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Janeiro 2024 (Mensal) Nº 214 II SÉRIE executivedigest.

pt

G E S TÃ O E N T R E V I S TA ESTUDO

Ozempic CEO Castelbel Randstad


Nos bastidores da fábrica que está Conheça o plano ambicioso A Inteligência Artificial está
a fazer o mundo perder peso da marca portuguesa a ameaçar empregos?

Um conjunto de CEO, gestores e Presidentes


dão a sua visão para o futuro
INCLUI CONTEÚDOS DA REVISTA:

> A oportunidade oculta nos paradoxos

COM O APOIO:
CONSELHO EDITORIAL
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Gonçalves · José Félix Morgado · José Galamba de Oliveira · José Gomes · José Miguel Leonardo
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J
ACORDOS INTERNACIONAIS E EXCLUSIVOS
Fast Company · MIT Sloan Management Review
strategy+business · Foreign Policy · Outlook · Accenture
ARTE
Editor de Arte Joana Carvalho á é tema recorrente, e quase redundante, estarmos sempre a
Projecto Gráfico DesignGlow
FOTOGRAFIA afirmar que o próximo ano será desafiante. Mas não deixa de
PAF! Paulo Alexandrino Fotografia
NC Produções ser verdade. E 2024 será mesmo um ano muito desafiante. Com
Getty Image
IMPRESSÃO E ACABAMENTO
todos os acontecimentos que têm acontecido na Europa, no
Lidergraf – Sustainable Printing
Rua do Galhano, n.º 15 | 4480-089 Vila do Conde
Mundo, mas também com as circunstâncias especiais com que
DISTRIBUIÇÃO
VASP – Distribuidora de Publicações Lda. MLP – Media Logistics Park,
no deparamos hoje em Portugal. E, se por um lado, as empresas,
Quinta do Grajal – Venda Seca | 2739-511 Agualva Cacém gestores e empresários já demonstraram uma grande capacidade
ASSINATURAS
assinaturas@multipublicacoes.pt de resiliência, e de continuar a desenvolver as suas actividades
Tel. 210 123 400 · Fax. 210 123 444
1 Ano · 41 Euros / 2 Anos · 72 Euros em ambientes e contextos adversos, por outro, numa economia
Nº Registo ERC 118529 · Depósito Legal 81 367/94 · ISSN 0874-0526
Tiragem média 16.500 exemplares · Periodicidade Mensal com as características da nossa, o Estado, as suas acções e opções, têm um
ESTATUTO EDITORIAL
https://executivedigest.sapo.pt/estatuto-editorial-executive-digest/ grande impacto na nossa economia, e na nossa sociedade. E há um conjunto
de temas em que o Estado é chamado a definir as grandes linhas de orientação,
as regras ou os investimentos estruturais.
O único caminho para sairmos da situação actual, e fazer face aos inúmeros
MORADA DA SEDE, EDITOR E REDACÇÃO desafios que temos, é pelo crescimento da nossa economia. Não há outro. A
Rua Cidade de Rabat, n.º 41 B | 1500-159 Lisboa
Tel. 210 123 400 · Fax. 210 123 444
nossa economia tem de crescer. E esse crescimento é realizado pelas empresas,
geral@multipublicacoes.pt
NIPC: 506 012 905 | CRCL: 11061
pelo valor e pela riqueza produzida pelas empresas.
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO Será muito conveniente que os partidos políticos, e os seus responsáveis, te-
Ricardo Florêncio – CEO
ASSISTENTE DE DIRECÇÃO nham isso em atenção, com a apresentação de propostas de medidas e acções
Michelle Herculano
michelle.herculano@multipublicacoes.pt concretas, que se propõem implementar, agora que estão a delinear os seus
COMERCIAL E PUBLICIDADE
Tel. 210 123 413 · Fax. 210 123 444
programas eleitorais.
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Margarida Sousa (Directora de Publicidade)
margarida.sousa@multipublicacoes.pt · Tel. 210 123 413
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Ricardo Florêncio
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PROPRIETÁRIOS COM MAIS DE 5% DO CAPITAL SOCIAL Estatuto Editorial
AMLC, SA · Gonçalo Dias · Manuel Lopes da Costa · Ricardo Florêncio
A Executive Digest é uma marca com presença diária em diversas plataformas uma edição em papel, com periocidade mensal, que abrange igualmente todos
digitais, publicando notícias, entrevistas, reportagens, testemunhos e análises, estes temas, com um tratamento e análise mais profundo e detalhado. Desenvolve
quer no site (www.executivedigest.pt) como nas redes sociais. A informação é ainda ao longo do ano, um conjunto de iniciativas, como fóruns, surveys, com
actualizada em permanência e ao minuto, apresentando também uma newsletter especial destaque para as duas conferências anuais, que junta centenas de pessoas.
diária. Cobre um leque muito variado de temas, como a actualidade, gestão, 1. Cumprimento rigoroso das normas éticas e deontológicas do jornalismo; 2.
finanças, economia, empresas, mobilidade, energia e eficiência energética, Identificação com os valores da democracia; 3. Independência face a quaisquer
ambiente, saúde, tecnologia, big data, ensino e universidades, inovação, grupos de pressão, poderes políticos ou económicos; 4. Salvaguarda do espaço
empreendedorismo, políticas, exemplos da presença de empresas portuguesas privado dos cidadãos; 5. Defesa do pluralismo de opinião; 6. Comprometimento
no mundo e exportação, entre outras, para um público muito alargado. Apresenta em respeitar a boa fé dos leitores.

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JANEIRO 2024 Nº214 · II SÉRIE

23
TEMA DE CAPA

o que
esperar
de 2024?
Um conjunto de CEO,
gestores e presidentes dão
a sua visão para o futuro

6 CONSELHO EDITORIAL 102 B


 RANDED
A economia nacional em análise Médis
Mais ambiente, mais saúde,
8 CONSELHEIRO mais vida
79 A oportunidade oculta
Fernando Neves de Almeida, Boyden nos paradoxos
Carta aberta ao próximo Governo 106 G ESTÃO
Na fábrica da Ozempic COM O APOIO:
16 E
 NTREVISTA
Praveer Sinha, Tata Power 116 G ESTÃO
A dedicação da Tata Power a um Como estar preparado
futuro renovável para a Índia para tudo

88 DIÁSPORA 121 R ANDSTAD INSIGHT


António Sousa, Ascenza  A fórmula para 2024
«Estou sempre próximo dos clientes  IA ameaça empregos?
para identificar novas oportunidades»
130 PÉ DE ORELHA
92 G ESTÃO Pedro Lopes, Infinitebook
Américo Pinheiro, Castelbel A revolução silenciosa das startups
«A Castelbel tem uma com a IA
legitimidade própria»

98 G ESTÃO
AgentifAI
«Nós somos o verdadeiro underdog
no mundo da tecnologia e IA»

4 JA N E I R O 20 2 4
60%

dos profissionais portugueses


“não aceitaria um emprego que
afetasse negativamente o
equilíbrio entre a minha vida
pessoal e profissional”.
fonte: randstad workmonitor 2024

faça download gratuito do estudo randstad


workmonitor 2024 e fique a conhecer o que os
profissionais portugueses mais previligiam na
procura de um novo empregador ou na sua
empresa!
CONSELHO EDITORIAL
COM A PRESENÇA DE:
Ana Trigo Morais · Dulce Mota · Fernando Esmeraldo · Fernando Neves de Almeida · Isabel Ucha · João Duque · Luís Paulo Salvado
Nelson Pires · Nuno Pinto Magalhães · Paulo Carmona · Paulo Ramada · Rui Paiva · Sílvia Barata · Vasco Antunes Pereira

A ECONOMIA NACIONAL
EM ANÁLISE
A SITUAÇÃO ECONÓMICA, AS ELEIÇÕES E OS IMPACTOS DO ESTUDO SOBRE A EMIGRAÇÃO
FORAM ALGUNS DOS TEMAS QUE ESTIVERAM EM CIMA DA MESA PARA DEBATE

As perspectivas e as expectativas para o comportamento da investimentos, entre muitos outros. Foi também analisado
nossa economia em 2024 foi o principal tema em debate neste os impactos do recente estudo da emigração.
almoço. Igualmente debatidos foram os acontecimentos com Por fim, iniciou-se a escolha dos temas a apresentar na
que nos temos deparado na Europa e no mundo, e os vividos próxima Conferência da Executive Digest, que terá lugar en-
particularmente em Portugal, num ano marcado por eleições tre Abril e Maio deste ano. O encontro mensal do Conselho
e a influência que tem no comportamento da nossa economia Editorial da Executive Digest de Janeiro realizou-se no Hotel
a diversos níveis – nas exportações, no poder de compra, nos Vila Galé Ópera.

6 JA N E I R O 20 2 4
LOCAL: HOTEL VILA GALÉ ÓPERA

>> Nuno Pinto Magalhães >> Vasco Antunes Pereira

>> Rui Paiva >> João Duque >> Luís Paulo Salvado >> Fernando Esmeraldo

>> Fernando Neves de Almeida >> Dulce Mota >> Paulo Carmona >> Nelson Pires

>> Sílvia Barata >> Paulo Ramada >> Isabel Ucha >> Ana Trigo Morais

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 7
CONSELHEIRO
POR :
Fernando Neves de Almeida
CHAIRMAN E PARTNER DA BOYDEN PORTUGAL

Carta aberta
ao próximo
Governo
APROXIMA-SE A DATA DAS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS

S
em prever o resultado, arrisco dizer A esquerda, que nos tem governado nos últimos anos, pa-
que seja quem for que ganhe, vai rece ser muito desconfiada daqueles que tem por vocação e
ter objetivos muito semelhantes: obrigação criar riqueza. Porventura com razão em algumas
aumentar o salário médio, resolver circunstâncias, mas, seguramente, sem razão na grande
os enormes problemas no setor maioria dos casos.
da saúde, da falta de professores Sou um grande defensor de deixar o mercado funcionar
no setor da educação, da justiça, desde que sejam cumpridas as regras que cada sociedade, em
enfim, todos os problemas com determinado momento, considere as mais adequadas para
que nos temos vindo a debater nas defender os seus cidadãos. Não tenho memória de qualquer
últimas décadas e mais alguns que economia sem livre iniciativa ter funcionado melhor do que
irão surgir. o oposto. Se o que está em causa é o aumento do bem-estar
Sinto que os principais atores social, medido em valor e direitos (saúde, educação, justiça),
políticos, do arco da governação, uma sociedade que gere mais valor tem mais para distribuir.
no que respeita à função social do Penso que seria muito útil que a solução governativa que
estado, não têm pontos de vista assim tão diferentes. E ainda saia das próximas eleições visse os empresários e gestores
bem. A solidariedade social, como valor orientador que a como fundamentais para a prossecução do seu desígnio:
generalidade da Europa conquistou nos últimos anos, é um melhorar Portugal e a vida dos portugueses. Os empresários
bem a preservar. e gestores portugueses já deram provas em todas as áreas em
O que, na minha opinião, mais divide os “rivais” é um que operam que conseguem ser eficazes e eficientes (saúde,
problema do “como”. Ou seja, queremos ser mais solidários educação, transportes, etc.)
e dividir mais riqueza (nas várias formas), mas como é que Como compreende quem se interessa por temas do com-
melhor se cria mais riqueza para se poder distribuir? portamento humano, a questão dos incentivos é a base de

8 JA N E I R O 20 2 4
Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico.

QUEREMOS SER MAIS SOLIDÁRIOS E


DIVIDIR MAIS RIQUEZA, MAS COMO É
QUE MELHOR SE CRIA MAIS RIQUEZA
PARA SE PODER DISTRIBUIR?

alinhamento do comportamento. Já dizia Peter Drucker


“as pessoas não se comportam como gostaríamos que se
comportassem. Comportam-se como as incentivamos a
comportarem-se”. Se o tema é a criação de riqueza, esse é o
incentivo que faz os empresários e gestores moverem-se. Assim,
o meu conselho aos políticos que virem a formar o próximo
governo (de esquerda ou de direita), é que se aproveitem da
enorme capacidade de realização dos empresários e gestores
portugueses e os ponham a ajudar a resolver os problemas
que todos querem ver resolvidos, com a regulação adequada,
e depois se preocupem com aquilo que verdadeiramente deve
caracterizar um político: a justiça social.
A generalidade dos problemas dos setores públicos que
vemos serem abordados no dia-a-dia das televisões estão
relacionados com falta de gestão. E é compreensível. Ser
gestor público em Portugal é, em muitos casos, um suplício.
Sistemas de incentivos inexistentes; salários abaixo da média
do mercado e permanentemente sob suspeita. Compreendo
que tenha de haver regras apertadas para a gestão pública,
até porque o que está em causa é o dinheiro de todos nós.
Mas se existem tantos constrangimentos ao exercício dessas
funções, ponham os privados a gerir e controle-se e pague-se
pelos resultados. Já tivemos excelentes resultados com esse
tipo de situações e poderemos continuar a ter.
No entanto, não quero com isto dizer que se uma organi-
zação for pública, não possa ser bem gerida. Pode! Deve é ser
gerida como se fosse privada, por pessoas com as competências
certas, a receberem o salário adequado e com os incentivos
necessários. Parece-me difícil, mas possível.
Seja como for, o meu pedido é só um: aproveitem o poten-
cial dos empresários e gestores portugueses. Ponham-nos a
trabalhar para ajudar a resolver os problemas de todos nós.

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 9
FACTOS &
NÚMEROS

51 320
Durante o ano de 2023 foram
criadas 51 320 empresas em
Portugal, o registo mais elevado
de sempre, ultrapassando pela
primeira vez as 50 mil. O crescimento
é de 4,7% face a 2022.

2040
MILHÕES DE EUROS

MICROSOFT INCLUI BOTÃO


Os bancos emprestaram em
Novembro 2040 milhões de euros
em crédito à habitação com

PARA IA
um juro médio de 4,24%.

13,7%
Os preços mundiais dos alimentos
A Microsoft continua a realizar uma grande aposta na
caíram 13,7% em 2023 em comparação inteligência artificial, desta vez com a inclusão de um
com o ano anterior, com uma descida
acentuada dos óleos vegetais e
botão no teclado do Windows

E
dos cereais, informou a Organização
das Nações Unidas para Alimentação sta aposta marca uma mudan- ao hardware. Isto não só simplificará a
e Agricultura (FAO).
ça significativa no layout, re- experiência computacional das pessoas,

16%
presentando a primeira gran- mas também a ampliará, tornando 2024 o
de mudança nos teclados da ano do PC com IA», afirma Yusuf Mehdi,
Microsoft desde a introdução vice-presidente executivo e director de
A empresa de pagamentos SIBS da tecla Windows em 1994. Marketing de Consumo da Microsoft.
afirmou que em Dezembro passado
as compras físicas e online aumentaram «Hoje, estamos entusiasmados em A tecla Copilot ficará localizada ao lado
16% face a 2022, tendo havido dar um passo significativo e apresentar da tecla ALT no lado direito do teclado
subidas tanto nas compras em a tecla Copilot para PCs com Windows e, quando clicada, iniciará o Microsoft
loja física, como nas digitais.
11. Neste novo ano, daremos início a uma Copilot, um chatbot de IA lançado no ano
mudança importante em direcção a um passado que está integrado ao Windows
futuro da computação mais pessoal e 11, além do Bing e do navegador Edge. O
inteligente, no qual a inteligência arti- Copilot é um chatbot de IA semelhante
ficial (IA) será perfeitamente integrada ao Bard ou ChatGPT, em que os utili-
no Windows, do sistema ao silício (chips zadores podem fazer perguntas que são
de processador e hardware subjacente) e respondidas por IA.

10 JA N E I R O 20 2 4
ATUM GIGANTE ARREMATADO POR MAIS DE 700 MIL EUROS
EM LEILÃO NO JAPÃO
O atum rabilho gigante mais caro vendido no maior mercado de peixes de Tóquio
no primeiro dia de negócios em 2024 foi arrematado por 114,2 milhões de ienes
(720 497 euros). O leilão do primeiro atum do ano no Toyosu Fish Market é uma
(( O QUE SE DIZ ))
tradição com 15 anos que em todas as edições tem vindo a alcançar preços
astronómicos para as melhores peças. O atum pesava 238 quilos e foi vendido
à empresa Yamayuki e à operadora da rede de sushi Onodera Group.

ROBERT KIYOSAKI
Autor do best-seller “Pai Rico, Pai Pobre”,
detém uma dívida de 1,2 mil milhões de dólares,
o equivalente a 1,10 mil milhões de euros, segundo
as informações avançadas pelo próprio num reels
do Instagram.

«Se eu falir, o banco vai falir.»

MIKE JOHNSON
Presidente da Câmara dos Representantes dos
Estados Unidos. Os líderes do congresso norte-
-americano chegaram a acordo na definição do tecto
máximo de despesa para este ano, de 1,66 biliões de
BMW RARO DE MICHAEL dólares, para evitar o risco de paralisação do governo federal.
«Isto é o acordo orçamental mais favorável que os
JORDAN ESTÁ EM LEILÃO republicanos conseguiram em mais de uma década.»
Um dos BMW mais icónicos da década de 1990, anteriormente pertencente
e conduzido pela lenda do basquetebol Michael Jordan, está em leilão. O
impecável Beemer, também conhecido como E31, tem apenas pouco mais ELON MUSK
de 48 000 km após 33 anos. O raro BMW, que se encontra no site de leilões Fundador da Tesla e da SpaceX, estará a consumir
Bring a Trailer, trocou de mãos em 1995 para o seu actual proprietário. É de forma excessiva várias drogas, denunciou o
movido por um V12 de 5,0 litros ligado a um motor de seis velocidades. Wall Street Journal, que citou as preocupações
Conta com transmissão manual e acabamento em Mauritius Blue Metallic de membros da direcção e de accionistas das
sobre estofos em couro Light Parchment. Inclui ainda jantes AC Schnitzer empresas detidas pelo multimilionário.
multipeças de 17 polegadas, tecto solar eléctrico, faróis de nevoeiro,
«Depois de ter fumado com o
controlo de temperatura automático de zona dupla, bancos dianteiros com
ajuste eléctrico e cruise control. Este E31 conta ainda com documentação Rogan concordei, a pedido da
com a assinatura de Michael Jordan. NASA, fazer testes aleatórios durante três anos.»

VISTA ALEGRE COMEMORA


200 ANOS DE EXISTÊNCIA
A Vista Alegre celebra em 2024 dois séculos de
história e as iniciativas vão decorrer ao longo do
ano e estender-se até 2025. «Os 200 anos da Vista
Alegre são um momento de celebração da história
da empresa e do seu vasto património, da história da
família fundadora e, acima de tudo, da comunidade
de pessoas que fizeram e fazem parte do mundo
Vista Alegre», escreve a empresa de Ílhavo na sua
página. Durante este ano, a Vista Alegre irá lançar
um conjunto de peças que honram a memória
da empresa, fazendo a ponte entre o passado, o
presente e o futuro da marca. Fundada em 1824, a
Fábrica de Porcelana da Vista Alegre foi a primeira
unidade industrial dedicada à produção da porcelana
em Portugal.

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 11
«EU SOU O QUE ME CERCA.
SE NÃO PRESERVAR O QUE ME CERCA, NÃO ME PRESERVO.»
José Ortega y Gasset

PLANO
RUI DIOGO
Depois de uma estada de sete anos em Londres, na
sede EMEA da Jones Lang LaSalle (JLL), foi nomeado
vice-presidente da JLL Hotels, em Madrid. Formado
em Gestão Hoteleira pela École Hôtelière, de Lausanne,
é agora o novo responsável por assegurar o apoio ao
departamento de hotel transactions capital markets em
Espanha e Portugal, a partir do escritório de Madrid.

NADINE
ACCAOUI
É a nova CEO
da COSEC
DUARTE FERNANDES
A KWAN, consultora portuguesa Foi nomeada presidente do
especializada em outsourcing e Conselho de Administração
nearshoring de perfis tecnológicos, inicia da COSEC e presidente
2024 com uma nova estrutura de gestão. da Comissão Executiva
A direcção-geral da KWAN passa a ser
assegurada por Duarte Fernandes, que (CEO), com efeitos a
assumia o cargo de COO. Rui Pedro partir de 1 de Janeiro de
Alves, fundador do Grupo Rupeal ao qual 2024, substituindo Vassili
a KWAN pertence, transita da função Christidis no cargo. No seu
de CEO para assumir a presidência do
Conselho de Administração do grupo, percurso profissional, iniciou a sua carreira na Allianz como directora atuária do
mantendo a posição de CEO do software ramo Vida na Allianz SNA, Beirute, no Líbano, em 1998, e em 2010 mudou-se para
de facturação certificado InvoiceXpress. o Grupo Allianz Trade como directora atuária do Grupo, com sede em Paris. Em
Desde 2012 no Grupo Rupeal,
2016, tornou-se chefe da equipa atuarial de Não Vida na Allianz SE, em Munique,
Duarte Fernandes manterá o seu papel
enquanto membro do Conselho na Alemanha. Foi então nomeada directora Financeira da Allianz Trade, para a
de Administração do grupo. região MMEA e Itália, cargo que ocupava desde Novembro de 2018.

OLIVIER PILOT DEBIENNE


É O NOVO SÓCIO INTERNACIONAL DA MAZARS EM PORTUGAL, reforçando a sua equipa
de gestão. Esta nomeação consolida a aposta da Mazars em Portugal na área de Audit & Assurance
Indústria e Serviços, e tem como principal objectivo continuar a desenvolvê-la, em resposta a novos
desafios do mercado, como gestão de talento, transformação digital e metas ESG. «A oportunidade
de integrar o partnership nesta fase importante de crescimento e expansão da Mazars em Portugal
é muito relevante e estou comprometido em continuar a trabalhar no desenvolvimento da firma,
robustecendo a sua oferta de serviços e consolidando o posicionamento no mercado.»

12 JA N E I R O 20 2 4
«ÉS LIVRE, ESCOLHE, OU SEJA:
INVENTA.»
Jean-Paul Sartre

PLANO

ECONOMIA
ESTA NOVA EDIÇÃO REVISTA
DEBATE APRESENTA AO LEITOR
UMA ATUALIZAÇÃO DAS
COMO DEMOSTRA ESTE QUATRO ÚLTIMAS LIÇÕES
ABRANGÊNCIA LIVRO FASCINANTE...
Das propostas bibliográficas e novos
...nós somos realmente servos das quadros estatísticos elucidativos das
COM O SEU PRIMEIRO
ideias que surgiram no grande alterações constantes, em especial,
LIVRO DESTINADO A UM
PÚBLICO ABRANGENTE... debate entre os dois economistas no domínio das relações económicas
– Friedrich Hayek e o próprio internacionais. O conteúdo divide-se
...o Nobel da Economia Jean Keynes – há mais de 80 anos. em quatro grandes partes subordinadas
Tirole confronta-nos com os Com uma escrita fluente e grande aos temas: a problemática económica:
assuntos que afectam o nosso aptidão para tornar compreensíveis preços, mercados e concorrência;
quotidiano: a economia digital, questões financeiras complexas, fundamentos da política económica;
a inovação, o desemprego, as Nicholas Wapshott prestou um crescimento, desenvolvimento e
alterações climáticas, a Europa, grande serviço à ciência económica, relações económicas internacionais.
o Estado, as finanças, o mercado. abrindo o assunto ao leitor comum, Cada uma das lições aborda um tema
Ou seja, os grandes temas da exposto sob o prisma de um essencial, permitindo que o leitor
economia do mundo actual num dos mais importantes embates possa situar problemas e teorias,
discurso acessível a todos. intelectuais dos tempos modernos. recolhendo pistas para reflexão pessoal.

ECONOMIA DO BEM COMUM KEYNES/HAYEK A ECONOMIA EM 24 LIÇÕES


Autor: Jean Tirole Autor: Nicholas Wapshott Autor: Mário Murteira

14 JA N E I R O 20 2 4
Integra serviços de backup e restore
Combate ameaças cibernéticas
Promove a segurança na partilha de ficheiros
Gestão simplificada a partir de um único portal

Gestor | 16 206 | meoempresas.pt


16 JA N E I R O 20 2 4
ENTREVISTA POR :
Sambitosh Mohapatra, Gautam Mehra e Vishnupriya Sengupta
strategy+business

PRAVEER SINHA, CEO E MANAGING DIRECTOR, FALA SOBRE


A MUDANÇA DA ÍNDIA PARA A NEUTRALIDADE CARBÓNICA
E SOBRE O FUTURO DO SECTOR ENERGÉTICO NA REGIÃO

PRAVEER SINHA
CEO E MANAGING DIRECTOR DA TATA POWER

A DEDICAÇÃO DA
TATA POWER A UM
FUTURO RENOVÁVEL
PARA A ÍNDIA

H
á mais de cem anos, o industrial e visionário indiano da cordilheira de Sahyadri, na costa
Jamsetji Nusserwanji Tata teve um momento de clareza. ocidental da Índia. Com capacidade
Foi num piquenique à beira-rio. Ao observar o caudal do para gerar 40 megawatts (MW) de
rio, teve a ideia de aproveitar o poder da água a jorrar de electricidade (rapidamente aumentada
modo a fornecer energia limpa, barata e abundante para para 72 MW), a central produzia energia
iluminar a Índia e incentivar o seu crescimento económico. suficiente para iluminar a cidade.
Bombaim, actualmente Mumbai, foi a primeira cidade Hoje, a Tata Power – liderada pelo CEO
a colher os benefícios da ideia de Tata. Em 1915, Bombaim e managing director Praveer Sinha – é
sufocava com os fumos emanados das caldeiras das fábricas a maior empresa privada integrada de
têxteis. Nesse ano, a Tata Hydro Electric Power Supply serviços de energia do país, com receitas
Company – como a Tata Power era conhecida – instalou anuais superiores a 5,2 mil milhões de
a sua primeira central hidroeléctrica em Khopoli, na base euros. Em conjunto com as suas sub-

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 17
ENTREVISTA
PRAVEER SINHA
CEO E MANAGING DIRECTOR DA TATA POWER

sidiárias e entidades conjuntas, tem chusetts Institute of Technology (MIT),


uma capacidade de produção de 13 735 e o seu impulso inicial para prosseguir
MW, dos quais 37% provêm de fontes um programa de doutoramento surgiu
de energia limpas. Os seus projectos enquanto trabalhava com estudantes e
emblemáticos incluem o maior parque professores num modelo de baixo custo
O TRABALHO DE
solar vertical do país em Bengaluru, a para a electrificação de zonas rurais.
maior instalação de carport em Pune, e Praveer Sinha falou recentemente
PRAVEER SINHA TEM
o maior estádio de críquete alimentado com a strategy+business a partir do seu SIDO ORIENTADO POR
a energia solar do mundo, o Estádio escritório em Bombay House, Mumbai, UMA ABORDAGEM
Brabourne, em Mumbai. A empresa, sobre o que faz da Tata Power, com 108 PRÁTICA, POR UM FOCO
juntamente com os seus parceiros, for- anos, um interveniente importante na NA INVESTIGAÇÃO
nece energia a 12,5 milhões de clientes transição da Índia para a neutralidade
SOBRE INOVAÇÃO
nas cidades de Mumbai, Deli e Ajmer, carbónica e sobre o futuro do sector
e no estado de Odisha. energético na região.
ENERGÉTICA, E POR
Praveer Sinha, de 60 anos, é engenhei- UMA MISSÃO PARA
ro electrotécnico de profissão, com mais strategy+business: A Índia é o tercei- DEMOCRATIZAR
de 38 anos de experiência em centrais ro maior produtor e consumidor de O FORNECIMENTO
electricidade mundialmente, com uma
eléctricas na Índia e no estrangeiro. O DE ELECTRICIDADE
seu trabalho à frente da empresa tem capacidade de energia instalada de 409
sido orientado por uma abordagem prá- gigawatts [GW] em 2022. Qual a sua pers-
tica, por um foco na investigação sobre pectiva sobre o estado actual do sector
inovação energética, e por uma missão na Índia e a sua capacidade de satisfazer
para democratizar o fornecimento de a crescente procura de energia, que se
electricidade, principalmente nas zonas estima aumentar quase 30% até 2023? Com uma implementação adequada,
rurais da Índia. Praveer Sinha: O sector da energia tem a produção distribuída e as energias
Dedicado ao crescimento inclusivo um enorme potencial de crescimento e renováveis poderão ser o ponto de apoio
e à capacitação de comunidades com tem tido bons resultados nos últimos de uma Índia mais verde, com telhados
dificuldades socioeconómicas, Praveer 15 anos com aumentos de capacidade, solares, energia solar e microrredes em
Sinha também iniciou programas de melhorias e intervenções tecnológicas. aldeias que satisfaçam a procura local.
sustentabilidade e desenvolvimento de Está agora pronto para passar ao nível As áreas de foco da nossa empresa
competências que beneficiaram cerca seguinte, com uma atenção especial incluem soluções de energias renováveis
de 700 mil pessoas em Deli, a maioria às fontes renováveis e à sua integração contínuas, projectos eólicos offshore,
das quais mulheres e jovens. Ajudou a com tecnologias digitais, incluindo associações estratégicas para projectos
criar 350 centros de alfabetização para armazenamento, redes inteligentes, de armazenamento de baterias, energia
mulheres nos bairros de lata de Deli e contadores inteligentes e outras solu- solar flutuante (associada à energia hi-
abdicou dos seus sábados para fazer ções integradas. Estas podem ajudar o droeléctrica) e hidrogénio verde como
voluntariado nos bairros de lata. país a saltar da produção, transmissão combustível alternativo. Estes, em conjunto
Praveer Sinha distingue-se entre os e distribuição convencionais para um com tecnologias avançadas, incluindo
CEO por ser um defensor da aprendiza- modelo de produção de energia e de a manutenção de drones para detectar
gem ao longo da vida; quando o negócio serviço de electricidade mais distribuído, pontos quentes de energia renovável,
abrandou durante a pandemia, concluiu proporcionando um serviço de melhor falhas de díodos, falhas de superfície e
um doutoramento em Tecnologias de qualidade aos consumidores. microfissuras, limpeza robótica sem água
Redes Inteligentes enquanto continuava A mudança começou a instalar-se e e desempenho de painéis solares, farão
a gerir a empresa. Actualmente, é inves- pode levar a uma maior democratiza- uma enorme diferença. Estamos também
tigador associado convidado no Massa- ção do fornecimento de electricidade. empenhados em ajudar a transformar a

18 JA N E I R O 20 2 4
MUDANÇA
PASSÁMOS DE UM CRESCIMENTO
SUSTENTADO PELA PRODUÇÃO BASEADA
EM COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS PARA UM
CRESCIMENTO COM ENERGIAS RENOVÁVEIS

e alterações à Lei da Electricidade de


2003, que se destina a permitir a concor-
rência a nível retalhista e a permitir que
mais do que uma empresa licenciada de
distribuição opere na mesma área. Há
muito que este é um constrangimento
para todos os produtores independentes
de energia, incluindo a Tata Power. É
também uma área em que a Índia terá
de trabalhar se quiser aumentar o ritmo
do investimento privado e satisfazer a
procura global de energia.
No entanto, enquanto empresa, pas-
sámos de um crescimento sustentado
pela produção baseada em combustíveis
fósseis para um crescimento com energias
renováveis, e também com as actividades
de transmissão e distribuição, com os
serviços e com o negócio de soluções
energéticas. Em termos de capacidade,
estabelecemos o objectivo de acrescentar
2 GW por ano. Até 2030, 70% da nossa
capacidade será proveniente de fontes
Índia rural com muitas microempresas, energias renováveis e limpas, e de liderar de geração sem carbono.
alimentadas por energia limpa, acessí- o caminho para um futuro mais verde, Este ano, investimos 380 milhões de
vel e fiável proveniente de microrredes porque está naturalmente posicionada euros [3400 milhões de rupias] para
renováveis. Presentemente, instalámos para explorar a energia do sol. Isto é criar uma nova capacidade de produção
microrredes em seis distritos de Bihar verdade para a maior parte da Índia. de células solares e módulos solares de
e três em Uttar Pradesh. O desafio consiste em agrupar esta 4 GW em Tamil Nadu. Produzimos os
energia com o hidrogénio e com outras primeiros módulos solares em Agosto
s+b: Actualmente, 40% da electricidade formas de energia renovável, incluindo de 2023 e produziremos as primeiras
da Índia provém de fontes de combus- a energia eólica offshore e onshore, e células solares em Dezembro de 2023.
tível não fósseis. A nação está agora algumas tecnologias de biomassa, para Em conjunto, facilitarão a transição para
empenhada em atingir cerca de 50% da permitir um armazenamento eficaz em as energias limpas e darão origem a mais
energia eléctrica a partir de recursos capacidades que satisfaçam a procura. de dois mil postos de trabalho verdes.
energéticos não baseados em combus- Uma parte significativa deste desafio Como parte dos nossos planos de mi-
tíveis fósseis até 2030 e declarou a sua está relacionada com a tecnologia de tigação das emissões de gases com efeito
ambição de emissões líquidas nulas para armazenamento – quer se trate de baterias de estufa e para compensar as emissões
2070. Como avalia a capacidade da Índia ou de hidrogénio – e há uma necessidade de carbono, temos cinco projectos reno-
para atingir estes objectivos? urgente de inovação tecnológica. váveis registados ao abrigo do programa
PS: A nossa maior vantagem é o facto de O segundo desafio para a Índia gira Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
sermos abençoados com sol abundante em torno da capacidade de aquisição dos [MDL] da Convenção-Quadro das Na-
durante mais de 300 dias por ano. Isto serviços públicos. Existe um desfasamento ções Unidas sobre Alterações Climáticas.
dá à Índia uma grande oportunidade de entre o que os governos federal e estatal Estes incluem activos solares em Mitha-
cumprir os compromissos em matéria de pretendem no que respeita a reformas pur, Gujarat, e activos eólicos em Gadag,

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 19
ENTREVISTA
PRAVEER SINHA
CEO E MANAGING DIRECTOR DA TATA POWER

Karnataka; Khandke, Maharashtra; Sa-


mana, Punjab; e Saurashtra, Gujarat.

s+b: Passando ao cenário internacional,


como vê o desenrolar da actual crise
energética e qual o seu impacto na Índia?
PS: Pelo que tenho observado, estou certo
de que os EUA – e toda a América do
Norte – recuperarão da sua baixa taxa de
crescimento, porque a economia dos EUA
é resiliente. Embora tenha enfrentado
dificuldades, apresentou uma iniciativa
de grande envergadura, o investimento
de 670 mil milhões de euros que faz parte
da Lei de Redução da Inflação. A Europa
e o Reino Unido, porém, poderão ter de
enfrentar uma fase muito difícil antes
de regressarem ao crescimento.
A Índia, para variar, continuará a sua
trajectória de crescimento. Em grande
parte, não foi afectada pelo conflito
Rússia-Ucrânia e tem agora a oportu-
nidade de fabricar alguns dos produtos
que tradicionalmente viriam da Europa
e do Reino Unido. Não só a Índia, mas
todo o Sudeste Asiático – incluindo
Indonésia, Malásia, Vietname, Taiwan
e Camboja – tem a oportunidade de
preencher a lacuna deixada pelo Reino
Unido, pela Europa e até pela China.

s+b: A Tata Power está a fazer extensas


pesquisas e a desenvolver microrredes
para iluminar as zonas rurais com fontes
locais e autónomas de fornecimento
de energia. Qual a vossa visão sobre a limitados nos países em desenvolvimento zonas rurais e de as tornar escaláveis.
inclusão energética? e menos desenvolvidos. Este programa Deixem-me dar-vos um exemplo. Se
PS: O nosso programa de microrredes, faz parte da nossa estratégia comercial, e precisarmos de uma ventoinha, normal-
cujo objectivo é implementar 10 mil mi- não de uma iniciativa de responsabilidade mente compramos uma versão normal
crorredes num futuro próximo, é o maior social corporativa. Isto deve-se ao facto de 80 watts. Se formos mais conscientes
do mundo. Foram instaladas mais de 200 de o nosso programa de microrredes de- em termos energéticos, podemos com-
microrredes que seguem o modelo de pender mais de intervenções tecnológicas prar uma ventoinha de alta eficiência de
acesso universal à electricidade da ONU, e da inovação de produtos do que muitos 40 watts. Mas queremos fabricar uma
fornecendo electricidade ao mais baixo dos nossos outros programas, de modo ventoinha de 20 watts para as aldeias,
custo a populações com rendimentos a levar soluções de custo muito baixo às para fornecer energia a preços acessíveis

20 JA N E I R O 20 2 4
O PAÍS
A ÍNDIA CONTINUARÁ A SUA TRAJECTÓRIA DE
CRESCIMENTO. COM A OPORTUNIDADE DE FABRICAR
ALGUNS DOS PRODUTOS QUE TRADICIONALMENTE
VIRIAM DA EUROPA E DO REINO UNIDO

a pessoas com rendimentos limitados. em que podemos crescer ao ponto de nos termos de receitas e dimensão e conti-
Por dois euros por mês, gostaríamos que tornarmos um interveniente importante nuarmos a ser líderes de pensamento
pudessem utilizar uma ventoinha, ter neste espaço. neste espaço. Hoje, com a convergência
duas luzes acesas e carregar o telemó- das tecnologias eléctricas, podemos tornar
vel. Para realizar esta tarefa, também s+b: Em 2021, a empresa entrou no todo o ecossistema mais eficiente. For-
precisamos de ter lâmpadas económi- sector dos contadores inteligentes e da necemos soluções integradas de energias
cas e eficientes em termos energéticos. automatização doméstica. Como planeia renováveis numa única plataforma, de
Uma lâmpada de 100 watts aumenta o utilizar a tecnologia para conservar modo que os consumidores liguem os
consumo sem servir o objectivo de elec- energia e satisfazer a crescente procura seus aparelhos de ar condicionado ou o
trificar as aldeias a um custo acessível. de energia da Índia? seu veículo eléctrico [VE] e os utilizem
O mesmo se aplica a artigos como os PS: A automatização doméstica, en- eficientemente. A melhor parte é que
frigoríficos, que consomem uma quan- quanto solução de serviços energéticos, estas soluções “plug-and-play” não são
tidade substancial de energia. Por isso, pode ser utilizada em locais comerciais específicas de uma região ou de um
apresentámos outras soluções de baixo e em residências para gerir e controlar utilizador. Um consumidor de energia –
custo, mas eficazes, que se revelaram o consumo de electricidade de forma seja ele industrial ou pessoal – pode tirar
benéficas para as pessoas destas zonas. inteligente. Não se trata de um negócio simplesmente partido destas soluções
Tivemos engenheiros do MIT a trabalhar em que pressionamos os consumidores energéticas inovadoras como desejar,
na ventoinha de 20 watts, numa enge- a consumir mais, mas onde os incen- independentemente da sua localização.
nhoca de 30 watts para um frigorífico tivamos a consumir eficientemente. A As nossas estações de carregamento
e num televisor de 30 watts. Tudo nesse automatização doméstica, um serviço de VE ao longo de auto-estradas são
projecto era uma inovação. Não havia de valor acrescentado baseado na inter- também um ponto alto, facilitando as
nada que pudesse ser comprado numa net das coisas, ajuda a controlar todos deslocações entre cidades. Nos próximos
prateleira ou no mercado. É assim que os dispositivos electrónicos, a gerir a cinco anos, pretendemos instalar postos
queremos concretizar a nossa visão de utilização de energia de uma maneira de carregamento em todas as auto-
dar electricidade a mil milhões de vidas que permite aos utilizadores optimizar -estradas do país. Ao adoptarmos esta
com soluções energéticas sustentáveis, e reduzir os custos e, mais importante abordagem, tencionamos garantir que
económicas e inovadoras. ainda, ajuda os serviços de utilities a a ansiedade do fim da autonomia que
conservar energia. Estamos num negócio as pessoas sentem quando conduzem
s+b: A vossa atenção centra-se mais nas muito diferente e único. No sector da veículos eléctricos não seja afectada.
energias renováveis do que no hidrogénio distribuição de energia, não há lugar para Temos um plano claro do que queremos
verde. No futuro, a Tata Power tenciona a fome, nem para a festa. Como empresa criar em termos de carregadores públicos
entrar na produção de hidrogénio? de utilities, temos a responsabilidade e fabricamos carregadores domésticos
PS: Concordo que não tenho falado de de levar conhecimentos, informações para a maioria dos grandes OEM [fa-
hidrogénio verde, porque sinto que ainda e tecnologias aos consumidores, para bricantes de equipamento original] do
não chegou o momento. Sabemos o que que estes possam tornar-se utilizadores sector automóvel. Por isso, a conclusão
é preciso fazer para produzir hidrogénio mais optimizados. Enquanto empresa de da rede de auto-estradas eléctricas será
verde e temos trabalhado muito nessa utilities, isto ajuda-nos a gerir a carga uma grande conquista a curto prazo.
área, sem chamar a atenção para ela. Isto de forma mais eficiente para garantir
porque queremos uma solução semelhante um nível estável de consumo. s+b: Têm uma presença hidroeléctrica
à que Jamsetji Tata previu há mais de na Indonésia, Singapura, Butão, Zâmbia
um século para a energia hidroeléctrica: s+b: A Tata Power está no seu 108.º ano. e Geórgia. Tencionam expandir as ope-
limpa, barata e abundante. Uma vez Quais os planos para a próxima década? rações globais?
que o custo de produção do hidrogénio PS: O nosso objectivo como fornecedor de PS: Há cerca de três anos, tomámos a
verde é elevado, procuramos uma solução energia de topo e de soluções energéticas decisão de alienar os nossos investi-
escalável, e ainda não passámos à fase é mantermo-nos líderes de mercado em mentos nesses países. Já alienámos o

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 21
ENTREVISTA
PRAVEER SINHA
CEO E MANAGING DIRECTOR DA TATA POWER

nosso projecto eólico na África do Sul


e estamos em vias de alienar os outros
investimentos. Percebemos que ser um
interveniente marginal nestes países
não nos traz valor. Ou estamos lá, total-
mente integrados nos sistemas locais, ou
desistimos. É por isso que procedemos
ao desinvestimento.
Em 2015, criámos uma central hidroe-
léctrica no Butão, o primeiro projecto
transfronteiriço registado ao abrigo do
MDL da ONU. Em 2020, concluímos
outro projecto exigente na Geórgia, que
representa um dos maiores e mais influen-
tes projectos energéticos construídos no
país nos últimos 70 anos. O projecto gerou
cerca de 450 GWh de energia limpa para
reduzir a emissão de gases com efeito
de estufa em mais de 200 mil toneladas
por ano, enquanto a energia gerada será
vendida na Geórgia no Inverno, quando MWh à escala da rede. Esta é a segunda >> A visão de Praveer Sinha para a próxima
década é manter a Tata Power líder de
existe um défice energético. central solar à escala da rede com BESS mercado em termos de receitas e dimensão
Presentemente, concentramo-nos e demonstra as nossas capacidades de
sobretudo na Índia e trabalhamos em execução de projectos no domínio da
alguns projectos de armazenamento por energia solar. os escritórios e hotéis da Tata. Tam-
bombagem em barragens existentes. bém é possível comprá-los na Croma
Os projectos hidroeléctricos de raiz s+b: A sinergia faz parte da estratégia 3S Electronics, uma subsidiária da Tata
são muito difíceis de executar no con- do Grupo Tata: simplificação, sinergia e Sons. Portanto, trabalhamos de forma
texto actual, principalmente tendo em escala (“scale”). Como colabora a Tata bastante alargada no ecossistema da
conta as preocupações ambientais e as Power com as outras 30 empresas do Tata Tata. De facto, já implementámos mais
questões relacionadas com o risco e a Group – o maior conglomerado da Índia de 300 MW de projectos de telhados ou
regulamentação. Além disso, há zonas com serviços e operações em 150 países? de grupos cativos em várias empresas
no nordeste que são inacessíveis. PS: Somos uma empresa de serviços do Grupo Tata, e vários outros estão em
Mais importante ainda, com a dis- e soluções energéticas. Assim, traba- várias fases de implementação.
ponibilidade de fontes alternativas, lhar com outras empresas Tata torna
gostaríamos que todas as nossas ini- a colaboração relativamente simples. s+b: Existe algum legado que gostaria
ciativas girassem em torno de fontes Os VE são um bom exemplo de como de deixar?
renováveis, como a energia solar. Há 13 criamos sinergias entre as empresas PS: Não acho que devamos entrar no
meses, recebemos uma carta de adjudi- Tata. Fornecemos carregadores de negócio dos legados. Se fizermos o que
cação da Solar Energy Corporation of VE para os veículos eléctricos da Tata fazemos para deixar um legado, acho
India para construir um projecto solar Motors, que é o nosso maior cliente. A que a narrativa se perde. Temos de fazer
EPC [engenharia, aprovisionamento e Tata Consultancy Services desenvolveu o o nosso trabalho diligentemente e com
construção] de 100 MW, em conjunto software e, actualmente, os carregadores as nossas melhores capacidades. Isso
com um sistema de armazenamento são obtidos através da Tata AutoComp deveria ser um fim em si, não um meio
de energia em baterias [BESS] de 120 Systems e estão instalados em todos para atingir um fim.

