, founded in The institute is part of the Max Planck Society for the
1993 as Max Planck Institute for Research into Economic Advancement of Science, Germany's largest research
Systems with the intention to research the transition of organization. The Max Planck Society employs some
the former socialist economic systems, now conducts 4,200 researchers in some 80 institutes in both the sci-
research on a broad set of problems relating to change in ences and the humanities.
modern economies more generally, experimental econom- The Max Planck Institute is located in Jena, a midsize
ics, and entrepreneurial studies. It is organized into three town located halfway in between Berlin and Munich and
research units. Evolutionary Economics Group (director: halfway in between Frankfurt and Dresden.
Ulrich Witt), the Strategic Interaction Group (director: Situated above the banks of the Saale river in a beautiful
Werner Güth) and the Entrepreneurship, Growth and garden, the institute features state-of-the-art office and
Public Policy Group (director: David B. Audretsch). seminar facilities, as well as accommodation for visiting
The Scientific advisory board of the institute is made scholars. The institute's library holds some 25.000 vol-
up of Richard Day - Los Angeles (chair); Siegfried Berning- umes and has subscriptions to some 200 periodicals,
haus - Karlsruhe, Simon Gächter - Nottingham, Jean Luc including all major economic journals.»
Gaffard - Sophia Antipolis-Nice, Steven Klepper - Pitts-
burgh, Hartmut Kliemt - Duisburg, Franco Malerba -
Milano, Stanley Metcalfe - Manchester, Richard Nelson - Max Planck Institute of Economics
New York, Bart Nooteboom - Tilburg. www.econ.mpg.de

Max Planck Institute of Economics

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Setembro-Outubro 2008 5
ANÁLISE

Empreendedorismo
e performance

João Leitão
Universidade Técnica de Lisboa

A capacidade individual de empreendedo- práticas de gestão participativa.


rismo é um conceito recente. Esta capaci- No que respeita à performance econó-
dade diz respeito ao poder do indivíduo mica das organizações, esta é afectada,
para determinar a performance e o sucesso positivamente, pelo desenvolvimento de
de uma organização. actividades inovadoras, pela existência de
No quadro teórico respeitante à gestão uma estrutura organizacional eficiente e
das organizações, são detectáveis diversos pelo uso de indicadores externos orienta-
estudos sobre o impacte de diferentes dos para a melhoria da performance. Por
tipos de capital, designadamente, o huma- seu turno, a performance económica é
no, o organizacional, o social, o relacional e ainda afectada, negativamente, pelo uso de
o intelectual sobre a performance econó- intuição dos dirigentes na condução das
mica das organizações. actividades principais da organização.
Tendo em consideração o conceito e as Deve realçar-se que a única variável que
evidências empíricas sobre o impacte da impacta, positivamente, sobre os dois tipos
tipologia de capitais sobre o nível de per- de performance das organizações é, exac-
formance das organizações, surgiu-nos a tamente, a existência de uma estrutura “A capacidade
ideia, a mim, João Leitão e, ao Mário Fran- organizacional eficiente.
co, de propor e testar um modelo concep- Os resultados desta investigação são individual de
tual que permitisse aferir do real impacte e particularmente importantes pois sugerem
da natureza das relações estabelecidas a necessidade de desenhar programas for- empreendedoris
entre a referida capacidade individual de mais orientados para o reforço da propen-
empreendedorismo e a performance das são para o desenvolvimento de actividades
organizações. inovadoras no contexto organizacional,
mo é composta
Neste sentido, considerou-se que a mas focados no indivíduo e nos colabora-
capacidade individual de empreendedoris- dores tanto internos como externos. por duas
mo é composta por duas unidades de capi- Para promover a performance não eco-
tal fundamentais: o humano e o organiza- nómica das organizações, os responsáveis unidades de
cional. Esta é uma formulação parcial e pela gestão das organizações devem apos-
passível de expansão que, contudo, consti- tar no fomento do entusiasmo colocado no capital
tui uma abordagem inovadora, dada a falta trabalho, bem como na criação de incenti-
de estudos acerca da importância de dife- vos internos para a discussão interdiscipli- fundamentais: o
rentes tipos de capital, ao nível do indiví- nar e para o diálogo crítico e respeitador
duo, e dentro de uma organização, em pelas diferenças. Além disso, deve realçar- humano e o
termos da determinação tanto da perfor- se que os responsáveis devem evitar a
mance económica (ou seja, o valor acres- entropia que, por vezes, tem origem na organizacional”
centado) como da performance não eco- realização de reuniões de carácter inter-
nómica (isto é, o grau de satisfação dos departamental e na adopção de práticas de
colaboradores) das organizações. gestão participativa que contemplam os
Os resultados obtidos apontam no sen- interesses individuais ou de grupos, mais
tido de que, por um lado, a performance ou menos organizados, mas não os interes-
não económica das organizações é afecta- ses institucionais, nem tão pouco os verda-
da, positivamente, pelo entusiasmo coloca- deiros interesses individuais de superação
do no trabalho, pelos incentivos à discus- diária da performance da organização onde
são interdisciplinar e diálogo, e pela exis- trabalha.
tência de uma estrutura organizacional
eficiente. Por outro lado, a performance
não económica das organizações é afectada
negativamente pela realização de reuniões
inter-departamentais e pela aplicação de

