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Semana do
Empreendedorismo
Evento reúne histórias sobre a EQUIPE
arte de enxergar oportunidades Coordenador do FGVcenn
Prof. José Augusto Corrêa
Pg. 10
Coordenadores Adjuntos
Prof. Marcelo Aidar
Prof. Tales Andreassi
FGV Latin
Gerente
Moot Corp Laura Cristina Prates Pansarella
Alunos da EAESP Coordenador de Projetos Sênior
vencem competição Renê José Rodrigues Fernandes
Pg. 22 Coordenadores de Projetos
Batista Gigliotti
Edward Yang
Fabio Fernandes
Aliança Sumaq Fabíola Odani
Escolas avaliam negócios socialmente empreendedores Pg. 28 Igor Tasic
Jeanete Herzberg
José Carlos Cruz
Laura Cristina Prates Pansarella
Da sala de aula Leornardo Leite
Mariana Chammas
para a Califórnia Rogério Tsukamoto
Aluno do FGVcenn faz sucesso Responsável Contábil
vendendo água de coco nos EUA Bruno Ueno
A
Fundação Getulio Vargas é uma tradicional geradora de bens públicos e
visa o permanente estímulo ao desenvolvimento nacional. Por isso, um
dos nossos objetivos é a criação de uma cultura empreendedora na nos-
sa casa, a Escola de Administração de Empresas de São Paulo (EAESP),
e em toda a FGV, tornando-a centro de irradiação desse novo conceito.
Estudar, ensinar e difundir idéias sobre Empreendedorismo é educar pes-
soas para um futuro que será diferente do que já vivemos. As escolas brasileiras,
em geral, têm objetivado a empregabilidade dos alunos. Temos preparado pessoas
para conseguirem bons empregos. Isso ainda é importante, mas não basta.
Daí nosso esforço para que a EAESP passe a aumentar a empresariabilidade
dos nossos alunos, sua capacidade de criar empresas. Já enxergamos resultados,
pois desde 2007 a EAESP introduziu as disciplinas “Experiência Empreendedora
I e II” nos dois primeiros semestres do curso de graduação em Administração.
A EAESP é uma escola onde a geração e a difusão do conhecimento são feitas
com objetivos claros de aplicabilidade. Quando se trata de Empreendedorismo,
experiências de outros países ajudam, mas não são suficientes. Por essa razão, o
Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios (FGVcenn) trata também de de-
senvolver e difundir conhecimento aplicável à realidade de nosso País.
Esta publicação mostra o que fizemos no período entre março de 2007 e
abril de 2008. A visibilidade é fundamental para que cada vez mais pessoas físicas
e jurídicas juntem-se a nós. Essa participação crescente é um dos mais importan-
tes objetivos do FGVcenn. Ela espelha o interesse da
comunidade e permite até mensurar a mudança de
Marcia minillo/FGVceNn
2007/2008
Apoiadores
Nossos doadores
de tempo
O FGVcenn agradece aos palestrantes, debatedores, moderadores e juízes
de competições de planos de negócios que gratuitamente compartilharam
sua experiência com a comunidade acadêmica e o público em geral
CASOS
Mais que um evento em que em- dedorismo, valoriza a capacidade Na edição 2008, realizada entre
presários contam suas experiências de enxergar oportunidades, caso 31 de março e 4 de abril, também
no mundo dos negócios, a Semana de Caito Maia, da Chilli Beans, foram destaques o apoio do Banco
do Empreendedorismo busca des- e de Alexandre Botton, da Pro- Real aos negócios sustentáveis, a
pertar a visão empreendedora, ins- pay. E também do Sebrae, que filosofia de inovação da Whirl-
pirar o surgimento de novas empre- incluiu o empreendedorismo no pool, o suporte da Artemisia a
sas e contribuir para o crescimento currículo escolar, e da Funda- empresas de impacto social e a
de quem está no mercado. ção Amazônia Sustentável, que estréia da experiente executiva
Realizada há quatro anos pelo mostra como ganhar dinheiro Amalia Sina como empresária no
FGVcenn, a Semana do Empreen- salvando a floresta. setor de cosméticos.
fotos: marcia minillo/FGVceNn
Marca para
Divulgação/Chilli Beans
todas as modas
Segredo do sucesso é combinar
design fashion e pequenas tiragens
de novos modelos a cada dez dias
Caito Maia foi músico por 14 anos, sual e pelos preços convidativos. tive de optar por um quiosque por-
fez parte de uma banda de rock e O sucesso do empreendimento que não tinha dinheiro para bancar
chegou a ser um dos dois finalistas foi baseado no conceito inédito de a loja. Foram muitas dificuldades.”
de um concurso promovido por um que o produto foi feito para durar Hoje, a marca chega a ter quiosque
canal de televisão especializado em só um tempo. “Percebi isso quando e loja dentro do mesmo shopping e
música. Por sorte, perdeu o prêmio morei nos Estados Unidos. Quem ia está presente em templos de con-
para o grupo J.Quest, deixou a músi- à praia queria óculos só para aquele sumo como os shoppings Iguatemi,
ca de lado e se tornou o empresário momento”, destaca o empresário Ibirapuera e Eldorado
que transformou, em oito anos, a que teve problemas sérios de qua-
Chilli Beans, uma desconhecida lidade no início dos negócios. Inovações
marca de óculos e relógios, em si- “Por isso fui atrás do Inmetro para Inovações como colocar, no lu-
nônimo de produtos de qualidade conseguir a certificação de qualida- gar de espelhos, um sistema de
e com preços acessíveis. “Marca de, e agregar valor à minha marca. câmeras e monitores que filma o
sempre foi minha preocupação. Hoje, meus óculos têm garantia de rosto do cliente e mostra em qua-
Queria ter meu próprio produto, oferecer proteção contra raios sola- tro ângulos como ele fica de ócu-
não oferecer várias marcas e con- res. Existem produtos desenhados los, também ajudaram o negócio a
correr com o mercado de óticas e por brasileiros e produzidos em Dia- prosperar. O empresário também
camelôs”, contou o empresário. dema e na China com mais qualidade se preocupa com os franqueados.
A história da empresa, que con- que muitos feitos na Europa”, diz. “Tenho de oferecer um negócio
ta hoje com 205 pontos de venda O sistema self-service das lojas da lucrativo para eles, com retorno
apenas no Brasil, além de franquias Chilli Beans e a estratégia de lançar, rápido. Cansei de tirar dinheiro
em países como Portugal e Estados em pequenas tiragens, 10 novos mo- do meu bolso para colocar no do
Unidos, começou num pequeno delos de óculos a cada 10 dias, além franqueado e fazer o negócio pros-
estande do Mercado Mundo Mix, de 15 novos tipos de relógios por perar”, explica Caito Maia. Agora,
uma feira de moda voltada para mês, conquistou público de todas as a Chilli Beans está olhando para
o público jovem de São Paulo. Os idades e garantiu a expansão. “Mi- Dubai, no Oriente Médio. “Por-
óculos, com design fashion, ficavam nha primeira loja foi inaugurada em que é lá que estão os formadores
expostos numa tábua apoiada em 1997 na Galeria Ouro Fino, na rua de opinião da moda e é lá que as
dois cavaletes e atraíam a atenção Augusta. Quando me convidaram grandes marcas estão lançando
de um público alternativo pelo vi- para ir para o Shopping Villa Lobos seus produtos”, conclui.
Crianças aprendem
ABC dos negócios
Projeto do Sebrae Divulgação/Sebrae SP
estimula visão
empreendedora dos
alunos do ensino
fundamental e médio
Oficina de criatividade
da Artemisia
Capacitar para
fazer a diferença
Jovens empreendedores recebem formação para tornar
viáveis negócios que geram impactos sociais positivos
Empreendedores de soluções de outras pessoas”, resume Marcelo cos em suas comunidades. Essa ca-
para problemas sociais e ambien- Cavalcanti, presidente da Artemi- pacitação acontece na prática: além
tais são o alvo da Artemisia Brasil, sia, que lista entre os desafios do de aulas sobre gastronomia, lideran-
organização que desde 2004 capa- empreendedorismo sustentável a ça, gestão e empreendedorismo, os
cita jovens para o desenvolvimento ausência de infra-estrutura jurídica aprendizes trabalham nos eventos
de novos negócios. A cada ano, a e a busca de novos modelos de atu- sociais e corporativos atendidos pelo
Artemisia promove a seleção de ação. “É preciso também oferecer bufê da Gastromotiva.
cinco empreendedores de 18 a 35 inovação e potencial de escala, com
anos, que vão receber formação para a capacidade de replicar esses no- Momentos importantes
estabelecer um negócio sustentável, vos modelos para outros mercados, “Quando eu trabalhava como
capaz de gerar receita e impacto influenciar organizações e se tornar consultor, um problema que me
social positivo. uma política pública.” incomodava muito era a falta de
O perfil desses jovens deve com- Durante a 4ª Semana de Empreen- capacitação das pessoas”, lembra
binar espírito empreendedor (visão dedorismo, a Artemisia apresentou Hertz. Além de transformar a vida
de futuro e de oportunidades para cinco cases de negócios, seleciona- dos jovens, essa formação permi-
transformar a visão em resultados dos e apoiados pelo Programa Jovens te oferecer serviço de qualidade
concretos), liderança para mobi- Empreendedores. Um desses exem- nas comunidades de baixa renda.
lizar as pessoas, comportamento plos é a Gastromotiva, formada há “Essas comunidades gastam mais
ético e criatividade para buscar dois anos. A empresa do chef David em festa e batizado. São momentos
Marcelo Cavalcanti, novas soluções. Hertz é uma organização sem fins muito importantes para quem tem
presidente da “Minha função é servir as pessoas lucrativos que capacita e incentiva tão pouco e decidimos participar
Artemisia Brasil que fazem a diferença para milhares jovens a abrir negócios gastronômi- desses momentos.”
Leandro Leme/Artemisia
na captação de recursos”, explica nha Adriana.
Katia Sartorelli. O planejamento A promoção da cultura é o obje-
permite construir em menor prazo tivo de Marcelo Rocha, conhecido
e a menor custo, aliar soluções eco- como DJ Bola, que lidera o grupo
nômicas como o uso da energia so- de rap Voz da Periferia e administra
lar e prevenir situações de risco. uma produtora que capta recursos,
patrocinadores e voluntários para
Museu e feira preta eventos gratuitos em comunidades
O apoio da Artemisia deu novo carentes. Em dois anos, já realizou
impulso à Museus Acessíveis. Há mais de 25 eventos com público
dois anos, essa empresa capacita médio de 4 mil pessoas. Além de
museus para ampliar o acesso de incentivar o microempreendedor
visitantes portadores de deficiên- local, que pode expor seus produtos
cia e de outros com dificuldade de nos eventos, DJ Bola possui um selo
locomoção, como idosos e mães fonográfico, a Trindade Records, e
que empurram o carrinho do bebê. tem programados seis eventos este
“Aprendi que posso ganhar escala Marcelo Rocha (de boné) orienta participante de oficina ano no Jardim Angela.
e oferecer essa capacitação em
rede, barateando muito os nossos
custos”, observa Viviane Sarraf.
Por meio do Programa de Jovens David Herz e equipe
Empreendedores, ela assimilou os da Gastromotiva
conceitos do negócio sustentável.
Hoje sua empresa não espera mais
ser procurada: leva aos museus
sua proposta de beneficiar o má-
ximo de pessoas.
Idealizada por Adriana Barbosa
em 2002 como um pequeno evento
na Praça Benedito Calixto, a Feira
Preta reuniu mais de 400 artistas,
300 expositores e 7 mil pessoas no
Anhembi em 2007, em torno da
SEMANA DO EMPREENDEDORISMO
FUNDAÇÃO AMAZONas SUSTENTÁVEL
Cantar, dançar e
pela British Airways, foi palco da
apresentação para o presidente
norte-americano George W.Bush
durante a visita ao Brasil em 2007.
mudar o mundo
No suporte a esses futuros artistas,
a associação conta com uma equipe
de funcionários, formada por psi-
cólogos, pedagogos, professores de
inglês, informática e tudo o que for
necessário para capacitar a banda
Música faz os Meninos do Morumbi cruzarem em artes, esportes, capoeira e jiu-
jitsu, entre outros cursos.
a ponte rumo a um futuro melhor e mais bonito Para participar desse grupo, o
jovem deve estar na escola e com
notas boas. São 600 alunos que
A banda Meninos do Morumbi existe uma ponte que vai do gueto aprendem canto, dança e instru-
teve início em 1996, quando o ma- e da favela para um futuro bonito”, mentos musicais. A banda tem
estro Flávio Pimenta começou a resume o maestro. programas em parceria com ou-
ensinar música para tirar crianças tras instituições para atender fa-
da rua e do alcance do tráfico e da Sem assistencialismo mílias, como mediação de conflitos
delinqüência juvenil. No fim daquele Com uma agenda bastante mo- e programas de combate à Aids e
ano a banda reunia uma centena de vimentada - só em 2007, foram 112 às drogas, maternidade precoce e
jovens que participavam de ativida- eventos - os jovens tocam, dançam dependência química.
des musicais e esportivas. e cantam arranjos como jongo, As parcerias com empresas fo-
Em 12 anos, foram mais de 700 maracatu, funk, samba, maxixe e gem do formato assistencialista.
shows, inclusive na França e na In- aguerê. Esses eventos respondem Um exemplo é o projeto Garagem
glaterra, que transformaram a vida por 60% do orçamento da banda, Digital com a HP Brasil que oferece
de 4 mil crianças e adolescentes que cobra cachê por apresenta- 150 microcomputadores com banda
de bairros carentes da Zona Sul de ção. “Cada jovem ajuda a pagar os larga para capacitação em informá-
São Paulo e dos municípios de Ta- funcionários e os prestadores de tica. Essa parceria rendeu, inclusive,
boão da Serra e Embu. A saga des- serviço. Temos 46 funcionários, o prêmio Corporate Awards 2002,
ses meninos abriu a 4ª Semana de não há voluntariado, nem assisten- concedido pela Social Accounta-
Empreendedorismo do FGVcenn. cialismo”, ressalva Pimenta. bility International, organização
Maestro Flávio “O projeto ensina a se dedicar, a Um aparato profissional garan- não-governamental norte-ameri-
Pimenta, valorizar a família e a escola, a te a qualidade das apresentações: cana pioneira em responsabilidade
idealizador mapear os bons valores, e fazer os técnicos, engenheiro de som, cami- social corporativa, e a construção
do projeto jovens da periferia entenderem que nhão de equipamento, lanche para do portal da banda na internet.