22 JA N E I R O 20 2 4
CAPA

Um conjunto de CEO, gestores e Presidentes


dão a sua visão para o futuro

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 23
CAPA Que alterações perspectiva que possam
O QUE ESPERAR DE 2024?
vir a impactar o seu sector em 2024?

ana figueiredo presidente executiva da altice portugal

desenvolvimento
tecnológico

Nos últimos anos temos assistido a um acelerar do ritmo na inteligência artificial generativa, com a aplicação desta
do desenvolvimento tecnológico, com ciclos de inovação tecnologia por forma a simplificar processos e a melhorar a
cada vez mais curtos. Esta realidade tem impacto nos diver- disponibilização de serviços, tornando-os cada vez mais pró-
sos sectores económicos e na sociedade em geral e, em par- ximos dos utilizadores, mais customizados e integrados numa
ticular, no sector das comunicações electrónicas. A título de lógica omnicanal. Assistiremos, de igual forma, a adaptação
exemplo, podemos destacar em 2023 uma crescente discus- e restruturação das organizações, por via da adopção desta
são pública sobre a adopção, limites e impactos no rápido tecnologia disruptiva. O sector das comunicações electróni-
desenvolvimento de soluções com recurso à inteligência ar- cas, será exemplo e palco desta transformação digital, para
tificial generativa e ao surgimento de vários casos de uso de a qual será necessário acautelar os riscos subjacentes à sua
aplicação desta tecnologia em diversas finalidades. utilização, bem como potenciar os benefícios daí decorrentes.
Em 2024, com toda a certeza, iremos assistir a um cenário As vantagens são inequívocas, mas obrigam a acelerar o ritmo
de continuidade na inovação tecnológica, com especial ênfase do desenvolvimento e a um maior foco no tema segurança.

24 JA N E I R O 20 2 4
E para a sua empresa em particular, Atendendo ao actual contexto, que expectativas
quais os maiores desafios? a nível macroeconómico para Portugal?

O ano de 2024 será ainda marcado pela aprovação de Le- Vamos continuar empenhados em inovar e em garantir a
gislação Comunitária na área da inteligência artificial, cuja qualidade do serviço que prestamos, contando à data com uma
regulamentação terá um impacto sem precedentes na forma infra-estrutura 5G e fibra óptica que cobrem, respectivamente,
como a tecnologia vai ser desenvolvida, adoptada e colocada 95% e 85% da população. A Altice Portugal, concretamente
à disposição do sector público e privado, para benefício de através da Altice Labs, tem contribuído para que Portugal
empresas e consumidores. garanta no mapa mundial da inovação o reconhecimento e
Vamos continuar a assistir a uma forte expansão do 5G, com o posicionamento de liderança na transição digital.
velocidades de conexão mais rápidas e fiáveis, contribuindo para Além da inovação, da tecnologia e das pessoas, a estratégia
que Portugal mantenha um posicionamento de liderança no da Altice Portugal está assente no pilar da sustentabilidade.
processo de transição digital. As tendências apontam para uma Nesta área, queremos continuar a ser precursores no desen-
interação ainda maior entre o mundo digital e o mundo físico, volvimento e disponibilização de tecnologias que contribuam
evidenciado pelo crescente número de dispositivos conectados. de forma significativa para o alcance das metas da redução
O sector das comunicações electrónicas deverá continuar a dar carbónica e de transição digital.
resposta ao nível de toda a infra-estrutura 5G, potenciando todos Neste contexto, e com estes compromissos da Altice Portu-
os benefícios da IoT nomeadamente ao nível da sua contribui- gal, estamos também expectantes com o trabalho conjunto
ção para práticas mais sustentáveis como a monitorização de a ser desenvolvido com a entidade reguladora, tendo em
desperdícios de recursos e a eficiência energética. consideração a estratégia de proximidade, isenção e diálogo,
Em termos do cenário ESG (Ambiente, Social e Governança), já assumida pela nova presidência da ANACOM.
é fundamental prosseguir o trabalho conjunto de todos os
sectores da sociedade na procura de soluções para um mundo
melhor para as novas gerações. Neste ano que agora começa,
será necessário continuar a investir significativamente na Depois de uma pandemia, para além do factor insegu-
requalificação profissional, com reforço nas competências rança causado pelas duas frentes de guerra activas, e
digitais, apostar na diversidade e inclusão, permitindo uma todas as consequências daí decorrentes para a economia
vivência de forma igualitária, e acelerar o processo de migração europeia e mundial, deparamo-nos num cenário inflacionis-
para o uso de fontes limpas de energia. A transição energética ta e aumento das taxas de juro, que, apesar de começar a dar
é uma preocupação conjunta que não irá ser realizada sem a alguns sinais de abrandamento, continua a ter impacto sobre
transição digital. Para a Twin Transition (transição digital e o tecido empresarial e a vida dos cidadãos, pelo que deveremos
energética) o sector das comunicações electrónicas assume olhar para 2024 com prudência.
um papel preponderante, constituindo sem dúvida um factor Adicionalmente, em Portugal, começamos o ano com um
crítico de sucesso, pela aposta permanente no desenvolvimen- quadro de incerteza política, com decisões estruturais em
to e disponibilização de tecnologias e soluções inovadoras e aberto, as quais exercem um impacto directo no funciona-
disruptivas, que possibilitam tendencialmente um consumo mento e crescimento da economia.
energético mais eficiente. Portugal precisa de previsibilidade regulatória, estabilidade
e segurança de mercado, que garantam a atracção de inves-
timento e contínua inovação e competitividade. São estes os
factores críticos que se afiguram como determinantes para o
Apesar do contexto desafiante no sector das comunicações próximo quadro macroeconómico. Por último, e se não mais
electrónicas, acresce o desafio inerente ao facto de ser-se importante, recordo que a aplicação do Plano de Recuperação
líder de mercado, em pretendermos garantir a continuidade e Resiliência, constitui-se como imperativo para a tão esperada
em sermos pioneiros e inovadores na resposta que damos em e necessária transição que o tecido empresarial português
termos da tecnologia disponibilizada e nas respostas que requer, a par da também muito necessária transição do sector
damos às necessidades do mercado e da sociedade, isto é, na público, mais ágil, menos burocrático, catalisador de uma
qualidade de serviço reconhecida pelos nossos clientes. economia e sociedade modernas.

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 25
CAPA Que alterações perspectiva que possam
O QUE ESPERAR DE 2024?
vir a impactar o seu sector em 2024?

A definição clara do papel das entidades gestoras de resíduos


O ano de 2024 começa com muitas incertezas e prevê-se urbanos para a próxima década, como a Sociedade Ponto Ver-
muito desafiante para o sector do Ambiente em Portugal, de, considerando o novo ciclo de licenciamento, um processo
particularmente na gestão dos Resíduos urbanos e para o que passa também para o próximo Executivo.
sector da Reciclagem das embalagens, onde se centra a missão A eficiência de toda a cadeia de valor de todo o sector da
e actuação da Sociedade Ponto Verde. Reciclagem, não apenas no que diz respeito às embalagens,
Faço esta afirmação tendo em consideração cinco aspectos que tem de conseguir responder em conformidade, sabendo
que são fundamentais para o sector: que há novas obrigações a nível europeu e o ano de 2024
Os impactos do aumento de custos de financiamento do sis- começa também com a obrigatoriedade de operacionalizar
tema nacional de reciclagem de embalagens, cuja actualização novos sistemas de recolha de resíduos, como os biorresíduos,
é necessária e defendemos, mas que tem de estar assente num este sim, um grande desafio para o País.
modelo transparente e racional, ligados a objectivos claros de O bom exemplo das embalagens, que continua a ser o único
melhoria de serviço aos cidadãos, com preços justos a serem fluxo a cumprir com as metas da Reciclagem, mas que sabe-
pagos aos sistemas e, claro, em alinhamento com as exigentes mos que tem de acelerar, quando a taxa global é de 60% e,
metas de Reciclagem que o país tem pela frente. Actualização no próximo ano, Portugal precisa de estar a reciclar 65% de
essa que está agora dependente da indicação do novo Governo todas as embalagens que são colocadas no mercado.
que vier a sair das eleições de 10 de Março, é nossa convicção. Tudo isto implica com a nossa actividade diária e, portanto,
A estabilização e simplificação do quadro legislativo e re- fazem parte dos nossos desafios para este ano.
gulatório, o que ainda não acontece; Assim, continuamos comprometidos com aquelas que são as
nossas prioridades: manter o diálogo e o trabalho colaborativo
com todos os agentes económicos e intervenientes da cadeia de
valor para conseguirmos maior alinhamento e mobilização para
a prestação de um melhor serviço de recolha de recicláveis, em
qualidade e conveniência. Vamos continuar a promover Inova-
ção e I&D junto dos nossos clientes e parceiros em busca das
melhores ferramentas, soluções e embalagens, que assegurem
mais e melhor reciclagem para apoiar o cumprimento das metas,
realmente ambiciosas. E vamos dar seguimento à comunicação de
proximidade para promover a literacia ambiental, com iniciativas
no “terreno” e recurso ao poder da digitalização, como aconte-
ceu, recentemente, com o lançamento da app Acerta e Recicla.
Numa visão mais global, 2024 resume-se numa expressão:
o regresso da incerteza. Em Portugal, na União Europeia, nos
EUA e um pouco por todo o mundo decorrerão actos eleitorais
que poderão causar disrupções nos sistemas políticos que há
décadas são a imagem de marca das sociedades assentes em
economias de mercado ocidentais.
ana trigo morais ceo da sociedade ponto verde
A 3 de Janeiro, o Financial Times perguntava se a democracia
sobreviverá a 2024. As tensões geopolíticas poderão agravar-se e

Cumprimento causarem perturbações nas cadeias logísticas e na dinâmica do


comércio mundial e o facto de 2023 ter sido o ano mais quente
de sempre desde que há registos sobre o tema, relembra-nos que

das metas o caminho para a sustentabilidade e a protecção dos recursos


do planeta é necessário, urgente e tem de tornar-se irreversível.

26 JA N E I R O 20 2 4
qualificada, que deverá continuar a
limitar a capacidade de resposta e de
diferenciação das empresas.
Outra questão que está a implicar
mudanças nos modelos de negócio,
processos produtivos e padrões de
consumo, e que possivelmente conti-
nuará a fazê-lo, é a transição energé-
tica e ambiental. As empresas devem
adoptar processos alinhados com os
princípios de sustentabilidade, sob
pena de ficarem fora de contratos de
fornecimento para as grandes com-
panhias que já têm obrigatoriedades
nestas matérias.
antónio carlos rodrigues ceo do grupo casais Porém, vemos também oportuni-

ano dos impactos


dades para 2024, como é o caso de
fundos europeus que disponibilizam
recursos financeiros para projectos
de investimento em inovação, di-
gitalização, sustentabilidade, coe-
são e resiliência. Para além disto, o
Orçamento do Estado incorpora mais medidas de apoio ao
empreendedorismo e ao capital humano das empresas.
Outro ponto a destacar é o facto de que estão a ser cada vez
Estamos actualmente perante cenários marcados por desafios mais explorados os serviços baseados no digital, que permitem
e oportunidades. A inflação é exemplo de um desafio que con- analisar novos mercados, segmentos e necessidades, através
tribuiu para a redução do poder de compra dos consumidores de plataformas potenciadas pela inteligência artificial, o que
e que aumentou os custos de produção e financiamento, o que pode potencializar negócios.
levou a um abrandamento de consumo. Também os conflitos A evolução da ordem mundial pode também representar
mundiais, que podem impactar qualquer plano empresarial, oportunidades na diversificação de mercados, permitindo
têm contribuído para alguma incerteza a nível económico. alargar o leque de clientes e aproveitando as vantagens
O ano de 2024 é um momento em que poderá ser sentido o competitivas de Portugal (energia mais barata do que alguns
impacto na redução de encomendas, com a consequente dimi- mercados europeus, mão-de-obra qualificada, segurança e
nuição da actividade industrial e a escassez de mão-de-obra qualidade de vida).

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 27
CAPA
O QUE ESPERAR DE 2024?

antónio lagartixo ceo e managing partner da deloitte

valor acrescentado
Em 2024, a inovação e transformação tecnológica, e, a
sustentabilidade, deverão manter-se como tendências
estruturais na actividade das organizações. A competitivida-
de dos seus negócios irá depender da capacidade de se adap-
tarem e actuarem de forma efectiva sobre estas dimensões
críticas de mercado.
Na dimensão de inovação e transformação tecnológica, irá
destacar-se em particular a aposta na inteligência artificial,
tendo em conta o seu potencial de disrupção de negócio, criação
de valor e aumento de eficiência das operações.
Olhando para o sector da prestação de serviços profissio-
nais, será fundamental realizar investimentos estruturados
que garantam o desenvolvimento de soluções e serviços, de
alto valor acrescentado, que respondam de forma efectiva às
necessidades dos clientes e mercados, suportando-os nos seus
processos de transformação.
As matérias de sustentabilidade, por seu turno, têm vindo a
ganhar cada vez maior relevância e notoriedade nas agendas organizações abrangidas reportem a informação de acordo com
estratégicas das organizações e decisores. Os resultados do standards, os European Sustainability Reporting Standards.
estudo Deloitte CXO Sustainability Report de 2023, indicam Se por um lado estas novas exigências representam uma
que no último ano 75% das empresas a nível global reconhe- oportunidade de melhoria na prestação de informação aos
cem ter aumentado o investimento em matérias de susten- diversos stakeholders, por outro são também um desafio
tabilidade, sendo que 65% assume que a crescente pressão acrescido, devendo as empresas que actuam no sector da
regulatória tem levado ao reforço destes investimentos e à prestação de serviços profissionais assumir-se como um
tomada de decisão. suporte relevante no apoio ao tecido empresarial. Este apoio
Numa perspectiva europeia esta pressão terá tendência a ser não deverá limitar-se à resposta a temas regulamentares, mas
reforçada com a entrada em vigor da nova directiva de reporte também à transformação do modelo de negócio e operação
corporativo de sustentabilidade, que irá exigir que todas as das organizações.

28 JA N E I R O 20 2 4
E para a sua empresa em particular,
quais os maiores desafios?

activo na criação de conhecimento, trabalhando lado a lado


com universidades e politécnicos, e, simultaneamente, no
No contexto com- desenvolvimento de contextos e oportunidades que assegurem
plexo que enfren- a atracção e retenção de talento em Portugal.
tamos e, que acredito Neste sentido temos vindo a implementar um plano de
continuaremos a en- abertura de escritórios em diversos centros urbanos, como
frentar nos tempos mais Faro, Viseu e Coimbra, garantindo por um lado proximidade
próximos, o maior de- a estes polos de conhecimento, e por outro assegurando a
safio das organizações dinamização da economia dessas regiões, através do desen-
é manterem-se fiéis à volvimento de soluções de alto valor acrescentado para o
sua estratégia, princí- mercado nacional e internacional.
pios e convicções. Re- Respeitando esta estratégia, continuaremos ao longo de
sistir às tentações de 2024 a reforçar a nossa capilaridade, aumentando a nossa
curto prazo e continuar presença fora dos grandes centros urbanos de Lisboa e Porto.
a respeitar, passo a pas-
so, a estratégia defini-
da, que garante a esta-
bilidade e crescimen- Apesar do excedente orçamental das contas públicas em
to do negócio a médio/ 2023, as projecções para a economia portuguesa indicam
longo prazo, é um desa- que 2024 pode revelar-se ser um ano de elevada complexida-
fio tremendo. de. Com a revisão em baixa em 0,3 pp., o Banco de Portugal
Apesar da dificulda- estima que dos 2,1% registados em 2023, passemos para um
de, acredito que é o que crescimento a rondar os 1,2% em 2024.
tem de ser feito e, como A inflação deverá prosseguir a trajectória descendente,
tal, é o que faremos ao passando dos 5,3% em 2023 para 2,9% em 2024, reflectindo
longo de 2024. Temos um os efeitos da redução dos custos de produção e dos impactos
posicionamento muito da política monetária do Banco Central Europeu.
claro no que toca a ma- Numa perspectiva global, a exposição dos mercados interna-
térias de inovação, tec- cionais aos conflitos na Ucrânia e no Médio Oriente mantêm
nologia e serviços de al- elevados os níveis de incerteza. A evolução destes contextos
to valor acrescentado. poderá ter profundos impactos económicos, nomeadamente
Queremos manter esse no que se refere às taxas de juro, cadeias logísticas e preços
posicionamento e con- dos combustíveis. A par destes conflitos será ainda relevante
tinuar a reforçar a nossa oferta com soluções que englobem acompanhar os outros polos de tensão geopolítica, e perce-
em si mesmo, todos os desenvolvimentos tecnológicos mais ber os potenciais impactos da evolução do contexto político
recentes. As diversas iniciativas que temos vindo a opera- norte-americano.
cionalizar são mostra disso mesmo, e o recente anúncio do É neste ambiente desafiante, de desaceleração da nossa
lançamento do novo hub internacional de Generative AI é economia e de volatilidade a nível global, que as empresas
um excelente exemplo. Este hub/centro de serviços, estará e os seus líderes terão de actuar e tomar decisões. O ano de
focado no desenvolvimento de soluções baseadas em Ge- 2024 irá com toda a certeza trazer novos desafios aos agentes
nAI, suportando clientes em mais de 40 países da Europa económicos, mas estou convicto de que o ciclo de crescimento
e África. das empresas poderá manter-se numa rota de estabilidade se
Para suportar esta aposta teremos naturalmente de con- soubermos antever e preparar os nossos negócios aos estímulos
tinuar focados na gestão de talento. Devemos ter um papel da oferta e da procura.

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 29
CAPA Que alterações perspectiva que possam
O QUE ESPERAR DE 2024?
vir a impactar o seu sector em 2024?

Do ponto de vista da CIP - Confederação Empresarial de


Portugal o maior desafio é convencer os decisores políti-
cos e uma parte dos portugueses que só com crescimento
económico é possível resolver o problema crónico dos baixos
salários que persistem no nosso país. Ora bem, crescimento
económico, como o vemos na CIP, não é apenas uma abstrac-
ção. Pensamos que é fundamental um crescimento assente
cada vez mais em actividades de maior valor acrescentado,
logo actividades mais produtivas, que se revelem capazes de
alimentar uma melhoria sustentável e constante do nosso nível
armindo monteiro presidente da cip de vida colectivo. Como é que isso se faz? O primeiro passo é

melhores salários
reconhecermos que temos um problema estrutural. Há uma
grave falta de investimento no nosso país. Os sucessivos gover-
nos fazem vista grossa a este problema, embora gostem de
proclamar que os salários devem todos subir. O nosso desafio
para 2024 é deixarmos claro de uma vez por todas que melho-
res salários implicam, tem de implicar, maior produtividade.
Há várias incertezas neste novo ano, mais do que as ha- Melhores salários sem mais produtividade acaba sempre mui-
bituais. As duas guerras em curso, o que acontecerá? Bem to mal para todos, porque não é sustentável. As empresas e a
sei que hoje as economias e as pessoas demonstram uma economia acabam por não resistir e colapsam. Finalmente, o
enorme capacidade de adaptação à adversidade, mas estas nosso desafio é também deixar claro de uma vez por todas que
duas guerras estão longe de estar resolvidas e os riscos geo- os empresários não querem uma economia de baixos salários.
políticos são imensos. Para já, não há sinais de qualquer tipo Queremos todos um país melhor, mais competitivo, mais coe-
de acordo entre os beligerantes, e as mortes e a destruição so e mais internacionalizado e com menos desigualdade.
continuam. As imagens das ruínas do Afeganistão estão de
volta, mas agora nas fronteiras da Europa e mesmo dentro
da Europa. Esta catástrofe tem de acabar.
A este drama, junto, num plano completamente diferente, Todos os indicadores apontam para um fraco crescimento,
mas com fortíssimo impacto no nosso país, a situação polí- talvez a rondar 1,5% do PIB. O nosso país está a travar
tica. Teremos dois actos eleitorais, pelo menos: legislativas desde o segundo semestre de 2023. O desemprego, embora se
e europeias. Ninguém sabe qual o quadro parlamentar que mantenha baixo, começou a subir no Verão e é provável que
sairá das eleições de 10 de Março. Vai existir uma maioria mantenha essa trajectória. Como já avisou o Banco de Portugal,
com força para governar? Essa maioria será suficientemente se o desemprego aumentar isso significa que o último dique que
estável e, mais do que isso, estará ciente de que o país precisa nos aguenta cedeu e teremos problemas, até do ponto de vista
de rumo, decisões pensadas e sólidas que favoreçam a eco- da coesão social. Não é certo que aconteça o pior desfecho, e
nomia? Veremos, claro, mas as expectativas não são altas. ainda bem, mas inquieta-me que os decisores façam de conta
Faço uma última referência à inflação, para já controlada que não se passa nada e que está tudo bem. Não está, infelizmen-
e a caminhar no bom sentido, que abre espaço para alguma te. Podemos até evitar as piores consequências, mas o que não
redução das taxas de juro talvez para o fim do segundo se- evitaremos é que vamos ter mais um ano a marcar passo. Faço
mestre deste ano. As famílias estão em esforço máximo, as notar que as empresas vão fazer o que puderem para contra-
empresas também, os riscos para a coesão social são, por isso, riar as más notícias. Os empresários nunca ficam à espera sen-
evidentes. Os decisores do BCE terão de ter muita atenção ao tados: temos muitas responsabilidades, salários a pagar, impos-
que está a acontecer na economia real. tos a pagar, pagamentos a fornecedores. Não podemos parar.

30 JA N E I R O 20 2 4
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CAPA Que alterações perspectiva que possam
O QUE ESPERAR DE 2024?
vir a impactar o seu sector em 2024?

O sector jurídico tende a ser especialmente resiliente aos


diferentes ciclos macroeconómicos. Assim, mesmo com
as condicionantes internas do País e a instabilidade mundial,
antecipamos que 2024 venha a ser mais um ano de cresci-
mento de trabalho nos sectores que mais estão a mexer, ou
seja, o sector tecnológico, a transição energética, os temas
relacionados com a propriedade intelectual. Também ante-
cipamos que 2024 vai trazer mais trabalho transaccional a
aproveitar a previsível queda das taxas de juro, que resulta
do controlo da inflação.

Todo o sector enfrenta desafios aos quais não somos, de


todo, imunes e dos quais beneficiaremos: a aceleração
da transformação digital e a preparação para a incorporação
da inteligência artificial na nossa actividade, de modo a não
só maximizar a eficiência como na retenção de valor. Para isso
é indispensável preparar as nossas equipas, tanto de produção
como de gestão, para a adopção de ferramentas que nos per-
mitam o máximo aproveitamento desta nova realidade.

2024 é um ano que começa com muitas incertezas e


focos de tensão de várias ordens, nomeadamente econó-
mica e geopolítica. Não ignoramos, naturalmente a crise
política nacional, que certamente cria um clima de impasse
nos primeiros meses do ano. Dito isto, e mesmo num cenário
nacional e internacional de instabilidade, a verdade é que
bruno ferreira managing partner da plmj Portugal continua a ser um destino atractivo para investi-
mento e contamos que isso mantenha alguma actividade no

Crescer no mercado mercado transaccional. Sublinhamos também que os fundos


vindos do PRR terão impacto na forma como o mercado

transaccional
nacional vai mexer, tendo em conta que vão aumentar o in-
vestimento público, nomeadamente nos serviços e equipa-
mentos, transição energética e climática, descarbonização
da economia, entre outros.

32 JA N E I R O 20 2 4
E para a sua empresa em particular, Atendendo ao actual contexto, que expectativas
quais os maiores desafios? a nível macroeconómico para Portugal?

Em 2024, prevejo avanços significativos nas


áreas tecnológicas. A electrificação automó-
vel é já uma certeza que vai continuar a sua ex-
pansão, as baterias irão ter diferentes tecnologias
e a autonomia das viaturas eléctricas vai aumen-
tar significativamente. A IA vai continuar a sua
disseminação em todas as áreas, acredito que
com maior ênfase na ética e regulamentação,
garantindo desta forma a sua aplicação e o seu
uso de forma responsável e segura, não permi-
tindo a sua utilização para intrusão na vida das
pessoas, mas sim em benefício da sociedade, do
ambiente, e sempre de forma sustentável.
Vamos também ter avanços significativos nas
tecnologias ainda emergentes, como machine
learning e automação, e por consequência, os
seu impacto muito significativo nos sectores da carlos ribas responsável da bosch em portugal
saúde, finanças, transportes, educação e sus- e administrador técnico da bosch em braga

avanço nas tecnologias


tentabilidade ambiental. A adaptação a estas
mudanças, deve em permanência garantir a
segurança e integridade dos dados.

Na nossa área de negócio e sabendo que os veículos au- a capacidade de nos adaptarmos aos desafios de um mundo
tomóveis continuam a aumentar de forma significativa em mudança permanente e acelerada em que as certezas do
a sua componente electrónica, prevemos continuar a crescer hoje, desapareceram e tudo está a ser colocado numa pers-
de forma sustentada nos próximos anos. Estamos atentos aos pectiva diferente. Em geral, e como optimista convicto, es-
sinais do mercado e tentamos ser ágeis na adaptação às novas pero a introdução de medidas para impulsionar o crescimen-
realidades, através de inovação, da criatividade e visão dos to económico, gerar empregos dignos e fortalecer sectores
nossos colaboradores, sabemos que novas tendências e novos estratégicos. Peço aos futuros governantes deste País de
modelos de negócio estão a nascer e queremos estar prepara- gente humilde, resiliente, crente, digna e fantástica, que es-
dos para tirar vantagem desta mudança. colham as pessoas mais válidas não só do ponto de vista
Com a IA desenvolvida pela OpenAI, estaremos atentos técnico, como em valores morais e altruísmo, que acreditem
e, por se tratar de uma ciência muito recente, valorizamos a com convicção que querem governar para servir a sociedade,
necessidade de melhorar de forma contínua a compreensão que vão abordar as necessidades urgentes da população,
contextual e conseguir a precisão e credibilidade que enten- promovendo um desenvolvimento económico sustentado
demos serem necessárias. baseado em conhecimento, criatividade, inovação e assente
em princípios éticos. Investir mais na educação e saúde, que
tenham a coragem de implementar as reformas necessárias
para enfrentar os grandes desafios sociais como: habitação,
Dada a natureza dinâmica do cenário macroeconómico, saúde, trabalho digno, segurança, infra-estruturas, oferecer
as expectativas para Portugal dependem de vários fac- aos idosos condições para uma velhice de qualidade e recu-
tores: políticas governamentais, desenvolvimentos globais e perar áreas estratégicas que garantam a soberania nacional.

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 33
CAPA Que alterações perspectiva que possam
O QUE ESPERAR DE 2024?
vir a impactar o seu sector em 2024?

francisco teixeira ceo do grupom

um ano mais desafiador


34 JA N E I R O 20 2 4
Em 2024 o mundo andará mais rápido, o consumidor será vez desafiado com o anunciado fim dos cookies, enquanto o
ainda mais exigente e selectivo e as marcas continua- motor do impacto continuará a estar cada vez mais na criação
rão (e bem!) na senda do quero-fazer-diferente-mas-quero- do conteúdo mobilizador e eficaz, do que propriamente no
-fazer-bem. domínio do canal em que o conteúdo é transmitido.
Gastar e investir continuarão a ser coisas bem distintas, As pessoas, a entrega, a qualidade, a criatividade, o alinha-
enquanto a qualidade, a perenidade e a resiliência dos me- mento e a motivação, juntamente com a diversidade técnica
dia continuará a ser desafiada e a dizer muito sobre o nosso das equipas continuarão a fazer toda a diferença. Não bastará
desenvolvimento enquanto País... E a falta que ele nos faz. sermos bons, é preciso prová-lo. Ainda bem que é assim.
Recorrendo ao quê de Zandinga que todos temos, sigo por
mais evidências: o digital continuará a transformar o linear
em todo o seu esplendor, o uso e o abuso da data e da tecno-
logia continuarão a transformar o digital, e como em terra de «Escrevo-vos uma longa carta porque não tenho tempo
cegos quem tem olho é rei, aceder a boa informação, actual de a escrever breve», dizia Voltaire. Passados estes anos
e organizada continuará a ser quase tudo, mas saber o que todos, o nosso maior desafio é idêntico ao deste escritor fran-
fazer com ela em tempo útil e de forma eficaz é, e continuará cês do século XVIII, e reside na entrega permanentemente
a ser, tudo o resto. de “cartas” tão curtas quanto eficazes aos nossos clientes.
As marcas vão querer aumentar a relação directa com os Enquanto o mundo do marketing ganha complexidade téc-
consumidores (direct to consumer), nomeadamente com o nica e tecnológica, o consumidor apodera-se, e bem, de mais
maior domínio possível dos canais de comunicação e de ven- saber e de mais querer, cresce a diversidade de opções, assim
das, o que não retira qualquer valor acrescentado ao trabalho como o ruído e a dúvida em torno daquela que será a melhor
das agências, mas exigirá que depositem mais agilidade, e mais eficiente solução.
diversidade e criatividade no que diz respeito à sua oferta. É no alinhamento entre a tecnologia de ponta, a criatividade
2024 será, por tudo isto e mais alguns aspectos, um ano que surpreende e resulta e o serviço a cliente impoluto que
mais desafiador do que o seu antecessor. A conjuntura eco- reside a chave do sucesso dos nossos clientes (e só aí, o nosso).
nómica, política e social, esse chavão que ora nos impõe ora Atrair, reter e desenvolver o melhor talento é, por tudo isto,
nos permite, irá pressionar ainda mais a carteira do consu- ao mesmo tempo, a coisa mais relevante do nosso mundo, e
midor que com grande probabilidade ou perderá poder de o nosso maior desafio.
compra, ou dificilmente ganhará. Falta-nos um termómetro
da economia paralela, mas é difícil não antever que continue
a crescer, basta termos em conta o valor médio das transac-
ções de casas ou o número de carros novos comprados pelos Espero que 2024 seja um ano de viragem e que as polí-
portugueses e o compararmos com o salário médio nacional. ticas públicas ajudem finalmente a melhorar o estado do
De algum lado ele vem... Estado, em áreas cruciais para o nosso futuro como a educa-
O clima é também propício ao crescimento da importân- ção, a inovação e a saúde. Espero que o novo Governo saiba
cia do valor percepcionado. Por um lado, os consumidores escolher e excluir muito bem para que o País consiga alocar
querem que as marcas lhes ofereçam os produtos e serviços os nossos melhores e mais diferenciados recursos colocando-
mais acertados às suas necessidades pessoais e individuais -os ao serviço do crescimento da economia. Eleições à parte,
(sempre com o melhor preço, obviamente), por outro as em- e teremos três, veremos quando e com que força entrará a
presas continuam dependentes da optimização dos seus orça- onda de investimento do PRR na economia.
mentos no equilíbrio constante entre a construção de marca Para o marketing e as marcas, o ano de 2023 acabou por
(valor intangível que quebra as amarras à variável preço), e sair melhor do que a encomenda, e tudo indica melhor do que
as soluções que apontam à conversão e retorno imediatos. É 2024, que será um ano bom e de crescimento, embora a dois
por isso natural o crescimento do commerce como resposta tons: um primeiro semestre mais frugal, um segundo com
integrada, num contexto em que o acesso à data será mais uma maior investimento.

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 35
CAPA
O QUE ESPERAR DE 2024?

inês sequeira mendes managing partner da abreu advogados

uma nova realidade

A inteligência artificial (IA) poderá ser um poderoso ins-


trumento para a reforma da justiça portuguesa. O sector da
advocacia irá conhecer uma nova realidade. O recurso à IA
vai acelerar procedimentos, possibilitar maiores recolhas de
dados e a sua comparabilidade, gerar conhecimento e per-
mitir que os advogados não percam tanto tempo em funções
rotineiras e repetitivas. A forma de trabalhar mudará, assim
como a gestão dos recursos humanos, meios técnicos e co-
nhecimento e, com elevada probabilidade, a própria condução
estratégica das sociedades de advogados. Porém, temos de estar
atentos, pois os riscos da mecanização e despersonalização
dos serviços jurídicos e da própria Justiça existem e devem
ser contrariados pela concepção da IA como uma ferramenta
ao serviço dos seres humanos.
O controlo de riscos está intimamente ligado com uma
outra questão crucial, a da Lei da União Europeia sobre IA,
que será a primeira regulamentação de IA a nível mundial.
A primeira proposta foi apresentada pela Comissão Europeia
em 2021 com o IA Act, mas muitas alterações foram intro-
duzidas no Parlamento Europeu. Já em Dezembro, seguiu-
-se uma ronda de negociações entre a Comissão Europeia, o
Parlamento Europeu e o Conselho da UE, que chegaram a
um acordo, ainda que provisório.
A Abreu está atenta à transformação digital que aí vem.
Temos tido sempre evoluções tecnológicas, mas chegámos
um momento de viragem: as mudanças vão ser muito mais
rápidas e mais profundas e isso implica ter uma estrutura
dedicada a esta área dentro da sociedade que seja robusta.
Esta será, sem dúvida, uma das nossas apostas para 2024.

36 JA N E I R O 20 2 4
E para a sua empresa em particular,
quais os maiores desafios?

caso da Europa, a estimativa para 2024 é de um aumento de


11% nas novas instalações nos vários mercados.

O potencial de crescimento das renováveis é imenso, com


especial destaque para a energia solar fotovoltaica. As
soluções de autoconsumo, que são uma opção óbvia para as
empresas, pela necessidade de descarbonização das suas ac-
tividades e pela poupança que permite na factura energética.
Este ponto é particularmente relevante após um período
marcado por uma escalada nos preços dos combustíveis fósseis.
Os desafios são, diria, dois. Por um lado, é importante que
seja possível acelerar os processos de licenciamento de pro-
jectos de energias renováveis, tanto de grandes projectos, os
Utility Scale, como das soluções de autoconsumo colectivo, as
Comunidades de Energia, quer permitem levar as vantagens
das energias renováveis às famílias. Por outro, ainda ao nível
joão manso neto ceo da greenvolt da Geração Distribuída, nas soluções de autoconsumo não

Reforço das
são precisos quaisquer apoios, mas é preciso capacidade de
decisão por parte das empresas. Os líderes empresariais têm
de compreender os custos da inação, assumindo a responsa-

renováveis
bilidade de tomarem a decisão de dar o passo no sentido da
adopção de soluções de geração de energia que é amiga do
ambiente e mais barata.

Não esperamos uma alteração em si, mas sim um acelerar Após a COVID-19, Portugal conseguiu rapidamente
de uma tendência que se tem verificado já nos últimos retomar um padrão de crescimento mais acelerado que
anos. No Grupo Greenvolt, acreditamos que a apetência pelas já estava a trilhar até 2019. 2024 será um ano marcado por
energias renováveis irá aumentar ainda mais em 2024, bem um forte abrandamento da economia europeia, reflexo da
como nos anos seguintes. acção musculada por parte do Banco Central Europeu para
É cada vez maior a consciência dos líderes políticos, dos travar a escalada da inflação. Portugal também será confron-
líderes empresariais e do público em geral quanto à neces- tado com um abrandamento expressivo, mas as projecções
sidade de se acelerar no importante processo de transição apontam, ainda assim, para um crescimento de 2,2%, acima
energética, procurando desta forma contribuir para a luta da média europeia.
contra as alterações climáticas. Essa urgência deverá ditar Este nível de crescimento, associado ao trabalho realizado
um crescimento acentuado de nova capacidade instalada, no sentido das contas públicas certas, que têm levado a uma
com especial destaque para a energia solar. quebra do rácio da dívida, são extremamente importantes
Portugal conta já com cerca de 3,5 GW de capacidade insta- para que a economia portuguesa possa atravessar um ano mais
lada em energia solar, sendo que as mais recentes projecções desafiante. E junta-se a isso o PRR que, se bem executado,
da Solar Power Europe apontam para um crescimento médio pode dar um impulso importante ao PIB, assim seja utilizado
anual de 29% nas novas instalações entre 2024 e 2027. No em investimentos estruturantes para o País.

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 37
CAPA Que alterações perspectiva que possam
O QUE ESPERAR DE 2024?
vir a impactar o seu sector em 2024?

josé cardoso botelho ceo da vanguard properties


nomeadamente, numa unidade de pré-fabricação de elemen-

uma reforma tos construtivos.

do estado Portugal, pelo esforço exclusivo das famílias e das em-


presas, tem sido capaz de melhorar a situação macroe-
conómica; no entanto, sem uma reforma profunda do Estado
e demais entidades públicas, o futuro não será brilhante. O
êxodo dos mais qualificados, a importação de mão-de-obra
Após as eleições e um novo Governo é provável que venha sem qualificação (que gerará problemas de segurança), a
a haver alterações legislativas, dependendo de quem é desintegração de serviços críticos (SNS/Saúde, Educação,
eleito, visto que os partidos com maiores hipóteses de cons- Justiça, etc.) por falta de gestão e por vezes de investimento,
tituir Governo têm planos para a habitação publicados diver- não auguram nada de positivo a prazo. Um PRR direcciona-
gindo em diversas matérias. do ao Estado, sem alteração do paradigma das empresas
Em todo o caso, o que seria importante numa primeira (reforço dos meios de produção/tecnologia) não vai alterar a
fase seria a implementação de um Simplex do licenciamento qualidade das nossas empresas e produtos – apenas vai gerar
que permitisse, com a devida segurança jurídica, tornar os compras a preços extraordinariamente baixos, agravando
processos de licenciamento mais céleres, transparentes e ainda mais a situação de muitas empresas. Portugal, neste
previsíveis. Adicionalmente, seria pertinente que fosse revista momento, não tem uma visão e objectivos claros e isso vai-nos
a fiscalidade, altamente agressiva no sector residencial. ser fatal se a curto-prazo não mudarmos de estratégia. A
Em termos de taxas de juro, acreditamos que a partir do subsídio-dependência, é apenas a manifestação última do
segundo semestre de 2024 comecem a descer, tanto nos créditos fracasso do actual paradigma.
à compra de habitação como na promoção, a par
da contínua redução da taxa de inflação. Isto
significa que a procura por habitação ao nível
da compra poderá aumentar nos segmentos
mais baixos e mais dependentes do crédito.
Ou seja, sem um licenciamento mais expedito,
dificilmente o problema da habitação diminui.
Em termos de procura, até pela falta de
oferta (há menos licenças emitidas) bem como
pela má publicidade que Portugal tem feito
nos mercados externos, poderá haver alguma
redução na procura.