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Setembro-Outubro 2008 6
Balanço e demonstração de resultados
2007
2006

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Setembro-Outubro 2008 7
ANÁLISE

Como avaliar
se somos
empreendedores? Sílvio Brito
Instituto Politécnico de Tomar

Como podemos saber se somos modo a elogiá-las e trabalharmos projec-


empreendedores? Empreender pode tra- tos intensivos como programar inquéritos
duzir-se na perseguição dos sonhos, na sobre temas da comunidade local ou
concretização das ideias ou na elaboração empresarial, efectuar um concurso de
de planos criativos. Quando temos algo inventos ou organizar uma semana de “Seremos
em mente que queremos desenvolver e criatividade torna o processo viável e pos-
não podemos, temos de procurar alguém sível para nos encontrarmos a nós mes- capazes de
que nos apoie, alguém que vai além do mos e expandirmos a nossa criatividade, a
nosso conhecimento e do conhecimento nossa capacidade que nos possibilita ser avaliar a
de nós mesmos e da recolha de informa- empreendedores.
ção. Todavia, apenas a parceria não chega. Portanto, uma observação possível
capacidade de
Simplesmente porque como seres seria o uso de uma escala de frequência,
empreender? A
atitudinais que somos, e dado o empreen- entre o "nunca" e o "quase sempre", acer-
dedorismo ser uma atitude perante a vida, ca da renuncia de ideias e submissão meu ver, a
poderemos evidenciar que a capacidade pública das mesmas, sobre a timidez,
de empreender merece e deve ser avalia- sobre o desânimo perante as dificuldades. resposta é sim, e
da. Porém, a avaliação, acima de tudo, Para complementar as observações pode-
deve incluir a forma como é educada, e aí ríamos efectuar um questionário com porque não
procurar entender ser criativo – se por- perguntas de temas, tais como: capacidade
que se educa e que estratégias e planifica- de alcance de objectivos na vida, infusão torná-la num
ção contribuem para a sua formação, ou de receios, alternativas entre a obediência
seja, ter confiança em si próprio. e o ser livre. exame de
Desenvolver um processo neste senti- Seremos então capazes de avaliar a
do é essencial para observarmos as con- capacidade de empreender? A meu ver, a consciência
dutas que materializam esta atitude. resposta é sim, e porque não torná-la
Escrever frases curtas indutoras de con- num exame de consciência quotidiano? quotidiano?”
fiança em nós próprios, escolher as Melhoraria a vida das sociedades, e em
melhores e solicitarmos a opinião de muito.
alguém próximo de nós ou do público, de

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Setembro-Outubro 2008 8
RECENSÃO

O anjo
literário João de Mancelos
Universidade Católica Portuguesa

Em que momento mágico nos torna- as peripécias, os delitos, os sofrimen-


mos escritores? Qual o anjo literário tos de um bandoleiro alemão. As suas
que nos visita? E por que motivo nos aventuras. Os seus furtos e condena-
dedicamos à ficção ou à poesia? Estas ções. Vira as páginas com irreprimível
são as questões levantadas pelo autor ansiedade até que, algumas horas
guatemalteco Eduardo Halfon (1971-) mais tarde, regressa ao início e come-
na sua obra mais recentemente publi- ça a ler tudo de novo. (…) Através “Recorrendo à
cada em Portugal, O Anjo Literário — do pirata, entende-se a si mesmo. E biografia e à
um livro diferente de tudo o que li tudo, pensa Hermann, apenas com a
ficção, Halfon
até hoje. palavra escrita” (p. 25).
Recorrendo à biografia e à ficção, Também o leitor de O Anjo Literá- recria um dia
Halfon recria um dia ou dias na vida rio se sente encantado, ao percorrer
ou dias na vida
dos seus homens de letras favoritos: com Hesse o bosque da terra natal;
Hermann Hesse, Raymond Carver, ao espreitar Carver, sentado numa dos seus
Ernest Hemingway, Steve Ratliff (a lavandaria em Iowa City, a meditar homens de
pretexto de Ricardo Piglia), e Vladi- sobre a vida, a família, as contas por
letras favoritos:
mir Nabokov. Nestas breves narrati- saldar; ao beber rum com Heming-
vas, o objectivo do autor é descrever way, no Café des Amateurs, em Paris; Hermann
o instante epifânico em que um indiví- ao conversar sobre a arte da escrita
Hesse,
duo sente o chamamento para a com Ratliff, madrugada dentro, num
escrita, “deixa de ser uma virgem lite- bar mal-afamado, onde nem sequer Raymond
rária e começa a fazer amor com as falta uma lolita de treze anos; ao apa- Carver, Ernest
palavras” (p. 32). nhar uma chuvada, num parque de
Hemingway,
Por exemplo, na primeira história Vyra, ao lado de Nabokov que,
— “A Magia Faz Falta” —, Halfon repentinamente, rabisca o seu primei- Steve Ratliff (a
imagina o pequeno Hermann, de cas- ro poema e desperta para as letras.
pretexto de
tigo por ter roubado onze figos numa Halfon permite-nos testemunhar a
feira. Sozinho, no sótão escuro, o vida privada de todos estes autores e Ricardo Piglia),
rapazito facilmente teria medo ou se assistir ao momento em que um anjo e Vladimir
aborreceria, não fosse encontrar, literário, simultaneamente luciferino e
Nabokov”
num caixote de cartão, um livro de divinal, desceu sobre eles, e os fez
piratas: “Abre-o. Na primeira página, cair na literatura.
em forma de lâmina, vê o retrato de No entanto, este não é um livro
um bucaneiro com um gancho, com fácil de classificar — e aqui reside a
uma perna de pau e uma sombria pala sua originalidade, mas também a sua
sobre o olho esquerdo. Começa a ler (Continua na página 10)