patrocinadores
ouro prata bronze
Competições
plano de negócios
patrocinadores
Regras do jogo escolhe aquele que vai representar Brasileiro de Apoio às Micro e Pe-
Pelas regras da competição, os os países latinos na Global Moot quenas Empresas do Estado de São
participantes devem apresentar Corp Competition, em Austin. Paulo) Renato Fonseca de Andrade,
um plano completo de negócios Para fazer essa escolha, os juízes que fez parte da comissão julgado-
com todas as informações para devem responder à seguinte per- ra, avalia que venceu a equipe com
a estruturação e abertura de um gunta: “em qual desses planos você, maior poder de persuasão. "O plano
novo empreendimento. As apre- pessoalmente, investiria?” Além do de negócio tem que apresentar gran-
sentações são feitas em inglês. A plano de negócios, são avaliados de probabilidade de retorno finan-
comissão julgadora, composta por também o comportamento, o poder ceiro, mas, na apresentação, a equipe
acadêmicos, investidores de ven- de persuasão e as atitudes dos re- deve saber defender o seu projeto
ture capital e empresários, avalia presentantes das equipes durante com unhas e dentes. Afinal, se al-
a viabilidade financeira e a proba- os três dias de competição. guém tem que confiar no projeto,
bilidade de sucesso dos projetos e O consultor do Sebrae-SP (Serviço esse alguém é o empreendedor."
fotos: eduardo lopes merege/fgvcenn
Da sala de aula
para a Califórnia
Incentivado pelo FGVcenn, vencedor
do FGV Latin Moot Corp 2005
é um bem-sucedido empresário de
bebidas saudáveis na América do Norte
Estratégia para
empresas que
geram valor social
Escolas da América Latina e Europa premiam
planos de negócios socialmente empreendedores
Empresas cujo objetivo é gerar Vargas (FGV-EAESP), berço do Em 2007, o projeto VeloCity,
resultados sociais ou ambientais FGVcenn, é a única representante da espanhola IE Business School,
também precisam ter uma estra- brasileira da Aliança. Também venceu a competição entre os 15
tégia de mercado e de negócio fazem parte da associação a IE planos de negócios inscritos. Tra-
para sobreviver. Esse é foco da Business School (Espanha), Ins- ta-se de um projeto de bicicletas
Competição de Planos de Negó- tituto Tecnológico de Monterrey urbanas na Espanha que mede a
cios Socialmente Empreendedo- – EGADE (México), INCAE (Cos- quantidade de emissões de car-
res promovida desde 2006 pela ta Rica), PUC (Chile), Universi- bono evitadas por quilômetro e
Aliança Sumaq, uma associação dad de San Andrés (Argentina), serve como instrumento de res-
que reúne oito escolas de negócios IESA (Venezuela) e Universidad ponsabilidade social para empresas
da América Latina e Espanha. de Los Andes (Colombia). participantes do programa.
Os organizadores da competição A competição é aberta a equipes
definem o empreendedor social de alunos da graduação, pós-gra- O caso brasileiro
como aquele que estabelece ou duação ou ex-alunos formados O case Tekoha foi selecionado
lidera uma organização, com ou há pelo menos dois anos nessas pelo FGVcenn para representar o
sem fins lucrativos, para oferecer escolas. Uma comissão formada Brasil em 2007. A Tekoha é uma
produtos ou serviços inovadores por representantes das oito esco- organização que comercializa
que beneficiam populações exclu- las e mais um juiz independente produtos 100% artesanais e eco-
ídas. Esses empreendedores criam avaliam os empreendimentos logicamente sustentáveis, como
organizações híbridas que empre- segundo critérios como idéia, cestaria, bijuterias e utensílios
gam metodologias de negócio, mas impacto social, equipe de ges- domésticos, produzidos por co-
seu objetivo principal é a criação tão, oportunidade de mercado, munidades das regiões Norte e
de valor social ou ambiental. modelo de negócio e estratégia, Nordeste do Brasil.
A Escola de Administração de sustentabilidade financeira e re- O objetivo do negócio, pautado
Empresas da Fundação Getulio torno social do investimento. por princípios de ética e trans-
O engenheiro José Augusto Cor- e referência quando o assunto é Sim. O empreendedorismo inclui
rêa iniciou sua carreira como pro- empreendedorismo. a abertura de um negócio, mas é
fessor em 1998, por insistência de muito mais do que isso. É a atitude
um consultor de sua empresa que Qual o diferencial oferecido a da pessoa que consegue enxergar a
era professor na Fundação Getulio alunos e colaboradores? oportunidade de negócio onde as
Vargas. Começou na Escola de Ad- Trabalhamos com a realidade demais só enxergam problemas.
ministração (EAESP-FGV) dando brasileira. É difícil ensinar admi-
o curso “Competitividade Global”, nistração e empreendedorismo a O que é mais importante para
que ele mesmo criou com base na partir de cases que fazem parte o empreendedor?
sua experiência no mercado inter- de currículos de universidades Definir o mercado no qual quer
nacional. Dinâmico e entusiasmado, estrangeiras. Outros países têm atuar. Um empreendedor tem mais
sua vivência empresarial não lhe realidades econômicas diferentes chances de ter sucesso se conhecer o
permitiu ficar somente dando aula. da nossa. O acesso ao capital, por mercado no qual pretende inovar com
Com a ajuda essencial de outros co- exemplo, é mais fácil. seu empreendimento. Se trabalha
legas, em 2004 tirou do papel um com gado, por exemplo, pode ver num
projeto embrionário para criação Quais as vantagens que esse chip de computador a oportunidade
de um centro de empreendedoris- tipo de abordagem traz? de armazenar toda informação sobre
mo. Somou ao projeto o conceito de Ao valorizar o estudo das empre- cada boi. E desenvolver um meio de
novos negócios e daí surgiu o Cen- sas brasileiras, geramos e expandi- colocar um chip em cada cabeça de
tro de Empreendedorismo e Novos mos conhecimento sobre empreen- gado. É a oportunidade de criar um
Negócios (FGVcenn), cujo objetivo dedorismo no Brasil, que é outro mercado de 200 milhões de chips.
é conscientizar as pessoas sobre seu objetivo do FGVcenn. Isso permite
potencial como empreendedoras. que mais pessoas tenham condições Como uma pessoa consegue
de se tornar empregadores e não calcular o valor de mercado de
Qual o objetivo do FGVcenn? mais empregados, fato importante uma idéia? E como sabe se o ne-
Do ponto de vista acadêmico, a numa economia que não sustenta gócio vale o investimento?
idéia é criar a cultura empreende- mais o tradicional mercado de em- Depende da formação do empre-
dora dentro da Fundação Getulio prego com carteira assinada. endedor. Mas quanto mais conhe-
Vargas, que vem adotando posi- cimento tiver e maior sua rede de
ções de vanguarda no meio univer- Existe diferença entre o empre- contatos, cresce a chance de ter a
sitário. E consolidar a Fundação endedor e uma pessoa que sim- noção correta do negócio. Por isso,
como um centro de excelência plesmente abre um negócio? vale a pena freqüentar e partici-
Verônica Miranda
Empresa-objeto:
Adezan Embalagens
e Serviços Ltda.
Curso: MPA 2003
Resumo
A Adezan é uma empresa que
atua no mercado business-to-bu-
siness, oferecendo produtos e so-
luções para a área de logística. A
empresa produz embalagens de
madeira para proteção de lotes
de produtos e presta serviços nas
áreas de movimentação, armaze-
nagem, embalagem e estufagem
de contêineres.
TEMA
O Processo de Transformação
do Modelo de Negócio de uma
Empresa Inovadora.
O tema central será o processo
de transformação do modelo de
negócio da empresa Adezan. A
empresa, que iniciou suas ativi-
Arquivo Pessoal
dades no setor de embalagens de
madeira, de baixo valor agregado,
transformou-se em empresa de
logística integrada, oferecendo
atualmente produtos e serviços
de alto valor agregado.
Os elementos-chave do proces- dastes de empresa multinacional), estratégico (gerente de compras),
so de transformação do modelo Zanchet decidiu redefinir o modelo por um período de dois dias. Cada
de negócio adotado pela Adezan de negócios da Adezan e buscar a entrevista teve a duração de apro-
foram: habilidade de servir, com- liderança no mercado de logística ximadamente duas horas. Apresen-
promisso com contas estratégicas e para materiais pesados. O processo tações internas, materiais, boletins
ênfase no desenvolvimento de core de transformação do modelo de ne- dos últimos 10 anos da companhia e
competencies na área de logística gócio e o espírito empreendedor de gravação de vídeo com o presidente
integrada. César V. Zanchet serão os elemen- da Adezan, bem como revisão bi-
César V. Zanchet, diretor-geral tos centrais a serem analisados. bliográfica acerca dos temas Em-
da Adezan, foi o líder do processo. preendedorismo, Gestão de Contas
Após uma bem-sucedida iniciativa OBTENÇÃO DOS DADOS Estratégicas, Inovação em Serviços
(redesenho das embalagens para Entrevistas com pessoas-chave e Liderança, foram utilizados para
transporte de vidro plano com o na Adezan (presidente, diretor de complementar informações obti-
uso de madeira, para a estrutura planejamento estratégico, geren- das durante entrevistas e para o
de suporte e transporte por guin- te de vendas) e com um cliente desenvolvimento do caso.
Jeanete Herzberg
Empresa-Objeto: Empresa Elétrica S/A
Curso: CEAG
Resumo das cidades também deram forte Além da Empresa Elétrica S/A,
A Empresa Elétrica S/A foi impulso à linha de conectores de o mercado de fabricantes de co-
fundada em 1952 e fabricava co- distribuição de energia. nectores elétricos era constituído
nectores elétricos para aplicação A principal característica da em- por uma empresa multinacional
em seus projetos de instalações presa estava no desenvolvimento de médio porte e diversas outras
elétricas industriais. Ao longo do de conectores e acessórios para nacionais de pequeno porte.
tempo, passou a fabricar conecto- todas as aplicações envolvendo a Até a década de 80, a empre-
res e acessórios para projetos de cadeia produtiva do setor elétri- sa era composta por dois sócios
geração e transmissão de energia co desde a produção da energia majoritários. O primeiro filho de
elétrica e posteriormente incluiu até o seu uso final. Assim firmou- um dos sócios entrou em 1977 e, a
em sua linha de produtos aces- se junto aos seus clientes como partir de 1981, outros se juntaram
sórios para utilização em ônibus empresa de tecnologia de ponta, à empresa.
elétricos e nas redes aéreas deste com forte equipe de engenharia e Em 1987 faleceu o “Sócio A” e, após
sistema. A empresa foi fundada desenvolvimento. seis meses, houve a separação amigá-
pelo “Sócio A” que posteriormente Seus produtos eram reconhe- vel das duas famílias e a continuida-
convidou o “Sócio B” para se as- cidamente de qualidade para for- de das atividades da empresa.
sociar em 50%. necimento para todo o Brasil e O case pretende analisar a situ-
As décadas de 50, 60 e 70 carac- também para exportação. ação societária da empresa após o
terizaram-se no Brasil pelo desen- Os clientes eram as concessio- falecimento do sócio, assim como
volvimento da infra-estrutura do nárias e empresas de geração e as alternativas de condução da
país. Foram construídas hidroe- transmissão de energia elétrica empresa em função do merca-
létricas como Paulo Afonso, da de todo o país (sendo quase a do em que atuava, concorrentes
Chesf (Companhia Hidroelétrica totalidade delas mantidas pelos ativos na época e a estrutura das
do São Francisco), Três Marias, governos estaduaise governo fe- famílias dos sócios.
de Furnas Centrais Elétricas, e deral), montadoras de projetos As informações a serem usadas
Itaipu, da Itaipu Binacional. Li- industriais e concessionárias de para o case estão guardadas nos
nhas de transmissão para a en- energia elétrica de outros países arquivos da empresa e poderão ser
trega de energia e o crescimento da América Latina. utilizadas a qualquer momento.
Fábio Sandes
Empresa-objeto: E-life
Curso: CEAG
Fórum
empreendedor
do
Hora de procurar
novos caminhos
Marília Rocca diz que época da carteira assinada acabou
e que empresários precisam se libertar de paradigmas
Jogando em todas as
posições. E sem medo
Executivo trocou carreira consolidada pelo ramo de
restaurantes. Nunca se arrependeu, nem teve prejuízo
Nem todo mundo conhece o con- o modelo Startup Factory é um in- ral de São Carlos e dono de uma
ceito de Startup Factory ou ouviu vestimento de risco em projetos de longa lista de cursos, atualizações
falar da Adrenax, empresa criada em alta tecnologia, com data de validade e pós-graduações dentro e fora do
2006 graças ao senso de oportunida- definida ou não. São oportunidades Brasil, Camargo aposta na audi-
de do empresário Augusto Camargo de negócios que abrem espaço para a ência economicamente viável da
que viu na internet uma nova forma criação de milhares de empregos, mas internet. “Basta ver o comércio. Há
de ganhar dinheiro. Juntos, porém, nem por isso capazes de convencer o mais venda de microcomputadores
os nomes são símbolo de um modelo gerente do banco a liberar dinheiro que de aparelhos de TV”.
de negócios voltado para a internet para começar a empreitada. O trabalho do engenheiro prio-
que inclui estruturação de empresas É nesse ponto que a existência riza a sistematização das Starts
digitais e financiamento para que da Adrenax faz a diferença. Não se Factorys ou Fábrica de Empresas
jovens empreendedores, com boas trata apenas de emprestar dinheiro na tradução literal. Ao identificar
idéias mas sem um centavo no banco, para montar um negócio na inter- pontos que podem gerar falhas
montem suas empresas. net, mas virar parceiro, moldar e e erros de tomadas de decisão, a
Traduzida para o dia-a-dia bra- estruturar cada etapa do negócio Adrenax consegue criar um gran-
sileiro, a expressão Startup Factory para que ele dê certo, explica Augus- de volume de empresas em ciclos
significa ‘fábrica de idéias’ ou ‘in- to Camargo. Engenheiro químico de dois anos. Consolidados, esses
vestimentos em sonhos’. Na prática, formado pela Universidade Fede- negócios tanto podem ser incor-
porados a outros, como vendidos
ou mesmo ampliados.
Divulgação/Adrenax
Augusto Sobrevivência
Camargo Embora as perspectivas sejam boas,
Camargo alerta para o fato de que o
empreendedor de uma Startup preci-
sa ter capital para sobreviver por, pelo
menos, 12 meses sem faturar e ainda
planejar o próximo ciclo da empresa.
Ele destaca ainda a importância do
controle do fluxo de caixa. Segundo
ele, qualquer empreendedor precisa
ter em mente que não é fácil deixar a
empresa saudável.
“É preciso procurar ajuda em todas
as áreas: negócios, vendas, tecnologia,
marketing. Caso contrário, o empre-
endedor vai se pegar inventando a
roda uma série de vezes.”