A morosidade do licenciamento, mão-de-


-obra, custos de construção e as condições
de financiamento. Para tentar reduzir o pro-
blema vamos avançar com departamento de
procurement global, gestão directa de emprei-
tadas e unidade de facilities management e
claro, reforço nos investimentos industriais,

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CAPA Que alterações perspectiva que possam
O QUE ESPERAR DE 2024?
vir a impactar o seu sector em 2024?

josé eduardo carvalho presidente da aip


Para 2024 a AIP definiu quatro áreas de intervenção que

a reestruturação são prioritárias:

(i) Transição energética

empresarial Estamos integrados em consórcios para a instalação de unida-


des de produção de biometano; constituição de comunidades
de energias renováveis; e apoio e dinamização de projectos
de descarbonização nas empresas.
A transição energética no sector industrial exige um es-
forço de investimento muito elevado e não sei se o sistema
A crise das dívidas anteriores alargou o fosso entre Por- de incentivos estará a responder às necessidades. Por fim,
tugal e a UE em 8%. Recuperámos 4% até 2022. Este acrescentava que Portugal não pode continuar a viver num
desempenho, apesar de insuficiente, é fruto de uma mudan- estado de negação em relação aos actuais desenvolvimentos
ça estrutural da economia portuguesa que se baseou no au- de tecnologia nuclear e ao que se está a passar neste domínio
mento significativo da sua competitividade externa e na em alguns países europeus.
melhoria da qualificação dos empregos. Dos 4,1 milhões de
activos, 34% têm qualificação superior. (ii) Produtividade industrial
Mas esta mudança tem agravado a segmentação da estrutura Vamos dinamizar um conjunto de projectos na área da produ-
empresarial. Por um lado, um segmento de empresas capitali- tividade industrial, incidindo no “chão de fábrica”. A diferença
zadas, exportadoras, balanços robustos, dimensionadas, me- da produtividade industrial em Portugal com os outros países
lhores salários, e com investimento significativo em I&D. E por europeus é alarmante, e os ganhos de produtividade têm esta-
outro, um segmento descapitalizado, endividado, com balanços do constantemente a diminuir. E como sabemos, a melhoria
degradados e ebitdas’s que não cobrem os custos financeiros.
O primeiro segmento tem puxado pela economia portuguesa
e evidencia uma resiliência (que continua a não ser estuda-
da) que decerto enfrentará os desafios provocados por uma
conjuntura económica adversa. O abrandamento da econo-
mia nacional; a contração económica dos nossos principais
mercados de exportação; a manutenção das elevadas taxas de
juro com reflexo no acesso ao crédito; a volatilidade dos custos
energéticos; a carência de recursos humanos qualificados; e
a forte pressão para o aumento de salários; irão obrigar as
empresas portuguesas a um redobrado esforço de gestão.
O crescimento dos processos de insolvência no 2.º semestre
de 2023 (19,7% até Outubro) e a falta de compromisso de
alguns bancos com a economia nacional, são indicadores
preocupantes que poderão provocar um choque de selecção
no segundo segmento acima referido.

Toda a actividade da AIP está centrada nos objectivos


de melhorar a qualidade de gestão e aumentar a produ-
tividade dos seus associados e empresas em geral.

40 JA N E I R O 20 2 4
E para a sua empresa em particular, Atendendo ao actual contexto, que expectativas
quais os maiores desafios? a nível macroeconómico para Portugal?

da competitividade do país é condicionada pela evolução da (ii) Trajetória da despesa pública


produtividade. Temos a 5.ª economia menos produtiva da UE. Existe nas empresas e nos trabalhadores uma manifesta ati-
tude de saturação fiscal. Chegou-se ao limite e começou-se
(iii) Dimensionamento empresarial a dar importância à avaliação que os contribuintes fazem da
É o maior desafio da economia portuguesa. Enquanto a nossa utilização dos recursos que cedem ao Estado.
estrutura empresarial continuar com 7400 médias empresas Poderá haver redução de impostos sem contenção ou
e 1300 grandes empresas, nunca conseguiremos aumentar de diminuir a despesa pública? Andamos anos a defender exce-
forma significativa a produtividade, as remunerações, base dentes orçamentais e achamos que essa era uma prioridade
exportadora do país e o I&D. da política orçamental dada a dimensão da dívida pública e
Serão desenvolvidas acções e programas de concentração do fraco investimento público que ocorreu. Agora desvalo-
e reestruturação empresarial. riza-se esse objectivo e enfatiza-se outras dimensões da po-
lítica orçamental.
(iv) Capitalização Qual será o comportamento e a trajectória da despesa
Sendo a insuficiência de capitais próprios um dos grandes pública quando se constata que a mudança ou a reprodução
problemas dos balanços das empresas, e havendo instrumen- do poder político assenta na satisfação das exigências de
tos de política pública com forte dotação para financiar estas dois estratos sociais: reformados e funcionários públicos. Os
operações, a AIP vai continuar empenhada na dinamização grupos sociais mais dinâmicos da sociedade e as empresas
da sua procura. não constituem prioridade.
Sabemos que a cultura empresarial é refratária a estas
operações, e por vezes, os instrumentos não estão desenhados (iii) Evolução preços e salários
para o tecido empresarial que temos. O trabalho não é fácil, Haverá em 2024 uma forte pressão para aumentar salários. A
mas é para isso que servem as associações empresariais. remuneração média em termos absolutos já aumentou 5,96%
no 3.º trimestre deste ano. Segundo o Prof. Ricardo Reis, o
equilíbrio entre crescimento dos preços e salários deveria
centrar-se à volta de 4%.
Já atrás enunciamos os factores externos que poderão Em 2023, o Governo conseguiu moderar e conter os aumentos
constituir uma ameaça à economia portuguesa. São mais da administração pública. Duvida-se que consiga este ano.
determinantes do que factores internos (crise política, insta- Será que os salários reais se vão posicionar acima ou abaixo
bilidade governativa provocada por uma possível fragmen- desse referencial? Não é indiferente para as empresas e para
tação parlamentar, pressão sobre a despesa pública). a economia. E conseguir-se-á correlacionar o aumento das
Há, no entanto, alguns desafios que gostaria de comentar: remunerações com a evolução da produtividade?

(i) Atracção de investimento estrangeiro (iv) Retenção e atração de quadros técnicos


As vantagens do IDE são evidentes: reforça a competitividade Outro dos desafios que a economia e as empresas enfrentam.
externa da economia; melhora a qualidade de gestão; aporta Continuará a saída dos jovens quadros técnicos para o mercado
capital; qualifica trabalhadores e melhora o nível das remu- de trabalho internacional usufruindo de salários internacio-
nerações; introduz novas tecnologias e inovação. nais? Que sentido faz a discussão sobre a precaridade laboral
Temos capacidade para atrair a deslocalização e a diversifi- destes jovens quando eles desvalorizam o vínculo contratual
cação das cadeias de valor que ocorre na economia mundial? indeterminado como factor de contratação? Conseguiremos
Far-se-á alguma alteração na imprevisibilidade fiscal, na atrair competências e quadros estrangeiros para as empresas e
rigidez da legislação laboral inadequada à actual revolução para a economia nacional quando se limita a competitividade
tecnológica e à economia do conhecimento? E resolver-se-á fiscal na sua atracção? Como se entra na economia do conhe-
um conflito existente há muitos anos entre as necessidades de cimento com um código de trabalho assente nas premissas
crescimento do país e a inflexibilidade da protecção ambiental? jus-laborais do século passado?

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 41
CAPA Que alterações perspectiva que possam
O QUE ESPERAR DE 2024?
vir a impactar o seu sector em 2024?

O sector da pasta e papel experienciou desde o final de que trará uma normalização na procura. No global, no Grupo
2022 e grande parte de 2023 um processo de ajustamen- Altri antecipamos assim uma maior estabilidade no sector,
to do ciclo do mercado. Enquanto a China manteve uma tanto a nível de volumes como de preços.
política de COVID Zero durante um período prolongado, com
impacto na procura global, a Europa e os EUA entraram, no
pós-pandemia, num período de destocking que levou a uma
quebra na procura por fibras celulósicas e, consequentemen- Temos assistido a uma redução gradual dos custos va-
te, a uma redução expressiva dos preços nos mercados inter- riáveis durante 2023 como consequência, em grande
nacionais num período de inflação nas matérias-primas. medida, da normalização dos preços de electricidade e gás
Este cenário começou a inverter-se nos últimos meses, com natural, mas diria que o contexto continua a ser desafiante.
destaque para a evolução positiva registada na China que de- Neste sentido, o foco nos custos terá de prosseguir em 2024,
verá continuar a impactar decisivamente todos os mercados ao mesmo tempo que continuaremos o trabalho de melhoria
no próximo ano. No caso da Europa, a expectativa é de alguma de eficiência das operações nas nossas três unidades produ-
recuperação na procura, reflexo de alguma recuperação eco- tivas em Portugal. Apontaria também como desafio a opti-
nómica na Europa central e do fim do processo de destocking mização da capacidade que já temos instalada, assim como
o de maximizar a disponibilidade de energia térmica e eléc-
trica da nova caldeira da Caima.
Ao mesmo tempo, o Grupo Altri terá algumas de decisões
importantes para tomar durante o próximo ano, em parti-
cular sobre o Projecto Gama. Continuamos a trabalhar neste
projecto que prevê a construção de uma unidade industrial de
raiz na Galiza, em Espanha, com uma capacidade produtiva
anual de 200 mil toneladas de pasta solúvel e 60 mil tone-
ladas de fibras têxteis sustentáveis, sendo que a intenção é
a de anunciar a decisão final de investimento a curto prazo.

Apesar de um contexto de instabilidade geopolítica actual,


o arrefecimento das economias e a inflação elevada já se
fizeram sentir em 2023. As perspectivas para 2024 na Euro-
pa são de alguma melhoria económica, com o contributo
importante da Alemanha, e de alguma contenção generali-
zada da inflação.
Depois de 2023 a crescer acima da UE, Portugal deverá
abrandar em 2024, mas ainda assim a manter um nível de
crescimento ligeiramente acima da EU, de acordo com as
previsões da Comissão Europeia. Esse crescimento, embora
inferior ao registado em 2023, é extremamente importante
josé soares de pina ceo da altri para o clima de negócios e investimento, ainda para mais,

foco nos custos


sendo atingido num contexto de equilíbrio orçamental. Será
importante conseguir uma clarificação da situação política
em Portugal com uma solução estável e que incentive o in-
vestimento no nosso país.

42 JA N E I R O 20 2 4
reforçámos em 2023 a nossa política de remunerações, com
actualizações salariais e do subsídio de refeição, oferecendo
diversos benefícios, desde seguro de saúde a condições pri-
vilegiadas nas unidades Pestana. Fruto da nossa política de
partilha de resultados com os colaboradores, em média, os
colaboradores receberam 16 salários em 2023.
Em 2024, continuamos comprometidos em valorizar a nossa
oferta, as nossas infra-estruturas, continuando a assegurar
a qualidade e a excelência dos nossos serviços. A aposta do
Pestana Hotel Group passa, por isso, pela renovação de al-
gumas unidades hoteleiras emblemáticas, como é o caso do
Pestana Delfim que dará lugar ao Pestana Blue Alvor Beach
no Algarve, um resort tudo incluído, com abertura marcada
josé theotónio ceo do pestana hotel group para maio deste ano. Daremos igualmente continuidade à
construção de grandes projectos nacionais e internacionais de

reconhecer o hotelaria como o primeiro hotel eco-resort em Porto Santo, o


Pestana Dunas, ou o primeiro hotel do Pestana Hotel Group

tecido empresarial
em França, o futuro Pestana CR7 Paris, um projecto de 60
milhões de euros inserido numa profunda reabilitação urbana
junto à gare de Austerlitz. Estaremos também muito atentos
a novas oportunidades de expansão internacional.
No segmento imobiliário, um pilar muito relevante do grupo,
e uma área na qual a nossa marca Pestana Residences tem a
Em 2024, o scetor do Turismo continuará a enfrentar ambição de se tornar num dos principais players no mercado,
desafios decorrentes da volatilidade global, incluindo temos diversos projectos a decorrer quer na zona da Comporta
conflitos geopolíticos, custos de produção em ascensão e e do Oeste Alentejano, do qual se destaca o projeto Pestana
taxas de juro altas. No entanto, apesar da necessária prudên- Porto Covo Village, que iniciou a construção em 2023, mas
cia, também olhamos para o novo ano com confiança e iden- também vários projectos no Algarve e na Madeira.
tificamos oportunidades para inovação e crescimento. Acre-
ditamos que a sustentabilidade continuará a ser uma
prioridade para o sector e esperamos que exista um maior
foco na formação e desenvolvimento de talento, bem como Em termos macroeconómicos, esperamos que 2024
na valorização dos colaboradores. traga maior estabilidade e previsibilidade.
Gostaria que o tecido empresarial português, um pilar fun-
damental na economia e no desenvolvimento do país, fosse
devidamente reconhecido e valorizado pela sua contribuição
Para o Pestana Hotel Group, os maiores desafios em crucial neste processo. Que as empresas possam prosperar
2024 serão a gestão da volatilidade e incerteza globais no próximo ano, contribuindo assim para o crescimento e
e a continuidade do nosso compromisso com a sustentabi- melhoria da nossa economia e, consequentemente, da nossa
lidade, a inovação, sem nunca perder o nosso foco nas pes- sociedade, seja através da criação e melhoria do emprego,
soas, investindo na sua formação, no seu desenvolvimento atracção de investimentos ou desenvolvimento regional e local.
e valorização. Espero que a economia portuguesa possa continuar a
A captação e retenção de talento permanecem priorida- desenvolver-se e que o sector do turismo continue a desem-
des para o Pestana Hotel Group em 2024. Razão pela qual penhar um papel importante nesse crescimento.

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 43
CAPA
O QUE ESPERAR DE 2024?

marcelo nico director - geral tabaqueira

visão estratégica

As empresas e as famílias portuguesas voltaram a mostrar,


no último ano, a fibra de que são feitas: diante de um cenário
macroeconómico marcado pelo encarecimento do finan-
ciamento e pela perda do poder de compra, resistiram. As
empresas continuaram a investir e a crescer, defenderam o
emprego e a criação de riqueza; as famílias, apesar do golpe
nos rendimentos infligidos pela elevada inflação e por taxas
de juro altamente penalizadoras, mantiveram-se firmes.
Fortemente exportadora, a economia portuguesa conseguiu
até fazer frente à desaceleração económica de países dos
quais é bastante dependente, mais uma vez dando nota da
resiliência que a caracteriza – amplamente testada e exercitada
no período pandémico. A inflação, entretanto, desacelerou
mais rapidamente do que o expectável, levando a crer numa
inversão nas taxas de juro mais próxima do que a inicialmente
prevista até pelo próprio Banco Central Europeu, e os agen-
tes económicos nacionais pareciam entrar na recta final de
2023 mais certos do que os esperaria em 2024 – ainda que rente sublinhar-se a importância da garantia de um quadro
o mundo e a intensificação de conflitos, nos últimos anos, regulamentar e fiscal estável, mas esse desígnio é mais rele-
teimem em impor à força uma volatilidade geopolítica e uma vante do que nunca, quando se antecipam cenários de maior
desesperança na humanidade que deixa pouco espaço para volatilidade política e governativa. Assegurar a estabilidade
grandes optimismos. tão necessária à atracção de investimento será fundamental
No entanto, chegamos a 2024 menos optimistas do que para garantir a vitalidade do tecido económico, a manutenção
aquilo que o cenário macroeconómico faria adivinhar. Num do emprego e a dinâmica das exportações nacionais, numa
novo ano que arranca com um primeiro trimestre marcado lógica de criação de valor.
por eleições legislativas antecipadas, é preciso, antes de mais, Como economia, pelas suas próprias limitações de mercado,
garantir compromissos firmes e a construção de caminhos Portugal tem o desígnio de subir na cadeia de valor, acrescentado
orientadores que tenham, verdadeiramente na sua base, uma mais ao que produz. Isso faz-se pela inovação, pela atracção
visão estratégica de longo prazo. Entre empresas, é recor- de conhecimento e de talento. O que só será possível alcançar

44 JA N E I R O 20 2 4
E para a sua empresa em particular,
quais os maiores desafios?

em condições que garantam aos investidores a estabilidade


necessária para o florescimento dos seus investimentos.
Por isso, mais do que nunca, em 2024, perante um quadro
geopolítico instável, Portugal tem de mostrar que é um porto
seguro para as empresas, para os investidores e para as famí-
lias. Que sabe escolher caminhos e manter um rumo, mesmo
quando a turbulência à volta é grande.
Para a Tabaqueira, que integra um grande grupo multina-
cional, a Philip Morris Internacional (PMI), que já investiu
mais de 400 milhões de euros no mercado nacional, a garantia
de um horizonte concreto e fiável é de extrema importância
para a manutenção da sua relevância no seio do grupo. Desde
2018, duplicámos o número de trabalhadores (somos, hoje,
mais de 1500) e atraímos para Portugal a localização de alguns
centros de excelência da PMI que prestam serviços para todo
o mundo – e que somam exportações no valor de mais de 40
milhões de euros de serviços de elevado valor acrescentado
aos 740 milhões de euros que já exportamos em bens para
cerca de 30 mercados externos.
Nesse sentido, em 2024, a Tabaqueira continuará a trabalhar
de forma empenhada para garantir que consegue manter o
ritmo de atracção de investimento – cerca de 16 milhões de
euros anuais, em média – e, dessa forma, concretizar a tão
esperada transformação de um sector industrial que é dos
mais importantes para a actividade da indústria portuguesa.
De acordo com um estudo recente, elaborado pelo ISCTE
Executive Education, a pedido da Tabaqueira, a indústria
de tabaco em Portugal – composta apenas por três grupos
empresariais e com quatro fábricas distribuídas pelo conti-
nente e pelas regiões autónomas dos Açores e da Madeira –
impacta um universo de cerca de 44 mil pessoas e representa
15% das vendas destes produtos em toda a União Europeia.
Prosseguir no caminho de transformação, que passe pela
progressiva eliminação dos cigarros e pela sua substituição
por melhores alternativas, substanciadas em evidência cien-
tífica, sem combustão, implica um compromisso de longo
prazo, que proteja o investimento de flutuações e mudanças
de estratégia abruptas.
Construir futuro, crescer, criar valor são prioridades que
implicam foco e união – de visões e de estratégias. Na espuma
dos dias é fácil perder a orientação e desprimorar os compro-
missos. Que em 2024 os decisores políticos e empresariais
tenham a capacidade de ver para além de si próprios e de
garantir as condições para um melhor amanhã.

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 45
CAPA
O QUE ESPERAR DE 2024?

para o lado” a fingir que nada está a acontecer nas urgências


hospitalares (assente em trabalho de médicos internos e
horas extraordinárias) com esperas de 20 horas; ou de ter
mais de um milhão de pessoas sem médicos de família a ter
que ir para o Centro de Saúde às 4h da manhã para conseguir
uma consulta. Dizer que este é um problema recorrente todos
os anos é uma mentira parcial mas gigantesca: pois recor-
rente é, com este grau de gravidade não é!
Portanto, não existindo mais investimento, o financiamento da
saúde vai continuar a ser feito pela indústria farmacêutica através
das diversas formas criativas que o Governo encontrou para
que esta devolva dinheiro ao Estado: baixas de preços anuais,
“rebates”, contratos de avaliação prévia e de comparticipação
(CAP), taxas e taxinhas, impostos... Estima-se que o valor
médio suportado pela IF se situe em mais de 15% do valor de
encargos do Estado. Ora este cenário pode inviabilizar o acesso
nelson pires general manager da jaba recordati em Portugal de novas terapêuticas e provocarem distorções
que violam as regras da concorrência. Algo que já acontece

investir mais em Portugal, pois um doente espera mais de dois anos que
um doente alemão, para aceder a uma terapêutica inovadora.

na saúde
Em relação às medidas conhecidas de 2024, existem duas
específicas do sector que irão ter um impacto negativo gi-
gantesco: a criação de 31 novas ULS, acrescidas às oito que
já existem. E a maior reforma de legislação farmacêutica
proposta pela Comissão Europeia.
Em relação à criação das ULS, um estudo da ERSE de 2015,
Portugal investiu em tratamentos com medicamen- relativo ao desempenho das ULS existentes de 2010 a 2013,
tos no último ano, exactamente o que investiu em era pouco animador. Número e tempo de cirurgias pior que as
2012. Mais de uma década depois, com uma população mais unidades não integradas; maus prazos de pagamento a forne-
envelhecida, novas necessidades de saúde, a recuperação cedores por ambas entidades quer integradas em ULS ou não;
da actividade assistencial pós-COVID, gastou o mesmo. Quem critérios de qualidade sobreponíveis ou inferiores às unidades
financiou este “saving do estado” foi a IF (absorvendo o au- não integradas; medicamentos inovadores disponíveis numas
mento foi de 40,6% do custo unitário dos inputs entre 2016 e e noutras não... Ou seja, não apresentavam vantagens claras
2022). E espera-se, segundo o Orçamento de Estado aprova- sobre o modelo não integrado em ULS. Em alguns critérios
do para 2024, que não venha a investir mais. Mas para satis- era até bem pior. Portanto ou muito mudou ou podemos ter
fazer a procura crescente de cuidados, seria imperativo que mais uma falácia. Agravado pelo facto de não terem sido
se investisse mais e alinhasse o investimento em Portugal envolvidos os profissionais de saúde na decisão, assim como
com o que é realizado na OCDE (o nosso país está 30% abai- estarem a ser criados critérios de avaliação e remuneração
xo da média). Portanto não será um ano fácil. À semelhança dos profissionais baseados em decisões de corte de custos
do caos que está já a acontecer no SNS. A ideologia de es- e não do melhor tratamento para o doente. Em suma, se o
querda que tanto defende o Serviço Nacional de Saúde (pú- princípio base das ULS é positivo (ou seja, a integração vertical
blico), que inviabilizou o “Sistema Nacional de Saúde” (pú- entre cuidados de saúde primários e hospitalares tornando-
blico, social e privado; como as PPP por exemplo) “matou” o -as próximas das realidades regionais), a execução prática é
SNS (público) que tanto defendia. E não se pode “assobiar muito mais relevante no resultado final, o que me preocupa.

46 JA N E I R O 20 2 4
Atendendo ao actual contexto, que expectativas
a nível macroeconómico para Portugal?

A segunda medida, relacionada com a nova Estratégia Far- é bastante relevante. Os juros da dívida pública vão crescer
macêutica Europeia e as propostas legislativas apresentadas, 8,6% para 7151 mil milhões de euros, ou seja metade do valor
representa bem a epifania da Comissão Europeia. Esta nova do orçamento da Saúde ainda vai para os nossos credores. Na
legislação pretende eliminar a disparidade na acessibilidade, transição energética e ambiental, somos e continuaremos a
garantir a sustentabilidade e acesso, mas só promove a dema- ser um óptimo exemplo no mundo. Se conseguirmos manter
gogia e o desconhecimento total da economia do medicamento. a taxa de desemprego a estes níveis também será bastante
Reduz o prazo de protecção de patentes e responsabiliza a IF positivo. O nosso país apresenta um cenário positivo nos
pela não introdução dos medicamentos inovadores em todo o capitais próprios das empresas, capacidade de investimento
espaço europeu (quando essa aprovação não depende da IF mas e liquidez. Mas tem uma baixa qualificação dos empresários
sim da burocracia governamental). Portanto esta estratégia é e consequente procrastinação de decisões estratégicas que
uma adaptação livre de uma frase famosa: um pequeno passo não permite inovar e ganhar escala.
para a Europa, um salto gigantesco para o abismo! Como factores negativos, a redução das exportações no 2.º
Finalmente, começamos o ano com muitas interrogações: não semestre de 2023 (por “arrefecimento das economias euro-
sabemos o que irá acontecer com o preço dos medicamentos peias”), que era o motor do crescimento económico. Julgo que
(deveríamos ter sabido em Novembro). Se existirá estabilida- a economia portuguesa não atinigirá o crescimento previsto
de legislativa ou se iremos dinamizar o mercado de estudos no OE de 2024, mesmo com os biliões do PRR e a inflação.
clínicos que gera apenas 85 milhões de euros quando poderia Para financiar o modelo social, a carga fiscal continuará
quadruplicar este valor (para além de ser um instrumento elevadíssima sobre as pessoas e empresas com valores que
de crescimento das capacidades científicas e de promoção devem chegar a 38% do PIB. Mesmo com o “malabarismo
da transformação desta em valor económico e social). O que orçamental” feito de baixar a taxa de IRS nalguns escalões,
irá acontecer com a dívida hospitalar que apesenta prazos de mas com um aumento gigantesco dos impostos indirectos.
pagamento de dívida vencida de mais de 500 dias. Se existirá A pobreza manter-se-á elevada (o nosso país tem cerca de
um modelo de transição digital, de literacia em saúde ou de 17% de pobres). A inflação vai reduzir-se, mas continuará
tutela económica do medicamento. elevada e acima dos 2% desejados. As taxas de juro ainda
Em suma, temos duas certezas negativas (ULS na sua apli- não vão descer e continuará a redução do poder de compra.
cação prática e a nova Legislação Europeia). E temos muitas Os salários continuarão baixos, sendo que o mínimo e médio
dúvidas por responder! passarão a ser quase sobreponíveis. Continuará a existir um
problema de retenção de talento com um nível de emigração
de jovens elevada. Não haverá estabilidade social, com greves
recorrentes. O problema da habitação manter-se-á assim
2024 continuará a ser um ano de instabilidade geopolí- como da ineficiência e atraso na justiça. O insucesso escolar
tica, de manutenção dos altos custos energéticos, de vai agravar-se e tem de ser uma preocupação de todos assim
manutenção da disrupção das cadeias de abastecimento, de como a credibilidade dos políticos que desapareceu. Estimo
desaceleração económica da China e das maiores economias que o turismo continue a crescer e a dinamizar a economia,
europeias, da continuidade da “morte da globalização” e a mas não será suficiente para a fazer crescer. A transição
emergência da “blocalização”. Será também um ano de eleições digital pode ser uma oportunidade de diversificação mas
e de promessas. Que espero que não sejam cumpridas como tendo sempre presente os riscos agravados de cibersegurança.
habitualmente, pois se acontecesse, a estabilidade macroe- Em conclusão, 2024 será um ano de incerteza, pior para
conómica que atingimos em Portugal, seria “esboroada”. as PME que mais sofrem com a redução do consumo ou das
Em Portugal, as expectativas são positivas para o Gover- encomendas para exportação. A necessidade de aumentar
no, mas o cidadão não as vê no seu dia-a-dia. Poderá existir os ganhos de produtividade alavancados em ganhos de di-
um pequeno excedente (abaixo de 0,2% segundo a minha mensão e escala será possível fruto da resiliência das nossas
opinião) ou um défice muito perto dos 0%, com a possibi- empresas e dos cidadãos. Ao Estado pede-se que regule e que
lidade de continuação de redução da dívida pública, o que “não atrapalhe mais”!

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 47
CAPA Que alterações perspectiva que possam
O QUE ESPERAR DE 2024?
vir a impactar o seu sector em 2024?

nuno ferreira morgado partner da plmj advogados


to macroeconómico não seja o mais robusto. Sublinhamos

adaptação das também que os fundos vindos do PRR terão impacto na


forma como o mercado nacional vai mexer, pois vão aumen-
tar o investimento público, nomeadamente nos serviços e

realidades laborais equipamentos, transição energética e climática, descarboni-


zação da economia, entre outros. Sem prejuízo destas pers-
petivas mais optimistas, vemos claramente também uma
redução substancial do consumo e um resfriar da economia
O sector jurídico tende a ser especialmente resiliente aos que trazem riscos significativos para o emprego. É funda-
diferentes ciclos macroeconómicos. Assim, mesmo com mental que as empresas tenham um plano para vários cená-
as condicionantes internas do país e a instabilidade mundial, rios, já que o país parece não ter.
antecipamos que 2024 venha a ser mais um ano de cresci-
mento de trabalho nos sectores que mais estão a mexer, ou
seja, o sector tecnológico, a transição energética. Também
antecipamos que 2024 vai trazer enormes desafios na adap-
tação das realidades laborais ao paradigma da inteligência
artificial e o aprofundamento da transição das relações de
trabalho que a pandemia acelerou e que trouxe mudanças
substanciais, nomeadamente o teletrabalho e modelos de
colaboração mais flexíveis.

Todo o sector enfrenta desafios muito interessantes e


estamos entusiasmados em particular com o impacto
muito positivo que algumas disrupções terão na nossa acti-
vidade. Estou a pensar na aceleração da transformação digi-
tal en a preparação para a incorporação da inteligência arti-
ficial na nossa actividade, de modo a não só maximizar a
eficiência como na retenção de valor. Para isso é indispensá-
vel preparar as nossas equipas, tanto de produção como de
gestão, para a adopção de ferramentas que nos permitam o
máximo aproveitamento desta nova realidade.

2024 é um ano que começa com muitas incertezas e


focos de tensão de várias ordens, nomeadamente econó-
mica e geopolítica. A estes soma-se a crise política nacional,
que certamente cria um clima de impasse nos primeiros
meses do ano. Dito isto, e mesmo num cenário nacional e
internacional de instabilidade, a verdade é que Portugal
continua a ser um destino atractivo para investimento e
contamos que isso se mantenha, mesmo que o enquadramen-

48 JA N E I R O 20 2 4
CAPA Que alterações perspectiva que possam
O QUE ESPERAR DE 2024?
vir a impactar o seu sector em 2024?

nuno pinto magalhães chairman da


sociedade central de cervejas e bebidas

competitividade
agravada
Com toda a prudência que se impõe, caso não existam
situações externas que possam provocar abrandamento da
economia, afectando o turismo, a confiança e o poder de com-
pra dos consumidores, e ainda tendo em conta que para 2024
o sector será afectado, decorrente do OGE, com o aumento do
IAB-IEC, da cerveja com álcool, em 10%, o que continua a
agravar a nossa competitividade, mantemos para este ano, em
termos genéricos para o sector, uma situação semelhante ao
de 2023 (com especial referência ao 2.º semestre).

Manter o foco no crescimento do negócio, na transição


ambiental e digital , na inovação de produtos e serviços,
na retenção e promoção dos recursos humanos e na satisfa-
ção dos nossos clientes e consumidores.

A economia portuguesa está mais dependente de factores


externos do que internos... A expectativa da redução das
taxas de juros e da inflação, bem como dos preços de energia, a
confirmar-se esta tendência, são boas notícias. O nível das
nossas exportações, que se ressentiram no último trimestre
de 2023, e que tanto impactam para a nossa balança comercial,
dependerá da situação de contração da economia dos países
de destino, muitos deles afectados pelas guerras a leste e no
médio oriente de que não se vislumbra o seu cessar.
2024 será certamente condicionado pelo clima político em
Portugal, que é de alguma instabilidade, dado o Governo em
gestão, as próximas eleições e alguma incógnita quanto à
solução governativa futura, que poderá atrasar ainda mais os
investimentos necessários estratégicos para o País.

50 JA N E I R O 20 2 4
E para a sua empresa em particular, Atendendo ao actual contexto, que expectativas
quais os maiores desafios? a nível macroeconómico para Portugal?

pedro afonso ceo da vinci energies

recrutar e
reter talento
Prevê-se uma subida generalizada dos preços dos projec- crítico como o desenvolvimento da actividade. É importante
tos quer nas áreas da transformação digital quer da salientar que este é um contexto de sector e não apenas do
transição energética. Os custos de contexto laboral provoca- nosso grupo. As empresas deviam organizar-se melhor, para
dos pelo progressivo alinhamento dos salários destes profis- o país produzir mais talento, e trazer mais talento de fora,
sionais com o resto da Europa, vão provocar esta pressão. É em vez de apenas estar confortavelmente a contratar as pou-
um caminho que já começou no fim da pandemia, que se cas pessoas disponíveis muitíssimo qualificadas.
acentuou em 2022 e 2023, e prevemos que continue para
2024. Com efeito, os profissionais destes sectores podem
exercer a sua actividade em qualquer país com melhores
condições salariais e fiscais, ou exercer a partir de cá para De grande apreensão em alguns sectores, mas de progres-
esses países. É um caminho em que, se os investidores por- são noutros. Os cenários macro são interessantes para
tugueses em tecnologias digitais, ou em sistemas para tran- identificar o mood geral de quem investe, mas não determina
sição energética, não promoverem o respectivo cabimento, – per si – se o ano de uma empresa será bom ou mau. A única
poderão mesmo ficar com os projectos por executar. coisa que o determina, é a qualificação profissional e focada
das perspectivas rigorosas de concretização de negócio a cur-
to prazo. Pegar em indicadores macroeconómicos e projectar
o que vai ser o ano de 2024, é um erro grosseiro, que a microe-
O desafio do recrutamento e da retenção de talento. conomia não aguenta. Há segmentos de mercado que serão
Tem-se mantido ao longo dos anos, e é um factor tão bons, e segmentos de mercado que serão para descontinuar.

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 51
CAPA Que alterações perspectiva que possam
O QUE ESPERAR DE 2024?
vir a impactar o seu sector em 2024?

essencial num mercado global competitivo, especialmente


na captação de talentos. Precisamos reter os talentos que
formamos, com empresas inovadoras e projectos atraentes
para as novas gerações.
A eficácia na utilização dos fundos europeus, nomeadamen-
te através do dinamismo do Portugal 2030 e das reformas
do Plano de Recuperação e Resiliência, revela-se crucial
para fomentar a recuperação económica. Actualmente, esta
recuperação é tímida, condicionada por desafios como o
pedro castro e almeida presidente executivo
conflito armado, a crise energética, a inflação acentuada e
do santander portugal
o aumento rápido das taxas de juro. Para 2024, antecipa-se

retomar a que o crescimento da economia europeia, Portugal incluído,


permaneça aquém das tendências de longo prazo.
Neste enquadramento, as economias mais ágeis e com

convergência empresas de maior dimensão estão em vantagem. É também


por isso que precisamos que as nossas empresas cresçam. As
grandes empresas no País são 40% mais produtivas do que
a média, pagam quase o dobro do salário médio do sector
privado e contribuem com 29% para o PIB nacional. Este
impacto é ainda mais significativo noutros países: 40% do
PIB em Espanha, 48% na Alemanha e 52% em França.
O ano de 2024 afigura-se como mais um ano repleto de A desaceleração da inflação em 2023 permitiu ao Banco
desafios, onde a nossa capacidade de adaptação e de exe- Central Europeu concluir o ciclo de aumento das taxas de
cução da nossa estratégia serão cruciais. Este é um cenário juro. Como o governador do Banco de Portugal apontou, a
já familiar, mas que descreve acertadamente o início deste questão agora é saber quando estas taxas irão diminuir. No
ano. Os factores que mais influenciam o sector financeiro segundo semestre do ano, espera-se que famílias e empre-
em 2024 coincidem, em grande parte, com os que moldam sas beneficiem de taxas de juro mais baixas, estimulando a
a dinâmica económica global. recuperação económica.
A conjuntura geopolítica, marcada por conflitos como a Relativamente ao sector bancário, começa o ano com maior
guerra na Ucrânia – que entra agora no seu terceiro ano devido liquidez, solvabilidade e qualidade na carteira de crédito,
à invasão russa – e os confrontos entre o Hamas e Israel, após mantendo assim as condições para apoiar a economia. No
os ataques de 7 de Outubro, terá um papel preponderante. entanto, os potenciais efeitos das taxas de juro mais elevadas
Não podemos esquecer outros conflitos latentes, como os sobre a qualidade da carteira de crédito poderão ainda vir
recentes actos de pirataria na Rota do Mar Vermelho. a fazer-se sentir no decurso dos próximos trimestres, sendo
Além disso, vamos ter três eleições de grande importân- até mesmo necessário manter uma vigilância contínua por
cia – como a que acontece em Portugal em Março, na União parte dos bancos.
Europeia em Junho e nos EUA em Novembro – que irão Além disso, a agenda de transformação digital do sector
moldar o contexto político e económico. tem de continuar, como resposta às exigências crescentes
Apesar destes factores, no sector financeiro e em outros dos clientes por qualidade de serviço. Esta transformação
sectores, devemos manter o foco na execução da estratégia desempenhará um papel fundamental num mercado alta-
definida, visando a produtividade, crescimento do negócio mente competitivo, onde emergem novos participantes, como
e melhoria da experiência dos nossos clientes. as “big techs”. Estas empresas destacam-se pela apresentação
A nível nacional, com o contributo empresarial, é vital aspirar de soluções inovadoras, no entanto, os bancos oferecem algo
a um crescimento acima da média e retomar a convergência, muito difícil de replicar: relacionamentos pessoais e confiança.

52 JA N E I R O 20 2 4
Quem conseguir encontrar o melhor balanço entre inovação,
confiança e relação, estará na linha da frente.
Para concluir, reafirmamos a nossa missão de apoiar as
famílias e as empresas, baseando-nos numa estratégia só-
lida e numa transformação digital e comercial abrangente.
Esta abordagem tem-se traduzido em melhorias claras na
qualidade do serviço e na experiência dos nossos clientes,
reflectida no crescimento em novos clientes e no aumento
da transaccionalidade.
A médio prazo, este caminho de transformação contínua
terá um contributo essencial para a nossa rendibilidade, pois
a margem financeira começará a reflectir a descida já em
curso ao das taxas de juro Euribor, enquanto os volumes de
crédito deverão permanecer moderados.
Adicionalmente, temos um compromisso claro com a
transição energética, e queremos ser o parceiro preferencial
dos nossos clientes nesta missão que é de todos. Hoje, já
apresentamos várias soluções especializadas de financiamen-
to, investimento e de assessoria especializada no contexto
do “Green Finance”. Desta forma, estamos a trabalhar em
conjunto com as empresas nacionais na construção de um
futuro mais sustentável, fundamentado num crescimento
equilibrado e duradouro.

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 53
CAPA Que alterações perspectiva que possam
O QUE ESPERAR DE 2024?
vir a impactar o seu sector em 2024?

Em tempos em que a previsibilidade é reduzida o exercí-


cio torna-se difícil, mas destacaria:

A nível externo
As reduzidas expectativas para o fim dos dois conflitos que
neste momento assolam o mundo, Ucrânia e Médio Oriente.
Devemos contar com os impactos ao nível das matérias-primas,
energia e cereias. O segundo conflito já está a condicionar o
comércio internacional pelos problemas de circulação no Mar
Vermelho, com consequências ao nível do preço dos fretes ma-
rítimos, alterações de rotas e respectivo impacto nas cadeias
de abastecimento. Realçar que estas situações, como vimos
num passado recente, requerem tempos de recuperação longos.

A nível interno raul magalhães presidente da aplog


Controlo da inflação, o comportamento descendente deverá
manter-se salvo um agravamento da situação internacional
com impactos nos produtos petrolíferos. Decisão sobre o ae- maior atenção
às empresas
roporto de Lisboa (NAL), relevante de per si mas também com
incidência em outras obras e investimentos em infra-estruturas.
Cumprimento sem mais atrasos do Plano Ferroviário. Execução
das iniciativas do âmbito do PRR, que mesmo que indirecta-
mente são relevantes para as empresas e economia do País. O
esforço que as empresas colocarão na transição energética em
particular na área da Logística, marcará seguramente a agenda ciativas comuns, assim como prosseguir as acções de formação
do próximo ano. O reforço da digitalização e a capacitação dos para quadros e executivos ligadas à Logística e Supply Chain.
recursos humanos serão outros desafios para o sector.

Em termos macro o próximo ano estará marcado pela


A Aplog teve este ano um reforço considerável no nume- esperada e desejada clarificação política, que possa
ro de associados, reforçando também a transversalidade permitir uma solução governativa estável, condição necessá-
dos sectores representados. Estamos certos que para isso terá ria para a realização das reformas que o País carece em
contribuído o esforço na realização de eventos mais especia- particular na Saúde, Habitação e Educação.
lizados; Logística da Saúde, Cidades e Logística, Logística de Esperamos uma maior atenção às empresas não só através
Frio, Imobiliário Logístico e Jornada Téxtil. Estas iniciativas do reforço dos apoios, nomeadamente aos investimentos re-
que voltarão a realizar-se no próximo ano, pretendem dar lacionados com a transição energética, críticos neste sector,
visibilidade a áreas específicas da cadeia de abastecimento ou mas também na estabilidade das políticas fiscal e laboral.
a sectores de actividade que possuem especificidades, proces- A concretização das obras previstas, quer na ferrovia quer
sos e desafios muito particulares. Em todas elas conseguimos ao nível do NAL, sempre que possível consensualizados em
reunir os stakeholders mais representativos e partilhar pro- termos políticos e técnicos, deverá ter como objectivo o cum-
jectos e inovações com impacto nas empresas e nos cidadãos. primento de prazos e eficácia dos investimentos.
Contamos também no próximo ano reforçar a colaboração A Sustentabilidade em sentido lacto será uma realidade
com as instituições académicas, através da realização de ini- cada vez mais presente na estratégia das empresas.

54 JA N E I R O 20 2 4
CAPA Que alterações perspectiva que possam
O QUE ESPERAR DE 2024?
vir a impactar o seu sector em 2024?

raul neto ceo da randstad portugal

mercado de trabalho.
evolução na continuidade
56 JA N E I R O 20 2 4
E para a sua empresa em particular, Atendendo ao actual contexto, que expectativas
quais os maiores desafios? a nível macroeconómico para Portugal?