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Setembro-Outubro 2008 9
RECENSÃO

(Continuação da página 9) e arrasta-nos para os nossos próprios


infernos” (p. 124). E, poisado este
fraqueza. Muitas vezes, Halfon inter- livro fragmentário, mas belo, quase
rompe a narrativa do dia mágico de me apetece dizer: ámen.
um determinado romancista, contista
ou poeta, para invocar outros escri- Referência: Halfon, Eduardo. O Anjo
tores, afastados no tempo e no espa- Literário [El Ángel Literário]. Trad. Sofia
ço. Por exemplo, no conto sobre Rodrigues e Virgílio Viseu. 1ª ed. Lis-
Raymond Carver, encaixa uma entre- boa: Cavalo de Ferro Editores, 2008.
vista com Sergio Ramírez, um escritor ISBN: 978-989-623-075-3
da Nicarágua; apresenta um bosquejo
biográfico de Jorge Luís Borges; refe-
re pormenorizadamente um encontro
em Madrid com Andrés Trapiello,
autor de uma biografia sobre Cervan-
tes, etc.
Estas digressões — outros diriam
intromissões — distraem da leitura e
quebram o encantamento que Halfon
tanto preza. O próprio autor está
consciente do carácter heterogéneo
da sua obra: “um estranho mosaico
de ideias, relatos, anedotas e entrevis-
tas” (p. 123). Contudo, tais interrup-
ções também revelam e acentuam a
natureza deste livro: uma viagem pelo
mundo e pela palavra, para desvendar
o mistério da criação literária. Mas
haverá uma resposta? Halfon afirma:
“As pessoas entram e saem da litera-
tura sem saberem porquê. E talvez o
simples facto de fazer a pergunta seja
aproximarmo-nos demasiado do sol,
pois a razão nunca poderá compreen-
der manifestações do espírito estéti-
co. Nunca. Sem pedir permissão, nem
perdão, o anjo literário assoma, eleva-
nos efemeramente até alguns paraísos

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Setembro-Outubro 2008 10
VINIL
Por António F. Tavares