No começo era só
um botijão de gás
Filhos venderam vasilhame vazio que estava esquecido na loja
de móveis do pai para iniciar negócio de revenda de GLP
Divulgação /Consigaz
Nassib Saleh Kadri nasceu no Lí- Riad. Tanto que os concorrentes fo-
bano, viveu muito tempo em Cuba e ram aparecendo, mas a dedicação
não teria vindo para o Brasil se Fidel da família garantiu a liderança nas
Castro não tivesse tomado o poder vendas no bairro da Freguesia do Ó,
na pequena ilha do Caribe. Aqui, na Zona Norte, onde moravam. “Foi
conheceu uma brasileira, casou, teve um sacrifício de todos, por anos, com
filhos, vendeu roupas de cama, mesa muita união entre os irmãos. Todos
e banho de porta em porta, abriu trabalhavam com vontade e garra
uma loja de móveis e, ufa, fundou para superar os desafios.”
o que se tornaria uma das maiores Bem-sucedido, Riad aconselha
empresa de engarrafamento de gás quem pensa em abrir qualquer tipo
do País. Este é o resumo da história de negócio a “fazer o que gosta e pro-
da criação da Consigaz, empresa curar sempre referências sobre o que
que começou vendendo apenas um há de melhor do mercado”. Foi com
botijão de gás, conta Riad Nassib, um essa estratégia que a família resol-
dos filhos de Nassib. veu profissionalizar os negócios. Em
1990, a empresa passou a vender gás
Oportunidade envasado em cilindros diferenciados,
Sem os conhecimentos do pai e para atender uma nova demanda
os esforços de toda a família talvez a de mercado e finalmente o negócio
história fosse outra. Foi na pequena ganhou a marca Consigaz.
loja de móveis montada pelo patriarca Após conseguir o registro de distri-
que surgiu a idéia de vender botijões buidora de GLP (Gás Liquefeito de Pe-
de gás. “Víamos sempre o caminhão tróleo), a empresa criou uma base de
do gás passando na rua e todo mundo engarrafamento em Paulínia, São Pau-
ia atrás. Decidimos então vender um lo, para facilitar a distribuição. Hoje,
botijão vazio, que era da nossa mãe o grupo é dono, além da Consigaz, da
e ficava na loja, para comprar outro marca Bobtail para abastecimento a
cheio e revender”, conta Riad, que granel. Para melhorar ainda mais a
já naquela época coletava os ensina- receita e aproximar a empresa dos
mentos do pai. “Eu apenas sonhava consumidores, foram criadas bases
em ganhar dinheiro, mesmo que estratégicas que servem de apoio para
pouco. O gostoso era concretizar o a distribuição do produto. Para Riad,
negócio, uma venda.” seja qual for o negócio a ser monta-
De olho no crescimento das ven- do, um empreendedor não consegue
das, o patriarca da família Kadri in- sucesso se não mantiver “dedicação e
vestiu no estoque. “A demanda por ética” no negócio, mais uma lição que Riad Nassib
gás de cozinha era boa”, relembra ele aprendeu com o pai.
De fregueses a
donos do negócio
Dois empresários transformaram uma pequena empresa
familiar em um grande fabricante de lingüiça artesanal
No começo da história Paulo Du- sos tipos, vendida tanto no atacado banco e assumiram a empresa. A
que e Rodrigo Quevedo eram apenas como no varejo e que, lógico, ainda primeira providência foi moder-
donos de um bufê especializado é estrela no cardápio do bufê. “Que- nizar o Rei da Lingüiça. “O antigo
em churrascos que se destacava da ríamos adquirir o negócio sem que dono não aceitava cartão nem fazia
concorrência por servir lingüiças o produto perdesse a característica propaganda. O negócio era no boca
artesanais. Elas eram compradas de artesanal”, conta Duque. a boca”, conta Duque, que inclui o
um pequeno fornecedor, cujas ori- A transição de clientes a donos dinheiro de plástico entre as formas
gens estavam no tradicional bairro não foi tão rápida. Embora recla- de pagamento aceitas.
do Bixiga, em São Paulo. A história masse da falta de disposição e de A implantação de um sistema de
podia ter parado por aí não tivessem saúde para comandar a empresa, gestão mais profissional permitiu a
os dois empresários percebido que o dono do Rei da Lingüiça não abertura de uma fábrica no bairro
podiam ganhar dinheiro sendo mais pretendia entregar a loja para o de Santo Amaro, em São Paulo. Na
do que clientes da família italiana primeiro interessado com dinhei- mesma região, os empresários man-
que comandava o negócio desde a ro. Era o seu nome que estava em têm uma loja que também vende
década de 60. jogo. “Ele não queria um picareta”, produtos para outros Estados como
Foi o que aconteceu. Em sete lembra Duque. Rio de Janeiro, Santa Catarina e
anos, a dupla transformou a empre- O negócio só decolou em 2001, Minas Gerais.
sa familiar de lingüiças artesanais após seis meses de negociação. Os
em outra que produz mensalmente jovens então venderam seus car- Nada a esconder
13 toneladas de lingüiça de diver- ros, pegaram um empréstimo no Mesmo com o sucesso do negócio,
Paulo Duque nunca se esquece das
incertezas do momento em que de-
Divulgação/Rei da Lingüiça
Projetando as
redobrados para transformar a Com-
putec em uma empresa de soluções na
área eletrônica, capaz de desenvolver
todo projeto eletrônico de residência
casas do futuro
ou escritório, incluindo sistemas de
telefonia, rede, automação, distri-
buição de áudio, vídeo, segurança e
comunicação. “Era só uma questão
de tempo até o brasileiro conviver
com a tecnologia em casa.”
Empresa aposta na automação residencial e Para o engenheiro, logo a automa-
ção deixará de ser um artigo de luxo
garante espaço junto ao consumidor moderno para se tornar essencial ao desenvol-
vimento sustentável. “Tudo terá de
ser automatizado nos novos aparta-
Todo mundo que tem mais de 30 dências e escritórios. mentos. Só assim vamos conseguir
anos e é fã de desenho animado já Engenheiro eletrônico, Bozzo economizar energia e preservar o
desejou ter uma casa como a dos Jet- Netto conta que nunca acreditou na meio-ambiente.”
sons na vida. Todos aqueles aparelhos história de que oportunidades caem O engenheiro acredita que quem
eletrônicos controlados à distância, do céu. Tanto que criou as próprias pretende abrir um negócio tem de es-
além de uma perfeita convivência chances para garantir um espaço no tar pronto para trabalhar duro. “Pro-
entre telefone, internet e sistemas de mercado de trabalho ao fazer cur- cure sempre novas formas de atuar,
segurança. O que era apenas ficção sos de especialização nos Estados nunca pare de estudar, não descuide
na década de 70 virou realidade nos Unidos e Japão. No caminho para o da administração. Contrate ou forme
dias de hoje graças ao trabalho de sucesso, acumulou experiências na bons profissionais. Selecione seus
pessoas como Henrique Bozzo Netto, Yaesu, empresa japonesa de teleco- clientes e fornecedores. Nada é por
um dos sócios da Computec Home municações, na Gradiente, além de acaso, não existe sorte. Tudo é fruto
Theather & Automation, empresa ter sido dono de uma das maiores de trabalho, dedicação e organização.
que é referência quando se trata de revendedoras de grandes marcas de Não desanime, os frutos demoram
tecnologia de automação para resi- eletroeletrônicos no País. mesmo para aparecer.”
Premiados pela
competência
São três categorias: Inovação,
Oportunidade e Crescimento. Quem tiver
o melhor desempenho em todas leva o
prêmio de Empreendedor de Sucesso
r de Suces
ed o s
o-
E m pr e e n
2 007
ARIZONA
É até difícil explicar como uma impressão e pré-impressão. imprimir uma página, os jovens fize-
gráfica que não tinha nem com- O começo não foi muito fácil. O ram um catálogo inteiro por conta. A
putador em 1998 e servia só para pai virou avalista e as máquinas para Natura só pagaria se o serviço fosse
imprimir carnês de pagamento modernizar o negócio só foram com- aprovado. Hoje, a Arizona cuida do
conseguiu se transformar em uma pradas porque os rapazes consegui- trabalho de pré-impressão de todos
das mais modernas do país. Um ram convencer o fabricante alemão os catálogos da Natura.
dos segredos talvez seja a mão do da viabilidade da empresa. A Arizona também desenvolveu
administrador Alexandre Hadade Para ganhar um dos seus prin- um sistema que permite a qual-
que, com a ajuda do irmão Marcus, cipais clientes, a Natura, a Arizona quer empresa gerenciar e unifi-
inovou o mundo dos negócios. Eles se arriscou a perder R$ 100 mil. Há car sua marca em todo o mundo.
transformaram o que era apenas alguns anos a fabricante enfrentava Preços e endereços de anúncios de
um departamento na empresa de problemas de devolução dos itens de gigantes como a Mitsubishi podem
eletrônicos da família, a Cineral de maquiagem porque o catálogo não re- ser trocados em todo país, mas a
Manaus, em uma gráfica reconhe- produzia a cor real dos produtos. Sem imagem do carro e o logotipo da
cida pela excelência no mercado de conseguir verba da empresa nem para empresa são intocáveis.
da
Cate
de
PIXEON
Medicina
via internet
O engenheiro Fernando Peixoto abriu
uma pequena empresa e investiu no
ramo de softwares para a área médica
Opções
Os catálogos da Tecnoblu trazem pelo menos 120
opções de etiquetas e já encantaram representantes
de empresas como Hugo Boss e Levi´s que fecharam
Omar Paixão\Pequenas Empresas & Grandes Negócios
nto
rs-Concours
Ho
OPTO
Jarbas Castro Neto e seus quatro
sócios desenvolvem produtos
usados em mais de 100 países
Acima da concorrência
Investimento em pesquisa e parceria com universidades de dentro
e fora do País garantem posição de vanguarda tecnológica à Opto
Pode-se dizer que a categoria em órbita em 2009 - vai fornecer foram sucesso. Recentemente, a
hors-concours do Prêmio Empre- as lentes das poderosas câmeras Opto comprou um pacote de tra-
endedor de Sucesso foi criada de que ficarão no espaço – a Opto tamento anti-reflexo da Suíça para
última hora para que a justiça fosse sempre fez da inovação um di- uso em lentes de óculos. Como o
feita. Seria impossível deixar de ferencial importante na geração produto não estava adaptado para
premiar a Opto Eletrônica, nascida de capital. o clima brasileiro, as lentes fica-
em 1985 e reconhecida hoje como Da empresa saíram novidades ram craqueladas em seis meses.
uma das empresas mais inovadoras que hoje fazem parte do nosso Dirigida por cinco físicos, os só-
do País, além de referência interna- dia-a-dia, como o primeiro leitor cios Antonio Fontana, Mario Ste-
cional em equipamentos ópticos. Ao de código de barras para uso em fanie, Djalma Chinaglia, Nelson
mesmo tempo, sua participação na supermercado, equipamentos para Maurici Antonio e Jarbas Castro
disputa colocou em clara desvanta- exames de retina, laser para aplica- Neto, a Opto mantém um investi-
gem os demais concorrentes, com ções oftalmológicas, além de lente mento médio equivalente a 4% do
menos tempo de vida. anti-reflexo para óculos. seu faturamento anual em pesqui-
Única representante nacional sas e é uma das poucas empresas
a participar do projeto dos dois Parcerias brasileiras a manter parcerias com
satélites brasileiros que entrarão Nem todos os produtos, porém, universidades do País e exterior.
FGVcenn vira
notícia e ganha
espaço na imprensa
Confira nas próximas páginas artigos e
notícias sobre atividades promovidas pelo FGVcenn
que foram destaque na mídia em 2007 e 2008
O tesouro escondido
na sua empresa
Invenções do
cotidiano fazem
Muitos empresários supõem que tivessem criado a fábrica, teria sido
uma invenção digna de ser paten- parte do patrimônio muito difícil competir por muito
teada precisa ser grandiosa, capaz tempo com tantos concorrentes
de causar alguma repercussão e intelectual do seu internacionais. Era mesmo muito
estardalhaço. Com essa concepção melhor tê-los como aliados, sedu-
ingênua, deixam de vislumbrar a negócio e podem, zindo-os por meio da comodidade
possibilidade de registrar idéias, da compra de uma licença.
que já estão dentro de suas em- sim, virar patentes Não estou dizendo que sempre
presas. É uma pena. Tenho certeza compensa sair correndo para regis-
de que boa parte dos leitores tem, trar qualquer inovação. Freqüen-
em seus negócios, invenções que anos, um software para uso interno. temente, resguardar uma idéia é
poderiam ser licenciadas – e eles Inicialmente, os sócios acharam estratégico. Por mais que haja sigilo
nem sequer percebem isso. que não havia nada de tão especial na fórmula registrada, a descri-
À medida que empreendem, naquela invenção. Talvez ela conti- ção geral de uma patente sempre
homens e mulheres de negócios nuasse confinada na empresa para resvala certa inspiração para que
vão criando, sem sentir, um rastro sempre se alguns clientes não tives- o concorrente acabe criando algo
de inovação, que precisa ser regu- sem reparado em quanto o produto parecido. Há casos de empresas
larmente garimpado. A empresa era original. Com o interesse dos que, na descrição do produto pa-
pode, por exemplo, ter desenvol- clientes, a Ci&T decidiu desenvol- tenteado, colocam componentes
vido uma peça simples pra acelerar ver o software e criou uma nova sem nenhuma função apenas para
o desempenho de uma máquina in- empresa só para isso. Agora que despistar a concorrência caso hou-
dustrial. Também pode ter criado, já enxergaram o potencial da idéia vesse tentativa de cópia.
despretensiosamente, um software que têm nas mãos, os sócios estão Muito mais importante que pa-
amador, que acabou se tornando de estudando a legislação americana tentear a esmo é criar o hábito de
uso indispensável por seus empre- para patentear o programa. esmiuçar o arsenal de inovações
gados. Essas invenções, que fazem Às vezes, a patente é tão inte- que muitas vezes passa despercebi-
parte do trajeto empreendedor, ressante que pode até ditar o mo- do, de tão incorporado que já está à
precisam ser pinçadas e podem delo de negócios de uma empre- rotina da empresas. Dentro de seu
significar um enorme patrimônio sa. Conheço três engenheiros que negócio, pode haver soluções cria-
não contabilizado. criaram uma peça de computador tivas que fariam brilhar os olhos de
Há uma história recente que inovadora. Queriam construir uma seus concorrentes. Proteja-as. Você
ilustra um pouco da distração do fábrica para desenvolvê-la. Per- será mais competitivo aproveitan-
empreendedor diante dos méritos ceberam a tempo que era mais do melhor um patrimônio que, in-
do próprio negócio. A Ci&T, em- inteligente vender a licença para visível, é um dos mais importantes
presa brasileira de tecnologia de grandes marcas, como a Sony e na hora de erigir empreendimentos
informação, desenvolveu, há alguns Intel. Foi uma saída esperta. Se bem-sucedidos.
Estudar ou empreender.
É essa uma questão?