E isto porque na verdade a atracção e a retenção de talen-


to continuarão a ser os maiores desafios para as empresas.
Vamos continuar a assistir a um mercado candidate driven,
onde as exigências dos profissionais vão continuar a mudar,
e as expectativas que têm no que diz respeito ao papel que o
emprego desempenha na sua vida serão ainda maiores.
A tecnologia terá uma influência cada vez maior no mun-
do do trabalho, promovendo uma maior agilidade na forma
como as empresas conduzem os seus processos internos,
o que simultaneamente se traduzirá numa necessidade/
Agora que já nos encontramos num novo ano, nada como fazer oportunidade para os profissionais desenvolverem novas
um rápido balanço do que aconteceu em 2023, para nos ajudar competências e se requalificarem face às novas realidades
a determinar tendências para o ano de 2024. Observamos um tecnológicas, permitindo-lhes ser cada vez mais relevantes
abrandamento do crescimento económico e a diminuição da e atractivos para o mercado. Daí que o acesso a formação e
dívida pública, os conflitos na Ucrânia e no Médio Oriente a a definição de planos de progressão e desenvolvimento de
marcar uma grande parte da actualidade, as tensões sociais carreira serão também factores-chave para a retenção, por
nas áreas da saúde e da educação e a imprevisível crise política parte das organizações.
causada pela demissão do primeiro-ministro. Adicionalmente, A flexibilidade no trabalho continuará a enraizar-se e a
verificamos uma penalização do poder de compra da maior ser cada vez mais importante no momento da escolha de um
parte das famílias portuguesas, em resultado da subida das empregador, trazendo desafios ao nível da atracção de talento,
taxas de juro, da inflação que se manteve em níveis bastante e da capacidade dos líderes em gerir remotamente as equipas,
elevados e da crise da habitação com um aumento exponencial por forma a garantir a sua ligação à empresa e à sua cultura,
dos valores das rendas. ao mesmo tempo, que contribuem e asseguram o bem-estar
Em contrapartida, e no que diz respeito ao mercado de e a saúde mental dos trabalhadores.
trabalho, o nível de desemprego manteve-se num nível baixo, Mas há uma grande interrogação que fica no ar, e que pode
quase podendo falarmos de desemprego estrutural, como trazer surpresas ao nível do mercado de trabalho, nomeadamente
demonstra o aumento da população empregada que atingiu ao nível legislativo, e que está intimamente ligada à incerteza
valores recorde. Esta realidade será previsivelmente uma política atual, já que se prende com aquela que será a orientação
tendência que se irá manter durante o ano de 2024. política do novo governo que será formado no seguimento da
Como o mercado de trabalho é um reflexo dinâmico da eleição que irá ocorrer em Março. Teremos um governo que irá
sociedade, sendo fortemente influenciado pela conjuntura dar continuidade (ou até dar mais ênfase) às medidas preconi-
macro-económica e por todas as mudanças sociais que vão zadas na Agenda do Trabalho Digno, pelo governo atualmente
ocorrendo, onde se inclui a crescente preocupação com os temas em gestão, ou teremos uma inversão das políticas laborais que
da diversidade e da inclusão, e do impacto da tecnologia no foram implementadas nos últimos anos? E nesta parte é de
emprego, e sendo certo que a incerteza e a volatilidade irão aplicar a velha máxima “Prognósticos só no fim do jogo”.
continuar a fazer-se sentir de forma relevante, abrem-se desafios Ainda assim acredito que este ano, continuando a ser mar-
complexos para as organizações, que são simultaneamente cado por uma elevada incerteza, será tanto maior ou menor
oportunidades de diferenciação e crescimento, isto porque em função do novo enquadramento político pós-eleições, e será
as dinâmicas organizacionais serão alteradas, requerendo marcado por uma maior estabilidade à medida que o rendimento
capacidade de adaptação, tendo em vista a agilidade que o real disponível das famílias aumente, como consequência da
mercado de trabalho exige, e em que irá predominar a flexi- descida da inflação, da diminuição da carga fiscal directa, e
bilidade e a resiliência, promovendo a concretização de um do esperado alívio das prestações de crédito, e pela resiliência
forte investimento em capital humano. E por isso Evolução! do emprego, não obstante o diminuto crescimento económico
Mas também Continuidade! projectado pelos diversos organismos, nacionais e internacionais.

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 57
CAPA Que alterações perspectiva que possam
O QUE ESPERAR DE 2024?
vir a impactar o seu sector em 2024?

ricardo costa ceo do grupo bernardo da costa

soluções
disruptivas
Estando a maioria das empresas do Grupo Bernardo da
Costa integradas no sector tecnológico, é sobre este que
vou focar a minha análise. O mundo evoluí a um ritmo alu-
cinante e um dos responsáveis é a tecnologia.
As organizações têm de se preparar para o que aí vem sob
pena de ficarem para trás, o que poderá levar a que os seus
concorrentes os ultrapassem. Naturalmente, nem todas as
previsões que vão sendo lançadas impactam as organizações
da mesma maneira, mas é imperativo que se preparem para
não serem apanhadas desprevenidas.
Acredito que a inteligência artificial será responsável pelas
maiores alterações neste sector em 2024. A inteligência ar-
tificial é hoje reconhecida como uma tecnologia-chave para
impulsionar a inovação e a diferenciação no mercado. Ao
investirem em inteligência artificial, as empresas procuram
não apenas melhorar a eficiência operacional, mas também
ganhar maiores vantagens competitivas. Para o Grupo Bernardo da Costa, o maior desafio irá
No caso específico das tecnologias emergentes, como a ser também o do uso da inteligência artificial, tanto
inteligência artificial, a cloud, os dados e a segurança, as na dinâmica actual do mercado, como também para o de-
competências necessárias são complexas e em constante senvolvimento de soluções disruptivas e inovadoras. No
evolução. As empresas precisam de investir em formação e entanto, é preciso que tenhamos algumas precauções, con-
desenvolvimento das suas pessoas, para garantir que têm as siderando que da mesma forma que a tecnologia nos aju-
competências necessárias para utilizar estas tecnologias de da a pensar e a estruturar novas e infinitas possibilidades,
forma eficaz. também tende a criar uma distância entre as pessoas, pre-

58 JA N E I R O 20 2 4
Por último e não menos importante, atrair talento é outro
grande desafio. Fomos a primeira empresa em Portugal a
criar um departamento da felicidade, que em conjunto com
a nossa cultura organizacional, permite que tenhamos uma
forte capacidade de atracção de talento, no entanto é muito
importante a aposta na inovação e ser ágil na adaptação, bem
como um olhar muito atento para aquilo que é mais valoriza-
do pelas diferentes gerações. Ao mesmo tempo é necessário
garantir a qualificação e formação das pessoas, de forma a
estarem preparadas para todas as transições e alterações que
estão a acontecer no mercado e no mundo.

O ano de 2024 impõe desafios significativos às empresas


portuguesas, não apenas devido às situações de conflito
armado e mudanças geopolíticas que enfrentamos a nível
mundial, mas também devido à instabilidade política que
vivemos em Portugal.
Apesar disso, acredito que a economia portuguesa conti-
nuará a crescer em 2024, no entanto a um ritmo inferior ao
que aconteceu em 2022 e 2023, em linha com a desaceleração
esperada para a zona euro, numa altura em que a guerra na
Ucrânia e o novo conflito entre o Hamas e Israel continuam
a pesar no sentimento económico.
Há um grande debate sobre o ritmo de queda das taxas de
referência, mas não há grandes dúvidas de que deverão começar
a baixar. Assim, isso deverá aliviar o consumo privado, com
a redução das prestações do crédito à habitação, para além
de permitir uma recuperação do investimento.
Espero também avanços concretos dos investimentos
associados ao Plano de Recuperação e Resiliência e Quadro
Comunitário de Apoio PT2030. Em conjunto com as medidas
de fomento da habitação, podem, no meu entender, ser um
judicando o contacto físico e presencial, reduzindo também, forte estímulo ao crescimento.
toda a troca valiosa que o trabalho presencial proporciona Os últimos dados disponíveis indicam que a carteira de
às empresas. encomendas das empresas exportadoras portuguesas, para o
Por outro lado, acredito que em 2024 o mercado vai começar primeiro semestre de 2024 não se compara com a que tinham
a valorizar cada vez mais a “experiência do cliente”, ao mesmo no ano anterior, no entanto acredito que as exportações podem
tempo o fenómeno dos nichos, tende a crescer. É fundamental voltar a crescer, ainda que de forma limitada, interrompendo
eliminar processos irrelevantes e burocracia excessiva, que as quedas dos últimos meses, uma vez que a economia da
perdem espaço quando a atenção das pessoas dura pouco e os União Europeia poderá recuperar do ano muito fraco que
desejos de consumo são direccionados por alguns caracteres agora terminou, embora não deva ainda conseguir crescer
e vídeos de um minuto. em linha com a tendência de médio prazo.

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 59
CAPA
O QUE ESPERAR DE 2024?

no Orçamento de Estado, fundamental para que possa haver


uma mudança do envelhecido parque automóvel nacional e
que a digitalização, assim como a inteligência artificial, tra-
gam também mais oportunidades nesse sentido – seja para
contribuir para a mudança de mindset do consumidor, para
uma maior conectividade, para os incentivos relacionados
com veículos eléctricos, ou o alargamento da rede de postos
de carregamento.

Todos os factores que afectam o sector automóvel, afectam


também a SIVA|PHS. Na SIVA|PHS temos uma estraté-
gia de crescimento sustentável para todas as nossas marcas,
rodolfo florit schmid managing diretor
onde dinamizamos a procura e facilitamos o acesso a soluções
da siva portugal ( porsche holding )
integradas à compra das nossas marcas e automóveis. Com

maior Dinamização esse propósito, desenvolvemos produtos financeiros que per-


mitam aos nossos clientes, usufruir e adquirir produtos e
serviços integrados, através de rendas mensais competitivas.

da economia Para além disso, os nossos concorrentes entraram recente-


mente no mercado com novas propostas de produto e preço,
o que também nos permitiu dar uma resposta em conformi-
dade e que se traduz num momento muito positivo para as
Temos vários desafios pela frente, fruto do enquadramen- nossas marcas, com uma grande ofensiva de produto e onde
to económico e que resultam da quebra na procura, da são esperados, para 2024, mais de 30 lançamentos – entre
perda do poder aquisitivo das famílias devido à inflação, ao produtos eléctricos, electrificados e de combustão interna,
aumento das taxas de juros, do crédito habitação, bem como mais tecnológicos, eficientes e com menor impacto ambiental.
a redução da confiança dos consumidores numa evolução Por outro lado, vamos continuar a apostar na nossa rede
económica nos tempos mais próximos. de concessionários, reforçando a mesma com investimento,
Temos ainda um maior custo das matérias-primas, com um formação e sistemas e tendo o serviço ao cliente como uma
incremento dos custos de produção dos automóveis, neces- prioridade. Tudo isto vai permitir uma experiência omnica-
sário para o cumprimento das novas regulamentações em nal, que permite ao cliente passar da experiência física nos
termos de emissões. nossos concessionários para uma dimensão digital de forma
Por outro lado, a continuação do processo de electrificação simples e eficiente.
a níveis superiores a 20% do mercado e o acompanhamento A digitalização e a inteligência artificial vão ser uma fonte
das infra-estruturas, assim como a mudança do mindset dos que nos permitirá explorar a eficiência desses processos,
consumidores, ou a entrada no mercado de novos concorren- ajudando-nos a estar mais perto dos nossos clientes e a as-
tes com preços bastante atractivos, são temas aos quais não segurar melhores soluções de mobilidade.
podemos ficar indiferentes durante 2024. Por fim, a sustentabilidade é uma prioridade para a SIVA|PHS,
Como desafios positivos, destaco a normalização da produção pelo que um dos outros desafios para este ano é implementar
e a disponibilidade de produto, que foi um tema que impactou cada vez mais medidas que nos permitam reduzir a nossa
muito o sector automóvel no último ano e que acreditamos pegada carbónica e ambiental.
que em 2024 retomará à normalidade, o efeito dinamizador Abordaremos os desafios que 2024 nos traz com a confiança
do programa de abate de veículos que está a ser considerado de estarmos preparados para os mesmos, mas também dis-

60 JA N E I R O 20 2 4
E para a sua empresa em particular,
quais os maiores desafios?

pondo da flexibilidade e agilidade para nos adaptarmos às


incertezas com que iremos, certamente, nos defrontar.

Os indicadores de crescimento económico, como a infla-


ção e taxas de juros, ou a confiança do consumidor, in-
dicam uma evolução macroeconómica desafiante. O enqua-
dramento geopolítico internacional pode derivar novamente
numa instabilidade económica forte e num incremento da
inflação, como já pudemos constatar através do aumento de
custos dos fretes marítimos.
No nosso país, o enquadramento macroeconómico não é
muito distinto. O contexto de incerteza e mudança política
que se vive actualmente, também não ajuda, já que vai consu-
mir a energia que teríamos que dedicar a desenhar políticas
económicas mais ajustadas à realidade e às necessidades da
na nossa própria economia.
É o momento onde esperamos ver um novo governo com
coragem de abordar estes temas e de implementar políticas
económicas e sociais que permitam enfrentar estes problemas
de raiz. E dar resposta rápida para todos aqueles que possam
surgir ao longo do ano.
Melhorar e simplificar o sistema tributário e reduzir o ex-
cessivo peso fiscal que recai sobre os portugueses, tem que
ser uma prioridade para dinamizar a economia.
Em particular para nosso sector, implementar rapidamente
um programa ao abate do parque automóvel – que em Portu-
gal tem uma média de 14 anos – que seja simples, eficiente e
que permita abranger o máximo dos consumidores. Só desta
forma conseguiremos trazer dinamização económica e redu-
zir fortemente a pegada ambiental, assim como uma maior
presença de tecnologia de assistência à produção, garantindo
a própria segurança de todos.

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 61
RepScore® 2024 reputação das marcas em portugal
EXCELLENT BRANDS 2024 EXCELLENT BRANDS 2024 EXCELLENT BRANDS 2024 EXCELLENT BRANDS 2024 EXCELLENT BRANDS 2024
DELTA 83,2 COMPAL 81,8 TERRA NOSTRA 80,7 OLIVEIRA DA SERRA 80,4 DANONE 80,1
NESTLÉ 82,6 ÁGUA DAS PEDRAS 81,6 GOOGLE 80,6 DELTA Q 80,3 FARMÁCIAS PORTUGUESAS 80,0
LUSO 82,4 NIVEA 81,2 VITALIS 80,5 GALLO 80,2
NESTUM 82,4 GILLETTE 80,8 COLGATE 80,5 SUMOL COMPAL 80,2
OLÁ 82,1 MULTIBANCO 80,8 MICROSOFT 80,5 CERELAC 80,1

PSI 20 2024 HOLDINGS 2024 FINANCIAL BANK 2024 FINANCIAL INSURANCE 2024 HEALTH INSURANCE 2024
NOS 77,1 SONAE 72,9 CGD - CAIXA GERAL DEPÓSITOS 64,9 FIDELIDADE 66,2 MULTICARE 62,7
EDP RENOVÁVEIS 74,5 JERÓNIMO MARTINS 72,0 BANCO BPI 64,3 TRANQUILIDADE 66,0 MÉDIS 62,1
EDP 74,0 JOSÉ DE MELLO 71,4 SANTANDER TOTTA 64,1 AGEAS 64,1 ADVANCECARE 61,5
CTT 73,6 VISABEIRA 70,8 MILLENNIUM BCP 64,0 ALLIANZ 62,9 MEDICARE 59,3
GALP ENERGIA 73,3 SEMAPA 65,9 BANCO CTT 63,7 ZURICH 62,8 SAÚDE PRIME 57,0

FINANCIAL CONSUMER CREDIT 2024 PAYMENT SYSTEM 2024 ENERGY & UTILITIES 2024 TECHNOLOGY & SOFTWARE 2024 TECHNOLOGY & APPS 2024
COFIDIS 53,6 MULTIBANCO 80,8 EDP RENOVÁVEIS 74,5 MICROSOFT 80,6 YOUTUBE 78,4
CETELEM 53,3 MB WAY 76,5 EDP 74,0 GOOGLE 80,5 INSTAGRAM 75,5
UNIVERSO 52,7 VISA 76,5 GALP ENERGIA 73,3 ZOOM 75,2 WHATSAPP 74,6
CREDIBOM 50,8 PAYPAL 72,6 REPSOL 70,8 TEAMS 74,7 SPOTIFY 73,8
WIZINK 50,3 MASTERCARD 67,7 BP 68,8 FACETIME 74,4 TIK TOK 70,7

CONSUMER ELECTRONICS 2024 MEDIA & TELECOM 2024 MEDIA & TRAD CHANNELS TV 2024 MEDIA & TRAD CHANNELS RADIO 2024 MEDIA & TRAD CHANNELS PRESS 2024
SAMSUNG 79,6 MEO 77,7 SIC 74,8 RÁDIO COMERCIAL 76,9 NATIONAL GEOGRAPHIC 79,6
BOSCH 79,1 NOS 77,1 RTP 74,5 RFM 76,4 EXPRESSO 77,3
APPLE 78,4 VODAFONE 76,6 TVI 71,3 TSF 71,2 DN DIÁRIO DE NOTÍCIAS 76,7
LG 78,0 SAPO 71,9 SPORT TV 67,7 RÁDIO RENASCENÇA 69,7 PÚBLICO 76,2
SONY 77,9 YORN 67,3 CMTV 64,4 ANTENA 1 69,2 VOLTA AO MUNDO 74,4

MEDIA & DIGITAL 2024 MEDIA & STREAMING 2024 RETAIL FOOD 2024 RETAIL RESTAURANTS 2024 RETAIL TECHNOLOGY 2024
OBSERVADOR 74,8 YOUTUBE 78,4 LIDL 79,7 MC DONALDS 73,9 WORTEN 78,4
EXPRESSO 74,1 NETFLIX 78,1 CONTINENTE 79,3 SANTINI 73,6 FNAC 77,0
DN DIÁRIO DE NOTÍCIAS 73,7 HBO 73,9 PINGO DOCE 78,8 PORTUGÁLIA 72,0 RÁDIO POPULAR 67,3
A BOLA 73,0 FOX 73,2 MERCADONA 75,1 H3 71,7 MEDIAMARKT 66,5
PÚBLICO 72,3 DISNEY+ 72,7 AUCHAN JUMBO 73,6 A PADARIA PORTUGUESA 71,5 I SERVICES 65,8

RETAIL DIGITAL ONLINE 2024 RETAIL HOME 2024 RETAIL TEXTILE 2024 RETAIL BRICOLAGE & ACCESSORIES 2024 RETAIL SPORTS 2024
AMAZON 74,2 IKEA 77,3 ZARA 76,0 LEROY MERLIN 73,7 DECATHLON 74,7
TICKETLINE 73,3 GATO PRETO 74,4 LEVI’S 75,7 STAPLES 69,4 SPORT ZONE 73,6
BLUE TICKET 71,1 CASA 72,7 H&M 73,3 MAXMAT 66,9 SPORTS DIRECT 63,2
ALIEXPRESS 66,1 ZARA HOME 71,6 MANGO 72,9 BRICOMARCHÉ 65,1 JD SPORTS 57,3
OLX 64,8 HÔMA 71,4 SALSA 72,7 BRICO DEPÔT 62,5 DEPORVILLAGE 56,5

RETAIL HEALTH & WELLNESS 2024 RETAIL SHOPPING MALLS 2024 RETAIL SPECIALIST 2024 FOOD 2024 BABY FOOD 2024
FARMÁCIAS PORTUGUESAS 80,0 NORTE SHOPPING 73,1 BERTRAND 74,4 NESTLÉ 82,6 NESTUM 82,4
WELLS 76,5 EL CORTE INGLÉS 72,8 MUNDO FANT SARDINHA PORTUG 74,0 OLÁ 82,1 CERELAC 80,1
SAÚDE E BEM ESTAR 71,0 COLOMBO SHOPPING 72,6 PERFUMES & COMPANHIA 73,6 TERRA NOSTRA 80,7 MAIZENA 78,6
MAIS BEM ESTAR 70,7 VASCO DA GAMA SHOPPING 71,9 RITUALS 73,2 OLIVEIRA DA SERRA 80,4 NAN 75,4
PLACE SANTÉ 68,3 FREEPORT 71,7 SEPHORA 72,7 GALLO 80,2 BLEDINA 72,3

BEVERAGE NON ALCOHOL 2024 BEVERAGE ALCOHOL 2024 PET FOOD 2024 FMCG HOUSEHOLD DETERGENTS 2024 FMCG PERSONAL HYGIENE 2024
DELTA 83,2 SUPER BOCK 77,6 PROPLAN 72,6 FAIRY 73,3 NIVEA 81,2
LUSO 82,4 SAGRES 76,2 ROYAL CANIN 72,4 SKIP 72,7 GILLETTE 80,8
COMPAL 81,8 LICOR BEIRÃO 75,7 PURINA 71,7 AJAX 72,2 COLGATE 80,5
ÁGUA DAS PEDRAS 81,6 MATEUS 73,8 WHISKAS 71,5 VILEDA 71,9 L’ORÉAL 79,6
VITALIS 80,5 HEINEKEN 73,3 PEDIGREE 71,4 CIF 71,6 DODOT 79,4

HEALTH & WELLNESS 2024 PHARMACEUTICALS 2024 HEALTHCARE PRIVATE 2024 HEALTHCARE PUBLIC 2024 MEDICAL LABORATORIES 2024
BEN-U-RON 75,3 BAYER 76,6 HOSPITAL CUF 75,7 HOSPITAL SÃO JOÃO 75,2 GERMANO DE SOUSA 74,7
HANSAPLAST 74,7 PFIZER 76,2 FUNDAÇÃO CHAMPALIMAUD 75,5 HOSPITAL EGAS MONIZ 74,4 JOAQUIM CHAVES 74,5
REUMON GEL 74,5 TAKEDA 75,8 HOSPITAL DA LUZ 75,0 HOSPITAL BEATRIZ ÂNGELO 73,1 AFFIDEA 73,0
BRUFEN 73,2 BIAL 75,6 HOSPITAL LUSÍADAS 74,8 HOSPITAL DA TROFA 72,8 REDELAB 72,9
VOLTAREN 72,8 MYLAN 75,5 JOAQUIM CHAVES SAÚDE 74,5 HOSPITAL SANTA MARIA 72,3 SYNLAB 72,4

TRAVEL & LEISURE 2024 TRAVEL AGENCIES 2024 AIRLINES & AEROSPACE 2024 MOBILITY GENERAL 2024 MOBILITY ACCESSORIES & SERV 2024
PESTANA 71,8 BOOKING.COM 73,1 TAP 72,9 VIA VERDE 72,3 MICHELIN 74,3
POUSADAS PORTUGAL 71,8 VIAGENS ABREU 71,0 EMIRATES 72,8 BRISA 71,2 CONTINENTAL MABOR 73,7
SHERATON 71,3 TOP ATLÂNTICO 70,6 BRITISH AIRWAYS 71,7 CP 70,8 PIRELLI 73,6
VILA GALÉ 71,2 TRIVAGO 69,7 LUFTHANSA 71,4 METRO 69,4 CONTROLAUTO 72,9
VIP 70,9 GEOSTAR 69,1 AIRFRANCE 71,1 CARRIS 66,7 CARGLASS 72,7

MOBILITY CAR RENTING 2024 AUTOMOBILE 2024 MOTORCYCLES 2024 PROFESSIONAL SERVICES 2024 INDUSTRIAL PRODUCTS 2024
EUROPCAR 68,7 MERCEDES 75,1 HARLEY DAVIDSON 74,6 CTT 73,6 VISTA ALEGRE 73,5
HERTZ 68,4 BMW 74,6 BMW 72,8 ACP 73,0 NAVIGATOR COMPANY 73,1
AVIS 68,0 PORSCHE 74,3 VESPA 72,5 DHL 71,2 VULCANO 73,1
SIXT 67,6 FERRARI 73,8 KAWASAKI 71,7 PROSEGUR 69,4 CORTICEIRA AMORIM 73,0
GUERIN 65,8 AUDI 73,7 YAMAHA 70,9 SECURITAS DIRECT 68,8 RENOVA 73,0
ENGINEERING & CONSTRUCTION 2024 ENGINEERING & MACHINES 2024 REAL ESTATE 2024 BETTING 2024 SPORTS 2024
TEIXEIRA DUARTE 69,1 BOSCH 74,4 CONSULTAN 68,4 EUROMILHÕES 69,7 NIKE 76,4
MARTIFER 67,6 BLACK & DECKER 73,1 AIRBNB 68,0 PLACARD 63,4 ADIDAS 76,0
MOTA-ENGIL 67,2 STIHL 68,9 REMAX 66,7 BETANO 60,9 VANS 75,2
CIMPOR 64,0 CATERPILLAR 68,3 CENTURY 21 66,4 BWIN 60,2 PUMA 74,6
SECIL 63,3 DEXTER 67,0 ERA 66,0 BETCLIC 60,0 NEW BALANCE 73,1

TOYS & ENTERTAINMENT 2024 SCHOOLS & UNIVERSITIES 2024 ARTS & CULTURE 2024 SOLIDARITY & SOCIAL ACTION 2024 FASHION ACCESSORIES 2024
DISNEY 79,3 UNIVERSIDADE DE COIMBRA 77,0 MOSTEIRO DA BATALHA 74,2 OPERAÇÃO NARIZ VERMELHO 75,3 SWATCH 74,2
LEGO 79,0 INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO 76,6 FUND CALOUSTE GULBENKIAN 73,4 BANCO ALIMENTAR 75,1 SAMSONITE 72,8
JARDIM ZOOLÓGICO LISBOA 78,6 UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA 76,2 MOSTEIRO DOS JERÓNIMOS 73,3 UNICEF 74,9 HAVAIANAS 72,5
OCEANÁRIO LISBOA 78,2 UNIV CATÓLICA PORTUGUESA 75,8 MOSTEIRO DE ALCOBAÇA 73,2 AJUDA DE MÃE 74,4 RAY BAN 72,3
CHICCO 77,1 FACULDADE DIREITO UNIV LISBOA 75,1 FUNDAÇÃO DE SERRALVES 73,0 ASSOCIAÇÃO SALVADOR 74,1 PARFOIS 72,2

LUXURY 2024 CITIES 2024 TOURISM REGIONS 2024 MUSIC EVENTS 2024 SPORTS EVENTS 2024
PORSCHE 74,3 PORTO 74,3 TURISMO DO PORTO E NORTE 74,5 NOS ALIVE 75,3 VOLTA A PORTUGAL BICICLETA 69,3
FERRARI 73,8 VIANA DO CASTELO 74,1 TURISMO DE LISBOA 74,2 ROCK IN RIO 74,2 FUTEBOL TAÇA DE PORTUGAL 69,1
OMEGA 73,6 AVEIRO 74,0 TURISMO DOS AÇORES 74,1 PRIMAVERA SOUND 73,1 MOTO GP PORTUGAL 69,1
VISTA ALEGRE 73,5 LISBOA 73,5 TURISMO DO CENTRO 73,7 SUPER BOCK SUPER ROCK 72,7 VODAFONE RALLY DE PORTUGAL 68,8
ASTON MARTIN 73,3 PONTA DELGADA 73,3 TURISMO DA MADEIRA 73,6 VODAFONE PAREDES COURA 72,5 MEIA/MINI MARATONA LISBOA 68,1

OTHER EVENTS 2024 AUDIT & CONSULTING 2024 LEGAL SERVICES 2024 IT SERVICES 2024 COMMUNICATION SERVICES 2024
JMJ 75,7 DELOITTE 76,0 VDA VIEIRA DE ALMEIDA 73,7 CISCO 75,7 FUEL 75,3
FESTAS SANTOS POPULARES 73,1 PWC 75,3 CUATRECASAS 72,8 ORACLE 74,9 BAR OGILVY 74,8
FEIRA DO LIVRO 72,8 EY 75,1 ABREU ADVOGADOS 72,7 ACCENTURE 74,4 BBDO 73,6
FÁTIMA 13 MAIO 72,5 ACCENTURE 74,4 PLMJ 71,6 SAP 73,9 ADAGIETTO 73,1
WEB SUMMIT 72,1 KPMG 73,7 SÉRVULO & ASSOCIADOS 68,5 NOVABASE 73,3 FULLSIX 72,4
STAKEHOLDER: B2B (C-LEVEL) STAKEHOLDER: B2B (C-LEVEL) STAKEHOLDER: B2B (C-LEVEL) STAKEHOLDER: B2B (C-LEVEL)

HUMAN RESOURCES SERVICES 2024 ENGINEERING & ELECTRON SERV 2024 CELEBRITIES & SOCIAL LEADERS 2024 ECONOMY & BUSINESS LEADERS 2024
MANPOWER 73,4 SIEMENS 77,6 VASCO PALMEIRIM 72,8 PAULO MACEDO 72,6
EGOR 73,0 PHILIPS 77,5 RICARDO ARAÚJO PEREIRA 72,7 PEDRO SOARES DOS SANTOS 69,1
KELLY SERVICES 72,7 GE 75,1 CRISTIANO RONALDO 72,3 MIGUEL STILWELL DE ANDRADE 68,8
RANDSTAD 72,3 3M 74,2 CRISTINA FERREIRA 71,6 CLAÚDIA AZEVEDO 66,2
ADECCO 72,2 ABB 74,0 MANUEL LUÍS GOUCHA 71,2 LUÍS RODRIGUES 65,7
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CAPA
O QUE ESPERAR DE 2024?

outros parceiros de capital de risco, o que irá permitir man-


ter o investimento alavancando cada vez mais o co-investi-
mento que será fundamental para continuar a apoiar mais
startups com o foco na sustentabilidade dos seus negócios, e
na internacionalização.

A Portugal Ventures tem como missão colmatar as falhas


de mercado existentes no ecossistema empreendedor, e
para continuar a responder a estas necessidades mantemos
o trabalho contínuo e de proximidade com o Banco Português
de Fomento, nosso accionista maioritário, para viabilizarmos
os instrumentos necessários. Em 2024 iremos dinamizar o
Fundo de Venture Capital, anunciado no fim de 2023 pelo
Banco Português de Fomento, e que em breve daremos novi-
dades. Iremos manter ainda o investimento no sector mais
importante para a nossa economia, o Turismo, com o objec-
tivo de crescer o sector e aumentar a competitividade turís-
tica de Portugal. Uma das iniciativas com maior impacto
desde 2020, foi a Call INNOV-ID que investe numa fase
muito inicial dos projectos, e do qual estamos a trabalhar
com o nosso parceiro de investimento desta iniciativa, Agên-
cia Nacional de Inovação, para que seja possível realizar mais
rui ferreira ceo da portugal ventures
edições e continuarmos a responder a esta falha de mercado

alcançar que será contante. Para além da componente de investimen-


to, é crucial o acompanhamento próximo junto do portefólio,
para que possamos igualmente encontrar soluções para os

os objectivos problemas que possam existir nas suas diversas áreas de


actuação, e em conjunto alcançar os objectivos propostos.

Neste momento será difícil de sinalizar quais as expec-


Para 2024 iremos continuar com muitas incertezas no tativas macroeconómicas para Portugal. Estamos em
mercado que para o capital de risco poderá significar a fase de eleições, o que por si será sempre um momento de
menor disponibilidade dos investidores, não pela qualidade incerteza para as empresas nacionais na política económica
dos projectos/startups, mas sim pelo maior cuidado a cada que poderá ser adoptada. E obviamente que o clima interna-
investimento que possam concretizar. Esta situação deve-se cional de instabilidade terá consequências no mundo inteiro.
a um conjunto de situações bem conhecidas por todos nós: as Será um trabalho diário na gestão de expectativas, mas com
pressões das taxas de juros, da inflação, a guerra na Ucrânia a certeza que neste momento será importante manter o cum-
e no Médio Oriente e ainda a preparação das eleições nos EUA. primento dos objectivos do PRR, crucial no crescimento e
Portugal através do Plano de Recuperação e Resiliência, dinamização da economia nacional e na captação de inves-
apresenta soluções de Venture Capital, dinamizados por timento internacional.

64 JA N E I R O 20 2 4
Atendendo ao actual contexto, que expectativas
a nível macroeconómico para Portugal?

rui lopes ferreira ceo do super bock group


Também o Turismo, que em 2023 teve o melhor resultado

mais competitividade de sempre no país, perspectiva-se que continue nesta linha


de crescimento, que em tanto tem contribuído para o PIB e
para a criação de emprego ao longo dos anos.
O desejável seria que 2024 fosse um ano de alguma estabili-
zação e até de crescimento para a economia portuguesa, o que
encaro com moderado optimismo. Exigirá certamente muita
resiliência, e planos B, C e até D para fazer face aos imponderá-
Entramos em 2024 conscientes que será um ano marcado pela veis de um mundo em grande turbulência e imprevisibilidade.
incerteza, à semelhança do que se verificou em 2023, o que, Sem prejuízo dos planos a médio prazo que devem orientar a
seguramente, continuará a impor muito foco às empresas e estratégia empresarial e pública, será a capacidade de actuar
que sejam facilmente adaptáveis e flexíveis a decidirem, agi- rápido em função dos acontecimentos que será decisiva para
rem e, sobretudo, a executarem, perante cenários de grande fazer face aos desafios com que nos depararemos. Ter capaci-
volatilidade. Mais um teste à nossa resiliência! dade para travar e acelerar em simultâneo, usando de cautela e
Os conflitos no leste europeu e no médio oriente, com os seus prudência, mas arriscando e investindo nos momentos certos.
impactos sociais, e demais instabilidades que são bem conhecidas O país precisa de atingir melhores níveis de produtividade
por todos, a par da trajectória das taxas de juro e da inflação, e ser mais competitivo. As organizações têm de rodear-se das
mas também os resultados das eleições nacionais, europeias e melhores pessoas, com as competências certas, para levar por
EUA vão determinar o curso das políticas económicas e sociais. diante a sua estratégia e missão, emprestando o seu conhecimento
Embora o panorama de vulnerabilidade a que Portugal e talento em prol do desenvolvimento sustentável do negócio.
está exposto, os indicadores mais recentes, divulgados pelo É imprescindível colocar em prática uma política de gestão
Instituto Nacional de Estatística, dão conta do crescimento e valorização do capital humano, que fomente o bem-estar
da confiança dos consumidores e do clima económico em e o desenvolvimento contínuo dos colaboradores, e neste
Dezembro. Temos assistido a um abrandamento da inflação, contexto, apoie as organizações a manter o talento e a atrair
ainda que ligeiro, e a previsão de descida das taxas de juro no novo. É o que fazemos no Super Bock Group. Cientes de que
curto/médio prazo podem aliviar as contas das empresas e o as pessoas são o motor e a alma da empresa, mas também das
orçamento das famílias, apresentando-se como sinais positivos. sociedades, apostamos, por um lado, em potenciar o talento no
Grupo, e, por outro lado, investimos na educação para apoiar
o desenvolvimento das comunidades onde nos inserimos.
Olhando para 2024 na perspectiva daqueles que são os desafios
do sector no qual o Super Bock se insere (fast moving consumer
goods), gostaria de mencionar em concreto uma situação que,
creio, o país deve resolver com rapidez e eficácia: a necessidade
de existir uma definição clara quanto à regulamentação e legis-
lação em matéria de embalagens e de resíduos de embalagem.
Regulamentação que tarda no que ao Sistema de Depósito e
Retorno diz respeito, mas também à Responsabilidade Alargada
do Produtor, o que gera atrasos e mais incerteza. Há compro-
missos nacionais, que resultam de directivas comunitárias, e
metas ambiciosas que o país tem de cumprir, e as empresas
têm igualmente a sua responsabilidade neste processo pelos
elevados investimentos que terão de ser feitos, e que já se ini-
ciaram em alguns casos. A situação actual em nada beneficia
nem as empresas, nem os consumidores, nem o país.

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 65
CAPA Que alterações perspectiva que possam
O QUE ESPERAR DE 2024?
vir a impactar o seu sector em 2024?

Porque, independentemente da economia estar a dançar


um tango complicado, a inovação é o nosso passo de dança.
2024 promete ser um ano de reviravolta. A praticidade está Está no centro do nosso ADN como marca desde o início –
a bater recordes e o digital está a tornar-se o canal de eleição só nos últimos anos, lançámos duas marcas: a Pétis, uma
para grande parte dos portugueses. Mas será que adoptar marca dedicada a animais de estimação, e a Livo, um novo
uma abordagem 100% digital é o futuro? ecossistema residencial.
Na minha opinião, não podemos generalizar. Defendo uma Neste sentido, em 2024 vamos manter o foco na saúde
abordagem “à la carte”, misturando um pouco do mundo digital financeira, promovendo a inclusão e deixando para trás as
com um toque do físico. No sector segurador, não nos podemos disparidades sociais, mantendo a excelência que nos é reco-
esquecer que a confiança dos nossos clientes é o factor-chave nhecida. Acreditamos que, mesmo em tempos desafiantes, a
para o nosso sucesso, com a componente emocional e social inovação é a chave para o sucesso, mergulhando de cabeça na
a ter de estar presente – ou sim ou sim –, em procedimentos missão de construir uma visão única do cliente. Pretendemos
que exijam mais complexidade. continuar a moldar o futuro do sector segurador em Portugal,
Porém, isso não é razão para não nos prepararmos para adaptando-nos às necessidades.
uma revolução tecnológica! Pelo contrário, é imperativo
investirmos em infra-estruturas para uma maior eficiência
do nosso negócio. Não podemos ignorar as vantagens da
inteligência artificial, pois tenho a certeza que será uma das
nossas melhores aliadas, ajudando-nos a simplificar processos
de sinistros e a oferecer produtos mais personalizados.
E por personalização, destaco também a importância de se
acompanhar os comportamentos da sociedade. A saúde mental,
o bem-estar, a sustentabilidade e a diversidade estão a tornar-se
protagonistas, representando não só uma preocupação social,
mas também uma oportunidade para a indústria – é altura de
reconhecer a importância de integrar plataformas de apoio mental
nas ofertas de seguro, desenvolver produtos mais acessíveis e
colaborar com outras organizações na busca de soluções para
responder às necessidades do país e do consumidor.
Não podemos negar que 2023 foi uma autêntica montanha
russa. Os portugueses fizeram muito malabarismo entre as
suas escolhas de vida e alocação do seu rendimento – cada vez
menos – disponível. Devido à pressão sentida sobre o Sistema
Nacional de Saúde, muitos optaram por reservar uma parte
dessa receita para a realização de um seguro de saúde, para
ter acesso a hospitais privados – a APS revelou que quase 3,6
milhões de portugueses tinham seguro de saúde no primeiro
semestre de 2023, um crescimento de 8,5% do sector face ao
período homólogo de 2022.
Mas soluções como a Médis Light (seguro de saúde mais
acessível) e serviços novos sem custos para os clientes (como o steven braekeveldt ceo do grupo ageas portugal
médico online e a Linha Médis disponíveis 24 horas por dia),
são um balão de oxigénio para muitos. E é nisso que temos
de continuar apostar! saúde financeira
66 JA N E I R O 20 2 4
E para a sua empresa em particular, Atendendo ao actual contexto, que expectativas
quais os maiores desafios? a nível macroeconómico para Portugal?

susanne hägglund directora - geral da volvo car portugal

futuro
transformador

Vários factores estão preparados para influenciar signi- zir a nossa dívida digital/TI é essencial para nos mantermos
ficativamente o nosso sector no próximo ano. A estabili- competitivos. Estamos também empenhados em tornar-nos
dade (ou instabilidade) governamental é uma consideração verdadeiramente orientados para os dados e em optimizar as
fundamental, podendo moldar a confiança dos consumidores, actuais operações comerciais, preparando-nos simultanea-
as prioridades, a afectação orçamental e a implementação mente para o futuro transformador da nossa indústria. O
bem-sucedida de projectos a longo prazo. Além disso, as al- aparecimento de novos operadores, nomeadamente marcas
terações legislativas e as decisões fiscais desempenharão um chinesas, acrescenta uma nova camada de complexidade aos
papel crucial, em conjunto com a evolução das estruturas de nossos desafios.
tributação e o seu impacto na mobilidade dos veículos. Adi-
cionalmente, o sector acompanha de perto os investimentos
em infra-estruturas de carregamento para se adaptar à evo-
lução do panorama. Em linha com as previsões oficiais, as nossas expectati-
vas macroeconómicas para Portugal no próximo ano
incluem um abrandamento do crescimento do PIB. Prevê-se
que a inflação diminua moderadamente para cerca de três a
A Volvo enfrenta vários desafios à medida que navega 3,3%, enquanto as taxas de juro deverão manter-se relativa-
num ambiente empresarial dinâmico. Atingir o cresci- mente elevadas, com a possibilidade de descidas positivas no
mento pretendido é um objectivo primordial, associado a uma segundo semestre do ano. Além disso, prevê-se que a con-
mudança estratégica para uma mobilidade totalmente eléc- fiança dos consumidores persista em níveis mais baixos, re-
trica. Outro ponto fulcral é assegurar uma abordagem cen- flectindo o panorama económico mais abrangente. Estas
trada no consumidor em todas as facetas da nossa cadeia de projecções sublinham a necessidade de planeamento estra-
valor. Abordar o imperativo da transformação digital e redu- tégico e de adaptabilidade às mudanças económicas.