Tom Waits
Nighthawks at the Diner
Asylum, 1975

América passada e a separação entre


o espaço interior, mais acolhedor, e
o espaço exterior, mais hostil, aju-
dam a melhorar o imaginário que
acompanha o disco de Waits. (A pro-
pósito de Hopper, se um dia ganhar
o Euromilhões, compro um original.)
Depois há esse detalhe das can-
ções. Ainda não falei delas. Piano e
voz bastam a este crooner genial, que
não necessita de exposição mediática
para se fazer rodear por uma legião
de admiradores. Mas a banda que o
acompanha, torna todo este affair
ainda mais apetecível, na linha de um
excelente clube de jazz que não tem
Os alucinogénios alimentaram a pro- tar a minha inveja pelo estado de hora prevista de fecho. As longas
dução literária de Huxley. Bukowski embriaguez permanente de Tom explicações entre canções são
era incapaz de escrever uma linha Waits quando produziu esta obra momentos hilariantes, ao nível do
sem a companhia da garrafa. O ópio magistral, gravada ao vivo em 1975, melhor cómico de stand-up:
era o motor do génio de Burroughs. entre uma mão cheia de privilegiados, “Conheço uma mulher que já casou
E até os Beatles só foram verdadeira- num estúdio em Hollywood, Califór- tantas vezes que até tem marcas de
mente geniais com a ajuda do LSD e nia. O ambiente no estúdio lembra- arroz na cara.” Pois… para isso é
da Cannabis. A ideia recorrente de nos um piano bar fumarento, pintado preciso viver muito e de modo espe-
que a genialidade depende da inges- com cortinas de veludo roxo e deco- cial, mais ou menos a história de vida
tão em quantidades desmesuradas de rado com fregueses colados ao bal- do músico. Tom Waits não precisa
substâncias aditivas incomoda-me. cão, face a um empregado entediado de elogios; precisa que o ouçamos a
Desde que casei e adoptei um saudá- pela ausência de gorjetas que com- viver.
vel horário de trabalho que a única pensem o diálogo mantido com as
substância que consumo em doses moscas de bar embriagadas.
excessivas é a cafeína. Inspira-me a Mas há sempre a possibilidade de
actividade científica e académica, mas eu estar enganado quanto a este
temo que os resultados em termos ambiente. O título do disco – Nigh-
de crítica musical sejam deprimentes, thawks at the Diner – é inspirado pelo
Leia a crítica de "Spirit of Eden” de Talk
como o poderá comprovar esta cró- fabuloso quadro do pintor do realis- Talk no número de Julho-Agosto de 2008 da
nica vazia de ideias. mo americano Edward Hopper. A Rede2020
Este intróito serve para manifes- representação da luz, a nostalgia da

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Setembro-Outubro 2008 11
REVISTAS

INTERNATIONAL JOURNAL OF
JOURNAL OF ECONOMIC
ECONOMIC GEOGRAPHY URBAN AND REGIONAL
GEOGRAPHY
RESEARCH

The aims of the Journal of Eco- Economic Geography, founded A groundbreaking forum for intel-
nomic Geography are to rede- and published quarterly at Clark lectual debate, IJURR is at the
fine and reinvigorate the inter- University since 1925, is the lead- forefront of urban and regional
section between economics and ing English-language journal de- research. With a cutting edge
geography, and to provide a voted to the study of economic approach to linking theoretical
world-class journal in the field. geography and is widely read by development and empirical re-
The journal is steered by a dis- academics and professionals search, and a consistent demand
tinguished team of Editors and an around the world. Highlighting for quality, IJURR encompasses
Editorial Board, drawn equally the publication of theoretically- key material from an unparalleled
from the two disciplines. It pub- based empirical articles and case range of critical, comparative and
lishes original academic research studies of significant theoretical geographic perspectives. Embrac-
and discussion of the highest trends that are taking place within ing a multidisciplinary approach to
scholarly standard in the field of the field of economic geography, the field, IJURR is essential read-
'economic geography' broadly the journal serves as a forum for ing for social scientists with a
defined. Submitted papers are high-quality and innovative schol- concern for the complex, chang-
refereed, and are evaluated on arship. In keeping with the inter- ing roles and futures of cities and
the basis of their creativity, qual- national scope and impact of this regions.
ity of scholarship, and contribu- work, Economic Geography fo-
tion to advancing understanding cuses upon the exciting new re-
of the geographic nature of eco- search ideas and analyses emerg-
nomic systems and global eco- ing from scholarly networks
nomic change. throughout the world. Each issue
includes feature articles and re-
views of recently published
books.

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Setembro-Outubro 2008 12
EXPERIÊNCIA