Empreendedorismo e educação Visão de logia da Informação. O conceito é
formal têm uma relação complexa. muito mais amplo. Finanças, ope-
Bill Gates, criador da Microsoft, e oportunidade é rações, mercadologia, tudo isso é
Larry Elison, que fundou a Oracle, tecnologia em evolução, é conhe-
são sempre citados como pessoas uma técnica que cimento se renovando, disponível
que não se graduaram em nenhum para novas aplicações.
curso e tornaram-se membros ilus- se aprende E há ainda um último ponto
tres na lista dos maiores empreen- – mas nem por isso menos impor-
dedores do mundo, além de outra, tante. É preciso lembrar que em-
bem mais atraente – a das pessoas mundo que as cerca, vêem expe- preender está sempre relacionado
mais ricas do mundo. Estudar ou riências de sucesso e de fracasso, a risco. Uma pessoa bem formada e
empreender é um falso dilema. Há têm acesso a novas tecnologias, informada sabe avaliar melhor os
quem, mesmo empregado, procu- quaisquer que sejam elas, é co- riscos a que está exposta. O em-
ra cursos para progredir e assim nhecimento aplicado a finalidades preendedor não é um maluco que
atingir o que imagina ser o paraíso: práticas. Dominar um maior volu- gosta deliberadamente de correr
tornar-se empresário. Há pessoas me de conhecimento só ajuda na riscos, mas uma pessoa mais prepa-
que têm entre suas principais pre- condução de um novo negócio. rada para enfrentar essas situações,
ocupações a educação dos filhos. Há pelo menos três enfoques ele as vê como parte da empreitada.
Em que escola eles devem estudar essênciais nessa história de pre- Por isso avalia com mais precisão as
para obter sucesso na carreira pro- parar um empreendedor na esco- ameaças a que está exposto.
fissional em uma grande empresa? la. Antes de qualquer coisa, um Resta lembrar que graduar-se
E outras pensam no quanto está novo negócio se inicia com visão e iniciar uma empresa imediata-
cada vez mais difícil obter hoje um de oportunidade, e enxergá-la mente não são eventos que devem,
emprego. Então imediatamente não é um dom, mas uma técnica necessariamente, ocorrer nessa
concluem que a melhor opção é que pode ser atingida com trei- seqüência. Isso, aliás, é extrema-
começar o quanto antes o seu pró- namento. É como fazer com que mente improvável. As idéias apa-
prio negócio, sem perder tempo as pessoas desenvolvam a capa- recem quando menos se espera.
com a faculdade. cidade de encontrar formas ino- Germinam e tomam forma após um
Mas, afinal, fugir da escola é vadoras, criem valor com visões período de maturação. Isso pode
uma fórmula segura para ser em- antes inexistentes. Em segundo acontecer durante um curso – e en-
preendedor? A resposta é um so- lugar, aspectos comportamentais tão o risco de interrupção aumenta
noro não. O que precisamos, isso podem ser aperfeiçoados para que – ou algum tempo depois, quando a
sim, é colocar as idéias em ordem. o futuro empreendedor tenha mais pessoa já está atuando em alguma
Antes de mais nada, nenhuma es- autoconfiança, perseverança, saiba empresa. Nessa fase, a busca pelo
cola digna deste nome tem apenas driblar reveses, tenha uma postura capital necessário passará a ser
como objetivo ensinar a ganhar de liderança. Em terceiro lugar, grande dor de cabeça. Mas essa
dinheiro. É por meio da educação é preciso conhecer tecnologia. já é uma outra história, em que
que as pessoas crescem, conhecem Quanto mais, melhor. E não me conhecimento e tecnologia, aliás,
outras idéias, entendem melhor o refiro apenas à chamada Tecno- também serão de grande ajuda.
Uma obra
sempre aberta
A vida do empreendedor é o exer- Mudar estratégias ou uma pequena ou média empresa em
cício diário de um paradoxo. Por um crescimento. Expandir os negócios é
lado, ele está sempre em busca de abandonar produtos uma tarefa que exige coragem para
desafios. Longos períodos de tempo enfrentar as muitas incertezas do ca-
em que tudo parece andar bem na são sintomas de que minho e inteligência para mapeá-la
empresa costumam levá-lo a buscar a tempo para tomar decisões certas.
novas oportunidades. Quando as a empresa está em Mudar de ramo pode ser uma delas.
encontras, vêm as idéias criativas, Talvez pareça terrível o pensamento
a vontade de colocá-las em prática, movimento – e não de deixar para trás um mercado no
de levantar recursos e envolver ou- qual se apostou durante anos – mas
tras pessoas e de criar estratégias. de fracasso a razão tem de estar acima das emo-
Mas, assim que o empreendedor se ções. Amar um produto com deman-
vê no meio desse turbilhão vem a da cadente apenas porque foi você
ansiedade de rapidamente encon- Está aí uma palavra que de ninguém quem o criou e o lançou pode levar
trar um novo ponto de equilíbrio, a gosta. Muitos chegam a fingir que a perdas fatais. Adequar a empresa a
convivência com a dúvida se o passo ela nem existe. Essa é a pior atitude, novos tempos é igualmente importan-
foi dado na direção certa, a frenética pois estar preparado para enfrentar te. Se sua fábrica terá de ser menos
busca por resultados consistentes e um eventual naufrágio é justamente verticalizada porque os insumos que
... novos desafios. a forma mais eficiente de evitá-lo. você mesmo faz são mais caros que os
Você pode estar vivendo num dos O empreendedor preparado importados, mude já. Sobrou espaço?
dois extremos neste momento ou para encarar o fracasso sabe que Encontre outra utilidade para ele.
pode estar num ponto qualquer do falhas acontecem mesmo – e que Mude e recomece tantas vezes
caminho a um ou a outro. Qualquer as coisas podem não dar certo nem quantas forem necessárias. Essa é
que seja o lugar em que você está, na primeira nem na segunda vez. a natureza do empreendedor – ade-
o importante é ter consciência de Ele sabe também que o que está quar-se às situações e encontrar opor-
que a vida do empreendedor é assim funcionando muito bem hoje pode tunidades onde os outros enxergam
mesmo – está sempre mudando. não dar certo amanhã, que seus problemas. Sair da zona de conforto
Para o empreendedor, construir produtos podem ser superados por para mudar uma estratégia, refazer
uma empresa e fazer com que ela cres- novas tecnologias ou concorrentes contas ou abandonar um produto
ça é um processo dinâmico, em que com custos menores que já não se mostra competitivo são
as coisas são arranjadas segundo de- E por isso que a obra que o a demonstração de que a sua vida de
terminados propósitos para, logo em empreendedor se esforça para empresário está em movimento. – e
seguida, serem mudadas. Os negócios completar todos os dias perma- não um sinal do fim da linha. Onde
estão sempre sofrendo a ação dos im- nece sempre aberta. É como um muitos vêem o fracasso, o pequeno
previstos das transformações no mer- daqueles brinquedos de montar ou ou médio empresário vê a excitação
cado, dos novos ventos que sopram de aquelas esculturas de massinha da de um novo capitulo que se abre em
lugares distantes e pouco conhecidos época da escola, que pareciam nun- sua história. Pode soar estranho para
como a China ou a Índia. ca tomar uma forma definitiva. muitos, mas não para o verdadeiro
Nesse processo é preciso estar A idéia da obra inacabada é es- empreendedor. O exercício diário
preparado para lidar com o fracasso. pecialmente boa para representar desse paradoxo é o que o faz feliz.
Bom funcionário
vira chefe ruim
Como transformar da noite para Quem se sobressaiu dade das operações; atender clientes
o dia uma pessoa reconhecidamente importantes e fazer contatos com
competente num fracasso profissio- na execução, pode outros potenciais... A lista pode ser
nal? É simples, basta promovê-la a enorme. Quais ações dessa pequena
chefe. Os exemplos se multiplicam e ser que não saiba amostra são de operação e quais são
podem ser vistos nas mais diversas as de gestão? Muitos têm dificuldade
áreas. Quantos casos nós não conhe- delegar com a em responder, o que prova que os
cemos de operários que ascenderam conceitos de fazer e administrar nem
à chefia e perderam o que tinham mesma eficiência. sempre são claros.
de melhor, ou seja, a qualidade do Para driblar esse problema, atin-
trabalho? Muitos, com certeza. Sem gir os objetivos de crescimento da
contar o número de empresas que pervisionar as pessoas que reali- empresa aproveitando as chama-
anulam o seu melhor vendedor ao zam o mesmo trabalho tão bem das “pratas da casa” e ao mesmo
promovê-lo a gerente de vendas! desempenhado até então pelo nos- tempo vacinar-se contra a síndrome
O que mais impressiona é que com so competente funcionário. da promoção, o empresário precisa
uma só canetada os empresários Para a pessoa, a promoção fun- difundir permanentemente os prin-
conseguem abrir mão de um pro- ciona como uma mudança de pro- cípios básicos de gestão a todos os
fissional competente e ganhar um fissão. E pode ser um castigo, não funcionários. Além disso, é essencial
gerente incapaz. um privilégio. Administrar exige criar uma cultura empreendedora
O que a maioria esquece nessa usar o tempo com competência e na equipe, por meio da qual todos
hora é que quanto mais a pessoa conseguir muito, com rapidez. E se vêem como empresários. Mais do
for competente e apaixonada por uma das formas mais eficientes de que isso, eles conseguem enxergar
sua atividade, mais ela gastará tem- se fazer isso é delegando tarefas. com clareza a missão da empresa,
po com os detalhes da operação. Quem se sobressaiu na execução seus objetivos de curto e longo prazo.
Quando ela assume uma posição pode ser que não saiba delegar com A tarefa exige treinamento e investi-
administrativa, acaba por se des- a mesma eficiência. mento no potencial de cada funcio-
motivar com a rotina. O resultado é, Um agravante dessa história é que nário. Ao longo do percurso, porém,
com raras exceções, uma adminis- no dia-a-dia não se torna muito cla- é possível detectar quem gosta de
tração ineficiente. Mesmo assim, o ro o que é fazer e o que é adminis- administrar e quem fugirá das aulas.
erro se repete diariamente em boa trar. Entrevistar, selecionar, avaliar Os integrantes do segundo grupo
parte das empresas. e contratar pessoas; aumentar ou devem permanecer nas atividades
Por mais que todos concordem reduzir o quadro de funcionários; em que se sentem bem. Nada de er-
com essas verdades, é uma tradi- discutir aumentos de salário; anali- rado com isso. Tem gente que quer
ção promover os funcionários mais sar planilhas de custo com quem as trabalhar no que gosta e não quer
competentes, que produzem mais elabora; rever processos; comparar e ser chefe. Outros vão surpreender
resultados, a um cargo de chefia. selecionar fornecedores; buscar me- pelo empenho em aprender como se
Sobem gradualmente, até que al- lhorias permanentes dos sistemas de administra. Daí sairá a solução para
cançam o topo. E o topo significa apoio e informação; adquirir novos decisões sobre a ocupação dos novos
administrar o departamento, su- softwares para aumentar a efetivi- postos na estrutura empresarial.
A alavanca para um
empreender sustentável
Eduardo merege/FGVceen
Na última década houve um o mercado para aquele bem, isto é, tão brilhante que alguns passaram
significativo crescimento no nú- descoberto se, apesar de útil, para aqui- a oferecer prêmios em dinheiro.
mero de competições de planos lo realmente existe demanda. Deve A competição da Universidade
de negócios no âmbito das escolas ainda ter formado um time brilhante de Rice, nos EUA, destina US$
de administração. de gestores, composto de talentos com- 375 mil aos ganhadores. As mais
O aumento da demanda deve-se plementares. Deve ter desenvolvido as importantes escolas de negócios
ao surgimento do Moot Corp, pro- estratégias mercadológicas do negócio, possuem alguma forma de selecio-
movido pela Universidade do Texas, ou seja, como entrar no mercado, con- nar grupos de alunos com idéias
em Austin, nos Estados Unidos. Esta quistar clientela, manter-se e crescer. viáveis e apresentá-los à comu-
foi a primeira competição e a mais Deve ter feito o planejamento opera- nidade empresarial. No Brasil, a
duradoura até os dias de hoje. cional e gerencial e, finalmente, deve Fundação Getulio Vargas promove,
Antes de falar sobre competições ter projetado os custos e as receitas de desde 2001, o FGV Latin Moot
de planos de negócios é necessário forma realista. Corp. Esta versão do concurso é
refletir durante alguns instantes Um plano de negócios tem diversas voltada aos países latinos e seu
sobre o propósito da criação de um utilidades e públicos diferenciados. conceito já extrapola fronteiras,
plano de negócios. Segundo Ford Et Dentre eles, o próprio empreen- pela forma profissional e compe-
Al, no The Ernst & Young Business dedor, bancos, agências de fomento tente como foi gerido por todos
Plan Guide, muitos pensam em um e todo tipo de capitalistas de ris- seus coordenadores. O vencedor
plano exclusivamente como uma co. Eles se balizarão no plano de desta competição é automatica-
ferramenta para empresas inician- negócios para determinar projetos mente convidado para participar
tes. Na realidade, ele deve ser par- futuros, acompanhar cumprimento da final mundial, agora chamado
te integrante do planejamento de de metas e até mesmo direcionar o de Global Moot Corp.
qualquer projeto. Grandes empre- aporte de capital. Em uma análise sucinta, pode-se
sas necessitam de um plano para o Com base na utilidade prática des- observar que, ao longo destes anos,
lançamento de um novo produto ou te instrumento de planejamento foi não faltam exemplos de empresas
para suas projeções de crescimento criado na Universidade do Texas, em de sucesso criadas a partir destas
para os anos seguintes, enquanto Austin, o primeiro concurso de pla- competições. Recentemente, o site
uma editora pede que qualquer novo nos de negócios voltado a alunos de Entrepreneur.com evidenciou di-
livro tenha um planejamento de pós-graduação. A competição surgiu versos empresários oriundos de
distribuição e marketing e a pro- em 1983, da idéia de dois alunos do disputas de planos de negócios.
jeção dos custos e das receitas que MBA. Eles enxergaram uma forma, Entre os citados figura o brasileiro
serão geradas. livre de risco e com assistência aca- Rodrigo Veloso, ganhador do Latin
Dentro deste contexto, ressalta-se dêmica, de criar novos negócios e Moot Corp de 2005 (veja texto na
que, na verdade, um plano de negócios apresentá-los para investidores, dan- página 26).
não é um fim em si. É um documento, do a oportunidade aos estudantes de Este empreendedor viabilizou seu
com estudos estratégicos que compro- aplicar seu conhecimento na prática plano graças aos contatos obtidos du-
vam ou não a viabilidade econômica ou e apresentar suas idéias e vocações rante a competição em São Paulo e no
social de um projeto. Antes de pensar em algo além de um simples exercí- Texas. Rodrigo afirma que, ao chegar
em escrever um plano de negócios, o cio de sala de aula. aos EUA, conheceu investidores que
empreendedor deve ter um produto ou Desde a primeira edição do o apresentaram a outros capitalistas
serviço que resolva um problema, ou Moot Corp diversos outros con- de risco e “investidores anjo”.
seja, uma inovação. Deve ter validado cursos foram criados. A idéia foi Contudo, nunca é demais ressal-
tar que, nestas competições de pla- diante de um público especializado negócios são unânimes em afirmar
nos de negócios, mais importante e crítico insere a comunidade aca- que o aluno deve encarar a compe-
que ganhar são os relacionamentos dêmica em uma experiência prática tição, apesar de seu ambiente alheio
obtidos e a gama de informações e de negócios. ao meio acadêmico, como mais um
conhecimento que circula entre os Especialistas no assunto, como os elemento em sua formação e não
empreendedores. responsáveis por Centros de Empre- colocar o prêmio como o objetivo
A experiência de expor uma idéia endedorismo de diversas escolas de máximo de sua participação.