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 67
CAPA Que alterações perspectiva que possam
O QUE ESPERAR DE 2024?
vir a impactar o seu sector em 2024?

teresa gonçalves ceo e presidente do conselho


de administração da sata

uma abordagem
abrangente

Nos últimos anos, a pandemia, a subida dos preços das


matérias-primas, as taxas de juro elevadas e as perturbações
políticas trouxeram alguma instabilidade para as economias
e para o sector da aviação em particular. É expectável que a
grande maioria destes factores persista em 2024, de uma for-
ma mais moderada, mas acompanhada pelo factor adicional
da aceleração das alterações climáticas. Novas regulamen-
tações na União Europeia e nos EUA obrigarão as empresas
a fiscalizar as suas operações e as cadeias de abastecimento,
aumentando a pressão na comunicação de informações ESG
(Environmental, Social e Governance).
Perspectiva-se que, em 2024, as atenções se centrem nos
esforços para reduzir as emissões. Será desafiante para os
governos e para as empresas conseguirem atingir os objectivos
ambiciosos que se propuseram – emissões líquidas zero de car-
bono até 2050, representando um desafio significativo para o
sector da aviação. Neste contexto, é essencial uma abordagem
abrangente, em que tecnologias como a inteligência artificial
(IA) desempenham um papel crucial, aumentando, não só a

68 JA N E I R O 20 2 4
eficiência operacional, como também revolucionando a expe- Para além destes desafios, a sustentabilidade continua a
riência dos passageiros, atenuando o impacto ambiental das ser um tema de grande preocupação. As companhias aéreas,
viagens aéreas. As companhias aéreas estão a recorrer cada particularmente aquelas que operam em áreas ecologicamen-
vez mais à IA, à gestão de cadeias de abastecimento baseada te sensíveis como é o caso da Região Autónoma dos Açores,
em blockchain e análise de dados para melhorar a experiência estão a ser colocadas sob maior pressão para diminuir a sua
do cliente e optimizar operações e serviços. pegada de carbono. Iniciativas como programas de compen-
Assim, prevê-se que em 2024 a indústria da aviação passe sação de carbono e investimentos em combustíveis susten-
por uma série de mudanças. O grande foco serão os avanços táveis, apesar de apresentarem desafios, devido ao aumento
tecnológicos, especialmente no que diz respeito ao design de dos custos operacionais, estão a ganhar cada vez maior des-
aeronaves, aos sistemas de propulsão e aos combustíveis de taque. A sustentabilidade estende-se, também, à gestão de
aviação sustentáveis. resíduos, à redução do impacto sonoro das operações aéreas
Os desafios enfrentados pelas empresas do Grupo SATA são e à identificação de práticas operacionais mais responsáveis
multifacetados, abrangendo tanto as operações internacio- em todas as áreas da empresa. Adaptar-se a todas essas mu-
nais, entre a Europa e a América do Norte, como as ligações danças exigirá investimentos significativos e um compro-
cruciais entre o continente português e as ilhas dos Açores, misso contínuo.
além do transporte inter-ilhas. Para a rota internacional, a Por fim, e não menos importante, no que diz respeito aos
concorrência é acirrada. As grandes transportadoras e em- recursos humanos, a SATA enfrenta o desafio de capacitar
presas de baixo custo competem pelo tráfego aéreo entre a as suas equipas para enfrentar os avanços tecnológicos e as
Europa e a América do Norte. Conseguir manter preços com- mudanças no sector. Isto envolve dar formação contínua aos
petitivos sem comprometer a qualidade e a rentabilidade é um trabalhadores, para que estes se adaptem a novas regulamen-
desafio constante. tações e práticas operacionais.
No que diz respeito às ligações entre o continente português Adicionalmente, a SATA enfrenta a necessidade de atrair
e as ilhas dos Açores, a SATA enfrenta desafios logísticos e reter talentos qualificados num mercado altamente com-
significativos. A dependência dessas rotas para conectivida- petitivo. Isso pode implicar, oferecer oportunidades de for-
de e transporte de passageiros e carga requer uma operação mação e desenvolvimento de carreira, criar um ambiente
consistente e confiável. Há, contudo, desafios, nomeadamente de trabalho atraente e incentivar a inovação e a criatividade
problemas com a infra-estrutura aeroportuária limitada, con- entre os trabalhadores.
dições climáticas adversas, e a necessidade de modernização A capacitação das pessoas com formações específicas para
e manutenção das frotas de aeronaves. atender às exigências da indústria da aviação é um desafio
No transporte inter-ilhas, a SATA enfrenta desafios espe- estratégico crucial para a SATA, podendo incluir parcerias
cíficos. A dispersão geográfica das ilhas e a procura variável com instituições de ensino, programas de estágio, desenvol-
tornam difícil manter uma programação eficiente e rentável. vimento de programas de formação interna e a promoção
Por outro lado, garantir voos regulares entre ilhas remotas com de uma cultura organizacional que valorize a aprendizagem
pequenas populações pode ser economicamente desafiante. contínua e o crescimento profissional.
A infra-estrutura aeroportuária e a logística de manutenção Para Portugal, em 2024 perspectiva-se um ano muito
das rotas também podem ser um obstáculo, especialmente desafiante. À grande incerteza geopolítica no quadro inter-
considerando as necessidades sazonais dos passageiros. Em nacional (à invasão da Ucrânia pela Rússia junta-se a guerra
2024, a SATA precisa de equilibrar cuidadosamente todos em Gaza e os riscos de contágio no Médio Oriente) somam-se
estes desafios, investindo em inovação, tecnologia e estra- a instabilidade e o clima de incerteza associado às eleições
tégias de gestão para garantir a competitividade nas rotas nacionais, na União Europeia e nos EUA. Este clima origina
internacionais, a eficiência nas ligações entre o continente um ambiente de elevada falta de previsibilidade que poderá
e as ilhas dos Açores, bem como a viabilidade económica do afectar fortemente o tecido empresarial e adiar decisões
transporte inter-ilhas, essencial para a coesão e mobilidade de investimento, podendo ser visível um abrandamento do
dentro do arquipélago açoriano. crescimento económico.

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 69
CAPA Que alterações perspectiva que possam
O QUE ESPERAR DE 2024?
vir a impactar o seu sector em 2024?

tiago barroso ceo da ntt data portugal


A disponibilidade madura de ferramentas baseadas em

capacidade inteligência artificial e a generalização da sua utilização (e


em simultâneo com outras tecnologias, como sejam realidade
aumentada e estendida, sensorização em escala e Internet of

de resiliência Things, computação quântica, migração para a cloud) aponta


para que estejamos a assistir a um marco de transformação
e mudança tão relevante como foi no passado o acesso gene-
ralizado a computadores pessoais ou, mais recentemente, a
internet com conectividade em larga escala e o acesso per-
manente a informação. E isso, para quem lidera uma empresa
no domínio da consultoria e das tecnologias de informação,
aponta sobretudo para um 2024 entusiasmante! Desafios
Em 2024, aproximadamente 50% da população mundial em não faltarão e queremos estar na vanguarda para melhor
cerca de 80 países poderá participar activamente em eleições apoiarmos as organizações nossas clientes no seu processo
nacionais ou regionais. Seguramente que nem todos estes de transformação.
processos eleitorais serão realizados de forma totalmente
livre e justa, mas em qualquer caso parece certo que, para os
próximos anos, poderemos esperar impactos significativos
na geopolítica global. Assim, e para além da nova situação
governativa que resultará das nossas próprias eleições legisla-
tivas e de eventuais alterações de rumo, também do resultado
deste estrondoso processo eleitoral global poderão resultar
impactos para o nosso contexto económico e social.
Perante um 2024 com tamanha amplitude de potencial
mudança, especular sobre cenários futuros parece-me im-
prudente. Mas, desde há quatro anos que enfrentamos os
impactos sucessivos de pandemia, guerra, inflação..., eventos
a que não estávamos habituados e perante os quais nos fomos
sabendo adaptar, que fomos sabendo superar. Portanto, para
2024 e perante qualquer cenário, perspectivo sobretudo, e
mais uma vez, esta capacidade de resiliência e de adaptação,
das pessoas, das empresas e das organizações.
Além de termos 50% da população mundial a participar
em processos eleitorais, teremos também um ano de demo-
cratização definitiva da IA generativa, que veio para ficar, e
que passará das mãos de alguns para o dia-a-dia de muitos.
É de prever que 2024 seja um ano de amadurecimento da
tecnologia e da sua multiplicação em soluções com vista à
melhoria da experiência dos consumidores, ao aperfeiçoa-
mento da gestão da informação e à sua consolidação como
ferramenta de suporte à tomada de decisões, entre muitas
outras aplicações. Isso já é visível em múltiplos casos de uso,
muitos desenvolvidos pela NTT DATA em Portugal e um
pouco por todo o mundo.

70 JA N E I R O 20 2 4
CAPA Que alterações perspectiva que possam
O QUE ESPERAR DE 2024?
vir a impactar o seu sector em 2024?

O ano de 2023 na Lusíadas Saúde representou, essen-


cialmente, o início de um ambicioso plano estratégico
de expansão que contempla a abertura de novas unidades
hospitalares e o crescimento da capacidade das unidades já
estabelecidas, bem como a priorização de áreas de especiali-
dade críticas no actual contexto.
Perspectivamos, para este ano de 2024, um ano de cres-
cimento, no qual iremos reforçar o nosso compromisso com
a sociedade e com o futuro, continuando a criar todas as
condições para que os portugueses possam ter uma vida
mais saudável e um melhor e mais rápido acesso a cuidados
de saúde de excelência.
Iremos continuar a aumentar o nosso footprint de norte a
sul do País, a investir em áreas clínicas críticas, a inaugurar
novos centros de diferenciação e de especialização e a obter
vasco antunes pereira ceo do grupo lusíadas saúde
uma posição de relevo nas áreas de Estomatologia e Medi-

um ano de cina Dentária.


Prosseguiremos, entre outros objectivos, com a nossa
aposta na captação e retenção de talento, quer através de

crescimento novas contratações, quer pelo reforço do nosso programa de


empregabilidade inclusiva em prol da plena integração de
todos no mercado de trabalho, independentemente das suas
características. Temos trilhado este caminho de forma pio-
2024 será impactado pela continuidade das tensões geo- neira e inovadora em Portugal, pelo que queremos continuar
políticas a nível global, pela instabilidade política que a fazê-lo e a ser uma referência no futuro da saúde.
Portugal atravessa e pela evolução económica e financeira
das diversas economias mundiais. Será, por isso, um ano que
irá exigir uma atenção redobrada para o impacto da expec-
tável desaceleração económica no País. Nos últimos meses, os portugueses têm-se mostrado
Para a saúde em particular, considero que seja importante menos optimistas em relação à situação económica que
continuar a olhar para o sector numa perspectiva integra- o País atravessa, fruto do impacto da actual taxa de inflação
da, holística e articulada com todos os players do Sistema e dos actuais conflitos geopolíticos, aos quais se veio juntar
Nacional de Saúde. Actualmente, vive-se um contexto de uma conjuntura política inesperada e adversa, fragilizando
instabilidade, o qual pode estar a impactar a qualidade de ainda mais as suas expectativas para o próximo ano.
resposta dos cuidados de saúde nacionais, pelo que é preciso Perante o actual contexto, é importante que se restabeleça
priorizar a confiança dos portugueses e a credibilidade não a confiança dos portugueses, pelo que caberá ao próximo
só do Serviço Nacional de Saúde, como também do sistema. executivo – e independentemente da sua cor política – recu-
É igualmente prioritário garantir a retenção de talento na- perar este optimismo.
cional, uma vez que a “fuga” de profissionais tem um impacto Ainda que 2024 seja um ano que irá exigir às empresas
muito significativo no desenvolvimento do País. A necessidade uma atenção redobrada para o impacto da expectável desa-
de aumentarmos os níveis de atractividade do talento obriga a celeração económica no tecido empresarial, no emprego, nos
uma maior eficiência e, para tal, a simplificação fiscal é crítica. rendimentos e na competitividade do nosso país, é importante

72 JA N E I R O 20 2 4
E para a sua empresa em particular, Atendendo ao actual contexto, que expectativas
quais os maiores desafios? a nível macroeconómico para Portugal?

não esquecer que temos todo o potencial para crescer e ser-


mos diferenciadores. É, por isso, imperativo olhar para este
período como uma oportunidade para escalar sectores-chave
da nossa economia – como o sector da saúde – sobretudo num
momento em que teremos a entrada de grandes pacotes de
fundos europeus em Portugal.
Acelerar a execução do PRR, uma oportunidade de ouro
para o País se modernizar, é tão imperativo quanto apostar no
crescimento das empresas, das infra-estruturas, na introdução
de inovação, entre outros factores. Portugal pode efectivamente
ser um País mais competitivo e atractivo para quem cá vive
e para quem quer investir nele, aproximando-nos assim de
outras grandes economias, nomeadamente europeias.

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 73
CAPA Que alterações perspectiva que possam
O QUE ESPERAR DE 2024?
vir a impactar o seu sector em 2024?

vera pinto pereira membro do conselho de administração


executivo da edp

transição
energética

Vivemos tempos turbulentos. Após dois anos de pandemia,


os conflitos internacionais estão a ter um enorme impacto no
preço das matérias-primas, e no campo energético evidencia-
ram a importância da segurança e independência energética,
bem como da criticidade de transitarmos para energia limpa.
Tudo isto num contexto cada vez mais evidente da urgência
global de protegermos o nosso planeta.
Apesar da nossa preocupação com a situação mundial, 2023
deixou-nos um sentimento de esperança. 2023 foi já um ano sem
precedentes nesta matéria – mais famílias e empresas, do que
nunca, quiseram ter um papel activo na transição energética e
um maior controlo sobre o tipo de energia consomem. E hoje
olhamos para cada telhado, fachada de prédio ou parque de
estacionamento como uma oportunidade para acelerar esta
transição, seja através da geração solar seja através da mo-
bilidade eléctrica. Encaramos ainda esta oportunidade com Na EDP, estamos confiantes de que em 2024 vamos con-
o entusiasmo de quem sabe que não está sozinho – cada vez tinuar a entregar projectos que acelerem esta transição em
mais, através de um esforço colectivo e de verdadeiras par- Portugal, e internacionalmente nos 30 países onde a EDP
cerias, acreditamos que será possível alcançar os ambiciosos actua, de que vamos trazer mais famílias e mais empresas
objectivos de transformação do nosso país. para esta transição energética, e de que vamos continuar
2023 foi também o ano em que o activismo climático ganhou a atrair e reter os melhores profissionais do mercado para
expressão em Portugal. Devemos, sem dúvida, continuar a fazerem este caminho connosco.
chamar a atenção para os problemas que enfrentamos enquan- Vivemos tempos turbulentos e incertos, numa década de
to sociedade, mas é fundamental apostar num debate sério enormes desafios, mas que também deve ser de muita esperança.
e construtivo, baseado em factos e em iniciativas concretas, Estamos perante uma revolução energética que vai melhorar
que alimentem um trabalho colectivo de resposta aos desafios. as nossas vidas. Há que a abraçar porque o futuro é agora.

74 JA N E I R O 20 2 4
BORDALLOPINHEIRO.COM
CAPA Que alterações perspectiva que possam
O QUE ESPERAR DE 2024?
vir a impactar o seu sector em 2024?

vítor ribeirinho ceo / senior partner da kpmg portugal

desenvolver
talento
Olhando para 2024, identifico quatro aspectos que
acredito que poderão vir a ter um importante impacto
na economia nacional e no grau de confiança das empresas.
Desde logo as eleições na Europa, nos EUA e claro as nossas
legislativas de 10 de Março e o nível de estabilidade política
que delas sairá, assim como as políticas económicas que
serão adoptadas a partir daí em Portugal, nomeadamente
eventuais orçamentos rectificativos. Também as decisões
do BCE em relação às taxas de juro serão relevantes para o
nível de optimismo das empresas e das famílias. As pers-
pectivas são melhores que no último ano, havendo a expec-
tativa de poder haver uma redução das taxas de juro até ao
final deste ano, o que seriam boas notícias para todos, no
entanto ainda há um certo grau de incerteza em volta deste
tema, sobretudo no que diz respeito ao seu reflexo na evolu-
ção da inflação.

76 JA N E I R O 20 2 4
E para a sua empresa em particular, Atendendo ao actual contexto, que expectativas
quais os maiores desafios? a nível macroeconómico para Portugal?

de projectos para todo o mundo, a partir do Alentejo. Este


novo espaço endereça, assim, dois dos principais desafios
identificados para este ano: a inovação tecnológica, na qual
as nossas equipas trabalham diariamente, com o desenvol-
vimento de soluções que possam de facto ser uma mais-valia
para os nossos clientes, e a internacionalização, que nos irá
Em paralelo, importa perceber a evolução dos conflitos permitir continuar a crescer e a investir, não só nas nossas
internacionais, com destaque para as guerras na Ucrânia e pessoas, mas em Portugal.
na Faixa de Gaza que impactam os mercados, as cadeias de
abastecimento e consequentemente as perspectivas dos vários
sectores de negócio.
Por fim, é fundamental acompanhar os principais desen- É um exercício desafiante podermos falar das expecta-
volvimentos daquela que é uma das tecnologias mais impac- tivas macroeconómicas em cenários de elevada incerte-
tantes no dia-a-dia das empresas: a inteligência artificial. za nacional e internacional. Ainda assim, e olhando para as
Perspectivam-se avanços importantes ao longo deste ano, projecções do ainda actual Governo, no âmbito do Orçamen-
não só a nível técnico, mas também numa óptica de regu- to do Estado para 2024 e da Comissão Europeia, é unânime
lação e discussão sobre os princípios éticos, ao nível da UE, que devemos ter um crescimento da economia portuguesa,
cujas decisões terão um impacto importante também nos na ordem dos 1,3% a 1,5%, ou seja inferior ao de 2023 e mui-
vários sectores. to longe do registado em 2022. Um outro aspecto que também
será central na nossa performance, podendo até atenuar esta
tendência, estará necessariamente ligado à capacidade de
podermos acelerar os níveis de execução do Plano de Recu-
Na KPMG Portugal temos tido crescimentos, em dois peração e Resiliência e dessa forma contribuir para a dina-
dígitos, consecutivos das nossas três áreas de negócio mização da nossa economia.
nos últimos anos e o principal desafio é, não só manter este Esperam-se boas notícias no que diz respeito à evolução da
nível de crescimento também em 2024, mas fazer com que inflação, com perspectivas de um recuo abaixo dos 3% em
através destes bons resultados possamos continuar a contri- 2024, o que poderá ter um impacto importante na decisão
buir para o desenvolvimento do nosso país e da nossa econo- do BCE sobre as taxas de juro e, eventualmente, podermos
mia, seja através do investimento nos nossos jovens, seja pela assistir a uma diminuição até ao final deste ano.
aposta na inovação ou na descentralização da nossa activi- Uma possível redução das taxas de referência irá ter um
dade fora da grande Lisboa e Porto impacto positivo no consumo privado, por intermédio da
Não obstante em 2022 e 2023 termos empregado mais de redução das prestações do crédito à habitação, e também nos
900 novos colaboradores na KPMG Portugal, o recrutamento níveis de poupança da população.
continua a ser um dos principais desafios, pela dificuldade Por outro lado, dado o menor dinamismo do contexto in-
que existe de as empresas portuguesas poderem equiparar ternacional e da procura externa, perspectiva-se um abran-
as suas ofertas às de outros países europeus que, com cargas damento no crescimento que se tinha vindo a verificar nos
fiscais mais reduzidas, conseguem ter uma capacidade re- últimos anos no mercado exportador.
muneratória muito superior, como acontece no Reino Unido, Estas perspectivas dão origem a uma dupla visão em rela-
Irlanda ou Países Baixos. ção ao comportamento da economia nacional em 2024: por
Precisamente para podermos continuar a desenvolver talento um lado, existe um certo optimismo por parte das empresas,
em Portugal, temos vindo a apostar na descentralização dos que é justificado pelo crescimento do PIB e pelo abranda-
nossos serviços, e inaugurámos no ano passado o nosso Hub mento da inflação, mas por outro assistimos a uma sensa-
Tecnológico em Évora, focado na tecnologia low-code e que ção de calculismo, fruto do contexto de incerteza nacional
pretende apostar no talento da região para o desenvolvimento e internacional.

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 77
Viagens
através
dos
sentidos
D e i xe q u e o p ra t o s e j a o s e u g u i a .
L e v a m o - l o a d e s co b r i r n o v o s m u n d o s ,
c u l t u ra s e s a b o r e s c r i a n d o ex p e r i ê n c i a s
g a s t r o n ó m i ca s o n d e t o d o s
o s s e n t i d o s s ã o e nv o l v i d o s .

Despertamos sentimentos
e s e n s a çõ e s q u e co n s t r o e m
a memória de momentos
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ESPECIAL CONTEÚDOS DA REVISTA

A OPORTUNIDADE
OCULTA NOS PARADOXOS

LIDERAR UMA ORGANIZAÇÃO EXIGE QUE NOS CONFRONTEMOS


COM UM CONJUNTO CONSTANTE DE ESCOLHAS

APOIOS:
POR :

Scott D. Anthony
Professor clínico na Tuck School of Business do
Dartmouth College e managing director e managing
partner emérito da consultora de estratégia de crescimento
Innosight. É coautor de “Eat, Sleep, Innovate”.

O
autor analisou a litera- No seu livro “Both/And Thinking”, as acadé-
tura académica relevan-
te; conduziu entrevistas
aprofundadas a executi-
! micas Wendy K. Smith e Marianne W. Lewis
definem os paradoxos como “contradições per-
sistentes e interdependentes”. Isto significa que
vos, consultores e intra- É PROVÁVEL contêm pelo menos dois elementos que se relacio-
-empreendedores com QUE MUITAS nam entre si, mas que parecem contraditórios.
experiência directa em PESSOAS Herminia Ibarra, professora da London Business
ENCONTREM
paradoxos organizacio- A IDEIA DE School, descreveu o “paradoxo da autenticidade”:
nais; e realizou análises PARADOXO diz-se aos líderes que devem ser autênticos para
utilizando a psicodinâmica PRINCIPALMENTE serem bem-sucedidos, mas um líder autêntico
NO CONTEXTO
de sistemas (um conjunto de ferramentas para DA ARTE OU DA pode ter dificuldade em evoluir porque se fixa
estudar a interacção entre estruturas, normas e FILOSOFIA em ser fiel a si próprio em vez de se concentrar no
práticas de grupos e as cognições, motivações e que é necessário para ser bem-sucedido. Alguns
emoções dos membros do grupo) como parte do académicos afirmam que a própria ideia de uma
programa de Mestrado Executivo em Mudança organização tem um aparente paradoxo no seu
do INSEAD. cerne porque “por um lado, contém sujeitos hu-
Liderar uma organização exige que nos con- manos livres, criativos e independentes; por outro
frontemos com um conjunto constante de esco- lado, a relação entre estes sujeitos aspira a ser
lhas. Devemos investir neste ou naquele mercado? uma relação de organização, ordem e controlo”.
Devemos oferecer produtos de luxo ou produtos A inovação parece ser agudamente paradoxal.
de massa? Devemos dar incentivos a indivíduos Para resolver o famoso dilema do inovador de
ou a equipas? Devemos recrutar exclusivamente Clayton Christensen, é necessário tanto ouvir
licenciados ou procurar não licenciados com como ignorar os melhores clientes. Sus-
competências especializadas? Embora estas es- tentar e perturbar o seu actual
colhas possam exigir uma análise cuidadosa, são modelo de negócio.
essencialmente simples. As escolhas realmente
difíceis que os líderes terão de enfrentar no nosso
mundo cada vez mais complexo, argumentam
alguns peritos em gestão, representam um tipo de
problema completamente diferente: o paradoxo.
É provável que muitas pessoas encontrem a
ideia de paradoxo principalmente no contexto
da arte ou da filosofia. Definida pelo Oxford
Pocket Dictionary of Current English como
“uma afirmação ou proposição aparentemente
absurda ou que se contradiz a si própria, mas
que, quando investigada ou explicada, pode
revelar-se bem fundamentada ou verdadeira”, a
palavra paradoxo pode sugerir exemplos como a
afirmação socrática “Sei que nada sei”. Os para-
doxos podem ser interessantes, mas nem sempre
consideramos como podem expandir o nosso
pensamento enquanto líderes organizacionais.
Isso está a mudar, e de formas importantes.

80 JA N E I R O 20 2 4
APOIOS:

Apoiar e prejudicar a sua actual rede de valor.


De um modo mais geral, os líderes actuais
têm de criar culturas inclusivas e únicas que
capacitem e orientem os colaboradores, ao
! O SECTOR DA ENERGIA PARECE
ESTAR A ATRAVESSAR UM
mesmo tempo que conseguem equilibrar a UM RELATÓRIO MOMENTO PARTICULARMENTE
vida profissional e pessoal de funcionários com DA ROYAL
INTENSO DE PARADOXO
desejos muito diversos. DUTCH SHELL
CHAMOU A
Estes aparentes paradoxos podem surgir ao SECTORES COMO
nível de um indivíduo, de uma equipa, de uma OS TRANSPORTES
organização e até do contexto mais vasto em COMERCIAIS, A contrastantes adoptadas por duas outras grandes
ELECTRICIDADE,
que uma organização opera, como um sector, A INDÚSTRIA empresas de energia.
um estado ou uma sociedade inteira. Mas se um TRANSFORMADORA No final da década de 90, a gigante do petróleo
paradoxo é algo fundamentalmente irresolúvel, E A ENERGIA e do gás BP tentou (e falhou) mudar a sua marca
«INDÚSTRIAS
isso significa que estes desafios empresariais PARADOXAIS» para “Beyond Petroleum” e investiu milhares de
são insuperáveis? COM «ENORMES milhões de euros em projectos eólicos e solares,
PRESSÕES PARA muitos dos quais foram mais tarde encerrados
AUMENTAR
UM SECTOR PARADOXAL A SUA PRODUÇÃO ou desmembrados. Em Fevereiro de 2020, a BP
O sector da energia parece estar a atravessar um E REDUZIR tentou um novo impulso nas energias limpas, com
momento particularmente intenso de paradoxo. O SEU IMPACTO o CEO Bernard Looney a anunciar planos para
NO NOSSO
Um relatório da Royal Dutch Shell chamou PLANETA reduzir a produção de petróleo da empresa em
a sectores como os transportes comerciais, a 40%, vender 23 mil milhões de euros em activos
electricidade, a indústria transformadora e a de combustíveis fósseis e aumentar a sua capa-
energia «indústrias paradoxais» com «enor- cidade de gerar electricidade a partir de fontes
mes pressões para aumentar a sua produção e renováveis em 20 vezes. A empresa reconheceu
reduzir o seu impacto no nosso planeta. Para que o seu negócio de energia limpa perdia dinhei-
crescer em tamanho e diminuir a sua pegada. ro e que continuaria a perder dinheiro até, pelo
Para automatizar e criar empregos.» Os riscos menos, 2025. Mas quando o preço da energia
são elevados. Investidores activistas sugeriram subiu três anos mais tarde, Looney anunciou
que estas tensões são tão intratáveis que a Shell planos para abrandar os cortes planeados e re-
deveria dividir-se em três empresas. Em Junho duzir os investimentos em energias renováveis.
de 2023, o recém-nomeado CEO da Shell anun- Embora os líderes da BP tenham sublinhado
ciou planos para ser «implacável» na alocação que a empresa estava a rever, e não a terminar,
de capital, cortando alguns investimentos em o seu compromisso de mudar o seu portefólio, a
tecnologias renováveis e aumentando o inves- história parecia estranhamente reminiscente da
timento em combustíveis fósseis. «Em última sua primeira incursão na energia limpa.
análise, o que temos de fazer é conseguir gerar Pode dizer-se que a história recente da BP
valor a longo prazo para os nossos accionistas», tipifica uma mentalidade de ou/ou em
afirmou o CEO Wael Sawan.«A resposta não acção. Ou seja, quando se vê a tensão
pode ser: “Vou investir [em projectos de energias aparente entre duas partes de um
limpas] e ter retornos fracos, e isso aplacará a paradoxo, escolhe-se uma ou outra.
minha consciência.” Isso é um erro.» A BP abordou a energia renová-
Que opções têm a Shell e outras empresas de vel como fundamentalmente
energia perante um paradoxo aparentemente oposta aos combustíveis fósseis,
irreconciliável? Consideremos as abordagens aumentando agressivamente (ou

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 81
ESTRATÉGIAS
As empresas devem, naturalmente, ajustar dinamicamente as
suas estratégias com base nas condições de mercado. Mas,
de um modo mais geral, devem repensar a percepção limitada
de que existe uma tensão entre a procura de retornos a curto
prazo e a reorientação estratégica a longo prazo

estratégica a longo prazo. Uma série de investi-


gações académicas tem demonstrado repetida-
UM CAMINHO COMPROVADO PARA mente que a percepção do compromisso entre a
VENCER O MERCADO. E UM CAMINHO prossecução de políticas respeitadoras do planeta
QUE TAMBÉM FAZ BEM AO PLANETA. e a maximização dos rendimentos financeiros
SIMPLES, NÃO É? INFELIZMENTE, NÃO é falsa. No seu livro “Purpose + Profit”, Geor-
ge Serafeim, professor da Harvard Business
School, descreve um estudo que demonstrou que
as empresas orientadas para o propósito, que
comercializando) a primeira à custa da segunda adoptaram uma visão integrada das questões de
— uma abordagem que teve de reconsiderar
quando as circunstâncias mudaram.
Em contrapartida, a empresa dinamarquesa
! sustentabilidade, obtiveram um aumento de 6%,
ajustado ao risco, no retorno das suas acções.
Um caminho comprovado para vencer o
de energia Ørsted adoptou uma abordagem OS PARADOXOS mercado. E um caminho que também faz bem
“ambos/e”, entrando directamente nas contra- SÃO QUESTÕES ao planeta. Simples, não é? Infelizmente, não.
dições de um paradoxo para encontrar uma COMPLEXAS,
ADAPTATIVAS,
solução que unisse partes que pareciam estar AO NÍVEL O PODER POLARIZADOR DO PARADOXO
em tensão. Em 2009, a direcção anunciou que a DO SISTEMA, Os paradoxos são questões complexas, adapta-
empresa (então conhecida como DONG Energy) COM UMA tivas, ao nível do sistema, com uma incerteza
INCERTEZA
procuraria produzir 85% do calor e da energia a GALOPANTE galopante. É por isso que o dilema do inovador
partir de fontes renováveis até 2040. Explorou o provou ser tão teimoso, apesar de duas décadas de
investimento em energia eólica offshore e come- trabalho de profissionais e académicos. Os seres
çou a afastar-se do carvão. Em 2019, tornou-se humanos sofrem de uma gama previsível de pre-
o maior produtor de energia eólica offshore do conceitos e pontos cegos que tornam desafiadora
mundo, atingindo o seu objectivo agressivo 21 a busca de soluções do tipo “ambos/e”. O viés de
anos antes do previsto. Em 2019, vendeu a sua confirmação faz com que os líderes ignorem as
actividade no sector do carvão e a sua unidade provas que vão contra as suas crenças actuais.
de gás natural liquefeito. Embora já não pro- A aversão à perda e o preconceito do status quo
duza gás, continua a actuar no espaço como significam que as pessoas preferem evitar riscos
fornecedor e comerciante de infra-estruturas, a assumi-los. A hierarquia e o pensamento de
com um porta-voz a referir em 2019: «Haverá grupo fazem com que seja difícil para os grupos
um longo período de transição que conduzirá verem o seu caminho através da complexidade.
a um sistema de energia 100% verde, durante Uma conclusão recorrente das investigações
o qual a sociedade não pode passar sem gás. académicas realizadas nas últimas duas décadas
O gás é o combustível fóssil menos nocivo dis- é que o paradoxo produz reacções de polariza-
ponível para apoiar a transição para a energia ção. A minha própria pesquisa corroborou esta
verde, e continuaremos a comercializar gás nos conclusão. Realizei uma dúzia de entrevistas
próximos anos.» aprofundadas a líderes empresariais que se viram
As empresas devem, naturalmente, ajustar confrontados com paradoxos identificados por
dinamicamente as suas estratégias com base nas estudiosos como Smith e Lewis, como a tensão
condições de mercado. Mas, de um modo mais entre a procura de lucros e de objectivos, a ma-
geral, devem repensar a percepção limitada de nutenção das operações actuais e a condução de
que existe uma tensão entre a procura de um crescimento disruptivo, e a recompensa do
retornos a curto prazo e a reorientação desempenho individual e o incentivo à equidade.

82 JA N E I R O 20 2 4
APOIOS:

Do lado positivo, este tipo de para- No entanto, a investigação também sugere que os
doxos produz sentimentos de curio- paradoxos podem fomentar «ansiedade, incerteza
sidade, entusiasmo e motivação. Um e ambiguidade, fazendo com que os indivíduos se
dos sujeitos da minha pesquisa, que sintam ameaçados e na defensiva». Um antigo
se confrontava diariamente com CEO que liderou uma transformação estratégica
paradoxos na sua função de líder em duas organizações descreveu como o confronto
de uma unidade de inovação numa com o paradoxo levantou questões fundamentais
empresa altamente conservadora, sobre a identidade da organização: ter de fazer
descreveu como até a discussão de escolhas que invalidam aspectos dessa identidade
paradoxos o faz sentir «estimulado, pode ter um impacto em cascata nos indivíduos
como se estivesse num grande jogo de xadrez». Um que se ligam à antiga identidade da organização.
executivo que ajudou a lançar dois negócios de mil Um profissional descreveu o paradoxo de
milhões de euros numa grande empresa de bens procurar inovar num escritório de advogados.
de consumo descreveu como a descoberta de um «O trabalho que faço é paradoxal por natureza»,
“ponto fora da linha” (dados que não correspon- afirmou, «porque devemos inovar, o que por
diam às expectativas) era excitante porque abria definição é novo, mas se for demasiado novo,
a possibilidade de um novo caminho para uma ninguém o quer fazer, já que querem ver provas
solução. Outro executivo descreveu como, enquanto ou querem ter a certeza de que funciona.» Embora
reitor de uma universidade, se confrontou com o um advogado que abandone a prática de tomar
aparente paradoxo entre o ensino de alta qualida- decisões com base em precedentes passados
possa parecer trivial, essa ruptura exigiria que o
advogado questionasse uma parte fundamental
de si próprio e da sua organização. O advoga-
PARA ALÉM DE TRANSFORMAR
!
do perdido no paradoxo ficou desmotivado e
frustrado: «Estou preso no meio. Não estou em
O SEU INSTITUTO, O
posição de dizer: “Vamos mudar estas estruturas
EXECUTIVO OBSERVOU COMO que impedem o nosso trabalho”… [ou] de dizer:
O ESFORÇO PROVOCOU UM UM EXECUTIVO “Vamos ser honestos sobre o que fazemos e dizer
QUE AJUDOU A
CRESCIMENTO PESSOAL LANÇAR DOIS claramente que… não fazemos realmente coisas
NEGÓCIOS DE MIL inovadoras”, por isso sinto-me desmotivado.»
MILHÕES DE EUROS
NUMA GRANDE
EMPRESA DE BENS SERÁ MESMO UM PARADOXO?
de no campus e os programas online acessíveis e DE CONSUMO Enquanto os paradoxos filosóficos clássicos são
económicos. O executivo formou e liderou várias DESCREVEU insolúveis dentro das suas limitações lógicas,
COMO A
equipas para fins especiais. Uma delas assegurava DESCOBERTA os problemas paradoxais nas empresas podem
que tanto as ofertas no campus como as ofertas DE UM dar origem a soluções quando os líderes pensam
online cumpriam normas académicas rigorosas. “PONTO para além das limitações aparentes — ou “fora
FORA DA LINHA”
Outra ajudou os professores do campus a apren- (DADOS QUE NÃO da caixa”, se preferir. Christensen chamou ao seu
derem com os educadores online e vice-versa. Para CORRESPONDIAM primeiro livro “O Dilema da Inovação” e não “O
além de transformar o seu instituto, o executivo ÀS EXPECTATIVAS) Paradoxo da Inovação”. Os desafios da mudança
ERA EXCITANTE
observou como o esforço provocou um crescimento PORQUE ABRIA disruptiva são incómodos, mas, tal como os para-
pessoal: «A nível organizacional, sou mais eficaz A POSSIBILIDADE doxos que os executivos modernos enfrentam, são
e a nível pessoal, sou uma pessoa melhor ou, pelo DE UM NOVO solucionáveis. Não há nenhuma lei da natureza
CAMINHO PARA
menos, mais consciente de mim próprio.» UMA SOLUÇÃO que diga que os escritórios de advogados têm

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 83
TENSÕES
Todas as empresas enfrentaram tensões aparentemente
paradoxais em termos das suas orientações temporais
(curto versus longo prazo) e filosóficas (empresas versus
sociedade). Algumas empresas encararam estas questões
como pólos ou/ou que forçaram uma escolha

de usar precedentes passados quando analisam anos. São 125 mil horas. Então trabalha apenas
projectos de inovação. Os indivíduos podem
mudar um grupo e continuar a fazer parte dele;
os indivíduos podem mudar-se a si próprios sem
! 18% das suas horas de vida. Equilíbrio! Estas
respostas extremas não são particularmente
úteis, mas consideremos as possibilidades aber-
perderem o seu sentido de identidade. DIGAMOS QUE tas ao adoptar uma perspectiva trimestral. Esse
Consideremos algumas das outras tensões apa- É UM período permite rituais como um retiro familiar
rentemente irreconciliáveis que foram resolvidas: TRABALHADOR de fim-de-semana, regras de decisão como não
MUITO
• Era geralmente aceite que a produção rentá- ESFORÇADO, ter mais de 10 dias de viagem num trimestre,
vel exigia que se estabelecessem compromissos COM UMA MÉDIA ou um cronograma mais rigoroso, como dedicar
entre custo, qualidade e rapidez — até a Toyota DE 50 HORAS blocos de tempo para actividades familiares.
POR SEMANA,
mostrar que esses compromissos eram falsos. 50 SEMANAS Da mesma forma, uma mudança no horizonte
• Era do conhecimento geral que a produção POR ANO, temporal pode reformular as tensões relativas
tinha uma aleatoriedade inerente que exigia um DURANTE 50 às energias renováveis descritas anteriormente.
ANOS. SÃO
controlo de qualidade extensivo — até o movi- 125 MIL HORAS. Consideremos um estudo que compara cinco
mento Six Sigma mostrar que um processo bem ENTÃO organizações a operar nas areias petrolíferas de
concebido e gerido podia produzir resultados TRABALHA Alberta, no Canadá. Todas as empresas enfren-
APENAS
altamente previsíveis. 18% DAS SUAS taram tensões aparentemente paradoxais em
• Os líderes acreditavam que, naturalmente, HORAS DE VIDA termos das suas orientações temporais (curto
tinham de adoptar mecanismos de controlo versus longo prazo) e filosóficas (empresas ver-
mais rigorosos à medida que as organizações sus sociedade). Algumas empresas encararam
cresciam, de modo a evitarem a má conduta dos estas questões como pólos ou/ou que forçaram
funcionários — até a Netflix mostrar que “não uma escolha. Deram prioridade a práticas que
haver regras funciona”. favorecessem a eficiência, como o planeamento
• Os activistas ambientais e os líderes empre- quantitativo, e minimizaram as interacções
sariais sabiam que a sustentabilidade e a renta- com os stakeholders, o que levou ao que os in-
bilidade eram objectivos incompatíveis — até o vestigadores descreveram como uma “miopia
Plano de Vida Sustentável da Unilever cumprir o temporal” que resultou no “estreitamento do
seu compromisso de duplicar as receitas e reduzir espaço de soluções”.
para metade a pegada ambiental da empresa. Aqueles que recuaram, mudaram a pers-
Os executivos podem, naturalmente, optar pectiva e consideraram as interligações entre
por seguir uma ou outra abordagem. as questões, envolveram vários stakeholders e
Ou podem usar as técnicas seguintes procuraram caminhos para uma colaboração
para procurarem oportunidades de cruzada. Esta abordagem permitiu-lhes
encontrar soluções do tipo “ambos/e”. desenvolver soluções integradas com
Mude a perspectiva. Considere o conceito maior potencial de benefícios a longo
de equilíbrio entre vida pessoal e profissional. prazo para todos os stakeholders relevantes
Assim que lê esta frase, não consegue estar em — incluindo eles próprios.
equilíbrio, porque está a fazer uma coisa ou ou- Uma maneira de mudar a perspectiva e en-
tra. Agora, dê dois passos atrás e imagine que contrar os pontos fora da linha que apontam
calcula que a sua expectativa de vida seja de para novas soluções para um problema é realizar
80 anos. Isso traduz-se em cerca de 700 mil uma série de experiências mentais que joguem
horas de vida. Digamos que é um trabalhador com restrições. Isso pode envolver a remoção de
muito esforçado, com uma média de 50 horas uma restrição, como perguntar como abordaria
por semana, 50 semanas por ano, durante 50 um aparente paradoxo de maneira diferente se

84 JA N E I R O 20 2 4
APOIOS:

Por fim, pode haver esforços conscientes


para ajudar as pessoas a desenvolverem uma
DE FORMA MAIS AMPLA, OS INDIVÍDUOS mentalidade paradoxal. A experiência em
PODEM CONSIDERAR EMBARCAR NUMA BUSCA circunstâncias dinâmicas ou em problemas
PARADOXAL, FAZENDO CONSCIENTEMENTE desafiadores desenvolve o que é conhecido
ALGO QUE SERIA INVULGAR PARA ELES como complexidade cognitiva (a capacidade
de considerar múltiplas possibilidades com
nuances), um facilitador-chave de uma men-
talidade paradoxal. Planos de desenvolvimento
tivesse tempo infinito ou recursos infinitos, ou que proporcionam aos líderes de alto potencial
impor uma restrição, como imaginar o que faria
se o governo de repente proibisse o uso de uma
determinada matéria-prima. Embora possa
! experiência a lançar novos produtos, trabalhar
em mercados emergentes ou desenvolver de
novas capacidades organizacionais ajudam a
parecer que a imposição de restrições limita a AS PESSOAS prepará-los para enfrentar paradoxos futuros.
criatividade, a pesquisa mostra consistentemente QUE DEMONSTRAM De forma mais ampla, os indivíduos podem
UMA MENTALIDADE
que as restrições podem concentrar a energia na considerar embarcar numa busca paradoxal,
PARADOXAL
resolução de problemas e aumentar a criatividade. CONCORDAM fazendo conscientemente algo que seria invulgar
Uma técnica que pode ajudar a estimular essas COM AFIRMAÇÕES para eles, como o seguinte:
COMO “A TENSÃO
experiências mentais é o que Hal Gregersen • Participar em aulas de arte, aprender um ins-
ENTRE IDEIAS
chama “explosão de perguntas”, em que se faz ENERGIZA-ME” trumento musical ou aprender um novo idioma.
um brainstorming não para obter respostas, mas E “SINTO-ME • Praticar uma actividade extrema, como
CONFORTÁVEL
para fazer perguntas provocadoras. páraquedismo.
A TRABALHAR EM
Adopte uma mentalidade paradoxal. Adoptar TAREFAS QUE SE • Oferecer-se como voluntário ou participar
uma mentalidade que vê os paradoxos aparentes CONTRADIZEM” em actividades de orientação social.
como oportunidades aumenta a criatividade e o • Inscrever-se num programa online para
desempenho organizacional, segundo pesquisas. desenvolver uma nova competência, como pro-
As pessoas que demonstram uma mentalidade gramação.
paradoxal concordam com afirmações como “A Faça uma sessão de “simulação de luta” pa-
tensão entre ideias energiza-me” e “Sinto-me con- radoxal. Os lutadores de boxe usam sessões de
fortável a trabalhar em tarefas que se contradizem”. simulação para treinarem. O objectivo não é
A mentalidade do paradoxo pode ser abordada de vencer o oponente, mas praticar a forma e a res-
três maneiras. Primeiro, os líderes podem ser se- posta. Uma sessão de simulação paradoxal
leccionados para identificar as pessoas quen estão é um lugar intencional para debater ideias e
predispostas a ter uma mentalidade paradoxal, desafiar suposições. Por exemplo, no início
fazendo-as completar um breve diagnóstico. Em dos anos 2000, uma reorganização gerou
segundo lugar, os itens do diagnóstico podem ser confusão na icónica fabricante de brinquedos
usados como sugestões antes de uma discussão dinamarquesa Lego. Pediram aos gestores que
em grupo para ajudar as pessoas a considerarem fizessem coisas aparentemente contraditórias,
múltiplas possibilidades durante a discussão de como focar simultaneamente no desenvolvi-
um aparente paradoxo. A pesquisa mostra mento de pessoas e no cumprimento de metas
que simplesmente iniciar uma reunião de produção rigorosas. Lewis e a sua colega
afirmando que as tensões criam pos- académica Lotte S. Lüscher lideraram o
sibilidades ajuda o grupo a adoptar grupo numa série de sessões de simulação
uma mentalidade mais paradoxal. para discutir as aparentes tensões.