Missão
cumprida Jónatas Virgílio Lopes

Pois é como o tempo passa depressa. Dois da prisão, perante os guardas e adversários)
semestres de estudos já passaram e só falta um estou procurando não negar a ninguém um olá
mês e tal para me completar um ano na China. ou um bom dia. Talvez eu esteja escrevendo
Repassando as fitas da lembrança, faço stop minha intenção e não minha acção mas prossi-
em alguns cenários para melhor apreciar o go para a alcançar.
meu processo de adaptação. Quem diria; este Outra experiência marcante, o terramoto.
crioulo a quem o cheiro e o gosto da comida Vivemos dias fatídicos, sonos mal dormidos
eram estranhos, hoje está perfeitamente habi- (pudera, com a cama a tremer como dormir
tuado (desde que não tenha óleo e picante em bom sono?). Por duas vezes tive que dormir ao
demasia, costume desta cidade). relento (pois deram por inseguro dormir em
Os caracteres que pareciam desenhos hoje casa). Mas isto é nada quando penso em tudo
os escrevo (ou as desenho?) e posso lê-los não o que passou às localidades que estão a três
apenas em textos de livros escolares (um pou- horas e/ou menos daqui.
co mais acessível pois são elaboradas de acor- Quanto ao Povo e diferenças ideológicas “Dois
do com nosso nível de estudo da língua) mas ou de fé. Tenho aprendido que o principal é
semestres de
também em revistas, hinários da igreja e sabermos quem somos e o que queremos.
outros. Não conheço ainda todos os caracte- Quando estamos convictos do nosso caminho estudos já
res e logo nem todas as palavras posso com- pessoas nos respeitam.
preender o sentido, mas posso compreender o Sou o que sou em qualquer país comunista passaram e só
texto pelos caracteres e palavras que já conhe- ou democrata, ateu ou deista. O que faz a
falta um mês
ço. diferença é a nossa segurança e minha seguran-
No estudo, tenho adoptado o método dos ça está na Palavra de Deus que me diz que Mil e tal para
chineses. Levantar de manhã para treinar a cairão ao meu lado e dez mil à minha direita
leitura nos parques (em voz alta, eles lendo o mas eu não serei atingido, que não devo temer completar um
inglês e eu o chinês), estudar à tarde, à noite nem espantar pois meu Deus está comigo
ano na
(às vezes). Tive amigos esplêndidos que me (Josué 1:9).
ajudaram no estudo e sou muito grato a eles. Desporto: Hu Shu (Kung Fu) tive três China”
Outro desafio tem sido conviver com pes- meses de aulas. Cansado mas 很有意思(hen
soas de todo o mundo. Culturas e hábitos
you yisi =vale a pena). Uma última pausa é num
diferentes, pensamentos diferentes. Minha
cenário de euzinho à frente de uma mesa de
habilidade para gerir relacionamentos tem
ténis a jogar Ping Pong (乒乓球). Coisa que
aumentado e de que maneira. Esta competên-
cia me servirá no mundo do trabalho. Viver vou fazer assim que acabar de digitar estas
numa comunidade internacional requer muita cenas mentais. Comecei a jogá-lo há uns qua-
paciência e respeito. Tendo isto retiramos do tro meses, (não de uma forma continuada, mas
relacionamento muitas alegrias, por vezes as agora com as férias tenho mais tempo). Já
contrariedades são mais, mas procuro fazer de estou a ficar viciado, aspecto fundamental para
tudo para manter o bom relacionamento. se tornar bom. Só devo é tomar cuidado quan-
Como Nelson Mandela fazia (durante o tempo do começar os estudos.

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Setembro-Outubro 2008 13
ANÁLISE

Sistemas
Integrados
de gestão Vanda Lima
Instituto Politécnico do Porto

Os sistemas integrados de gestão são seus sistemas de gestão de segurança e


sistemas que integram os processos saúde ocupacional surgiu a OHSAS
relacionados com a qualidade, com os 18001. Esta norma tem como objectivo
de gestão ambiental e/ou com os de dotar as organizações de capacidade de
segurança e saúde no trabalho. controlo dos seus riscos nos domínios
A certificação de sistemas de gestão da saúde e segurança.
da qualidade, tendo como referência a Quer a OHSAS 18001, quer a ISO
norma ISO 9001 tem sido o tipo de cer- 14001 foram desenvolvidas de forma a
tificação mais vulgarizada no seio das serem compatíveis com a ISO 9001, de
“As principais
organizações. Em Portugal, as taxas de modo a permitirem a integração dos
crescimento da certificação ISO 9001 três sistemas. Assim, os sistemas inte- vantagens dos
têm-se situado na ordem dos 15 por grados de gestão são actualmente consi-
cento e, em termos de sectores de acti- derados como importantes componen-
sistemas
vidade, tem-se assistido a um cresci- tes das organizações porque agregam integrados estão
mento significativo do número de certi- "valor" aos seus processos e melhoram
ficações nos serviços, tendo mesmo o seu desempenho. associadas ao
ultrapassando as tradicionais áreas da De facto, as principais vantagens melhoramento
certificação da qualidade, como a indús- dos sistemas integrados estão asso-
tria ou a construção. ciadas ao melhoramento da gestão da gestão dos
No que respeita à certificação de dos processos internos, do desempe- processos
sistemas de gestão ambiental, é a norma nho organizacional e da satisfação dos
ISO 14001 que estabelece as especifica- clientes. A opção por estes sistemas internos, do
ções deste tipo de sistema, sendo apli- tem, com certeza, um custo e um desempenho
cável a organizações de qualquer tipo e gasto de tempo associado claramente
dimensão. A proliferação de certifica- superior aos implicados num único organizacional e
ções desta natureza em Portugal tem sistema. Contudo, a implementação
da satisfação dos
atingido taxas de crescimento na ordem de um sistema integrado de gestão
dos 40 por cento. Contudo, em valores garante que as questões relacionadas clientes”
absolutos, o número de certificações de com a qualidade, ambiente e seguran-
sistemas de gestão ambiental representa ça estão salvaguardadas, elevando
aproximadamente 15 por cento do desta forma a imagem da organização
número de certificações de sistemas de face às que apenas possuem um tipo
gestão da qualidade. de certificação.
Para responder à necessidade sentida
pelas organizações de existir uma nor-
ma que reconhecesse a certificação dos
Rede2020 Volume 4 Número 5
Setembro-Outubro 2008 14
Rede2020
conhecimento
tecnologia
inovação
aprendizagem
ANÁLISE