BLOG DO
Conhecimento: 4a Semana de http://portalexame.abril.com.br/blogs/pedro_mello/20080324_listar_
EMPREEENDEDOR
Empreendedorismo FGV dia.shtml
- PORTAL EXAME
RUE ATUALIDADES
Universia
Fórum sobre Capital de Risco debate http://www.universia.com.br/materia/materia.jsp?materia=15589
Ensino Empreendedor
http://www.valoronline.com.br/valoreconomico/285/
Valor on-line Empreendedorismo
suplementos/291/292/Volta+as+aulas,,,292,4697545.html
http://www.valoronline.com.br/valoreconomico/285/
Valor on-line Oportunidades para empreendedores suplementos/291/292/Ouvido+atento+ajuda+a+abrir+portas+e+oportuni
dades,,,292,4759796.html
http://mail-b.uol.com.br/cgi-bin/webmail/Folha.jpg?ID=IYS4pAEplCSY1
Boa prospecção é a chave para traçar
Folha de S.Paulo goCYe5TjQEpBeNrx4dRFo&Act_View=1&R_Folder=aW5ib3g=&msgID=7579
a melhor estratégia
&Body=2&filename=Folha.jpg
época Rodrigo Veloso http://revistaepoca.globo/00,EDG78829-485,00-sabor+tropical.htm
FGV dá dicas para ser um http://computerworld.uol.com.br/mercado/2007/06/05/
Computerworld
empreendedor idgnoticia.2007-06-...
http://portalexame.abril.com.br/static/aberto/pme/melhores_praticas/
Portal Exame O que fazer para não errar
m0133204.html
Revista Amanhã Um torneio de bons projetos http://www.amanha.com.br/edicoes/242/capa02.asp
LANÇAMENTOS DE LIVROS
Empreendedorismo Inovação em Serviços Intensivos G estão da Inovação Tecnológica
(Ed. Thomson Learning) em Conhecimento (Ed. Saraiva) (Ed. Thomson Learning)
• Autor: Marcelo Aidar, mestre e doutor em • Organizado pelo professores Roberto • A utor: Tales Andreassi, professor
Administração de Empresas pela Escola Bernardes e Tales Andreassi, da Escola da Escola de Administração de Em-
de Administração de Empresas de São de Administração de Empresas de São presas de São Paulo, da Fundação
Paulo, da Fundação Getulio Vargas Paulo, da Fundação Getulio Vargas Getulio Vargas
Construção
da cultura
empreendedora
Publicações, cursos e pesquisas
somam-se aos eventos do
FGVcenn para difundir o
conhecimento brasileiro sobre
inovação nos negócios
Criado em junho de 2004 com abertura de novos negócios e con- caminho para atingir um objetivo.
a missão de construir uma cultu- tribui para o desenvolvimento social Esses são os fundamentos do Em-
ra empreendedora na Fundação e econômico do país. preendedorismo que norteiam as
Getulio Vargas, o Centro de Em- O FGVcenn parte do princípio de atividades do FGVcenn.
preendedorismo e Novos Negócios que o empreendedor é o agente da
(FGVcenn) é um dos mais de 20 inovação. A inovação exige trans- Público
centros atuantes na Escola de Ad- formação, tanto da própria empre- Todos os projetos desenvolvidos
ministração de Empresas de São sa, como dos mercados e de todas dentro do FGVcenn visam atingir
Paulo (EAESP). O FGVcenn reúne as pessoas envolvidas. Introduzir um público. E é um princípio de
ao redor do tema pessoas de forma- verdadeiras inovações não é tarefa trabalho que esse público não pre-
ções diversas para estudar, gerar e de rotina na gestão da empresa. É cise desembolsar recursos para ter
propagar conhecimento multidisci- aí que entra em cena o empreende- acesso aos resultados dos projetos.
plinar, independentemente de suas dor, aquele que cria novos negócios, As palestras, eventos, competições
áreas de especialização. seja uma nova empresa, seja um etc. são acessíveis a qualquer pes-
Além da geração de conhecimento novo mercado para a empresa já soa. Por essa razão, é essencial o
brasileiro sobre empreendedorismo em operação. papel das pessoas físicas e jurídi-
por meio de eventos, competições, Capacitar pessoas para serem cas que apóiam as atividades do
publicações, cursos e pesquisas, o inovadoras, para enxergarem e usu- FGVcenn tanto financeiramente,
FGVcenn tem por objetivo mudar fruírem de novas oportunidades; com recursos, como doando seu
culturas e conscientizar as pessoas treiná-las no campo comportamen- tempo a palestras que sempre são
sobre o seu potencial como em- tal para que desenvolvam autocon- altamente motivadoras.
preendedoras. Ao gerar e difundir fiança, persistência, resistência para Umas das fórmulas mais ade-
conhecimento, desperta o espírito enfrentar obstáculos e convencê-las quadas ao “ensino” do Empreen-
empreendedor latente, incentiva a a acreditar que trabalhar duro é o dedorismo é a apresentação de
MISSÃO
• Construir uma cultura de empreendedorismo
na FGV - EAESP
• Gerar, utilizar e difundir conhecimento so-
bre empreendedorismo tanto internamente
quanto externamente à FGV.
VISÃO
• Fortalecer o estudo do empreendedorismo
na FGV - EAESP, fazendo dela o centro de
referência no Brasil
• Ser reconhecido como um centro de exce-
lência no apoio ao público FGV voltado ao
empreendedorismo
• E estar na vanguarda das transformações
em busca de oportunidades no campo do
empreendedorismo no Brasil.
Objetivos acadêmicos
• Criar o conceito FGV – EAESP de Empre-
endedorismo
• Gerar pesquisas e publicações sobre o tema
• Criar um acervo de conhecimento sobre o
tema Empreendedorismo
• Despertar nos alunos a visão empreende-
dora e oferecer novos cursos em todos os
níveis em que a Escola atua
• Contribuir para aumentar ainda mais o prestígio
da FGV – EAESP, alcançando o reconhecimento
nacional e internacional de ser um centro de
excelência no estudo do Empreendedorismo.
empreendedores que contam suas e efetiva. A burocracia, que parece
vidas a uma platéia. Mensalmen- inerente ao setor público, é a antí- Objetivos em relação às organizações
te, o FGVcenn promove palestras tese do empreendedorismo. Temos, • Contribuir para acelerar o crescimento de
e debates por meio do Fórum do entretanto, inúmeros exemplos de organizações pela melhor utilização de
Empreendedor. Outra forma de pessoas que, uma vez no setor pú- idéias inovadoras de seus colaboradores
fomentar novas idéias é a realiza- blico, realizam grandes transforma- empreendedores
ção de competições de planos de ções, demonstrando que empreen- • Capacitar pessoas vinculadas a micro e
negócios, como o FGV Latin Moot dedores fazem a diferença também pequenas empresas, visando aumentar
Corp Competition. nas atividades governamentais. Essa seu índice de sobrevivência
Ações empreendedoras são ne- é a razão de o FGVcenn dedicar-se • Apoiar empresas familiares no processo de
cessárias inclusive nas atividades ao estudo e a ações no campo do sucessão do empreendedor original
do Terceiro Setor, que busca fazer empreendedorismo no setor públi- • Transferir conhecimento a pessoas que têm
com recursos privados uma parte do co. A EAESP mantém um curso de condições de criar novas organizações, para
que caberia ao setor público. Novas Administração Pública modelar, o aumentar suas chances de êxito.
organizações não-governamentais que traz maiores responsabilidades
exigem, para sua criação e sucesso, à escola com relação à adequada Objetivos em relação à sociedade
a presença do empreendedor que, capacitação de seus alunos. • Acelerar o processo de geração de riqueza
neste caso não visa ao lucro, mas à Todas essas atividades convergem do País pelo bom aproveitamento das idéias
transformação da sociedade. Por para o objetivo maior do FGVcenn: o de seus cidadãos
essa razão, o empreendedorismo desenvolvimento social e econômi- • Aumentar a oferta de empregos
social é parte essencial do estudo co e a melhor qualidade de vida dos • Alcançar um melhor grau de qualidade de
e das atividades. brasileiros. Afinal, para ser empre- vida dos cidadãos brasileiros, objetivo
A administração pública também endedor é fundamental acreditar no síntese de todas as ações propostas.
precisa ser cada vez mais eficiente nosso país e na nossa gente.
mpreendedorismo
E Inovação, Venture Capital e
e criação de novos negócios Empreendedorismo (pós-gradu-
(56 horas-aula/14 aulas) ção stricto sensu - 360 horas)
Intra-empreendedorismo:
Um Estudo de Caso sobre o Entendimento e a
Aplicação dos Fundamentos Organizacionais
Associados ao Termo
Nelson Chieh (FGV-EAESP)
Tales Andreassi (FGV-EAESP)
Resumo: O objetivo deste artigo dernas adotam medidas para redu- funcionários na medida em que elas
é analisar o entendimento dos funcio- zir seus custos, elevar o nível de crescem, se estabilizam e alcançam
nários de um grande banco brasileiro qualidade de seus produtos e servi- certo grau de sucesso. Isso acontece
sobre os assuntos associados ao tema ços, reduzir os ciclos de produção, porque algumas condições que pro-
intra-empreendedorismo bem como alavancar receitas e oferecer um piciam o intra-empreendedorismo
sua aplicabilidade interna à empresa. eficiente serviço aos clientes. Por são neutralizadas no processo de
Para tanto, foram efetuadas 19 entre- outro, vários estudiosos de assuntos expansão/crescimento em que a or-
vistas com gestores, executivos e fun- ligados à competitividade empresa- ganização aumenta o número de fun-
cionários da organização estudada, rial vêm apontando a relevância da cionários, introduz novas camadas
tendo como base um roteiro com uma inovação na formação de vantagens de gerenciamento, novas estruturas,
série de questões. A fim de se identifi- competitivas das empresas. Mui- novas políticas e novos procedimen-
car a existência ou não de homogenei- tos deles consideram a criação de tos operacionais, muitas das quais
dade de entendimento, os resultados um ambiente intra-empreendedor consideradas pelos funcionários
das entrevistas foram compilados como fator chave para estimular como práticas burocráticas.
e analisados segundo quatro pers- a inovação e, conseqüentemente, Hashimoto (2006) comenta que,
pectivas: duas relacionadas a nível alcançar o sucesso empresarial. considerando a oportunidade de
hierárquico (alto executivo e média Segundo Russell (1999), a prática desenvolvimento de carreira, mui-
gerência) e duas relacionadas às áreas de intra-empreendedorismo tem tos acreditavam que a única for-
de atuação (operacional e de negó- sido o foco de crescente atenção ma de um funcionário exercitar
cios). Além disso, foram analisados não só dos executivos como tam- seu espírito empreendedor seria
também os programas corporativos bém dos acadêmicos. De forma deixar a empresa e criar um novo
de RH e de mudança cultural, à luz semelhante, a habilidade de inovar negócio por sua iniciativa própria.
das características de uma organiza- também assumiu uma importância Os gestores ainda enxergam um
ção intra-empreendedora crucial para empresas inseridas em potencial conflito de interesse en-
indústrias de rápida evolução. tre a corporação e os funcionários
1. INTRODUÇÃO Certamente, é um grande de- ávidos em desenvolver seu “projeto
safio para as empresas manterem pessoal” dentro da empresa. Eles
De um lado, as organizações mo- o espírito empreendedor de seus entendem que um funcionário não
segunda dimensão, renovação estra- endedorismo em que a influência correlação negativa significativa
tégica, é a revitalização das operações, das posturas gerenciais sobre uma entre a idade da organização e a
mudando o escopo do negócio ou a organização é destacada. Neste proatividade. Há também uma
sua abordagem competitiva. estudo, analisaram três aspectos correlação negativa, porém não
Para Pryor & Shays (1993), o intra- organizacionais que caracterizam significativa, entre idade e a capa-
empreendedorismo é a criação de um o intra-empreendedorismo, consi- cidade de inovar e entre idade e
ambiente no qual a inovação pode flo- derados pelos pesquisadores como posturas gerenciais. O fato de não
rescer de forma a transformar pessoas os principais. Dois desses fatores, haver uma correlação significativa
comuns, que nunca viram um cliente, proatividade e inovação, foram entre a variável idade e as variáveis
em empreendedores de sucesso que considerados como relativos aos posturas gerenciais e capacidade de
assumem responsabilidades e papéis aspectos externos da organização. inovar pode sugerir que, embora
dentro da empresa. Esses fatores foram extraídos do já haja em algumas das organizações
De acordo com Andreassi conhecido ENTRESCALE elabo- antigas pesquisadas a falta de ca-
(2005), o termo intra-empreen- rado por Knight (1997). O terceiro pacidade de inovar e de orientação
dedorismo pode ser entendido, em fator principal diz respeito às pos- das posturas gerenciais para ações
linhas gerais, como a capacidade turas gerenciais e foca nos aspectos intra-empreendedoras, a maioria
que os funcionários de uma em- internos à organização. das empresas não apresentou o
presa têm para agir como empre- O objetivo principal do estudo de mesmo comportamento.
endedores. Ele menciona também Goosen et al. (2002) é a identificação O resultado da pesquisa indica
outra definição dada por Dornelas de fatores que conduzem e susten- que não há uma correlação signifi-
(2003 apud ANDREASSI, 2005): tam o modelo clássico de intra-em- cativa entre os três principais fato-
Empreendedorismo corporativo preendedorismo. O segundo objetivo res e o tamanho da empresa medido
pode ser entendido como o proces- é o de investigar o relacionamento por faturamento ou quantidade
so pelo qual um indivíduo, ou um entre variáveis contextuais tais como de funcionários. Os pesquisadores
grupo de indivíduos, associados a idade e tamanho da empresa e o risco indicam diversos estudos sobre o
uma organização existente, criam do negócio, e os fatores principais tamanho da empresa e o grau de
uma organização ou instigam a re- relacionados ao intra-empreende- intra-empreendedorismo. Alguns
novação ou a inovação dentro de dorismo apontados no parágrafo defendem que empresas menores
uma organização existente. inicial desta seção. O estudo também tendem a ter um maior grau de in-
O desenvolvimento do intra- analisou relações entre os fatores tra-empreendedorismo. Isso pode
empreendedorismo também sur- principais já conhecidos — proati- ser justificado por uma estrutura
ge como uma forma de reter esses vidade dos funcionários, inovação e organizacional menor e mais flexí-
talentos dentro das empresas e ao posturas gerenciais — e o tamanho vel e por uma política de incentivo,
mesmo tempo lidar de forma mais e a idade da empresa. de remuneração e de recompensa
eficaz com as ameaças do mercado Era esperado que a capacidade às ações intra-empreendedoras
concorrente. Na visão de Hashi- de inovar pudesse ter uma cor- também mais flexível.