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 85
PARADOXOS
Os paradoxos organizacionais são,
em última análise, ilusões. São construções
artificiais, às vezes de um sistema, muitas
vezes da mente

lista intitulada “11 Paradoxos da Liderança”


para ajudar os futuros líderes a desenvolverem
NÃO HÁ DÚVIDA DE QUE LIDAR COM soluções práticas para lidarem com desafios
OS PARADOXOS PERCEPCIONADOS incómodos por conta própria.
APRESENTA DESAFIOS E EXIGE TRABALHO Os paradoxos organizacionais são, em última
análise, ilusões. São construções artificiais, às
vezes de um sistema, muitas vezes da mente.
Não cumprem a definição de paradoxo porque
As sessões de simulação devem desafiar os não são inconciliáveis. Contudo, estes obstácu-
participantes com quatro tipos de perguntas: los ilusórios persistem à medida que grupos e
• Perguntas lineares, como “Quais as suas indivíduos se protegem dos desafios percep-
preocupações?”, incentivam a explicação e trazem cionados de os abordar. Exigem envolvimento
a lógica à tona. porque o processo de envolvimento revela a
• Perguntas circulares, como “O que acha que ilusão, desenvolve um sentido mais profundo
os outros pensam?”, exploram outras perspectivas de si mesmo e aumenta as capacidades de uma
e focam-se nas polaridades. organização. Um dos meus sujeitos de pesquisa,
• Perguntas reflexivas, como “O que pressupõe um ex-executivo de Silicon Valley que pesquisa
aquilo que diz?”, procuram oportunidades para o lado humano da mudança transformacional,
criticar e ligar as opções existentes. começou a nossa entrevista dizendo: «A cria-
• Perguntas estratégicas, como “O que diz é tividade contínua vem do paradoxo. Todos os
realista?”, motivam soluções mais expansivas. grandes significados nascem da luta contra
Esta abordagem ajuda a retirar um paradoxo o paradoxo.»
percepcionado de uma aparente confusão, Os líderes que sentem que enfrentam um para-
criando oportunidades para ex- doxo devem fazer quatro perguntas a si próprios:
plorar novas soluções potenciais 1 - O paradoxo percepcionado é verdadeiramen-
e transcendê-lo. Por exemplo, te uma lei da natureza ou uma escolha difícil?
a Lego desafiou os gestores 2 - Estou a impor uma restrição que cria o
a impulsionarem o desem- paradoxo percepcionado?
penho e a permitirem que 3 - Hesito em agir porque o paradoxo
as equipas fossem mais percepcionado é o resultado do sistema
autónomas. Uma sessão que ajudei a construir, perpetuar e do
de simulação dedicada à qual potencialmente beneficiei?
questão aparentemente 4 - Um enquadramento diferente
paradoxal de como os revela o paradoxo como uma ilusão?
gestores poderiam pres- Não há dúvida de que lidar com os
cindir e manter o controlo paradoxos percepcionados apresenta
levou a soluções específicas, desafios e exige trabalho. Pode parecer
como o alinhamento em torno mais fácil para os líderes encolherem os
de metas e graus de liberdade ombros colectivamente e dizerem: “Não posso
para as equipas, um diálogo mais fazer nada. É muito difícil.” Eles podem fazer
regular entre gestores e equipas, melhor. Os paradoxos percepcionados podem
e investimento para ensinar as ser dissecados e transcendidos, transformando
equipas a resolverem problemas. o desamparo em capacitação. Faça a escolha
A Lego acabou por criar uma paradoxal de transformar um/ou em ambos/e.

86 JA N E I R O 20 2 4
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DIÁSPORA
POR :
António Sarmento

António Sousa
COUNTRY MANAGER ROMÉNIA, BULGÁRIA, GRÉCIA NA ASCENZA

«Estou sempre próximo


dos clientes para identificar
novas oportunidades»
ÉTICA, COLABORAÇÃO E ORIENTAÇÃO PARA RESULTADOS SÃO CARACTERÍSTICAS

N
QUE APRECIA E FAZEM PARTE DA SUA FILOSOFIA DE GESTÃO

atural do concelho de
Cabeceiras de Basto,
António Sousa é for-
mado em agronomia
pela Universidade de
Santiago de Com-
postela e pela Escola
Superior Agrária de
Ponte de Lima. Pos-
teriormente, obteve
também uma pós-
-graduação em desenvolvimento local na
UTAD. O seu início da carreira profissional
foi ao serviço da ciência, desenvolvendo pro-
jectos de investigação na área dos fertilizantes
orgânicos. Em 2008, António abraçou um
projecto profissional na Roménia na área do
agronegócio que lhe permitiu aprofundar
conhecimentos na área da produção, trading
de commoditties agrícolas e, sobretudo,
no desenvolvimento de negócios. Desde
2016, que está responsável pelo negócio da
Ascenza (ex Sapec Agro) no território dos
Balcãs, sobretudo na Roménia (onde esta-
belecem já uma subsidiária) mas também
na Bulgária, Grécia, Moldávia e Chipre.
António Sousa é membro do Conselho da
Diáspora Portuguesa desde 2023.

88 JA N E I R O 20 2 4
ACTIVIDADE
O DIA DE TRABALHO COMEÇA SEMPRE A FAZER O PONTO
DE SITUAÇÃO COM A EQUIPA DAS ACTIVIDADES COMERCIAIS
PARA IDENTIFICAR AS DIFICULDADES, MAS TAMBÉM
AS OPORTUNIDADES E DEFINIR PLANOS DE ACÇÃO

O QUE DIZ ANTÓNIO...


Assegurar alimentação necessária para uma população mundial do agricultores a produzir mais, de forma mais sustentável e
que cresce de forma galopante é uma das coisas que mais o a preços acessíveis, para assegurar alimentação necessária
fascina na indústria em que trabalha. para uma população mundial que cresce de forma galopante.
Poder em cada dia cuidar das plantas, pessoas e planeta
Como é que surgiu o desafio de trabalhar para a Ascenza é apaixonante.
na Roménia?
Já estava a trabalhar na Roménia desde 2008 noutras empresas É na Roménia que passa grande parte do tempo de traba-
em diferentes sectores, mas sempre ligado ao Agronegócio. A lho? Como é o seu dia-a-dia?
Ascenza nessa altura estava a implementar uma mudança na Hoje o negócio da Ascenza já abrange mais países do que em
estratégia e equipa, e fui convidado pela direcção a abraçar o 2016 quando abracei este projecto, mas a Roménia continua
projecto de desenvolver o negócio na Roménia, Bulgária e Grécia. a ser onde passo a maior parte do tempo. Os dias são nor-
malmente longos, mas tento sempre que possível equilibrar
Aceitou de imediato? Porquê? a vida familiar com a vida profissional. O dia de trabalho
A Ascenza fez, em certo modo, parte das minhas vivências de começa sempre a fazer o ponto de situação com a equipa
infância e adolescência uma vez que vivia ao lado de um dos das actividades comerciais para identificar as dificuldades,
seus distribuidores. Foi ainda mais fácil aceitar este desafio mas também as oportunidades e definir planos de acção
quando fui confrontado com a evolução da empresa e os para mitigar as dificuldades e transformar as oportunidades
investimentos que estavam a ser feitos no futuro do negócio, em negócio. Normalmente sou uma pessoa que está grande
mas, foi sobretudo a confiança e autonomia que a direcção parte do tempo fora do escritório quase sempre no terreno
depositou em mim que mais contribuíram para rapidamente a acompanhar as equipas ou com os nossos clientes a forta-
aceitar o desafio. lecer relações.

Quais as suas principais funções? Quais foram as principais diferenças ao nível da metodo-
Como country manager, sou responsável pela gestão da equipa, logia de trabalho que encontrou quando se mudou para
da definição e implementação da estratégia, pelas activida- a Roménia?
des comerciais e também a performance do negócio. Estou Estando há já mais de 15 anos a trabalhar na Roménia permitiu-
sempre próximo dos nossos clientes para identificar novas -me vivenciar uma série de mudanças nas metodologias de
oportunidades para impulsionar e crescer a nossa presença trabalho. Se em 2008, logo após a adesão à UE, a burocracia
no território. Outro papel importante que desempenho é o excessiva era quem dava o tom nas metodologias de trabalho,
de ser o representante da Ascenza junto das autoridades hoje encontramos uma realidade bastante diferente. Nós
romenas e na Associação da Indústria. portugueses até temos muito em comum com os romenos e
não falo só do idioma, mas há algumas pequenas nuances que
O que mais o fascina na indústria em que trabalha? fazem muita diferença no modo como encaramos o dia-a-dia. Se
Identifico-me plenamente com a missão e os valores da tecnicamente estamos ao mesmo nível, eles são mais pragmá-
Ascenza. O papel que desempenhamos na sociedade ajudan- ticos e ágeis que nós, pelo que a mudança é mais sistemática e

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 89
DIÁSPORA
ANTÓNIO SOUSA

NÓS PORTUGUESES ATÉ


TEMOS MUITO EM COMUM
COM OS ROMENOS E NÃO
FALO SÓ DO IDIOMA, MAS
HÁ ALGUMAS PEQUENAS
NUANCES QUE FAZEM MUITA
DIFERENÇA NO MODO COMO
ENCARAMOS O DIA-A-DIA

acontece mais rapidamente. E não colocam um foco excessivo


no micro management.

O que é que a Roménia lhe tem vindo a ensinar sobre


Gestão de Pessoas?
Num mercado em que a falta de mão-de-obra é um dos secto-
res que está a limitar ainda mais o crescimento da economia,
tornou-se importante saber gerir os talentos que temos e
formamos dentro da nossa equipa. É fundamental que cada
um dos colaboradores esteja motivado e que não se sintam
apenas um número dentro da organização. com uma autoconfiança e autoestima elevadas que gosto de
Somos uma equipa pequena, mas onde todos contamos promover o relacionamento interpessoal. A minha filosofia de
independentemente do nosso papel dentro da organização. gestão assenta sobretudo em princípios de ética, de colabo-
Todavia o mercado de trabalho no Agronegócio é bastante ração contínua e orientado para os processos e resultados.
dinâmico e quando não conseguimos reter um talento dentro
da organização, o novo que o irá substituir é normalmente Estando a viver tão longe de Portugal, como é que “mata
mais caro e o impacto não vai ser sentido no imediato, daí a saudades” do nosso país?
necessidade de ter bem definidos planos de sucessão para Longe acaba sempre por ser um conceito relativo e as sauda-
mitigar a perda de talentos. des nunca se matam apenas as enganamos. O facto de ter a
minha esposa e filhos junto de mim em Bucareste contribui
Qual a sua filosofia de gestão? de certa forma por sentir Portugal dentro de casa. As novas
Existem várias filosofias de gestão, e as organizações muitas formas de comunicação contribuem para enganar a saudade,
vezes desenvolvem as suas abordagens únicas com base nos porém estão longe de substituir o calor de um abraço ou um
seus valores e objectivos. Sou uma pessoa positiva, futurista beijo a um dos nossos familiares e amigos.

90 JA N E I R O 20 2 4
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uma visão global do país e do mundo.
GESTÃO
POR :
André Manuel Mendes
FOTOS :
Egídio Santos

«A Castelbel tem uma


legitimidade
própria»

92 JA N E I R O 20 2 4
NÚMEROS
COM CERCA DE 200 COLABORADORES, JÁ EXPORTA PARA 60 PAÍSES, SENDO
QUE O NEGÓCIO INTERNACIONAL DA EMPRESA REPRESENTA 75% DO SEU
VOLUME DE NEGÓCIOS. EM 2022 A EMPRESA FACTUROU 7 MILHÕES DE
EUROS, E PARA 2023 O SALTO PREVISTO NO CRESCIMENTO RONDA OS 20%

FIZEMO-NOS À ESTRADA ATÉ CASTÊLO DA MAIA. O CAMINHO FOI FEITO COM OS SENTIDOS APURADOS,
PRINCIPALMENTE O OLFACTO. FOI PELO CHEIRO QUE ENCONTRAMOS O CAMINHO PARA UMA
EMPRESA QUE MISTURA A TRADIÇÃO COM A MODERNIDADE, A HISTÓRIA COM O FUTURO

A
quiles Barros nasceu
no seio de uma famí-
lia numerosa, entre
sete irmãos. O pai
era o advogado da
conhecida Ach. Bri-
to, o que fez com que
crescesse rodeado
dos sabonetes Patti,
da água-de-colónia
Lavanda ou da pasta dentífrica Superba.
Este homem teve mesmo como padri-
nho o dono da Ach. Brito, e parecia que o
destino que traçava já o caminho, tendo
mais tarde nascido aquela que acabaria
por ser uma das principais referências
no seu sector, a Castelbel.
Professor de Química na Faculdade
de Ciências da Universidade do Porto,
foi desafiado para criar uma unidade
fabril, em 1999, para produzir sabonetes
perfumados de luxo para uma marca
americana. A empresa começou a pro-
duzir com apenas seis trabalhadores e por detrás daquilo que estava a ver”. É >> Américo Pinheiro, CEO da Castelbel
uma facturação anual de 150 mil euros. um homem que acredita no projecto,
Hoje, a realidade desta empresa é bas- nas pessoas, na história, na marca, e em que se vê que vão acontecer coisas
tante diferente. Com cerca de 200 co- contou-nos, durante uma entrevista novas porque há ali uma verdade, um
laboradores, já exporta para 60 países, aromática, que caminho querem seguir ADN, uma história muito diferente.
sendo que o negócio internacional da e que história querem contar. Depois começamos a polir o que lá está,
empresa representa 75% do seu volume e sabemos que está prestes a dar o salto.
de negócios. Em 2022 a empresa facturou Como encarou o desafio de liderar a E isso é impagável.
sete milhões de euros, e para 2023 o salto empresa Castelbel? Para quem gosta de marcas como eu,
previsto no crescimento ronda os 20%. O sentimento de estar numa companhia que já trabalhei tantas, é um momento
E hoje é também liderada por um e numa marca como a Castelbel é que único poder participar neste processo
rosto diferente do início dos anos 2000. tudo é possível, e isso é diferente e difícil em que passamos de um segredo quase
Américo Pinheiro aceitou o desafio em grandes multinacionais de luxo. bem guardado, que poucas pessoas co-
de comandar os destinos da Castelbel É raro encontrar marcas no ponto nhecem, para de repente haver pessoas
porque acreditou “que havia alguma coisa em que está a Castelbel. Há uma altura a telefonarem e a dizerem que querem

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 93
GESTÃO
«A CASTELBEL TEM UMA LEGITIMIDADE PRÓPRIA»

que pensei. Achei que poderíamos en- Que história é essa que fala?
contrar formas de contar essa história Esta é uma empresa de 1999. Ela nasce
«O FEITO EM PORTUGAL, de forma verdadeira e única. num aperto de mão entre três sócios
A IDENTIDADE QUE NÓS A Castelbel tem uma legitimidade que começaram por produzir para o
TEMOS, COM ESTAS própria, e nós achamos que havia algo mercado internacional, para um grupo
PESSOAS, COM ESTA diferente que não havia nenhuma outra nos Estados Unidos da América, mas a
HISTÓRIA, FAZ PARTE marca conhecida a ter. coisa não correu muito bem inicialmente.
Portanto, o meu papel aqui seria Depois nasceu a vontade de fazer nascer
DO QUE NÓS SOMOS ajudar a contar uma boa história, de a Castelbel, nome que surge da junção
E DA HISTÓRIA QUE É uma forma única, que mais ninguém de duas palavras: Castel, de Castelo da
INTERESSANTE CONTAR» faz. Marcas como a Castelbel, e ou- Maia, que é onde a empresa está sediada,
tras grandes marcas, têm pequenas e Bel, que tem origem na palavra beleza.
idiossincrasias, pequenas diferenças, Poucos anos depois da criação da mar-
coisas únicas, formas de ver o mundo ca, surge um novo acaso com um cliente
ter a marca, que ela é excepcional. Isso diferentes. O trabalho de uma marca norte-americano, dando origem à marca
é um momento muito único. destas é dar volume a essas diferenças. Portus Cale. Isto é uma empresa cheia
Todos aqui sabemos que está quase É encontrar essas pequenas coisas de acasos, e daí vem um dos pontos do
nessa fase. que as fazem diferentes e dar um volu- nosso ADN, que é a honestidade da casa.
me excepcional. Outro ponto são as pequenas coisas, os
E quando recebeu o convite, o que consi- Esse volume excepcional é o que faz a pequenos objectos, os pequenos rituais
derou que poderia trazer para a empresa? marca imperfeita, mas que lhe dão uma que dão sentido e que fazem a vida ser
A primeira coisa que achei quando vi diferença monumental. boa e bonita.
Castelbel numa loja foi: Está aqui uma O meu papel, naquela altura e agora, Outro é a arte engenho, são sempre
história diferente. Foi a primeira coisa é ajudar a contar essa história. as duas forças que aplicamos na criação

94 JA N E I R O 20 2 4
NOVIDADE
A CASTELBEL VAI LANÇAR UMA NOVA GAMA DE PERFUMES
PORTUS CALE. SÃO CINCO VERSÕES DIFERENTES DE PERFUMES,
COM DISTRIBUIÇÃO MUITOS EXCLUSIVA, QUE VÃO DAR A ESTA
LINHA AS COORDENADAS PARA O CAMINHO DO HIPER-LUXO

de qualquer novo produto, e a cria- a ajudar no que se faz na empresa. Há


ção de todos os produtos que temos é uma expressão que dizemos que é: Ser
feita internamente. CEO de si mesmo. Isso significa que
O último, e que mais nos orgulha, é cada um é responsável pela sua parte.
feito em Portugal. É algo que não é só Obviamente que coordenamos, que temos
para Portugal, mas é de Portugal para o um caminho em comum, mas cada um
mundo, e temos vários objectos e colecções tem a sua responsabilidade.
que até têm inspiração naquilo que são as Depois há um cimento que nos une,
marcas da cultura asiática no nosso país. e esse cimento é, por exemplo, a Dona
Isto tem que ver com a nossa forma Ana Maria, que foi a primeira pessoa
única de ver o mundo. a trabalhar nesta empresa e que ainda
O feito em Portugal, a identidade que está cá, até aos jovens que aqui estão, a
nós temos, com estas pessoas, com esta equipa de online, de marketing.
história, faz parte do que nós somos e Somos uma companhia de corredor, PERFIL
da história que é interessante contar. porque falamos, vamos vendo as coisas,
Américo Pinheiro é assumidamente
Todas as pessoas que nos vêm visitar tudo aqui é um processo, e por isso é que um homem do Norte. Apesar de a
ficam extasiadas por vir aqui. Em- aqui as coisas acabam por se conseguidas vida o ter levado para outros locais, e
balar um sabonete à mão é um gesto da melhor forma. estar actualmente a viver em Lisboa,
carinhoso e detalhado. Este gesto de Na verdade, temos aqui uma excelente identifica-se com a localidade onde
nasceu, em Macedo de Cavaleiros,
estar ali a embalar à mão um sabonete área criativa, ao nível das melhores que
e foi daí que voou para o mundo,
é algo único e não há nenhuma fábrica já conheci. É interessante porque nor- trabalhando com algumas das mais
assim. Aliás, isto não é uma fábrica, é malmente um processo criativo acaba, ilustres marcas no sector do luxo. O
uma manufactura. mas aqui cada ponto de chegada é um executivo começou o seu percurso
ponto de partida, e é difícil definir quan- profissional no grupo Jerónimo
E o “Made in Portugal” é atractivo lá fora? Martins, tendo posteriormente
do determinado projecto acaba ou não.
seguido para o marketing da L’Oréal
Sempre colocámos, com orgulho, por- E protegemos esse processo, e isso onde teve o seu primeiro contacto com
que faz parte da nossa história, o “Made também significa que, para nós, a di- marcas de luxo. Depois foi convidado
in Portugal” no nosso packaging, acho versidade é algo importante. Não somos para trabalhar “para a companhia mais
que começa a ter a sua importância. uma companhia para toda a gente, pequena do mundo” da marca Loius
Vuitton, a Gerlin Portugal. Américo
Nós não temos ideia disso, mas cada vez mas somos uma companhia onde toda
Pinheiro fez carreira no Grupo
há mais turistas americanos, asiáticos, a gente, se quiser, pode encontrar o Louis Vuitton, tendo sido director
que ficam maravilhados com os nos- seu lugar. das subsidiárias europeias e latino-
sos produtos. americanas da Louis Vuitton Moët
Eles ficam loucos, quando olham para E como se posicionam no que respeita a Hennessy Fragrance Brands, sediada
aspectos tão importantes como a igual- em Paris. Foi também Director-Geral
as nossas coisas acham que tem um
da Givenchy Parfums em Espanha,
toque muito artesanal, não industrial. dade salarial, benefícios...
com sede em Madrid. «Viajei pelo
As pessoas não sabem de onde vem, não Há coisas básicas aqui, como por exem- mundo inteiro», admitiu, até ao dia
percebem o porquê, mas sabem que é plo o respeito por toda a gente, a todos em que a vida o quis trazer de volta
uma coisa diferente. os níveis. O respeito pelas pessoas é algo para Portugal, tendo abraçado, em
2020, o desafio de liderar a Castelbel.
que está na base.
«Quando vi os produtos, achei que
Há pouco disse que são pessoas de Depois, como já falei, o encontrar havia alguma coisa por detrás
aperto de mão. Como são as relações lugar para cada pessoa é algo impor- daquilo que estava ver, e não
na empresa? tante, pois significa que no dia-a-dia, me enganei», admitiu.
A administração, por exemplo, são e com as vicissitudes de cada pessoa e
apenas mais umas pessoas que estão circunstâncias pessoais, nós conseguimos

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 95
GESTÃO
«A CASTELBEL TEM UMA LEGITIMIDADE PRÓPRIA»

encontrar arranjos que se adequem a Temos imenso caminho para melhorar, Falou na iberização ao contrário. Está
cada pessoa. mas isto é uma empresa com história, e no horizonte abrir uma loja própria
Depois temos uma responsabilidade isso transpira-se aqui. em Espanha?
social na região muito importante. Temos Sim. Neste momento já temos “shop in
cerca de 150 pessoas, há famílias inteiras Quais são os principais mercados onde a shop”, ou seja, pequenas lojas com a
que trabalham aqui, portanto, temos estão presentes? nossa imagem, no segundo maior gru-
grande consciência da nossa relevância Estamos nos Estados Unidos da Améri- po espanhol, já estamos em 10 grandes
na vida das pessoas que aqui estão. ca, Hong Kong e Macau que são merca- lojas, em frente à Chanel.
Proporcionamos também, por exem- dos prioritários para nós como porta de Estamos em localizações pouco con-
plo, ginástica laboral todos os dias da entrada na Ásia. Estamos agora a fechar vencionais como Bilbao, Santander, e
semana, temos médico na empresa, mas a entrada no maior retailer de luxo da estamos a vender muito bem.
o mais importante é mesmo o facto de Ásia. Estamos a entrar em Espanha Testamos sucessivamente, e vimos
encontrarmos um lugar para cada pessoa, com uma equipa local, uma iberização como as coisas podem correr. O caminho
e aí encontramos formas de se adequar. ao contrário com a base em Portugal. de internacionalização de uma marca
Temos também um plano ambicioso de é feito de duas coisas que estão sempre
Sente que as pessoas têm um sentido abertura de lojas para termos soluções relacionadas: aprender como é que as
de pertença com a empresa? para qualquer tipo de eventualidade. nossas linhas e os nossos produtos fun-
Acho que o melhor é serem as pessoas a Estivemos muitos anos a preparar- cionam numa região; e de que forma e
dizê-lo. Acredito que não somos perfeitos, -nos em termos de retail e em termos de que tipo de distribuição funciona melhor.
estamos longe disso, mas temos pessoas produto, de linhas, de marca, na forma Estamos contentes com o que temos
aqui há mais de 20 anos, é difícil não de contar uma história, e agora estamos em Espanha e com o ranking nas nossas
pertencer a isto. a começar a ir para novos mercados. lojas, temos bons indicadores.

96 JA N E I R O 20 2 4
DIFERENCIAÇÃO
A MAIOR PARTE DOS NOSSOS
FORNECEDORES SÃO PME PORTUGUESAS,
OU SEJA, CERCA DE 90%, SÃO COMPANHIAS
QUE CRESCERAM CONNOSCO

E como olham para o tema da sustenta-


bilidade empresarial?
Começamos sempre por coisas mais bá-
sicas, por tratar bem as nossas pessoas,
temos uma grande responsabilidade
social aqui, preocuparmo-nos com elas e
com as suas famílias, e em criar contexto
para que as pessoas se sintam bem no
seu local de trabalho. É uma sustenta-
bilidade de contexto.
Depois temos as questões de susten-
tabilidade ambiental. Por exemplo, os
nossos difusores têm todos base vege-
tal. Outro exemplo, o óleo de palma é a
principal matéria-prima que dá origem
ao sabonete, e os nossos sabonetes ou
não têm óleo de palma ou são feitos com
óleo de palma sustentável.
Estamos neste momento a rever todos
os nossos packagings para lhes retirar
colas, introduzir papel sustentável, ver
o tipo de tintas, os nossos difusores são
todos recarregáveis, entre outros.
Temos outro factor que mistura a
sustentabilidade social com a ambiental,
que é o facto de a maior parte dos nossos
fornecedores serem PME portuguesas,
ou seja, cerca de 90%, são companhias
que cresceram connosco.
Considero que temos muito a melho-
«EMBALAR UM SABONETE À MÃO É UM GESTO
rar em matéria de sustentabilidade, a CARINHOSO E DETALHADO»
começar por cá por casa, pela forma
como damos condições às pessoas para
trabalharem aqui, passando por muitas
outras dimensões. O perfumista criou para nós, para Cale é uma marca de upscalling, e
a colecção Portus Cale, cinco versões vamos concorrer com as grandes mar-
Olhando para 2024, o que pode o mer- diferentes de perfumes. cas mundiais.
cado esperar da Castelbel? Com esta aposta, vamos estar a con- Sabemos que vai correr bem, temos
Para os clientes vamos lançar perfumes correr com todas as marcas estrangeiras é que ter muita atenção à estratégia de
Portus Cale, que foram idealizados por que possam conhecer. distribuição, onde é que vai ser colocado,
um criador português de enorme talento, O lançamento está previsto para o se será distribuído em massa ou exclusivo,
que é pouco conhecido cá, que é o Miguel mês de Março, e os perfumes vão estar aqui vamos jogar muito com o cuidado
Matos, que ganhou duas vezes o prémio disponíveis em poucos locais. Vai ser hiper-especial.
de melhor perfume de nicho do mundo, uma colecção bastante exclusiva. É Isto vai dar à linha Portus Cale um
em los Angeles. um perfume de nicho. A marca Portus caminho para o hiper-luxo.

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 97
GESTÃO
POR :
André Manuel Mendes

«Nós somos o
verdadeiro underdog
no mundo da
tecnologia e IA»
QUANDO FOI A ÚLTIMA VEZ QUE FEZ UM TELEFONEMA PARA UM SERVIÇO E FOI ATENDIDO POR UMA
CHAMADA AUTOMÁTICA? A EXPERIÊNCIA FOI BOA? UM EMPREENDEDOR BRACARENSE PENSOU QUE
ESSA INTERACÇÃO PODIA SER MAIS HUMANIZADA E APELATIVA, E DECIDIU CRIAR UMA FERRAMENTA
BASEADA EM INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, UMA «INOVAÇÃO MUNDIAL, A PARTIR DE PORTUGAL»

98 JA N E I R O 20 2 4
SECTORES
ACTUALMENTE, A AGENRIFAI ACTUA NOS
SECTORES DA SAÚDE E DA BANCA, TENDO
COMO PARCEIROS, POR EXEMPLO, O GRUPO
LUSÍADAS, A CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS E O BPI

F
oi na cidade dos Arce-
bispos que a Executive
Digest se encontrou com
Rui Lopes, a cabeça
por trás da Alice, a as-
sistente de inteligência
artificial (IA) criada pela
AgentifAI que tem como
objectivo criar pontes
entre as pessoas e os
sectores da saúde e financeiro.
«Ter máquinas a falar é uma ideia até
bastante antiga», começou por contar
Rui Lopes, acrescentando que, nos seus
tempos de estudante na Universidade do
Minho, sempre teve interesse por temas
relacionados com a IA, no entanto, na
altura, a aplicabilidade prática era ainda
muito reduzida ou insipiente por dois mo-
tivos: por um lado porque a capacidade
computacional era bastante limitada;
e também porque faltava aprimorar
algoritmos e técnicas. de capacidade suficientemente bom para >> Rui Lopes, AgentifAI
Inspirado pela personagem da Disney dar resposta neste âmbito.
chamada Baymax, do filme “Big hero 6”, E este é um âmbito muito alargado. Para além disso, é também difícil
que é um cuidador pessoal, o empreen- Falamos de mais de 3000 médicos, pra- porque, em conversação de texto, exis-
dedor decidiu arregaçar as mangas e ticamente mil tipos de dados médicos te uma qualquer animação durante a
criar uma experiência de voz assistida disponíveis, dezenas de acordos de seguros espera, já no contacto telefónico, essa
por IA única para os clientes. e planos de saúde, várias unidades por espera significa silêncio, e do ponto de
todo o país, e isto é muito complexo. vista de experiência, é aterrador. Assim,
De onde surgiu a oportunidade de enve- O nosso driver é dar uma boa experiên- tivemos de ter a capacidade de dar uma
redarem pelo sector da saúde? cia ao cliente final, porque acreditamos resposta muito rápida.
Quando começámos foi num âmbito que com uma boa experiência, os índices Para além desta tecnologia eliminar
muito reduzido, com pequenas clínicas de produtividade também vão aparecer. o tempo de espera, possibilita também
médicas especializadas, era bastante mais Para se conseguir dar uma boa ex- que o cliente tenha um serviço que está
simples dar cobertura às necessidades. periência por canal telefónico é um disponível 24 horas por dia, sete dias
E também, na altura, não tínhamos a desafio tecnologicamente muito difícil, por semana, não há espera também
componente de voz. e por isso é que demorou vários anos a neste aspecto.
Depois surgiu o Grupo Lusíadas, que chegar a algo que conceptualmente é
é o primeiro a nível mundial a ter uma bastante simples, mas que, para além E desde quando está este sistema im-
assistente capaz de fazer marcações de dos âmbitos anteriormente mencionados, plementado a 100% na área da saúde?
qualquer tipo de consultas por telefone. o sistema tem de ter flexibilidade para, O roll out em todas as unidades do
Isto é uma inovação mundial, a partir de independentemente da literacia digital Grupo Lusíadas foi realizado em 2022,
Portugal. Mas demorou cerca de cinco de quem usa o serviço, ser capaz de dar e o grau de satisfação é alto. Contamos
anos até ter essa solução com um nível uma boa resposta. com recolha de feedback directo, mas o

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 99
GESTÃO
«NÓS SOMOS O VERDADEIRO UNDERDOG
NO MUNDO DA TECNOLOGIA E IA»

mais interessante é o que é observado e saúde, quando na verdade deveríamos bilidade e compromisso de fazer uma
que não é directo. Um dos indicadores aceder ao sistema de saúde para não aposta forte.
que temos é que mais de ¾ das pessoas ficarmos doentes, numa lógica preven- Nestas áreas, quando temos um pri-
que fazem marcações pelo sistema tiva e de acompanhamento. meiro cliente, esse é quase sempre um
agradecem explicitamente à assistente. parceiro. Sentimos um grande apoio e
Esse indicador, para nós, é bastante Depois da área da saúde, entra a banca… decidimos explorar essa vertical.
é importante. Estávamos a ter bons resultados na área
No caso do Grupo Lusíadas e do sector da saúde, no sentido em que conseguimos
da saúde, o nosso âmbito ainda está provar que um sistema com um estado
muito direccionado para as marcações de arte à altura já conseguia fazer pro- «SE A EXPERIÊNCIA FOR
e pedidos de informação. Agora, esta- cessos de transaccionalidade, e a Caixa
FLUIDA, AS PESSOAS
mos a alargar esse scope para começar Geral de Depósitos achou interessante
a entrar na óptica do processo clínico, e colocou-nos a questão se poderíamos
FICAM SATISFEITAS,
ou seja, possibilitar que cada cidadão transportar isto para a área da banca. E OS RESULTADOS
tenha o seu cuidador pessoal sempre Foi uma decisão difícil de tomar na DE GANHOS DE
disponível, que nos informa sempre que altura, principalmente porque temíamos PRODUTIVIDADE
é necessário fazer um check-up ou um perder o foco na área da saúde. TAMBÉM ACABAM
exame, que faça o acompanhamento. Mas acabamos por aceitar o desafio
POR ACONTECER»
Temos um sistema de saúde muito porque percebemos que, do lado de lá,
orientado para a doença, e não para a estava também alguém com disponi-

100 JA N E I R O 20 2 4
ALICE
A ALICE É UMA ASSISTENTE DE IA CAPAZ
DE APRESENTAR UMA RESPOSTA MAIS
HUMANIZADA, EMPÁTICA E INTELIGENTE
NO CONTACTO COM OS CLIENTES

No caso da banca, lançámos também Estas organizações, para fazer uma Olhando para o cariz inovador desta tec-
o primeiro assistente por voz transaccio- aposta numa nova solução numa empre- nologia, acredita que Portugal está na
nal em Portugal, ou seja, que permite a sa mais recente, obviamente que tem de vanguarda do conhecimento?
qualquer pessoa realizar uma transferên- haver um grande diferencial para justifi- Acredito, e o percurso da AgentifAI é
cia multibanco, um pagamento de servi- car essa aposta. E temos conseguido isso o espelho disso. Somos o verdadeiro
ços, activar um cartão novo quando chega na Caixa Geral de Depósitos, no BPI, e underdog no mundo da tecnologia e
a casa, pedir um novo cartão de débito em mais alguns bancos nacionais. IA. Uma empresa sediada em Braga,
ou de crédito, entre outros, utilizando Se somarmos o market share dos clientes com recursos humanos, grande parte,
somente a voz. na área da banca, trabalhamos com mais provenientes da Universidade do Minho,
de 50% do mercado bancário nacional. muitos de nós de pequenas aldeias cir-
O que ajuda também a melhorar a expe- cundantes, pessoas que de repente vêem
riência do cliente com o serviço... E que outras áreas têm neste momento o resultado do seu trabalho conjunto
Se a experiência for fluida, as pessoas em cima da mesa? com os clientes a ser reconhecido num
ficam satisfeitas, e os resultados de gan- Para já, saúde e serviços financeiros. dos maiores eventos internacionais na
hos de produtividade também acabam Eventualmente outras áreas poderão área da banca.
por acontecer. É quase como um efeito surgir, tal como no passado também Claramente é possível, nesta fase,
colateral benéfico do lado do negócio. surgiu a área da banca, mas, mais uma em Portugal, fazer a diferença e trazer
a inovação.

Para o futuro, a internacionalização está


«ESTA TECNOLOGIA É TOTALMENTE SEGURA na mesa?
E TEM TODAS AS GARANTIAS, ATÉ MAIS, Tivemos a nossa primeira participação
DO QUE OS SISTEMAS TRADICIONAIS» há pouco tempo num evento interna-
cional na área da saúde nos Estados
Unidos da América, e pela primeira vez
tivemos contacto com o mercado. A reac-
Destaco ainda que esta assistente, para vez, temos de ter uma perspectiva de ção foi positiva, mas temos de perceber
além de ser a primeira em português que haverá uma aposta e um compro- a receptividade deste tipo de soluções
de Portugal, foi das primeiras a nível misso dos parceiros com quem vamos nos diferentes mercados.
europeu e mundial, com a solução a ser desenvolver essa vertical. Obviamente que isto são processos que
reconhecida a nível internacional. demoram. Em Portugal, por exemplo, são
Nesta área, a questão da segurança dos ciclos de venda longos, na ordem de um a
E continuaram a desenvolver o sector dados é fundamental... dois anos desde a primeira reunião. São
da banca... Essa é também uma das diferenciações ciclos demorados, mas estamos a fazer
sim, depois surgiu o BPI, que fez a sua que temos. Como desde cedo trabalhamos esse processo.
análise ao mercado e optou também com áreas reguladas, saúde e banca, há No caso dos Estados Unidos da Amé-
pela nossa solução. uma maior exigência do ponto de vista rica, trata-se de um mercado que é prio-
A análise de IA é a área mais compe- de dados de categoria especial, dados ritário para nós, acaba por ser o melhor
titiva que há no mercado tecnológico, e sensíveis. mercado de SAS a nível mundial, mas
não estamos só a competir com empresas Esta tecnologia é totalmente segura e também queremos apostar em países
de Portugal, mas sim de todo o mundo. tem todas as garantias, até mais, do que europeus, nomeadamente no nosso
E quando a competitividade é alta, ou os sistemas tradicionais. Mas isto obriga país vizinho, Espanha, onde também
temos uma solução verdadeiramente a ter um tipo de arquitectura do ponto de estamos com contactos interessantes
diferenciadora, ou não conseguimos vista do produto e da solução orientada a serem desenvolvidos, bem como em
cumprir os objectivos de mercado. à segurança e à privacidade de dados. França e Inglaterra.

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 101
BRANDED

Mais ambiente,
mais saúde,
mais vida
COM AS CRESCENTES
OSCILAÇÕES CLIMÁTICAS,
A MÉDIS LANÇA MAIS UM
ESTUDO SOBRE O IMPACTO
DO CLIMA NA SAÚDE E
DÁ-NOS A PERCEPÇÃO DA
POPULAÇÃO PORTUGUESA
SOBRE O TEMA

R
iscos Climáticos e a
Saúde dos Portugue-
ses: futuro(s) por ima-
ginar e construir” é o
mote do mais recente
estudo Saúdes, um
projecto independen-
te lançado pela Mé-
dis, marca do Grupo
Ageas Portugal. Esta
análise tem como ob-
jectivo dar um contributo útil e relevante
na produção de conhecimento e no des-
pertar da reflexão pública sobre a relação
entre a saúde e as alterações climáticas.
Foi face à pertinência e actualidade
deste tema que o terceiro estudo do
“Projecto Saúdes” deu origem a uma
investigação de nove meses, sob a di-
recção da Return on Ideas (ROI), com a
orientação científica de Luisa Schmidt;
a colaboração de cinco especialistas:

102 JA N E I R O 20 2 4
AMBIENTE
«AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS SÃO
A MAIOR AMEAÇA À SAÚDE QUE A
HUMANIDADE ENFRENTA», INFORMA A
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS).