Inovação em
PMEs Sílvia Fernandes
Universidade do Algarve

A economia portuguesa pode tornar- Contudo, o sucesso depende do


se uma das mais flexíveis da Europa, modo como as PME criam conheci-
pelo elevado número de PME exis- mento. Por um lado, novo conheci-
tentes (pequenas e médias empresas). mento pode entrar em ruptura com a
Dada a sua maior orientação local, cultura empresarial localmente enrai-
mais importante do que analisar o zada e pôr em causa o sistema produ-
contributo das PME no sistema nacio- tivo local. Por outro, não podem per-
nal de inovação, é explorar o seu sistir meios inovadores fechados em
papel na criação de sistemas regionais tradições pois perdem a visão estra-
de inovação. Este processo só pode tégica da evolução dos mercados.
ser eficazmente observado no tempo, Embora as PME tenham uma
através de uma análise dinâmica menor propensão para inovar, devido
baseada em observações das altera- a limitações de recursos e pessoal
ções na interacção entre as empresas especializado, o efeito líquido do seu
e o meio. dinamismo tem contribuído para o
Para isso, há que fomentar uma emprego e desenvolvimento local. A “O sucesso
maior capacidade empreendedora e sua flexibilidade estrutural proporcio-
depende do
uma maior ligação destas empresas na uma grande capacidade de inser-
com as instituições locais de I&D ção territorial, o que potencia a sua modo como as
(investigação e desenvolvimento). Isto inovação. O seu menor poder nego-
PME criam
requer mudanças ao nível do modelo cial constitui uma barreira, pelo que é
económico e da própria cultura na sua estreita ligação com actores conhecimento”
empresarial: as empresas têm que ser locais que reside o seu potencial de
mais competitivas e dinâmicas, confiar crescimento. A comparação de estu-
e cooperar mais entre si e participar dos sobre inovação em Portugal evi-
mais na I&D externa por forma a dencia que as parcerias de I&D têm-
atrair investimento externo. É preci- se processado de modo lento. É fun-
so não descurar este enfoque, para damental que as PME se tornem dili-
que possam internacionalizar a sua gentes na gestão integrada da inova-
inovação pela aprendizagem/ ção com o seu negócio e com as
conhecimento e não pela imitação. necessidades do meio.
É possível encontrar padrões dinâ-
micos de inovação em certos secto-
res e áreas geográficas, em resultado
do forte investimento nos últimos
anos em infra-estruturas tecnológicas.

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ANÁLISE

Transferir
tecnologia Ana Paula Faria
Universidade do Minho

Uma questão importante no âmbito da empresas quer em termos de receitas


política de financiamento da investigação quer em termos de volume de emprego
científica e inovação é saber como maxi- é ainda modesta. Apesar de haver casos
mizar a transferência de conhecimento e de empresas que se tornam grandes
tecnologia dos centros de investigação empresas, a grande maioria sobrevive
para a actividade económica. São vários sem nunca crescer significativamente.
os mecanismos possíveis de transferência Relativamente a este último ponto é inte-
da nova tecnologia, por exemplo, contra- ressante referir que as empresas que se “Uma questão
tos de licenciamento, contratos de inves- encontram estagnadas em ambos indica-
tigação, mobilidade de cientistas, incuba- dores de crescimento referidos, perten- importante no
doras e "spin-offs". Estes últimos são o cem ao sector da biotecnologia mais tra-
mecanismo de transferência de tecnolo- dicional, verificando-se casos de cresci- âmbito da
gia com maior visibilidade dado o seu mento apenas em termos de receitas,
potencial impacto no desenvolvimento resultantes da exploração de produtos política de
económico da região onde se inserem. É desenvolvidos no passado.
neste contexto que o estudo dos "spin- Quais são então os factores que mais financiamento
offs" tem vindo a assumir uma crescente condicionam o crescimento destas
relevância na literatura. empresas? A resposta a esta questão não
da investigação
Não existe uma definição única do é fácil uma vez que os estudos realizados
conceito "spin-off", por vezes designado até ao momento não apresentam resulta-
de spin-out, no entanto, em geral, "spin- dos unânimes. No entanto, alguns facto- científica e
off" refere-se a uma empresa criada espe- res surgem como mais relevantes na
cificamente para comercializar uma tec- explicação do fenómeno. Assim, os "spin- inovação é saber
nologia desenvolvida numa universidade offs" com maior sucesso são aqueles que
ou instituto público. Portanto, trata-se de são financiados com capital de risco, já como maximizar
um "spin-off" ou spin-out académico uma têm alguma idade e um número maior de
vez que a tecnologia pertence ou foi patentes. Além destas variáveis, a tecno- a transferência
desenvolvida por um investigador com logia e a função de produção que lhe está
ligação a uma universidade. Apesar deste subjacente também explicam porque em de conhecimento
ser um fenómeno relativamente recente, certos casos a dimensão também é rele-
podemos reter alguns aspectos interes- vante. Por exemplo, na nanotecnologia as e tecnologia dos
santes dos estudos até agora desenvolvi- empresas de maior dimensão têm vanta-
dos. gens na sub-nanotecnologia dos instru- centros de
Primeiro, o número de "spin-offs" mentos, enquanto as empresas pequenas
continua a ser relativamente reduzido, no se especializam na nanotecnologia dos investigação
máximo 12 por ano, estando sobretudo materiais. Além destes aspectos, os "spin-
ligados a instituições com grande prestí- offs" também tem problemas relaciona- para a
gio. Segundo, verifica-se uma concentra- dos com a falta de competências dos pro-
ção nas áreas de conhecimento, 50 a 60 fessores universitários na área da gestão,
actividade
por cento dos "spin-off" são em biotec- finanças e marketing, o que sustenta o
nologia e 30 a 40 por cento em tecnolo- argumento de que as empresas já instala-
gias de informação. Terceiro, a forma de das no mercado têm melhores condições económica”
negócio pode ser diversa, verificando-se para comercializar uma nova tecnologia
sobretudo três tipos: consultadoria, desenvolvida na universidade.
desenvolvimento de tecnologia e explora-
ção de produto, neste caso direccionado
para pequenos segmentos de mercado.
Quarto, a dimensão e crescimento das