moto (2006), ao incentivar o intra- relação negativa com a idade da Em oposição a isso, outros acre-
empreendedorismo, as empresas organização, uma vez que ela se ditam que o maior tamanho organi-
estariam aproveitando o melhor torna menos inovadora na medida zacional está ligado ao maior grau
dos dois mundos: canalizar o es- em que avança aos estágios poste- de intra-empreendedorismo ten-
pírito empreendedor dos funcio- riores da evolução organizacional. do como base teórica as hipóteses
nários para a empresa em troca de O resultado do estudo, no entanto, Schumpeterianas. Schumpeter acre-
estrutura para os empreendedores aponta para falta de correlação sig- dita que o crescimento econômico
tocarem os projetos pessoais que nificativa entre estas variáveis. E, ocorre através do processo de “des-
estejam alinhados com os objetivos especialmente, conclui que não há truição criativa”, por meio do qual
estratégicos da organização. indício de que as organizações mais a velha estrutura industrial, seus
Goosen, Coning e Smit (2002) antigas tenham um comportamen- produtos, processos ou sua forma
apontaram num estudo um modelo to menos intra-empreendedor. organizacional sofrem mudanças
conceitual sobre o intra-empre- Uma outra constatação: há uma freqüentes em prol da atividade
que a empresa espera encontrar nos reçam dúvidas e registrem críticas Os programas de melhoria contí-
seus funcionários. ou elogios, com a garantia de serem nua, além de estimularem trabalho
O Projeto Novo Modelo de atendidos com mais eficiência e ra- em equipe e relacionamento inter-de-
Atendimento visa oferecer agilida- pidez. As mensagens são enviadas partamental, visa a implementar uma
de, transparência, rapidez, atenção e para área de Endomarketing que, cultura de qualidade. Essa mudança
resolução de problemas aos clientes. dependendo do assunto, as encami- cultural cria as condições básicas ao
O projeto consiste em um processo nham para áreas responsáveis. fortalecimento do intra-empreende-
de redesenho da estrutura e da for- A cada quatro meses, dez clientes dorismo e desperta o espírito empre-
ma de organizar a rede de agências, do Unibanco são convidados para endedor dos funcionários.
reestruturação de cargos e funções, discutir assuntos que impactam a
redesenho funcional da agência. qualidade de serviços do banco. 4.2 Análise das
Esse novo modelo acaba exigin- Nesses encontros (Conselho de entrevistas
do que os funcionários da rede de Clientes), o Unibanco pretende realizadas
agências tenham uma postura mais captar dos próprios clientes in-
intra-empreendedora, deixando de dicações para possíveis ações de As entrevistas foram realizadas
fazer as atividades operacionais. melhoria em produtos e serviços entre novembro de 2006 e janei-
que garantam a satisfação. ro de 2007. Foram entrevistados
O Programa de Alta perfor- ao todo dezenove funcionários do
mance visa uma mudança de ati- O Programa Atitude de Valor Unibanco tendo as seguintes dis-
tude dos funcionários, de acomo- visa reconhecer as atitudes positi- tribuições:
dação para atitude proativa além vas dos colaboradores através de
de incentivá-los a buscar novos premiação trimestral. A empresa 4.2.1 Análise das respostas
desafios. Com isso, o que a empre- entende que um programa de estí- obtidas
sa deseja é a mudança do modelo mulo à qualidade não deve objetivar
mental dos funcionários através de a penalização, mas sim incentivar as Durante a entrevista, cinco gran-
reconhecimento e da valorização ações e atitudes positivas. des questões formuladas de forma
das atitudes desejadas. mais abrangente foram apresenta-
O Prêmio Walther Moreira das aos entrevistados. Para cada
O Programa Portas Abertas Salles é uma premiação anual uma dessas questões, algumas
consiste em encontros dos altos que tem o objetivo de valorizar e perguntas com finalidades mais
executivos da empresa (presi- estimular as ações e realizações ali- específicas também foram feitas.
dente e vice-presidentes) com nhadas com a estratégia da empre- A primeira questão dizia respeito
grupos de aproximadamente 20 sa. Atualmente, há seis categorias ao entendimento sobre o intra-em-
pessoas. O objetivo do progra- de premiação: inovação, sinergia, preendedorismo dos profissionais
ma é aproximar os executivos e qualidade, eficiência, geração de formadores de políticas e de opi-
profissionais de diversas frentes negócios e gestão de pessoas. niões, tais como alto executivos e
de negócio, possibilitando o de- profissionais de recursos humanos.
bate sobre questões estratégicas O Programa MCQ e Programa Para um melhor entendimento des-
e práticas voltadas ao desenvol- Six Sigma consistem em uma me- ta questão, quatro perguntas mais
vimento de pessoas, processos, todologia de análise e de solução de direcionadas foram feitas.
produtos e serviços. Uma va- problemas que tem como principal Pergunta 1: O termo intra-empre-
riante deste programa é o Canal objetivo reduzir defeitos, retrabalhos, endedorismo é familiar a você?
Aberto que é conduzido pelos erros e falhas. A ação de MCQ é de Na visão por cargo, os entrevista-
diretores das diversas frentes livre escolha dos gestores que são in- dos com cargo de executivo conhe-
de negócio e conta com a parti- centivados a discutir com sua equipe cem melhor o termo, pois as defini-
cipação de pequenos grupos de os problemas de falta de qualidade e ções apresentadas estavam próximas
colaboradores de sua equipe. identificar as causas e as possíveis so- da esperada. Já na perspectiva por
O Voz Ativa permite que os fun- luções. A implementação dessas ações área ou função, os entrevistados da
cionários façam comentários, escla- fica ao cargo da própria equipe. área de negócios possuem melhor
dorismo são levados em conta na Isso reforça a idéia de que o intra- formais de incentivo ao intra-em-
seleção e na promoção de funcioná- empreendedorismo está predomi- preendedorismo, de uma maneira
rios. Para um melhor entendimento nantemente associado apenas à ino- geral, pode-se perceber que há uma
desta questão, foi feita a seguinte vação na empresa. Um outro ponto, clara orientação estratégica da em-
pergunta mais direcionada: que não é o foco desse estudo, é que, presa em incentivar as atitudes e os
para algumas áreas, ainda existe um fundamentos ligados ao intra-em-
Pergunta 1: Analisando as quali- estereótipo quanto à impossibilida- preendedorismo. A existência de
dades comportamentais, as atitudes de de ter ações inovadoras. Por fim, diversos programas institucionais é
associadas a um típico intra-empre- pode haver um erro de entendimento um forte indício de que os gestores,
endedor são valorizadas pela empre- ainda mais freqüente que é o de asso- responsáveis pela comunicação e im-
sa na contratação ou na promoção? ciar a inovação à instabilidade. plementação/execução desses pro-
Com relação à contratação de novos gramas, são orientados a valorizar e
funcionários, a maioria dos entrevis- 5. CONCLUSÃO atrair cada vez mais funcionários com
tados respondeu que há uma intenção perfil intra-empreendedor. Embora a
da organização em buscar funcioná- Com relação ao entendimento maioria dos programas institucionais
rios com perfil intra-empreendedor. do termo intra-empreendedo- atue como ferramenta de orientação
Na promoção, porém, a entrega de rismo e os assuntos associados e não como uma imposição ou como
resultado ainda é muito valorizada. Os a ele, pode-se dizer que o termo, regras rígidas a serem seguidas pelos
entrevistados apontaram que, tendo no sentido literal, ainda é pou- gestores, eles são bastante abrangen-
um nível de entrega compatível com co conhecido. Embora todos os tes quanto aos fundamentos de uma
o esperado, os funcionários com perfil entrevistados já possuíssem o organização intra-empreendedora.
intra-empreendedor podem eventu- conhecimento sobre empreen- Além desses programas de orientação,
almente levar certa vantagem (prio- dedorismo, apenas uma minoria os funcionários também contam com
ridade) na promoção. Quase todos já tinha ouvido falar do termo in- diversos programas de premiação,
os entrevistados deixaram claro que tra-empreendedorismo. Se forem que de certa forma são reforços aos
tanto no caso de contratação, quanto levados em consideração alguns comportamentos e atitudes intra-
no caso de promoção, a busca por termos utilizados na empresa, tais empreendedoras.
pessoa com perfil intra-empreende- como atitude proativa, senso de Com relação ao acompanhamento
dor ainda não é uma realidade insti- propriedade e ser protagonista, da implementação, pode-se dizer que
tucional. Ou seja, ela ainda depende pode-se dizer que os conceitos as premiações institucionais são um
muito do desejo do gestor imediato e fundamentos ligados ao intra- excelente reforço à valorização das
e do perfil da área. empreendedorismo são razoavel- ações intra-empreendedoras. Assim
mente conhecidos na empresa. como os próprios entrevistados men-
4.2.2 Considerações finais Quanto à homogeneidade do cionaram, o contrato de metas, se
sobre as entrevistas realizadas entendimento, pode-se observar bem utilizado, poderia ser uma ótima
Um comentário feito por um dos que o nível de conhecimento da ferramenta para incentivar o intra-
entrevistados talvez possa ser utili- grande maioria dos entrevistados empreendedorismo. Para tanto, os
zado como um retrato da realidade é homogêneo, dado que o grau de gestores imediatos devem incluir no
sobre o intra-empreendedorismo conhecimento é bastante baixo em contrato de metas de seus subordina-
na empresa: todas as perspectivas analisadas. As dos as ações e atitudes condizentes
“A valorização de funcionário ou opiniões sobre a aplicabilidade do com o intra-empreendedorismo.
candidato com perfil intra-empre- intra-empreendedorismo também De uma maneira geral, pode-se
endedor depende muito da função não apresentam uma discrepância dizer que há diversos programas e
e da área de atuação da pessoa. relevante que mereça uma atenção ferramentas institucionais que visam
Como exemplo: um contador ou maior, uma vez que a grande maioria a estimular o intra-empreendedo-
um auditor não pode ser muito respondeu que são perfeitamente rismo de forma direta e explícita. O
criativo. No máximo ele pode ter aplicáveis os fundamentos de intra- entendimento sobre essas iniciativas
algumas iniciativas quanto à me- empreendedorismo na empresa. organizacionais, porém, não é ho-
lhoria de processos.” Com relação aos mecanismos mogêneo entre as áreas. Enquanto
Estratégia e
empreendedorismo:
Decisão e criação sob incerteza
Igor Tasic (FGV-EAESP)
Tales Andreassi (FGV-EAESP)
Resumo: Este trabalho estuda objetivos. Em especial, no momento Serviço Brasileiro de Apoio às Mi-
o processo decisório de empreen- da criação da empresa, os empreen- cro e Pequenas Empresas (SEBRAE,
dedores ao criar novos negócios sob dedores buscavam minimizar per- 2004) claramente demonstram que
incerteza e sem objetivos claros, a das, aproveitando as surpresas que a taxa de sucesso de novos negócios
partir da noção de effectuation. Sen- surgiam e explorando ao máximo os é baixa ao longo dos primeiros anos
do uma abordagem nova no campo recursos que, então, controlavam. de existência de uma empresa. De
de estudo da estratégia e do empre- Em vista destas observações, a teo- acordo com a pesquisa, aproximada-
endedorismo, a abordagem effectu- ria de effectuation ajuda a explicar o mente 50% das empresas encerram
al propõe que os empreendedores processo decisório utilizado pelos suas atividades com até dois anos de
enfatizem, no início de uma nova empreendedores do Buscapé. Con- existência. Tal percentual aumenta
empresa, o quanto eles suportam forme indicam estudos anteriores, é para 56,4% em até três anos, chegan-
perder e experimentam tantas es- possível afirmar que alguns empre- do a 60% em até quatro anos.
tratégias distintas e combinações de endedores parecem tomar decisões A mesma pesquisa também lista
recursos quanto possíveis, dados os de acordo com uma lógica comum, as tradicionais causas apontadas
recursos que já estão sob seu con- a lógica do controle effectual. por empreendedores para o encer-
trole. Assim, o objetivo deste artigo Key Words – effectuation, new ramento das atividades empresariais.
é o de examinar se, e em que exten- ventures, entrepreneurship Dentre as principais razões, estão
são, empreendedores constroem falta de capital de giro, altos impostos,
empresas no mundo real usando 1. Introdução juros elevados, falta de clientes, en-
effectuation. A pesquisa de campo tre outras. Razões estas tipicamente
foi realizada em uma organização A idéia de que a taxa de mortali- consideradas “mazelas” do ambiente
(Buscapé), tendo como metodolo- dade entre as empresas é bastante econômico brasileiro.
gia de pesquisa o estudo de caso, alta parece ser consenso tanto entre Entretanto, pode-se considerar
tendo sido realizadas entrevistas praticantes quanto entre acadêmicos no mínimo intrigante o fato de que
semi-estruturadas com fundadores, que estudam empreendedorismo e diversas pesquisas, de mesma na-
executivos, funcionários e parcei- o surgimento de novas empresas tureza, em outros países (incluindo
ros da empresa. Como resultados, (ALDRICH & MARTINEZ, 2001; o grupo de países desenvolvidos)
a análise do caso Buscapé parece FICHMAN & LEVINTHAL, 1991; reportam dados muito semelhantes
indicar que, em vários momentos HANNAN & FREEMAN, 1984; LOW a respeito do fechamento de novos
de sua história, os empreendedores & MACMILLAN, 1988). Os dados negócios (TIMMONS, 1999; PAR-
tomaram decisões sem clareza de confirmam tal idéia. Estatísticas do SA, 1999). De acordo com Timmons
dos os recursos que já estão sob seu ceitos amplamente disseminados por em certo grau dependente da
controle. O propósito, neste modelo, escolas de negócio e consultorias, em aquisição de empregados (ex:
não é necessariamente maximizar que a tomada de decisão é analisada uma empresa conhecimento-
os retornos financeiros potenciais, como um processo racional, sendo, intensiva, tal como uma em-
mas, sim, reduzir a incerteza de cer- portanto, lógico e seqüencial. presa de software)?
tas estratégias e combinações de No entanto, como aponta Saras- • Como nós podemos avaliar fi-
recursos. Em effectuation, o empre- vathy (2001a), a maior parte destas nanceiramente empresas em
endedor, por meio de ações, cria os teorias pressupõe a existência de uma indústria que não existia
resultados a partir destas combina- artefatos (ex: indústrias, merca- cinco anos atrás e mal existe
ções de recursos e da alavancagem dos, firmas), a partir dos quais um no presente (ex: empresas de
sobre contingências à medida que se agente racional realizará análises internet)? Mais interessante
reduzem as incertezas que o cerca. de causa-efeito, modelagens de ainda, como nós teríamos ava-
Como os empreendedores decidem cenários e, por fim, tomará uma liado estas empresas cinco anos
iniciar empresas e estruturar novos decisão (calculada) dentre as múl- atrás, quando empresas de in-
negócios sem uma definição clara tiplas opções existentes. ternet mal estavam surgindo?