Ana Horta, Susana Viegas, Carla Viegas, fundamentais, nomeadamente: «Quais


Sofia Núncio, Osvaldo Santos; de uma são os riscos para a saúde que decorrem
consultora clínica, Inês Leal; e de um das alterações climáticas? O que sentem
escritor e autor, Gonçalo Tavares. e sabem os portugueses sobre este tema?
A investigação contou ainda com sete Ter mais saúde é igual a ter um melhor
parceiros, que atestaram a qualidade ambiente? Que futuro as pessoas podem
do trabalho, nomeadamente: a Asso- imaginar?» A necessidade de obter
ciação Portuguesa de Saúde Ambiental respostas foi o gatilho para uma investi-
(APSAI); o Conselho Nacional do Am- gação e uma reflexão mais aprofundada
biente e do Desenvolvimento Sustentável sobre o tema.
(CNADS); o Conselho Português para É notório que as alterações climáticas
a Saúde e Ambiente (CPSA); o Fórum há muito que fazem parte da agenda,
Saúde XXI; a Fundação Portuguesa contudo, ainda não existe um conheci-
do Pulmão; a Associação Portuguesa mento profundo sobre como prevenir
de Pessoas com Doenças Pulmonares ou reagir ao impacto que têm na saúde
Obstrutivas Crónicas e outras Doenças e os números são visíveis neste estudo
Respiratórias Crónicas (RESPIRA); e a da Médis. Só no ano passado, as ondas
Associação Sistema Terrestre Sustentá- de calor mataram 2200 pessoas em Por-
vel (ZERO). tugal e mais de 61 mil cidadãos por toda
No que respeita a dados mais recentes, a Europa. Fruto das altas temperaturas, cabeça; ansiedade; irritação; inflama-
as oscilações climáticas são «a maior o estudo enumerou algumas conse- ções e infecções; doenças pulmonares
ameaça à saúde que a humanidade en- quências para a saúde, nomeadamente obstrutivas crónicas; cancros do pulmão;
frenta», segundo a Organização Mundial o impacto no desempenho de órgãos irritação dos olhos, nariz e garganta;
da Saúde (OMS). Prova disso foi o ano de vitais; a desidratação por transpiração; doenças cardiovasculares; lesões no
2023, que ficou visivelmente marcado a sobrecarga do sistema cardiovascular; fígado, baço e sangue; e até mudanças
por várias transformações climáticas a ou danos celulares por absorção de calor no sistema reprodutivo.
nível nacional e internacional. do ambiente. O impacto das alterações climáticas
Pela pertinência e actualidade do tema, A investigação revela ainda que 2600 fez-se sentir em 2023 e a seca atingiu o
foram identificados cinco grandes riscos portugueses morreram prematura- território nacional com especial inten-
climáticos e com impacto directo na saú- mente devido à poluição atmosférica, sidade, com Julho a ser o quinto mês
de: «temperaturas extremas ou ondas de que vitimou mais de 238 mil cidadãos mais seco dos últimos 20 anos – tendo
calor; poluição do ar; poluição e escas- no espaço comunitário. Ao nível das apresentado um valor médio de pre-
sez da água; insectos transmissores de consequências da poluição do ar para cipitação de 22%. Fruto da poluição e
doenças infecciosas; e a saúde mental». a saúde, detectaram-se fortes dores de escassez de água, a investigação enumera
Cada um destes riscos foi descrito, ca- algumas das possíveis consequências
racterizado e quantificado pelos espe- para a saúde: «Perda de qualidade na
cialistas deste estudo do “Projecto Saú- alimentação e na água, com o aumento
des”, nomeadamente em relação ao seu do risco de aparecimento de doenças,
impacto, actual e futuro, na saúde da So- APENAS 25% DOS como o cancro.»
ciedade portuguesa. INQUIRIDOS ADMITEM Além disso, registaram-se cerca de 700
ESTAR INFORMADOS mil mortes no Planeta devido às doen-
ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS
SOBRE OS RISCOS QUE ças transmitidas por vectores (DTV).
Para compreender o impacto que as Segundo a mesma fonte, a dengue conta
PODEM ACONTECER
alterações climáticas têm na saúde das com dezenas de milhões de casos todos
pessoas, este estudo aborda questões os anos, que resultam entre 20 mil e

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 103
BRANDED
MAIS AMBIENTE, MAIS SAÚDE, MAIS VIDA

25 mil mortes por ano à escala global –


sendo que a maior parte corresponde a
crianças e adolescentes.

PERCEPÇÃO DA POPULAÇÃO
Mais do que a idade, o género ou o ren-
dimento, compreender esta questão das
alterações climáticas na primeira pessoa
é o que mais parece contribuir para a
sensibilização e a preocupação sobre os
efeitos na saúde. Nesse contexto, mais
do que as ameaças globais, torna-se
crucial aprofundar e discutir os riscos
concretos a que os portugueses, nas
suas diferenças áreas geográficas, faixas
etárias ou estados de saúde, podem vir
a estar expostos.
Assim, o estudo reflecte a percepção da
população portuguesa sobre o impacto
das alterações climáticas na saúde: 96%
dos portugueses consideram que estão
ou vão estar mais expostos a problemas
de saúde devido aos riscos ambientais.
Além disso, 67% também afirma que as ter dúvidas, enquanto 14% admite ter desta observação já pensaram em tomar
alterações climáticas já têm um impacto dificuldades ou total desconhecimento. medidas para se prepararem e viverem
negativo na sua qualidade de vida, ao Claramente o estudo detecta, acerca num país com temperaturas mais eleva-
passo que apenas 1% refere que não deste tema, um vazio de informação, das. Contudo, também revelam que não
tem qualquer impacto no seu dia-a-dia. que pode impedir, por vezes, uma acção têm capacidade económica para acções
Na investigação, conclui-se também de prevenção da parte da população. A de prevenção.
que 64% considera que a população título de exemplo, 35% dos inquiridos
portuguesa, em geral, está ou pode vir apenas relacionam o calor extremo a IMPACTO NA SAÚDE
a estar exposta a problemas de saúde problemas cardiovasculares, 43% associa A saúde mental é uma das áreas que mais
em consequência dos riscos ambientais, a poluição do ar ao cancro do pulmão e preocupações tem suscitado no país e o
ao mesmo tempo em que 33% aponta 32% liga a poluição da água ao cancro impacto dos fenómenos climáticos está
que só vão estar expostos no futuro. no rim ou bexiga. claramente documentado, segundo as
Observou-se ainda que 51% já sentiu Segundo esta análise, a proximidade e conclusões deste estudo. Por exemplo,
que as alterações climáticas foram a exposição ao risco aumentam a toma- o risco do stress pós-traumático das
prejudiciais à sua saúde ou à saúde das da de consciência. Aliás, «as viagens a testemunhas dos grandes incêndios
pessoas mais próximas. Contudo, esta países ou regiões muito poluídas, como de Pedrógão Grande, que provocou 66
percepção não significa compreensão e alguns países asiáticos são, muitas vezes, mortes, aumentou em 50%. Por outras
muito menos conhecimento, dado que uma espécie de encontro com o futuro». palavras, além das perdas materiais e
apenas 25% dos inquiridos admitem Cerca de 30% dos inquiridos já estiveram humanas, a exposição aos impactos e
estar informados sobre os riscos que num país onde sentiram fortemente o riscos climáticos resulta, muitas vezes,
podem acontecer. A título de exemplo, problema da poluição. Além disso, im- em situações de sofrimento ou ansiedade
a observação conclui que 61% afirma porta realçar que 28% dos participantes para as vítimas.

104 JA N E I R O 20 2 4
SAÚDE
OS PROBLEMAS RESPIRATÓRIAS (66%)
E AS ALERGIAS (23%) DESTACAM-SE
COMO OS PRINCIPAIS EFEITOS DAS
ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS NA SAÚDE

Para além do impacto das alterações da Saúde de 2021, realizado igualmente ambiente e saúde – unam esforços para
climáticas na saúde mental, destacam-se no âmbito do Projeto Saúdes, , foi pro- ampliar o conhecimento», apelam os
principalmente os problemas respira- posto um exercício de segmentação da autores da investigação.
tórias (66%) e as alergias (23%). Todos população, tendo em conta dois eixos: A título de exemplo, em Madrid, está
os outros são muito pouco referidos/ prevenção e potencialização da saúde. a ser construído um Jardim de Vento
conhecidos: desidratação/insolação (8%), Posto isto, surgiram sete segmentos da para arrefecer a cidade. Em Varsóvia, foi
doenças de pele/cutâneas (7%), cancro população, quatro dos quais ligados a criado um parque infantil biotecnológico
(6%), saúde mental (3%), problemas um estilo de vida “pró-saúde”. que purifica o ar. Na China, estão a ser
cardiovasculares (2%). De referir tam- No estudo de 2023, repetiu-se o mesmo criadas cidades esponja para prevenir
bém que, no topo das preocupações dos exercício, mas com os dados actualiza- cheias e reter a água das chuvas, ao
portugueses, as alterações climáticas dos. A novidade é que foram cruzados passo que em Portugal, Espanha e Chile,
correspondem apenas a 26%, um valor os comportamentos de saúde e as acções estão a ser implementados colectores de
muito atrás do aumento do custo de vida ambientais. A conclusão que se retira neblina que convertem a água das chuvas
(74%), da situação económica (39%), da é a de que existe, de facto, uma forte para as regas.
crise habitacional (31%) ou da actual correlação entre a acção pró-saúde e a «Este estudo não é um ponto de che-
condição do Sistema Nacional de Saúde acção pró-ambiente. Nesse sentido, «é gada, mas um ponto de partida para
(SNS) (29%). mais comum a preocupação com a saúde uma maior acção de todos: Governo,
Face aos dados apurados, os profis- conduzir à preocupação com o ambiente instituições públicas, entidades priva-
sionais mais ligados à natureza, os resi- do que o contrário, o que faz da saúde das, áreas da saúde, do ambiente e da
dentes em meios rurais, os pais de filhos uma das primeiras portas de entrada ciência. Todos somos precisos para que
com problemas de saúde são aqueles para comportamentos mais sustentá- o cidadão comum passe da percepção ao
que estão «na linha da frente em ter- veis», segundo a mais recente análise. conhecimento, capaz de gerar acção e
mos de conhecimento e compreensão». transformação», afirma Maria do Carmo
Salienta-se também que cerca de 10% FUTURO POR CONSTRUIR Silveira, responsável de Orquestração
da população revela um grau elevado de Esta investigação reconhece ainda que, Estratégica do Ecossistema de Saúde
ansiedade climática. sem uma transformação colectiva, qual- do Grupo Ageas Portugal.
Outro ponto que está em evidência quer exercício de defesa ou de resposta O estudo termina ainda com um apelo
no estudo é a correlação entre a acção aos problemas climáticos é inglório. aos médicos, prestadores de saúde e
pró-saúde e a acção pró-ambiente. No BI Nesse sentido, «qualquer acção colectiva responsáveis de saúde pública, dado que
exige, mais do que um apelo à consciência vão ter de suportar parte dos efeitos das
dos cidadãos, uma nova atitude intelec- alterações climáticas. Espera-se, portan-
tual, uma nova ética, um novo mapa de to, que esta observação possa suscitar
«QUALQUER ACÇÃO moralidades que orientem para novas o interesse destes profissionais para
COLECTIVA EXIGE, MAIS condutas e comportamentos sociais e que consigam compreender a distância
DO QUE UM APELO À para um vigoroso impulso de cidadania», entre o que está a ser feito e aquilo que
enfatiza o estudo. até os cenários mais ligeiros de evolução
CONSCIÊNCIA DOS
A mitigação dos riscos reclama tam- de alterações climáticas recomendam.
CIDADÃOS, UMA NOVA bém acções no plano dos Governos, das Em forma de conclusão, à comunidade
ATITUDE INTELECTUAL, entidades públicas, dos poderes locais científica, responsável pelo estudo de
UMA NOVA ÉTICA e municipais, assim como das organi- temas ambientais e de saúde, os inves-
E UM NOVO MAPA zações e empresas com capacidade de tigadores esperam deixar pistas para o
DE MORALIDADES», inovação e actuação. «É necessário que futuro, dado que o «conhecimento e a
os médicos – que não os da saúde pública informação sobre as consequências das
ENFATIZA O ESTUDO
– se formem e actuem sobre esta questão alterações climáticas na saúde ainda
e que os investigadores – da ciência, estão numa fase incipiente».

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 105
GESTÃO
POR :
Adam Bluestein
Fast Company

NA FÁBRICA DA

OZEMPIC
COMO UMA GIGANTE FARMACÊUTICA DINAMARQUESA DE 400 MIL MILHÕES DE EUROS
ALIMENTA O APETITE DA AMÉRICA POR MEDICAMENTOS PARA PERDER PESO

106 JA N E I R O 20 2 4
A “EPIDEMIA”
NOS EUA, 42% DOS ADULTOS SÃO CONSIDERADOS OBESOS E QUASE
TRÊS QUARTOS SÃO CONSIDERADOS OBESOS OU TÊM EXCESSO
DE PESO. A FEDERAÇÃO MUNDIAL DA OBESIDADE PREVÊ QUE 51%
DA POPULAÇÃO MUNDIAL TERÁ EXCESSO DE PESO ATÉ 2035

Nordisk – agora conhecida no mundo metade da receita da Novo. A empresa


como a fabricante do Ozempic e do prevê agora que as receitas de 2023 pos-
Wegovy. A sede presta uma homenagem sam atingir os 30 mil milhões de euros,
arquitectónica à espiral da molécula de um aumento de 39% em relação a 2022.
insulina – a tradicional fonte de receitas Em Agosto, a fabricante ultrapassou o
da empresa. conglomerado de bens de luxo LVMH
Hoje, a Novo vende semaglutido sob como a empresa cotada mais valiosa da
três formas: o Ozempic, um injectável Europa. Com 400 mil milhões de euros,
semanal para o tratamento da diabetes a sua capitalização de mercado excede
de tipo 2 e prescrito indevidamente para o produto interno bruto da Dinamar-
a perda de peso; o Wegovy, um injectável ca. «Esta nova geração de produtos do
de dose mais elevada aprovado para a GLP-1 contribuiu para o crescimento do
perda de peso; e o Rybelsus, um medi- mercado», afirma Lars Jørgensen, «mas

A
camento oral para a diabetes de tipo 2. também para uma quota de mercado
Milagrosos, controversos e dispendiosos, mais agressiva» para a empresa. Uti-
obesidade, de os medicamentos suscitaram debates por lizando os ganhos obtidos com a perda
modo geral, não todo o mundo sobre tudo, do acesso e os de peso, a Novo está agora a desenvolver
é um problema preços à imagem corporal e à natureza novas utilizações para os medicamentos
na terra da Pe- da obesidade – e desencadearam um de GLP-1 – incluindo para doenças car-
quena Sereia. frenesim. «Se tivéssemos previsto isto, díacas e doenças renais crónicas – que
Na capital di- ter-nos-íamos preparado de forma di- poderão ser mais lucrativas.
namarquesa, ferente», afirma Lars Fruergaard Jør-
Copenhaga, as gensen, CEO da Novo Nordisk. Menos
bicicletas supe- de um ano após ter chegado ao mercado
ram os carros dinamarquês, mais de 1% da população
em cinco para tomava o medicamento, a maioria pa-
um, as pessoas nadam no porto de gando cerca de 311 euros por mês. Mas
Nyhavn até Setembro e, aparentemente. a Dinamarca tem uma população de
poucas pessoas engordam. O país tem apenas seis milhões de habitantes. O
uma das taxas de obesidade mais baixas que interessa é a matemática dos EUA.
da Europa, embora, com 18,4% em 2021, Aí, onde o Wegovy custa cerca de 1200
tenha aumentado consideravelmente em euros por mês e o Ozempic 900 euros,
relação aos 6,1% registados em 1987. aproximadamente 1,7% dos adultos
O resto do mundo também enfrenta o norte-americanos que consultaram um
aumento da obesidade. Nos EUA, 42% médico no ano passado receberam uma
dos adultos são considerados obesos prescrição de um dos medicamentos de
e quase três quartos são considerados semaglutido da Novo Nordisk.
obesos ou têm excesso de peso. A Fede- Impulsionadas pelos EUA, as vendas
ração Mundial da Obesidade prevê que do Wegovy atingiram os 1,26 mil mi-
51% da população mundial terá excesso lhões de euros no terceiro trimestre de
de peso até 2035. 2023, mais de oito vezes em relação ao
A solução para esta epidemia pode ano anterior, e as vendas do Ozempic
estar a 45 minutos de bicicleta do centro aumentaram cerca de 59%, para quase
de Copenhaga, nos escritórios da em- 8,6 mil milhões de euros. Juntos, os >> Lars Fruergaard Jørgensen,
presa farmacêutica dinamarquesa Novo medicamentos representaram mais da CEO da Novo Nordisk

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 107
GESTÃO
NA FÁBRICA DA OZEMPIC

Na Dinamarca, onde emprega cerca de


21 mil pessoas, a Novo Nordisk tem a re-
putação de ser uma empresa sábia. Atra-
vés da sua fundação, distribuiu cerca de
mil milhões de euros para iniciativas cien-
tíficas e culturais só em 2022. Essa gene-
rosidade em casa é possível graças à sua
OZEMPIC INJECTÁVEL SEMANAL PARA O TRATAMENTO DA DIABETES abordagem comercial focada, que de-
DE TIPO 2 E PRESCRITO INDEVIDAMENTE PARA A PERDA DE PESO
pende de aproveitar a vaidade dos norte-
-americanos e de encontrar a gordura
no lucrativo sistema de saúde dos EUA.

Quando Jimmy Kimmel apresentou os


Óscares de 2023 em Março, começou com
um comentário sarcástico: «Quando olho
para esta sala, não posso deixar de pergun-
WEGOVY INJECTÁVEL SEMANAL PARA O TRATAMENTO DA DIABETES
DE TIPO 2 E PRESCRITO INDEVIDAMENTE PARA A PERDA DE PESO tar: “Será que devia tomar o Ozempic?”»
A piada, dirigida às fileiras de estrelas
repentinamente esbeltas na sala, foi uma
homenagem aos anúncios cada
O entusiasmo em torno dos medica- vez mais omnipresentes da
mentos está a passar para toda a eco- Novo. Desde o lançamento
nomia. Em Outubro, a Walmart alertou A NOVO NORDISK do Ozempic como medi-
para o facto de os medicamentos de GASTOU 110 camento para diabetes
GLP-1 estarem a levar os compradores MILHÕES DE EUROS tipo 2 nos EUA, no início
a reduzirem as compras. Esta revelação EM PUBLICIDADE de 2018, a empresa gas-
criou um efeito de onda, diminuindo o DO OZEMPIC NOS tou centenas de milhões
valor das acções de gigantes do sector de euros em marketing
PRIMEIROS SEIS
alimentar como a Krispy Kreme, a Nestlé directo ao consumidor, in-
e a Mondelez International. A Morgan MESES DESTE ANO E cluindo anúncios televisivos.
Stanley calculou que 7% da população 18 MILHÕES DE EUROS Em 2022, investiu 165 milhões de euros
dos EUA, ou seja, 24 milhões de pessoas, PARA PROMOVER em anúncios do Ozempic, sendo cerca
estarão a tomar medicamentos para O WEGOVY de 144 milhões de euros anúncios de
perder peso até 2035 e a reduzir o seu Tv nos EUA. A Novo gastou outros 110
consumo diário de calorias em 30%. milhões de euros em publicidade do
Outros analistas prevêem que o facto de Ozempic nos primeiros seis meses deste
os passageiros serem mais leves poderá doentes com diabetes – a base tradicional ano e 18 milhões de euros para promover
fazer com que as companhias aéreas do Ozempic – em dificuldades. Mas, o Wegovy, de acordo com a empresa de
poupem muito em custos de combustível. nos bastidores, a Novo passou mais analítica MediaRadar.
Estes medicamentos são frequen- de 15 anos a desenvolver estes medi- Na Primavera de 2023, era impossível
temente apelidados sucessos estron- camentos incrivelmente eficazes e, no evitar a música dos anúncios do Ozempic,
dosos. E são-no, de tal forma que a mínimo, meia dúzia de anos a preparar que não só destacavam os benefícios do
Novo Nordisk tem tido dificuldade em o seu lançamento público com grande medicamento para a glicemia e proble-
acompanhar a procura, deixando alguns sucesso, principalmente nos EUA. mas cardiovasculares, como falavam

108 JA N E I R O 20 2 4
OS DADOS
A MAIORIA DOS PACIENTES QUE TOMARAM VICTOZA PERDERAM MENOS DE 10% DO
PESO CORPORAL. «ERA O MELHOR QUE EXISTIA MAS AINDA NÃO ERA AMPLAMENTE
UTILIZADO.» A MOLÉCULA SEGUINTE DA NOVO FOI MAIS LONGE, MELHORANDO
O CONTROLO DA DIABETES E CAUSANDO UMA PERDA DE PESO MÉDIA DE 15%

sobre a média de 5,5 quilos que os pa- sáveis por quase metade do mercado
cientes perderam em ensaios clínicos. de insulina, mas a concorrência e os
Entre o público de elite do cinema de descontos cada vez maiores negociados
Los Angeles, já era do conhecimento com os programas estatais da Medicaid e
geral que o Ozempic não era apenas distribuidores farmacêuticos reduziram
para a diabetes. os preços. Felizmente, Lars Jørgensen
Não foi só Hollywood que impulsionou tinha uma nova classe de medicamentos
a procura pelo medicamento. No final de para estimular a empresa: os agonistas
2022, o termo “Ozempic” tinha mais de dos receptores GLP-1, que imitam a ac-
300 milhões de visualizações no TikTok. ção de uma hormona intestinal chamada
Todos, de mães suburbanas a Elon Musk, peptídeo 1, semelhante à glicagina para
acediam às redes sociais para partilha- estabilizar o açúcar no sangue.
rem as suas experiências positivas com «Estamos no mercado de GLP-1 há
os agonistas dos receptores GLP-1. Anún- cerca de 15 anos», explica. A Novo iniciou
cios de farmácias online a oferecerem a pesquisa de medicamentos de GLP-1
semaglutido proliferaram nos metros das para tratar a diabetes tipo 2 no início da
cidades, e spas médicos gabavam-se do década de 80. Mas o trabalho definhou
seu acesso ao Ozempic, desrespeitando até a cientista Lotte Bjerre Knudsen criar
>> Entre o público de elite do as restrições à comercialização de usos um análogo do GLP-1 chamado liragluti-
cinema de Los Angeles, já era do indevidos de medicamentos. As segura- do. Comercializado como um injectável
conhecimento geral que o Ozempic
não era apenas para a diabetes.
doras esforçaram-se para actualizarem de administração única diária chamado
No final de 2022, o termo as suas comparticipações. E a Novo Victoza, o liraglutido foi aprovado pela
“Ozempic” tinha mais de 300 Nordisk, que enfrentava dificuldades Food and Drug Administration em
milhões de visualizações no
TikTok. Todos acediam às redes
de abastecimento, teve dificuldade em 2010 para a diabetes e, em 2014, como
sociais para partilharem as suas acompanhar a procura que criara. um medicamento para a perda de peso
experiências (na sua maioria) Este cenário era impossível de imagi- chamado Saxenda.
positivas com os agonistas
dos receptores GLP-1
nar quando a Novo Nordisk foi criada, A maioria dos pacientes que tomaram
em 1989, com a fusão das empresas Victoza perderam menos de 10% do peso
farmacêuticas dinamarquesas Nordisk corporal. «Era o melhor que existia»,
Insulinlaboratorium e Novo Therapeu- nota Lars Jørgensen. «Mas ainda não era
tisk Laboratorium, que desde a década amplamente utilizado.» A molécula se-
de 20 produziam medicamentos à guinte da Novo foi mais longe, me-
base de insulina, uma hormona lhorando o controlo da diabe-
peptídica que regula os níveis de tes e causando uma perda de peso média
açúcar no sangue. Hoje, a empresa de 15%. Isso «foi decisivo», declara. E
vende cerca de metade de toda a a Novo começou a relatar dados clí-
insulina mundial, em valor, um nicos de ensaios do semaglutido – in-
negócio que rendeu cerca de sete cluindo o seu “efeito colateral” de perda
mil milhões de euros em 2022. de peso – no final de 2016. Quando a FDA
Porém, em Janeiro de 2017, aprovou o Ozempic em 2017 para uso na
quando Lars Jørgensen assumiu o diabetes tipo 2, «os pacientes mexeram-
cargo de CEO, o negócio de insulina -se», observa. «Pela primeira vez, tive-
da empresa estagnara. «Tivemos uma mos um produto em que os pacientes
situação de baixo crescimento», lembra. iam ao médico pedir o medicamento e
Os EUA são tradicionalmente respon- [depois] o médico perguntava-nos isso.»

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 109
GESTÃO
NA FÁBRICA DA OZEMPIC

>> A sede da Novo Nordisk, um cilindro cheio


de luz desenhado por Henning Larsen,
presta uma homenagem arquitectónica
à espiral da molécula de insulina – a
tradicional fonte de receitas da empresa

Os pacientes podem ter procurado os


medicamentos da Novo, mas a empresa
estava a ajudá-los, especialmente na
América do Norte, território responsá-
vel por quase metade das suas receitas
no ano passado. Com uma população
de quase 340 milhões de pessoas e os
preços de medicamentos mais elevados
do mundo, os EUA são uma proverbial
fonte de dinheiro para os fabricantes de
medicamentos. E para uma empresa que
vende medicamentos para a diabetes e
a obesidade, os EUA compensam, com
uma elevada prevalência de ambos. A
Comissão Federal de Comércio estima
que os seus consumidores gastam 30 mil
milhões de euros por ano a tentar perder
peso ou a prevenir o aumento de peso.
Conquistar esse mercado foi um es-
forço de anos. Doug Langa, director de
operações da Novo na América do Norte, para a organização, porque sabíamos Isso inclui palestras e consultoria, custos
constata que a sua divisão passou por que a I&D contínua levaria a outras de alimentação e bebidas, e despesas
uma profunda transformação em 2017, oportunidades e a outros pacientes.» de viagem e estadas. Só em 2022, a
quando o Ozempic se aproximava da Dave Moore refere que, na altura, foi Novo gastou 10 milhões de euros em
aprovação do FDA. «Éramos como um um desafio fazer com que os médicos refeições e viagens para médicos dos
carro de corrida de Fórmula 1 num pit «pensassem na obesidade como uma EUA promoverem os seus medicamen-
stop», lembra. «Íamos tirar os nossos doença crónica grave» e como uma porta tos de GLP-1, pagando cerca de 457 mil
pneus de insulina e colocar os nossos de entrada para outras complicações e refeições e viagens para Londres, Paris,
pneus de GLP-1, o que significava pas- condições. A formação dos profissionais Orlando e Honolulu. Em comparação,
sar muitos representantes e gastos com médicos foi sempre um foco na comer- a Eli Lilly gastou cerca de 3,2 milhões
marketing para o GLP-1.» cialização dos produtos para a diabetes de euros em 2021 em refeições e viagens
«Sabíamos que o Ozempic era espe- da empresa, «portanto, foi uma mudança para promover os seus medicamentos de
cial», lembra Dave Moore, vice-presi- natural fazer o mesmo para a obesidade». GLP-1, o Mounjaro e o Trulicity.
dente executivo de desenvolvimento cor- O orçamento para “formação” do Novo Oferecer vinhos e jantares a médicos
porativo da Novo, que presidiu o lança- tem sido generoso. Entre 2013 e 2022, é geralmente legal, embora as conversas
mento na América do Norte. «Os inú- de acordo com a Reuters, a Novo gastou sejam regidas por um código de ética que
meros ensaios clínicos, com dezenas de pelo menos 23,7 milhões de euros em limita, entre outras coisas, a partilha de
milhares de pacientes, mostraram que médicos norte-americanos, apenas em informações sobre indicações futuras
esta era uma oportunidade única. A longo relação aos seus medicamentos para ou indevidas. Mas dinheiro e refeições
prazo, o Ozempic foi muito importante perda de peso, o Wegovy e o Saxenda. fazem a diferença, mesmo que os próprios

110 JA N E I R O 20 2 4
E AGORA?
A NOVO SEGUIU A LEI AO NÃO COMERCIALIZAR O OZEMPIC
SÓ PARA A PERDA DE PESO. MAS AS PRESCRIÇÕES INDEVIDAS
ALIMENTARAM O CRESCIMENTO VERTIGINOSO DAS RECEITAS DA
EMPRESA E LEVARAM À ESCASSEZ PARA PACIENTES COM DIABETES

para resolver uma acção judicial sobre


uma suposta promoção inapropriada de
um medicamento anticoagulante com
indicações indevidas. Também chegou
a um acordo de 1,58 milhões de euros
com o procurador de Brooklyn, abor-
dando alegações de que representantes
de vendas em vários estados pagaram a
farmacêuticos para recomendarem dois
dos seus tratamentos para a diabetes. Em
Janeiro deste ano, o Comité dos Médicos,
uma organização sem fins lucrativos de
defesa da saúde pública, apresentou uma
queixa à FDA argumentando que uma
reportagem de 13 minutos que passou no
programa “60 Minutes” sobre o Wegovy
era tão unilateral – e a Novo Nordisk
era um anunciante tão grande – que
o anúncio de “notícias” equivalia a um
anúncio, violando a exigência da FDA de
que os anúncios divulgassem os riscos
dos medicamentos.
>> Doug Langa, director de operações >> Dave Moore, vice-presidente executivo de Há também a questão da prescrição
da Novo Nordisk na América do Norte desenvolvimento corporativo da Novo Nordisk
indevida. A Novo seguiu a lei ao não
comercializar o Ozempic só para a perda
médicos precisem de ligar os pontos. Uma de peso. Mas as prescrições indevidas ali-
análise da ProPublica de 2016 descobriu mentaram o crescimento vertiginoso das
que os médicos que recebiam pagamen- «OS INÚMEROS ENSAIOS receitas da empresa e levaram à escassez
tos da indústria, ou mesmo apenas uma para pacientes com diabetes. (O Wegovy
CLÍNICOS MOSTRARAM
refeição, prescreviam medicamentos de foi aprovado para a perda de peso, mas a
marca com preços mais elevados a uma QUE ESTA ERA UMA produção do medicamento não chegará
taxa muito mais elevada do que os seus OPORTUNIDADE ÚNICA. para a procura por muitos meses.) Dados
pares, em comparação com genéricos A LONGO PRAZO, O sobre tendências de prescrição em 50
mais baratos. OZEMPIC FOI MUITO grandes cidades dos EUA, analisados pela
A Novo Nordisk já contornou linhas IMPORTANTE PARA Trilliant Health para a CNN, mostram
éticas anteriormente. Em 2017, a empre- que a prescrição indevida do Ozempic
A NOVO NORDISK,
sa chegou a acordo numa investigação aumentou em todo o país. Em algumas
do Departamento de Justiça sobre um PORQUE SABÍAMOS cidades – incluindo Boston e Hartford,
“esquema de marketing de colarinho QUE A I&D CONTÍNUA no Connecticut – cerca de metade das
branco” que supostamente incluía pa- LEVARIA A OUTRAS prescrições de Ozempic no primeiro
gamentos a médicos e fazia passar OPORTUNIDADES E A trimestre de 2023 foram para pessoas
vendedores como formadores médicos OUTROS PACIENTES» que não tinham historial de diabetes.
na promoção de três medicamentos «Não me façam falar sobre o Ozem-
AFIRMA DAVE MOORE
para a diabetes. Em Junho de 2011, a pic», diz um ginecologista/obstetra de
empresa pagou 23 milhões de euros São Francisco. «Os nossos pacientes

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 111
GESTÃO
NA FÁBRICA DA OZEMPIC

recebem essa opção se cumprirem segundo um comunicado de Em Maio, perante uma escas-
alguns critérios clínicos para perda de Julho. «Há coisas que preci- sez, a Novo Nordisk anunciou
peso, e é possível manipular o sistema sam de acontecer para a que suspendera temporariamente
para ser comparticipado na totalidade medicação funcionar bem», alguns dos seus esforços promo-
ou quase.» Não há nada de ilegal ou explica Scott Kahan, «como cionais para o Wegovy para
reprovável em um médico prescrever um acompanhamento com o mé- evitar «estimular uma maior
medicamento aprovado para algo fora do dico, atenção contínua à dieta procura». Foi um gesto per-
uso indicado, se for por um bom motivo e exercício físico». formativo, dado o panorama:
médico. Mas a prescrição do Ozempic ul- «Levamos [a prescrição indevi- de Janeiro ao final de Julho
trapassou os limites. da] muito a sério», declara Dave Moore, de 2023, os gastos com publi-
Os efeitos colaterais do semaglutido da Novo. «A decisão de como pres- cidade da Novo aumentaram
podem incluir problemas intestinais leves crever o medicamento é do médico. 23% para o Ozempic e mais
a graves, como náuseas, prisão de ventre Mas o nosso trabalho é garantir de 1000% para o Wegovy. O
e diarreia. A perda de peso rápida pode que educamos os médicos sobre génio saíra da lâmpada.
levar à diminuição da massa muscular e à o uso seguro dos nossos medi-
“face Ozempic” – flacidez e envelhecimen- camentos.» Dave Moore refere
to da pele. E há histórias mais alarmantes. que a empresa oferece “correções Os medicamentos de
Pelo menos 265 relatórios foram apre- de curso” quando prescritores semaglutido podem ser
sentados à FDA desde 2010, descrevendo individuais não seguem transformadores, e até
comportamentos suicidas em pacientes as directrizes adequadas, revolucionários, para os
que tomam medicamentos de GLP-1, mas recusou-se a descrever pacientes que conseguem
segundo a Reuters; a Agência Europeia exemplos específicos. obter e pagar por uma
de Medicamentos está a avaliar cerca de O apetite pelo sema- receita. Mais de 70% das
150 notificações de possíveis casos de glutido nos EUA, entre- prescrições de semaglutido
automutilação e pensamentos suicidas, tanto, parece insaciável. nos EUA foram para pacien-
tes brancos, segundo dados da
Epic Research. Os brancos têm cerca de
quatro vezes mais probabilidade do que
os negros de receber uma prescrição
destas, apesar de terem uma prevalência
de diabetes quase 40% menor e uma
prevalência de obesidade 17% menor.
Na cidade de Nova Iorque, uma análise
da Trilliant Health para o “New York
Times” descobriu que as taxas mais
elevadas de prescrição do Ozempic, do
Wegovy e do Mounjaro da Eli Lilly em
2022 ocorreram nos bairros mais ricos
– e mais saudáveis.
A razão para essa disparidade é sim-
ples: além de serem eficazes, os produtos

>> A prescrição indevida aumentou. Em algumas


cidades cerca de metade das prescrições de
Ozempic no primeiro trimestre de 2023 foram
para pessoas que não tinham historial de diabetes

112 JA N E I R O 20 2 4
CONTROVÉRSIA
NÃO HÁ NADA DE ILEGAL OU REPROVÁVEL EM UM MÉDICO
PRESCREVER UM MEDICAMENTO APROVADO PARA ALGO FORA
DO USO INDICADO, SE FOR POR UM BOM MOTIVO MÉDICO.
MAS A PRESCRIÇÃO DO OZEMPIC ULTRAPASSOU OS LIMITES

NOS EUA, O WEGOVY TEM UM PREÇO MÉDIO DE


TABELA DE 1235 EUROS PARA UM FORNECIMENTO DE
QUATRO SEMANAS. O PREÇO DE TABELA DO OZEMPIC,
POR SUA VEZ, ESTÁ ENTRE OS 825 E OS 916 EUROS
PARA UM FORNECIMENTO DE QUATRO SEMANAS

de semaglutido da Novo são extrema- de seguros veterano de Nova Jersey. «As Congressional Black Caucus Foundation,
mente caros, pelo menos nos EUA. Aí, o seguradoras estão a evitar [comparticipar ao Asian Pacific American Institute
Wegovy custa pelo menos quatro vezes o o GLP-1] se for só para a perda de peso.» for Congressional Studies e ao Con-
que custa na Europa. Com um preço mé- Uma pesquisa de Julho da Found, em- gressional Hispanic Caucus Institute,
dio de tabela nos EUA de 1235 euros para presa que fornece serviços de tratamento que apoiam outro projecto de lei sobre
um fornecimento de quatro semanas, o da obesidade a 200 mil colaboradores de disparidades na saúde que eliminaria
fornecimento para um ano pode custar grandes empresas, relatou que 69% da sua a proibição.
14 500 euros ou mais. E para manter a população de pacientes não tinha cober- Mesmo na Dinamarca, o plano de
perda de peso, os medicamentos devem tura para medicamentos de GLP-1 – um saúde pública não cobre o Wegovy, e a
ser tomados por tempo indeterminado. declínio de 50% desde Dezembro de 2022. maior seguradora privada do país irá
O preço de tabela do Ozempic, por sua A comparticipação do Wegovy como tra- interromper os reembolsos do medica-
vez, está entre os 825 e os 916 euros para tamento para a obesidade na rede Blue mento a partir de Janeiro.
um fornecimento de quatro semanas. Cross e Blue Shield, por exemplo, varia O que acabará por reduzir o preço
Lars Jørgensen, da Novo, defende o conforme o plano regional e factores que da semaglutido será a concorrência. E
preço, explicando que nos EUA existe o incluem “requisitos regulatórios, prefe- ela está a chegar. Neste Outono, a FDA
preço de tabela de um medicamento e rências do empregador e preocupações aprovou uma versão em dose mais alta
depois existe o que os clientes realmen- pendentes de acessibilidade”, de acordo do concorrente do Ozempic da Eli Lilly,
te pagam após o seguro. «Damos, em com um porta-voz. Obter aprovação o Mounjaro, para tratar a obesidade.
média, 75% em descontos» em todo o para o uso indevido do Ozempic para Comercializado como Zepbound e lan-
portefólio de medicamentos da empresa, controlo de peso é ainda mais difícil, çado em Dezembro, oferece uma perda
explica. Segundo a análise do American afirma o porta-voz: «Vemos pacientes a de peso superior em comparação com os
Enterprise Institute, as seguradoras usar [esses medicamentos] mais rápido medicamentos da Novo e um preço de
pagam à Novo cerca de 640 euros por do que a ciência consegue compreender tabela mais baixo, cerca de 970 euros.
um fornecimento de Wegovy para quatro a sua eficácia a longo prazo. Devido a Pelo menos 70 outros medicamentos
semanas e cerca de 275 euros pelo Ozem- esta incerteza e à falta de provas a longo para a perda de peso estão em testes
pic. Na sua mais recente teleconferência prazo, as seguradoras podem não cobrir clínicos, da Pfizer, da Amgen e de uma
de resultados, a Novo informou que os o uso indevido para controlo de peso, série de startups. Outras empresas
norte-americanos com seguro que cobre neste momento.» farmacêuticas estão simplesmente a
o Wegovy geralmente pagam menos de Os pacientes da Medicare, entretanto, adquirir. A AstraZeneca pagou 170
23 euros por mês pelo medicamento. não recebem apoio. A Novo tem traba- milhões euros recentemente pelos di-
Mas muitas seguradoras recuaram lhado para reunir apoio para a Lei de reitos globais para desenvolver uma
e estão a repensar a comparticipação. Tratamento e Redução da Obesidade pílula experimental de GLP-1 de uma
«Há demasiado entusiasmo e os medi- de 2021, que suspenderia a proibição empresa de biotecnologia chinesa, e a
camentos são caros», observa um agente de comparticipação, e também doou à Roche adquiriu a biotecnológica Carmot

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 113
GESTÃO
NA FÁBRICA DA OZEMPIC

Therapeutics, com sede na Califórnia, no risco de morte por problemas renais da doença renal crónica e morte renal
que tem dois candidatos a medicamentos e cardíacos. Outros projectos estão a em 22%. Reduziu o risco de morte rela-
para a obesidade, por 2,5 mil milhões de investigar o GLP-1 para a osteoartrite, cionada com o coração em 15% e o risco
euros. Em Julho, a Eli Lilly adquiriu a doença de Alzheimer (num ensaio de de morte por qualquer causa em 19%.
Versanis, uma farmacêutica de produtos Fase 3) e EHNA (esteatose hepática Também reduziu o risco de desenvolver
para a obesidade, num negócio avaliado não alcoólica), uma forma de doença diabetes em 73% e o risco de acidente
em até 1,7 mil milhões de euros. Em chamada fígado gorduroso. Um estu- vascular cerebral não fatal em 7%.
Agosto, Lars Jørgensen adquiriu duas do da Universidade de Oklahoma que A empresa espera uma aprovação
startups de medicamentos para a obesi- analisa o semaglutido como tratamento ampliada do semaglutido pela FDA para
dade, a empresa dinamarquesa Embark para o transtorno por uso de álcool está doenças cardíacas no primeiro semestre
e a Inversago, com sede em Montreal, actualmente a aceitar pacientes. de 2024, o que seria outra inovação
em negócios que poderão valer mais de As doenças cardíacas são outro foco para a empresa. «Os cardiologistas já
mil milhões de euros. importante da empresa. Afinal, os medi- se começaram a interessar pelo GLP-1»,
camentos para o coração são um grande nota Lars Jørgensen. «Todos os conhe-
mercado – avaliado em 44 mil milhões cimentos médicos sobre a ligação entre
O ímpeto da perda de peso da Novo de euros em todo o mundo até 2026, obesidade e diabetes, doenças cardio-
poderá desacelerar em breve, mas a segundo algumas estimativas – e é difícil vasculares, hipertensão e todas estas
empresa está rapidamente a criar novos para as seguradoras descartá-los como doenças cardiometabólicas estão a ser
caminhos. «Estamos apenas a aprender não essenciais. Após ver as primeiras pro- compreendidos agora.»
todos os sistemas biológicos onde os vas do potencial do Ozempic para tratar A Novo aumentou os seus gastos em
agonistas dos receptores GLP-1 podem problemas cardíacos, Lars Jørgensen fez I&D, alocando-lhe mais de 3,2 mil
desempenhar um papel», refere Marcus uma aposta calculada e lançou um ensaio milhões de euros em 2022, acima dos
Schindler, vice-presidente executivo em larga escala para examinar as suas cerca de 2,4 mil milhões de euros do ano
de pesquisa e desenvolvimento inicial aplicações cardiovasculares. anterior. Nos 12 meses terminados a 30
e director-científico da Novo Nordisk. Divulgados no mês passado, os resul- de Setembro, investiu 3,95 mil milhões de
E a Novo provavelmente dedicou mais tados do estudo de quase cinco anos, que euros em pesquisa – um aumento de 37%
recursos e tempo para resolvê-los. começou a inscrever pacientes em 2018, ano após ano. Muitos dos investimentos
A Novo divulgou recentemente dados impressionaram cientistas e investidores. da empresa visam reduzir o tempo que
de um ensaio clínico com o Ozempic em Em comparação com um placebo, o We- levará para identificar e validar o próxi-
pessoas com doença renal crónica e dia- govy reduziu o risco de ataque cardíaco mo sucesso, o que vier depois do GLP-1.
betes que mostrou uma redução de 20% não fatal em 28% e o risco de progressão Um dos grandes objectivos de Marcus
Schindler é passar das ideias aos testes
humanos com mais rapidez. «Testar
novos conceitos e moléculas em animais
excessivamente ou por muito tempo não
nos torna sábios», explica. «São os dados
humanos que realmente importam.»
Encurtar o caminho para os seres
humanos significa, entre outras coisas,
fazer mais para automatizar as primei-
ras pesquisas. Numa visita aos amplos
laboratórios da empresa no subúrbio de
MOUNJARO INJECTÁVEL CONCORRENTE DO OZEMPIC Måløv, na Dinamarca, neste Outono,
DA ELI LILLY, PARA TRATAR A OBESIDADE
vários pesquisadores da Novo exibiram
o equipamento robótico e os processos

114 JA N E I R O 20 2 4
RESPONDER
OS NORTE-AMERICANOS PARECEM PRECISAR DO QUE A NOVO
NORDISK VENDE. O PIPELINE DE PRODUTOS DA EMPRESA NÃO
PODERIA ALINHAR-SE MAIS PERFEITAMENTE COM AS SUAS DOENÇAS
NACIONAIS DE OBESIDADE, DIABETES E DOENÇAS CARDÍACAS

altamente automatizados que permitem >> Marcus Schindler, vice-presidente executivo


de pesquisa e desenvolvimento inicial
à empresa projectar, sintetizar e testar e director-científico da Novo Nordisk
rapidamente novas formulações de pep-
tídeos e proteínas para medicamentos
de próxima geração. A IA é outra prio- Tal como outras grandes empresas
ridade. «Em vez de ciclos iterativos de dinamarquesas – incluindo a Lego,
estudos com animais, fazendo uma expe- a fabricante de cerveja Carlsberg e a
riência de quatro semanas após a outra, companhia marítima Maersk –, a Novo
podemos [usar a IA para] modelar esses Nordisk é controlada maioritariamente
resultados», observa Marcus Schindler. por uma fundação independente cujo ob-
«Podemos diminuir o cronograma para jectivo é fornecer uma base estável para
descobrir um novo químico de meses ou as actividades comerciais e de inves-
anos para dias.» tigação das empresas do Grupo Novo
A Novo está também a começar a pro- (composto pela Novo Nordisk e pela
curar inovação fora dos seus laboratórios. Novozymes, fabricante de enzimas in-
Em Setembro, anunciou uma colabora- dustriais) e apoiar causas científicas,
ção com o Broad Institute do MIT-Har- humanitárias e sociais. A estrutura foi
vard para identificar novos objectivos de concebida para apoiar uma perspectiva
medicamentos. Uma parceria adicional de gestão a mais longo prazo, explica
com a empresa de capital de risco Fla- Lars Jørgensen. «É claro que pensamos
gship Pioneering, sediada em Cambridge, A NOVO NORDISK em entregar aqui e agora, mas também
visa levar as empresas do seu portefólio ESTÁ A CRIAR NOVOS pensamos nas próximas décadas», diz.
a trabalhar nalguns dos problemas que CAMINHOS. «ESTAMOS Por ser uma das maiores empregadoras
a Novo está a tentar resolver. e filantropas empresariais do país, e por
A APRENDER TODOS OS
«Tradicionalmente, a Novo Nordisk muitos fundos de pensões dinamarqueses
tem estado muito centrada na Dinamar- SISTEMAS BIOLÓGICOS deterem acções de empresas, o que é bom
ca e na força de trabalho dinamarquesa», ONDE OS AGONISTAS para a Novo tem sido geralmente visto
declara Marcus Schindler. À medida que DOS RECEPTORES GLP-1 como bom para a Dinamarca. Se isso é
entra nas fileiras da elite farmacêutica, PODEM DESEMPENHAR bom para a América é outra questão.
a empresa age cada vez mais como a UM PAPEL», REFERE Os norte-americanos parecem precisar
gigante global que é. do que a Novo Nordisk vende. O pipeline
MARCUS SCHINDLER
de produtos da empresa não poderia ali-
nhar-se mais perfeitamente com as suas
doenças nacionais de obesidade, diabetes
e doenças cardíacas. Mas o apetite dos
norte-americanos por curas instantâ-
neas – e o fracasso geral do governo em
controlar os custos dos medicamentos e
a conduta das empresas farmacêuticas
e dos médicos – poderá conduzir a um
cenário onde o dinheiro e a capacidade
de manipular o sistema determinam o
acesso a medicamentos que salvam vidas.
Isso pode parecer distópico. Pode parecer
os negócios do costume.