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SOCIEDADE ANÓNIMA
Por Vasco Eiriz

Cadeia de valor virtual

O sistema de informação surge como o meio de que a organização dispõe para criar valor, utili-
zando informação que possibilite a integração dos processos físicos e dos processos virtuais.
Num contexto competitivo em que os ainda que bem real. ções estruturadas de acordo com
factores intangíveis da competitividade A informação é hoje um dos princi- modelos clássicos, é também verdade
adquirem uma importância crescente, pais factores de competitividade. Per- que muitas outras têm utilizado inteli-
tem sido destacado o papel da informa- mite, por um lado, ganhos de eficiência gentemente esse recurso para se posi-
ção como elemento omnipresente na operacional e eficácia no alcance de cionarem no mercado.
estratégia de uma organização. É atra- objectivos, da mesma forma que altera À informação tem sido conferido o
vés dela que a organização se relaciona as bases da concorrência em muitas papel de elemento de suporte e apoio
com o seu ambiente, interpreta as indústrias. A forma como a informação aos processos físicos da organização. A
necessidades e características do mer- é gerida e utilizada pela organização criação de valor através da informação
cado, adquire conhecimentos, fomenta provoca alterações nas forças competi- requer não só o seu apoio às activida-
competências e publicita a sua oferta. tivas que moldam a rentabilidade duma des da organização, mas também o
A informação pode constituir-se indústria. desenvolvimento de processos virtuais.
assim como um recurso precioso ao As relações com clientes, fornece- O sistema de informação surge
serviço duma organização. Compete ao dores e concorrentes evoluem de um como o meio de que a organização
sistema de informação da organização contexto de trocas discretas para um dispõe para criar valor, utilizando infor-
gerir esse recurso, identificando os contexto de interactividade permanen- mação que possibilite a integração dos
dados necessários, procurando fontes te, a convergência tecnológica desen- processos físicos e dos processos vir-
de recolha de dados, recolhendo e volve novas necessidades e produtos tuais. Cabe-lhe a recolha, organização,
tratando dados e utilizando e arquivan- substitutos, a ameaça de novos concor- selecção, síntese e distribuição da
do informação com proveito para a rentes intensifica-se e as fronteiras informação. Ou seja, a informação tem
organização. organizacionais tornam-se difusas. o mesmo tratamento que é dado a um
A arquitectura de um sistema de Se bem que o advento da informa- processo industrial de transformação
informação deve partir da ideia que os ção como recurso estratégico lance de matérias-primas em produtos aca-
negócios se desenvolvem em dois pal- novos desafios e ameaças às organiza- bados.
cos completamente distintos, mas
complementares. Num dos palcos, as
organizações movem-se num mundo
de recursos físicos, tangíveis. No outro
palco, os gestores actuam num mundo
virtual, constituído por informação.
Nestes dois mundos, os processos de
criação de valor são diferentes.
Cada vez mais, o sucesso depende
da capacidade que as organizações
tenham em conjugar o melhor dos dois
mundos. Ou seja, a informação surge
como uma nova seiva que corre no
corpo das operações clássicas de apro-
visionamentos, produção e distribui-
ção.
Na era digital, a base competitiva
dos negócios e indústrias evoluiu de
um mundo exclusivamente físico para
um outro em que este aparece inapela-
velmente associado a um contexto de
concorrência feita no palco virtual,