de objetivos pré-estabelecidos e sem Esta parece ser a tônica presente
a capacidade de analisar todas as não apenas em muitos dos trabalhos No nível macro, como nós cria-
futuras variáveis ambientais que influentes no campo da estratégia mos economias capitalistas a partir
podem impactar estes negócios. e empreendedorismo, mas também de uma economia comunista? Ou,
Deste modo, parece ser de espe- na prática empresarial, em que a ainda mais interessante, com o
cial interesse examinar se, e em lógica da análise (PORTER, 1980) quê uma economia pós-capitalista
que extensão, empreendedores prepondera sobre a lógica da cria- deveria parecer? (SARASVATHY,
constroem empresas no mundo ção dos artefatos (SIMON, 1966). 2001a, p.244, tradução nossa).
real usando effectuation. Este é, Mas, se esta corrente parece ser Como aponta Sarasvathy (2001a)
portanto, o objetivo deste artigo, prevalente neste campo de estudo, cada uma destas questões envolve
que buscará, mais especificamente, como explicar muitas das evidências o problema de escolher determina-
explicar este processo a partir das a respeito dos limites da raciona- dos efeitos que podem ou não ser
contribuições seminais de Saras lidade dos indivíduos, tomadores resultados de objetivos intencionais,
Sarasvathy (2001a, 2001b) sobre a de decisão, (SIMON, 1959, 1966; pré-estabelecidos pelo agente-em-
abordagem de effectuation na ex- KAHNEMAN & TVERSKY, 1979; preendedor. Portanto, a idéia clássica
plicação de processos decisórios KAHNEMAN, SLOVIC, TVERSKY, de predição e causalidade parece não
de empreendedores. 1982) e, ao mesmo tempo, prover apresentar o embasamento necessá-
respostas às seguintes questões? rio para se entender o fenômeno de
2. O modelo de como novos artefatos são criados.
Effectuation •C omo nós tomamos decisões Esta é a lógica em que se estrutura
relativas a preço quando a a idéia de effectuation. Em termos
A noção da institucionalização firma ainda não existe (isto é, gerais, pode-se dizer que “effectuation
de algumas práticas gerenciais, tais nenhuma função de receita ou is the inverse of causation” (SARAS-
como a necessidade de planos estra- custo é dada) ou, ainda mais in- VATHY, 2001b, p.D1). Neste sentido,
tégicos e a quantificação de cenários teressante, quando o mercado a racionalidade effectual não é mera-
futuros, mesmo que feitas de forma para os produtos/serviços ain- mente um desvio da racionalidade
cerimonial (MEYER & ROWAN, da não existe (isto é, não existe clássica causal. É, sim, um modo de
1977), ajuda a entender alguns dos função de demanda)? racionalidade alternativo, baseado em
fenômenos por trás da visão clássica • Como nós contratamos alguém uma lógica distinta da lógica causal
de causalidade e escolha racional para uma organização que (SARASVATHY, 2001b). Deste modo,
dos agentes, em especial, dos em- ainda não existe? Como nós é importante que se faça uma avalia-
preendedores. O decoupling entre podemos nos candidatar para ção crítica dos limites impostos pela
discurso e prática organizacional trabalhar em uma organiza- lógica clássica (racional-causal).
(MEYER & ROWAN, 1977) tem, ao ção ainda em formação – uma Em geral, os estudos clássicos no
menos em parte, raiz em alguns con- organização cuja existência é campo de estratégia e empreende-
F... 3 e 4.
Características distintas: se-
Fn lecionar entre meios dados para
atingir um objetivo pré-determi-
nado (ver figura 2)
Figura 4 – Processo Effectual Características distintas: gerar
Fonte: Adaptado de SARASVATHY et al. (2005) novos meios para atingir objetivos
• Na medida em que nós podemos predizer o futuro, nós podemos • Na medida em que nós podemos controlar o futuro,
Lógica central
controlá-lo nós não precisamos predizê-lo
• Participação de mercado em mercados existentes por meio de • Novos mercados criados por meio de alianças e outras
Resultados
estratégias competitivas estratégias cooperativas
4. Por que a teoria de suma, sob estas condições, pode-se subjacentes aos mesmos na criação
effectuation é focada aceitar a própria noção de controle de novas empresas.
na lógica do controle: sobre o futuro, conceito-chave na Na linha do que sugerem Ed-
bases teóricas teoria de effectuation. monson e Mcmanus (2005), este
Com isso, pode-se analisar com desafio é típico dos questionamen-
Como dito anteriormente, é con- maior clareza as influências de tos oriundos de teorias nascentes,
senso entre os teóricos da estratégia quatro autores, em especial, na lidando tipicamente com novos
empresarial – em sua etapa inicial construção da teoria de effectu- construtos e poucas formas de
como campo de estudo, oriunda de ation e como estas influências se mensuração. Portanto, sugerem
tradições econômicas (microeco- interrelacionam com as noções de os autores, métodos qualitativos
nômicas, em especial) – a noção de empreendedor-agente e ambientes de coleta de dados (entrevistas e
mercado como uma entidade dada, socialmente construídos: observações) e análise (identifica-
pré-existente. No entanto, como res- ção de padrões) são mais apropria-
salta Vasconcelos (2004, p.160): •H enry Mintzberg: Organiza- dos nos esforços de estruturação
ções que aprendem e a noção de uma teoria sugestiva, abrindo
Embora predominante no campo de estratégias emergentes espaço, com isso, para futuros tra-
de estratégia empresarial, a aborda- (MINTZBERG, 1978, 1994; balhos sobre a questão ou conjun-
gem objetivista da realidade social MINTZBERG; AHLSTRAND; to de questões estudadas. Neste
não é a única alternativa epistemo- LAMPEL, 2000; MINTZBERG; sentido, Edmonson e Macmanus
lógica e metodológica possível em WATERS, 1982). (2005) contrapõem este método
ciências sociais. Abordagens inter- • Karl E. Weick: Enactment e de investigação (exclusivamente
pretativas aplicadas à estratégia a impossibilidade de descola- qualitativo) aos métodos híbri-
empresarial foram sugeridas por mento entre tomador de deci- dos (quali-quanti) ou puramente
diversos autores, desde as décadas são e ambiente (WEICK, 1979, quantitativos nos esforços de se
de 1960 e 1970. 1993, 1995). comprovarem respectivamente
• James G. March: A existência teorias intermediárias (ex: testes
Assim, como apontam diver- de ambigüidade de objetivos exploratórios) ou teorias maduras
sos autores, é bastante influente (MARCH, 1978, 1982, 1991). (ex: testes de hipóteses).
a noção de que existe uma rela- •F rank Knight: Distribuições Com isso, parece que o desafio
ção imbricada (embedded) entre futuras de eventos não podem proposto neste artigo, de se enten-
ambiente/estrutura social e os ser previstas, tampouco mode- der como alguns empreendedores
agentes que compõem esta socie- ladas (KNIGHT, 1921) decidem avançar na construção de
dade e de que, portanto, a idéia de novas empresas apesar da impre-
construção social da realidade é 5. Metodologia de cisão de objetivos e sob incerteza,
plausível, assim como a idéia de pesquisa pode ser corretamente superado
que cada indivíduo é dotado de por um método qualitativo de pes-
uma capacidade de agência, que Conforme apontam Sarasvathy e quisa, em especial pela metodolo-
permite e restringe a própria pos- Kotha (2001), o processo empreen- gia de estudos de caso.
sibilidade de mudança (BERGER dedor adotado por empresas na fase Afinal, conforme aponta Yin (2001),
& LUCKMANN, 1967; GIDDENS, de sua estruturação e desenvolvi- em geral, o estudo de caso é a estra-
2003; SEWELL, 1992). mento pode ser único e, conseqüen- tégia preferida de pesquisa quando
Este preâmbulo é de funda- temente, difícil de ser identificado questões do tipo “como” ou “por que”
mental importância para que se e mensurado. Tal situação leva a são colocadas, quando o investigador
aceite a tradicional definição de questionamentos do tipo “Como os possui pouco controle sobre eventos
empreendedor, como aquele que pesquisadores podem estudar um e quando o foco está em fenômenos
age em seu ambiente, alavanca-se fenômeno único e, então, generali- contemporâneos que ocorrem em um
a partir de contingências e, inevi- zar a partir de tais situações e cir- contexto real. Este parece ser precisa-
tavelmente, cria novas empresas e cunstâncias?”. O desafio, portanto, mente o caso de um estudo a respeito
mercados (SCHUMPETER, 1934; é o de identificar tais processos e os do processo empreendedor.
SARASVATHY, 2001a, 2001b). Em princípios de racionalidade que são Yin (2001) ainda especifica três
endedores do Buscapé valeram-se americano. Foi pura e simplesmente “Objetivos do Buscapé eram
em menor ou maior grau de pro- um site criado com este foco.” bem específicos. Colocar no ar um
cessos decisórios alinhados à noção site de comparação de preços era
de effectuation. A seguir, os dados “Acho que um dos fatores de su- algo bem específico. Mas não sei se
coletados em entrevistas são apre- cesso do Buscapé não foi que a gente nosso maior objetivo era o de fazer
sentados com base nas unidades de foi lá fora (exterior) buscar algo e um site de comparação de preços
análise definidas. adaptar. A gente criou algo inovador e busca na internet, mas, sim, ter
e depois descobriu que tinha gente uma empresa.”
A. Clareza de objetivos fazendo coisa parecida lá fora [...] A “Já tínhamos a vontade de nos
iniciais gente teve um tempo de mercado empenhar em uma coisa própria. Dá
Como visto anteriormente, a muito forte.” muito mais prazer [...] Pessoalmen-
história de criação do Buscapé se te, todos queriam ter uma empresa,
confunde com a história do sur- “A idéia desde seu início foi criar faltava apenas uma idéia boa que
gimento da internet no Brasil. E, um negócio grande, não criar mais funcionasse bem.”
como aponta a teoria de effectu- um. Na época, a gente morria de
ation apresentada no capítulo 2 medo do UOL. Se eu tivesse hoje Interessante notar que apesar
(SARASVATHY, 2001a, 2001b; montando uma hamburgueria [...] de os sócios afirmarem que os
SARASVATHY ET AL., 2005), não teria medo do McDonald’s ou objetivos foram específicos (do
observa-se uma ambigüidade ini- Burger King. Teria que conviver ponto de vista de formação de
cial de objetivos, tanto do ponto de com eles [...] No nosso caso, era um site que fornecesse compara-
vista da criação da empresa, como uma indústria muito nova. Então ção de preços), não existiam, de
da criação da nova indústria de a gente queria ser líder e a gente fato, objetivos claros no sentido
internet. O comentário de um dos sempre quis ser a empresa que a de como começar a empresa.
entrevistados fundadores a despei- gente é hoje.” Mas apesar de não haver ob-
to da clareza de objetivos é seminal jetivos claros quanto ao modus
neste sentido: “Pesquisa de mercado foi bem operandi da nova empresa que es-
bom senso nosso. Até porque na tavam criando, os sócios traziam
“Eu não vislumbrava aonde a gen- época, pesquisa de internet não um conjunto de experiências que
te ia chegar. Quanto de dinheiro iria existia.” os permitia visualizar componen-
gerar isso.” tes básicos que deveriam estar pre-
“Acho que tudo foi bastante trial sentes no novo negócio.
De fato, como relatam alguns and error.”
entrevistados, não houve no início “A gente queria um negócio que
qualquer inspiração relativa ao Os sócios estavam focados no de- tivesse barreiras de entrada (tec-
modelo de negócio a ser adotado. senvolvimento de uma tecnologia nologia foi o foco inicial), escala
Não houve adaptação de algum e não no modelo de negócio e na (dependesse de pouco capital de
modelo estrangeiro. Isto ocorre empresa. Em geral, todos tinham giro e ter a mesma estrutura para
inclusive em função de não haver um macro objetivo de ter uma em- um volume maior de transações)
uma definição muita clara do que presa, mas a noção de como esta e ter uma idéia inovadora (não
era a própria indústria de internet. empresa geraria receitas e em quais queríamos que fosse mais uma
Não se sabia com precisão em que mercados eles iriam atuar, ainda software house).”
segmento de fato estavam atuando era algo vago.
e, portanto, não era concebível a “Uma das coisas que acho que aju-
idéia de se fazer uma pesquisa de “Se é um serviço legal, vai ter gente dou a garantir nosso sucesso foi o fato
mercado. Em suma, tanto a em- acessando, vai ser uma ferramenta le- de todos serem muito paranóicos [...]
presa quanto a indústria estavam gal na internet, monetizar isso é uma Concorrência, custos [...] A gente
em gestação. questão de tempo [...] Nisso a gente sempre estava se preo- cupando com
começou a desenvolver o sistema. A tudo. Isto sempre esteve implícito
“A idéia não foi baseada em ne- gente não estava muito preocupado nas ações, o que fez com que passás-
nhum modelo adotado por um site com o dinheiro na época.” semos pelas crises muito bem.”
muito grande com formalização da ganização, o Buscapé aloca recur- largando a McKinsey para ficar aqui.
parceria [...] número dois, sempre se sos exclusivos para a gestão destes E mais dois empreendedores, que já
define o que o Buscapé pode ofere- relacionamentos. Mantém-se, com tinham começado outros negócios,
cer (que a outra parte não tem) e o isso, uma orientação constante ao também falaram: estamos largando
que a outra parte tem que o Buscapé fortalecimento de parcerias. tudo para ficar aqui o dia inteiro [...]
pode receber.” O trade-off deles era grande, se o ne-
“Sempre se buscam parcerias “Outro fator importante é o com- gócio não fosse para frente [...] Neste
com atividades intercomplemen- prometimento [...] vejo pelo atendi- sentido, houve um fit natural.”
tares [...] os parceiros se engajam mento que damos tanto às pequenas
e, conseqüentemente, vão se cobrar lojas quanto às grandes [...] o Busca- “Quando a gente mudou para cá
resultados.” pé não discrimina ninguém [...] isto (novo escritório, após o escritório
faz com que os parceiros e clientes inicial na incubadora), tava lá o cara
Como exemplo desta realidade se sintam à vontade.” do Chase, o cara da McKinsey, eu,
(alavancagem sobre redes sociais todo mundo parafusando tomada,
e comprometimento com parcei- “O principal ponto do comprome- limpando cabo de rede [...] Você es-
ros), logo no início das operações, timento é dar o feedback. Tem muita tava literalmente criando um negó-
o diretor de marketing de um gran- gente por aí que, ao fechar uma par- cio junto [...] Existia o commitment
de varejista apostou na idéia e no ceria, esquece [...] isso não acontece pela paixão por eles estarem tam-
futuro do Buscapé. Tal parceria aqui, nós temos pessoas exclusivas bém no negócio deles [...] Passava
foi fundamental, pois alavancou a para atender o parceiro.” a ter uma simbiose, um não vivia
imagem da empresa no mercado “Até hoje a cultura de resolução sem o outro.”
e proporcionou, ainda que em um de problemas permanece [...] quem
período de crise pós-bolha da inter- atende o telefone, mesmo após o “Literalmente, passamos a ter
net, que o Buscapé se projetasse. expediente, tem que encontrar uma mais empreendedores no barco.”
forma de resolver o problema do
“Após a bolha da internet, o Bus- cliente ou parceiro.” A entrada da E-Platform no
capé deu muito certo, conquistou negócio não apenas trouxe mais
mercado e consolidou sua marca Por fim, é fundamental res- know-how de gestão ao Buscapé,
[...] e isto fez com que os grandes saltar na história do Buscapé o mas, principalmente, trouxe novos
parceiros se sentissem atraídos relacionamento dos sócios com relacionamentos. Esta rede social,
por nós.” os investidores no começo da à medida que se ampliava, trazia
empresa. O comprometimento novos benefícios para a empresa
“Os varejistas começaram a bus- dos investidores iniciais com (ex: primeira rodada de investi-
car o Buscapé a partir do momento o sucesso do negócio em seu mentos) que, em última instância,
em que a gente lançou o site e co- primeiro estágio parece ser permitiram aos empreendedores
meçou a aparecer na mídia [...] era exemplar quando se avaliam as cristalizar e expandir seus objeti-
vantagem para eles e para nós.” proposições teóricas propostas vos iniciais.
pela racionalidade “effectual”.