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 115
GESTÃO
POR :
Pia Lauritzen
strategy+business

PARA TUDO
QUANDO A EQUIPA DE LIDERANÇA DA OFICINA
DE PINTURA DA FABRICANTE DE AUTOMÓVEIS
AUDI INICIOU UM PROCESSO DE MUDANÇA,
DECIDIU CONFIAR NO PODER DAS PERGUNTAS

116 JA N E I R O 20 2 4
FORMAÇÃO
COMO SE PREPARA UMA FORÇA DE TRABALHO PARA
O FUTURO QUANDO NÃO SE SABE O QUE O FUTURO
TRARÁ? A RESPOSTA MAIS CURTA É: CAPACITAR OS SEUS
COLABORADORES PARA SE ADAPTAREM À MUDANÇA

N
o 26.º inquérito mercado em mudança, no qual cada Thomssen, que faz parte da equipa de
anual da PwC a vez mais consumidores mudavam para liderança da Carsten Mohr.
CEO globais, rea- veículos eléctricos. Para compreender o que é realmente
lizado em 2023, Carsten Mohr decidiu que precisava de importante para os seus colaboradores,
40% de todos os compreender como estes desafios afecta- é necessário conhecer as suas formas de
CEO declararam vam a sua equipa. A solução passou por pensar e falar sobre as suas práticas quo-
que não espera- identificar as principais preocupações tidianas. Para tal, é necessário adoptar
vam que as suas dos funcionários e começar a abordá-las uma abordagem sistemática para explo-
empresas conti- com o método de comunicação mais rar as perguntas que as pessoas fazem
nuassem a existir analógico possível: ouvir. umas às outras na sua organização. No
da mesma forma caso da oficina de pintura, isso implicou
daqui a 10 anos. Se lhes perguntarmos CINCO TONALIDADES a realização de vários workshops e a uti-
o que obrigaria a mudar o seu modelo DE INCERTEZA lização de uma plataforma digital para
de negócio, é provável que refiram a Em latim, “Audi” significa “ouvir” (tra- envolver os funcionários em conversas
inteligência artificial (IA) ou as altera- duzido do alemão “horch”, o nome do entre pares sobre o futuro. Para Cars-
ções climáticas. Mas não conseguem fundador da Audi, August Horch). E ten Mohr e a sua equipa de liderança,
ser mais específicos. E é aí que reside o foi exactamente isso que Mohr decidiu não se tratava de responder a todas
problema. Como se prepara uma força fazer: ouvir as perguntas que ele e a sua as perguntas. Pelo contrário, queriam
de trabalho para o futuro quando não equipa faziam a si próprios. Carsten compreender a motivação por detrás das
se sabe o que o futuro trará? Mohr optou por uma abordagem huma- perguntas e a quem eram dirigidas, para
A resposta mais curta é: capacitar os na para compreender como acontece a poderem garantir que os seus próprios
seus colaboradores para se adaptarem à mudança. Esta abordagem gira em torno esforços de comunicação seriam mais
mudança. Quando não se pode dizer à da compreensão e da adopção dos cinco relevantes e úteis.
equipa de liderança e aos colaboradores níveis ou tonalidades de incerteza no Eis como as etapas se desenrolaram:
para o que se devem preparar, é preciso percurso para a transformação: refle-
mostrar-lhes como se podem preparar xão, cepticismo, curiosidade, dúvida e REFLEXÃO
para tudo. criatividade (esquema abaixo). porque faço isto?
Em 2022, Carsten Mohr, líder da ofi- «Precisávamos de compreender o que Em conversas com o seu coach executi-
cina de pintura da Audi em Ingolstadt, é realmente importante para os nossos vo, Stefan Daniel, Carsten Mohr aper-
na Alemanha, decidiu mudar a menta- colaboradores de modo a iniciarmos uma cebeu-se de que o primeiro passo para
lidade da sua equipa e capacitá-la para mudança significativa», recorda Stine preparar a sua força de trabalho para o
se preparar para a mudança. A oficina
de pintura tem dois mil funcionários. A
operação funcionava da mesma forma
CINCO TONALIDADES DE INCERTEZA
há anos, adoptando novas tecnologias à
medida que estas se tornavam disponí-
veis para aumentar a produtividade. Mas
Carsten Mohr sabia que a transformação
digital da indústria automóvel, as novas
formas de trabalho e a introdução da IA
exigiriam que a sua força de trabalho as- Individual Grupo Colectivo Analítico Data-driven
sumisse mais responsabilidades. Novos Reflexão Cepticismo Curiosidade Dúvida Criatividade
players estavam a entrar no mercado, e
“Porque “Temos a certeza “O que é “A quem deve “Como cocriar
a Audi, tal como todas outras marcas faço isto?” que queremos possível?” ser confiado o nosso futuro?”
históricas, precisava de se adaptar a um isto?” o quê?”

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 117
GESTÃO
COMO ESTAR PREPARADO PARA TUDO

desconhecido era trabalhar em si pró- criar uma base comum entre as dife- ções. Ao longo de quatro meses, a equipa
prio. Por isso, quando Stefan Daniel o renças de idade, antiguidade, género e de liderança tentou perceber que tipo de
incentivou a dar um passeio e a reflectir estilo de liderança.» perguntas os seus colaboradores iriam
sobre uma série de perguntas sobre o Em vez de apressar o processo, Carsten fazer e como lhes responder. Como resul-
que seria necessário para construir um Mohr deu espaço para que todos parti- tado, a equipa de liderança comprometeu-
futuro melhor para 1) a empresa, 2) a lhassem e discutissem as suas preocupa- -se a ajudar-se mutuamente e a praticar
equipa e 3) ele próprio, Carsten Mohr uma cultura de confiança. Tinham-se
levou isso muito a sério. tornado uma equipa de embaixadores
«Escolhi um percurso de 35 quilóme- de uma nova forma de moldar o futuro
tros e, na expectativa de obter respostas, OS FUNCIONÁRIOS DA da oficina de pintura.
andei e andei. Quando cheguei ao meu
OFICINA DE PINTURA CURIOSIDADE
destino, não tinha respostas. Aqui,
aprendi que as respostas precisam de DA AUDI PROVARAM SER o que é possível?
tempo para amadurecer. Foi a primeira DIGNOS DA CONFIANÇA Carsten Mohr percebeu que a melhor
vez que vi o poder das perguntas, porque DE CARSTEN MOHR: «AS forma de os seus funcionários se prepa-
perguntas como “O que é o sucesso para 593 PERGUNTAS E AS 474 rarem para a mudança era participar em
mim?” e “Porque deve a minha equipa RESPOSTAS ESTAVAM conversas com os colegas sobre o futuro.
confiar em mim?” não são fáceis e não Não podia submeter os dois mil funcio-
CONFORME O TEMA»
têm respostas fáceis. Mas reflectir so- nários ao mesmo processo que ele e a
bre elas ajudou-me a clarificar a minha sua equipa de liderança. Mas, mediante
posição e o que quero, e isso tornou-se
a base para o processo seguinte», refere
Carsten Mohr.
Descobrir que podia tomar decisões
importantes e seguir em frente mesmo
sem ter todas as respostas deu a Carsten
Mohr confiança e coragem para convidar
a sua equipa de liderança a não ter certe-
zas e a explorar o desconhecido com ele.

CEPTICISMO
temos a certeza que queremos isto?
Para permitir que a sua força de trabalho
se adaptasse à mudança, Carsten Mohr
também precisava que a sua equipa de
liderança adoptasse uma abordagem
ainda mais aberta à transformação.
Mais uma vez, não havia respostas fáceis.
Stine Thomssen afirma: «Somos uma
equipa de nove líderes responsáveis por
dezenas de gestores de grupo e mais de
dois mil funcionários. Com os obstácu-
los que a indústria automóvel enfrenta,
todos sabíamos que era necessária uma
transformação, mas precisávamos de

118 JA N E I R O 20 2 4
ENVOLVER
PARA FAZER UMA MUDANÇA SUSTENTÁVEL E PROFUNDA
E PARA CRIAR UM AMBIENTE ONDE ALGO POSSA
CRESCER E TER UMA VIDA LONGA, É PRECISO FALAR
SOBRE OS TÓPICOS RELEVANTES PARA AS PESSOAS

uma ferramenta digital de alinhamento O MOVIMENTO DE PERGUNTAS


da estratégia, convidou todos a fazerem
perguntas uns aos outros sobre a “Unsere Aprendizes
Lackiererei auf dem Weg in die Zukunft”
(“A nossa oficina de pintura a caminho Líderes de Equipa Responsáveis
do futuro”).
A plataforma digital foi concebida para Especialistas
os funcionários expressarem e explora- em Produção
rem a sua curiosidade, sonhos e receios Planeadores (trabalham nas linhas/turnos)

em múltiplas interacções entre pares e


entre equipas. Os funcionários decidem
a quem perguntar e sobre o que pergun-
tar dentro do tópico comum. Quando
recebem e respondem a uma pergunta,
é-lhes automaticamente solicitado que
façam uma nova pergunta, como numa Técnicos
Líderes
corrida de estafetas. A sessão de per- de Grupo de Aplicação
guntas tem a duração de cinco dias e,
quando termina, o resultado colectivo é
Controlo Equipa de Liderança
automaticamente partilhado com todos de qualidade
os líderes e funcionários participantes, interno Alinhamento geral
proporcionando uma base comum para
Ambiente de emprego e trabalho
o processo em curso.
Para motivar as pessoas a participar
na estafeta de perguntas e respostas, Contudo, os resultados revelaram-se os colegas. «Decidimos trabalhar para
Carsten Mohr enviou um pequeno vídeo surpreendentes para a equipa de lide- melhorar a comunicação e os processos
a toda a força de trabalho, partilhando rança. «Antes de iniciarmos o projecto, da equipa interna de controlo de qualida-
as suas ambições, pensamentos e ar- escolhemos seis palavras-chave sobre as de da oficina de pintura», afirma Stine
gumentos para conduzir a oficina de quais pensámos que os nossos funcio- Thomssen. «Isto irá reforçar o nosso
pintura a uma nova forma de pensar e nários iriam falar. As nossas palavras controlo de qualidade, o que é muito
trabalhar. E graças às suas discussões foram organização, tarefas, equipa, de- importante para um sistema sensível
aprofundadas, a equipa de liderança senvolvimento, responsabilidade e va- como uma oficina de pintura.»
conseguiu explicar e comunicar melhor lorização. E não tivemos uma única res- Outra conclusão importante foi que os
o cerne da transformação, a razão pela posta», diz Stine Thomssen. especialistas de produção (funcionários
qual a empresa precisava de passar por As principais preocupações reais da que trabalham por turnos) faziam per-
ela e a importância da participação do força de trabalho eram a criação de va- guntas mais orientadas para a estratégia
maior número possível de funcionários. lor, o alinhamento geral, o ambiente de do que os líderes esperavam – o que levou
trabalho, a cultura e a colaboração. E ao a que os funcionários dirigissem as suas
DÚVIDA olhar para as visualizações de quem fazia perguntas à equipa de liderança (a linha
a quem deve ser confiado o quê? perguntas a quem, a equipa de liderança vermelha grossa no gráfico acima) em
Os funcionários da oficina de pintura da aprendeu muito sobre a sua organização. vez de aos seus líderes de equipa e de gru-
Audi provaram ser dignos da confiança Descobriram, por exemplo, que os po (linhas vermelhas e amarelas finas).
de Carsten Mohr: «Todas as 593 pergun- membros da equipa de controlo de qua- «Decidimos envolver mais membros da
tas e 474 respostas estavam conforme o lidade interna da oficina de pintura não equipa nas conversas estratégicas, para
tema», declara. tinham uma comunicação sólida com assumirem mais responsabilidades na

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 119
GESTÃO
COMO ESTAR PREPARADO PARA TUDO

«O NOSSO PESSOAL
É TÃO EXPERIENTE,
COM TANTO
CONHECIMENTO»,
EXPLICA CARSTEN
MOHR. «NÃO PRECISAM
DE UM DIRECTOR DE
OFICINA DE PINTURA
QUE LHES DIGA O QUE
FAZER E COMO FAZER.»

os nossos postos de trabalho. E para


garantir que dispomos de todas as in-
formações, experiência e conhecimentos
relevantes para o fazer, precisamos que
todos participem na discussão», declara.
A equipa de liderança decidiu criar a
transformação em torno das percepções
e ideias recolhidas junto dos seus fun-
resposta às perguntas importantes para lização. Estas perguntas revelaram cionários. «Estamos sempre a falar de
as pessoas», observa Carsten Mohr. considerações profundas sobre o futuro mudança e relevância», constata Stine
Embora a maioria das perguntas tenha e exemplificaram a forma de pensar Thomssen. «Penso que aprendi com esta
sido discutida e respondida pela equipa e de assumir a responsabilidade por viagem que, enquanto gestor, é possível
de liderança ou pelos funcionários, houve melhorias e inovação de que a oficina entrar no sistema e retirar uma ideia
uma série de perguntas – 13% do total de pintura necessita para se sair bem e fazer com que as pessoas sigam esse
– que exigiam mais discussão, sendo num mercado em constante mudança. caminho. Mas para fazer uma mudança
identificadas como perguntas que ainda «O nosso pessoal é tão experiente, com sustentável e profunda e para criar um
não seriam respondidas. Estas perguntas tanto conhecimento», explica Carsten ambiente onde algo possa crescer e ter
lançaram as bases para uma nova forma Mohr. «Não precisam de um director uma vida longa, é preciso falar sobre
de lidar com questões preocupantes na de oficina de pintura que lhes diga o os tópicos relevantes para as pessoas.»
oficina de pintura. que fazer e como fazer.» Para Carsten Mohr, as respostas para
Em vez disso, Carsten Mohr criou a forma de preparar a sua organização
CRIATIVIDADE uma “equipa do futuro” composta por para tudo acabaram por ser tempo,
como cocriar o nosso futuro? representantes de toda a empresa para transparência e confiança. «Nós, na
Entre as perguntas que as pessoas analisar estas perguntas que exigiam equipa de liderança, acreditamos muito
faziam e que Carsten Mohr não con- mais tempo para serem consideradas, no poder das perguntas», diz. «Espero
siderava deverem ser respondidas de e deu-lhes 12 meses para apresentarem que as nossas aprendizagens também
imediato, encontravam-se as relativas respostas. «Enquanto equipa de lideran- ajudem outras divisões e empresas no
à segurança do emprego e à digita- ça, a nossa função é garantir e salvar seu caminho para a transformação.»

120 JA N E I R O 20 2 4
A fórmula para 2024

POR :
Pedro Empis
Executive business director outsourcing,
Randstad Portugal

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 121
A FÓRMULA PARA 2024

O ano que agora co- de todo o talento, a ética na


meça vem, como ha- utilização das próximas eta-
bitualmente, com inú- A PREVISIBILIDADE ESTÁ A TORNAR-SE pas da inteligência artificial,
meras incertezas, e à medida NUM BEM CADA VEZ MAIS ESCASSO entre tantos outros que obri-
que o desenvolvimento da in- E DIFÍCIL DE CALCULAR garão a discernimento e to-
teligência artificial se vai des- madas de decisão convictas.
cortinando, que o poder da A combinação do ritmo ver-
computação quântica começa tiginoso em que vivemos com
a ficar cada vez mais claro, em problemas crescentemente
que poucas coisas parecem é a panóplia de temas que as um ano em que as empresas complexos e uma já crónica
impossíveis, a fórmula do preenchem e a sua crescente tudo farão para atrair e reter escassez de talento será cer-
futuro parece agora ter pou- complexidade. Quando escre- os melhores, num ambien- tamente o que ocupará deci-
cas constantes para um nú- vo estas linhas, já consumi- te por vezes contraditório, sores políticos e empresariais
mero crescente de variáveis. A mos a primeira de 24 quin- onde a incerteza económica ao longo do ano. Os líderes são
previsibilidade está a tornar- zenas disponíveis em 2024. e política poderá moldar al- os que mais depressa fixam
-se num bem cada vez mais Dando como bom que no mês gumas decisões. variáveis, numa fórmula que
escasso e difícil de calcular. O de Agosto tudo se passa de A crescente procura por vai precisando de teoremas
futuro é assim dos que mais forma distinta, que na segun- produtos e serviços mais con- cada vez mais criativos para
rapidamente decifrarem o có- da quinzena de Dezembro já venientes, inovadores e a um apresentar um resultado que
digo que desvenda, ainda que poucas decisões são tomadas preço acessível, que todos se assemelhe com o futuro,
faseadamente, as incógnitas e que as pontes têm o seu queremos enquanto consu- mas obtido no presente.
que teimam em camuflar-se. impacto, restam-nos mais 18 midores, faz com que estes Como escreveu Vergílio Fer-
Por outro lado, o ritmo ac- quinzenas produtivas como factores, de difícil conjuga- reira, «O tempo que passa não
tual parece mais frenético do a que agora terminou. ção, sejam absolutamente passa depressa, o que pas-
que nunca, os dias sucedem- Como último ingrediente cruciais. Este é um desafio sa depressa é o tempo que
-se a uma velocidade vertigi- para este novo ano, a nos- que evidenciará temas como passou». Aproveitemos, por
nosa, com semanas que pa- sa já bem conhecida escas- a imigração, a emigração, a isso, as 18 quinzenas que ain-
recem nem ter começado sez de talento, que promete educação, a diversidade e a da temos de 2024 para mol-
quando já estão a acabar, tal acompanhar-nos em mais inclusão na força de trabalho darmos o futuro.

122 JA N E I R O 20 2 4
IA ameaça empregos?
A MAIORIA DOS PROFISSIONAIS DIZ QUE A TECNOLOGIA
ACELERA O CRESCIMENTO NA CARREIRA

Os desenvolvimentos tar e acelerar a sua força de Randstad no nosso mais recente por parte da Randstad, dessas
rápidos no mundo da trabalho de formas novas e Workmonitor Pulse Survey. A ofertas indica um aumen-
inteligência artificial inovadoras. No entanto, isto maioria (52%) acredita que a to de 2000% desde Março.
têm levado as pessoas em todo também levanta uma questão IA irá impulsionar o seu cres- Além disso, quase metade
o lado a questionar como esta antiga que está na mente de cimento profissional, em vez de (47%) está entusiasmada com
tecnologia irá impactar o seu todos: as pessoas sentem que os fazer perder o seu emprego. a perspectiva da IA no local
trabalho e vida pessoal. Já hoje estão condenadas a serem Isso é evidenciado por um au- de trabalho, o que é conside-
em dia, as empresas estão a substituídas pela tecnologia? mento nas ofertas de emprego ravelmente superior aos 39%
implementar a IA em toda A resposta é não, de acordo com que procuram competências que estão preocupados com o
a organização para capaci- a maioria dos inquiridos pela em IA. O acompanhamento, seu impacto no seu emprego.

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 123
IA AMEAÇA EMPREGOS?

ACTUALMENTE 33%
USAM INTELIGÊNCIA
ARTIFICIAL NO SEU
EMPREGO, MAS
COMO SE SENTEM OS
PROFISSIONAIS EM
RELAÇÃO A ISSO?

53
%

pensam que a ia irá impactar


a sua indústria e função QUAIS SÃO AS CINCO funções em crescimento. e mindfulness em segundo
PRINCIPAIS ÁREAS DE E outro estudo realizado lugar (23%).
DESENVOLVIMENTO pela Upwork descobriu que Assim como as revoluções
DESEJADAS PELOS

55
a maioria dos líderes execu- industriais que ocorreram
PROFISSIONAIS? tivos planeia contratar mais antes, espera-se que a inova-
profissionais como resultado ção tecnológica de hoje seja
1. Gestão e skills de liderança da adopção da IA. criadora líquida de empregos,
% 2. Bem-estar e mindfulness
3. Inteligência artificial
A nossa pesquisa mostrou
que um terço já utiliza a IA
em vez de destruidora. No
entanto, as empresas devem
4. Coaching e mentoria no trabalho, levando a maio- tomar medidas para preparar
5. TI e literacia tecnológica ria (53%) a acreditar que a a sua força de trabalho para as
querem mais formação em É compreensível que as pes- IA eventualmente afectará futuras mudanças na forma
ia para proteger o futuro soas vejam a IA como uma a sua indústria e emprego. como o trabalho é realizado.
da sua carreira e melhorar potencial ameaça à segurança Felizmente, 59% disseram Os profissionais inquiridos
o seu potencial de ganhos no emprego. De acordo com que têm as competências pela Randstad concordam
o Relatório sobre o Futuro certas para tirar partido das em grande parte, com 55% a
dos Empregos de 2023 do tecnologias mais recentes, afirmar que precisam de opor-

13
Fórum Económico Mundial, enquanto apenas 17% afirmam tunidades de aprendizagem
a maioria das empresas in- que não têm. E de todas as para proteger as suas carreiras
quiridas afirmou que planeia oportunidades de aprendiza- no futuro. Este sentimento era
acelerar a automatização gem e desenvolvimento que os especialmente forte entre os
% de processos como parte
da sua estratégia de força
inquiridos gostariam de ter
disponíveis nos próximos 12
millennials mais velhos (35-
44 anos), dos quais 60% se
de trabalho. No entanto, meses, a IA ocupou o terceiro sentiam desta forma. Não é
planeiam também deslocar lugar (22%), ficando atrás da surpreendente que os ben X
receberam formação em ia muitos dos seus profissionais gestão e liderança no primeiro mais velhos e os baby boomers
no último ano de funções em declínio para lugar (24%) e do bem-estar (55-67 anos) sejam os menos

124 JA N E I R O 20 2 4
VARIAÇÕES
UMA VASTA MAIORIA DE PROFISSIONAIS (74%)
NA ÍNDIA DISSE ESTAR ENTUSIASMADA COM A
PERSPECTIVA DA IA NO LOCAL DE TRABALHO, MAIS
DO QUE O DOBRO DA TAXA NA ALEMANHA (36%)

propensos a sentir-se desta 23%

forma, com 47%. Este grupo


é consistentemente conside-
17%
rado o menos entusiasta em
relação à aprendizagem e ao
desenvolvimento ao longo de 12%
anos de pesquisa.
8%
GERAÇÕES NO TRABALHO
quem está mais entusiasma-
do com a perspectiva de ia
no local de trabalho?

50%
aprendizagem ENCONTRÁMOS VARIAÇÕES
geração z e desenvolvimento
SIG­NIFICATIVAS NAS ATITUDES
53% 16% 16% 16% E PERSPECTIVAS ENTRE AS
DIFERENTES REGIÕES DO MUNDO
millenials 12%

42%
tecnologia como um facilita- maioria (74%) na Índia disse
geração x dor da interacção humana. estar entusiasmada com a
Quase metade (45%) afirma perspectiva da IA no local
35% que o uso da IA permitirá de trabalho, mais do que o
que as pessoas passem mais dobro da taxa na Alemanha
baby boomers tempo umas com as outras (36%). Ao mesmo tempo, os
o que as diferentes gerações cultura da empresa no local de trabalho e fora profissionais na Índia mani-
valorizam no trabalho? dele, em comparação com festaram a maior preocupação
11% 27% que discordam. Uma com o impacto da IA nos seus
24% maioria (53%) da geração Z e empregos, com 52% a afirmar
8%
22% dos millennials (25-34) tinha estar preocupado. Pelo contrá-
21% 6%
4% tais crenças, mais do que o rio, os profissionais alemães
18% dobro da parcela (23%) que foram os menos preocupados,
pensava o contrário. Apenas com 33%. Esses sentimentos
um terço do segmento mais contrastantes podem dever-se
velho da população (55-67) à elevada taxa de utilização
benefícios da empresa acreditava que a IA ajudaria da IA no trabalho no estado
na interacção pessoal. mais populoso do mundo; 56%
Com tanto foco na IA e uma afirmam estar actualmente
visão geralmente positiva do DIFERENÇAS REGIONAIS a utilizar esta tecnologia no
seu impacto nas carreiras Encontrámos variações signi- seu trabalho – muito mais
e no desenvolvimento das ficativas nas atitudes e pers- do que aqueles inquiridos na
pessoas, descobrimos que a pectivas entre as diferentes Austrália, Alemanha, Reino
trabalho flexível maioria dos inquiridos vê esta regiões do mundo. Uma vasta Unido e EUA.

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 125
IA AMEAÇA EMPREGOS?

IA NO TRABALHO, A NÍVEL GLOBAL 74% um desejo considerável pela


área do coaching de bem-
utiliza ia no emprego
-estar e mindfulness, liderado
pela Austrália (27%) e pelos
está entusiasmado com a perspectiva da ia no local de trabalho 56% EUA (25%).

DISPARIDADES NAS
42% 43% OPORTUNIDADES DE L&D
37% 36% Uma descoberta particular-
32% mente preocupante é que as
29%
24% 24% oportunidades de aprendi-
zagem e desenvolvimento
relacionadas com a IA foram
oferecidas, até à data, princi-
palmente a profissionais de
colarinho branco. A nossa pes-
quisa descobriu que 13% de
todos os inquiridos disseram
estados unidos reino unido alemanha índia austrália que lhes foram oferecidas
da américa
oportunidades de desenvolvi-
mento nos últimos 12 meses,
mas entre os profissionais de
colarinho azul, apenas 6%
AQUELES QUE NÃO TÊM FORMAÇÃO ADEQUADA afirmaram ter tido acesso a
ESTÃO EM MAIOR RISCO DE SEREM tais recursos. Na verdade, a
DISPENSADOS DOS SEUS EMPREGOS 41% dos talentos de colarinho
azul não foram oferecidas
quaisquer formas de formação,
em comparação com apenas
Houve um notável interesse 20% dos profissionais de
entre os profissionais que colarinho branco.
desejavam oportunidades À medida que as tarefas
de aprendizagem e desenvol- são automatizadas no futuro,
vimento direccionadas a IA aqueles que não têm formação
nos próximos 12 meses, sendo adequada estão em maior risco
que a Índia apresentou a taxa de serem dispensados dos seus
mais alta, com 30%. Além empregos. Mesmo que a IA seja
do desenvolvimento técnico, considerada uma área de alta
mais de um quarto (28%) dos competência, a realidade é que
profissionais na Austrália e todos os profissionais podem
nos EUA queriam adquirir precisar de adquirir algumas
mais competências de gestão competências relacionadas
e liderança – a taxa mais alta com a IA nas suas funções
entre todos os países que para prosperar no mercado
inquirimos. Houve também de trabalho. Por exemplo,

126 JA N E I R O 20 2 4
TRABALHO
AS OFERTAS DE EMPREGO
REFERENTES A COMPETÊNCIAS
EM IA GENERATIVA AUMENTARAM
2000% DESDE MARÇO DE 2023

os mecânicos de automóveis As ofertas de emprego refe- De acordo com o Fórum


tiveram de aprender compe- rentes a competências em Económico Mundial, o mer-
tências digitais à medida que IA generativa aumentaram cado de trabalho global irá
a tecnologia é cada vez mais 2000% desde Março de 2023, experienciar uma rotatividade
incorporada nos sistemas mas a IA sofre da maior lacu- de 23%. Aqueles em empregos
operacionais dos veículos. na em formação: é o terceiro com elevado risco de auto-
conjunto de competências mação, enfrentam um futuro
PROCURA E OFERTA mais procurado, mas um dos incerto. No entanto, com a
DE FORMAÇÃO menos providenciados. formação e desenvolvimento
oportunidades de adequados, facilitados por uma
aprendizagem e A LACUNA NA FORMAÇÃO mobilidade interna eficiente,
desenvolvimento a quem não foram ofereci- esses profissionais podem ser
oferecidas nos últimos das quaisquer oportuni- capazes de encontrar rapida-
12 meses vs. desejadas dades de desenvolvimento mente outro emprego alinhado
no último ano? com as suas competências
recém-adquiridas. Os nossos
13% dados mostram que a força

41
22% de trabalho global espera que
os empregadores os ajudem
inteligência artificial a manterem-se relevantes

13%
% numa economia altamente
dinâmica, com mais de um
terço (37%) disposto a deixar o
18% seu emprego nos próximos 12
colarinho azul meses se as suas expectativas
pensamento criativo e analítico em relação à aprendizagem e
desenvolvimento não forem
9% satisfeitas. Os profissionais

13%
data science e analytics
25
%
da geração Z são especial-
mente firmes na obtenção do
desenvolvimento certo, uma
vez que 47% afirmaram que
deixariam a sua empresa.
9%
colarinho cinzento
13%
sustentabilidade

21%
24%
20
%
gestão e skills de liderança

formação oferecida formação desejada colarinho branco

E X E C U T I V E D I G E S T. P T 127
IA AMEAÇA EMPREGOS?

GERAÇÕES NO TRABALHO desempenhar novas tarefas


o que os millennials pen- de forma eficiente utilizando
sam sobre ia? ferramentas de IA. A imple-
mentação bem-sucedida de
novas tecnologias só é pos-
sível quando as pessoas que

60
as utilizam estão devidamen-
te formadas.
• Feedback da força de tra-
% balho. Dar voz às pessoas so-
bre como utilizam a IA para
realizar o trabalho é essencial
para uma adopção generaliza-
APOIAR AS PESSOAS A curva de aprendizagem, as da. A realização de inquéritos
acreditam que o
DURANTE A TRANSIÇÃO preocupações com a perda de regulares, juntamente com a
upskilling em ia será
essencial na sua função Os nossos dados mostram emprego e a pressão para ser recolha de feedback de grupos
nos próximos cinco anos que a proliferação de fer- mais produtivo ao usar a IA de discussão, pode ajudar a
ramentas potenciadas por podem parecer especialmen- identificar problemas e desa-
IA irá mudar o futuro do te assustadoras para os não fios, bem como oportunida-
trabalho de forma profunda iniciados. Os empregadores de- des para melhor implementar

53
e irreversível. O facto de as vem comunicar minuciosa- e utilizar a IA. Além disso,
pessoas estarem mais entu- mente os benefícios da auto- quando os colaboradores sen-
siasmadas do que receosas mação – realizar o trabalho de tem que podem influenciar

% em relação a esta tecnologia


é um indicador positivo da
forma mais eficiente, concluir
tarefas mais rapidamente e al-
a forma como a tecnologia é
implementada no local de tra-
prontidão da sociedade para cançar uma maior qualidade balho, a adesão ocorre mais
abraçar a automação e todos no trabalho – para envolver a facilmente, e a resistência à
os benefícios que dela advêm. força de trabalho. Além disso, mudança torna-se menos um
dos profissionais No entanto, esta transição é importante ser claro sobre obstáculo a superar.
estão mais entusiasmados requer um apoio significativo as expectativas e estabelecer Com a rápida adopção da
do que receosos por parte dos empregadores metas e prazos realistas. IA em muitas organizações,
em usar a ia para garantir que aqueles • Aprendizagem e desenvol- os empregadores devem ser
que são afectados estejam vimento. Muitos dos recursos proactivos na adaptação dos
preparados para desempe- necessários são aqueles que seus profissionais às mudan-
nhar diferentes tipos de tra- apoiam a capacitação dos cola- ças que se avizinham. Isso sig-

50
%
balho ou sejam assistidos na
transição de carreira. Para
fazer isso eficazmente, estas
considerações críticas devem
boradores. A IA é óptima para
eliminar tarefas repetitivas e
de baixo valor, o que significa
que as pessoas podem agora
nifica desenvolver uma estra-
tégia para apoiar as suas ne-
cessidades de aprendizagem,
desenvolvimento e adopção.
ser abordadas: concentrar-se em tarefas de Com os profissionais a espe-
• Gestão da mudança. A maior valor, como a constru- rar que a IA beneficie as suas
adopção eficaz de qualquer ção de relacionamentos, a carreiras, as organizações en-
acreditam que a ia tecnologia depende do nível de resolução de problemas e a contram-se numa posição úni-
permitirá mais tempo conforto das pessoas ao traba- geração de ideias. No entanto, ca para concretizar as ambi-
para interacção humana lhar com novas ferramentas. é necessário aprender como ções das suas pessoas.

128 JA N E I R O 20 2 4
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PÉ DE ORELHA
POR :
Pedro Lopes
CEO DA INFINITEBOOK

A REVOLUÇÃO SILENCIOSA
DAS STARTUPS COM A IA
A ascensão da inteligência te. A capacidade de gerar rapidamente conteúdo para websites
e apps de e-commerce – como se tem visto, por exemplo, na
artificial (IA) tem desencadeado integração da IA no Shopify –, é um excelente exemplo de como
uma verdadeira revolução no a IA economiza tempo crucial na fase inicial de uma startup.
Um outro benefício significativo reside na análise de dados
mundo dos negócios, e o ecossistema para tomada de decisões. A IA capacita as startups a interpretar
de startups português não é exceção um vasto conjunto de dados, prevendo padrões de consumo,

A
personalizando comunicações e identificando áreas de melhoria
em produtos e serviços. Todos os setores que lidam com grandes
utilização da IA transcende o mero volumes de dados e procuram automatizar processos podem,
desenvolvimento de novas empresas, desta forma, colher benefícios significativos com a utilização
transformando profundamente a for- destas ferramentas, aumentando a capacidade de processar
ma como as startups operam diaria- dados em escala e automatizar tarefas rotineiras.
mente. A recente democratização da O estudo que indiquei anteriormente, apontou ainda outros
IA, exemplificada pelo ChatGPT e pelo dados importantes para Portugal. A aplicação da Inteligência
Microsoft Copilot, tornou acessíveis Artificial Generativa tem o potencial de impulsionar a economia
a qualquer pessoa ferramentas antes portuguesa em 15 mil milhões de euros (aproximadamente 8% do
restritas a uma elite técnica. Valor Acrescentado Bruto (VAB) ou 6% do Produto Interno Bruto
São já inúmeras as startups portu- (PIB) e estima-se também que esta tecnologia possa economizar,
guesas que exemplificam o sucesso em média, mais de 80 horas por ano para cada trabalhador.
da incorporação da IA nas suas estratégias de crescimento. Em- Contudo, o acesso e integração de tecnologias de IA exigem
presas como Feedzai, Defined.ai e Unbabel demonstram como a uma mudança fundamental na abordagem de trabalho das
IA pode impulsionar a inovação, otimizar processos e oferecer startups e empresas. Apesar de os agregadores de plataformas

Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico.


soluções diferenciadas no mercado competitivo das startups de IA serem mais comuns, o desafio destas empresas reside em
em Portugal. Um estudo muito recente, pedido pela Google à selecionar as ferramentas certas para aumentar a produtividade
consultora Public First, trouxe a público conclusões interessantes e eficiência. É essencial evitar seguir tendências cegamente. Este
a este respeito, tanto a nível internacional como nacional. De tipo de ferramentas ainda não são perfeitas e podem conter erros,
acordo com a análise – e tendo em conta a amostra –, 86% dos exigindo uma revisão cuidadosa antes de, por exemplo, poderem
trabalhadores em Portugal acreditam que as aplicações ou soft- ser apresentados resultados aos clientes. A dependência excessiva
wares de IA generativa vão torná-los mais produtivos, um valor da IA também traz um outro desafio: a necessidade de manter
que sobe para 91% se a amostra incluir apenas colaboradores um pensamento crítico e evitar acomodação.
que desempenhem as suas funções em ambiente de escritório. Acima de tudo, a IA introduziu uma nova dinâmica na compe-
No contexto das startups, a IA – especialmente em ferramentas tição entre startups. Assim como as empresas que negligenciaram
como o ChatGPT – desempenha um papel crucial como faci- o e-commerce em 2020 sofreram, aquelas que não abraçam a IA
litador. Funciona como um assistente pessoal, impulsionando podem enfrentar desafios significativos. A inovação constante e
o pensamento criativo e a produtividade. Num cenário onde a a adoção estratégica da IA tornam-se imperativas para manter
agilidade é crucial, a IA atua como um segundo cérebro na ponta a competitividade. O futuro da IA nas startups é a inevitável
dos dedos, orientando e gerando ideias de forma rápida e eficien- integração da tecnologia em todas as facetas dos negócios.

130 JA N E I R O 20 2 4

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