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EM REDE2020
Natália Barbosa é professora no Departamento de Sílvio Brito é licenciado em Gestão dos Recursos
Economia da Universidade do Minho. É Ph.D. in Econo- Humanos e Psicologia do Trabalho pelo ISLA, Mestre em
mics pela Universidade de Manchester, Reino Unido; Gestão, na área do Comportamento Organizacional, pela
Mestre em Comércio Internacional pela Universidade do Universidade Lusíada, e Doutor em Psicologia Evolutiva e
Minho; e Licenciada em Economia pela Faculdade de Eco- da Educação, pela Universidad de Extremadura, Espanha
nomia do Porto. As suas áreas de interesse são a dinâmica Email: silvio.brito@ipt.pt
empresarial e investimento directo estrangeiro. Para além
de artigos de divulgação que versam estes tópicos, tem
trabalhos publicados em revistas científicas internacionais.
Email: natbar@eeg.uminho.pt

Vasco Eiriz edita a Rede2020 e o blogue Empreender. É Ana Paula Faria é professora da Universidade do
Ph.D in Management pela Universidade de Manchester, Minho. Possui o Ph.D. em economia pela University of
Reino Unido; Mestre em Gestão de Empresas pela Uni- Nottinghan (Reino Unido) e as suas áreas de interesse
versidade do Minho; e Licenciado em Gestão pelo Institu- académico incluem temas como a inovação e mudança
to Superior de Gestão. É professor de gestão estratégica tecnológica, produtividade e eficiência, e capital intelec-
e empreendedorismo na Escola de Economia e Gestão da tual.
Universidade do Minho. Email: apfaria@eeg.uminho.pt
Email: vasco.eiriz@gmail.com

Sílvia Fernandes é Professora Auxiliar na Faculdade de João Leitão é professor na Universidade Técnica de Lis-
Economia da Universidade do Algarve onde lecciona boa. Exerce a função de investigador no Núcleo de Estu-
Tecnologias de Informação na Empresa e Sistemas de dos em Gestão da Universidade do Minho. Na sua forma-
Informação Empresariais. ção académica conta com um Doutoramento em Econo-
Email: sfernan@ualg.pt mia (2004), um Mestrado em Ciências Económicas (1999)
e uma licenciatura em Gestão de Empresas (1997), pela
Universidade da Beira Interior. Tem publicado diversos
artigos em revistas internacionais e nacionais com arbitra-
gem científica e livros sobre empreendedorismo, competi-
tividade, benchmarking e publicidade.
Email: joao.c.leitao@tagus.ist.utl.pt

Vanda Lima é professora da Escola Superior de Tecno- Jónatas Virgílio Lopes é licenciado em Administração
logia e Gestão de Felgueiras, Instituto Politécnico do Pública pela Universidade do Minho. Terminou o seu
Porto. Licenciada em Economia, Mestre em Gestão e curso com um estudo sobre Gestão Estratégica na Casa
Doutoranda em Ciências Empresariais na Universidade de Saúde do Bom Jesus em Braga. Regressou a Cabo
do Minho. Verde onde trabalhou no Ministério do Trabalho e da
Email: vlima@estgf.ipp.pt Solidariedade, Vas Cabo Verde, S.A. e no Ministério do
Ambiente e da Agricultura. Fugiu para a China, onde faz a
especialização em Administrative Management na Univer-
sidade de Chongquing.
E-mail: virgilioenator@gmail.com

João de Mancelos nasceu em Coimbra, em 1968. É António F. Tavares é Professor Auxiliar do Departa-
licenciado em Línguas e Literaturas Modernas pela Uni- mento de Relações Internacionais e Administração Pública
versidade de Aveiro; mestre em Estudos Anglo- da Universidade do Minho. Ocupa os tempos livres com
Americanos pela Universidade de Coimbra; doutorado uma extensa colecção de CDs e as suas críticas musicais
em Literatura Norte-Americana pela Universidade Católi- aparecem no blogue Um Piano na Floresta, acessível atra-
ca Portuguesa; tem duas especializações em Escrita Cria- vés do endereço umpianonafloresta.blogspot.com.
tiva e Estudos Fílmicos pela Universidade de Luton, em Email: umpianonafloresta@gmail.com
Inglaterra. Escreveu diversas obras de poesia e de contos
e publicou dezenas de recensões e ensaios.
Email: mancelos@gmail.com
Rede2020 empreender.blogspot.com

«A felicidade é tão cansativa como a infelicidade»


Robert Musil

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