Estes relacionamentos são, por- Isto porque é patente a preocu- c. O que eles conhecem
tanto, cruciais no entendimento pação e o engajamento de todos
do sucesso do modelo de negócio. com o projeto. O capital intelectual acumula-
Os parceiros, estimulados pelo do pelo Buscapé desde seu início
Buscapé, atuam diretamente no “Os sócios da E-Platform chega- sempre foi alto. Do ponto de vista
negócio da empresa na medida em ram para mim e falaram: Eu tenho técnico, os três sócios formados
que provêem feedback e sugestões, uma carreira no Chase, vou largar em engenharia traziam um grande
que são incorporadas e refinadas esta carreira, vou ficar sentado ao conhecimento de novas tecnologias
ao longo do tempo. teu lado o dia inteiro e a gente vai e aplicações, bem como tinham
E de modo a garantir que esta fazer captação. O outro virou e falou, acesso a mentores e laboratórios
cultura de comprometimento não olha, eu estou virando partner da de ponta na Escola Politécnica da
se dilua com o crescimento da or- McKinsey daqui dois anos. Estou USP. Do ponto de vista gerencial,
a confiança e os laços que os unia, o sistema que haviam criado. Havia, no entanto, um consen-
mas também representou um salto so entre eles no sentido de que
qualitativo na gestão da empresa. “Parece que este mercado de pu- o modelo de publicidade seria
blicidade na internet vai pegar.” bem-sucedido no médio e longo
“Essa re-estruturação foi a me- prazo, mas naquele momento tal
lhor coisa que a gente já fez. Per- A rápida percepção de que o mo- modelo não era sustentável. Era
mitiu que cada sócio pudesse focar delo inicial (cadastro de lojistas) necessário um modelo alterna-
suas habilidades em funções em que não seria viável e a flexibilidade tivo de geração de receitas para
iriam contribuir mais.” para absorver novas idéias surgidas sustentar o negócio ou a empresa
no mercado acerca da indústria de pereceria como muitas.
Modelo de negócio inicial publicidade permitiu ao Buscapé Dentre os modelos alternativos
estabelecer-se no mercado em um imaginados, o licenciamento da
A orientação dos sócios no co- momento de incerteza. tecnologia que haviam desenvol-
meço das operações sempre foi o vido para o Buscapé parecia ser
desenvolvimento de tecnologias Estouro da bolha o mais natural e rentável. E efe-
e de um serviço interessante ao Logo após a entrada dos inves- tivamente foi. A partir daquele
usuário final. Não havia, confor- tidores, ocorreu o famigerado “es- momento, a empresa começou a
me visto anteriormente, uma visão touro da bolha” da Internet. Este licenciar sua tecnologia spider
clara de como o site poderia ser momento foi crítico para a em- para outros portais, obtendo su-
monetizado. presa, uma vez que já havia uma cesso e reconhecimento, o que
A idéia original de desenvolver organização profissional, com um permitiu inclusive a realização
um software, que seria disponibi- planejamento agressivo de investi- do break-even dos investimentos
lizado às empresas e as mesmas mentos em marketing e estrutura. neste período.
cadastrariam seus produtos no site, No entanto, os sócios foram cau-
tornando a lista de preços disponí- telosos e mais uma vez souberam “Foi aí que a gente começou a
vel não foi bem sucedida. Os lojistas transformar a contingência em licenciar nossa ferramenta. Foi aí
não viam valor na proposição ini- uma oportunidade de reflexão e que a gente licenciou para boa parte
cial do Buscapé, levando os sócios organização, conforme apresenta dos portais da internet, na qual boa
a desistirem deste modelo um dos entrevistados. parte, a área de shopping era do
Neste momento, perceberam que Buscapé [...] Até o final de 2002,
modelo algum seria bem sucedido “Na hora em que a bolha explo- este modelo de negócio representou
enquanto não houvesse um volume diu, a gente falou: espera, espera! quase 50% da receita. No começo
significativo de usuários no site, Esquece este planejamento de ma- de 2000 até 2002, foi caindo a re-
criando poder de barganha sufi- rketing e vamos segurar as pontas presentatividade, mas sempre foi o
ciente para que o Buscapé pudesse agora. Porque agora é o momento maior negócio.”
negociar com os lojistas. da gente parar e pensar muito bem
Foi a partir deste momento que no que a gente vai gastar.” Tendo um grande banco nacio-
os empreendedores focaram no nal como primeiro cliente sob este
desenvolvimento da tecnologia Neste momento, os empresários novo modelo, o Buscapé conseguiu
spider que, em última instância, notaram que o modelo de negócio se alavancar sobre um produto já
permitiu a criação do Buscapé original de muitas empresas de in- desenvolvido, gerando receitas
como é atualmente. ternet na época continha falhas. A em um ambiente extremamente
Paralelamente a este fato, o am- noção de receitas fáceis oriundas ex- turbulento para as empresas de
biente das empresas de internet clusivamente de publicidade online Internet. Esta capacidade de se
começava a convergir para alguns passou a ser questionada, na medida adaptar rapidamente e aproveitar
modelos de negócio. No caso, a em que os resultados de tráfego de a oportunidade que surgiu pode
publicidade online. Na descrição acessos de internautas, crescimento ser considerada um dos fatores de
de um dos entrevistados, é neste do comércio eletrônico e expansão sobrevivência da empresa na época
momento que os sócios começam a do volume de publicidade não se e a base de construção do sucesso
visualizar uma forma de monetizar realizariam no curto prazo. que viria posteriormente.
pesquisadores em lojas físicas. [...] mais níveis corporativos [...] e a nacionais e à participação em
O problema é que, neste seg- velocidade de crescimento é natu- mídias tradicionais;
mento, havia grandes concorrentes ralmente menor, comparada àquela • Aquisição do maior concorren-
(ex: ACNielsen). O Buscapé não da fase mais empreendedora.” te nacional (Bondfaro);
conseguiu comprovar o valor do •F ormalização de processos e da
seu relatório comparado com a “Como todo fundador, eles vão estrutura organizacional;
concorrência. Passaram, então, a ter que encontrar seus nichos, onde • Definição anual de um plane-
disponibilizá-lo gratuitamente aos vão ser mais úteis. Como coaches, jamento estratégico e orça-
clientes da empresa, mais como um membros do board. Alguns acho mentário;
instrumento de relacionamento do que até podem sair do dia-a-dia da • Aquisição de softwares de ges-
que geração de receitas. operação [...] e tem uma renovação tão mais robustos (ERP);
Outro produto lançado foi o necessária de gás, de energia, de •A doção de um discurso mais
Catálogo de Produtos. A partir de capacidade de trabalho que tem que corporativo e institucional,
uma necessidade interna de ter vir de executivos [...] de média e alta menos atrelado à figura dos
classificados e padronizados os gerência que foram contratados.” empreendedores.
produtos, o Buscapé passou a ofe-
recer a classificação de produtos As afirmações de alguns dos en- Dois destes eventos de decisão
para os lojistas. Como muitas lojas trevistados claramente indicam o serão destacados, por sintetizarem
tinham este problema interno de futuro do Buscapé e a mudança as forças institucionais que permi-
classificação, os empreendedores da mentalidade que direcionou tem ao Buscapé adotar uma lógica
perceberam a oportunidade de ofe- os empreendedores e a empresa causal e representarem o futuro da
recer mais este serviço. ao longo de seus primeiros anos empresa. No primeiro, mudança de
O serviço, no entanto, passou a de existência. É nítida a migra- investidores, percebe-se a maior
gerar maior responsabilidade sobre ção de uma racionalidade effectual pressão por uma formalização e
o catálogo de produtos dos clien- para uma racionalidade causal, em rigor nos procedimentos de gestão.
tes e uma necessidade de equipes que estratégias competitivas e a No segundo, expansão de objetivos,
maiores, deixando de ser economi- existência de maior formalização nota-se uma definição de estra-
camente rentável e sendo, conse- está presente em uma estrutura tégias que não mais se valem dos
qüentemente, descontinuado. organizacional mais complexa e princípios básicos propostos pela
De modo geral, a mensagem que menos flexível. teoria de effectuation, mas sim de
é refletida nestes exemplos é a de O objetivo de análise desta ins- um conjunto estruturado de pla-
que rapidamente os empreendedo- tância não é o de criticar este movi- nejamentos e recursos, visando ao
res e seus funcionários passaram mento, mas apenas constatar como crescimento organizacional.
a testar uma idéia e avaliá-la. Po- o Buscapé, ao crescer e consolidar
rém, caso esta idéia não se provasse uma visão de futuro (com objetivos 7. Considerações
interessante ou economicamente mais claros), passa a tomar decisões finais
viável, sempre houve flexibilidade sob uma lógica diferente da inicial,
suficiente no Buscapé para que o conforme indica a teoria de effec- Este trabalho buscou tratar a
serviço fosse descartado e a em- tuation apresentada. questão do processo empreende-
presa mantivesse seu curso. Alguns eventos de decisão re- dor e de como empreendedores
centes deixam claros estes movi- decidem iniciar empresas e es-
Forças institucionais e a mi- mentos: truturar novos negócios sem uma
gração para uma racionalidade definição clara de objetivos pré-es-
causal • Contratação de executivos sê- tabelecidos e sem a capacidade de
niores de mercado; analisar todas as futuras variáveis
“Definitivamente, o Buscapé é • Mudança de investidores, ob- ambientais que podem impactar
uma empresa multinacional.” tendo investimentos de grande estes negócios.
porte; Neste sentido, analisou-se este
“À medida que a empresa cresce • Expansão de objetivos, visando processo a partir da teoria de effec-
[...] mais formalidade é necessária à entrada em mercados inter- tuation, de acordo com a qual o
•O
s empreendedores sempre Como síntese do que foi obser- consistentemente preferem ado-
preferiram trabalhar com os vado na empresa, as descrições tar uma racionalidade effectual
parceiros que estivessem de de dois entrevistados a respeito em contrapartida às abordagens
fato comprometidos e envol- dos fatores de sucesso do Buscapé causais na criação de empresas e
vidos com o processo de cria- ilustram bem a adequação da lógi- mercados. Portanto, este estudo
ção do Buscapé ao invés de ca effectual ao início do negócio. busca não apenas ser um teste da
buscar o “melhor” parceiro. Estão presentes elementos como teoria de effectuation, mas tam-
Esta estratégia não apenas comprometimento, alavancagem bém intenciona prover um teste
dotou a empresa de mais re- sobre contingências e o controle adicional de confiabilidade para
cursos com os quais trabalhar, de recursos. os estudos realizados anterior-
mas também permitiu aos mente sobre o tema.
sócios entender melhor seus “Acho que o sucesso deles tem
objetivos e cristalizar uma muito a ver com a trilogia. Donos en-
visão de mercado ao longo volvidos na operação [...] Estágio re- REFERÊNCIAS
do tempo. munerado na faculdade, comparando Aldrich, H. E. e Martinez,
a teoria com a realidade que estavam M. A. Many are called, but few are
•E
m vários momentos, os em- vivenciando [...] E a conseqüente chosen: An evolutionary perspective
preendedores demonstraram capacidade de agilidade de mudança for the study of entrepreneurship.
uma grande capacidade de ação de curso [...] Acho que esta foi a tri- Entrepreneurship Theory and Prac-
(enactment) sobre o mercado logia de sucesso das ponto-com que tice. V. 25, p. 41-57, 2001.
e o ambiente em seu entorno, sobreviveram e que conseguiram se ALVAREZ, S.A.; BARNEY, J.B.
eliminando uma das premis- virar muito rápido com mudanças e How do entrepreneurs organize fir-
sas básicas da lógica causal, a desafios de mercado.” ms under conditions of uncertainty?
noção objetivista de mercados Journal of Management. v.31, n.5,
e a passividade do empreen- “Existiram vários pontos para o p.776-793, 2005a.
dedor frente ao ambiente e às sucesso do Buscapé. Saber trabalhar ALVAREZ, S.A.; BARNEY, J.B.
contingências. com os sócios e tentar enxergar que Discovery and Creation: alternative
todo mundo está buscando o cresci- theories of entrepreneurial action.
•É
nítida a opção dos empreen- mento [...] buscar melhoria constan- Manuscrito não publicado, Depart-
dedores desde o começo em te do que está fazendo, melhorando ment of Management and Human Re-
obter o máximo controle so- processos internos. Tem a questão sources, Fisher College of Business,
bre aquilo que podia ser feito da sorte, mas que vale ditado, quanto the Ohio State University, Columbus,
a partir dos recursos de que mais trabalho, mais sorte tenho. Re- OH, 2005b.
dispunham ao invés de ela- lacionamentos, no sentido de abrir ANSOFF, H. I. Corporate Strategy:
borar previsões de mercado, novas oportunidades para ter maior An analytic approach to business po-
perdendo conseqüentemente presença no mercado. Por fim, ter licy for growth and expansion. New
tempo de mercado. escolhido o melhor investidor à York: McGraw-Hill. 1965.
época, que trouxe conhecimento BERGER, P.L.; LUCKMANN, T.
•P
or fim, é interessante notar para o negócio.” The social construction of reality: a
que à medida que a organização treatise in the sociology of knowled-
aumenta e ganha complexi- Deste modo, espera-se que os ge. New York: Doubleday Anchor
dade, com a entrada de novos resultados deste estudo possam Book, 1967.
investidores e a formalização ser considerados relevantes, dado o BERTERO, C. O. Nota técnica: te-
de processos, a racionalidade fato desta análise ter sido realizada oria da contingência estrutural. In:
causal é mais presente no pro- com base em estudos prévios, en- CLEGG,S.; HARDY, C.; NORD, W.
cesso decisório. Gradualmente, volvendo experimentos de campo Handbook de estudos organizacio-
a teoria de effectuation deixa de e evidências históricas (SARASVA- nais. Organizadores da Edição Bra-
ser um bom modelo explicati- THY, 2001a). sileira: CALDAS, M.; FACHIN, R.;
vo para a forma de atuar dos Sarasvathy (2001b) demonstrou FISCHER, T. Capítulo 4, pp. 134-136.
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